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13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes Diagnostico clinico do adulto Exames Laboratoriais – Reumatologia Introdução Os exames laboratoriais não são capazes de estabelecer diagnostico de forma isolada, devem estar associados a diagnósticos clínicos A solicitação laboratorial na reumatologia deve ser realizada pensando no prognostico da doença. Um paciente com artrite reumatoide pode ou não ter o fator reumatoide positivo, isso não exclui o diagnostico da doença pois eles tem clinico de artrite reumatoide, porem paciente que tem o Fator reumatoide e o anti-ccp positivos tem pior prognostico, tanto do ponto de vista articular como do ponto de vista sistêmico. Então clinicamente já conseguimos diagnosticar AR porem mesmo assim pedirmos os exames pensando no prognostico do paciente Exames mais solicitados • Exames gerais – HMG/ PFAs/ Urina l e PTN 24h • ASLO • Pesquisa de identificação de autoAcs • Complemento total e frações • Antígenos de histocompatibilidade humana • Perfil osteometabilico • Doenças microcistalinas – principalmente a GOTA e uricemia • Liquido sinovial Hemograma As doenças reumatológicas de forma geral podem ser classificadas de doenças inflamatórias crônicas • Doenças inflamatórias crônicas o Anemia N/N ▪ Normocítica e normocrômica o Leucocitose ▪ Geralmente é discreta a moderada. Em torno de 13.000 a 14.000 o Trombocitose ou plaquetose ▪ Elevação do numero de plaquetas • Lúpus eritematoso sistêmico - LES o Anemia ▪ Hemolítica autoimune (CD), essa é critério classificatório de lúpus, nela as hemácias são destruídas a partir da mediação de autoanticorpos • Para documentar que a anemia é hemolítica vou pedir para o paciente BHL, bilirrubina e reticulócitos (hemácias jovens, se o paciente estiver hemolizando haverá muitos reticulócitos na corrente sanguínea) • Para saber se a anemia é autoimune eu vou solicitar o Combs direto porem 90% das anemias autoimunes tem combs negativo, então o fato do combs ser negativo não 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes exclui autoimunidade e as vezes o paciente já tem o teste do combs positivo mas ele ainda não está hemolizando • Então vamos solicitar BHL, bilirrubina, reticulócitos e combs direto o Leucopenia/ linfopenia ▪ Redução do numero de leucócitos, principalmente no lúpus com linfopenia, que é a redução do número de linfócitos o Plaquetopenia ou trombocitopenia ▪ Redução do número de plaquetas Provas inflamatórias São exames que estarão alterados em processos inflamatórios, é inespecífico pois eu não sei se esse processo inflamatorio é autoimune, infecioso ou neoplásico, por isso que precisamos ter manifestação + alteração laboratorial • Velocidade de hemossedimentação (VHS) – vamos fazer o exame e deixar o tubo (mesmo do hemograma) parado, depois vamos ver quanto temos que as hemácias se sedimentaram na primeira hora, quanto maior a sedimentação maior a chance de existir processo inflamatório. Na reumatologia consideramos alterações de VHS baseadas no sexo e na idade do paciente. É um exame inespecífico (não sei dizer que processo inflamatório esse paciente está apresentando) e sensível, ou seja, se a gente por algum motivo fizer a técnica errada o exame vai dar alterado. o Na mulher consideramos como VHS normal (idade + 10/2). Se tivermos uma mulher de 40anos portanto o VHS normal dela será de até 25 o No homem consideramos como VHS normal (idade/2). Se tivermos diante de um homem de 40 anos VHS até 20 é normal • Proteína C reativa (PCR) – proteína inflamatória produzida no fígado em processos inflamatórios sejam eles infecciosos, autoimunes ou neoplásicos, portanto, também é um exame inespecífico • Eletroforese de proteínas (EFP) – vamos coletar o soro do paciente e colocar ele contra dois polos (positivo e negativo) as proteínas vão migrar para o lado contrário, as proteínas semelhantes (mesmo peso molecular) migram juntas, na mesma velocidade, as proteínas maiores migram mais devagar e as menores mais rapidamente, depois jogamos a migração dessas proteínas para um gráfico que vai trazer algumas proteínas importantes que temos no nosso soro. A primeira proteína a ser representada no gráfico é a albumina, em sequência temos a alpha-1 e alpha-2 globulinas, Beta globulinas e por último as Gama globulinas. Em um processo inflamatório podemos ter redução de albumina, redução de alpha, aumento de beta, tudo isso sugere processo inflamatório, mas quando pedimos a EFP