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DEFINIÇÃO A esquizofrenia engloba um grupo de transtornos com etiologias heterogêneas e inclui pacientes com apresentações clínicas, resposta ao tratamento e cursos da doença variáveis. Os sinais e sintomas variam e incluem alterações na percepção, na emoção, na cognição, no pensamento e no comportamento. A expressão dessas manifestações varia entre os pacientes e ao longo do tempo, mas o efeito da doença é sempre grave e geralmente de longa duração. O transtorno costuma começar antes dos 25 anos, persiste durante toda a vida e afeta pessoas de todas as classes sociais. Tanto os pacientes como suas famílias muitas vezes sofrem de cuidados deficientes e ostracismo social devido a ignorância sobre o transtorno. EPIDEMIOLOGIA Sexo masculino, homens jovens (40 anos). - ≅ 1% da população apresenta. - Predomínio em homens (1,5 X). - Início entre 10-25 anos (é mais tardio em mulheres - 40 anos). - Surgimento na infância e após 50 anos é raro. - Início é precoce quando antes dos 18 anos, muito precoce antes dos 13. - História familiar positiva, problemas pré-natais (infecções maternas, desnutrição, complicações neonatais como hipóxias) eventos estressores (abuso físico e violência). - Imigrantes e moradores de grandes centros urbanos são grupos de risco. - TOC é muito frequente (12x). - TT de humor também são comuns (depressão). - Suício é a principal causa de morte. - Taxa de mortalidade é mais elevada, devido ao aumento da exposição a fatores agressivos. FATORES DE RISCO Gênero: o sexo masculino tem maior risco para EIP e o sexo feminino tem maior risco para EIT. Genética: o risco de desenvolver esquizofrenia aumenta quanto mais próximo for o parentesco. Períodos pré e perinatal: complicações de gestação (infecção, hemorragias, diabetes, estresse, desnutrição, incompatibilidade de Rh, idade gestacional < 37 semanas), complicações do parto (hipóxia, traumatismos, baixo peso ao nascer, cesárea de emergência), gravidez indesejada, estação do ano no nascimento. Desenvolvimento infantil: retardo neuropsicomotor, abuso físico e sexual, traumatismo cranioencefálico, baixo rendimento escolar, déficits cognitivos. Adolescência: uso de drogas, dificuldade na socialização, dificuldade no desempenho do papel sexual, isolamento social. Anomalias físicas menores e anomalias neuroanatômicas cerebrais. Urbanização, migração, condição socioeconômica, adversidade social, eventos vitais, etnia. FASES Fase pré-mórbida: Atrasos no desenvolvimento motor e retardo na aquisição da fala. Fase prodrômica: Alteração de personalidade, de pensamento e do humor, muitas vezes não detectáveis (sintomas inespecíficos ou negativos). É comum, neste período, a família procurar a ajuda de profissionais e o quadro ser considerado um transtorno de humor. Essa fase culmina, muitas vezes, com o primeiro episódio psicótico. Fase progressiva: Inicia-se após o primeiro surto psicótico. Fase crônica ou de estabilidade: O paciente está sujeito a recaídas e piora da sintomatologia. QUADRO CLÍNICO Polimorfo e heterogêneo. Não há sinal ou sintoma patognomônico É preciso considerar o nível educacional, a capacidade intelectual e o ambiente cultural do paciente. Os sintomas podem mudar com a evolução do quadro. Personalidade pré-mórbida: - Retraimento social e emocional - Introversão - Tendência ao isolamento - Comportamento desconfiado e excêntrico. São pessoas de poucos amigos, que apresentavam dificuldades na escola e no relacionamento afetivo com o sexo oposto. Muitas vezes, também não conseguem se adaptar ao trabalho, sendo incapazes de manter vínculo empregatício prolongado. Características clínicas compatíveis com personalidade esquizóide (frieza emocional, preferência por atividades isoladas, introspecção) ou esquizotípica (comportamento estranho, crenças excêntricas). Sinais e sintomas: o paciente esquizofrênico dificilmente tem crítica de que seu estado é