Buscar

A DROGADIÇÃO E OS MORADORES DE RUA PRÁTICAS SOCIAIS

Prévia do material em texto

A DROGADIÇÃO E OS MORADORES DE RUA: PRÁTICAS SOCIAIS
Introdução
A partir da década de 2000, o Brasil passou a considerar as casas de recuperação de estrutura religiosa como uma alternativa de tratamento, passando a reconhecer o serviço que estava sendo prestado há décadas pelos estabelecimentos.
O uso abusivo de substâncias psicoativas é um problema grave e atual, possuindo reflexos importantes na saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS 2001), 10% da população urbana faz uso de substâncias psicoativas de forma abusiva, o levantamento possuía variação de gênero, classe e etnia.
 Já em 2009, o Relatório Brasileiro sobre drogas apontou que de 2001 até 2005, ocorreu um aumento do uso de álcool, maconha, solventes, tabaco, cocaína, estimulantes, esteróides, alucinógenos, craque e outros. A estimativa deste período, é que os dependentes de álcool passaram de 11,2% a 12,3%; tabaco de 9,0% a 10,1%. As drogas com maior índice de dependência foram: maconha:1,0% a 1,2%; solventes: 0,2 a 0,8; benzodiazepínicos: 0,5% a 1,1%; estimulantes: 0,2% a 0,4%.
A consequência é vista na população com condições precárias de vida, e acabam recorrendo às ruas como uma opção de sobrevivência e moradia. Devido a vulnerabilidade psicossocial a que estes sujeitos estão submetidos, é possível encontrar na rotina dos serviços de saúde, pessoas com necessidade de cuidados físicos e psicológicos recorrentes, sendo causado pela abstinência do uso de álcool e outras drogas.
Para Carlini, Nogueira, Lanferini, Ali e Martinelli (1998) “O crescimento da população de rua vem se acentuando desde os períodos de recessão econômica, quanti e qualitativamente, exigindo articulação de diversos setores como saúde, assistência social, habitação e segurança pública. A população em situação de rua não é incluída nos censos demográficos brasileiros, e de outros países, fundamentalmente porque a coleta de dados dos censos é de base domiciliar”.
 
Não há como definir um limite preciso entre o “incluído” e o “excluído”. Não se trata de um conceito mensurável, mas de uma situação que envolve a informalidade, a irregularidade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa escolaridade, o oficioso, a raça, o sexo, a origem, e principalmente, a falta de voz (MARICATO, 1994, p.51).
É possível perceber uma história de vida comum entre estes sujeitos, independentemente de suas diferentes categorizações e nomenclaturas, eles vivenciam o processo de exclusão social, marcados pela pobreza e a situação precária de trabalho. 
É possível dizer que o habitar a rua acontece com maior intensidade e diversidade nas grandes cidades e metrópoles, tendo um emaranhado de pessoas, organizações e pessoas dos mais diferentes tipos encontrados nesse espaço. Ele não é apenas físico, mas também cultural e de ordem social para o exercício de viver nas ruas.
Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2010), podemos ver que o índice de adesão a serviço de rede pública pela população dependente de substâncias psicoativas, e em extrema vulnerabilidade e riscos, justifica a implantação de intervenções efetivas e integradas no Brasil.
O uso de drogas por pessoas em situação de rua
A sociedade contemporânea possui questões sociais distintas, aprofundadas pelo processo de globalização e precarização das relações de trabalho. A situação de rua é uma das questões que são tratadas por políticas públicas, tendo a complexidade e necessidade de intervenção dos campos como assistência social, saúde, habitação, educação, entre outros. As pessoas que vivem em situação de rua, estão constantemente com a não garantia e acesso a direitos humanos conquistados pela Constituição Federal de 1988, eles são constituídos como sujeitos a margem de uma sociedade que exclui e os discrimina.
A humanidade sempre recorreu a substâncias psicoativas para fins diferentes, isso pode ser visto ao longo da história. De acordo com Nery Filho e Torres (2002), o homem busca formas para alterar seu humor e comportamento. Ainda não é possível saber a origem das drogas, mas a história nos revela que no antigo Egito e na Babilônia, algumas pessoas já consumiam substâncias fermentadas.
