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Gênero e Sexualidade LIVRO

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1 
 
CARLA MORALES 
 
 
GÊNERO E SEXUALIDADE 
FACULDADE SÃO BRAZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA/PR – 2018 
 
 
2 
 
 
Sumário 
Apresentação ................................................................................... 03 
Iconografia ....................................................................................... 04 
Aula 1 – Sexualidade humana .......................................................... 05 
Aula 2 – Educação sexual ................................................................ 15 
Aula 3 – Juventude e sexualidade .................................................... 27 
Aula 4 – Sexualidade e as questões de gênero ................................... 37 
Referências 46 
Currículo do Professor-autor 47 
 
 
 
 
3 
 
Apresentação 
Olá, tudo bem? 
Que bom poder compartilhar conhecimentos com você, estudante! 
Parabéns pela escolha de estudar. Tenho certeza que o conhecimento adquirido 
por você lhe será muito útil, pois todo aprendizado gera conhecimento e este, 
quando passa a ser significativo, faz com que o entendimento sobre a vida se 
torne mais claro e objetivo. Aliás, que seus objetivos sejam concretizados e que 
toda realização seja sempre fruto do seu esforço, porque não há nada mais 
gratificante do que podermos ser sempre o protagonista da nossa vida! 
Para isso, nos utilizaremos da tecnologia com o nosso ambiente virtual de 
aprendizagem, onde você poderá explorar as mais diversas formas do 
conhecimento, garantindo uma aprendizagem significativa. Aproveite cada 
momento para estudar, pois a aquisição do saber nos levará cada vez mais 
longe! 
Bons estudos! 
 
 
 
 
4 
 
ICONOGRAFIA 
 
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de 
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. 
 
 
VOCABULÁRIO 
Indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no 
texto. 
 
 
IMPORTANTE 
Indica pontos de maior relevância no texto. 
 
 
 
REFLITA 
Questionamentos e reflexões sugeridas pelo autor, mas não 
é necessário respondê-los. 
 
 SAIBA MAIS 
Oferece novas informações que enriquecem o assunto: 
textos, artigos, reportagens escritas etc. 
 
 CURIOSIDADES 
Indica alguma curiosidade a respeito do tema de estudo, mas 
que não está contemplado na ementa. 
 
 MÍDIAS 
Indica sugestões de vídeos ou reportagens para 
conhecimento complementar. 
 
 LINK 
Vídeos e textos para aprofundar o assunto. 
Dica: Para facilitar clique com o botão direito do mouse e abra 
uma nova janela. 
 
 
5 
 
Aula 1 – Sexualidade humana 
 
Você já parou para pensar nas questões que nos constituem? 
Na nossa complexidade? 
 
Nesse material procuraremos refletir um pouco mais de algo 
extremamente importante: a sexualidade. 
Não temos a pretensão de esgotar o assunto e nem seguirmos uma linha, 
mas apresentar o universo de questões que permeiam as discussões de 
sexualidade e mostrar que as pessoas estudam o tema com afinco e seriedade, 
trazendo à tona questões para refletirmos e também para que nos conheçamos 
melhor, afinal, a sexualidade também nos constitui e é uma importante 
engrenagem na nossa vida. 
Quando falamos de sexualidade, estamos falando do corpo, esse corpo 
que fala, se manifesta e é moldado por uma simbologia muito própria. Quais as 
questões que permeiam esse corpo, como ele flui na sociedade e se constrói, 
qual é a representação que fazemos desse corpo e que peso tem a sexualidade 
para esse corpo? 
Para responder a essas perguntas, nos ateremos, nesse primeiro 
momento, a delinear um pouco da história da sexualidade e ver quais caminhos 
essa história percorre. 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Aspectos históricos e culturais da sexualidade 
Antes de falarmos dos aspectos históricos, temos que posicionar o termo 
sexualidade. Afinal o que é sexualidade? A sexualidade humana perpassa várias 
vertentes, como um caleidoscópio, que, dependendo da sua movimentação, vai 
nos proporcionar imagens diversas. 
Quando falamos de sexualidade, estamos falando de questões 
relacionadas ao gênero, à identidade sexual, à orientação, ao sexo propriamente 
dito, à reprodução e aos valores emocionais e afetivos. 
Cada um desses parâmetros é vivenciado por pessoas, que, por sua vez, 
têm crenças, valores, conhecimentos e atitudes diferentes na manifestação da 
sua sexualidade. Daí o comparativo com o caleidoscópio porque na medida em 
que falamos de sexualidade, descortinamos um mundo vasto de possibilidades 
discursivas sobre o tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tal comportamento também pode ser observado entre as populações 
indígenas brasileiras que estabelecem, através do gênero, os papeis sociais, 
cabendo à mulher o cuidado da prole, da casa e das roças, e ao homem a 
proteção e a caça. 
Historicamente, a sexualidade já exercia seu papel antes mesmo de receber 
essa denominação que conhecemos. No período paleolítico, os papeis 
associados ao gênero já eram vistos: cabia ao homem a caça; à mulher, o 
cuidado da prole e o manejo da agricultura. 
 
 
 
7 
 
Figura 1: Homens caçando no 
período paleolítico 
Fonte: © Flickr (2018) 
 
Figura 2: Mulher indígena cuidando 
do seu filho 
Fonte: © Flickr (2018) 
Portanto, podemos ter dimensão mais clara e ampla de que a sexualidade 
está além do cumprimento biológico como perpetuação de espécies, mas como 
um marco da sociedade, cujos papeis sociais são determinados pelo gênero. 
No período da Idade Média, por exemplo, o sexo passou a ser 
pecaminoso do ponto de vista religioso, e a sexualidade e suas manifestações, 
principalmente aquelas mais ligadas ao ato sexual em si, passaram a ser 
reprimidas. Essa ideia se alastra e várias culturas utilizam-se dessa repressão 
para banir assuntos relacionados à sexualidade, ou seja, é uma temática que 
merece ser coibida. 
Nesse período, a condição biológica impera o discurso de que o único 
propósito de manifestação da sexualidade deve estar voltado à perpetuação das 
espécies. Para Focault (2007, p. 40), 
 
a Idade Média tinha organizado, sobre o tema da carne e da prática da 
confissão, um discurso estreitamente unitário. No decorrer dos séculos 
recentes, essa relativa unidade foi decomposta, dispersada e reduzida a uma 
explosão de discursividades distintas, que tomaram forma na demografia, na 
biologia, na medicina, na psiquiatria, na psicologia, na moral e na crítica 
política. 
 
Em outro período e com o advento da ciência, a sexualidade passou a ser 
objeto de estudo. Os discursos passaram a produzir a verdade a qual não deve 
 
 
8 
 
ser contestada, pois tem bases científicas. Aliado a esse saber, o judiciário 
passou a classificar o que são condutas moralmente aceitas e o que não são 
condutas moralmente aceitas, e parte das manifestações sexuais viraram caso 
de polícia. Daí a importância da profusão do discurso sobre a sexualidade, 
primeiro para produzir a verdade; segundo para controlar o comportamento, por 
meio de práticas lícitas ou ilícitas. 
Nesse aspecto, o caráter reprodutivo da sexualidade, dentro da história, 
em muitos momentos teve uma conotação econômica. Era preciso mão de obra 
e gente para consumir o que se produzia. Em uma sociedade industrializada, os 
mecanismos de produção e consumo passaram pela questão da sexualidade no 
quesito reprodução. Era preciso manter um contingente populacional que desse 
conta das particularidades de mercado e de sua regulação. 
 
 
É importante lembrar que outros aspectos ligados à sexualidade não 
eram falados ou mencionados. 
 
 
 
9 
 
Houve um tempo em que falar sobre sexualidade era necessário, pois pelo 
ato da palavra conhecia-se o sujeito e a forma com que este ou aquele lidavam 
com sua sexualidade. Falar ajudava na regulação social, uma vez que 
estabelecia um diálogo cujo poder, assim constituído politicamente, podia 
interferir nos assuntos individuais, dessa forma fazendo com que o político 
regulassea vida privada pelo discurso aberto sobre sua sexualidade. 
 