patológico e a ausência de insight frequentemente está relacionada à má adesão ao tratamento. Embora o nível de consciência, a orientação tempo espacial, a memória e a inteligência não estejam diretamente afetados, muitas vezes o paciente tem alterações destas funções psíquicas em decorrência do quadro psicótico que está vivenciando. Aspecto geral: aparência desleixada, denotando a ausência de cuidados próprios. O comportamento pode tornar-se agitado ou violento, frequentemente em resposta à atividade alucinatória. Nos quadros de catatonia, o paciente pode apresentar posturas bizarras, mutismo, negativismo e obediência automática. Outros comportamentos observados incluem: - Estereotipias, maneirismos, tiques e ecopraxia, na qual o paciente imita a postura ou atitudes adotadas pelo examinador. Afetividade: - Embotamento e inapropriação do afeto. - Perplexidade, ambivalência ou instabilidade afetiva também podem ser observadas. Sensopercepção: quaisquer dos sentidos podem ser afetados por experiências alucinatórias. - Alucinações auditivas (+ comuns), com vozes geralmente ameaçadoras, obscenas ou acusatórias. Duas ou mais vozes podem dialogar entre si ou uma voz pode comentar a vida e as atitudes do paciente. - Alucinações cenestésicas são percepções alteradas dos órgãos e do esquema corporal, como sentir o cérebro encolhendo, o fígado se despedaçando ou perceber que roubaram seus ossos. - Alucinações visuais, táteis, olfativas e gustativas também podem ocorrer, mas geralmente indicam a presença de uma síndrome psicorgânica ou de psicose desencadeada por drogas. Pensamento: O delírio é uma das principais alterações do pensamento e podem ter conteúdos persecutórios, autorreferentes, religiosos ou grandiosos. O paciente pode acreditar que seus pensamentos ou comportamento são controlados por uma entidade externa, constituindo delírios de influência. O pensamento pode apresentar-se desagregado, com vivências de roubo, intrusão, difusão ou bloqueio. Outras alterações incluem o afrouxamento dos nexos associativos, incoerência e tangencialidade. Linguagem: Neologismos e ecolalia podem ser observados, assim como quadros de mutismo. A mussitação é a produção repetitiva de uma voz muito baixa, murmurada, em tom monocórdico, sem significado comunicativo, como se estivesse falando “para si”. - Paranoide: predomínio de delírios e alucinações, principalmente auditivas (maioria). SUBTIPOS Paranóide: alucinações, delírios, sensação de perseguição e pensamentos sobre conspirações. Normalmente, as alucinações e os delírios giram em torno do mesmo tema e se mantêm consistentes ao longo do tempo. Hebefrênica ou desorganizada: predomínio de sintomas de desorganização do pensamento e comportamento, alterações do humor e afetos inapropriados; Catatônica: ocorrência de sintomas catatônicos proeminentes (catalepsia, flexibilidade cérea, maneirismos, gesticulações, estereotipias, ecolalia, ecopraxia, negativismo, mutismo), frequentemente depois de meses ou anos de evolução do transtorno em sua forma paranóide ou desorganizada; Simples (entidade aceita apenas pela CID-10, e não pelo DSM-IV): caracterizada pela ocorrência espontânea de apenas uma síndrome negativa. Residual: estado de empobrecimento cognitivo, afetivo e volitivo, correspondendo à fase de estabilização da esquizofrenia, geralmente resultante de anos de evolução do transtorno. A ocorrência de sintomas psicéticos costuma ser esporádica e de pequena intensidade, com delírios não sistematizados. Paranóide: é a mais comum. Delírios (persecutórios, grandeza) + Alucinação (vozes). Hebefrênica: prognóstico ruim → diminui muito a cognição do paciente. Comportamento pueril (infantilizado) + sintomas negativos (fala muito pouco, não interage). Catatônica: Predominam distúrbios motores (posturas bizarras, rigidez). Indiferenciada: Não preenche critérios anteriores ou sintomas mistos. FISIOPATOLOGIA Doença de origem multifatorial com alterações