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Anestésicos locais Analgesia x anestesia Enquanto a analgesia é usada em dores esporádicas, a anestesia bloqueia a sensação de dor durante um período de tempo específico para que o paciente não sinta dor durante algum procedimento médico. ➢ Analgesia: as drogas usadas têm o objetivo apenas de aliviar ou minimizar a dor. Ou seja, elas provocam a ausência ou o amortecimento da dor sem perda de consciência. ○ Qualquer medicamento utilizado para aliviar a dor é um analgésico. Os analgésicos são uma classe extensa de medicamentos, que se dividem em dois tipos básicos: ○ Narcóticos → reduzem a percepção da dor. São mais fortes e diminuem a atividade cerebral, provocando sono. ○ Não narcóticos → inibem a produção de determinadas substâncias, o que diminui a sensação de dor. ➢ Anestesia: são usadas drogas anestésicas no paciente para que o cérebro dele não reaja à dor durante um procedimento cirúrgico. Dependendo do tipo, o paciente pode ficar consciente ou não. ○ Cada tipo é indicado para um determinado procedimento, por exemplo: ○ Anestesia geral → com ela, o paciente “dorme” profundamente, é ideal para realizar procedimentos mais invasivos. ○ Anestesia regional → o paciente permanece acordado, mas parte do seu corpo é “adormecido”. Aqui se enquadram as anestesias raquidiana e peridural, usadas em partos, por exemplo. ○ Anestesia local → usada apenas na região onde ocorrerá o procedimento, como em tratamentos odontológicos e procedimentos estéticos não muito extensos. A anestesia local foi definida como a perda de sensibilidade em uma área circunscrita do corpo causada pela depressão da excitação das terminações nervosas ou pela inibição do processo de condução nos nervos periféricos. Há muitos métodos de induzir anestesia local ● Trauma mecânico ● Baixas temperaturas ● Irritantes químicos ● Anoxia ● Agentes neurolíticos (álcool e fenol) ● Agentes químicos (anestésico local) Requisitos desejáveis de um anestésico local ● Não produzir lesão nos tecidos ● Bloqueio reversível da sensibilidade ● Boa difusibilidade ● Baixa toxicidade sistêmica ● Início rápido de ação ● Duração adequada para realização dos procedimentos ● Não causar reações alérgicas ● Deve ser estável em solução e passar prontamente por biotransformação. Fundamentos de geração e transmissão de impulso O neurônio pseudo-unipolar é o que mais encontramos nos nervos sensitivos da face. Além disso, são mielinizados. ➔ Um impulso ocorre através de um potencial de ação. Potenciais de ação são despolarizações transitórias da membrana que ocorrem de um breve aumento da permeabilidade da membrana para o Na+ e geralmente também de um aumento tardio para o K+. ➔ Inicialmente, a célula está no seu potencial de repouso. Quando tenho uma lesão, o Na+ começa a entrar na célula de forma lenta, esse é o processo de despolarização lenta. À medida que o Na+ entra na célula e o K+ sai, tem-se uma inversão da polaridade, ou seja, as cargas da célula são invertidas, esse é o limiar de descarga. A entrada abrupta de Na+ na célula é chamada de despolarização rápida. Na repolarização, o K+ vai começar a entrar novamente na célula, voltando para o potencial de repouso. Ou seja, é preciso reequilibrar as concentrações iniciais, e quem faz isso é a bomba de sódio e potássio. Modo e local de ação dos anestésicos locais ● Alterando o potencial de repouso básico da membrana nervosa ● Alterando o limiar de descarga (nível de ativação) ● Diminuindo a velocidade da despolarização (lenta) ● Prolongando a velocidade da repolarização Como os anestésicos locais atuam? 1. Teoria da expansão de membrana Expansão de áreas críticas impedindo o aumento da permeabilidade ao sódio. ➔ Exemplo: Benzocaína entra na membrana lipídica, impedindo a entrada de Na+ na célula. 2. Teoria do receptor específico Receptores específicos para os anestésicos nos canais de sódio impedindo o aumento da permeabilidade ao sódio → ação competitiva com o cálcio. ➔ Deslocamento dos íons cálcio do receptor do canal de Na+, o que permite ligação da molécula do anestésico local a este receptor, o que determina bloqueio do canal de Na+ e redução na condutância do Na+, o que leva a depressão da velocidade da despolarização e não-obtenção do limiar de descarga, juntamente com inexistência de potenciais de ação prolongados → Bloqueio da condução. ➔ Resumo: os anestésicos locais penetram a membrana e entram na célula nervosa. No interior da célula, as moléculas ionizadas de anestésico se ligam aos receptores específicos nos canais de sódio, reduzindo ou impedindo a entrada do Na+ na célula, bloqueando a condução nervosa e a percepção da dor. Características químicas comuns aos anestésicos locais ● São todos sintéticos ● Todos formam sais com ácidos