Essas duas vertentes perduraram durante o século VXIII, quando os 
discursos impunham saberes dos quais se sabia como controlar. No cerne da 
questão está o sujeito, cujo corpo passa a ser disputado pelo público, saindo das 
esferas do privado. A sexualidade a partir daqui é tratada pelas mais diversas 
áreas onde o saber se constitui, são as áreas de ordem religiosa, judiciária, 
pedagógica e médica; cada uma delas vai deixar sua marca sobre o tema da 
sexualidade, demarcando os territórios de atuação do indivíduo dentro das 
sociedades. 
Quero aqui chamar a atenção das duas possibilidades históricas que 
perduraram no ocidente, durante o século VXIII, de enxergarmos o corpo diante 
da sexualidade. Heilborn (1999) fala que os discursos proferidos sobre a 
sexualidade tinham a conotação reprodutiva e de regulação social das 
 
 
10 
 
populações. As conotações sociais, biológicas e políticas perpassam pelo corpo 
e marcam esse corpo, utilizando-se muito da sexualidade para fazê-lo. 
No século XIX e metade do século XX, os saberes sobre a sexualidade 
intensificam-se e vários autores se propõem a pensar sobre ela, ofertando assim 
vários aspectos a respeito desse tema. Castro et al. (2004, p. 31)) aponta que 
vários campos do conhecimento foram criados e especializados, como é o caso 
da psicologia, representados por Freud e outros estudiosos, o quão complexo e 
sutil é a sexualidade. Com isso, se reforça ainda mais o seu estudo e uma ação 
mais intervencionista do corpo. Castro ainda aponta que 
 
 
 
 
 
 
 
A partir dos anos 60 e 70 ocorre uma profusão de discussões e ações, em 
grande parte devido ao surgimento dos movimentos que impulsionaram as 
discussões sobre sexualidade, como o movimento feminista, que trouxe várias 
contribuições acerca da temática. Nas discussões de direitos humanos, entra em 
pauta a discussão de direitos sexuais e reprodutivos, imputando um debate mais 
ampla e contribuindo para um avanço político muito importante. 
Dito isso, podemos dizer que a história da sexualidade é permeada pela 
formação e pelo pensamento das sociedades vigentes nas épocas, as quais 
tiveram grande influência nas ações do corpo e de como este deve ser 
apresentado e formatado a viver. 
O estudo da sexualidade no Brasil 
Assim como os discursos e ações a respeito da sexualidade foram 
construídos no decorrer do tempo e da história. Aqui no Brasil, a sexualidade e 
suas manifestações também percorreram um caminho delineado pela história na 
“A segunda metade do século XX foi marcada por, pelo menos, dois eventos 
que deram novos impulsos para os estudos sobre a sexualidade, bem como 
aos seus sistemas de práticas e representações sociais: 1) o desenvolvimento 
de métodos contraceptivos que rompe com a associação entre o exercício da 
sexualidade e a reprodução da espécie; e 2) o surgimento de novas reflexões 
derivadas da intersecção entre mobilização de alguns segmentos da sociedade 
civil organizada e de estudos realizados no âmbito da academia.” 
 
 
 
11 
 
passagem do tempo. Na verdade, a sexualidade aqui sempre esteve permeada 
pelas ações sociais dos corpos e seus papeis dentro das sociedades, fortemente 
marcadas pelo momento político da época. As estruturas de poder sempre se 
manifestaram e tiveram forte influência nos corpos, constituindo-os como 
engrenagens sociais importantes para a consolidação de ideias vigentes em 
cada época. 
Aspectos históricos 
Como você já viu, as épocas e suas visões de mundo atravessam a 
construção dos estudos de sexualidade também no Brasil. Os estudos de 
sexualidade se delineiam em cima do biologismo do corpo, onde essa 
sexualidade confunde-se com apenas um dos aspectos desse constructo mais 
amplo e complexo que ela representa. 
Com relação a isso aqui também os dogmas eclesiásticos deram o tom 
dos escritos de sexualidade durante o século XIX, sendo reforçados 
posteriormente ao período onde a ciência imperou suas ideias, fazendo vingar a 
verdade a respeito do corpo, através dos estudos científicos da época, mas 
também não indo muito longe da ideia do corpo como aparato reprodutor e/ou 
visto sob o aspecto das doenças. 
Outro momento importante foi a inserção do assunto nas escolas, durante 
as primeiras décadas do século XX, esboçando uma tentativa de disseminar as 
ideias de corpo e seus cuidados. Essa ideia perdura pelos anos e somente na 
década de 1980 é que o Brasil irá incluir de vez nos currículos escolares a 
implantação de projetos oficiais de orientação sexual, culminando na década de 
1990 com a inserção da educação sexual nos Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN’s) como tema transversal. Recentemente a Base Nacional 
Comum Curricular num primeiro momento insere a questão de gênero e 
diversidade, e na sua versão final retira do seu texto qualquer menção a isso. 
A linha de defesa para tal atitude preconiza que as competências 
relacionadas aos assuntos de diversidade e direitos humanos deverão abordar 
as questões de gênero e sexualidade. Essas questões que outrora estavam 
explícitas, porque nomeadas, agora se encontram implícitas, corroborando a 
 
 
12 
 
ideia de que os assuntos pertinentes à sexualidade ainda estão arrigados na 
ideia biológica de corpo. 
A Base Nacional Comum Curricular apresenta dez competências que 
abordam possibilidades em que o tema sexualidade pode se inserir. Entre elas 
estão: 
 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, 
para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e 
decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos 
e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, 
com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos 
outros e do planeta. 
 Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, 
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e 
capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo. 
 Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a 
cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao 
outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos 
e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, culturas e 
potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, idade, 
habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra 
natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a 
qual deve se comprometer. 
Fonte: Clique aqui. 
 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc/
 
 
13 
 
Delineamentos sobre a sexualidade 
O Brasil atravessou diversos 
momentos desses, mas precisa 
avançar mais na ampliação do 
discurso de que a sexualidade, 
como constructo social deve ser 
mais discutida e debatida. Falar 
de sexualidade ainda se 
configura como tabu, como se a 
construção dos sujeitos não 
fossem pautadas pelo desejo e 
pelas pulsões que lhe conferem 
uma parte importante de sua 
constituição como sujeito vivente. 
Nossa história nos mostra que os aspectos biológicos imperam sobre os 
aspectos sociais e culturais. O conhecimento do corpo é pautado pela visão do 
outro que dita normas e regras de comportamento dentro de valores morais bem 
estabelecidos. Não que isso se constitua como um problema, pois viver em 
sociedade é viver sob a sujeição do que é aceitável à maioria. 
 
Síntese 
Você viu nesta aula que a sexualidade é um tema que incita muitas 
vertentes, e saber um pouco de sua história, trazida por estudiosos que se 
debruçaram sobre o tema, faz com que entendamos que os corpos, além do seu 
status biológico carrega também um status socialmente construído, onde forças 
diversas, como a econômica e a política, imprimiram sua marca, delimitando 
esse corpo e regendo suas condutas, com o aval das mais diversas instituições, 
como a médica e a judiciária. 
 
 
14 
 
Longe de esgotar o assunto,a história da sexualidade está ainda sendo 
escrita, e tudo que sabemos sobre ela são pequenas inserções em um campo 
complexo e dinâmico que tem como objeto principal o corpo. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Entender os aspectos históricos de sexualidade é entender um pouco de 
como o corpo passa do biologismo a uma construção sociocultural. Um dos 
aspectos aborda a importância cada vez mais crescente de estudos e a inserção 
do tema em fóruns internacionais de direitos humanos, constituindo a 
sexualidade e sua manifestação como um direito historicamente conquistado. De 
que maneira esse direito historicamente conquistado acerca do tema 
sexualidade pode contribuir para que tenhamos uma sociedade cada vez mais 
justa e socialmente equilibradas? 
 
