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1 CARLA MORALES GÊNERO E SEXUALIDADE FACULDADE SÃO BRAZ CURITIBA/PR – 2018 2 Sumário Apresentação ................................................................................... 03 Iconografia ....................................................................................... 04 Aula 1 – Sexualidade humana .......................................................... 05 Aula 2 – Educação sexual ................................................................ 15 Aula 3 – Juventude e sexualidade .................................................... 27 Aula 4 – Sexualidade e as questões de gênero ................................... 37 Referências 46 Currículo do Professor-autor 47 3 Apresentação Olá, tudo bem? Que bom poder compartilhar conhecimentos com você, estudante! Parabéns pela escolha de estudar. Tenho certeza que o conhecimento adquirido por você lhe será muito útil, pois todo aprendizado gera conhecimento e este, quando passa a ser significativo, faz com que o entendimento sobre a vida se torne mais claro e objetivo. Aliás, que seus objetivos sejam concretizados e que toda realização seja sempre fruto do seu esforço, porque não há nada mais gratificante do que podermos ser sempre o protagonista da nossa vida! Para isso, nos utilizaremos da tecnologia com o nosso ambiente virtual de aprendizagem, onde você poderá explorar as mais diversas formas do conhecimento, garantindo uma aprendizagem significativa. Aproveite cada momento para estudar, pois a aquisição do saber nos levará cada vez mais longe! Bons estudos! 4 ICONOGRAFIA Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. VOCABULÁRIO Indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no texto. IMPORTANTE Indica pontos de maior relevância no texto. REFLITA Questionamentos e reflexões sugeridas pelo autor, mas não é necessário respondê-los. SAIBA MAIS Oferece novas informações que enriquecem o assunto: textos, artigos, reportagens escritas etc. CURIOSIDADES Indica alguma curiosidade a respeito do tema de estudo, mas que não está contemplado na ementa. MÍDIAS Indica sugestões de vídeos ou reportagens para conhecimento complementar. LINK Vídeos e textos para aprofundar o assunto. Dica: Para facilitar clique com o botão direito do mouse e abra uma nova janela. 5 Aula 1 – Sexualidade humana Você já parou para pensar nas questões que nos constituem? Na nossa complexidade? Nesse material procuraremos refletir um pouco mais de algo extremamente importante: a sexualidade. Não temos a pretensão de esgotar o assunto e nem seguirmos uma linha, mas apresentar o universo de questões que permeiam as discussões de sexualidade e mostrar que as pessoas estudam o tema com afinco e seriedade, trazendo à tona questões para refletirmos e também para que nos conheçamos melhor, afinal, a sexualidade também nos constitui e é uma importante engrenagem na nossa vida. Quando falamos de sexualidade, estamos falando do corpo, esse corpo que fala, se manifesta e é moldado por uma simbologia muito própria. Quais as questões que permeiam esse corpo, como ele flui na sociedade e se constrói, qual é a representação que fazemos desse corpo e que peso tem a sexualidade para esse corpo? Para responder a essas perguntas, nos ateremos, nesse primeiro momento, a delinear um pouco da história da sexualidade e ver quais caminhos essa história percorre. 6 Aspectos históricos e culturais da sexualidade Antes de falarmos dos aspectos históricos, temos que posicionar o termo sexualidade. Afinal o que é sexualidade? A sexualidade humana perpassa várias vertentes, como um caleidoscópio, que, dependendo da sua movimentação, vai nos proporcionar imagens diversas. Quando falamos de sexualidade, estamos falando de questões relacionadas ao gênero, à identidade sexual, à orientação, ao sexo propriamente dito, à reprodução e aos valores emocionais e afetivos. Cada um desses parâmetros é vivenciado por pessoas, que, por sua vez, têm crenças, valores, conhecimentos e atitudes diferentes na manifestação da sua sexualidade. Daí o comparativo com o caleidoscópio porque na medida em que falamos de sexualidade, descortinamos um mundo vasto de possibilidades discursivas sobre o tema. Tal comportamento também pode ser observado entre as populações indígenas brasileiras que estabelecem, através do gênero, os papeis sociais, cabendo à mulher o cuidado da prole, da casa e das roças, e ao homem a proteção e a caça. Historicamente, a sexualidade já exercia seu papel antes mesmo de receber essa denominação que conhecemos. No período paleolítico, os papeis associados ao gênero já eram vistos: cabia ao homem a caça; à mulher, o cuidado da prole e o manejo da agricultura. 7 Figura 1: Homens caçando no período paleolítico Fonte: © Flickr (2018) Figura 2: Mulher indígena cuidando do seu filho Fonte: © Flickr (2018) Portanto, podemos ter dimensão mais clara e ampla de que a sexualidade está além do cumprimento biológico como perpetuação de espécies, mas como um marco da sociedade, cujos papeis sociais são determinados pelo gênero. No período da Idade Média, por exemplo, o sexo passou a ser pecaminoso do ponto de vista religioso, e a sexualidade e suas manifestações, principalmente aquelas mais ligadas ao ato sexual em si, passaram a ser reprimidas. Essa ideia se alastra e várias culturas utilizam-se dessa repressão para banir assuntos relacionados à sexualidade, ou seja, é uma temática que merece ser coibida. Nesse período, a condição biológica impera o discurso de que o único propósito de manifestação da sexualidade deve estar voltado à perpetuação das espécies. Para Focault (2007, p. 40), a Idade Média tinha organizado, sobre o tema da carne e da prática da confissão, um discurso estreitamente unitário. No decorrer dos séculos recentes, essa relativa unidade foi decomposta, dispersada e reduzida a uma explosão de discursividades distintas, que tomaram forma na demografia, na biologia, na medicina, na psiquiatria, na psicologia, na moral e na crítica política. Em outro período e com o advento da ciência, a sexualidade passou a ser objeto de estudo. Os discursos passaram a produzir a verdade a qual não deve 8 ser contestada, pois tem bases científicas. Aliado a esse saber, o judiciário passou a classificar o que são condutas moralmente aceitas e o que não são condutas moralmente aceitas, e parte das manifestações sexuais viraram caso de polícia. Daí a importância da profusão do discurso sobre a sexualidade, primeiro para produzir a verdade; segundo para controlar o comportamento, por meio de práticas lícitas ou ilícitas. Nesse aspecto, o caráter reprodutivo da sexualidade, dentro da história, em muitos momentos teve uma conotação econômica. Era preciso mão de obra e gente para consumir o que se produzia. Em uma sociedade industrializada, os mecanismos de produção e consumo passaram pela questão da sexualidade no quesito reprodução. Era preciso manter um contingente populacional que desse conta das particularidades de mercado e de sua regulação. É importante lembrar que outros aspectos ligados à sexualidade não eram falados ou mencionados. 