O mesmo autor também afirma que as substâncias também eram usadas para obter um estado de alteração de consciência em diversos contextos, por exemplo, social, místico, econômico, cultural, psicológico, militar, medicinal e principalmente, no prazer. Portanto, desde as sociedades tradicionais, o homem busca por substâncias que promovem o bem-estar, seja ele físico, social ou emocional.
Drogas são quaisquer substâncias que ao serem inaladas, injetadas ou fumadas, possuem capacidade de modificar o funcionamento do organismo, resultando em mudanças fisiológicas, comportamentais e psíquicas. (OMS, 1978).
O uso de drogas pode ser analisado como forma sociocultural ou sujeito-substância-contexto, a partir disso é possível entender os efeitos causados pelas drogas. No âmbito individual ou no social, é necessário ter uma perspectiva bio-psico-sócio-cultural, relacionado ao uso de substância. 
Muitas pessoas usam as substâncias psicoativas por significados diferentes, ou seja, o usuário possui uma implicação em sua vida com dimensões diversas, estabelecendo com as substância o uso eventual, casual ou de dependência. Entendo essas dimensões, é possível compreender qual lugar esta ocupa na vida da pessoa e sociedade.
De acordo com Bauman (2004) “O desenvolvimento tecnológico e as relações engendradas pelo capitalismo globalizado, promovem uma nova forma de organização da sociedade, trazendo profundas alterações nas relações sociais com o enfraquecimento dos laços que teciam as redes comunitárias”. Sendo assim, um dos problemas gerados pelo capitalismo é a exclusão, provocando diversos problemas sociais, por exemplo, a pobreza, ausência de educação, desemprego em massa, falta de oportunidades, resultando na fome, violência, desesperança e impotência diante da vida e convívio com as drogas.
Uma grande parcela da população, a cada dia se encontram sem condições de colocação no mercado de trabalho e sem possibilidade de conseguir assegurar as condições mínimas para ter uma vida digna, o que os leva a buscar formas que respondam a este crescente problema de exclusão. 
Sawaia (2007) A exclusão apresenta uma ambiguidade de significados e dimensões diferentes, que englobam desde a desigualdade social até o aspecto ético-político da justiça e, necessariamente, passa pela dimensão subjetiva do sofrimento humano. Onde uma parcela de indivíduos, privados da sobrevivência minimamente digna, resolve ocupar os espaços das ruas como moradia, numa tentativa de denunciar a exclusão, uma vez que, de maneira objetiva ou subjetiva, esse fenômeno tem se apresentado cada vez mais recorrentemente.
Atualmente, a sociedade que valoriza o ter ao invés do ser, as relações sociais se tornam mais fracas, levando a uma constante segregação e exclusão dos que não se adequam ao mercado de produção, pertencimento e produção. O comércio de álcool e do tabaco, são exemplos da inversão de valores na atual sociedade, a comercialização dessas substâncias representa um importante negócio que obedece às leis da economia. Dessa forma, eles perdem o valor recreativo, místico e religioso, passando a ser mais um objeto de consumo, como forma de convivência e associação com a felicidade e bem-estar ao consumir tais substâncias. 
Seria como se os problemas familiares, dificuldades de um dia de trabalho, o vazio existencial, e outras questões que poderiam ser resolvidas no encontro entre amigos, regado com altas doses de álcool, ou seja, buscando as soluções químicas para os problemas cotidianos. Enquanto os programas de televisão apresentam lindas mulheres felizes com seus corpos à mostra, carros de luxo, esportistas e campeonatos mundiais em comerciais de cervejas, na vida real, resta a insegurança de políticas sobre as substâncias psicoativas, que são confundidas entre o lícito e o ilícito.