 
 
15 
 
Aula 2 – Educação sexual 
Você já parou para pensar do que a gente é constituído? Provavelmente 
você faz alguma ideia daquilo que nos faz significado e que nos ajudam a 
entender nosso lugar no mundo. Você também deve sabe que o ato de educar 
é um dos caminhos que nos abrem as possibilidades para que o conhecimento 
de si e sobre as coisas façam sentido e deem um significado a nossa vida. 
A educação sexual é um dos possíveis caminhos que podem nos dar 
respostas de nós mesmos, uma vez que é o corpo que se implica na busca por 
conhecimento. 
Ela é uma parte importante dentro do nosso processo de educação e está 
intrinsicamente ligada as nossas emoções, ao que desejamos e como sentimos. 
Por tudo isso ela é muito importante e deve ser levada em consideração. 
 
 
 
 
 
16 
 
Pressupostos teóricos e políticos da educação sexual 
Assim como cada período da história contribuiu para a formação de um 
campo do saber a respeito de sexualidade, no Brasil, cada período histórico 
também nos trouxe a sua contribuição. Augusto (2015 apud Ribeiro 2007) aponta 
seis momentos nos quais a educação sexual foi construída, são eles: Brasil 
Colônia, Império, Início da República, Década de 1960, Década de 1980 e 
Década de 1990. 
A partir de agora, você vai saber detalhadamente cada um desses 
períodos. 
 
Brasil Colônia 
No Brasil colônia, o patriarcalismo predomina nas relações privadas e 
sociais, tendo uma conotação muito marcante na vida das pessoas. 
 
Neste período, o homem branco exercia plenos poderes sobre a vida 
privada e política. Em termos de educação, a Igreja desempenhou um papel 
fundamental, seguindo a premissa de que a sexualidade e suas manifestações 
eram pecado, logo, o assunto envolvendo temas ligados à sexualidade eram 
duramente reprimidos. 
Normas regras e condenações fiavam a cargo dos ditames da Igreja que 
impunha condutas comportamentais às populações indígenas, aos negros e às 
mulheres brancas, que tinham como conduta a submissão completa perante o 
homem branco. 
 
Império 
Esse período foi marcado pela verdade do saber construído pela 
medicina. 
 
 
 
17 
 
A medicalização dos saberes a respeito da sexualidade produziu 
verdades da qual ninguém contestava e, assim, os ditames comportamentais 
sobre o corpo e, consequentemente, sobre a sexualidade foram embasados no 
absolutismo e na crença voltados aos processos médico-higienista. Muitos dos 
saberes de sexualidade a condenavam ao campo das doenças, ou seja, 
deveriam ser combatidas. 
Neste período, as condutas comportamentais sexuais estavam 
voltadas à reprodução das espécies. O biologismo do corpo falava mais alto. 
 
República 
O início do período republicano no Brasil traz à tona um desejo de 
mudança muito grande. “Ordem e Progresso” são as palavras-chave 
que compõem os movimentos e esse “sentimento” se alastra por todas 
as áreas. 
 
Ainda sob o domínio forte da medicina, a educação sexual ganha contornos 
eugenistas e higienistas, cheios de regras e criação de valores morais. Neste 
período, a educação sexual é uma educação voltada ao combate de 
doenças venéreas e ao preparo da mulher para ser boa mãe e boa esposa. 
O Congresso Nacional dos Educadores aprovou uma proposta de educação 
sexual para as escolas. 
 
Década de 1960 
A década de 1960 foi marcada por retrocesso no campo da educação 
sexual. O militarismo, ao assumir em 1964, colocou fim a qualquer 
diálogo sobre educação sexual nas escolas. 
 
 
 
18 
 
Todas as tentativas de se avançar nos diálogos de uma educação sexual 
são desconsideradas, pois os valores rígidos imputados pelo sistema não 
permitiam qualquer alusão a esse tipo de educação. 
Mesmo assim, segundo Aquino e Marteli (2012), durante os anos de 1963 
a 1968, em São Paulo, foram inseridos nos currículos de algumas escolas 
públicas a temática educação sexual; com isso, alguns projetos voltados à 
prevenção e com caráter informacional foram criados. 
Essa nova abordagem fez com que outras escolas no Brasil também 
começassem um movimento de inclusão da educação sexual em seus 
currículos, como é o caso da escola Pedro Alcântara, no Rio de Janeiro, que 
passou a ofertar educação sexual em todas as séries. 
Essas tentativas sofreram fortes represálias tanto por parte do governo 
quanto pela própria sociedade, considerando que para a época e para o 
momento, falar de educação sexual era subversivo e ofensivo aos bons 
costumes e à moral. 
 
Década de 1980 
Com a abertura política marcando essa época, os discursos proferidos 
em prol de maior liberdade se alastram. Vários são os movimentos 
sociais que emergem nessa época. 
 
As ideias acerca do corpo e de seu cuidado são incluídas nesses 
discursos, muito por entender o corpo como um ente político, ou seja, a 
concretização do corpo social. No final da década de 1970 foi criada a Sociedade 
Civil Bem-rstar Familiar, a partir disso, foi realizado o 1.º Seminário Técnico sobre 
Educação Sexual. Em 1983, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia 
organizou o 1.º Encontro Nacional de Sexologia (Aquino e Marteli, 2012). Em 
ambos os encontros, a visão recai totalmente para o biologismo do corpo, 
enfocando assuntos como prevenção de doenças, gravidez e contracepção. 
 
 
 
19 
 
Década de 1990 
A década de 1990 é marcada pelo aparecimento da AIDS, colocando 
em pauta a importância de se falar sobre as infecções sexualmente 
transmissíveis (IST). 
 
Os currículos escolares passam a contemplar a educação sexual como 
uma forma de discutir as questões de sexualidade. Também surgem neste 
período os Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais são diretrizes de como 
os assuntos devem ser organizados, entre eles está a educação sexual como 
tema transversal, isto é, ela deveria ser discutida de forma plural em todas as 
disciplinas e não ficar apenas em ciências ou biologia. 
É importante ressaltar que atualmente as discussões, além de adquirirem 
um discurso voltado à manutenção dos direitos humanos, também colocam a 
sexualidade não apenas no campo biológico, mas no campo cultural e social, 
ampliando as discussões para além corpo. 
As questões relacionadas à diversidade sexual passaram a fazer parte 
dos diálogos e agora estão presentes na sociedade, compondo a pauta das 
discussões políticas. Essas novas configurações fazem com que os espaços que 
constituem o indivíduo, como a escola e a família, adquiram um papel 
fundamental, reforçando seu caráter de apoio na formação desses indivíduos, 
principalmente crianças e adolescente. 
 
Formas de abordagem da educação sexual 
A escola é um espaço múltiplo com pessoas cuja pluralidade se manifesta 
em cada momento. Dentro do processo educacional, as diferentes abordagens 
pedagógicas garantem que o conhecimento seja significativo para um grande 
número de pessoas; é de suma importância encontrar meios para que isso 
aconteça. Uma dessas possibilidades é propor múltiplas formas de passar esse 
conhecimento. Tal possibilidade enseja cuidados e conhecimentos tácitos 
 
 
20 
 
didaticamente apropriados que sejam relevantes para cada momento em que a 
educaçãoacontece. 
Na educação sexual não é diferente. Se ela é ampla e diversa, assim deve 
ser sua abordagem para que em cada etapa do desenvolvimento do aluno 
possam ser construídas bases que farão dele um cidadão consciente de si e do 
seu entorno. A partir disso é que esse sujeito poderá atuar de maneira 
colaborativa para uma sociedade mais justa e igualitária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há um padrão comportamental dentro de uma faixa etária que expressa 
características que podem ser ditas “comuns”, fornecendo um norte quando se 
fala em educação sexual. Sob esse ponto de vista, devemos nos lembrar de que 
a sexualidade é uma dimensão que estrutura e forma o sujeito, ou seja, isso 
precisa ser levado em consideração. 
Outro ponto importante a abordamos aqui é que, quando se fala de formas 
de abordagem da educação sexual, é o mesmo que ter o conhecimento dos 
documentos que norteiam as possibilidades dessa educação acontecer. 
 
 
 
 
21 
 
Figura 1: Criança durante leitura de atividade 
Fonte: Flickr (2018) 
 
 
O documento mais recente da educação é a Base Nacional Curricular 
Comum (BNCC), cujo objetivo é nortear o currículo, fazendo com que as escolas 
públicas e privadas ofertem a mesma base curricular. 
Na sua última versão foram retirados os assuntos de gênero e orientação 
sexual os quais seriam trabalhados no 9.º ano do ensino fundamental. Ficou a 
cargo do Conselho Nacional de Educação um parecer futuro com orientações 
mais específicas de como trabalhar com essa temática na escola. 
 
