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Anna lillian canuto bittencourt • A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica decorrente de alterações estruturais e/ou funcionais do coração que resultam em prejuízo ao seu enchimento e/ou esvaziamento, gerando aumento nas pressões intracavitárias que culminam em congestão venocapilar pulmonar e/ou venosa sistêmica, além de poder cursar com baixo débito cardíaco (DC) e má perfusão orgânica; • Caracteriza-se por sinais e sintomas típicos, que resultam da redução do débito cardíaco e/ou das elevadas pressões de enchimento no repouso ou no esforço. • A insuficiência cardíaca pode ser classificada de acordo com a condição clínica, hemodinâmica, funcional ou a etiologia. 01. Duração: • IC aguda é quando possui um recente começo; - Após um IAM, por exemplo, pode não haver manifestações crônicas, mas pode haver congestão pulmonar. • IC crônica já possui uma longa duração; - Quanto maior a duração, mais completo o remodelamento, com manifestações mais típicas de retenção hídrica periférica. 02. IC de ventrículo direito (VD) ou esquerdo (VE) ou mista: • IC esquerda caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas de congestão pulmonar; - Dispneia aos esforços, tosse noturna, dispneia paroxística noturna, ortopneia e crepitações pulmonates. • IC direita está relacionada com sinais e sintomas de congestão sistêmica; - Estase jugular, edema de membros inferiores, hepatomegalia dolorosa, ascite. • A disfunção do VE pode causar a disfunção do VD. 03. Débito cardíaco: • A síndrome do alto débito é rara, mas pode acontecer em pacientes com tireotoxicose, fístula arteriovenosa, beribéri ou anemia importante e/ou doença de Paget; - Os sinais e sintomas são os clássicos de IC. Insuficiência cardíaca INTRODUÇÃO CLASSIFICAÇÃO Anna lillian canuto bittencourt • A IC de baixo débito caracteriza-se por sinais de má perfusão (pele fria, sudorese) e congestão. 04. Fração de ejeção: • A IC crônica é subdividida em IC com fração de ejeção preservada do VE (ICFEp) e IC com fração de ejeção reduzida do VE (ICFEr); • A ICFEp possui uma fração de ejeção maior ou igual a 50%; • A ICFEr possui uma fração de ejeção menor que 40%; • A fração de ejeção entre 40-49% é considerada FE bordeline ou limítrofe/intermediária (ICFEi); 05. Classe funcional: • É a classificação de acordo com a New York Heart Association (NYHA), que avalia a limitação de esforço em pacientes com IC. - Isso acontece porque as evidências científicas mostram que o tratamento da IC é inquestionavelmente benéfico no sentido de reduzir mobimortalidade somente para frações de ejeção menor que 40%. • A diferenciação dos pacientes de acordo com a fração de ejeção tem particular importância, uma vez que eles diferem em relação às suas principais etiologias, às comorbidades associadas e, principalmente, à resposta terapêutica. Anna lillian canuto bittencourt 06. Estágios: • É uma classificação baseada na evolução e progressão da IC. 07. Estabilidade: • De acordo com a estabilidade, a IC pode ser compensada, descompensada ou persistentemente descompensada; • Descompensação é o aparecimento de sinais/sintomas, como edema ou hipoperfusão ou hipotensão. 08.Perfil hemodinâmico: 09. Obstrução mecânica: • A presença de obstrução ou disfunção mecânica nas válvulas cardíacas tem importância no diagnóstico e tratamento da IC; • Problemas que podem existir nas valvas: estenose aórtica, estenose mitral, insuficiência aórtica/mitral; Anna lillian canuto bittencourt • Outros problemas: obstrução, tromboembolismo pulmonar agudo ou crônico. 10. INTERMACS: • O objetivo do INTERMACS é classificar pacientes com IC para indicação de melhor tratamento; • INTERMACS I: é o paciente mais grave, que apresenta hipotensão importante com hipoperfusão grave, apesar das doses crescentes de inotrópicos, com aumento de lactato e/ou acidose sistêmica, necessitando de intervenção imediata; • INTERMACS II: paciente piorando apesar de inotrópicos; • INTERMACS III: estável com inotrópicos por via endovenosa, porém com dificuldade para retirar a dependência de inotrópicos; • INTERMACS IV: episódios recorrentes de descompensação, necessitando de diurético por via endovenosa; • INTERMACS V: paciente em casa com alguma dificuldade para ir de uma sala para outra, pode estar congesto e com insuficiência renal; • INTERMACS VI: sintomas depois de exercício de alguns minutos; • INTERMACS VII: sintomas limitados para exercícios leves. • Em