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Projeto de Pesquisa - RAFAEL

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PROCESSO SELETIVO – MESTRADO 2020.1
	MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
	1 PROJETO DE PESQUISA
	1.1 TÍTULO DO PROJETO:
O PODER NAS/DAS SEXUALIDADES: UMA ANÁLISE DO DISPOSITIVO DA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
	1.2 Número de Inscrição/Protocolo: 201978693
	1.2 LINHA DE PESQUISA:
· Educação, Cultura, Sociedade
	1.4 Possível Orientador(a): Prof. Dr. Antônio Carlos do Nascimento Osório
2 RESUMO
O presente projeto de pesquisa foi elaborado com vistas ao processo seletivo do curso de Mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Educação, da UFMS. Para tanto, objetiva compreender como a linguagem é tomada como dispositivo de poder frente ao desenvolvimento das sexualidades na educação escolar. Assume como pressuposto teórico-metodológico a abordagem foucaultiana, considerando assim a necessidade de se compreender o que é a linguagem, a noção de dispositivo de poder em Foucault, as particularidades da educação escolar, bem como o imperativo de historicizar as sexualidades nas dimensões ético, político e pedagógica. Como caminho metodológico, toma-se a compreensão do método como a experiência do estudo, da pesquisa e do enfrentamento teórico, e a partir da epistemologia qualitativa opta-se pelo estudo de caso a ser desenvolvido em duas escolas em Campo Grande-MS (pública e privada), nas quais serão realizadas entrevistas com profissionais que trabalham nestas instituições: um(a) coordenador(a); um(a) professor(a); um(a) administrativo, totalizando seis práticas discursivas sobre o tema da pesquisa. Ao analisar os discursos serão buscadas suas especificidades, tendo na interpretação dos dados a apresentação dos elementos que controlam, selecionam, organizam e redistribuem a linguagem e o discurso e, na especificidade aqui contida, na educação escolar frente ao desenvolvimento das sexualidades. Ao fim, espera-se que o material produzido possa servir para a formação de professores, o ensino dos alunos, e também a discussão das sexualidades entre os trabalhadores da instituição.
3 INTRODUÇÃO
Pesquisar sobre o tema das sexualidades não é uma tarefa fácil a ser desenvolvida. Partindo de estudos realizados por diversos autores e, principalmente, por Michel Foucault, neste projeto será apresentada a temática do desenvolvimento das sexualidades no âmbito escolar em consequência das influências dos sistemas de ensino, ou seja, como as sexualidades são manipuladas dentro de um sistema seguido e cumprido dentro do que é chamado de disciplina escolar, sistema desenvolvido por todo corpo técnico-administrativo da instituição escola. A construção oculta da discriminação que se levanta dia após dia dentro das salas de aula é um assunto que nunca deve ser dispensado, ainda mais em se tratando de educadores. Palavras ou gestos que já são considerados tão naturais passam despercebidos e levantam o que se chama de cultura, fortalece o preconceito e a desvalorização das chamadas minorias. 
Neste ínterim, toma-se como objetivo compreender como a linguagem é tomada como dispositivo de poder frente ao desenvolvimento das sexualidades na educação escolar. E para tanto, considera-se importante entender o que é linguagem, compreender a noção de dispositivo de poder em Foucault, historicizar as sexualidades nas dimensões ética, política e pedagógica, e compreender as particularidades da educação escolar. Por este motivo, a escolha pelo título do presente projeto, considerando-se que a linguagem é utilizada como dispositivo de poder no ambiente escolar que pode permitir ou negligenciar o desenvolvimento das sexualidades.
Como base, as leituras em Foucault serão feitas no intuído de se entender o fortalecimento do poder exercido dentro dos sistemas alcançando principalmente a educação, já que é através dela que a disciplina é trabalhada e moldada dentro do que se julga importante desde os primeiros anos de vida do indivíduo. Como esse poder surge e toma forma, traçando regras, impondo padrões a serem seguidos e ditando o que pode e o que não pode ser feito, falado ou até mesmo pensado? A importância do conhecimento é imensurável. A construção do saber faz-se necessário no processo de quebra de correntes e ajuda no crescimento da formação dos seres críticos e pensantes, e de suas sexualidades.