9 Houve um tempo em que falar sobre sexualidade era necessário, pois pelo ato da palavra conhecia-se o sujeito e a forma com que este ou aquele lidavam com sua sexualidade. Falar ajudava na regulação social, uma vez que estabelecia um diálogo cujo poder, assim constituído politicamente, podia interferir nos assuntos individuais, dessa forma fazendo com que o político regulassea vida privada pelo discurso aberto sobre sua sexualidade. Essas duas vertentes perduraram durante o século VXIII, quando os discursos impunham saberes dos quais se sabia como controlar. No cerne da questão está o sujeito, cujo corpo passa a ser disputado pelo público, saindo das esferas do privado. A sexualidade a partir daqui é tratada pelas mais diversas áreas onde o saber se constitui, são as áreas de ordem religiosa, judiciária, pedagógica e médica; cada uma delas vai deixar sua marca sobre o tema da sexualidade, demarcando os territórios de atuação do indivíduo dentro das sociedades. Quero aqui chamar a atenção das duas possibilidades históricas que perduraram no ocidente, durante o século VXIII, de enxergarmos o corpo diante da sexualidade. Heilborn (1999) fala que os discursos proferidos sobre a sexualidade tinham a conotação reprodutiva e de regulação social das 10 populações. As conotações sociais, biológicas e políticas perpassam pelo corpo e marcam esse corpo, utilizando-se muito da sexualidade para fazê-lo. No século XIX e metade do século XX, os saberes sobre a sexualidade intensificam-se e vários autores se propõem a pensar sobre ela, ofertando assim vários aspectos a respeito desse tema. Castro et al. (2004, p. 31)) aponta que vários campos do conhecimento foram criados e especializados, como é o caso da psicologia, representados por Freud e outros estudiosos, o quão complexo e sutil é a sexualidade. Com isso, se reforça ainda mais o seu estudo e uma ação mais intervencionista do corpo. Castro ainda aponta que A partir dos anos 60 e 70 ocorre uma profusão de discussões e ações, em grande parte devido ao surgimento dos movimentos que impulsionaram as discussões sobre sexualidade, como o movimento feminista, que trouxe várias contribuições acerca da temática. Nas discussões de direitos humanos, entra em pauta a discussão de direitos sexuais e reprodutivos, imputando um debate mais ampla e contribuindo para um avanço político muito importante. Dito isso, podemos dizer que a história da sexualidade é permeada pela formação e pelo pensamento das sociedades vigentes nas épocas, as quais tiveram grande influência nas ações do corpo e de como este deve ser apresentado e formatado a viver. O estudo da sexualidade no Brasil Assim como os discursos e ações a respeito da sexualidade foram construídos no decorrer do tempo e da história. Aqui no Brasil, a sexualidade e suas manifestações também percorreram um caminho delineado pela história na “A segunda metade do século XX foi marcada por, pelo menos, dois eventos que deram novos impulsos para os estudos sobre a sexualidade, bem como aos seus sistemas de práticas e representações sociais: 1) o desenvolvimento de métodos contraceptivos que rompe com a associação entre o exercício da sexualidade e a reprodução da espécie; e 2) o surgimento de novas reflexões derivadas da intersecção entre mobilização de alguns segmentos da sociedade civil organizada e de estudos realizados no âmbito da academia.” 11 passagem do tempo. Na verdade, a sexualidade aqui sempre esteve permeada pelas ações sociais dos corpos e seus papeis dentro das sociedades, fortemente marcadas pelo momento político da época. As estruturas de poder sempre se manifestaram e tiveram forte influência nos corpos, constituindo-os como engrenagens sociais importantes para a consolidação de ideias vigentes em cada época. Aspectos históricos Como você já viu, as épocas e suas visões de mundo atravessam a construção dos estudos de sexualidade também no Brasil. Os estudos de sexualidade se delineiam em cima do biologismo do corpo, onde essa sexualidade confunde-se com apenas um dos aspectos desse constructo mais amplo e complexo que ela representa. Com relação a isso aqui também os dogmas eclesiásticos deram o tom dos escritos de sexualidade durante o século XIX, sendo reforçados posteriormente ao período onde a ciência imperou suas ideias, fazendo vingar a verdade a respeito do corpo, através dos estudos científicos da época, mas também não indo muito longe da ideia do corpo como aparato reprodutor e/ou visto sob o aspecto das doenças. Outro momento importante foi a inserção do assunto nas escolas, durante as primeiras décadas do século XX, esboçando uma tentativa de disseminar as ideias de corpo e seus cuidados. Essa ideia perdura pelos anos e somente na década de 1980 é que o Brasil irá incluir de vez nos currículos escolares a implantação de projetos oficiais de orientação sexual, culminando na década de 1990 com a inserção da educação sexual nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) como tema transversal. Recentemente a Base Nacional Comum Curricular num primeiro momento insere a questão de gênero e diversidade, e na sua versão final retira do seu texto qualquer menção a isso. A linha de defesa para tal atitude preconiza que as competências relacionadas aos assuntos de diversidade e direitos humanos deverão abordar as questões de gênero e sexualidade. Essas questões que outrora estavam explícitas, porque nomeadas, agora se encontram implícitas, corroborando a 12 ideia de que os assuntos pertinentes à sexualidade ainda estão arrigados na ideia biológica de corpo. A Base Nacional Comum Curricular apresenta dez competências que abordam possibilidades em que o tema sexualidade pode se inserir. Entre elas estão: Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se comprometer. Fonte: Clique aqui. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/download-da-bncc/ 13 Delineamentos sobre a sexualidade O Brasil atravessou diversos momentos desses, mas precisa avançar mais na ampliação do discurso de que a sexualidade, como constructo social deve ser mais discutida e debatida. Falar de sexualidade ainda se configura como tabu, como se a construção dos sujeitos não fossem pautadas pelo desejo e pelas pulsões que lhe conferem uma parte importante de sua constituição como sujeito vivente. Nossa história nos mostra que os aspectos biológicos imperam sobre os aspectos sociais e culturais. O conhecimento do corpo é pautado pela visão do outro que dita normas e regras de comportamento dentro de valores morais bem estabelecidos. Não que isso se constitua como um problema, pois viver em sociedade é viver sob a sujeição do que é aceitável à maioria. Síntese Você viu nesta aula que a sexualidade é um tema que incita muitas vertentes, e saber um pouco de sua história, trazida por estudiosos que se debruçaram sobre o tema, faz com que entendamos que os corpos, além do seu status biológico carrega também um status socialmente construído, onde forças diversas, como a econômica e a política, imprimiram sua marca, delimitando esse corpo e regendo suas condutas, com o aval das mais diversas instituições, como a médica e a judiciária. 14 Longe de esgotar o assunto,a história da sexualidade está ainda sendo escrita, e tudo que sabemos sobre ela são pequenas inserções em um campo complexo e dinâmico que tem como objeto principal o corpo. Atividades de Aprendizagem Entender os aspectos históricos de sexualidade é entender um pouco de como o corpo passa do biologismo a uma construção sociocultural. Um dos aspectos aborda a importância cada vez mais crescente de estudos e a inserção do tema em fóruns internacionais de direitos humanos, constituindo a sexualidade e sua manifestação como um direito historicamente conquistado. De que maneira esse direito historicamente conquistado acerca do tema sexualidade pode contribuir para que tenhamos uma sociedade cada vez mais justa e socialmente equilibradas? 15 Aula 2 – Educação sexual Você já parou para pensar do que a gente é constituído? Provavelmente você faz alguma ideia daquilo que nos faz significado e que nos ajudam a entender nosso lugar no mundo. Você também deve sabe que o ato de educar é um dos caminhos que nos abrem as possibilidades para que o conhecimento de si e sobre as coisas façam sentido e deem um significado a nossa vida. A educação sexual é um dos possíveis caminhos que podem nos dar respostas de nós mesmos, uma vez que é o corpo que se implica na busca por conhecimento. Ela é uma parte importante dentro do nosso processo de educação e está intrinsicamente ligada as nossas emoções, ao que desejamos e como sentimos. Por tudo isso ela é muito importante e deve ser levada em consideração. 