As mídias dizem para fazer o consumo com moderação, mas ao mesmo tempo, transmitemque é uso que faz o sujeito pertencer ao grupo de pessoas felizes e bem-sucedidas. Poderia ser dito que seria para a produção de comércio que sustentam o sistema econômico, ao invés de propriamente trazer a felicidade como é apresentado em diversas propagandas que são vistas pelo smartphone, notebook, e outros meios para adquirir notícias.
As drogas lícitas são anunciadas amplamente, gerando milhões para o mercado econômico do mundo inteiro, mas grandes batalhas são travadas contra as drogas ilícitas. Essa guerra não é contra os grandes produtores, comerciantes, indústria farmacêutica e nem mesmo contra drogas ilícitas. Afinal, não é a substância que escolhe o usuário, e sim ele quem as escolhe. Portanto, essa guerra é travada contra os consumidores, trabalhando com pessoas e seus direitos.
Para Carvalho (1999) o uso das drogas por pessoas que estão em situação de rua não está somente ligado à busca do prazer, mas antes, a estratégias de sobrevivência que ganham importância na medida em que seus efeitos produzem sensações de euforia, poder e prazer, além de alterações da percepção psíquica contra realidade interna e externa do usuário. Esse último fator pode justificar o uso abusivo das substâncias psicoativas pela população em situação de rua.
 O consumo de crack é muito grave, devido às suas características que causa dependência, efeito rápido de prazer e a necessidade de uso repetido. Além disso, essa droga possui um relativo custo baixo, tornando a manutenção de uso maior. Como resultado, o sujeito passa a centrar ações e interesses na aquisição da droga, rompendo com todas as áreas da vida, e se isolando em relação com a droga.
Nesse quadro, a droga passa a ser usada para preenchimento de necessidades básicas da existência emocional, ou seja, seria como se a falta de segurança, afeto, amor, e outros contatos, pudesse ser suprido com pequenos minutos de bem-estar causados pelo efeito das substâncias. Nesse sentido, os moradores de rua buscam a solução química como forma de amenizar as consequências da insanidade social, o vazio da vida, a angústia e a falta que o cidadão excluído sente pela falta da vida em sociedade.
O uso abusivo de drogas da população que mora nas ruas é complexo, causado por fatores que, somados, reforçam a situação de exclusão social da população marginalizada e que muitas vezes é invisível na reação da sociedade. Esse fato social causa grandes efeitos na sociedade em situação de rua, como o rebaixamento da autoestima, que já é afetado pelo descaso, estigmas, desesperança e preconceito, levando o sujeito ao descuido, auto abandono e o desinteresse pela vida.
De acordo com graciana (1997) “O repúdio social que caracteriza o estereótipo e o estigma que se direciona a esta população de excluídos fora da norma, fortalece a imagem pejorativa de todas as formas possíveis, culpando-os pela própria condição de inferioridade e incapacidade”. Para essa autora, estar fora dos padrões fixados pela sociedade, não garante os mesmos Direitos Humanos a estas pessoas.
 “A criança, adolescente e jovem de e na rua, em seus protagonismos de comportamento reprovável, é só resultado de uma socialização divergente” (GRACIANI, 1997, p.112).
Segundo a mesma, a rua se torna para estas pessoas como um confinamento social, onde elas passam a viver continuamente num processo de discriminação. Há séculos atrás, acontecia uma forma parecida que era o confinamento de excluídos em abrigos, manicômios, asilos e muitas outras instituições, onde pessoas com maior vulnerabilidade eram colocadas pelo resto de suas vidas.
Ao longo dos anos, essa parte da população é permeada pelos processos políticos e econômicos, que são fundados na injustiça, produzindo a pobreza, exclusão e segregação dessas pessoas. Estas, portanto, encontram nas ruas e nas drogas, uma possibilidade de existir e fugir da realidade cruel da vida.
Portanto, é de extrema necessidade as políticas públicas que busquem garantir os direitos e a equidade dessa população da sociedade, e atuem nas graves consequências à saúde da sociedade em geral e para os usuários, criando estratégias e ações que reduzam todos os danos e riscos destas condições de vida, lutando contra o estigma e exclusão dos moradores de rua usuários de drogas.