média, 1-2% da população apresenta IC, notando-se um aumento exponencial na prevalência com o avançar da idade; - A prevalência em pessoas >65 é de até 10%. • No Brasil, é a principal causa de hospitalização por doença cardiovascular e a terceira causa geral de internação em idoso; • A mortalidade, num episódio de IC descompensada, gira em tordo de 5-15%; • Incide mais em homens, porém, a prevalência é igual entre os sexos, devido à maior expectativa de vida das mulheres; • A prevalência mundial de IC está aumentando, principalmente porque seus portadores estão vivendo mais tempo em função de melhorias no tratamento das doenças de base (como a coronariopatia, valvopatias, arritmias); • ICFEr e ICFEp apresentam mais ou menos a mesma prevalência, sendo cada uma respondendo por cerca de 50% dos casos; - Há estudos que afirmam que a ICFEr é um pouco mais prevalente, representando cerca de 60%. • A sobrevida após 5 anos de diagnóstico pode ser de apenas 35%; • O Brazilian Registry os Acute Heart Failure (BREATHE) mostrou como principal causa de re-hospitalizações a EPIDEMIOLOGIA Anna lillian canuto bittencourt má aderência à terapêutica básica para IC; • Fatores de risco para ICFEp: - Idade; - Sexo feminino; - Obesidade; - HAS; - Diabetes mellitus; - Doença coronariana; - Doença renal; - Estenose aórtica. • Fatores de risco para ICFEr: - Idade; - Sexo masculino; - HAS; - Doença coronariana; - Aterosclerose; - Diabetes mellitus; - Obesidade e dislipidemia; - Doença valvar; - Doença de Chagas; - Abuso álcool e cocaína; - Uso de cigarros; - Doença renal crônica; - Sedentarismo; - Estresse psicológico; - FC elevada, entre outros. • A IC é a manifestação inicial ou final de muitas patologias; • A etiologia da IC difere de acordo com as diferentes regiões ao redor do mundo; • A causa etiológica é qualquer condição que altere a estrutura ou a função do coração; • A principal etiologia, para ambos os sexos, é a Doença Arterial Coronariana (DAC), responsável por 60-75%; • A HAS é fator contribuinte em 75%, associando-se à DAC na maioria das vezes; - Ambas podem gerar ICFEr ou ICFEp. • Principais causas de ICFEr: - Doença coronariana (IAM, miocárdio hibernante); - Sobrecarga de pressão (HAS, estenose valvares); - Pneumopatias crônicas (cor pulmonale, HAP); ETIOLOGIA Anna lillian canuto bittencourt - Cardiomiopatias dilatadas não- isquêmicas (ex: genéticas, infiltrativas, idiopática); - Cardiotoxicidade (ex: álcool, quimioterapia); - Distúrbios metabólicos (deficiência de selênio, cardiopatia periparto); - Infecções (miocardite viral, doença de Chagas); - Arritmias crônicas (taquicardiomiopatia). • Principais causas de ICFEp: - Doença coronariana; - HAS; - Estenose valvar; - Envelhecimento; - Cardiomiopatias hipertróficas; - Cardiomiopatias restritivas; - Endomiocardiofibrose; - Doenças de depósito/infiltrativas. • Principaiscausas de IC de alto débito: - Beribéri (deficiência de vitamina B1); - Tireotoxicose; - Eritrodermia; - Anemia grave; - Insuficiência hepática; - Fístula arteriovenosa de alto fluxo; - Doença de Paget do osso. • Diástole – fase de enchimento capilar; • Sístole – fase de ejeção do sangue pelo VE; • Ao término da diástole tem-se o Volume Diastólico Final (VDF); • O VE saudável, com boa complacência e relaxamento miocárdico normal, consegue acomodar o VDF mantendo uma baixa Pressão Diastólica Final (PDF) ou pressão de enchimento; • O Débito Sistólico (DS) é o volume de sangue ejetado para o corpo pelo VE; • O volume remanescente no interior do ventrículo logo após o término da sístole é o Volume Sistólico Final (VSF); • O Débito Cardíaco (DC) é o fluxo de sangue que o coração bombeia por minuto, sendo: • A Fração de Ejeção (FE) representa o percentual do VDF ejetado pelo DS, ou seja, FE = DS/VDF x100; - O valor normal da FE varia de 50- 70%. • O DS é determinado por três parâmetros independentes: 01. Pré-carga: - É o Volume Diastólico Final, ou seja, o volume de sangue que chega ao coração; FISIOLOGIA DC = FC x DS Anna lillian canuto bittencourt - É determinada pelo retorno venoso (fluxo de sangue ao coração durante a diástole); - Lei de Frank-Starling: o DS aumenta em proporção à pré-carga; >> Quanto maior a pré-carga, maior a distensão dos sarcômeros nas fibrilas miocárdicas; >> A distensão dos sarcômeros cria mais “oportunidades” para a interação entre miosina e actina, permitindo maior geração de força; >> Porém, se o sarcômero distender de forma excessiva, miosina e actina terão