Outro documento que norteava era os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN’s), cujo tema transversal era a orientação sexual. 
 
 
Há outros documentos como o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) e a própria Constituição de 1988 que não falam diretamente do assunto, 
 
 
22 
 
mas expressam os direitos a uma educação que vise a integralidade de qualquer 
cidadão. 
Outra questão é sobre as formas de abordagem, uma delas é o 
reconhecimento de que a autonomia deve ser o carro chefe, pois indivíduos 
autônomos são indivíduos que pensam sobre si e sobre o mundo, além de 
assegurarem que o diálogo possa existir. Paulo Freire (1996, p. 135) fala que 
 
 
 
 
 
 
 
Tanto a autonomia quanto o diálogo vão oferecer a possibilidade de uma 
educação que faça significado ao estudante, uma vez que ele também se implica 
no processo e, portanto, também se responsabiliza pelo aprendizado ou pelas 
trocas de informações advindas de ambos os lados. Nesse quesito, a escola, os 
familiares e a comunidade têm que estar abertos para entender os anseios e as 
dificuldades dos jovens, ofertando-lhes caminhos que sejam positivos para que 
sua construção identitária se fortaleça ainda mais. 
Logo, as formas de abordagem poderão ser aplicadas mais facilmente e 
a educação sexual, talvez, passe a ser efetiva, ajudando na formação das 
pessoas. 
A seguir, você vai ver duas possibilidades de abordagem desse tema em 
sala de aula: uma abordagem mais restrita, levando em consideração o caráter 
biológico da questão; outra mais ampla, levando o desenvolvimento 
biopsicossocial. Tanto uma quanto a outra devem ser aplicadas nos momentos 
certos, pois não há apenas uma linha de pensamento em torno da educação 
sexual, visto que essa construção é fluida nas pessoas. 
 
ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Nas minhas relações com os 
outros não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da 
política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo 
“conquistá-los”, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam 
“conquistar-me”. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na 
coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou elas. 
 
 
 
 
 
23 
 
Abordagem restritiva – aspectos centrados no biológico 
É o modelo de abordagem preferido na sociedade. 
 
Ele centra seu pensamento nos aspectos biológico do corpo e em 
alguns momentos em aspectos de prevenção, por abranger discussões 
de fatores de risco e de vulnerabilidade. 
 
Nessa abordagem, o aparato corporal é visto como uma entidade que tem 
a capacidade de reprodução. Geralmente é ofertado nas aulas de ciências e 
biologia; a anatomia do corpo é explicada, caracterizando suas partes e 
mostrando suas funções. A explicação marca o corpo, estabelecendo aquilo que 
é do masculino e o que é do feminino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Aula de Biologia no Ensino Médio 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
 
 
24 
 
O conhecimento do corpo, enquanto entidade biológica, nos oferta uma 
visão da nossa própria constituição. Isso é interessante, pois, ajuda a mostrar a 
individualização. Tem-se um corpo e esse corpo tem estruturas diversas que 
executam funções diversas, entre elas, a reprodução. Outro aspecto que marca 
o corpo, em termos de sua sexualidade, é o aparecimento das características 
sexuais secundárias, esse conhecimento nos faz entender a linha tênue da 
passagem para a vida adulta, quando o corpo enfim se desenvolve em sua 
plenitude. 
Embora não se fale no desencadeamento do desejo, suas consequências 
são abordadas, como a gravidez e as infecções sexualmente transmissíveis 
(IST). Daí o conhecimento do caráter preventivo, cujas informações devem 
ajudar a diminuir o risco e a vulnerabilidade. Como você pôde perceber, nessa 
abordagem somente os aspectos biológicos são levados em consideração, sem 
fazer menção aos aspectos sociais e culturais que também fazem parte da 
sexualidade. 
Abordagem ampla – Desenvolvimento biopsicossocial 
Esse tipo de abordagem considera que o corpo, além de sua função 
biológica, abarca também as dimensões sociais e culturais em que ele se 
encontra. São vários os autores em desenvolvimento que preconizam que o 
homem é fruto da sua interação com o meio. Um desses autores é Urie 
Bronfenbrenner que preconiza uma imersão profunda nos saberes e atitudes 
cotidianas, para desvendar as relações existentes para compreender o 
constructo do desenvolvimento humano. 
 
 
Para conhecer mais de Urje Bronfenbrenner, clique aqui. 
 
 
O conceito de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner preconiza que 
o ser humano se desenvolve na medida em que interage com o seu ambiente. 
https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia-urie-bronfenbrenner/
 
 
25 
 
Para ele, o ambiente exerce influência no desenvolvimento e essa interação é 
pautada pela reciprocidade. 
Nessa nova perspectiva, a denominação da teoria passa de ecológica 
para bioecológica e traz à tona o conceito de Processos proximais definido 
como: 
 
 
 
 
Esse novo modelo pauta-se em quatro aspectos, designando o modelo 
em PPTC: pessoa, processo, contexto e tempo. 
 Pessoa: nesse nível o que se observa são as mudanças ou 
constâncias na vida do indivíduo em desenvolvimento. As 
características pessoais e as qualidades influenciam o curso do 
seu desenvolvimento. A primeira moldando como os outros lidam 
com ela, frente à determinada característica física, por exemplo; a 
segunda, moldando os aspectos psicológicos envolvidos na 
formação desse indivíduo. 
 Processo: o foco é com relação aos papeis e atividades diárias 
que o indivíduo tem. Esses atributos se relacionam em várias 
direções dentro do desenvolvimento intelectual, moral, emocional 
e social, com um único objetivo: participação ativa em interações 
mais complexas e recíprocas com pessoas, símbolos e objetos no 
ambiente onde estão inseridos. 
 Contexto: a relação exposta é aquela que se dá com o ambiente, 
ou seja, uma relação estabelecida com ambientes mais remotos e 
nunca visto. Bronfenbrenner subdivide esses ambientes em micro, 
meso, exo e macrossistemas. 
 Tempo: se refere ao tempo histórico. O interesse é nas relações 
criadas ao longo do tempo, alterando o curso do desenvolvimento 
humano. Como exemplo, temos a diferença de criação de geraçõesde filhos entre os anos 70 e 90. 
“Formas particulares de interação entre organismo e ambiente, que operam 
ao longo do tempo e compreendem os primeiros mecanismos que produzem 
o desenvolvimento humano.” (Bronfenbrenner e Morris, 1998, p. 994). 
 
 
 
26 
 
Essas quatro dimensões acontecem ao mesmo tempo e podem explicar 
o porquê de a sexualidade ser um componente complexo, visto que ela pode fluir 
em todos esses níveis de relacionamento. 
Aqui, tudo que é dito deve ser pensado e refletido. As informações 
advindas devem ser contextualizadas para que mais pessoas possam se 
encontrar nos discursos proferidos e, assim, fazer algum significado para elas. 
Esse tipo de abordagem preconiza que todas as partes envolvidas no processo 
devem ser ouvidas e devem dialogar. Isso contribui muito para o crescimento e 
o desenvolvimento das pessoas, pois as relações que elas estabelecem as 
constituem de uma maneira ou outra. 
 
Síntese 
Você viu nesta aula que as formas de abordagens diferem na sua forma 
de enxergar a sexualidade e podem ser influenciadas de acordo com a moral e 
a ética de quem as ensina. As formas de abordagem são possíveis caminhos a 
serem percorridos para que a educação sexual passe a ser constituinte no dia a 
dia da escola e ajude na formação de cidadania de crianças e adolescentes. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Urie Bronfenbrenner desenvolveu uma teoria para explicar o 
desenvolvimento humano chamada Teoria Bioecológica, ela preconiza que 
existem quatro aspectos a serem trabalhados: a pessoa, o processo, o contexto 
e o tempo. De que maneira, levando esses quatro aspectos em consideração, 
essa teoria pode contribuir para entendermos a sexualidade? 
 