Na condição metodológica a partir da perspectiva foucaultiana, toma-se que não há como considerar apenas um método. Isso porque através do estudo de suas obras percebe-se sua clareza em dizer que é possível que haja vários métodos, inviabilizando a possibilidade de se ter um único método a ser seguido, segundo a tradição. Faz-se necessário entender que se a compreensão de método está no conjunto de instrumentos operados mediante uma sequência de procedimentos a serem executados na pesquisa, não há um único método pois o autor considera que este deva ser escolhido caso a caso, a partir da construção do problema ou objeto de pesquisa. Tal objeto leva o pesquisador à escolha de estratégias, instrumentos e arranjos, o que se torna possível compreender o método como caminho para se chegar a um resultado, não sendo uma condição a priori da pesquisa a realizar. A nossa modernidade, segundo Foucault (1986), exige um salto qualitativo, pois o método muitas vezes é tornado como uma camisa de força.
A intenção desta pesquisa não é permanecer engessado em métodos ou fórmulas, mas ir em direção à resultados plausíveis às questões mais relevantes quanto ao tema proposto. Desenvolver um trabalho prático e teórico, entrelaçando a base histórica com as problemáticas atuais voltadas às sexualidades é o primeiro norte a ser traçado neste projeto de pesquisa. Fundamentado pela epistemologia qualitativa, adequada ao estudo da linguagem, é traçado um caminho metodológico seguindo as exigências do objeto de estudo. Será utilizado o estudo de caso como uma possibilidade para compreender o objetivo geral da pesquisa aqui proposta. 
É difícil pensar que hoje, em pleno século XXI, com tamanho desenvolvimento cientifico e tanta informação disponibilizada em tempo real, ainda tenha que se discutir a necessidades do diálogo sobre esses assuntos, levando em consideração que muitas coisas que as pessoas viveram no passado não se desenvolveram de forma positiva e ainda causam danos nos dias de hoje. O desconforto em falar sobre determinados assuntos tem uma produção histórica, e a cultura construída até o presente momento pode ser uma das causas de tudo isso.
Mas, cabe reiterar que discutir sexualidades é diferente de discutir sexo. As sexualidades estão para além dos órgãos genitais. É tudo que aflora na fase da puberdade, são os hormônios, os desejos que se tem, as possibilidades de vivências, etc. Neste ínterim, se as sexualidades fossem mais discutidas, sem medo, sem limitações e sem vergonha, problemas que se estenderam e se estendem até o momento se extinguiriam e não seria necessário permanecer sempre nas teorias, tendo o oposto como prática.
A educação deve então ser entendida como instituição, constituída em uma determinada sociedade, que transmite aos indivíduos a forma de organização desta para o trabalho, para o pensar, sentir, agir, entre outros, elementos estes considerados culturais necessários à sobrevivência no ambiente, ou seja, uma síntese que transponha nesses indivíduos, inicialmente biofisiológicos, todas essas características sociais. E assim, a instituição Escola tem como objetivo fundamental expandir a educação, alcançando as mais distantes comunidades e os mais difíceis locais de acesso. Tem como uma das estratégias, a mudança do comportamento do indivíduo no uso do seu poder social. Assim, desenvolve diferentes mecanismos de controle e, com isso, reivindica por um disciplinar no que define como adequado dentro das necessidades sociais.
As dúvidas aqui contidas se direcionam aos olhos de quem lê a real importância das discussões relacionadas às construções das sexualidades. O estudo das influências diretas e indiretas na construção do ser socialatravés do meio escolar deve sair das folhas de papel e atingir os mais distantes locais possíveis. As discussões iniciadas devem levar a um real desenvolvimento em busca de uma sociedade que respeita e colabora com o que é diferente deve se fortalecer e alcançar gerações futuras.
Considera-se então que discorrer tal problema de pesquisa pelos pensamentos e obras de Michel Foucault permitirá esclarecer a desmistificação de conceitos discriminatórios que são levantados ao longo dos tempos, construídos juntamente com a cultura e costumes do ser humano. Compreender através de suas palavras como a linguagem toma forma de poder impondo regras, limitando e usando a coerção como base principal é o mesmo que abrir os olhos para enxergar um caminho de evolução e mudança.
Sabe-se que para existir o poder é preciso força, ao passo que para estabelecer o saber bastaria apreender ou ensinar. Assim, do entrecruzamento de um e de outro, poder e saber, é que se dá o desenvolvimento das sexualidades e a constituição do sujeito. E por este motivo, entende-se que não há o certo sem o errado e não há o poder sem que haja o que se submete a esse poder.