O contexto biopsicossocial dos moradores de rua dependentes químicos
Segundo Lopes (2006) “A situação de rua é consequência de vários fatores, entre eles: fatores estruturais voltados para a ausência de moradia e trabalho; fatores individuais relacionados à vida particular do sujeito, os quais podem estar remetidos a doenças mentais, uso abusivo de álcool e drogas; e fatores naturais como enchentes e terremotos”.
É possível dizer que o número de pessoas moradoras de rua se dá pelo agravamento de questões sociais, sendo voltadas ao desemprego, desigualdade, falta de políticas públicas e a exclusão social. Tal exclusão social da população em situação de rua se dá pelo preconceito da própria sociedade, que não se importa em conhecê-los, mas sim ir ao prejulgamento e rotulação da população, como pessoas dignas de pena, drogadas, perigosas, vagabundas, ou simplesmente as ignoram.
De acordo com Esmeraldo Filho (2006) “As pessoas em situação de rua são confundidas com pessoas violentas, traficantes e assaltantes, o que demonstra, assim, uma característica de criminalização do indivíduo”. Sendo assim, é possível perceber os rótulos que a sociedade impõe à esta população que mora nas ruas, independente se estas são dependentes de substâncias psicoativas ou não.
No artigo 5º da Política Nacional para a População em Situação de Rua, é estabelecido o decreto nº 7053 23/12/2009, que diz:
"Art 5°. São princípios da Política Nacional para a população em situação de Rua, além da igualdade e equidade: I – respeito à dignidade da pessoa humana; II – direito à convivência familiar e comunitária; III – valorização e respeito à vida e à cidadania; atendimento humanizado e universalidade e V- respeito às condições sociais e diferenças de origem, raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com deficiência. ”
Sendo assim, as pessoas em situação de rua possuem direitos respaldados perante a lei, assim como quaisquer outros cidadãos de qualquer classe social, que precisam respeitá-las e valorizá-las. 
Diante do problema trazido sobre essas pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, fazendo o uso de drogas com o intuito de fugir da realidade em que vivem, é possível perceber o vazio existencial que ocorre como resultado da própria realidade nas ruas e na sociedade. Seria uma forma de intermédio utilizar a Logoterapia, para que seja possível tratar e prevenir o uso de drogas, e encorajar e proporcionar ao sujeito o sentido de sua vida.
Além disso, também é possível aplicar a análise existencial. A análise existencial é considerada uma metodologia para investigar com facilidade a reflexão que acerca o próprio ser do homem, a fim de compreender o desenvolvimento único da existência pessoal. (Ferreira; Marx, 2017).
Já a logoterapia é o método que foi criado por Viktor Frankl (1905-1997), ela é conhecida como psicoterapia do sentido da vida, abrangendo o vazio existencial como um conceito. Essa abordagem é centrada no sentido ou motivação primária de cada indivíduo, nesta ocorre a quebra do auto centrismo, com finalidade de confrontar o paciente para que ele assuma sua vida e consiga orientá-la. Também é possível ajudá-lo a entender e superar o vazio existencial, caracterizado como um fenômeno que representa sofrimento humano.
A análise existente realizado em conjunto com a logoterapia, contribuem em meio ao contexto biopsicossocial em meio a situação de rua e às drogas, tanto em nível de medida profilática quanto para intervenção. Portanto, a Logoterapia irá ajudar a trazer alívio a fatores biológicos, psicológicos e sociais. Nesse sentido, será fundamentado três conceitos: Sentido da vida, onde existe um sentido em qualquer circunstancias; A vontade de sentido, tal qual o ser humanopossui esta característica e se sente sozinho quando nela aparece o vazio existencial; Liberdade de vontade, onde o sujeito é livre dentro de suas próprias limitações para concretizar sentidos de sua existência. Estes conceitos implicam na saúde mental, e a falta do sentido possui relação direta com problemas ligados ao uso de drogas, depressão, pensamento obsessivo e outros sintomas.