dificuldade para interagir, e a força contrátil do coração diminui; >> Dessa forma, a relação entre pré- carga e DS é ascendente até certo ponto, pois a partir da li o aumento de pré-carga passa a ser deletério, ou seja, faz o DS cair. 02. Contratilidade: - A contratilidade miocárdica é a modulação da geração de força do miocárdio; - A contratilidade é determinada por vários fatores, mas a maioria deles age modificando a quantidade de Ca2+ liberada pelo retículo sarcoplasmático no citoplasma do cardiomiócito; >> Um dos principais determinantes é o tônus adrenérgico (estimuladores de receptores beta-1 adrenérgicos). - Os bloqueadores de canais de Ca2+ e as descargas vagais exercem efeito contrário, ou seja, diminuem o inotropismo e a eficiência da bomba cardíaca, reduzindo o DS e o DC. 03. Pós-carga: - É tudo aquilo que promove resistência à ejeção de sangue no ventrículo; - O seu principal determinante é o grau de vasoconstrição das arteríolas periféricas; - O aumento da pós-carga diminui o DS e, consequentemente, o DC; - A dilatação ventricular exagerada também produz aumento da pós-carga, por dificultar a ejeção de sangue; >> Lei de Laplace: a tensão da parede ventricular é diretamente proporcional ao raio da cavidade e à pressão intracavitária, e inversamente proporcional à espessura do miocárdio; >> A Hipertrofia do Ventrículo Esquerdo (HVE) é uma forma de adaptação do coração, pois o aumento na espessura do ventrículo reduz a tensão em sua parede, reduzindo a pós-carga e facilitando a ejeção de sangue, o que ajuda a manter o DC; >> Porém a HVE é deletéria, pois ela diminui a complacência ventricular, o que aumenta a pressão de enchimento (causando congestão). Anna lillian canuto bittencourt ICFEr 1°: Tudo começa após um evento índice (IAM, cardiotoxicidade, expressão de mutações genéticas) levar à perda de cardiomiócitos (alteração estrutural) ou à perda da habilidade de eles gerarem força mecânica (alteração funcional) – ou seja, diminuição da capacidade de o VE em bombear sangue para o corpo; 2°: Sistemas neuro-hormonais são ativados em resposta ao dano miocárdico/queda do DC; A) Sistema adrenérgico – a queda na função sistólica é “percebida” pelos barorreceptores localizados no próprio coração, arco aórtico e bulbos carotídeos, que ativam reflexamente o sistema nervoso simpático levando à secreção de catecolaminas (dopamina, epinefrina e norepinefrina); B) Sistema renina-angiotensina- aldosterona – a menor distensão na arteríola aferente do glomérulo, assim como o sistema adrenérgico, estimula a secreção de RENINA pelo aparelho justaglomerular; C) Sistema de citocinas – a concentração de citocinas aumentam para contrabalançar a ativação dos dois sistemas anteriores. 3°: Os sistemas anteriores agem fazendo com que: - A FC (cronotropismo) e a contratilidade (inotropismo) aumentem; - Haja vasoconstrição periférica, mantendo a PA; - Haja maior reabsorção renal de água e sódio em resposta à aldosterona e à angiotensina II, aumentando a volemia e o retorno venoso, e consequentemente, a pré-carga ventricular (o que aumenta o DC); - As citocinas causam vasodilatação, contrapondo-se à tendência vasoconstritora anterior. FISIOPATOLOGIA Sistema de citocinas: 1. Peptídeos natiuréticos, como ANP e BNP, produzidos pelo próprio coração; 2. Bradicinina; 3. Óxido nítrico; 4. Prostaglandinas vasodilatadoras, como PGI2. OBS: Os peptídeos natiúreticos e a bradicininas são degradados pela enzima denominada neprisilina, que atuamente se tornou um importante alvo terapêutico no tratamento da ICFEr. Anna lillian canuto bittencourt 4°: A ativação ininterrupta dos sistemas neuro-hormonais compensatórios culmina no remodelamento cardíaco; - Isso acontece pelo efeito tóxico direto da exposição excessiva e prolongada dos cardiomiócitos a substâncias como adrenalina, angiotensina II e aldosterona; - O remodelamento significa dilatação e perda da conformação cardíaca, ou seja, o VE perde a forma elíptica e adquire forma esferoide, além de uma morte de cardiomiócitos por necrose e apoptose, com fibrose. 