4 JUSTIFICATIVA
Pesquisar sobre as sexualidades tem sido historicamente uma tarefa árdua. Isto porque tal temática sempre esteve envolta na dinâmica limítrofe do que a cultura, em determinados momentos, constrói e considera como certo ou errado, aceitável ou inaceitável, e que quaisquer deslizes podem levar a uma área sujeita a censuras. Principalmente frente ao atual momento histórico e político do país, no qual tem-se visto o avançar das frentes conservadoras e da retomada de processos que, anteriormente, já se considerava avançados, como a potencialização dos preconceitos contra identidades e orientações sexuais, as discriminações de raça, etnia, credo e, ao fim, a violência simbólica se transformando em violência física.
Mas, como toda forma de produção de conhecimento, pode-se considerar que neste momento em que todas estas artimanhas têm se levantados, há a possibilidade de construir mecanismos de luta e fortalecimento de ações para o confronto, para a busca por melhores condições de vida e, acima de tudo, pelo reconhecimento da humanidade como condição básica para todos.
Assim, propor um projeto de pesquisa na perspectiva da educação, que traga em seu contexto as discussões sobre a linguagem como um dispositivo de poder no ambiente escolar coloca também a necessidade de compreender o processo educativo em todos os seus quesitos e, em especial, nas determinações que a instituição escola tem construído historicamente para a educação. Isto porque a escolarização “[...] se postula por uma prática cultural de interesse pontual, em um locus determinado, criado pela sociedade, destinado a reproduzir os conflitos presentes na organização da sociedade e adequados às rotinas, respaldadas por valores sociais, em outro espaço de saber/poder.” (OSÓRIO, 2010a, p. 90). 
Dessa forma, compreender esta organização enquanto uma condição formal remete à também compreender que esta forma está atrelada a um amplo universo de mecanismos de organização, controle, isto é, dispositivos de poder, que são utilizados pelos sujeitos e instituições da sociedade para sua própria construção e desenvolvimento. Portanto, se a sexualidade deve ser vista para além somente do ato sexual, englobando então as diversas representações, possibilidades e construções, tanto sociais quanto culturais e subjetivas, esta própria sexualidade mantém diálogos com a dinâmica do poder educativo.
Mas que poder é este? Como ele é desenvolvido? E como, a partir da linguagem, é assumido no ambiente escolar para a organização das sexualidades de seus educandos? Tais perguntas são mantidas desde leituras basais realizadas até discussões teóricas mais avançadas, já a partir da matriz teórico-metodológica escolhida, pautada assim nas obras de Foucault e colaboradores. 
É certo que Foucault possui uma ampla literatura sobre a produção e o desenvolvimento da sexualidade, principalmente presentes no livro História da Sexualidade, volume I: A vontade do saber (FOUCAULT, 1976); volume II: O uso dos prazeres (FOUCUALT, 1984a); volume III: O cuidado de si (FOUCUALT, 1984b). E a partir destes materiais, outras obras de autores contemporâneos têm utilizado de seus escritos para responder a indagações, questionamentos, e buscar assim constituir novos conhecimentos sobre a organização do poder e da sexualidade na dinâmica social. Assim, o presente projeto tomará como subsídio tais produções, e buscará, então, avançar tais discussões quando recuperará, na realidade da escola, o plano central para questioná-la e desconstruí-la enquanto corpo de conhecimento cristalizado.
Defende-se então a importância desta pesquisa pois de acordo com levantamento bibliográfico realizado, as obras produzidas têm reiterado apenas um (ou alguns) dos elementos: ou centram-se na sexualidade, ou na educação escolar, ou no poder. Até o presente momento não foram encontradas, então, pesquisas que produzam o diálogo entre o poder, a sexualidade e a escola, visando assim compreender como a linguagem é tomada como dispositivo de poder frente ao desenvolvimento das sexualidades nesta especificidade da educação, a saber: educação escolar. 
Cabe considerar que a afirmação acima apresentada está estritamente correlacionada aos limites do levantamento bibliográfico produzido até o momento no tocante à idiomas, momentos, e conhecimento de algumas obras. Assim, aprofundar esta busca através da produção de uma pesquisa de mestrado poderá permitir a (re)descoberta de universos linguísticos sintetizados nos textos, livros, com o intuito de que tais conteúdos respondam ao objetivo aqui proposto.