 
 
27 
 
Aula 3 – Juventude e sexualidade 
 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
O que é ser adolescente? 
Qual a importância dessa fase para a vida de uma pessoa? 
Quais políticas públicas voltadas ao jovem lhes conferem um estado 
de visibilidade e existência? 
 
 
 
28 
 
Essas perguntas por mais simples que sejam não são fáceis de serem 
respondidas, porque a fase juvenil é complexa e nessa fase o corpo passa por 
transformações diversas, as relações outrora estabelecidas sofrem uma nova 
leitura com a inserção de novos atores que passam a fazer parte da vida do 
adolescente, a maturação sexual lhes confere uma nova forma de desejo. Os 
aspectos sociais e culturais deixam marcas profundas nessa fase. 
A sociedade exige definições que o jovem ainda não está preparado para 
responder. Tudo é novo e essa releitura da vida lhes geram dúvidas, angústias, 
medo e uma nova sensação de descobertas diversas. Existe um mundo a ser 
descoberto pelo jovem. 
Os aparatos sociais são muitas vezes inexistentes ou incipientes, fazendo 
com que as políticas públicas de promoção à saúde, de proteção a esse jovem, 
acabem não cumprindo seu papel. Diante disso, os riscos tornam-se maiores 
que as medidas protetivas, justamente em uma fase da vida onde a proteção 
deveria imperar sobre o risco. 
Nessa fase o jovem é obrigado a fazer as escolhas que determinarão sua 
vida adulta, em um processo formativo, podendo gerar um sentimento de 
angústia e medo. Por essas razões descritas de maneira sucinta, a fase juvenil 
talvez seja a fase dos encontros e desencontros, onde a controvérsia sempre 
presente lhe confere as bases de um caminho a ser seguida futuramente e onde 
a vida pulsa com mais força e desejo, pois todos os elementos formativos estão 
em ebulição. Dessa maneira, é que introduzimos um assunto tão importante e 
necessário: a vida do adolescente e seus desdobramentos. 
 
 
O Projeto Vida gravou um documentário mostrando como “é ser 
adolescente”. Para assistir ao filme, clique aqui. 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=t6AkqXQOZMU
 
 
29 
 
Caracterização da adolescência 
Como podemos caracterizar essa fase 
da vida? O adolescente é um ser 
biopsicossocial, ou seja, as bases de 
sua formação não devem ser vistas 
somente sob o domínio do corpo, mas 
também da sua mente (psique) e de 
sua interação social. São essas três 
vertentes que caracterizam o 
adolescente, lhe conferindo 
características próprias dessa fase da 
vida. 
O que é ser adolescente? 
Por lei, o adolescente são pessoas entre doze e dezoito anos. O estatuto 
da criança e do adolescente (ECA) aumenta a margem para considerar 
adolescente a pessoa que tem até vinte e um anos de idade. Já para a 
Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência compreende a faixa 
etária entre dez e dezenove anos (WHO, 1986). Em linhas gerais, a idade 
cronológica coincide. É uma fase também caracterizada por profundas 
transformações biológicas, psíquicas e sociais. 
O número de adolescentes no Brasil, segundo dados do IBGE de 2010 é 
de 34 milhões, ocupando 33% do contingente populacional total do Brasil. Se 
consideramos isso, o número de jovens é expressivo e indica a necessidade de 
um olhar mais apurado sobre essa faixa etária. Para Einseinsten (2005, p. 6-7), 
a adolescência significa 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos 
impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos 
esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expetativas 
culturais da sociedade em que vive. 
 
 
 
30 
 
Outo aspecto que marca a adolescência é que ela representa a passagem 
da infância para a vida adulta. Um dos períodos mais marcantes na vida de uma 
pessoa, a adolescência é quando as transformações são inúmeras e mutáveis. 
Os aspectos biológicos, como, por exemplo, a maturação sexual, determinam 
em grande parte esse período, pois ressignifica o corpo de alguma maneira, 
emergindo um novo elemento a ser notado: a sua sexualidade. Sob este aspecto 
é necessário ressaltar que além do corpo estão os aspectos sociais e psíquicos 
que também influenciarão na formação da sexualidade do adolescente, sendo 
esta fase determinante sobre a fase adulta. 
Contexto biopsicossocial do adolescente 
O ser humano tem vários aspectos os quais englobam sua formação, mas 
três deles são importantes: o aparato biológico, o aparato psíquico e 
cognitivo e o aparato social. 
Parte da formação do ser humano se dá na sociedade. O homem é um 
ser social e a adolescência marca a fase na qual o homem se integra totalmente 
à sociedade, saindo do meio familiar e se inserindo a essa sociedade. Nela, 
existem vários fatores que atuam na formação dos jovens, entre eles o vínculo 
com outros jovens, que são basicamente pessoas da mesma faixa etária e têm 
as mesmas afinidades. Tanto é que o adolescente geralmente não está sozinho, 
sua existência é marcada pelo coletivo e, nesse caso, a vida social torna-se uma 
importante via de acesso para esse reconhecimento. 
Contudo, se a vida social protege, ela também tem seus riscos e o jovem 
passa a estar vulnerável. Daí a importância de um processo educacional que 
promova o diálogo e compreenda quais são os anseios e a forma de agir do 
jovem na sociedade. Esse aspecto é muito importante para que a educação 
sexual aconteça e se estabeleça. O adolescente precisa de algum tipo de vínculo 
e de se sentir partícipe da sua história, por causa disso o componente social é 
muito importante. 
Outro grande fator formativo é a sua mente e como os processos 
cognitivos acontecem com esse adolescente. Os dias atuais são muito diversos 
 
 
31 
 
dos dias de outrora, isto é, a velocidade de informação que chega ao cérebro é 
muito grande e também variada. 
As conexões neurais dos adolescentes funcionam de maneira muito 
rápida, estabelecendo conexões cada vez mais velozes. Logo, entender os 
processos de como a informação chega e de como ela é processada pode ajudar 
a entender como esse adolescente pensa e se manifesta. Isso é fundamental 
para estabelecer qualquer vínculo educativo e que façasignificado na vida dele. 
A neurociência tem ajudado bastante nesse campo. Os vínculos que esse 
adolescente faz, em detrimento do seu processo de leitura sobre o mundo, tem 
que ser compreendido, se quisermos estabelecer algum vínculo com ele. 
A adolescência é uma fase de descobertas 
e cada nova descoberta gera uma possibilidade de 
escolha. Por isso, o jovem em sua impulsividade 
nem sempre fará a escolha que melhor convém, 
até porque a ponderação faz parte do 
amadurecimento na vida adulta. Essas escolhas 
são baseadas pelo desejo da experimentação e 
muitas vezes pode colocar o adolescente em 
situações de vulnerabilidade, como uma gravidez 
precoce, o uso de droga ou a prática de sexo sem 
segurança, podendo lhe trazer infecções como a 
sífilis e a AIDS/HIV. 
O aparato biológico determina uma série de 
modificações. A adolescência é marcada por profundas modificações, com isso, 
a maturação sexual confere ao adolescente o começo da vida adulta em termos 
sexuais. O aparecimento das características sexuais secundárias marca o 
gênero, moldando o corpo. 
Nessa fase, o desenvolvimento corporal nem sempre refletirá 
desenvolvimento psicológico e é aí que o adolescente precisa estar acolhido e 
amparado, porque essas marcas corporais o acompanharam pela vida toda. 
Nesse momento, dúvidas e medos podem surgir. 
Fonte: Deposit Photos 
(2018) 
 