16 Pressupostos teóricos e políticos da educação sexual Assim como cada período da história contribuiu para a formação de um campo do saber a respeito de sexualidade, no Brasil, cada período histórico também nos trouxe a sua contribuição. Augusto (2015 apud Ribeiro 2007) aponta seis momentos nos quais a educação sexual foi construída, são eles: Brasil Colônia, Império, Início da República, Década de 1960, Década de 1980 e Década de 1990. A partir de agora, você vai saber detalhadamente cada um desses períodos. Brasil Colônia No Brasil colônia, o patriarcalismo predomina nas relações privadas e sociais, tendo uma conotação muito marcante na vida das pessoas. Neste período, o homem branco exercia plenos poderes sobre a vida privada e política. Em termos de educação, a Igreja desempenhou um papel fundamental, seguindo a premissa de que a sexualidade e suas manifestações eram pecado, logo, o assunto envolvendo temas ligados à sexualidade eram duramente reprimidos. Normas regras e condenações fiavam a cargo dos ditames da Igreja que impunha condutas comportamentais às populações indígenas, aos negros e às mulheres brancas, que tinham como conduta a submissão completa perante o homem branco. Império Esse período foi marcado pela verdade do saber construído pela medicina. 17 A medicalização dos saberes a respeito da sexualidade produziu verdades da qual ninguém contestava e, assim, os ditames comportamentais sobre o corpo e, consequentemente, sobre a sexualidade foram embasados no absolutismo e na crença voltados aos processos médico-higienista. Muitos dos saberes de sexualidade a condenavam ao campo das doenças, ou seja, deveriam ser combatidas. Neste período, as condutas comportamentais sexuais estavam voltadas à reprodução das espécies. O biologismo do corpo falava mais alto. República O início do período republicano no Brasil traz à tona um desejo de mudança muito grande. “Ordem e Progresso” são as palavras-chave que compõem os movimentos e esse “sentimento” se alastra por todas as áreas. Ainda sob o domínio forte da medicina, a educação sexual ganha contornos eugenistas e higienistas, cheios de regras e criação de valores morais. Neste período, a educação sexual é uma educação voltada ao combate de doenças venéreas e ao preparo da mulher para ser boa mãe e boa esposa. O Congresso Nacional dos Educadores aprovou uma proposta de educação sexual para as escolas. Década de 1960 A década de 1960 foi marcada por retrocesso no campo da educação sexual. O militarismo, ao assumir em 1964, colocou fim a qualquer diálogo sobre educação sexual nas escolas. 18 Todas as tentativas de se avançar nos diálogos de uma educação sexual são desconsideradas, pois os valores rígidos imputados pelo sistema não permitiam qualquer alusão a esse tipo de educação. Mesmo assim, segundo Aquino e Marteli (2012), durante os anos de 1963 a 1968, em São Paulo, foram inseridos nos currículos de algumas escolas públicas a temática educação sexual; com isso, alguns projetos voltados à prevenção e com caráter informacional foram criados. Essa nova abordagem fez com que outras escolas no Brasil também começassem um movimento de inclusão da educação sexual em seus currículos, como é o caso da escola Pedro Alcântara, no Rio de Janeiro, que passou a ofertar educação sexual em todas as séries. Essas tentativas sofreram fortes represálias tanto por parte do governo quanto pela própria sociedade, considerando que para a época e para o momento, falar de educação sexual era subversivo e ofensivo aos bons costumes e à moral. Década de 1980 Com a abertura política marcando essa época, os discursos proferidos em prol de maior liberdade se alastram. Vários são os movimentos sociais que emergem nessa época. As ideias acerca do corpo e de seu cuidado são incluídas nesses discursos, muito por entender o corpo como um ente político, ou seja, a concretização do corpo social. No final da década de 1970 foi criada a Sociedade Civil Bem-rstar Familiar, a partir disso, foi realizado o 1.º Seminário Técnico sobre Educação Sexual. Em 1983, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia organizou o 1.º Encontro Nacional de Sexologia (Aquino e Marteli, 2012). Em ambos os encontros, a visão recai totalmente para o biologismo do corpo, enfocando assuntos como prevenção de doenças, gravidez e contracepção. 19 Década de 1990 A década de 1990 é marcada pelo aparecimento da AIDS, colocando em pauta a importância de se falar sobre as infecções sexualmente transmissíveis (IST). Os currículos escolares passam a contemplar a educação sexual como uma forma de discutir as questões de sexualidade. Também surgem neste período os Parâmetros Curriculares Nacionais, os quais são diretrizes de como os assuntos devem ser organizados, entre eles está a educação sexual como tema transversal, isto é, ela deveria ser discutida de forma plural em todas as disciplinas e não ficar apenas em ciências ou biologia. É importante ressaltar que atualmente as discussões, além de adquirirem um discurso voltado à manutenção dos direitos humanos, também colocam a sexualidade não apenas no campo biológico, mas no campo cultural e social, ampliando as discussões para além corpo. As questões relacionadas à diversidade sexual passaram a fazer parte dos diálogos e agora estão presentes na sociedade, compondo a pauta das discussões políticas. Essas novas configurações fazem com que os espaços que constituem o indivíduo, como a escola e a família, adquiram um papel fundamental, reforçando seu caráter de apoio na formação desses indivíduos, principalmente crianças e adolescente. Formas de abordagem da educação sexual A escola é um espaço múltiplo com pessoas cuja pluralidade se manifesta em cada momento. Dentro do processo educacional, as diferentes abordagens pedagógicas garantem que o conhecimento seja significativo para um grande número de pessoas; é de suma importância encontrar meios para que isso aconteça. Uma dessas possibilidades é propor múltiplas formas de passar esse conhecimento. Tal possibilidade enseja cuidados e conhecimentos tácitos 20 didaticamente apropriados que sejam relevantes para cada momento em que a educaçãoacontece. Na educação sexual não é diferente. Se ela é ampla e diversa, assim deve ser sua abordagem para que em cada etapa do desenvolvimento do aluno possam ser construídas bases que farão dele um cidadão consciente de si e do seu entorno. A partir disso é que esse sujeito poderá atuar de maneira colaborativa para uma sociedade mais justa e igualitária. Há um padrão comportamental dentro de uma faixa etária que expressa características que podem ser ditas “comuns”, fornecendo um norte quando se fala em educação sexual. Sob esse ponto de vista, devemos nos lembrar de que a sexualidade é uma dimensão que estrutura e forma o sujeito, ou seja, isso precisa ser levado em consideração. Outro ponto importante a abordamos aqui é que, quando se fala de formas de abordagem da educação sexual, é o mesmo que ter o conhecimento dos documentos que norteiam as possibilidades dessa educação acontecer. 21 Figura 1: Criança durante leitura de atividade Fonte: Flickr (2018) O documento mais recente da educação é a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), cujo objetivo é nortear o currículo, fazendo com que as escolas públicas e privadas ofertem a mesma base curricular. Na sua última versão foram retirados os assuntos de gênero e orientação sexual os quais seriam trabalhados no 9.