neuroquímicas, genética, ambiental e neuroanatômica Características Neuroquímicas: - Ocorre uma hiperatividade dopaminérgica, por liberação excessiva, excesso de receptores e de sua hipersensibilidade,acometendo principalmente os tratos mesocortical e mesolímbico - A via mesolímbica (núcleo tegmentar ventral do mesencéfalo ao núcleo accumbens no sistema límbico) apresenta hiperativação dopaminérgica, levando aos sintomas positivos. - A via mesocortical (parte do mesencéfalo, mas chega ao córtex pré-frontal) apresenta pouca dopa encontrando-se hipoativa, levando a sintomas negativos. - Ocorre deficiência também nos receptores de glutamato (NMDA), levando ao excedente de glutamato estimular outros receptores não NMDA. - A liberação excessiva de Dopa está associada aos sintomas positivos. - O excesso de serotonina, diminuição de Nor no sistema de recompensa, diminuição de GABA, o qual apresenta efeito modulatório na Dopa, contribuindo para hiperatividade dopaminérgica. - Ocorre aumento dos receptores muscarínicos e nicotínicos no caudado-putâmen, hipocampo e em regiões do córtex pré-frontal. Características Genéticas: - Risco aumentado de 10x em parentes de primeiro grau - Doença poligênica, alguns loci estão mais relacionados, como 1q, 5q, 6p, 6q, 8p, 10p, 13q, 15q e 22q. - Alguns genes como o da COMT (catecol-O-metiltransferase), o DRD1-4 (receptores de dopamina 1-4) receptor nicotínico alfa-7 e o DISC1 e 2 (disrupted in schizophrenia). - Mutações dos genes distrobrevina (DTNBP1) e neuregulina 1 estão associadas com sintomas negativos da esquizofrenia. Características Ambientais: - Exposição pré-natal a agentes infecciosos como vírus influenza, desnutrição materna - Complicações na gravidez e no parto (hipóxia) - Uso de maconha durante a adolescência (psicose esquizofrênica) principalmente com variação valina-valina do gene COMT Características Neuroanatômicas: - Alargamento de ventrículos laterais e do 3° ventrículo - Redução da espessura cortical - Volumes reduzidos de substância cinzenta cortical - Diminuição da simetria entre os lobos temporais, frontal e occipital - Diminuição de áreas no sistema límbico como amígdalas, hipocampo e giro parahipocampal - Déficits funcionais no córtex pré-frontal - Diminuição de volume em determinados núcleos talâmicos. - Redução do volume do globo pálido e da substância negra, com aumento de receptores D2 no núcleo caudado, putâmen e accumbens. DIAGNÓSTICO Classificação diagnóstica muito utilizada nas últimas décadas baseia-se na diferenciação da esquizofrenia em quadros caracterizados predominantemente por sintomas negativos (tipo I) ou sintomas positivos (tipo II). Os sintomas negativos são definidos pela perda de funções psíquicas e por um empobrecimento global da vida psíquica e social do indivíduo. Os principais sintomas negativos são: 1. Embotamento afetivo: perda da capacidade de sintonizar afetivamente com as pessoas, de demonstrar ressonância afetiva no contato interpessoal. Corresponde ao que Bleuler chama de autismo; 2. Retração social: o paciente vai se isolando progressivamente do convívio social; 3. Empobrecimento da linguagem e do pensamento; 4. Diminuição da fluência verbal; 5. Diminuição da vontade e apragmatismo, ou seja, dificuldade ou incapacidade de realizar tarefas ou ações que exijam um mínimo de iniciativa e persistência; 6. Autonegligência: falta de higiene e cuidado consigo mesmo, desinteresse pela própria aparência etc. 7. Lentificação psicomotora. Os sintomas positivos são definidos por manifestações produtivas do processo esquizofrênico. Os principais sintomas são: 1. Alucinações auditivas (mais frequentes), visuais, ou de outros tipos; 2. Ideias delirantes paranóides, autorreferentes, de influência, ou de outra natureza; 3. Comportamento bizarro e atos impulsivos; 4. Agitação psicomotora; 5. Ideias bizarras, não necessariamente delirantes; 6. Produções linguísticas como neologismos. PROGNÓSTICO DEFINIÇÃO Compreende um quadro intermediário entre a esquizofrenia e TT de humor. Os três domínios envolvidos são: psicose, sintomas do humor e prejuízo funcional. Por tais características, seu diagnóstico pode ser um desafio, dificultando a avaliação da frequência. EPIDEMIOLOGIA Prevalência estimada em menos de 1% A proporção entre os sexos é maior em mulheres (especialmente no subtipo depressivo) Assim como na esquizofrenia, as mulheres abrem o quadro mais tardiamente. 