5°: Essa lesão adicional do remodelamento cardíaco piora a capacidade contrátil e HIPERativação dos sistemas neuro-hormonais compensatórios, gerando um ciclo vícioso; 6°: A queda do DC também estimula a secreção de ADH (vasopressina), que induz a vasoconstrição periférica, podendo levar a hiponatremia (marcador de mau prognóstico na ICFEr). • Sem tratamento, o paciente evolui inexoravelmente com declínio da função sistólica, à custa da dilatação progressiva e aumento das pressões de enchimento, surgindo sinais e sintomas de congestão. ICFEp • A fisiopatologia da ICFEp ainda não é bem compreendida; • As evidências apontam para a participação de fatores cardíacos (disfunção diastólica, diminuição da complacência e déficit de relaxamento ventricular) e extracardíacos (rigidez vascular periférica, disfunção renal) em sua gênese; • Na ICFEp o VE não se dilata, mas em geral sofre hipertrofia concêntrica, com grande aumento nas pressões de enchimento; 1°: O relaxamento dos cardiomiócitos é um processo ativo, com gasto de ATP; 2°: Para que haja relaxamento é necessário que a miosina e actina se “desaclopem” e, para isso, é preciso retirar Ca2+ do citoplasma; 3°: O retículo sarcoplasmático que, através da bomba ATP-dependente chamada SERCA2A, retira o Ca2+ do citoplasma; Remodelamento cardíaco: 1°: Ocorre uma disfunção contrátil, pois há uma dessensibilização dos receptores beta adrenérgicos; 2°: Necrose/apoptose/autofagia dos cardiomiócitos; 3°: Há uma substituição da matriz extracelular organizada por um arcabouço fibrótico irregular que não provê sustentação estrutura para uma adequada atividade contrátil, além de diminuir a complacência tecidual (oventrículo fica “duro”); 4°: O coração se dilata, alterando sua geometria; 5°: Ocorre uma insuficiência mitral secundária, devido à dilatação do anel mitral e perda da coaptação dos folhetos valvares. Anna lillian canuto bittencourt 4°: Alterações no metabolismo energético da célula (por isquemia, exposição excessiva à angiotensina II) reduzem a disponibilidade de ATP, o que impede o cardiomiócito de relaxar adequadamente; 5°: Isso faz com que a pressão de enchimento diastólico aumente, mesmo sem dilatação cardíaca; 6°: Isso gera uma congestão. • Para a ICFEp não existe um tratamento que comprovadamente reduza a mortalidade, fazendo apenas o tratamento da doença de base e o uso de sintomáticos. • A dispneia é um dos principais sintomas da IC, acontecendo inicialmente aos esforços, progressiva e, por fim, em repouso; - Isso acontece porque a maior pressão de enchimento do VE é transmitida retrogradamente para o AE e, daí, para as veias pulmonares, que não possuem valvas que impeçam o refluxo sanguíneo; - Assim, há um refluxo sanguíneo, causando um aumento de pressão na microcirculação pulmonar, na parte venocapilar; - Esse aumento da pressão faz com que haja transdução de líquido para o interstício pulmonar e alvéolos, causando um edema pulmonar (causador da dispneia); - A dispneia costuma diminuir quando a insuficiência passa a ser biventricular, pois o VD bombeia menos sangue para os pulmões, de modo que a pressão hidrostática nos capilares alveolares diminui, reduzindo a transdução de líquido e o edema pulmonar. • O paciente pode apresentar ortopneia, que é a dispneia que surge com o decúbito dorsal; - É uma queixa mais tardia na evolução da IC; - É um sintoma que possui relativa especificidade para IC, sendo que na ausência de obesidade mórbida, ascite volumosa e/ou DPOC avançada, ortopneia indica IC; - Acontece devido ao aumento do retorno venoso ao decúbito (a partir de MMII e circulação espâncnica), o que aumenta a pressão de enchimento de VE e agrava a congestão venocapilar pulmonar de forma rápida; - O paciente obtém alívio com elevação da postura, por isso muitas vezes é relatado que só consegue dormir com mais de um travesseiro. • O paciente também pode apresentar Dispneia Paroxística Noturna (DPN), que consiste no despertar 1-3h após se deitar, apresentando intensa tosse e falta de ar, com necessidade de se levantar da cama para melhorar; - Difere da ortopneia porque a ortostase alivia imediatamente a QUADRO CLÍNICO Anna lillian canuto bittencourt ortopneia, e na DPN persiste por alguns minutos; - O que acontece é que, frequentemente, há um edema na mucosa brônquica, reduzindo o calibre das pequenas vias aéreas (na ausculta pode se ouvir sibilos). • A piora aguda na função do VE pode desencadear Edema Agudo de Pulmão (EAP), que é um súbito agravamento da congestão pulmonar, podendo evoluir com insuficiência respiratória aguda; • O paciente pode apresentar fadiga devido a uma disfunção generalizada da musculatura esquelética causada pelo remodelamento vascular, que predispõe à atrofia e fatigabilidade. 