na reumatologia queremos avaliar principalmente as gama globulinas. As gama globulinas são anticorpos e em uma doença autoimune estarão aumentadas pois o indivíduo está produzindo autoanticorpos, portanto nosso paciente com uma doença autoimune terá uma hipergamaglobulinemia. Precisamos do gráfico para analisar se a hipergamaglobulinemia é policlonal/de base larga (é o caso da representada no grafico) ou monoclonal/ base curta (se for monoclonal a curva será semelhante a da albumina) Nas doenças autoimunes tendemos a ter uma hipergamaglobulinemia policlonal, pois esses autoanticorpos não são produzidos pelo mesmo plasmócito, temos vários plasmócitos produzindo vários tipos de autoanticorpos (IgM, IgD, IgE, IgA...) e esses migram mais ou menos juntos pois todos são gama globulinas, porem a IgM é maior que a IgG, com isso a IgM é mais lenta do que a IgG e isso é que produz a base larga da curva 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes Nas hipergamaglobulinemias monoclonais apenas um plasmócito se diferencia de forma anômala e começa a se reproduzir e produzir por exemplo apenas IgG, como elas são iguais quando migram fazem isso juntas e quando projetamos o gráfico temos uma curva de base curta, um exemplo mais frequente de doença que causa a hipergamaglobulinemia monoclonal é o mieloma múltiplo Urina l / PTN 24h • Urina l o Densidade o Sedimento urinário ▪ Leucocituria ▪ Hematúria ▪ Hemoglobinúria ▪ Cilindrúria o Proteinúria – principalmente albumina A síndrome de Sjogren acomete o rim e quando isso ocorre o acometimento é mais túbulo-intersticial, neste caso na urina l vai levar alteração relacionada a densidade urinaria, o paciente vai ter dificuldade em concentrar a urina e ele evolui com uma alteração que chamamos de hipostenuria que é uma densidade urinaria diminuida. Muitas vezes esses paciente tem tanto alteração túbulo-intersticial que evoluem com quadros graves com acidose tubular renal, principalmente do tipo 1, evoluindo com hipocalemia, paralisia muscular relacionada a dificuldade de concentração urinaria e de reabsorção de eletrólitos (K) Temos doenças reumatologias que envolvem principalmente o sistema glomerular, e com isso temos a possibilidade de pacientes evoluírem com glomerulonefrite, como no LES. A inflamação glomerular leva a alteração da membrana glomerular e esse indivíduo passa a perder muitas coisas pela membrana basal inflamada que normalmente não perderia e passa a apresentar o sedimento urinário atípico (leucocitúria, hematúria, hemoglobinúria e cilindrúria), além de sedimento atípico o paciente com envolvimento glomerular pode também passar a perder proteínas, principalmente a albumina e com isso teremos também proteinúria, este quadro é visto nas vasculites associadas ao ANCA e ao LES Se tivermos uma paciente que estamos em dúvida pois a síndrome de Sjogren simula muito o LES, e olhando a urina l conseguimos imaginar se o paciente vai mais para Sjogren (alteração de densidade urinaria- hipostenúria ou achados sugestivos de acidose tubular renal e hipocalemia) ou LES (envolvimento glomerular - leucocitúria, hematúria, hemoglobinúria, cilindrúria) e proteinúria) • PTN 24h o Relação PTN/ Cr em amostra isolada de urina Se detectarmos a presença de proteinúria na urina l teremos que dosar essa proteúria e para isso veremos quanto que esse paciente está perdendo de proteína em24h Esse exame é feito de movo que o paciente colher toda a urina durante 24h (despreza a primeira urina do dia), quando terminar as 24h vai levar essa urina ao laboratório para dosar a quantidade de proteína que tem nessa urina. Esse exame não é fácil mesmo em pacientes internados, as vezes o paciente perde urina, se o volume coletado não for a cima de 1000ml ficamos com um volume inadequado, 20% dos quadros de LES começam na infância o que torna a coleta ainda mais difícil Devido a dificuldade da PTN 24h surgiu um outro exame que chamamos de relação proteinúria creatinúria em amostra isolada de urina e este exame o valor que encontramos nele imaginamos que seja algo semelhante a proteinúria de 25h, porem não é 100% verdadeiro pois não perdemos a mesma quantidade de proteína em toda a micção 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes ASLO – Antiestreptolisina O • Pesquisa de Acs antiestreptocócicos Nada mais é do que anticorpo anti-estreptococos, com isso tem função de dizer se o paciente teve ou não contato recente com os estreptococos Na reumatologia vamos pedir esse exame quando