30% dos casos se iniciam entre 25-35 anos FISIOPATOLOGIA Desequilíbrio na neurotransmissão cerebral (serotonina, norepinefrina e dopamina). Alterações estruturais (diminuição do volume hipocampal, anormalidades talâmicas e alterações na substância branca). Exposição pré-natal a certos vírus, má nutrição ou complicações na hora do parto. A importância dos fatores genéticos ainda é controversa. Também se especula sobre o papel do estresse, trauma e fatores estressantes na gênese do quadro. QUADRO CLÍNICO O paciente possui sintomas tanto dos transtornos de humor como da esquizofrenia, mas não fecha critérios diagnósticos para nenhum deles de forma isolada. - Capacidade de julgamento prejudicada - Ausência de noção de morbidade - Alterações na fala (fuga de ideias); - Alterações no humor (depressão, mania, eutimia); - Alterações na sensopercepção (alucinações); - Alterações no pensamento (delírios) Marcadores de Gravidade - Ideação suicida: risco elevado de suicídio (10%) - Passado de autoagressividade ou violência - Ideação homicida DIAGNÓSTICO PROGNÓSTICO É melhor que o da esquizofrenia, mas pior que o do transtorno afetivo bipolar isolado. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO ESQUIZOFRÊNICO TRATAMENTO Uma vez feito o diagnóstico, é recomendado um tratamento com antipsicótico de segunda geração (atípico) em doses adequadas, pelo período de 4 a 6 semanas. Se o paciente reagir a essa primeira posologia, será considerado responsivo e deverá permanecer tomando o antipsicótico como tratamento de manutenção. Caso não responda ao primeiro tratamento, deverá tentar um segundo tratamento antipsicótico por mais 4 a 6 semanas. Na ausência de resposta terapêutica adequada às duas tentativas citadas, o paciente é considerado refratário e, neste caso, o terceiro antipsicótico a ser administrado deve ser necessariamente a clozapina sempre em monoterapia. Se não houver resposta adequada à clozapina, o paciente é considerado respondedor parcial (ou super-refratário), e estratégias de potencialização da clozapina podem ser tentadas. Antipsicóticos de primeira geração: Causam bloqueio do sistema dopaminérgico. Exemplos: clorpromazina, haloperidol, tioridazina. Devem ser evitados porque podem causar parkinsonismo. Antipsicóticos de segunda geração: Possuem ação simultânea balanceada nos sistemas dopaminérgicos e serotoninérgico. Causam menos efeitos extrapiramidais. São responsáveis pela melhora dos sintomas positivos, mas não dos negativos. Exemplos: risperidona, olanzapina, quetiapina, ziprasidona. ANTIPSICÓTICOS: Tese dopaminérgica da esquizofrenia. Postula-se que neste transtorno haja uma desregulação nos circuitos de dopamina, constituídos de excesso de atividade dopaminérgica na via mesolímbica e hipoatividade na via mesocortical. A hiperatividade dopaminérgica mesolímbica seria responsável pelos sintomas positivos da esquizofrenia, como ideias delirantes e alucinações. Já a hipoatividade mesocortical seria responsável pelos sintomas negativos, como embotamento afetivo, pobreza de discurso e hipobulia. Os APS são utilizados para o tratamento sintomático de transtornos psiquiátricos e distúrbios clínicos e neurológicos. As principais indicações são esquizofrenia; transtornos de personalidade; delirium; demência; psicoses por uso de substâncias psicoativas; transtornos do humor; quadros de agitação psicomotora; como ansiolítico ou hipnótico; dentre outras. Os APS são divididos em primeira e segunda