º ano do ensino fundamental. Ficou a cargo do Conselho Nacional de Educação um parecer futuro com orientações mais específicas de como trabalhar com essa temática na escola. Outro documento que norteava era os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), cujo tema transversal era a orientação sexual. Há outros documentos como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a própria Constituição de 1988 que não falam diretamente do assunto, 22 mas expressam os direitos a uma educação que vise a integralidade de qualquer cidadão. Outra questão é sobre as formas de abordagem, uma delas é o reconhecimento de que a autonomia deve ser o carro chefe, pois indivíduos autônomos são indivíduos que pensam sobre si e sobre o mundo, além de assegurarem que o diálogo possa existir. Paulo Freire (1996, p. 135) fala que Tanto a autonomia quanto o diálogo vão oferecer a possibilidade de uma educação que faça significado ao estudante, uma vez que ele também se implica no processo e, portanto, também se responsabiliza pelo aprendizado ou pelas trocas de informações advindas de ambos os lados. Nesse quesito, a escola, os familiares e a comunidade têm que estar abertos para entender os anseios e as dificuldades dos jovens, ofertando-lhes caminhos que sejam positivos para que sua construção identitária se fortaleça ainda mais. Logo, as formas de abordagem poderão ser aplicadas mais facilmente e a educação sexual, talvez, passe a ser efetiva, ajudando na formação das pessoas. A seguir, você vai ver duas possibilidades de abordagem desse tema em sala de aula: uma abordagem mais restrita, levando em consideração o caráter biológico da questão; outra mais ampla, levando o desenvolvimento biopsicossocial. Tanto uma quanto a outra devem ser aplicadas nos momentos certos, pois não há apenas uma linha de pensamento em torno da educação sexual, visto que essa construção é fluida nas pessoas. ensinar exige disponibilidade para o diálogo. Nas minhas relações com os outros não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo “conquistá-los”, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam “conquistar-me”. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou elas. 23 Abordagem restritiva – aspectos centrados no biológico É o modelo de abordagem preferido na sociedade. Ele centra seu pensamento nos aspectos biológico do corpo e em alguns momentos em aspectos de prevenção, por abranger discussões de fatores de risco e de vulnerabilidade. Nessa abordagem, o aparato corporal é visto como uma entidade que tem a capacidade de reprodução. Geralmente é ofertado nas aulas de ciências e biologia; a anatomia do corpo é explicada, caracterizando suas partes e mostrando suas funções. A explicação marca o corpo, estabelecendo aquilo que é do masculino e o que é do feminino. Figura 2: Aula de Biologia no Ensino Médio Fonte: Deposit Photos (2018) 24 O conhecimento do corpo, enquanto entidade biológica, nos oferta uma visão da nossa própria constituição. Isso é interessante, pois, ajuda a mostrar a individualização. Tem-se um corpo e esse corpo tem estruturas diversas que executam funções diversas, entre elas, a reprodução. Outro aspecto que marca o corpo, em termos de sua sexualidade, é o aparecimento das características sexuais secundárias, esse conhecimento nos faz entender a linha tênue da passagem para a vida adulta, quando o corpo enfim se desenvolve em sua plenitude. Embora não se fale no desencadeamento do desejo, suas consequências são abordadas, como a gravidez e as infecções sexualmente transmissíveis (IST). Daí o conhecimento do caráter preventivo, cujas informações devem ajudar a diminuir o risco e a vulnerabilidade. Como você pôde perceber, nessa abordagem somente os aspectos biológicos são levados em consideração, sem fazer menção aos aspectos sociais e culturais que também fazem parte da sexualidade. Abordagem ampla – Desenvolvimento biopsicossocial Esse tipo de abordagem considera que o corpo, além de sua função biológica, abarca também as dimensões sociais e culturais em que ele se encontra. São vários os autores em desenvolvimento que preconizam que o homem é fruto da sua interação com o meio. Um desses autores é Urie Bronfenbrenner que preconiza uma imersão profunda nos saberes e atitudes cotidianas, para desvendar as relações existentes para compreender o constructo do desenvolvimento humano. Para conhecer mais de Urje Bronfenbrenner, clique aqui. O conceito de desenvolvimento humano de Bronfenbrenner preconiza que o ser humano se desenvolve na medida em que interage com o seu ambiente. https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia-urie-bronfenbrenner/ 25 Para ele, o ambiente exerce influência no desenvolvimento e essa interação é pautada pela reciprocidade. Nessa nova perspectiva, a denominação da teoria passa de ecológica para bioecológica e traz à tona o conceito de Processos proximais definido como: Esse novo modelo pauta-se em quatro aspectos, designando o modelo em PPTC: pessoa, processo, contexto e tempo. Pessoa: nesse nível o que se observa são as mudanças ou constâncias na vida do indivíduo em desenvolvimento. As características pessoais e as qualidades influenciam o curso do seu desenvolvimento. A primeira moldando como os outros lidam com ela, frente à determinada característica física, por exemplo; a segunda, moldando os aspectos psicológicos envolvidos na formação desse indivíduo. Processo: o foco é com relação aos papeis e atividades diárias que o indivíduo tem. Esses atributos se relacionam em várias direções dentro do desenvolvimento intelectual, moral, emocional e social, com um único objetivo: participação ativa em interações mais complexas e recíprocas com pessoas, símbolos e objetos no ambiente onde estão inseridos. Contexto: a relação exposta é aquela que se dá com o ambiente, ou seja, uma relação estabelecida com ambientes mais remotos e nunca visto. Bronfenbrenner subdivide esses ambientes em micro, meso, exo e macrossistemas. Tempo: se refere ao tempo histórico. O interesse é nas relações criadas ao longo do tempo, alterando o curso do desenvolvimento humano. Como exemplo, temos a diferença de criação de geraçõesde filhos entre os anos 70 e 90. “Formas particulares de interação entre organismo e ambiente, que operam ao longo do tempo e compreendem os primeiros mecanismos que produzem o desenvolvimento humano.” (Bronfenbrenner e Morris, 1998, p. 994). 26 Essas quatro dimensões acontecem ao mesmo tempo e podem explicar o porquê de a sexualidade ser um componente complexo, visto que ela pode fluir em todos esses níveis de relacionamento. Aqui, tudo que é dito deve ser pensado e refletido. As informações advindas devem ser contextualizadas para que mais pessoas possam se encontrar nos discursos proferidos e, assim, fazer algum significado para elas. Esse tipo de abordagem preconiza que todas as partes envolvidas no processo devem ser ouvidas e devem dialogar. Isso contribui muito para o crescimento e o desenvolvimento das pessoas, pois as relações que elas estabelecem as constituem de uma maneira ou outra. Síntese Você viu nesta aula que as formas de abordagens diferem na sua forma de enxergar a sexualidade e podem ser influenciadas de acordo com a moral e a ética de quem as ensina. As formas de abordagem são possíveis caminhos a serem percorridos para que a educação sexual passe a ser constituinte no dia a dia da escola e ajude na formação de cidadania de crianças e adolescentes. Atividades de Aprendizagem Urie Bronfenbrenner desenvolveu uma teoria para explicar o desenvolvimento humano chamada Teoria Bioecológica, ela preconiza que existem quatro aspectos a serem trabalhados: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo. De que maneira, levando esses quatro aspectos em consideração, essa teoria pode contribuir para entendermos a sexualidade? 27 Aula 3 – Juventude e sexualidade Fonte: Deposit Photos (2018) O que é ser adolescente? Qual a importância dessa fase para a vida de uma pessoa? Quais políticas públicas voltadas ao jovem lhes conferem um estado de visibilidade e existência? 