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Introdução O diabetes gestacional é definido como qualquer grau de redução à intolerância aos carboidratos que possui início ou descoberta durante a gestação e que pode persistir ou não após o parto. No Brasil, a DMG é o problema metabólico mais comum da gestação, estando presente em cerca de 3-25% da mesma. O diagnóstico do DMG deve ser realizado de maneira ativa, por meio de testes provocativos a partir do segundo trimestre. O período gestacional é caracterizado como um estado de resistência à insulina, pois alguns hormônios produzidas pela placenta e outros aumentados pela gestação (lactogênio placentário, cortisol e prolactina) reduzem a ação da insulina em seus receptores causando o aumento da produção de insulina em gestantes saudáveis - o aumento da produção pode não ser observado em pacientes que já atingiram o limite dessa produção. Diabetes Pré-Gestacional O diabetes pré-gestacional, seja ele DM1 ou DM2, é mais grave considerando que seu efeito inicia durante a fertilização e implantação do concepto. Essa ação precoce aumenta os riscos de abortos, morte intrauterina, malformações fetais, prematuridade, macrossomias e disfunção respiratória neonatal. Diabetes Mellitus Gestacional O DMG, por sua vez, geralmente aparece durante a segunda metade da gravidez não implicando em risco de malformações fetais. Entretanto, esse está relacionado com com o risco aumentado de macrossomia e compl icações neonatais (hipoglicemia), além de potenciais complicações a longo prazo - desenvolvimento psicomotor lento, obesidade e DM2. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de DMG são: - Idade materna avançada - 35 anos ou + - Sobrepeso, obesidade anterior à gestação - Ganho excessivo de peso durante a gestação - História familiar (1º grau) de diabetes - Crescimento fetal excessivo → macrossomia ou fetos GIG - Polidrâmnio (líquido amniótico excessivo) - HAS ou pré-eclâmpsia na gravidez atual - Antecedentes obstétricos de aborto de repetição, malformação, morte fetal ou neonatal - SOP - Baixa estatura (<1,5m) - HbA1c > 5,9% no 1º trimestre - Uso de med icamentos → causadores h i p e r g l i c e m i a : d i u r é t i c o t i a z í d i c o , g l icocorticoides, doses excessivas de hormônios tireoidianos As complicações maternas que podem ocorrer decorrentes do DMG são: - Polidrâmnio - Aumento do risco de ruptura prematura de membranas amniótica e parto prematuro - Toxemia gravídica - UTI - Candidíase vaginal - Maior frequência de cesarianas - Mortalidade aumentada - Risco de recidiva de DMG em gestações futuras - Risco de desenvolver DM2, dislipidemia e hipertensão no futuro As complicações fetais decorrente do DMG são: - Macrossomia - Malformações congênitas - Abortos espontâneos - Óbito fetal intra-uterino - Asfixia perinatal e trauma no parto → distocia de ombro - Complicações neonatais - Hipoglicemia - Icterícia e policitemia - Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) - Risco aumentado de obesidade e DM na idade adulta Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG D i a b e t e s M e l l i t u s G e s t a c i o n a l DMG - Fisiopatologia Primeiro Trimestre Em todas as gestações, independente da presença do DMG, ocorre uma utilização da glicose materna pelo feto com maior tendência à hipoglicemia e sem a presença de mecanismos compensatórios nesse momento. Além disso, nessa fase acontece uma maior sensibilidade dos tecidos à insulina levando à diminuição dos níveis glicêmicos de jejum e ao aumento do tecido adiposo. Nesse período, a inibição da alanina → importante precursor de glicogênio. Segundo Trimestre Também em todas as gestações, nesse momento, inicia-se uma diminuição da tolerância à glicose → hiperinsulinismo, ou seja, a sensibilidade dos tecidos à insulina que era aumentada está começando a diminuir devido ao desenvolvimento de resistência à insulina. Há uma redução de aproximadamente de 50% na sensibilidade à insulina e aumento da lipólise. Isso ocorre porque tem que ‘sobrar’ glicose na corrente sanguínea materna para ofertar ao feto. Em gestantes, a resistência à insulina é um eventos pós-receptor, estando parcialmente relacionado com o hormônio Somatotrofina Coriônica Humana (Lactogênio placentário), que é um antagonista da insulina, cuja concentração aumenta proporcionalmente à massa placentária. Em mulheres com DMG há uma redução da expressão de IRS1 (receptor para insulina tipo 1) e um aumento da fosforilação em serina do receptor de insulina → isso significa que além da resistência à insulina que a paciente normalmente apresentará, pois faz parte da fisiologia da gestação, haverá uma somatória de mais resistência à insulina na paciente que desenvolver DMG. Além disso, ocorre uma diminuição da fosforilação em tirosina causado a redução da translocação do GLUT4 e captação de insulina. A resistência insulínica aumenta a concentração de glicose e outros nutrientes na circulação materna possibilitando a passagem dos mesmo para o feto na 2ª metade da gestação - período de maior crescimento fetal. Porém, na paciente que possui DMG isso será o fator necessário para que gere o processo de h iperg l i cemia característico dessa patologia. No processo gestacional há níveis elevados de cortisol livre, estrogênios, progesterona e trofinas secretadas pela placenta que irão contribuir para a resistência à insulina e tornando a gravidez um estado diabetogênico. Outro fator hiperglicêmico na gestação é a degradação da insulina por enzimas da membrana placentária, semelhantes as insulinas hepáticas. Em resposta a insulinorresistência da gestação, o pâncreas normal aumenta a liberação de insulina em torno de 1,5 - 2,5x mantendo a homeostase glicêmica. Quando a capacidade funcional das células β estiver prejudicada, surgirá