pensamos em febre reumática que é a doença reumatológica associada a infecção previa por cepas hematogênicas do estreptococo β-hemolítico do grupo A de via aérea superior, então vou pedir ASLO para crianças (mais frequente entre 5-10 anos) pensando em febre reumática Febre reumática é uma reação imunológica cruzada, ou seja, o anticorpo foi produzido corretamente, contra o estreptococo, porem em um indivíduo geneticamente predisposto esse anticorpo passa a reagir de forma cruzada contra estruturas do organismo da criança (articular → artralgia ou artrite; folhetos cardíacos → endocardite, pericardite, miocardite; SNC → coreia de sydenham; estruturas subcutâneas → nódulos subcutâneos; estruturas cutâneas → eritema marginato..). Essa reação cruzada ocorre, pois, existe uma semelhança antigênica entre estruturas da capsula dos estreptococos e essas estruturas citadas a cima Critérios de Jones (1992) - clínica para febre reumática • Critérios maiores o Artrite o Cardite – pericardite, miocardite e endocardite (mais comum é a endocardite e vai aparecer na prova com um sopro cardíaco) o Coreia de Sydenham – movimentos de grande amplitude involuntários mais frequentes em meninas com febre reumática que desaparece durante o sono o Nódulos subcutâneos – fibroelásticos e indolores, principalmente nas superfícies extensoras o Eritema marginado – lesão cutânea eritematosa, com margem eritematosa e centro hipocromico • Critérios menores o Febre o Poliartralgia o Aumento VHS e/ou PCR o Alterações ECG – prolongamento do intervalo PR • Critério obrigatório o Evidencia de infecção por escreptococos do grupo A Para eu fechar diagnostico de febre reumática o paciente deve ter 2 critérios maiores OU 1 maior e 2 menores, mas preciso obrigatoriamente documentar que essa criança teve uma infecção previa por estreptococo do grupo A, é onde entra a ASLO A febre reumática nada mais é do que uma artrite reacional, isso porque o paciente reagiu contra uma infecção previa, geralmente essa infecção de orofaringe precede em 2-3 semanas o quadro de febre reumática Autoanticorpos • Igs capazes de reconhecer Ags presentes nas células e órgãos do próprio indivíduo, É um anticorpo dirigido contra algo que é próprio • Presença de autoAcs por si só NÃO implica em doença autimune. Uma pessoa saudável produz autoanticorpos por isso a presença de autoanticorpos por si só não implica em doença autoimune Guardar quando devo pedir a ASLO, ou seja, clinica 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes o Auto-Acs naturais ▪ Baixos títulos ▪ Baixa avidez – se ligam e desligam ▪ Polirreativos – não são dirigidos especificamente contra um antígeno, reagem contra antígenos diversos o Auto-Acs patológicos ▪ Títulos elevados ▪ Alta avides – se ligam com maior avidez ▪ Especificidade restrita – são direcionados exatamente na direção dos antígenos que foram criados • Dentro dos testes de autoanticorpos temos o Testes para rastreamento – é importante que esse teste tenha alta sensibilidade, ou seja, a chance de ser um falso positivo é grande, mas quando ele vier negativo ele praticamente exclui uma doença autoimune (FAN) o Teste para identificação de cada tipo de autoAcs – são testes mais específicos, tem mais especificidade (ELISA) FATOR ANTINUCLEO – FAN Pode estar presente em pessoas normais ou em outras doenças autoimunes como na LES, artrite reumatoide, síndrome de Sjogren, AIJ, espongiloartrites, síndrome de Crohn, retocolite, tireoidite de Hashimoto, hepatite autoimune, cirrose biliar primaria • Rastreamento – IFI (células Hep-2) o Alta sensibilidade X baixa especificidade – podemos ter FAN falso positivo, por conta disso temos que tomar cuidado com a solicitação do exame o Solicitação indiscriminada do exame – se eu pedir FAN para um paciente assintomático e vier reagente será difícil falar para o paciente que ele não tem LES porque muito provavelmente esse paciente já vai ter aberto o resultado e visto no Google, por conta disso devemos pedir FAN apenas para pacientes que tiverem clinica da doença (aftas orais, ulceras genitais, lesões cutâneas, alopecia, serosite, SNC, envolvimento renal, febre..) • 3 tipos de informação importantes no FAN o Presença ou ausência de autoAcs – quando fazemos FAN não pesquisamos apenas os autoanticorpos direcionados apenas ao núcleo da célula, procuramos anticorpos direcionados a toda a células, se for não reagente a chance desse paciente ter uma doença autoimune é muito pequena pois é um exame muito sensível, se o