28 Essas perguntas por mais simples que sejam não são fáceis de serem respondidas, porque a fase juvenil é complexa e nessa fase o corpo passa por transformações diversas, as relações outrora estabelecidas sofrem uma nova leitura com a inserção de novos atores que passam a fazer parte da vida do adolescente, a maturação sexual lhes confere uma nova forma de desejo. Os aspectos sociais e culturais deixam marcas profundas nessa fase. A sociedade exige definições que o jovem ainda não está preparado para responder. Tudo é novo e essa releitura da vida lhes geram dúvidas, angústias, medo e uma nova sensação de descobertas diversas. Existe um mundo a ser descoberto pelo jovem. Os aparatos sociais são muitas vezes inexistentes ou incipientes, fazendo com que as políticas públicas de promoção à saúde, de proteção a esse jovem, acabem não cumprindo seu papel. Diante disso, os riscos tornam-se maiores que as medidas protetivas, justamente em uma fase da vida onde a proteção deveria imperar sobre o risco. Nessa fase o jovem é obrigado a fazer as escolhas que determinarão sua vida adulta, em um processo formativo, podendo gerar um sentimento de angústia e medo. Por essas razões descritas de maneira sucinta, a fase juvenil talvez seja a fase dos encontros e desencontros, onde a controvérsia sempre presente lhe confere as bases de um caminho a ser seguida futuramente e onde a vida pulsa com mais força e desejo, pois todos os elementos formativos estão em ebulição. Dessa maneira, é que introduzimos um assunto tão importante e necessário: a vida do adolescente e seus desdobramentos. O Projeto Vida gravou um documentário mostrando como “é ser adolescente”. Para assistir ao filme, clique aqui. https://www.youtube.com/watch?v=t6AkqXQOZMU 29 Caracterização da adolescência Como podemos caracterizar essa fase da vida? O adolescente é um ser biopsicossocial, ou seja, as bases de sua formação não devem ser vistas somente sob o domínio do corpo, mas também da sua mente (psique) e de sua interação social. São essas três vertentes que caracterizam o adolescente, lhe conferindo características próprias dessa fase da vida. O que é ser adolescente? Por lei, o adolescente são pessoas entre doze e dezoito anos. O estatuto da criança e do adolescente (ECA) aumenta a margem para considerar adolescente a pessoa que tem até vinte e um anos de idade. Já para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a adolescência compreende a faixa etária entre dez e dezenove anos (WHO, 1986). Em linhas gerais, a idade cronológica coincide. É uma fase também caracterizada por profundas transformações biológicas, psíquicas e sociais. O número de adolescentes no Brasil, segundo dados do IBGE de 2010 é de 34 milhões, ocupando 33% do contingente populacional total do Brasil. Se consideramos isso, o número de jovens é expressivo e indica a necessidade de um olhar mais apurado sobre essa faixa etária. Para Einseinsten (2005, p. 6-7), a adolescência significa Fonte: Deposit Photos (2018) o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social e pelos esforços do indivíduo em alcançar os objetivos relacionados às expetativas culturais da sociedade em que vive. 30 Outo aspecto que marca a adolescência é que ela representa a passagem da infância para a vida adulta. Um dos períodos mais marcantes na vida de uma pessoa, a adolescência é quando as transformações são inúmeras e mutáveis. Os aspectos biológicos, como, por exemplo, a maturação sexual, determinam em grande parte esse período, pois ressignifica o corpo de alguma maneira, emergindo um novo elemento a ser notado: a sua sexualidade. Sob este aspecto é necessário ressaltar que além do corpo estão os aspectos sociais e psíquicos que também influenciarão na formação da sexualidade do adolescente, sendo esta fase determinante sobre a fase adulta. Contexto biopsicossocial do adolescente O ser humano tem vários aspectos os quais englobam sua formação, mas três deles são importantes: o aparato biológico, o aparato psíquico e cognitivo e o aparato social. Parte da formação do ser humano se dá na sociedade. O homem é um ser social e a adolescência marca a fase na qual o homem se integra totalmente à sociedade, saindo do meio familiar e se inserindo a essa sociedade. Nela, existem vários fatores que atuam na formação dos jovens, entre eles o vínculo com outros jovens, que são basicamente pessoas da mesma faixa etária e têm as mesmas afinidades. Tanto é que o adolescente geralmente não está sozinho, sua existência é marcada pelo coletivo e, nesse caso, a vida social torna-se uma importante via de acesso para esse reconhecimento. Contudo, se a vida social protege, ela também tem seus riscos e o jovem passa a estar vulnerável. Daí a importância de um processo educacional que promova o diálogo e compreenda quais são os anseios e a forma de agir do jovem na sociedade. Esse aspecto é muito importante para que a educação sexual aconteça e se estabeleça. O adolescente precisa de algum tipo de vínculo e de se sentir partícipe da sua história, por causa disso o componente social é muito importante. Outro grande fator formativo é a sua mente e como os processos cognitivos acontecem com esse adolescente. Os dias atuais são muito diversos 31 dos dias de outrora, isto é, a velocidade de informação que chega ao cérebro é muito grande e também variada. As conexões neurais dos adolescentes funcionam de maneira muito rápida, estabelecendo conexões cada vez mais velozes. Logo, entender os processos de como a informação chega e de como ela é processada pode ajudar a entender como esse adolescente pensa e se manifesta. Isso é fundamental para estabelecer qualquer vínculo educativo e que façasignificado na vida dele. A neurociência tem ajudado bastante nesse campo. Os vínculos que esse adolescente faz, em detrimento do seu processo de leitura sobre o mundo, tem que ser compreendido, se quisermos estabelecer algum vínculo com ele. A adolescência é uma fase de descobertas e cada nova descoberta gera uma possibilidade de escolha. Por isso, o jovem em sua impulsividade nem sempre fará a escolha que melhor convém, até porque a ponderação faz parte do amadurecimento na vida adulta. Essas escolhas são baseadas pelo desejo da experimentação e muitas vezes pode colocar o adolescente em situações de vulnerabilidade, como uma gravidez precoce, o uso de droga ou a prática de sexo sem segurança, podendo lhe trazer infecções como a sífilis e a AIDS/HIV. O aparato biológico determina uma série de modificações. A adolescência é marcada por profundas modificações, com isso, a maturação sexual confere ao adolescente o começo da vida adulta em termos sexuais. O aparecimento das características sexuais secundárias marca o gênero, moldando o corpo. Nessa fase, o desenvolvimento corporal nem sempre refletirá desenvolvimento psicológico e é aí que o adolescente precisa estar acolhido e amparado, porque essas marcas corporais o acompanharam pela vida toda. Nesse momento, dúvidas e medos podem surgir. Fonte: Deposit Photos (2018) 32 Na relação que se estabelece entre o biológico e a sociedade, os padrões normativos da sociedade imputarão a biológicos papeis a serem cumpridos e que nem sempre o jovem estará apto a desempenhar, gerando conflitos que poderão marcar a sua vida para sempre. Esse papeis foram estabelecidos há muito tempo e ainda se perpetuam em nossa sociedade, como, por exemplo, o papel da maternidade para ao gênero feminino e o papel do provento para o gênero masculino. É claro que muita coisa mudou na nossa sociedade, mas a questão dos papeis estabelecidos para o gênero masculino e para o gênero feminino ainda são muito fortes e se relacionam de maneira intrínseca ao aparato biológico que se apresenta na mulher e no homem. Em uma fase de descobertas, o corpo passa a ser notado e reconhecido e isso é muito importante para o adolescente. Na adolescência tudo muda o tempo todo e isso faz parte do processo de formação do jovem. Essas mudanças devem vir acompanhadas, sempre que possível, de um aporte que dê sustento ao adolescente, no sentido de entender- se. Sendo assim, é notório que a adolescência carrega a complexidade de sua fase, pois os processos biopsicossociais são múltiplos e diversos. A sexualidade e a adolescência Por ser uma fase de descobertas, o desejo passa a pulsionar de maneira mais intensa na vida do adolescente. É nesse período que a sexualidade se desenvolve em sua plenitude e com o seu desenvolvimento há também uma preocupação de como essa sexualidade tem sido desenvolvida e de que maneira os adolescentes lidam com ela. O que se sabe muitas vezes é das consequências, como, por exemplo, a gravidez e o aumento das infeções sexualmente transmissíveis. Outro aspecto do nosso tempo é a violência sexual que tem crescido assustadoramente. Diante de tais quadros, é preciso entender alguns aspectos. Pensando nisso, o ECA diz: 33 Portanto é dever da sociedade