Torna-se, então, uma oportunidade única na medida em que o conteúdo aqui descrito primariamente possui grande importância e, acima disto, viabilidade de execução. Grande parte das obras de Foucault estão disponíveis nas bibliotecas, e também no universo on-line, e outros materiais que ainda estão em lançamento (como, por exemplo, o volume IV de História da Sexualidade) serão utilizados no decorrer do processo a partir de parcerias com outros pesquisadores que também assumem esta matriz epistemológica.
Outra consideração sobre a oportunidade de desenvolvimento desta pesquisa reside no fato da acessibilidade ao universo escolar, pois instituições na cidade de Campo Grande-MS mostraram-se disponíveis para a colaboração com a pesquisa, no percurso metodológico destacado abaixo. Este fator funciona como facilitador na viabilidade do projeto, uma vez que a construção do conhecimento depende da coleta de dados para posterior análise e interpretação.
Todavia, sabe-se que problemas podem acontecer pois quando pretende-se discutir a linguagem como dispositivo de poder frente a sexualidade, o próprio ambiente escolar, responsável pela consolidação de novas estruturas linguísticas nos alunos, pode alterar o percurso metodológico, inviabilizando os combinados ora produzidos. Mas, justamente antepondo este caso é que outras instituições têm sido buscadas, como uma garantida para o desenvolvimento da pesquisa.
Toma-se, como intuito final, que o material produzido possa ser utilizado pela própria organização escolar, na perspectiva de subsidiar a formação de professores, o ensino dos alunos, e também a discussão das sexualidades entre os trabalhadores da instituição. Isso porque compreende-se que a pesquisa científica sempre deve retornar a sua condição inicial de desenvolvimento, ou seja, partindo da realidade, organizar os pensamentos, desenvolver possibilidades de práticas, e retornar à realidade.
Buscar-se-á, também, a produção de materiais bibliográficos como artigos científicos e capítulos de livros, para que o acúmulo do conhecimento possa ser considerado também na relação entre poder, linguagem, sexualidades e educação escolar. Produzir deve estar, para o pesquisador, como objeto basal de construção do conhecimento, e socializar tais dados podem permitir que, futuramente, constituam condiçõesde embasamento e fortalecimento de políticas públicas realmente comprometidas com a diversidade do ser humano no contexto educativo.
5 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Desde a década de 1970, os debates relacionados à diversidade sexual e de gênero têm tomado seus lugares no contexto social. Iniciou-se quando os grupos feministas, gays e lésbicos denunciaram as exclusões de suas representações de mundo nos programas curriculares das instituições escolares. No Brasil, essas discussões se restringiam apenas dentro da Sociologia e Psicologia e, somente nos anos de 1990 passaram-se a abranger tais conteúdos na área da Educação. 
No cenário de produções brasileiras, a pesquisadora e professora Guacira Lopes Louro escreveu, em seus estudos sobre a exclusão das minorias de gênero na história da educação, o livro Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estruturalista (LOURO, 1997). A partir dessa publicação, pesquisadores passaram a se aprofundar no assunto e começaram a gerar pesquisas sobre os temas gênero e sexualidade. 
A temática da educação sexual passou a ser uma das grandes preocupações dentro e fora das escolas brasileiras, já que historicamente era e ainda é considerada polêmica. A ideia de falar ou não falar sobre tal temática abertamente nas escolas gerou uma grande discussão, pois a grande questão colocada é: não cabe à família tratar de tal assunto com seus filhos em casa? É claro que hoje sabe-se da importância da conversa e do esclarecimento de assuntos relacionados as sexualidades dentro da família, mas será que os pais estão preparados para lidarem com tal assunto usando apenas suas experiencias de vida como base? Se a escola é um “[...] espaço de disposição, arranjo, formação, instrução, educação do corpo e da mente, marcada por princípios, métodos, sistemas e doutrinas” (OSÓRIO, 2010b, p. 101), com o principal objetivo de ensinar sobre todos os temas julgados necessários para se chegar à vida adulta, porque não se discutir Gênero e Sexualidades de forma natural como se ensina Língua Portuguesa, Matemática ou Arte?
Neste quesito, torna-se fundamental compreender a dinâmica linguística como uma forte ferramenta de poder na organização e desenvolvimento da educação e, em específico, da educação escolar. Através dela, se manipula, se convence e se determina. Nenhuma linguagem é neutra e, quando se trata dela, nada é imparcial. Todas as relações humanas são linguisticamente guiadas. A língua é considerada o elemento mais convencional em que toda a relação se estrutura, vive e se determina. Entretanto, a língua sendo considerada uma poderosa ferramenta, é usada também para disseminar ódio, preconceito e discriminação. 