exame vier reagente vamos olhar duas outras características (titulo e padrão de imunofluorescência) o Título – a partir do momento que determinamos que existem autoanticorpos naquela amostra de soro começamos a diluir aquela amostra para fazer a titulação e ver quantos anticorpos temos ali, começamos a diluir 1:80 depois 1:160; 1:320; 1:640; 1:1280, a ultima diluição que detectarmos que ainda existe autoanticorpos iremos laudar o exame. Se em um exame detectarmos que tem autoanticorpos, diluímos o soro 1:80 e ainda há autoanticorpos, diluo então 1:160 e neste caso não há mais autoanticorpos o laudo neste caso será – FAN reagente 1:80, em outro caso, se diluirmos para 1:80 ainda há autoanticorpos, diluo para 1:160 ainda tem, 1:320 ainda tem, 1:640 ainda tem, 1:1280 não há mais, ai irei laudar FAN reagente 1:640 Quanto maior a quantidade maior a chance de que o achado esteja associado a doença, ou seja, 1:160 tem maior chance se estar relacionada a uma doença do que 1:80 Devemos estar atento por o FAN não guarda relação com a atividade da doença, portanto, se a pessoa tiver um titulo de 1:320 e em um segundo momento o titulo for para 1:160 isso não quer dizer que o paciente melhorou 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes o Padrão da imunofluorescência – é a informação mais importante, é extremamente subjetivo pois é o profissional que olha a técnica e vai dizer como os autoanticorpos estão dispostos no soro do paciente. Os padrões de imunofluorescência sugerem algumas especificidades de autoAcs, por exemplo na imagem temos um FAN reagente com titulo 1:640 e o padrão é nuclear (quem corou na imunofluorescência foi o núcleo) e os autoanticorpos se distribuíram de forma homogênea. Esse padrão nuclear homogêneo chama a nossa atenção para um grupo de autoanticorpos específicos (Anti-DNA e Anti-histona), a partir do momento que eu imagino qual é o autoanticorpo especifico que o nosso paciente tem eu consigo imaginar qual a possível doença que ele tem ou uma manifestação clinica dentro daquela doença, por isso que o padrão é muito importante ▪ Outros padroes importantes • Nuclear pontilhado groço – Anti-Sm e Anti-RNP • Nuclear pontilhado fino – Anti-Ro e Anti-la• Nuclear centromerico – Anti-centrêmero • Nucleolar – Anti-Scl-70 O problema desse exame é que é examinador dependente, ou seja, nem sempre o padrão vai bater com a clinica do paciente ou com os exames específicos que vamos solicitar O padrão de FAN nuclear pontilhado fino denso é o mais frequente em pessoas saudáveis (sem doença autoimune) Teoricamente o FAN é um exame muito sensível então quando ele vem negativo, com exceção do Anti-Ro que pode estar presente mesmo com o FAN não reagente, raramente temos um paciente com FAN não reagente que tenha alguém desses outros autoanticorpos reagentes, por isso fazemos como um exame de triagem, se ele vier não reagente não precisamos fazer o padrão. Porem se um paciente veio encaminhado com suspeita de LES, pedimos os exames gerais (hemograma, provas inflamatórias, urina, PTN 24h) e FAN, esse paciente normalmente retorna dali 3 meses ai abriremos o FAN e posteriormente pediremos o padrão, então no final das contas esse paciente vai demorar em torno de 6 meses para chegar a conclusão de que autoanticorpos ele tem, então nos ambulatórios onde não conseguimos fazer um acompanhamento mais próximo acabamos pedindo o FAN e já pedimos na dependência que já imaginamos com a clínica os autoanticorpos específicos porque se não vai demorar muito para fazermos a clínica do paciente Autoanticorpos Anti-DNA – é um autoanticorpo encontrado no LES, é um critério classificatório da doença junto com o FAN e guarda relação com a atividade da doença, então repetimos a cada 3 ou 6 meses para avaliação da atividade da doença, principalmente da atividade renal Anti-nucleossomo – é igual ao Anti-DNA, porem não é muito utilizado em adulto, se utiliza mais em crianças e também tem relação com atividade da doença, principalmente com glomerulonefrite lupica 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes Anti-Sm – é o autoanticorpo mais especifico para o Lúpus, não é muito comum, em torno de 30% dos pacientes com LES tem Anti-Sm mas quando presente guarda uma determinada especificidade para a doença, é critério classificatório para LES Anti-histona – está relacionado ao LES, principalmente ao Lúpus farmacoinduzido, é aquele paciente que entrou em contato com alguma medicação como Procainamida e desenvolveu Lúpus, geralmente