proteger a criança e o adolescente, ofertando condições dignas de vida e promoção da saúde. Ao considerar a sexualidade como um assunto tabu, por anos a sociedade desenvolveu a ideia de que falar dela era ruim, pois poderia suscitar no adolescente a vontade de saber mais. Essa ideia posteriormente foi transformada em discurso e tinha o propósito de incutir na cabeça dos adolescentes normas e condutas compatíveis com o que a sociedade pensasse e estabelecesse. Outro aspecto é que, educacionalmente, as informações chegam ao adolescente mais pelo viés do não do que do tentar entender as questões. Temos de lembrar que o adolescente é curioso por sua natureza, e a sexualidade lhe confere um campo profícuo para exercer essa curiosidade. No que tange à sexualidade, o campo da saúde é que acabou por abarcar as possibilidades de um olhar mais específico sobre o adolescente. Vários são os programas e projetos voltados a assuntos específicos, como, por exemplo, gravidez e infecções sexualmente transmissíveis. Recentemente, a Organização Pan Americana de Saúde e o Ministério da Saúde (OPAS/OMS, 2017) lançaram uma cartilha sobre a saúde e a sexualidade de adolescentes. Essa tentativa visa estabelecer um diálogo e um mecanismo 34 de fomento de documento que possam nortear as políticas públicas de saúde voltadas para o adolescente. Desafios sociais e culturais ligados à sexualidade juvenil Os desafios sociais e culturais relacionados à sexualidade juvenil estão relacionados aos riscos que essa população está sujeita. A violência sexual nos últimos anos tem registrado um aumento significativo, expondo uma mazela das condutas sociais que perpassa níveis socioeconômicos. A violência deixa marcas muito profundas na vida dos adolescentes, fazendo com que a vida adulta seja moldada pelo sofrimento e muitas vezes falta de apoio. Mais do que se chocar ou se sensibilizar, nossa sociedade tem o dever de criar ou pressionar as instâncias políticas e jurídicas a criarem mecanismos reais de proteção ao adolescente. Acabar com a violência sexual, principalmente a violência contra a mulher, é um dever do estado e da nação. Esse tem sido um dos grandes problemas enfrentados hoje por nossa população. Outro problema social importante é o aumento de casos das infecções sexualmente transmissíveis (IST). De acordo com o Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde (2017), os casos registrados de sífilis congênita em 2016 – aquela passada de mãe para o filho – foi de 20.474 casos, com 185 óbitos. Ainda segundo o mesmo boletim, para a faixa etária de 13 a 19 anos, entre 2010 e 2016, houve o aumento de 39,9%, demonstrando que a sífilis vem crescendo entre a população jovem. A volta do aumento do HIV/AIDS também tem preocupado as autoridades sanitárias. A prática de sexo sem os devidos cuidados, a troca de parceiros e a desinformação contribuem para esses dados. Entre isso, também contribui a crença do próprio jovem de se sentir imune a tais doenças, pensando que nada o acomete durante essa fase. 35 A importância dos atores de apoio na vida do adolescente Os atores de apoio do adolescente são muito importantes, pois eles desempenham o papel de educar, orientar e dialogar com esse jovem. Nessa fase, como na infância, o adolescente tem que estar envolto em uma atmosfera de cuidado, respeito e valorização. Seu modo de agir, embora próprio, se baseia muito na crença de que a vida do outro sempre é melhor que a dele. Nessa fase é muito importante o reforço positivo, pois isso ajudará a formar valores que poderão lhe ser úteis para o resto de sua vida. A família, a escola e a sociedade em geral precisam estar alinhadas à vida do adolescente, para que ele tenha as bases necessárias ao seu desenvolvimento. As políticas públicas educacionais e de saúde precisam incluir em sua agenda de ação a fase da adolescência, trazendo esse jovem para o seio da sociedade e dando o suporte necessário para que ele se desenvolva de forma integral. Portanto, a participação do Estado é fundamental na busca por medidas mais efetivas e que garantam o direito de existência e visibilidade do jovem. A família, seja ela como for constituída, precisa de apoio e do entendimento de que sua presença é muito importante na vida do adolescente. Todo reforço positivo que a família lança sobre o adolescente o ajuda a se encontrar, a buscar seu caminho e a consolidar sua autonomia para a construção de um cidadão mais fortalecido e participativo. A escola precisaacolher esse jovem e buscar com ele alternativas que lhe conferirão e reforçarão a construção do jovem cidadão. A escola deve ser a mediadora dos processos de educação, sempre reforçando a autonomia do jovem e lhe proporcionando o diálogo necessário para que o estudante possa fazer com que o conhecimento seja significativo em sua vida. Saiba mais quais são os papeis da escola na formação do cidadão clicando aqui. https://canaldoensino.com.br/blog/qual-e-a-importancia-da-escola-na-formacao-do-cidadao 36 É claro que todas as alternativas só são possíveis se os atores também encontrarem apoio para as suas ações. Daí a importância de um equilíbrio sociopolítico que possa garantir melhores condições de vida em todas as suas formas de expressão. O jovem precisa se sentir acolhido e ter a confiança necessária para que o apoio dos atores envolvidos em sua vida seja efetivo e positivo. Síntese Pudemos observar nesta aula que a adolescência tem uma série de peculiaridades que lhe conferem um caráter único. Assim como todas as fases de desenvolvimento, a adolescência carrega mudanças muito importantes em todos os aspectos, gerando processos de descoberta e de reinvenção da vida. É preciso entender que nessa fase, o adolescente está descobrindo um mundo novo e estabelecendo relações diferentes daquelas que ele criou em família. Essas novas relações lhe proporcionam inúmeras possibilidades de caminhos a serem percorridos. Se as ações de proteção e promoção forem maiores que as ações de risco e vulnerabilidade, as chances que esses jovens têm de acerto serão muito maiores. Um adolescente que tiver seus direitos garantidos, certamente será um adulto capaz de fazer as melhores escolhas. Atividades de Aprendizagem É sabido que a adolescência é um período de grandes transformações. Sabemos também que os valores sociais mudam rápido, fazendo com que hajam deslocamentos que nem sempre venham de encontro à promoção de cuidados e sim ao aumento dos riscos. De que maneira essa mudança dos valores sociais pode afetar no aumento de riscos na adolescência? 37 Aula 4 – Sexualidade e as questões de gênero Fonte: Deposit Photos (2018) Para introduzir as questões de gênero, temos que frisar que o assunto sobre a sexualidade, historicamente, sempre foi um assunto controverso. Os discursos proferidos sobre a sexualidade carregavam o poder de quem detinha a licença para falar de sexualidade. Esse poder sempre esteve nas mãos de uma sociedade que por muito tempo silenciou-se perante a sexualidade, a exercia, mas quase nunca se dispôs a falar dela. Muitos foram os caminhos traçados para que a sociedade hoje possa falar mais abertamente sobre um dos aspectos que a constrói, a sexualidade. Assim também é com as questões de gênero, mas talvez essas questões estejam mais fadadas ao silêncio ou ao vazio da palavra, porque assim como a sexualidade é complexa, as questões de gênero também são. Ainda existe uma incógnita muito grande em torno de sua temática e até mesmo com relação a epistemologia da palavra em si. Por essa razão é que as 38 questões de gênero ainda são faladas e discursadas de maneira insipida. A escola, pelo papel que ela representa, talvez seja um dos espaços onde as questões de gênero encontram vozes que queiram falar e discutir sobre o assunto. Existe hoje, no Brasil, uma série de artigos publicados por estudiosos abordando o assunto, muitos deles relacionam o papel da educação e da escola como componentes importantes desse discurso. Longe de esgotar o assunto, vamos abordar alguns pontos considerados importantes. Gênero e