o DMG. Nas pacientes diabéticas pré-gestacionais (DM1 ou DM2 que engravidaram), há um aumento considerável das necessidades de insulina exógena (que a paciente já utiliza) a partir da segunda metade da gravidez, desde que não haja insuficiência placentária. Isso implica no controle glicêmico mais difícil → contribuindo para o surgimento/agravamento da retinopatia e/ ou nefropatia diabética. DMG - Rastreamento O rastreamento deve ser realizado em todas as gestantes independente de fatores de risco para o desenvolvimento de DMG através da glicemia de jejum na primeira consulta do pré-natal. Essa glicemia de jejum na primeira consulta nos auxiliar para identificar se a paciente possui um diabetes pré-gestacional não diagnosticado anteriormente à gestação. DMG - Diagnóstico Se a paciente, na primeira consulta pré-natal, possuir uma glicemia de jejum alterada utilizaremos os mesmo critérios diagnósticos de qualquer outro diabético. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Para a paciente que apresentou sua glicose de jejum normal no primeiro trimestre será realizado o teste oral de tolerância à glicose (TOTG 75g) entre 24-28 semanas para a identificação de um possível DMG. Nessa fase da gestação (24-28 semanas) o TOTG 75g é um pouco diferente da população geral. Ele usa os mesmo 75g para realização de sobrecarga, porém, ao invés de realizar a coleta de jejum e 2 horas após a ingestão (2 pontos de coleta) será verificado os valores em jejum, 1ª hora e 2ª hora (3 pontos) de coleta. O diagnóstico será realizado com a presença de ao menos um valor alterado. Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2019-2020 DMG - Tratamento O tratamento do DMG é pautado basicamente na dieta, atividade física e medicamentoso. Devemos esclarecer à paciente sobre os riscos de sua doenças e as consequências, informar que o controle glicêmico durante toda a gestação reduz os risco de macrossomia, tocotraumatismos, parto induzido ou cesariana, hipoglicemia neonatal e mortalidade perinatal.Além disso, devemos instruir a gestante quanto a f r e q u ê n c i a e t é c n i c a s c o r r e t a s d e automonitoramento da glicemia capilar e informar quanto as metas do tratamento. Metas Glicêmicas Desejáveis ●Jejum → <95 mg/dL ● 1h pós-prandial → <140mg/dL ●2h pós-prandial → <120 mg/dL ●A1c → 6,5 - sem hipoglicemias O automonitoramento domiciliar deve ser realizado em jejum e uma hora após as principais refeições, em especial nas gestantes que fazem uso de insulina. O controle glicêmico precisa ser feito com dosagem semanal da glicemia de jejum e glicemia pós-prandial de 2h, realizadas em laboratórios, quando não ex ist i r a poss ib i l idade de automonitoramento domiciliar. A dietoterapia isolada é habitualmente a forma inicial de tratamento do DMG e possibilita o controle gliêmico em 50-80% das pacientes. A prescrição da dieta deve ter como base as necessidade calóricas e de nutrientes da mãe e do feto, visando manter um estado de euglicemia e previnir um excessivo ganho ponderal materno assim como a macrossomia fetal. As gestantes diabéticas devem receber orientações dietéticas individualizadas e modificadas com a evolução da gravidez necessárias para atingir as metas do tratamento. Recomenda-se que o ganho de peso durante a gestação seja relacionado ao peso prévio, variando de 7kg para obesas até 16kg para muito magras. Deve-se evitar períodos de jejum prolongado devido ao consumo constante de glicose materna pelo feto, sendo assim necessário 3 grandes refeições 3 pequenas ao longo do dia. A prática regular de exercícios físico causa sensação de bem-estar, diminuição do ganho de peso, redução da adiposidade fetal, melhor do controle glicêmico e redução de problemas durante o parte. Além disso, o exercício provoca redução da resistência insulínica. Na ausência de contraindicações, recomenda-se atividade física diariamente com durante de 30 minutos podendo ser dividida em 3 sessões de 10 minutos e realizadas, de preferência, após as Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG refeições com monitoramento da glicemia capilar antes e após exercícios com hidratação adequada. Se após 2 semanas de dieta os níveis glicêmicos permanecerem fora das metas, recomenda-se iniciar o tratamento farmacológico - jejum ≥95, 1h pós-prandial ≥140, 2h pós-prandial ≥120mg/dL. Critério de crescimento fetal excessivo também pode ser uti l izado para indicar terapia farmacológica. - mesmo que as metas de HGT foram atingidas. Insulinoterapia A opção de escolha é a NPH e os análogos de insulina de ação ultrarrápida. Recentemente, evidências demonstraram que análogos de ação prolongada também são opções seguras, como Detemir. Doses iniciais → variam de 0,5 a 1,0 U/KG/dia Combinações de insulina de ação intermediária ou prolongada com as de ação ultrarrápida são eficientes para alcançar as metas. O uso de insulina frequentemente é interrompido após o parto. Hipoglicemiantes Orais C l a s s i c a m e n t e e l e s p o s s u e m s e u u s o contraindicado durante a gestação, mas não há evidências de que as sulfonilureias e a metformina sejam teratogênicas. Estudos demonstram que a metformina e a glibenclamida podem ser seguros em pacientes com DMG a partir do 2º trimestre. DMG - Conduta Pós-Parto A avaliação do pós-parto visa diagnostica DM2 precocemente e identificar mulheres que permanecem com intolerância à glicose. A reclassificação deve ser feita 6 semanas após o parto para todas as gestantes que tiveram DMG. O padrão-ouro é o TOTG com 75g de glicose, 6 semanas após parto e critérios diagnósticos com valores utilizados para a população geral. Valores normais → avaliação anual por glicemia de jejum e/ou TOTG ou HB1ac. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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