é um quadro de lúpus leve com envolvimento restrito a pele, mucosas e articulação, raramente tem envolvimento renal e de SNC Anti-P-ribossomal – é encontrado no LES e guarda relação com manifestações neuropsiquiátricas, principalmente a psicose lupica Anti-Ro e Anti-La – podem ser encontrados no lúpus. O Anti-Ro está relacionado a um tipo de lúpus eritematoso cutâneo que chamamos de lúpus eritematoso cutâneo subagudo onde o paciente tem lesões psorisiformes em áreas fotoexpostas, principalmente na região do colo e MMSS. Porem Anti-Ro e Anti-La são anticorpos mais específicos e critérios classificatórios para síndrome de Sjogren que é uma doença que cursa com síndrome seca, olho seco, (xeroftalmina) boca seca (xerostomia), pele seca (xerodermia), vaginite seca e obstipação intestinal. Esses dois anticorpos atravessam a barreira placentária com isso estão relacionados ao desenvolvimento do Lúpus neonatal, ou seja, o anticorpo da mãe (porque ela tem lúpus) passou para o bebe e esse levou a alterações naquele feto, essa criança não tem lúpus, ela tem lúpus neonatal pois não foi ela que produziu o autoanticorpo. O Anti-Ro quando atravessa a barreira placentária pode levar a bloqueio atrioventricular do feto, muitas vezes bloqueio BAV total, vamos detectar isso em um feto que tenha frequência atrial de 130-150 e a frequência ventricular < 50, ou seja, nem tudo o que está chegando no átrio passa para o ventrículo, isso ocorre principalmente no momento de formação do coração do feto que é entre a 16º-24º semana gestacional, e é neste momento que nos preocupamos mais, se já temos uma paciente que tenha o Anti-Ro é no momento de formação cardíaca que nos preocupar mais, a paciente vai fazer ECO fetal semanal entre a 16º e 24ºs e depois da 24ºs até o parto quinzenalmente, se por ventura no ECO vermos que esta bloqueando temos que tratar e para isso vamos imunosuprimir esse feto por meio de um corticoide que atravessa a barreira placentária como Beta ou Dexametasona. O Ant-La quando atravessa a barreira pode levar no feto ao desenvolvimento de anemia hemolítica autoimune, plaquetopenia e lesões cutâneas, muitas vezes se for só lesão cutânea podemos tratar apenas com corticoide tópico ou se for leve nem precisa de tratamento. Essa criança não tem lúpus, depois de 6meses esses anticorpos que passaram da mãe pra ela vão ser lavados do organismo e ela vai ter uma vida normal, agora no Anti-Ro se essa criança evoluiu com bloqueio BAV total o único tratamento é marca-passo intraútero ou após o nascimento Anti-RNP está presente também no LES, quando está presente pode ter manifestações também de SNC, mas na reumatologia é um anticorpo especifico de doença mista do tecido conjuntivo Anti-Jo1 – está relacionado as miopatias inflamatórias (poliomiosite, dermatomiosite) que são lesões relacionadas a lesão de fibra muscular, esses pacientes evoluem com mialgia, fraqueza muscular, principalmente em cintura escapular e cintura pélvica Anti-Scl-70 e Anti-centrômero – estão relacionados a esclerose sistêmica, que é uma doença reumatológica relacionada a espessamento cutâneo, fenômeno de Renault, ulceras em polpas digitais, disfagia, odinofagia, pirose, regurgitação, pode ter envolvimento pulmonar desde hipertensão arterial pulmonar até fibrose pulmonar e pode envolver também envolvimento renal. O Anti-Scl-70 guarda associação com a forma difusa da esclerose sistêmica, é quando o paciente tem um espessamento da pele que pode acomete de forma difusa todo o corpo do paciente, e o Anti-centromero guarda associação com a esclerose sistêmica forma limitada, que é o paciente que tem espessamento cutâneo distal ao cotovelo, distal ao joelho e supra-clavicular 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes Anti-PM/Scl – é um anticorpo de uma síndrome de superposição de polimiosite e esclerose sistêmica (PM/ES). Síndrome de superposição é o paciente que tem mais de uma doença autoimune, isso é muito comum pois quando o paciente tem uma doença autoimune é comum que tenha outra ACL, ACA-IgM/IgG e Anti-Beta 2 GP1 IgM/IgG – são critérios para LES porem guardam associação com manifestação clínica da síndrome do anticorpo antifosfolipide, a qual é uma síndrome relacionada a eventos trombóticos tanto em leito venoso como arterial e em qualquer calibre de vasos, além disso as mulheres com a síndrome do anticorpo antifosfolipide podem apresentar morbidade gestacional relacionada a presença desses autoanticorpos como abortamento de repetição, parto