sexualidade no contexto escolar brasileiro No âmbito escolar brasileiro, o debate a respeito de sexualidade circula nas escolas desde os anos de 1920 e 1930, constituindo-se como uma preocupação constante de médicos e professores a discursar em prol de um corpo moralmente constituído e higiênico. A ideia que se propagava na época não era o de esconder o discurso, mas por meio dele promover uma educação para os bons costumes da época. Intelectuais como Fernando de Azevedo já destacavam a importância de disciplina específica sobre educação sexual pautada nos princípios já mencionados. Educar significava disciplinar, então, os corpos passam a ser educados para a vida que se descobre. A partir de 1960, com a disseminação dos movimentos sociais, como o movimento feminista e a reinvindicação por direitos civis, ocorre uma abertura maior para falar dos problemas sociais, logo, a sexualidade entra nesse debate. É nesse período também que as escolas são inundadas com uma série de novas propostas pedagógicas, aumento o repertório das possibilidades de fazer com que o conhecimento fosse absorvido pelo aluno. Nesse período, a educação sexual nas escolas foi mais constante. Nos anos seguintes, o regime 39 militar impôs um silêncio ao discurso de sexualidade que viria a ter voz somente na década de 1980, mas sob a égide da medicina e da biologia. Com o surgimento da AIDs/HIV, a escola viu-se obrigada a ofertar a educação sexual, mas como modelo de prevenção, adotando uma abordagem restrita. Prevenção foi a palavra chave que culminou com a criação de inúmeros projetos voltados à educação sexual. Em 1990, os Parâmetros Curriculares Nacionais trouxeram à tona as questões de gênero e a educação sexual. Mais tarde, com a reformulação dos PCN’s, em 1998, surge um caderno específico substituindo o nome de Educação Sexual por Orientação Sexual. A escola passa então a incorporar de vez as questões ligadas à educação sexual. Um importante aspecto a ser destacado é que a criação de um documento não valida o discurso dentro da escola, não faz com que ela seja obrigada a falar sobre as questões que envolvem a sexualidade no seu contexto mais complexo. Pelo contrário, a prática mostra que os discursos sobre sexualidade ainda são dotados de certo silêncio ou acomodamento do aspecto biológico. Com relação às questões de gênero, a discussão ainda é incipiente ou inexistente. A escola ainda não dá conta de falar sobre o gênero. Cézar (2009) chama a atenção para a pouca discussão que o fascículo a respeito da 40 orientação sexual tem sobre o tema Relações de Gênero, apenas duas páginas e meia. Esse mesmo documento reforça a ideia de que aos gêneros “masculino” e “feminino” cabem papeis bem estabelecidos e que cada um deles é carregado de conotações do tipo, “meiguice” para o gênero feminino e “força” para o gênero masculino. Questões de gênero e sexualidade no currículo e nos projetos políticos pedagógicos Considerando o currículo, as questões de gênero e sexualidade aparecem mascaradas pela biologicidade do corpo. São nas disciplinas de ciências e biologia que as questões ligadas ao corpo e àquilo que se entende por sexualidade serão abordadas, isto é, será abordado no ensino apenas o aparato reprodutor masculino e feminino. Tudo que se refere às questões do corpo são direcionadas para essas duas disciplinas, como se as demais não tivessem que lidar com essas questões, visto que os alunos são os mesmos. É como se os estudos relacionados à ciência da natureza carregassem a verdade no seu discurso; a mesma verdade com que a medicina por tantos anos tratou de discursar para demarcar o certo do errado em termos de sexualidade. Outro aspecto é que essas questões nunca foram explícitas nos currículos e ficam subentendidas em termos como o direito à saúde, por exemplo. Talvez onde elas mais se encaixam no currículo foi na década de 1990, com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda sim eram contemplados como temas transversais, ou seja, estavam fora do currículo oficial. Eram sugestões Em tempos atuais, com a consolidação da BaseNacional Comum Curricular, as questões de gênero são descartadas do discurso, reforçando a ideia de que não é a escola que talvez não esteja preparada para falar, mas a sociedade que ainda tem a ideia de que essas questões não devem ser faladas. 41 oficiais, porque se delineavam enquanto documento, mas que na prática ficava a cargo das escolas, da direção e dos professores, trabalhar ou não a temática. Atualmente o cenário pode se configurar como um cenário de retrocesso, pois as questões de gênero ficaram de fora da construção do documento mor que norteará a construção dos currículos brasileiros, a Base Nacional Curricular Comum. Em termos de projetos políticos pedagógicos, a linha de atuação é a mesma, historicamente eles não contemplam a temática ou foram inseridas com outras palavras, pois se subentende que isso fique ainda a cargo das aulas de ciências e biologia. Quaglia (2013) analisa os projetos políticos pedagógicos de 13 escolas do ensino fundamental, na cidade de Maringá e os resultados mostram claramente que em cerca de 61% a palavra sexualidade está correlacionada a princípios éticos, políticos e estéticos, e que nenhum dos documentos aborda a sexualidade de maneira direta, mas camuflada sob a forma de outros propósitos. Questões de gênero e sexualidade nos livros didáticos Quando falamos de sexualidade nos livros didáticos, estamos querendo dizer sexualidade nos livros de ciências e biologia. Na história, com a medicalização da sexualidade, esse tema passou a fazer parte do rol de assuntos ligados a medicina e biologia. Outro aspecto que diz respeito a isso é que, historicamente, a sexualidade e o seu entendimento se fazem muito presentes no biologismo. Falar de sexualidade é falar de um corpo que se reproduz e que é passível de adoecer. Essa visão limitada coloca a sexualidade a ser escrita também de maneira restrita ou, na maioria das vezes, nem comentada, apenas colocada de outra maneira e com outras palavras que, no entendimento de quem escreve o livro didático, substitui toda a complexidade que ela possa representar. A escola ainda precisa repensar a importância do seu papel na educação sexual. 42 Os livros didáticos trazem em seu conteúdo, informações voltadas a assuntos principalmente relacionados a gravidez, infecções sexualmente transmissíveis e ao aparato reprodutor masculino e feminino. Com a iniciação sexual acontecendo cada vez mais cedo, é inevitável que esses assuntos se tornem a linha mestra quando se fala em sexualidade, entram em voga e também procuram abordar algo sobre a violência sexual, visto que esse assunto tem crescido muitos nos últimos anos. O filósofo Leandro Karnal enfatiza a importância da educação sexual. Clique aqui para ouvir. Anatomia e fisiologia do aparato reprodutor Neste campo, os assuntos abordados se referem ao aparato reprodutor e sua funcionalidade. O corpo precisa ser reconhecido, logo, tal reconhecimento se faz necessário, pois parte-se do pressuposto que o que é conhecido passa a ser cuidado. Tal como os outros sistemas do corpo, o sistema reprodutor masculino e feminino e sua funcionalidade fornecem o conhecimento necessário para relacioná-los a outros assuntos, como, por exemplo, a genética. A própria questão do desenvolvimento sugere que a maturação dos órgãos genitais marca a passagem para a juventude. O aparecimento das características sexuais secundárias marca o indivíduo e, nesse momento, muitas vezes, as dúvidas surgem, como é de se esperar. Uma boa orientação relacionada a esse conteúdo pode fazer com que o entendimento sobre o corpo se torne mais naturalizado. Gravidez A gravidez é um assunto cada vez mais corrente entre a população jovem. O número de meninas grávidas aumenta a cada ano e vários são os fatores que https://www.youtube.com/watch?v=wFAWx9zCVdg 43 contribuem para esse quadro. A questão é como que essa questão está sendo discutida e encaminhada pela sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente garante