Quando se pensa na linguagem dentro do âmbito escolar, pode-se perceber claramente como ela é usada na transmissão de conhecimento e na construção dos saberes, sejam eles bons ou ruins. Por outro lado, dessa mesma forma uma única palavra pode causar uma grande reviravolta nos pensamentos e nas construções pessoais e sociais. Assim, é exatamente na língua que se estabelece e se naturaliza as diferenças simbólicas, sociais e culturais no tocante à sexualidade, que acabam nutrindo também fenômenos de discriminação. É através da língua que a professora ou o professor define se os alunos são bons ou ruins. E é através dessa mesma língua que esse profissional se capacita e adquire conhecimento para fazer tal julgamento.
A língua é um sistema simbólico, com suas infraestruturas, história e gramática (em seu amplo sentido semiológico), mas que está diretamente implicada em nossa vida cotidiana material. É um lugar onde expressamos nossos sentimentos, quem somos ou quem nos tornamos, e onde investimos nossos desejos. É também o lugar onde o poder se expressa. Por isso, a língua não é simplesmente um meio de comunicação: é dentro e por meio dela que formamos e performamos nossa identidade social e negociamos a história e as relações sociais e históricas (IBRAHIM, 2003, p. 171).
Dentro do contexto escolar, entende-se que cada nível carrega determinados conteúdos que levam ao desenvolvimento de possibilidades específicas de atuação pelo sujeito na realidade. Passando por todos os níveis de formação, os conhecimentos ficam cada vez mais complexos e conduzem à alteração contínua da consciência que, frente as novas etapas, adquire novas organizações permitindo ao sujeito maior elaboração do conhecimento sobre a realidade social e histórica que o circunda. 
Portanto, a educação utiliza a linguagem como instrumento mediador entre o externo – real objetivo, e o interno – subjetivo, permitindo que os aspectos sociais sejam interiorizados. Isso só é possível no ser humano, pois o indivíduo nasce com uma estrutura cerebral que permite o desenvolvimento dessa racionalidade. Com isso, cada vez mais os grupos considerados minorias tomam seu lugar nas discussões e mudanças sociais. Quanto mais o indivíduo toma conhecimento sobre seu lugar na sociedade, mais forte e determinado fica em lutar por seus direitos e, por outro lado, quanto menos se discute esses assuntos nos meios sociais (inclusive no ambiente escolar), menos atritos são gerados contra o poder político. Assim, o silêncio sobre essas questões enfraquece as minorias e fortalece este poder, determinado a priori pela linguagem.
Quando recorremos aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997), compreende-se, na teoria, a real importância de se discutir sexualidades ao decorrer dos anos escolares.
As crianças e adolescentes trazem noções e emoções sobre sexo, adquiridas em casa, em suas vivências e em suas relações pessoais, além do que recebem pelos meios de comunicação. A Orientação Sexual deve considerar esse repertório e possibilitar reflexão e debate, para que os alunos construam suas opiniões e façam suas escolhas (BRASIL, 1997, p. 67).
Sabe-se que muito do que se estabelece nos PCNs não é o que se desenvolve na prática. Isso porque se tratando da instituição social Escola, quando envolve um tema de tamanha complexidade desde o século XIX, período esse em que, segundo Foucault (1999), o ser humano passa a ser o objeto de pesquisa e as sexualidades começam a fazer parte de estudos por grandes nomes, deve-se levar em conta o interesse político e social e o poder exercido por estes. 
Analisando o que se encontra nos PCNs sobre o tema gênero e sexualidade, pode-se perceber que por mais que tenham representado um avançado enquanto possibilidade de organização educativa na década de 1990, não há nestes um aprofundamento no que diz respeito às sexualidades. Embora esse tema seja considerado transversal, nada se especifica com relação à homossexualidade ou a transexualidade, por exemplo, ou seja, não há uma especificidade que implique em defesa das sexualidades em específico. Então, resta ao\à educador\a ser consciente da importância de abordar ou não tal discussão em sua disciplina. Em outras palavras, pode-se entender que o educador ou a educadora não precisa se aprofundar, de fato, no tema em questão, deve-se abordar representações sociais acerca do masculino e do feminino, porém as outras práticas sexuais, as que estão fora do padrão heteronormativo, não precisam ser discutidas.