geração. Os antipsicóticos de primeira geração (APGs) / típicos atuam com mais ou com menos intensidade no sistema dopaminérgico, bloqueando não seletivamente os receptores pós-sinápticos do subtipo D2. Este bloqueio atinge tratos dopaminérgicos, como o mesolímbico, mesocortical, nigroestriatal e túberoinfundibular, causando açõesterapêuticas e efeitos adversos. O bloqueio D2 no sistema mesolímbico seria o responsável pela ação antipsicótica. Já os antipsicóticos de segunda geração (ASGs) / atípicos manifestam menos afinidade pelos receptores dopaminérgicos D2 e alta afinidade pelos receptores serotoninérgicos 5-HT2A. O principal critério clínico para que um APS tenha o status de segunda geração é uma acentuada diferença entre as doses necessárias para induzir efeitos antipsicóticos e as doses necessárias para a produção de efeitos extrapiramidais, como distonia e parkinsonismo. As principais hipóteses relacionadas a reduzida produção de efeitos extrapiramidais pelos ASGs são sua elevada afinidade pelos receptores 5-HT2A em relação aos receptores D2, e mais seletividade pelos tratos mesolímbico e mesocorticais. Efeitos adversos: - Efeitos extrapiramidais agudos: acatisia, distonia aguda, parkinsonismo - Elevação de prolactina - Efeitos extrapiramidais crônicos: discinesia tardia - Ganho de peso e distúrbios metabólicos Clozapina (atípico): indicada em caso refratário. LUTA ANTIMANICOMIAL 18/5 – Dia Nacional da Luta Antimanicomial Movimento da Luta Antimanicomial O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta Antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direito a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos. O Movimento da Reforma Psiquiátrica se iniciou no final da década de 70, em pleno processo de redemocratização do país, e em 1987 teve dois marcos importantes para a escolha do dia que simboliza essa luta, com o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru/SP, e a I Conferência Nacional de Saúde Mental, em Brasília. Com o lema “por uma sociedade sem manicômios”, diferentes categorias profissionais, associações de usuários e familiares, instituições acadêmicas, representações políticas e outros segmentos da sociedade questionam o modelo clássico de assistência centrado em internações em hospitais psiquiátricos, denunciam as graves violações aos direitos das pessoas com transtornos mentais e propõe a reorganização do modelo de atenção em saúde mental no Brasil a partir de serviços abertos, comunitários e territorializados, buscando a garantia da cidadania de usuários e familiares, historicamente discriminados e excluídos da sociedade. Assim como o processo do Movimento da Reforma Sanitária, que resultou na garantia constitucional da saúde como direito de todos e dever do estado através da criação do Sistema Único de Saúde, o Movimento da Reforma Psiquiátrica resultou na aprovação da Lei 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo Delgado”, que trata da proteção dos direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo de assistência. Este marco legal estabelece a responsabilidade do Estado no desenvolvimento da política de saúde mental no Brasil, através do fechamento de hospitais psiquiátricos, abertura de novos serviços comunitários e participação social no acompanhamento de sua implementação. EXAMES DE IMAGEM EM PSIQUIATRIA - TRANSTORNOS ESQUIZOFRÊNICOS Usualmente, os diagnósticos em psiquiatria não dependem de exames diagnósticos por imagem, mas da satisfação de critérios clínicos listados do DSM. A utilização de recursos de imagem ganha importância especial quando a história clínica relaciona o aparecimento de sintomas com traumas, alterações clínicas sistêmicas ou sinais clínicos ou neurológicos que levam à necessidade de exclusão de doença orgânica como etiologia para os quadros ou manifestações comportamentais. No século XIX, os neuropatologistas não conseguiram encontrar uma base neuropatológica para