à gestante adolescente todas as prerrogativas de cuidado com ela e com o bebê. O Sistema único de Saúde tem diretrizes de acolhimento e promoção de ações que garantam a essa jovem uma gravidez tranquila, com os devidos acompanhamentos. Infecções sexualmente transmissíveis A inserção do jovem cada vez mais cedo na vida sexual e o seu desconhecimento a respeito das medidas contraceptivas e de proteção fazem com que as IST tenham aumentado entre a população jovem. A volta das ações educativas é um caminho plausível para trazer novamente esse assunto à tona e ajudar na criação de caminhos de promoção e cuidado do corpo e da saúde. Violência sexual A violência sexual é um assunto que merece ser abordado. Primeiro porque está muito relacionado as questões de gênero, afetando a vida de milhares de crianças e adolescentes que tiveram suas vidas marcadas pela violência. É preciso entender que a sociedade precisa criar uma rede de proteção que seja eficaz e que de todo o suporte necessário ao jovem ou a jovem que sofre a violência. Não basta ficar somente no discurso. A violência merece ações efetivas para o se banimento. Com os Parâmetros Curriculares Nacionais e a manutenção de um caderno à parte sobre Orientação Sexual, muitos livros didáticos acabaram trazendo à tona as questões acima relacionadas. Aqui é importante ressaltar que, com a Base Nacional Comum Curricular estabelecida, os livros didáticos sofrerão mudanças e as questões de gênero e sexualidade não foram contempladas na última versão. Portanto resta saber se o mercado editorial de livros didáticos considerará importante a manutenção dos temas já trabalhados ou se essas questões deixaram de existir e sua discussão passará a acontecer de uma maneira mais diluída, fazendo parte de assuntos como o de direitos humanos. 44 O tema abuso sexual infantil é considerado um problema de saúde pública. Clique aqui para assistir ao documentário “Ele”, filme que retrata as consequências às pessoas que sofreram abuso. Gênero e sexualidade na formação dos professores A formação dos professores é um momento muito importante porque reflete a dinamicidade com que as questões educacionais são tratadas e a vontade de contemporizar as questões. Em relação à sexualidade e às questões de gênero, elas precisam ser amplamente dialogadas para gerar um conhecimento que seja significativo para o aluno e que contribua para a sua formação como cidadão. Assim como o aluno, o professor provavelmente teve pouco contato com as questões educacionais pertinentes à sexualidade na sua formação educacional. Portanto, para ele, essas questões podem lhe parecer novidade uma vez que o conhecimento sobre elas pode ter sido incipiente. Essa é uma realidade bem comum e que reflete as condições de educação sexual, dada somente sob o aspecto do biológico e muitas vezes apenas para quem cursou licenciatura em Ciências. A formação em educação sexual tem que ser ampla e realizada na escola toda, com diretores, professores, parte administrativa, pessoal da limpeza, monitores, todos os atores educacionais. Isso é importante porque o jovem precisa ser acolhido pela escola. A formação dos professores possibilita a abertura de diálogos múltiplos, pois nem sempre é com o professor de Ciências que o adolescente se sente confortável para falar de questões ligadas à sua sexualidade. Essa formação deve ser ampla, respeitando as crenças a moralidade de cada um. Mesmo assim, uma coisa é certa: a formação precisa acontecer e é indispensável a ajuda e a participação de todos os atores que fazem parte do ambiente escolar. https://www.youtube.com/watch?v=qUHoeehz8z4 45 Síntese Nesta aula, você viu que as discussões referentes às questões de gênero são grandes, mas o consenso é pequeno. Existeuma dificuldade explícita para se trabalhar com as questões de gênero em todos os meios, seja o escolar, a nível comunitário, seja a nível individual ou mesmo a nível familiar. Todos os atores encontram grande dificuldade, primeiro pela fluidez da temática, que pede um olhar mais amplo e complexo; segundo pela falta de diálogo que possa costurar as diferentes produções e produzir saberes utilizáveis para todos. As questões de gênero ainda são vistas como tabu, dentro de uma sociedade que, historicamente, fala da sua sexualidade há muito tempo. Ainda há muito o que dizer sobre as questões de gênero, para que, culturalmente, essa questão se torne parte essencial na educação sexual. Atividades de Aprendizagem A escola é um espaço que faz a mediação entre a família e a sociedade, por isso ela é tão importante e necessária. Ela funciona como uma espécie de incubadora para a inserção na sociedade. De que maneira a escola pode contribuir para que as questões de gênero e sexualidade sejam trabalhadas de forma significativa? 46 Referências AQUINO, C. & Martelli, A. C. Escola e Educação Sexual: uma relação necessária. Anais. IX Seminário de Pesquisa da Região Sul. UNIOESTE: 2012. AUGUSTO, V. O. Uma Contribuição à Historiografia da Educação Sexual no Brasil: Análise de Três Obras de Antonio Austregésilo (1923, 1928 e 1939) / Viviane Oliveira Augusto – Araraquara. 2015. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Câmera dos Deputados, Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. DOU de 16/07/1990 – ECA. Brasília, DF. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: 3.º e 4.º Ciclos do Ensino Fundamental: apresentação dos temas transversais. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, DF: MEC/ SEF. 1998 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2000. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim epidemiológico: Sífilis, 2017. Volume 48, nº 36, 2017. BRONFENBRENNER, U.; MORRIS, P. A. The ecology of developmental processes. In: DAMON,W.; LERNER, R. M. (Orgs.). Handbook of child psychology. vol. 1: Theoretical models ofhuman development. New York: John Wiley, 1998. p. 993-1028. CASTRO, G. C.; ABRAMOVAY, M.; SILVA, L. B. Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO Brasil, 2004. CÉSAR, M. R. de A. Gênero, sexualidade e educação: notas para uma “Epistemologia”. Educar, Curitiba, n. 35, p. 37-51, 2009. Curitiba: Editora UFPR, 2009. EISENSTEIN, E. 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In VIII EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, Maringá, PR. Saito, M. I. Adolescência, cultura, vulnerabilidade e risco. A prevenção em questão. In: Silva, L. E.; Leal, M. M. (Eds.). Adolescência, prevenção e risco. 2.ª ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2008. p. 41-46. WHO, WORLD HEALTH ORGANIZATION. Young People´s Health – a Challenge for Society. Report of a WHO Study Groupon Young People and Health for All. Technical Report Series 731. Geneva: WHO, 1986. Currículo do professor(a)-autor(a) Tem graduação em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal do Paraná (1996), e mestrado em Bioecologia Aquática, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003). Participou do Programa de Qualificação de Docente e Ensino de Língua Portuguesa no Timor-Leste. Foi professora colaboradora no Departamento de Teoria e Prática de Ensino da UFPR, tendo sido também professora colaboradora na Unioeste de Cascavel e Santa Helena. Atua como consultora na elaboração de EIA/RIMA. Foi professora de ensino fundamental e médio em instituições de ensino particulares e estaduais. Obteve experiência com atuação nas questões de saúde indígena e em ações educacionais para combate à dengue pela Prefeitura de Curitiba. Trabalhou como bióloga do Ipedis a serviço da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba e junto à COHAB-CT, desenvolvendo ações de educação ambiental como técnica no Projeto PAC/Moro Aqui. Desenvolveu atividades no IPEDIS para educadores sociais da FAS. Trabalhou na coordenação de conteúdos digitais no setor de Tecnologia Educacional da Positivo Informática da Amazônia. 48 Trabalhou como Editora de Objetos Digitais no IESDE e SAE digital. Atualmente é consultora ambiental autônoma.
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