Frankl (1946/2010) ainda traz que o vazio existencial é caracterizado como resultado de frustrações pessoais, possivelmente relacionado ao desenvolvimento de neuroses ou dependência química e/ou sexual, baseado na busca do prazer com entorpecimento existencial. 
Foram desenvolvidas técnicas para ser usadas em terapias de pacientes em estado de desarmonia, como: Derreflexão, apelação, intenção paradoxal, técnica do dominador comum e diálogo socrático. Quando o sujeito está em luta constante contra a doença, é possível utilizar a técnica de Derreflexão, em situações onde o sujeito pensa constantemente em sua doença, essa técnica irá possibilitar que ele consiga desfocar a atenção do sofrimento que vivenciam.
Dessa forma, ele não precisará recorrer ao uso de drogas para fugir da realidade em que se encontra, pois, a atenção será completamente deslocada para algo significativo que não encontra no aqui e agora. A Derreflexão vai tornar possível que o sujeito em situação de rua, tire o foco de suas dificuldades pessoais, e projete no futuro, procurando a busca por um sentido de vida.
Partindo da dificuldade que fora identificada, a intenção é propor o contrário, ou seja, nesta técnica é necessário que a pessoa desenvolva a capacidade de auto distanciamento, consistindo em se colocar de outro lado da sua pessoa para perceber lados diferentes, proporcionando a visibilidade de sua neurose e consiga olhar para si como se fosse outra pessoa, e assim poderá perceber a verdadeira situação de sua existência.
Os diversos meios de intervenção, quando utilizados em momentos adequados e de forma correta, podem ocasionar mudanças significativas de atitude, comportamento e de revigoramento das forças do sujeito. A terapia também é uma condição necessária e que gera mudanças nos indivíduos, com o intuito de conseguir se distanciar de si próprio, e buscar o próprio sentido de sua existência para seguir.
Frankl (2015) ainda diz que a Psicoterapia precisa ter seu foco voltado para a busca do sentido no próprio indivíduo que buscas as drogas para fugir do mundo real, afastando o sentimento causado pelo vazio existencial, e desta forma, reduzir o uso das drogas ou da busca por satisfações artificiais.
Estes trabalhos precisam ser colocados em ação, assim é possível evitar que mais pessoas que estão em vazio constante busquem pelas ruas, e nestas encontrem facilmente as substâncias psicoativas. Graeff e Guimarães (2005) ressaltam que a dependência química não acontece de repente, o sujeito passa por diversas fases, desde o início até a dependência extrema e abusiva. Encontrando-se em um processo que faz necessário a combinação de fatores de ordem genética, social e psicológica.
Além das terapias, a prática das representações sociais considera uma articulação de diversos conceitos da psicologia como valores, normas, práticas, opiniões e atitudes. Todos esses conceitos se reúnem e são organizados sob a nomenclatura “Pensamento social”. O senso comum pode ser observado pela psicologia positivista como conhecimento irracional, mas para muitos teóricos das representações sociais esse pensamento possui sua própria coerência, arraigada na articulação e cognição, comunicação e socialização.
De acordo com Roquete (2009) desmerecer o pensamento social é o mesmo que se opor a existência de um sujeito cidadão, que possui atividades cognitivas condicionadas a peculiaridades de sua inserção social. Esse tipo de ideia não possui apenas uma lógica, mas uma estrutura organizada dentro de uma hierarquia que precisa ser investigada a partir de propriedades formais da ciência. Ela propõe também, uma arquitetura do pensamento social, tal qual se organiza em hierarquia de quatro níveis e integração de conceitos que as compõem.
Do ponto de vista estrutural, a representação social possui um sistema central que assegura a estabilidade e consenso. O sistema central é composto por elementos que darão significado e representação às normas, que prescrevem todas as práticas que fazem parte deste sistema. Estas normas servem de contribuição para estruturar o significado do conhecimento social e para a construção de visão de mundo dos cidadãos.
Tendo as práticas sociais estruturadas e a terapia fornecida para pessoas que se encontram em situação de rua, estas poderão modificar sua forma de viver e de pensar. Sendo possível diminuir a quantidade de pessoas que buscam fugir do vazio da própria existência, da busca pela felicidade, da fuga da solidão, da busca por amor, na tentativa de supri-las através do consumo de tais substâncias psicoativas.