 
32 
 
Na relação que se estabelece entre o biológico e a sociedade, os padrões 
normativos da sociedade imputarão a biológicos papeis a serem cumpridos e 
que nem sempre o jovem estará apto a desempenhar, gerando conflitos que 
poderão marcar a sua vida para sempre. Esse papeis foram estabelecidos há 
muito tempo e ainda se perpetuam em nossa sociedade, como, por exemplo, o 
papel da maternidade para ao gênero feminino e o papel do provento para o 
gênero masculino. 
É claro que muita coisa mudou na nossa sociedade, mas a questão dos 
papeis estabelecidos para o gênero masculino e para o gênero feminino ainda 
são muito fortes e se relacionam de maneira intrínseca ao aparato biológico que 
se apresenta na mulher e no homem. Em uma fase de descobertas, o corpo 
passa a ser notado e reconhecido e isso é muito importante para o adolescente. 
Na adolescência tudo muda o tempo todo e isso faz parte do processo de 
formação do jovem. Essas mudanças devem vir acompanhadas, sempre que 
possível, de um aporte que dê sustento ao adolescente, no sentido de entender-
se. 
Sendo assim, é notório que a adolescência carrega a complexidade de 
sua fase, pois os processos biopsicossociais são múltiplos e diversos. 
A sexualidade e a adolescência 
Por ser uma fase de descobertas, o desejo passa a pulsionar de maneira 
mais intensa na vida do adolescente. É nesse período que a sexualidade se 
desenvolve em sua plenitude e com o seu desenvolvimento há também uma 
preocupação de como essa sexualidade tem sido desenvolvida e de que maneira 
os adolescentes lidam com ela. O que se sabe muitas vezes é das 
consequências, como, por exemplo, a gravidez e o aumento das infeções 
sexualmente transmissíveis. 
Outro aspecto do nosso tempo é a violência sexual que tem crescido 
assustadoramente. Diante de tais quadros, é preciso entender alguns aspectos. 
Pensando nisso, o ECA diz: 
 
 
33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portanto é dever da sociedade proteger a criança e o adolescente, 
ofertando condições dignas de vida e promoção da saúde. 
Ao considerar a sexualidade como um assunto tabu, por anos a sociedade 
desenvolveu a ideia de que falar dela era ruim, pois poderia suscitar no 
adolescente a vontade de saber mais. Essa ideia posteriormente foi 
transformada em discurso e tinha o propósito de incutir na cabeça dos 
adolescentes normas e condutas compatíveis com o que a sociedade pensasse 
e estabelecesse. 
Outro aspecto é que, educacionalmente, as informações chegam ao 
adolescente mais pelo viés do não do que do tentar entender as questões. 
Temos de lembrar que o adolescente é curioso por sua natureza, e a sexualidade 
lhe confere um campo profícuo para exercer essa curiosidade. 
No que tange à sexualidade, o campo da saúde é que acabou por abarcar 
as possibilidades de um olhar mais específico sobre o adolescente. Vários são 
os programas e projetos voltados a assuntos específicos, como, por exemplo, 
gravidez e infecções sexualmente transmissíveis. 
Recentemente, a Organização Pan Americana de Saúde e o Ministério da 
Saúde (OPAS/OMS, 2017) lançaram uma cartilha sobre a saúde e a sexualidade 
de adolescentes. Essa tentativa visa estabelecer um diálogo e um mecanismo 
 
 
34 
 
de fomento de documento que possam nortear as políticas públicas de saúde 
voltadas para o adolescente. 
Desafios sociais e culturais ligados à sexualidade juvenil 
Os desafios sociais e culturais relacionados à sexualidade juvenil estão 
relacionados aos riscos que essa população está sujeita. A violência sexual nos 
últimos anos tem registrado um aumento significativo, expondo uma mazela das 
condutas sociais que perpassa níveis socioeconômicos. A violência deixa 
marcas muito profundas na vida dos adolescentes, fazendo com que a vida 
adulta seja moldada pelo sofrimento e muitas vezes falta de apoio. Mais do que 
se chocar ou se sensibilizar, nossa sociedade tem o dever de criar ou pressionar 
as instâncias políticas e jurídicas a criarem mecanismos reais de proteção ao 
adolescente. 
 
Acabar com a violência sexual, principalmente a violência contra a 
mulher, é um dever do estado e da nação. Esse tem sido um dos 
grandes problemas enfrentados hoje por nossa população. Outro 
problema social importante é o aumento de casos das infecções sexualmente 
transmissíveis (IST). 
 
De acordo com o Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde (2017), 
os casos registrados de sífilis congênita em 2016 – aquela passada de mãe para 
o filho – foi de 20.474 casos, com 185 óbitos. Ainda segundo o mesmo boletim, 
para a faixa etária de 13 a 19 anos, entre 2010 e 2016, houve o aumento de 
39,9%, demonstrando que a sífilis vem crescendo entre a população jovem. A 
volta do aumento do HIV/AIDS também tem preocupado as autoridades 
sanitárias. 
A prática de sexo sem os devidos cuidados, a troca de parceiros e a 
desinformação contribuem para esses dados. Entre isso, também contribui a 
crença do próprio jovem de se sentir imune a tais doenças, pensando que nada 
o acomete durante essa fase. 
 
 
35 
 
A importância dos atores de apoio na vida do adolescente 
Os atores de apoio do adolescente são muito importantes, pois eles 
desempenham o papel de educar, orientar e dialogar com esse jovem. Nessa 
fase, como na infância, o adolescente tem que estar envolto em uma atmosfera 
de cuidado, respeito e valorização. Seu modo de agir, embora próprio, se baseia 
muito na crença de que a vida do outro sempre é melhor que a dele. Nessa fase 
é muito importante o reforço positivo, pois isso ajudará a formar valores que 
poderão lhe ser úteis para o resto de sua vida. 
A família, a escola e a sociedade em geral precisam estar alinhadas à vida 
do adolescente, para que ele tenha as bases necessárias ao seu 
desenvolvimento. 
As políticas públicas educacionais e de saúde precisam incluir em sua 
agenda de ação a fase da adolescência, trazendo esse jovem para o seio da 
sociedade e dando o suporte necessário para que ele se desenvolva de forma 
integral. Portanto, a participação do Estado é fundamental na busca por medidas 
mais efetivas e que garantam o direito de existência e visibilidade do jovem. 
A família, seja ela como for constituída, precisa de apoio e do 
entendimento de que sua presença é muito importante na vida do adolescente. 
Todo reforço positivo que a família lança sobre o adolescente o ajuda a se 
encontrar, a buscar seu caminho e a consolidar sua autonomia para a construção 
de um cidadão mais fortalecido e participativo. 
A escola precisaacolher esse jovem e buscar com ele alternativas que 
lhe conferirão e reforçarão a construção do jovem cidadão. A escola deve ser a 
mediadora dos processos de educação, sempre reforçando a autonomia do 
jovem e lhe proporcionando o diálogo necessário para que o estudante possa 
fazer com que o conhecimento seja significativo em sua vida. 
 
 
Saiba mais quais são os papeis da escola na formação do cidadão 
clicando aqui. 
 
https://canaldoensino.com.br/blog/qual-e-a-importancia-da-escola-na-formacao-do-cidadao
 
 
36 
 
É claro que todas as alternativas só são possíveis se os atores também 
encontrarem apoio para as suas ações. Daí a importância de um equilíbrio 
sociopolítico que possa garantir melhores condições de vida em todas as suas 
formas de expressão. O jovem precisa se sentir acolhido e ter a confiança 
necessária para que o apoio dos atores envolvidos em sua vida seja efetivo e 
positivo. 
 
Síntese 
Pudemos observar nesta aula que a adolescência tem uma série de 
peculiaridades que lhe conferem um caráter único. Assim como todas as fases 
de desenvolvimento, a adolescência carrega mudanças muito importantes em 
todos os aspectos, gerando processos de descoberta e de reinvenção da vida. 
É preciso entender que nessa fase, o adolescente está descobrindo um 
mundo novo e estabelecendo relações diferentes daquelas que ele criou em 
família. Essas novas relações lhe proporcionam inúmeras possibilidades de 
caminhos a serem percorridos. Se as ações de proteção e promoção forem 
maiores que as ações de risco e vulnerabilidade, as chances que esses jovens 
têm de acerto serão muito maiores. 
Um adolescente que tiver seus direitos garantidos, certamente será um 
adulto capaz de fazer as melhores escolhas. 
 
Atividades de Aprendizagem 
É sabido que a adolescência é um período de grandes transformações. 
Sabemos também que os valores sociais mudam rápido, fazendo com que hajam 
deslocamentos que nem sempre venham de encontro à promoção de cuidados 
e sim ao aumento dos riscos. De que maneira essa mudança dos valores sociais 
pode afetar no aumento de riscos na adolescência? 
 