01. Ectoscopia e sinais vitais: • A aparência geral do paciente varia de acordo com a gravidade da IC; • Em fases mais avançadas, tem-se um indivíduo dispneico em repouco, que não consegue se deitar ou falar frases completas, apresentando franca caquexia; • A PA pode ser normal ou alta nas fases iniciais, mas na IC avançada ela geralmente está diminuída, com baixa pressão de pulso (diferença entre a PA sistólica e diastólica); • Na ausência de tratamento, apresenta taquicardia sinusal e sinais de vasoconstrição periférica, como extremidades frias, pálidas e às vezes cianóticas, além de um TEC >3s. 02. Veias jugulares: • As jugulares internas podem estar ingurgitadas com o paciente inclinado a 45° (turgência da jugular patológica – TJP); - Principal sinal para identificação clínica de congestão circulatória sistêmica. • Refluxo abdominojugular positivo – TJP desencadeada pela compressão da região mesogástrica durante 15 segundos. 03. Ausculta pulmonar: • Apresenta estertores finos/crepitações inspiratórios devido a presença de edema pulmonar; - Os estertores predominam nas regiões basais em ortostase; - A altura dos campos pulmonares até onde os estertores são audíveis se relaciona com a intensidade da congestão. • Na DPN e no EAP pode haver sibilos expiratórios (“asma cardíaca”); • O diagnóstico de EAP é clínico, sendo estabelecido no paciente agudamente taquidispneico, com uso de musculatura acessória, que apresenta sinais e sintomas de congestão pulmonar grave (ortopneia, SEMIOLOGIA Anna lillian canuto bittencourt estertores acima da metade inferior dos campos pulmonares); • O derrame pleural só costuma aparecer quando há uma insuficiência biventricular, pois a drenagem venosa das pleuras é feita tanto para a circulação pulmonar quanto para a circulação sistêmica; - Tende a ser maior na direita, pois a drenagem linfática das pleuras direitas é naturalmente menos abundante do que a das pleuras esquerdas. 04. Exame do precórdio: • O ictus cordis é deslocado para baixo e para esquerda (abaixo do 5°EI e à esquerda da linha hemiclavicular) devido a dilatação do VE; • A B1 pode ser hipofonética; • A B2 costuma ser hiperfonética; • A B3 (galope protodiastólico) pode ser auscultada e palpada; • A B4 (galope pré-sistólico) está presente na disfunção diastólica; • Pode haver sopros de insuficiência mitral e/ou tricúspide secundária. 05. Abdome e extremidades: • A hepatomegalia dolorosa, devido a distensão da cápsula hepática, está presente nos quadros de congestão sistêmica importante; • Pode apresentar ascite, devido a congestão nas veias hepáticas e sistema porta, além das veias do peritônio; • No indivíduo que deambula: edema em MMII simétrico, mole, frio e indolor; • No paciente acamado: edema crônico em MMII com dermatite ocre (pele dura e escurecida). Exames laboratoriais • Avalia a presença e a gravidade de lesão de outros órgãos-alvo e detecta comorbidades, além de verificar fatores agravantes do quadro clínico; • Pode ser necessária a monitoração de variáveis de segurança durante o tratamento da IC, como a função renal e eletrólitos; • Hemograma completo, hepatograma, lipidograma, função renal, eletrólitos, glicemia, dosagem de hormônios tireoidianos e EAS; • Se houver história epidemiológica, solicitar sorologia para doença de Chagas; ECG em repouso • É recomendada a realização de ECG de 12 derivações na avaliação inicial de EXAMES COMPLEMENTARES Anna lillian canuto bittencourt todos os pacientes com IC, para avaliar sinais de cardiopatia estrutural, como: - Hipertrofia ventricular esquerda (sinais de sobrecarga); - Isquemia miocárdica (onda Q patológica?); - Áreas de fibrose; - Distúrbios da condução atrioventricular; - Bradicardia ou taquiarritmias. • Um ECG normal essencialmente afasta a existência de disfunção sistólica de VE. Raio-X de tórax • É recomendada na avaliação inicial dos pacientes com sinais e sintomas de IC; • Avalia cardiomegalia e congestão pulmonar; • O RX em PA e perfil avalia a silhueta cardíaca, o que permite avaliar aumentos camerais; • A cardiomegalia é denunciada pelo aumento do índice cardiotorácico, que é o diâmetro transverso da silhueta cardíaca dividido pelo diâmetro transverso da caixa torácica; • Em PA, quando a ponta do coração “mergulhar” na hemicúpula diafragmática esquerda teremos um aumento predominante de VE, e se a ponta do coração se elevar, como umabota, temos aumento de VD; • Em relação à congestão pulmonar: - Linhas B de Kerley: é um sinal precoce que são linhas paralelas ao diafragma localizadas na região justapleural dos campos pulmonares inferiores, representando os vasos linfáticos