a esquizofrenia e, por isso, classificaram-na como um transtorno funcional. No fim do século XX, no entanto, os pesquisadores deram passos significativos no sentido de revelar uma base neuropatológica potencial para o transtorno, principalmente no sistema límbico e nos gânglios da base, incluindo anormalidades neuropatológicas ou neuroquímicas no córtex cerebral, no tálamo e no tronco cerebral. A perda de volume cerebral amplamente relatada em cérebros de indivíduos com esquizofrenia parece resultar da densidade reduzida de axônios, dendritos e sinapses que medeiam as funções associativas do cérebro. A densidade sináptica é mais alta com 1 ano de idade e depois diminui para valores adultos no início da adolescência. Uma teoria, baseada, em parte, na observação de que os pacientes muitas vezes desenvolvem sintomas da esquizofrenia durante a adolescência, sustenta que o transtorno resulta da poda excessiva de sinapses durante essa fase do desenvolvimento. Os exames por tomografia computadorizada (TC) de pacientes com esquizofrenia têm mostrado consistentemente alargamento dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo e alguma redução no volume cortical. Volumes reduzidos da substância cinzenta cortical foram demonstrados durante os primeiros estágios da doença. Vários pesquisadores tentaram determinar se as anormalidades detectadas por TC são progressivas ou estáticas. Alguns estudos concluíram que as lesões observadas na TC estão presentes no início da doença e não progridem. Outros estudos, entretanto, concluíram que o processo patológico visualizado em exames por TC continua a progredir durante a doença. Portanto, ainda não se sabe se um processo patológico ativo continua a se desenvolver em pacientes. Há uma simetria reduzida em várias áreas do cérebro na esquizofrenia, incluindo os lobos temporal, frontal e occipital. Alguns pesquisadores acreditam que essa simetria reduzida se origina durante a vida fetal e seja indicativa de uma interrupção na lateralização cerebral durante o neurodesenvolvimento. Devido a seu papel no controle das emoções, foi formulada a hipótese de que o sistema límbico esteja envolvido na fisiopatologia da esquizofrenia. Estudos de amostras cerebrais na necropsia de pacientes com o transtorno mostraram diminuição no tamanho da região, incluindo a amígdala, o hipocampo e o giro para-hipocampal. Esse achado neuropatológico está de acordo com a observação feita por estudos de imagem por ressonância magnética de indivíduos com a doença. O hipocampo não apenas é menor em tamanho na esquizofrenia como também é funcionalmente anormal, como indicado por distúrbios na transmissão de glutamato. A desorganização dos neurônios no hipocampo também foi observada em secções de tecido cerebral de pacientes com esquizofrenia, em comparação a de controles saudáveis. Há evidências consideráveis de estudos cerebrais de necropsia que apoiam anormalidades anatômicas no córtex pré-frontal na esquizofrenia. Déficits funcionais na região pré-frontal também foram demonstrados por imagens do cérebro. Há muito tem sido observado que vários sintomas de esquizofrenia imitam aqueles encontrados em pessoas com lobotomias pré-frontais ou síndromes do lobo frontal. Alguns estudos do tálamo mostram evidência de diminuição de volume ou perda neuronal, em subnúcleos específicos. Há relatos de que o núcleo dorsomedial do tálamo, que tem conexões recíprocas com o córtex pré-frontal, contém um número reduzido de neurônios. O número total de neurônios, oligodendrócitos e astrócitos é reduzido em 30 a 45% em pacientes com o transtorno. Esse suposto achado não parece ser devido aos efeitos de medicamentos antipsicóticos, porque o volume do tálamo é semelhante em tamanho entre pacientes com esquizofrenia tratados de forma crônica com medicamentos e indivíduos nunca expostos a neurolépticos. Os gânglios da base e o cerebelo têm sido de interesse teórico na esquizofrenia por