 
 
37 
 
Aula 4 – Sexualidade e as questões de gênero 
 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
Para introduzir as questões de gênero, temos que frisar que o assunto 
sobre a sexualidade, historicamente, sempre foi um assunto controverso. Os 
discursos proferidos sobre a sexualidade carregavam o poder de quem detinha 
a licença para falar de sexualidade. Esse poder sempre esteve nas mãos de uma 
sociedade que por muito tempo silenciou-se perante a sexualidade, a exercia, 
mas quase nunca se dispôs a falar dela. 
Muitos foram os caminhos traçados para que a sociedade hoje possa falar 
mais abertamente sobre um dos aspectos que a constrói, a sexualidade. Assim 
também é com as questões de gênero, mas talvez essas questões estejam mais 
fadadas ao silêncio ou ao vazio da palavra, porque assim como a sexualidade é 
complexa, as questões de gênero também são. 
Ainda existe uma incógnita muito grande em torno de sua temática e até 
mesmo com relação a epistemologia da palavra em si. Por essa razão é que as 
 
 
38 
 
questões de gênero ainda são faladas e discursadas de maneira insipida. A 
escola, pelo papel que ela representa, talvez seja um dos espaços onde as 
questões de gênero encontram vozes que queiram falar e discutir sobre o 
assunto. 
Existe hoje, no Brasil, uma série de artigos publicados por estudiosos 
abordando o assunto, muitos deles relacionam o papel da educação e da escola 
como componentes importantes desse discurso. Longe de esgotar o assunto, 
vamos abordar alguns pontos considerados importantes. 
 
Gênero e sexualidade no contexto escolar brasileiro 
No âmbito escolar brasileiro, o debate a respeito de sexualidade circula 
nas escolas desde os anos de 1920 e 1930, constituindo-se como uma 
preocupação constante de médicos e professores a discursar em prol de um 
corpo moralmente constituído e higiênico. 
A ideia que se propagava na época não era o de esconder o discurso, 
mas por meio dele promover uma educação para os bons costumes da época. 
Intelectuais como Fernando de Azevedo já destacavam a importância de 
disciplina específica sobre educação sexual pautada nos princípios já 
mencionados. 
 
Educar significava disciplinar, então, os corpos passam a ser educados 
para a vida que se descobre. 
 
A partir de 1960, com a disseminação dos movimentos sociais, como o 
movimento feminista e a reinvindicação por direitos civis, ocorre uma abertura 
maior para falar dos problemas sociais, logo, a sexualidade entra nesse debate. 
É nesse período também que as escolas são inundadas com uma série 
de novas propostas pedagógicas, aumento o repertório das possibilidades de 
fazer com que o conhecimento fosse absorvido pelo aluno. Nesse período, a 
educação sexual nas escolas foi mais constante. Nos anos seguintes, o regime 
 
 
39 
 
militar impôs um silêncio ao discurso de sexualidade que viria a ter voz somente 
na década de 1980, mas sob a égide da medicina e da biologia. 
Com o surgimento da AIDs/HIV, a escola viu-se obrigada a ofertar a 
educação sexual, mas como modelo de prevenção, adotando uma abordagem 
restrita. Prevenção foi a palavra chave que culminou com a criação de inúmeros 
projetos voltados à educação sexual. Em 1990, os Parâmetros Curriculares 
Nacionais trouxeram à tona as questões de gênero e a educação sexual. Mais 
tarde, com a reformulação dos PCN’s, em 1998, surge um caderno específico 
substituindo o nome de Educação Sexual por Orientação Sexual. 
A escola passa então a incorporar de vez as questões ligadas à educação 
sexual. Um importante aspecto a ser destacado é que a criação de um 
documento não valida o discurso dentro da escola, não faz com que ela seja 
obrigada a falar sobre as questões que envolvem a sexualidade no seu contexto 
mais complexo. Pelo contrário, a prática mostra que os discursos sobre 
sexualidade ainda são dotados de certo silêncio ou acomodamento do aspecto 
biológico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com relação às questões de gênero, a discussão ainda é incipiente ou 
inexistente. A escola ainda não dá conta de falar sobre o gênero. Cézar (2009) 
chama a atenção para a pouca discussão que o fascículo a respeito da 
 
 
40 
 
orientação sexual tem sobre o tema Relações de Gênero, apenas duas páginas 
e meia. 
Esse mesmo documento reforça a ideia de que aos gêneros “masculino” 
e “feminino” cabem papeis bem estabelecidos e que cada um deles é carregado 
de conotações do tipo, “meiguice” para o gênero feminino e “força” para o gênero 
masculino. 
 
 
 
 
 
 
Questões de gênero e sexualidade no currículo e nos projetos políticos 
pedagógicos 
Considerando o currículo, as questões de gênero e sexualidade aparecem 
mascaradas pela biologicidade do corpo. São nas disciplinas de ciências e 
biologia que as questões ligadas ao corpo e àquilo que se entende por 
sexualidade serão abordadas, isto é, será abordado no ensino apenas o aparato 
reprodutor masculino e feminino. Tudo que se refere às questões do corpo são 
direcionadas para essas duas disciplinas, como se as demais não tivessem que 
lidar com essas questões, visto que os alunos são os mesmos. É como se os 
estudos relacionados à ciência da natureza carregassem a verdade no seu 
discurso; a mesma verdade com que a medicina por tantos anos tratou de 
discursar para demarcar o certo do errado em termos de sexualidade. 
Outro aspecto é que essas questões nunca foram explícitas nos currículos 
e ficam subentendidas em termos como o direito à saúde, por exemplo. Talvez 
onde elas mais se encaixam no currículo foi na década de 1990, com a criação 
dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda sim eram contemplados como 
temas transversais, ou seja, estavam fora do currículo oficial. Eram sugestões 
 
Em tempos atuais, com a consolidação da BaseNacional Comum Curricular, as 
questões de gênero são descartadas do discurso, reforçando a ideia de que não 
é a escola que talvez não esteja preparada para falar, mas a sociedade que 
ainda tem a ideia de que essas questões não devem ser faladas. 
 
 
 
41 
 
oficiais, porque se delineavam enquanto documento, mas que na prática ficava 
a cargo das escolas, da direção e dos professores, trabalhar ou não a temática. 
Atualmente o cenário pode se configurar como um cenário de retrocesso, 
pois as questões de gênero ficaram de fora da construção do documento mor 
que norteará a construção dos currículos brasileiros, a Base Nacional Curricular 
Comum. Em termos de projetos políticos pedagógicos, a linha de atuação é a 
mesma, historicamente eles não contemplam a temática ou foram inseridas com 
outras palavras, pois se subentende que isso fique ainda a cargo das aulas de 
ciências e biologia. 
Quaglia (2013) analisa os projetos políticos pedagógicos de 13 escolas do 
ensino fundamental, na cidade de Maringá e os resultados mostram claramente 
que em cerca de 61% a palavra sexualidade está correlacionada a princípios 
éticos, políticos e estéticos, e que nenhum dos documentos aborda a 
sexualidade de maneira direta, mas camuflada sob a forma de outros propósitos. 
 
 
 
Questões de gênero e sexualidade nos livros didáticos 
Quando falamos de sexualidade nos livros didáticos, estamos querendo 
dizer sexualidade nos livros de ciências e biologia. Na história, com a 
medicalização da sexualidade, esse tema passou a fazer parte do rol de 
assuntos ligados a medicina e biologia. Outro aspecto que diz respeito a isso é 
que, historicamente, a sexualidade e o seu entendimento se fazem muito 
presentes no biologismo. 
Falar de sexualidade é falar de um corpo que se reproduz e que é passível 
de adoecer. Essa visão limitada coloca a sexualidade a ser escrita também de 
maneira restrita ou, na maioria das vezes, nem comentada, apenas colocada de 
outra maneira e com outras palavras que, no entendimento de quem escreve o 
livro didático, substitui toda a complexidade que ela possa representar. 
A escola ainda precisa repensar a importância do seu papel na educação 
sexual. 
 