subpleurais ingurgitados; - Inversão da trama vascular pulmonar: os vasos sanguíneos mais calibrosos nos ápices do que nas bases pulmonares, devido ao edema intersticial mais intenso nas regiões dependentes, o que comprime os vasos basais. • O derrame pleural, no paciente em ortostase, “apaga” os seios costofrênicos, e quando volumoso produz a parábola de Damoiseau; - Se o paciente estiver deitado, o derrame se espalha por baixo dos pulmões, produzindo uma hipotransparência homogênea e difusa por todo o campo pulmonar; - É bilateral, mas mais intenso na DIREITA. Anna lillian canuto bittencourt Ecocardiograma 01. Ecocardiograma transtorácico: • É o teste diagnóstico por imagem preferencial para avaliação inicial dos pacientes com suspeita de IC; • Permite identificar: - Presença de alterações estruturais cardíacas; - Anormalidade do miocárdio; - Anormalidade das válvulas cardíacas; - Anormalidade do pericárdio; - Aspectos hemodinâmicos. • Deve ser incluído na análise do ECO: - Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo; >> Isso consegue definir se a IC é ICFEr ou ICFEp. - Espessura das paredes ventriculares; - Geometria das cavidades ventriculares; - Mobilidade parietal segmentar ventricular; - Anormalidades anatômicas e funcionais das válvulas; - Avaliação do pericárdio; - Estimativa da pressão sistólica na artéria pulmonar; - Função sistólica do ventrículo direito; - Estimativa das pressões de enchimento do VE. • Não é recomendado a realização do ECO de forma rotineira em pacientes com IC; • É necessário a repetição do exame em pacientes que possuem mudança significativa do seu estado clínico, com descompensação da IC ou perante progressão dos sintomas; • Deve ser realizado um novo ECO 3 a 6 meses após o tratamento com modificações que modificam o prognóstico, para avaliação do remodelamento reverso e estratificação do prognóstico; 02. Ecocardiograma transesofágico: • Não é recomendado para avaliação rotineira dos pacientes com IC; • Contextos específicos que o ECO transesofágico é utilizado: Anna lillian canuto bittencourt - Doenças valvares que demandem melhor detalhamento aórtica; - Investigação adicional em pacientes com endocardite infecciosa; - Cardiopatias congênitas complexas; - Investigação de trombo auricular em pacientes com fibrilação atrial candidatos à cardioversão elétrica. Ressonância magnética • É o padrão-ouro para a avaliação das medidas de volumes, de massa miocárdica e da fração de ejeção do VE e VD; • Pode fornecer informações sobre a perfusão miocárdica, presença e extensão de fibrose miocárdica e, dessa forma, a extensão de viabilidade miocárdica; • Limitações da RMC: - Claustrofobia; - Presença de próteses e implantes metálicos ferrimagnéticos; - Disfunção renal com clearance da creatinina < 30L/min, pelo risco de fibrose sistêmica nefrogênica; - Alto custo e baixa disponibilidade. Angiotomografia coronária • Avaliar a presença de DAC nos pacientes com IC que tenham probabilidade baixa a intermediária da presença de DAC, ou que apresente resultados inconclusivos em outros testes de imagem para avaliação isquêmica. Teste de esforço • O teste de esforço cardiopulmonar, ou ergoespirometria, é realizado na esteira ou bicicleta ergométrica; • Permite uma avaliação objetiva e quantitativa da capacidade funcional, pela medida do consumo de volume de oxigênio no pico do esforço; • É recomendado em pacientes com IC avançada, como critério de avaliação prognóstica na triagem de pacientes candidatos à transplante cardíaco!!!! • Pacientes com IC avançada e pico de consumo de oxigênio durante o esforço menor ou igual a 14ml/kg/min apresentam péssimo prognóstico, esperando-se maior sobrevida com o transplante do que com o tratamento medicamentoso. Biomarcadores • A dosagem de peptídeos natiuréticos BNP ou NT-proBNP pode ser útil em casos de dúvidas diagnósticas em pacientes com queixas de dispneia; • Os níveis desses peptídeos natiuréticos aumentam tanto na ICFEp como na ICFEr; • BNP<35 ou NT-proBNP <125 praticamente excluem diagnóstico de IC; Anna lillian canuto bittencourt - Valores acima destes cortes necessitam de avaliação clínica e complementar com ECO para confirmar o diagnóstico. • Após o ajuste medicamentoso, espera- se redução de valores dos peptídeos natiuréticos em resposta ao tratamento; - A ausência desta redução ou o aumento dos valores indicam mau prognóstico. • Pacientes em uso de sacubitril- valsartana precisam de monitoração por meio do NT-proBNP, já que o sacubitril inibe a degradação do BNP, aumentando seus valores; • Os níveis de BNP e NT-proBNP também aumentam, independente da função do VE, com: - Anemia; - Doença Renal Crônica; - Idade avançada; - Sexo feminino; - Falência isolada do VD. Anna lillian canuto bittencourt • Critério diagnóstico mais utilizado é o de Framingham: ICFEr • O tratamento para ICEFEr consiste no bloquei da resposta neuro-hormonal que leva ao remodelamento cardíaco. 