prematuro, eclampsia, pré-eclâmpsia e insuficiência placentária, esses eventos ocorrem de maneira flutuante antão podem aparecer após processos infecciosos e por isso precisamos documentar em 2 intervalos diferentes, por exemplo se a ACL veio como reagente temos que esperar 12s, repetir o exame e ela tem que continuar reagente para que possamos dizer que esse anticorpo antifosfolipide é reagente de fato e não ocorreu de forma flutuante ANCA – é um anticorpo relacionado a alguns tipos de vasculites, são vasculites que predominam em pequenos vasos sanguíneo (GEPA, GPA e PAM), essas podem levar a envolvimento de trato respiratório superior, inferior e dos rins. Também é um teste de imunofluorescência indireta, o examinador vai avaliar como esses autoanticorpos se distribuem na lâmina, pode ter distribuição citoplasmático (c-ANCA) ou distribuição perinuclear (p-ANCA), o c-ANCA guarda relação com um antígeno especifico que é a proteinase-3, então se quisermos pedir um exame mais especifico para detectar que o paciente tem realmente um anticorpo contra o citoplasma de neutrófilo vamospedir anti proteinase-3, e o p-ANCA guarda relação com um antígeno chamado mieloperoxidase então vamos pedir anti mieloperoxidase. O c-ANCA esta mais associados a GPA e o p-ANCA esta mais relacionado a GEPA e PAM, todas vasculites de pequenos vasos Fator reumatoide (FR) – é um anticorpo dirigido contra um anticorpo, é uma imunoglobulina dirigida contra a fração FC de outra IgG, pode estar presente em indivíduos saudáveis como em idosos, esta presente na artrite reumatoide, síndrome de Sjogren, LES e endoenças infeciosas (hanseníase, tuberculose, Leishmaniose e Hepatite C), é inespecífico, portanto é necessário o exame clinico para conseguir casar o achado laboratorial com o diagnostico Anti-CCP – é um anticorpo dirigido contra proteínas citrulinadas que são proteínas que sofreram citrulinização, houver a troca de um aminoácido de uma proteína, quando isso ocorre o nosso corpo passa a enxergar essa proteína como estranha e passa a produzir um anticorpo contra essa proteína, esse autoanticorpo é o Anti-CCP. Tem a mesma sensibilidade que o FR para artrite reumatoide, ambos estão presentes em 70% dos pacientes, com isso ter FR e Anti-CCP negativo não exclui a artrite reumatoide, pois 30% dos casos são negativos, porem o Anti-CCP tem uma maior especificidade para artrite reumatoide do que o FR Cascata Complemento É uma das formas de ativação do sistema imunológico. Temos várias formas de ativar essa cascata complemento, temos a via clássica que é ativada a partir da deposição de complexo imune, temos a via alternativa que a ativação parte da superfície de patógenos (bactérias e vírus) e a via da lectina que é ativada também a partir da detecção de carboidratos na superfície de alguns patógenos exógenos Complexo imune é quando um anticorpo se liga a um antígeno, se eu tenho uma doença autoimune esse anticorpo vai se ligar ao seu antígeno o que ira formar um imunocomplexo e esse vai se depositar no seu órgão alvo, um exemplo clássico é o glomérulo, um anticorpo dirigido contra a membrana basal glomerular vai se ligar e formar um imunocomplexo o qual se deposita ali e desencadeia a ativação da cascata complemento Por conta disso faz sentido que no LES dosemos o complexo total e suas frações 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes • Complemento total e frações o CH 50/ C3/ C4 Se houver a ativação da cascata complemento esses fatores do complexo vão diminuir pois vamos gasta-los para formar um sistema imunológico e tentar retirar o imunocomplexo. A dosagem de complemento total e suas frações também é importante para o acompanhamento da doença pois se eu começo a tratar o paciente com lúpus e ele melhora o complemento ele está com menos autoanticorpos Deficiências congênitas de fatores da cascata complemento está relacionados a imunodeficiências e um risco aumento de doenças autoimunes, dentre elas o LES Alterações na cascata complemento pode ser tanto uma causa de doença autoimune como LES mas também pode estar sofrendo consequência da ativação da via clássica por ativação através de complexos imunes, e é sempre importante a comparação, se o paciente hoje tem C3 baixo temos que ver o anterior, se antes o C3 dele era ainda mais baixo então hoje esse paciente pode estar melhorando da doença O autoanticorpo que está associado a atividade do LES, principalmente a glomerulonefrite lupica é o Anti-DNA, então além dos exames