Conclusão:
Em 2004, foi intensificado o debate a respeito de políticas públicas voltadas para a população em situação de rua, procurando abranger todas as peculiaridades que caracterizam essa parte significativa da população. Nesse contexto, os estudos tiveram como objetivo obter o conhecimento de características específicas deste grupo, unindo informações sobre a sociedade, o que leva um sujeito a recorrer às ruas e as substâncias psicoativas, terapias, políticas públicas, e os efeitos da exclusão social.
Sendo assim, a abordagem deste artigo não se trata de uma pesquisa epidemiológica clássica, mas sim de um estudo das ideias da sociedade sobre os moradores de rua, e dos mesmos sobre si e o uso das drogas. Dessa forma, foi possível analisar o começo do uso de tais substâncias, até a sua extrema dependência.
Além dos fatores emocionais, também é possível ressaltar as práticas relacionadas ao compartilhamento de seringas, cachimbos, atividades sexuais com múltiplos parceiros e sem preservativos, incluindo esta como uma forma de conseguir dinheiro para comprar as drogas. Estas práticas adotadas por essas pessoas, predispõe a população à infecção por hepatite B e C, além de outras doenças sexualmente transmissíveis. 
Por fim, torna-se fato a necessidade de obter conhecimento desta população, entender como intervir e tratar os sintomas causados pela própria sociedade contemporânea em diversas situações. Vários esforços precisam ser feitos e políticas públicas devem visar a proteção da vulnerabilidade dos moradores de rua e dos dependentes químicos.
Referências bibliográficas
Artigo 5º da Política Nacional para a População em Situação de Rua, decreto nº 7053 23/12/2009.
BAUMAN, Z. Amor Líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos. Trad.
Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
CARVALHO, D. B. B. O consumo de drogas por crianças e adolescentes em situação de rua no Distrito Federal: relatos de experiências vividas. In: CARVALHO, D. B. B.; SILVA, M. T. (Org.). Prevenindo a drogadição entre crianças e adolescentes em situação de rua: a experiência do PRODEQUI. Brasília, DF: MS/COSAM, UnB/PRODEQUI; UNDCP, 1999.
Carneiro J. N.; Nogueira, E.; Lanferini, G. M. Ali D. A. Martinelli, M. Serviços de saúde e população de rua: Contribuição para um debate. Saúde e Sociedade, 7(2):47-62, 1998.
Ferreira F. Marx R. O VAZIO EXISTENCIAL EM INTERFACE COM O USO DE DROGAS SOB A ÓTICA DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL, 2017. 
Frankl, V. E. SEDE DE SENTIDO. São Paulo: Quadrante, 2015.
Frankl, E. V. (2010). PSICOTERAPIA E SENTIDO DA VIDA: FUNDAMENTO DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE EXISTENCIAL (5 Aufl., A. M. de Castro, trad.). São Paulo, SP: Quadrante. (Trabalho original publicado em 1946).
GRACIANI, M. S. S. Pedagogia social de rua: análise e sistematização de uma experiência vivida. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 1997.
Lopes, Maria Lucia. MUDANÇAS RECENTES NO MUNDO DO TRABALHO E O FENÔMENO POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO BRASIL. Brasília, 2006.
Organização Mundial da Saúde (OMS). Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Relatóriosobre a saúde no mundo. Saúde Mental: nova concepção, nova esperança. Genebra; 2001. 
OMS. Organização Mundial da Saúde. Alma-Ata, 1998: Cuidados Primários de Saúde. Genebra, Suíça: OMS, 1978.
Rouquette, M-L. (2009). Qu´est-ce que la pensée sociale? In: M-L Rouquette (org). La pensée sociale. Perspectives fondamentales et recherches appliquées. Toulouse: Érès.
SAWAIA, B. Introdução: exclusão ou inclusão perversa? In: SAWAIA, B. (Org.).
As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

Continue navegando