fortes ● Os sais são hidrossolúveis ● As ações de todas as drogas são reversíveis ● São compatíveis com a epinefrina ou drogas correlatas ● Afetam a condução nervosa da mesma maneira ● São capazes de produzir efeitos sistêmicos tóxicos quando atingem uma concentração relativamente elevada no plasma ● Possuem pouco ou nenhum efeito irritante sobre os tecidos, em concentrações anestésicas clínicas Dissociação dos anestésicos locais ➔ A base (molécula não carregada) é responsável pela difusão da droga através da membrana nervosa devido às suas propriedades lipossolúveis. ➔ A forma catiônica (molécula carregada) é responsável pela ligação da droga no sítio receptor dos canais de sódio. ➔ Os anestésicos locais são bases fracas e para uso clínico são adicionadas ao ácido clorídrico formando um sal, que possui maior solubilidade e estabilidade na solução. ➔ Assim, dependem do pH e pKa da solução e do pH tecidual para que suas moléculas possam se dividir em molécula carregada (forma catiônica) e molécula não carregada (forma molecular ou de base). ➔ Quando há um abcesso, o pH do tecido diminui, fazendo com que menos moléculas se apresentem na forma de base, sendo mais difícil anestesiar o paciente. ➔ Quanto maior o pKa (coeficiente de difusão) da solução, menor a quantidade de base no pH tecidual → menor difusão da droga através da membrana nervosa (menor velocidade de difusão, menor velocidade de início do efeito da anestesia). pKa (constante de dissociação) em pH 7,4 Benzocaína 3,5 Mepivacaína 7,6 Articaína 7,8 Lidocaína 7,9 Prilocaína 7,9 Bupivacaína 8,1 Fatores que podem interferir na anestesia ● pH tecidual muito elevado ou reduzido ● Absorção excessivamente rápida do anestésico ● Tipo e tamanho do nervo ● Local de injeção do anestésico (proximidade com o nervo) ● Volume da solução injetada ● Adição de vasoconstritores Absorção - ação sobre os vasos Vasodilatação ● Aumenta a absorção da droga anestésica ● Diminui o tempo de ação do anestésico ● Aumenta o potencial para efeitos adversos da droga Distribuição ● Órgãos de maior perfusão - relação com toxicidade ● Tecidos - maior em pacientes saudáveis ● Eliminação através das vias metabólicas e excretoras ● Os dois últimos reduzem o nível sanguíneo do anestésico local. Biotransformação Grupo Éster → plasmática pela ação da enzima pseudocolinesterase. Produto da metabolização → PABA. Droga Velocidade de hidrólise Cloroprocaína 4.7 Procaína 1.1 Tetracaína 0.3 ➔ As reações alérgicas que ocorrem em resposta às drogas do tipo éster geralmente não têm relação com seu composto original, mas sim com o PABA, que é o principal metabólito deste tipo de anestésico. Grupo amida → ocorre no fígado por enzimas microssomais. A prilocaína (a substância original) não produz metemoglobinemia mas sim um metabólito, a ortoluidina. Eliminação da lidocaína nos vários grupos de pacientes Grupo Meia vida (h) Depuração total (ml/kg/min) Normal 1.8 10 Insuficiência cardíaca 1.9 6.3 Hepatopatia 4.9 6 Nefropatia 1.3 13.7 Excreção Renal para os dois grupos, sendo que no grupo amida taxas maiores de excreção sem metabolização (10 a 16%) podem ser observadas. Ação sistêmica Ação sobre o sistema nervoso central → depressão do SNC ● Inicialmente estimulação→ agitação, tremores, sudorese e convulsões ● Em doses maiores deprimem o SNC provocando sonolência, desmaio e parada respiratória ● Ação anticonvulsivante (0,5 - 4 μg/ml) ● Estágio pré-convulsivo (4,5 - 7 μg/ml) ● Fase convulsiva (7,5 - 10 μg/ml) ● Depressão (> 10 μg/ml) Ação sobre o sistema cardiovascular ● Miocárdica → diminui a excitabilidade elétrica da fibra cardíaca (droga antiarrítmica) ● Relaxamento da musculatura lisa perivascular → vasodilatação periférica ● Concentração > 1 ou 2 tubetes (1,8 a 3,6 ml) levam a uma concentração plasmática de 0,5 a 2 μg/ml ● Ação antiarrítmica 1,8 a 5 μg/ml ● Ação tóxica acima de 5 μg/ml Ação sobre o sistema respiratório ● Em baixas doses promove uma ação relaxante sobre a musculatura brônquica. ● Em alta concentração pode provocar parada respiratória como consequência pela depressão do SNC. ● Todos os nervos são susceptíveis a bloqueio independentes de sua função (motores ou sensitivos). ● A sensação irá desaparecer e reaparecer na seguinte ordem: dor → frio → calor → tato → tono muscular esquelético. Fatores constantes ➔ pKa (coeficiente de difusão) → determina a velocidade de início. ➔ Lipossolubilidade → determina a potência. ➔ Ligação/adesão a proteínas → determina a duração/tempo de bloqueio. ➔ Atividade vasodilatadora → determina a potência e duração/tempo de bloqueio. Fatores variáveis ➔ Conhecimento da técnica ◆ Variações anatômicas ➔ Instrumental ◆ Agulha e seringa ➔ Perícia do operador ➔ Quantidade de solução anestésica.
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