comuns (hemograma, urina, proteinúria) que pedimos para avaliação da atividade do lúpus e avaliação clínica, do ponto de vista reumatológico solicitamos periodicamente anti-DNA e dosagem de C3 e C4, assim conseguimos acompanhar o imunológico e clinicamente como o paciente esta evoluindo Complexo de histocompatibilidade humana - MHC • HLA – B27 o MHC classe l o EpAs É um antígeno do complexo de histocompatibilidade humana do tipo l que guarda associação com as espongiloartrites, principalmente com a espondilite anquilosante Vou pedir HLA-B27 para o nosso paciente então quando o paciente tiver clínica de espondilite anquilosante, ou seja, envolvimento do esqueleto axial (sacrilíaco, coluna lombar e cervical), muitas vezes aparecem com clínica de lombalgia (dor de L1 até sulco glúteo) de caráter inflamatório, ou seja, piora com o repouso e melhor com a movimentação, associado a rigidez matinal de intensa e grande duração, pode haver artrite periférica, entesite (inflamação recorrente da fáscia plantar), oveite anterior aguda (hiperemia, dor ocular, turvação visual, lacrimejamento, quadro residivante e unilateral), dactilite (dedo em salsicha, inflamação das articulações dos dedos), pode ter psoríase, doença inflamatória intestinal, nestes casos vou pedir o teste de HLA-B27 para ver se o paciente tem pré disposição genética para o desenvolvimento É uma alteração genética então ou a pessoa tem ou não o HLA-B27, não se adquire ao longo do tempo. Podemos ter um paciente que tem o gene de HLA-B27 porem naquele momento não apresenta espondilite anquilosante então não preciso tratar. Apenas com a clínica eu já consigo fechar diagnostico para espondilite anquilosante mas mesmo assim eu peço ele porque além de relacionado ao diagnostico também está relacionado ao prognostico, o paciente que tem esse antígeno é um paciente que vai evoluir pior, tanto do ponto de vista axial, terão mais inflamação, mais deformidades em sacrilíaco e coluna vertebral como do ponto de vista sistêmico Perfil osteometabólico Vamos solicitar para os nossos pacientes no contexto de perda de massa óssea (osteoporose, osteopenia ou baixa massa óssea para a idade) 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes • Perfil do cálcio o CaT e Cal - Fazemos a dosagem do cálcio total e do cálcio ionizado, lembrando que o Ca ionizado é o mais importante, então se precisarmos solicitar apenas um solicitamos apenas o Ca ionizado o P – é um eletrólito que anda junto com o Ca o Fosfatase alcalina – a que pedimos é a total que é composta por 2 frações, uma fração esta relacionada as vias biliares, e a outra esta relacionada a fração óssea e é esta que nos interessa porem ela sozinha é muito cara então pedimos a total e analisamos se há alteração pois se ela estiver normal significa que a fração óssea também estará, deixamos portanto para pedir a fração óssea apenas se tivermos uma suspeita clinica importante e se esse paciente tem aumento da fosfatase alcalina total o Vitamina D 25OH – é a vit. D que já passou por uma hidroxilação no fígado só que ela ainda não é ativa pois ainda não sofreu 2º hidroxilação no rim. Se a Vit. D estiver em valores adequados automaticamente normalizaremos a calcemia pois ela aumenta a absorção e reabsorção de cálcio o PTH – é produzido e secretado pelas paratireoides em uma situação de hipocalcemia e faz de tudo para elevar a calcemia, vai no osso e retira o cálcio, no rim aumenta a reabsorção renal de Ca, e estimula a 2º hidroxilação da Vit D, ativando-a, junto a isso ele também aumenta a absorção intestinal do Ca. No hiperparatireoidismo esse paciente vai estar tirando muito Ca do osso então isso pode ser uma causa secundaria de merda de massa óssea, preciso tratar isso para melhorar a massa óssea do paciente o Calciúria 24h – vamos dosar a quantidade de Ca nessa urina, o normal é uma perda de até 0,4g/kg em 24h. Se o paciente estiver perdendo muito Ca na urina posso utilizar os tiazídicos Ácido úrico • Diagnostico de gota o Pesquisa de cristais de MUS no liquido sinovial e/ou nos tofos ▪ Microscopia de luz polarizada ▪ Cristal parece com birrefringência negativa forte, assemelhando-se a uma agulha o Apesar de ser o fator de risco mais importante para a gota, o nível de ácido úrico não confirma ou exclui gota o Uricosúria 24h Gota é quando o paciente tem hiperuricemia e esse urato se deposita no intraarticular sobre a forma de monourato de sódio e esses critais são extremamente irritativos para aarticulação, podem se ligar