pelo menos duas razões. Primeiro, muitos pacientes exibem movimentos bizarros, mesmo na ausência de transtornos do movimento induzidospor medicamentos (p. ex., discinesia tardia). Esses movimentos podem incluir marcha desajeitada, caretas e estereotipias. Uma vez que os gânglios da base e o cerebelo estão envolvidos no controle dos movimentos, doenças nessas áreas estão implicadas na fisiopatologia da esquizofrenia. Segundo, os transtornos do movimento que envolvem os gânglios da base (doença de Huntington, doença de Parkinson) são os mais comumente associados com psicose. Estudos neuropatológicos dos gânglios da base produziram relatos variáveis e inconclusivos a respeito da perda celular e da redução do volume do globo pálido e da substância negra. Estudos também mostraram aumento no número de receptores D2 no núcleo caudado, no putâmen e no nucleus accumbens. Permanece a questão, entretanto, quanto a se o aumento é secundário à administração de medicamentos antipsicóticos. Alguns pesquisadores começaram a estudar o sistema serotonérgico nos gânglios da base e sugeriram um papel para a serotonina nos transtornos psicóticos devido à utilidade clínica de agentes antipsicóticos com atividade de antagonismo à serotonina (clozapina, risperidona). Tem havido uma evolução gradual da conceituação da esquizofrenia como um transtorno que envolve diferentes áreas do cérebro para uma perspectiva que a considera um transtorno dos circuitos neurais. Por exemplo, como já foi mencionado, os gânglios da base e o cerebelo estão reciprocamente conectados aos lobos frontais, e as anormalidades na função do lobo frontal observadas em alguns estudos de imagem cerebral podem se dever a doença em qualquer uma dessas áreas além dos próprios lobos frontais. Também existe a hipótese de que uma lesão no início do desenvolvimento dos tratos de dopamina para o córtex pré-frontal resulte no distúrbio da função do sistema pré-frontal e límbico e leve aos sintomas positivos e negativos e aos comprometimentos cognitivos observados em pacientes com esquizofrenia. De particular interesse no contexto das hipóteses do circuito neural ligando o córtex pré-frontal e o sistema límbico são os estudos que demonstram uma relação entre anormalidades morfológicas hipocampais e distúrbios no metabolismo ou na função do córtex pré-frontal (ou em ambos). Dados de estudos de imagem funcional e estrutural em humanos sugerem que, enquanto a disfunção do circuito tálamo-cortical dos gânglios da base cingulados está na base da produção de sintomas psicóticos positivos, a disfunção do circuito pré-frontal dorsolateral é subjacente à produção de sintomas primários, persistentes, negativos ou de déficit. Existe uma base neural para as funções cognitivas comprometidas em pacientes com esquizofrenia. A observação da relação entre desempenho da memória de trabalho, integridade neuronal pré-frontal danificada, córtices parietal pré-frontal, cingulado e inferior alterados e fluxo sanguíneo hipocampal prejudicado fornece forte apoio à ruptura do circuito neural normal da memória de trabalho em pacientes com esquizofrenia. O envolvimento desse circuito, pelo menos para as alucinações auditivas, foi documentado em uma série de estudos de imagem funcional que comparam pacientes com e sem alucinação. Características Neuroanatômicas Avaliadas por TC e RM: - Alargamento de ventrículos laterais e do 3° ventrículo - Redução da espessura cortical - Volumes reduzidos de substância cinzenta cortical - Diminuição da simetria entre os lobos temporais, frontal e occipital - Diminuição de áreas no sistema límbico como amígdalas, hipocampo e giro parahipocampal - Déficits funcionais no córtex pré-frontal - Diminuição de volume em determinados núcleos talâmicos - Redução do volume do globo pálido e da substância negra, com aumento de receptores D2 no núcleo caudado, putâmen e accumbens.
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