 
 
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Os livros didáticos trazem em seu conteúdo, informações voltadas a 
assuntos principalmente relacionados a gravidez, infecções sexualmente 
transmissíveis e ao aparato reprodutor masculino e feminino. Com a iniciação 
sexual acontecendo cada vez mais cedo, é inevitável que esses assuntos se 
tornem a linha mestra quando se fala em sexualidade, entram em voga e também 
procuram abordar algo sobre a violência sexual, visto que esse assunto tem 
crescido muitos nos últimos anos. 
 
 
O filósofo Leandro Karnal enfatiza a importância da educação sexual. 
Clique aqui para ouvir. 
 
Anatomia e fisiologia do aparato reprodutor 
Neste campo, os assuntos abordados se referem ao aparato reprodutor e 
sua funcionalidade. 
O corpo precisa ser reconhecido, logo, tal reconhecimento se faz 
necessário, pois parte-se do pressuposto que o que é conhecido passa a ser 
cuidado. Tal como os outros sistemas do corpo, o sistema reprodutor masculino 
e feminino e sua funcionalidade fornecem o conhecimento necessário para 
relacioná-los a outros assuntos, como, por exemplo, a genética. 
A própria questão do desenvolvimento sugere que a maturação dos 
órgãos genitais marca a passagem para a juventude. O aparecimento das 
características sexuais secundárias marca o indivíduo e, nesse momento, muitas 
vezes, as dúvidas surgem, como é de se esperar. Uma boa orientação 
relacionada a esse conteúdo pode fazer com que o entendimento sobre o corpo 
se torne mais naturalizado. 
Gravidez 
A gravidez é um assunto cada vez mais corrente entre a população jovem. 
O número de meninas grávidas aumenta a cada ano e vários são os fatores que 
https://www.youtube.com/watch?v=wFAWx9zCVdg
 
 
43 
 
contribuem para esse quadro. A questão é como que essa questão está sendo 
discutida e encaminhada pela sociedade. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente garante à gestante adolescente 
todas as prerrogativas de cuidado com ela e com o bebê. O Sistema único de 
Saúde tem diretrizes de acolhimento e promoção de ações que garantam a essa 
jovem uma gravidez tranquila, com os devidos acompanhamentos. 
Infecções sexualmente transmissíveis 
A inserção do jovem cada vez mais cedo na vida sexual e o seu 
desconhecimento a respeito das medidas contraceptivas e de proteção fazem 
com que as IST tenham aumentado entre a população jovem. A volta das ações 
educativas é um caminho plausível para trazer novamente esse assunto à tona 
e ajudar na criação de caminhos de promoção e cuidado do corpo e da saúde. 
Violência sexual 
A violência sexual é um assunto que merece ser abordado. Primeiro 
porque está muito relacionado as questões de gênero, afetando a vida de 
milhares de crianças e adolescentes que tiveram suas vidas marcadas pela 
violência. É preciso entender que a sociedade precisa criar uma rede de proteção 
que seja eficaz e que de todo o suporte necessário ao jovem ou a jovem que 
sofre a violência. Não basta ficar somente no discurso. A violência merece ações 
efetivas para o se banimento. 
Com os Parâmetros Curriculares Nacionais e a manutenção de um 
caderno à parte sobre Orientação Sexual, muitos livros didáticos acabaram 
trazendo à tona as questões acima relacionadas. Aqui é importante ressaltar 
que, com a Base Nacional Comum Curricular estabelecida, os livros didáticos 
sofrerão mudanças e as questões de gênero e sexualidade não foram 
contempladas na última versão. 
Portanto resta saber se o mercado editorial de livros didáticos considerará 
importante a manutenção dos temas já trabalhados ou se essas questões 
deixaram de existir e sua discussão passará a acontecer de uma maneira mais 
diluída, fazendo parte de assuntos como o de direitos humanos. 
 
 
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O tema abuso sexual infantil é considerado um problema de saúde 
pública. Clique aqui para assistir ao documentário “Ele”, filme que 
retrata as consequências às pessoas que sofreram abuso. 
 
Gênero e sexualidade na formação dos professores 
A formação dos professores é um momento muito importante porque 
reflete a dinamicidade com que as questões educacionais são tratadas e a 
vontade de contemporizar as questões. Em relação à sexualidade e às questões 
de gênero, elas precisam ser amplamente dialogadas para gerar um 
conhecimento que seja significativo para o aluno e que contribua para a sua 
formação como cidadão. 
Assim como o aluno, o professor provavelmente teve pouco contato com 
as questões educacionais pertinentes à sexualidade na sua formação 
educacional. Portanto, para ele, essas questões podem lhe parecer novidade 
uma vez que o conhecimento sobre elas pode ter sido incipiente. Essa é uma 
realidade bem comum e que reflete as condições de educação sexual, dada 
somente sob o aspecto do biológico e muitas vezes apenas para quem cursou 
licenciatura em Ciências. 
A formação em educação sexual tem que ser ampla e realizada na escola 
toda, com diretores, professores, parte administrativa, pessoal da limpeza, 
monitores, todos os atores educacionais. Isso é importante porque o jovem 
precisa ser acolhido pela escola. 
A formação dos professores possibilita a abertura de diálogos múltiplos, 
pois nem sempre é com o professor de Ciências que o adolescente se sente 
confortável para falar de questões ligadas à sua sexualidade. Essa formação 
deve ser ampla, respeitando as crenças a moralidade de cada um. 
Mesmo assim, uma coisa é certa: a formação precisa acontecer e é 
indispensável a ajuda e a participação de todos os atores que fazem parte 
do ambiente escolar. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=qUHoeehz8z4
 
 
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Síntese 
Nesta aula, você viu que as discussões referentes às questões de gênero 
são grandes, mas o consenso é pequeno. Existeuma dificuldade explícita para 
se trabalhar com as questões de gênero em todos os meios, seja o escolar, a 
nível comunitário, seja a nível individual ou mesmo a nível familiar. Todos os 
atores encontram grande dificuldade, primeiro pela fluidez da temática, que pede 
um olhar mais amplo e complexo; segundo pela falta de diálogo que possa 
costurar as diferentes produções e produzir saberes utilizáveis para todos. 
As questões de gênero ainda são vistas como tabu, dentro de uma 
sociedade que, historicamente, fala da sua sexualidade há muito tempo. Ainda 
há muito o que dizer sobre as questões de gênero, para que, culturalmente, essa 
questão se torne parte essencial na educação sexual. 
 
Atividades de Aprendizagem 
A escola é um espaço que faz a mediação entre a família e a sociedade, 
por isso ela é tão importante e necessária. Ela funciona como uma espécie de 
incubadora para a inserção na sociedade. De que maneira a escola pode 
contribuir para que as questões de gênero e sexualidade sejam trabalhadas de 
forma significativa? 
 
 
 
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Referências 
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necessária. Anais. IX Seminário de Pesquisa da Região Sul. UNIOESTE: 2012. 
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Challenge for Society. Report of a WHO Study Groupon Young People and 
Health for All. Technical Report Series 731. Geneva: WHO, 1986. 
 
Currículo do professor(a)-autor(a) 
Tem graduação em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do 
Paraná (1996), e mestrado em Bioecologia Aquática, pela Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte (2003). Participou do Programa de Qualificação de 
Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste. Foi professora 
colaboradora no Departamento de Teoria e Prática de Ensino da UFPR, tendo 
sido também professora colaboradora na Unioeste de Cascavel e Santa Helena. 
Atua como consultora na elaboração de EIA/RIMA. Foi professora de ensino 
fundamental e médio em instituições de ensino particulares e estaduais. Obteve 
experiência com atuação nas questões de saúde indígena e em ações 
educacionais para combate à dengue pela Prefeitura de Curitiba. Trabalhou 
como bióloga do Ipedis a serviço da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de 
Curitiba e junto à COHAB-CT, desenvolvendo ações de educação ambiental 
como técnica no Projeto PAC/Moro Aqui. Desenvolveu atividades no IPEDIS 
para educadores sociais da FAS. Trabalhou na coordenação de conteúdos 
digitais no setor de Tecnologia Educacional da Positivo Informática da Amazônia. 
 
 
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Trabalhou como Editora de Objetos Digitais no IESDE e SAE digital. Atualmente 
é consultora ambiental autônoma.

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