01. Inibidores da enzima conversora da Angiotensina (IECA) e bloqueadores dos receptores da Angiotensina II (BRA): A) IECA: • Os IECA agem inibindo a enzima ECA, responsável pela conversão de angiotensina I em angiotensina II, o que DIAGNÓSTICO TRATAMENTO Anna lillian canuto bittencourt diminui a concentração de angiotensina II e sua ação no organismo; • Possuem benefícios comprovados em pacientes com ICFEr; • O seu uso está fundamentado em diferentes etiologias de IC, assim como em pacientes com disfunção ventricular esquerda pós-infarto do miocárdio; • Também pode ser usado em pacientes com disfunção de VE assintomática; • Intolerância aos IECAs é definida como a presença de tosse persistente e debilitantes, ocorrendo em aproximadamente 10-20% dos casos; - Os BRAs são uma alternativa nesses casos. • Estudos mostraram uma redução da mortalidade da ordem de 23% com os IECA em monoterapia, sendo que a sua associação com betabloqueador causou uma queda da mortalidade em 58%; • Qualquer IECA pode ser utilizado B) BRA: • Agem bloqueando o receptor AT1R da angiotensina II, inibindo sua ação sistêmica; • Possuem eficácia comparável aos IECA; • Estão indicados para pacientes intolerantes ou com alergia aos IECA. Obs: - A taxa de efeitos adversos como hipotensão, hipercalemia ou disfunção renal, é semelhante entre IECAs e BRAs; - Nos casos de hipercalemia persistente e recorrente e/ou perda de função renal com IECAs/BRAs, a terapia vasodilatadora alternativa deve ser considerada, em geral com o uso da associação nitrato+hidralazina; - Devido ao risco de piora da função renal, hipercalemia e hipotensão arterial, os IECAs e BRAs devem ser introduzidos em doses baixas, aumentando sua dose progressivamente até atingir a dose-alvo; - Não se deve administrar a combinação IECA e BRA em pacientes em uso de antagonistas de aldosterona, pelo risco de efeitos colaterais, em especial a hipercalemia; - Aceita-se aumento de até 50% da creatinina basal, ou valor absoluto de até ,mg/dL, ou clearance da creatinina estimado >2mL/min/m², sem necessitar reduzir a dose dos fármacos; - NÃO SE USA IECA e BRA juntos!!! 02. Betabloquadores (BB): • Também sãoconsiderados fármacos de primeira linha no tratamento da ICFEr; • Determinam benefícios clínicos na mortalidade global, na porte por IC e por morte súbita, além de melhorarem sintomas e reduzirem taxas de re- hospitalizações por IC; Anna lillian canuto bittencourt • Agem diminuindo a FC; • Os BB com benefícios na IC são: - Carvedilol; - Metoprolol; - Bisoprolol. • Buncindolol e xamoterol aumentam a mortalidade por ICFEr, pois são drogas com atividade simpatomimética intrínseca; • O remodelamento reverso e aumento da FEVE, e a consequente melhora dos sintomas de IC, ocorrem apenas algumas semanas ou meses após introdução do BB; • Deve se iniciar o tratamento com doses baixas, com aumento progressivo a cada 2 semanas, mediante monitoração de bradicardia ou piora de sintomas de IC; • Caso haja acentuação dos sintomas, ajuste de diuréticos e vasodilatadores deve ser tentada antes de se considerar a redução da dose ou suspensão do BB; • É indicado para pacientes com disfunção de VE assintomática; • No início do tratamento com BB, alguns pacientes podem referir piora funcional discreta, devido a diminuição do débito cardíaco, porém devem ser encorajados a manter o uso da medicação; • A combinação de IECA + BB deve ser prescrita para todo paciente que apresenta queda significativa na FEVE (<40%), incluindo os assintomáticos; • CUIDADO!!!! Pacientes com franca congestão pulmonar (com ortopneia e crepitações), antes de iniciar o BB deve- se controlar a hipovolemia com diuréticos de alça; - “Primeiro seca o paciente para depois começar o BB”. • Asmáticos e portadores de DPOC não estão terminantemente proibidos de usar um BB para tratar a ICEFEr. Se não houver história de intolerância a essas drogas, seu uso cuidadoso pode e deve ser tentado, devido aos benefícios cardíacos. - A preferência dentre os BB de primeira linha recai sobre o bisoprolol, que possui maior seletividade para os receptores beta-1, logo, tem menos chance de causar broncoespasmo. 