a receptores ou podem ser fagocitados por monócitos e fagócitos o que vai desencadear todo processo inflamatório Ter ácido úrico elevado ou hiperuricemia não é diagnostico para gota, teoricamente para estabelecermos o diagnostico teórico de gota temos que fazer a pulsão do liquido sinovial (artrosentese) e vamos avaliar esse liquido no microscópio de luz polarizada onde iremos ver os cristais de monourato de sódio, que são cristais birrefringentes em forma de agulha com forte birrefringência negativa, se quiséssemos ser ainda mais teóricos para falar que essa artrite é uma artrite gotosa teríamos que visualizar um macrófago fagocitando esse cristal, porem nem sempre temos microscópio de luz polarizada então fazemos um diagnostico empírico, utilizamos a clinica A gota geralmente acomete homens entre 30-50 anos de idade, tem perfil de síndrome metabólica (aumento da circunferência abdominal, hipertenso, diabético e dislipidêmico), como quadro clinico teremos episódios de mono ou oligoartrite franca, na maioria das vezes é monoarticular, o paciente terá uma dor muito grave e junto tem edema, calor, rubor e perda de função na articulação afetada, esse episódio monoarticular dura em torno de 5-10 dias, são autolimitadas, e melhora com uso de anti-inflamatório ou corticoide, depois que ela se resolve o paciente entre em um período intercrítico, fica assintomático so que passa um tempo e ocorre novamente a mesma crise, 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes quando não tratada as crises se tornam cada vez mais frequentes e duradouras, o paciente passa a emendar uma crise na outra e um quadro que antes era monoarticular pode passar a ser poliarticular Ter hiperuricemia não é diagnostico de gota e em contrapartida ter ácido úrico normal não afasta gota pois durante as crises de gota o urato sérico esta depositado na articulação e quando dosamos o ácido úrico estamos dosando o contido no sangue so que o ácido úrico não está no sangue, está na articulação portanto no momento da crise o paciente pode ter uma uricemia normal ou até baixa, por isso que falamos que o nível de ácido úrico não confirma nem exclui gota, é necessário o exame clinico para diagnostico de gota Também podemos fazer a uricosúria de 24h onde iremos dosar o nível de ácido úrico na urina de 24h e podemos classificar o nosso paciente como normoexcretor, hipoexcretor ou hipoexcretor Liquido sinovial O liquido sinovial normal esta presente em pequena quantidade, menos que 1ml, tem alta viscosidade, coloração de incolor a palha, transparente, apresenta < 200 leucócitos, < 25% de polimorfonucleares e a cultura negativa. A partir da analise de um liquido normal vamos classificar os liquido sinoviais alterados onde teremos o liquido sinovial não inflamatório, inflamatório, séptico e hemorrágico O que pode gerar o liquido sinovial não inflamatório pode ser um trauma onde o individuo faz um derrame articular ou osteoartrite Doenças que cursam com liquido sinovial inflamatório são artrite reumatoide, gota, espodiloartrite, síndrome de sjogren, LES e artrite reativa, que dizer que tem um processo inflamatório ocorrendo ali, é inespecífico, eu não sei qual é essa inflamação O liquido sinovial séptico é característico de artrite séptica, onde punciono a articulação e vem pus e consigo detectar a presença do MO dentro da articulação. Artrite reacional é quando o indivíduo teve uma infecção (Chikungunha, Estreptococos β-hemolitico, hepatite C, tuberculose, hanseníase..) e gerou um quadro de artrite, nesses quadros o MO não está dentro da articulação já na artrite séptica conseguimos isolar o MO dentro da articulação Se recebermos um paciente no PA com presença de monoartrite franca, dor importante, edema, calor, rubor e perda de função, é um paciente que tem manifestação sistêmica, muitas vezes tem febre, fadiga e queda do estado geral, quando puncionamos uma articulação e vem pus sabemos que é uma artrite séptica, neste caso vamos fazer anbioticoterapia empírica, não preciso esperar a cultura, vamos começar o antibiótico empírico EV e limpeza articular 13/11/2020 Bévena Rodrigues Lopes Paciente que tem monoartrite aguda temos que investigar artrite séptica, gota e trauma Liquido sinovial hemorrágico é quando há sangue dentro da articulação, chamamos de hemoartrose. Pacientes com hemofilia podem ter hemartroses de repetição por conta disso precisamos também fazer a pulsão articular (artrocentese)
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