03. Antagonistas dos receptores mineralocorticoides: • Os antagonistas da aldosterona estão indicados em pacientes sintomáticos com disfunção sistólica do VE, associados ao tratamento padrão; - No caso, paciente sintomático de ICFEr será tratado com: IECA + BB + Antagonista da aldosterona. • No Brasil é usado a espironolactona; • O seu principal efeito benéfico é a redução da apoptose e da fibrose miocárdica, que são relacionadas com o efeito da aldosterona; Anna lillian canuto bittencourt • Pode causar hipercalemia, especialmente em pacientes que já possuíam DRC ; • Deve-se evitar o uso de espironolactona em pacientes com: - Creatinina > 2,5mg/dL; - Potássio sérico persistentemente elevado. 04. Inibidores da neprisilina e dos receptores da angiotensina (sacubitril/valsartana): • O sacubitril/valsartana atua simultaneamente no sistema renina- angiotensina-aldosterona e na enzima neprisilina; • O sacubitril inibe a neprisilina, aumentando os peptídeos natiuréticos e vasodilatadores; • Se o paciente estava em uso de IECA e resolve trocar por sacubritril/valsartana, é preciso aguardar 36h sem uso de IECA para o começa-lo; - Mas se estava usando um BRA, não precisa aguardar esse período, começando imediatamente. • Recomenda-se a troca de IECA/BRA para o sacubitril/valsartana nos pacientes com ICFEr que persistem sintomáticos, mesmo após emprego de doses otimizadas de bloqueadores neuro- hormonais. Anna lillian canuto bittencourt 05. Digitálicos: • É um agente inotrópico positivo “leve”, que também atua como “simpatolítico”, reduzindo o tônus adrenérgico ao aumentar a atividade dos barorreceptores carotídeos; • A principal droga dessa classe é a digoxina; • É prescrito somente quando o paciente já está recebendo terapia plena com todas as drogas (IECA/BRA + BB + inibidor de aldosterona + diurético) e mesmo assim permanece sintomático; • Outra indicação é para o controle da frequência ventricular, associado ao BB, em pacientes que desenvolvem fibrilação atrial. 06. Nitrato e hidralazina: • A associação de nitrato e hidralazina é uma estratégia vasodilatadora para pacientes com IC; • É considerada uma opção de terapia modificadora de doença para pacientes que não toleram o uso de IECA ou BRA, como aqueles com disfunção renal avançada; • O seu benefício é comprovadamente inferior ao dos IECA e BRA; • Possui um benefício maior em negros; • A vasodilatação pode ser acrescentada ao tratamento do paciente que já faz uso de IECA + BRA + Antagonista de aldosterona, e mesmo assim continua sintomático. 07. Diuréticos e tiazídicos: • Como a hiperativação neuro-hormonal ininterrupta, que caracteriza a ICFEr, resulta na persistência de um balanço positivo de sal e água (por um aumento na reabsorção renal), culminando em hipervolemia (manifesta por congestão pulmonar e sistêmica, com dispneia e edema periférico), muitas vezes faz-se necessário o uso de diuréticos para contrapor o mecanismo neuro-hormonal; • Os diuréticos são a classe terapêutica mais largamente utilizada em pacientes cm IC para alívio de congestão; • Promove diurese e alívio da sobrecarga volêmica; • É preferível os diuréticos que atuam na alça de Henle (diuréticos de alça), que representam a classe mais potente; • A furosemida é a droga de escolha para combater a hipervolemia; - A posologia deve ser individualizada, de acordo com o estado clínico do paciente. • Pacientes que possuem pouca resposta a doses crescentes de diurético de alça podem usar a estratégia de bloqueio sequencial do néfron (tiazídico); - O tiazídico força os rins a excretar ainda mais sódio e, consequentemente, acentua a contraposição à tendência de Anna lillian canuto bittencourt balanço positivo de sal e água decorrente da hiperativação neuro-hormonal; - Hidroclorotiazida: 25-50mg/dia. • Pacientes refratários ao bloqueio sequencial do néfron devem ser abordados com diálise + ultrafiltração para a retirada de sal e água do organismo. 08. Ivabradina: • Age inibindo seletivamente a corrente If no tecido do nó sinoatrial, reduzindo a FC. Anna lillian canuto bittencourt CLÍNICA MÉDICA USP. Vol 2. 2016. MEDCURSO. Cardiologia - Insuficiência cardíaca e suas causas. Vol. 2. 2019. ROHDE, Luis Eduardo Paim et al. Diretriz brasileira de insuficiência cardíaca crônica e aguda. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 111, n. 3, p. 436-539, 2018. REFERÊNCIAS