A escola não substitui nem concorre com a família, mas possibilita a discussão de diferentes pontos de vista associados à sexualidade, sem a imposição de valores. Em nenhuma situação cabe à escola julgar a educação que cada família oferece a seus filhos. Como um processo de intervenção pedagógica, tem por objetivo transmitir informações e problematizar questões relacionadas à sexualidade, incluindo posturas, crenças, tabus e valores a ela associados, sem invadir a intimidade nem direcionar o comportamento dos alunos. (BRASIL, 1997, p. 67).
A importância de se conversar e trabalhar a temática da sexualidade dentro da sala de aula é imensa. Quando se fala em sexualidades, fala-se em todos as possibilidades de orientações sexuais: hétero, bi, trans, gay, lésbica, travesti, etc. Fala-se sobre elas em toda plenitude possível.E tais discussões são importantes porque quanto mais os anos passam, mais o próprio ato sexual passa a ser uma prática precoce entre as crianças, o que pode culminar em gravidez indesejáveis, doenças sexualmente transmissíveis, além de descobertas feitas por esses pequenos e imaturos seres que, muitas vezes, não fazem a menor ideia das consequências de certas práticas sem orientação, sendo necessária a discussão e o amparo por parte dos mais experientes no assunto que possam, assim, conduzi-los a um desenvolvimento no processo de identificação com quaisquer sexualidades.
Fomentar essa discussão e usar isso como favorável no currículo escolar permitiria, como consequência, a diminuição de grandes problemas causados pelo silêncio que hoje se pratica. Ao falar sobre os abusos sexuais, por exemplo, possibilitaria trazer à tona diversos casos de violências sofridas em casa por crianças vítimas dessas práticas sem saberem o que de fato está acontecendo. 
A escola não deve influenciar ou defender um modo de vida, mas deve estar aberta a diferentes pontos de vista sobre os mais diversos temas. A instituição não deve impor valores nem julgar o que cada família acredita, mas trocar informações e problematizar questões levantadas pelos estudantes, questões estas que muitas vezes (para não dizer que em quase todos os casos) não tem abertura ou liberdade suficiente para discutir com familiares.
Mas se esse assunto é tão importante, por qual motivo isso não é naturalmente discutido dentro da família e, automaticamente, dentro da sala de aula? Aqui pode-se então recorrer à palavra tabu, a “uma ação proibida [...] medo ou proibição de origem religiosa, social ou cultural; Assunto que não se pode ou não se deve falar” (HOLANDA, 1975). Em meados do século XIX, quando assuntos relacionados a sexualidade humana começam a vir à tona, o que fugia de uma pseudo normalidade era considerado doença. Interessar-se por pessoas do mesmo sexo, ou até mesmo falar sobre a menstruação saía do contexto considerado normal e, aqui, já se dava início à cultura do preconceito e discriminação sobre estes assuntos.
É difícil pensar que hoje, em pleno século XXI, com tamanho desenvolvimento cientifico e tanta informação disponibilizada em tempo real, ainda tem que se discutir a necessidades do diálogo sobre esses assuntos, levando em consideração que muitas coisas que as pessoas viveram no passado não se desenvolveram de forma positiva e ainda causam danos nos dias de hoje. O desconforto em falar sobre determinados assuntos tem uma produção histórica, e a cultura construída até o presente momento pode ser uma das causas de tudo isso.
Discutir sexualidades é diferente de discutir sexo. As sexualidades estão para além dos órgãos genitais. É tudo que aflora na fase da puberdade, são os hormônios, os desejos que se tem, as possibilidades de vivências, etc. Neste ínterim, se as sexualidades fossem mais discutidas, sem medo, sem limitações e sem vergonha, problemas que se estenderam e se estendem até o momento se extinguiriam e não seria necessário permanecer sempre nas teorias, tendo o oposto como prática.
Infelizmente o não falar sobre o assunto tornou-se comum, ou seja, ocultar o que incomoda a maioria é o mais cabível a se fazer. Agindo dessa forma as práticas de discriminação e preconceito são mascaradas e ficam ainda mais difíceis de serem extinguidas. Pode-se dizer que, em alguns casos, essas práticas são potencializadas de forma oculta e acabam gerando mais violência e impunidade.
O processo de ocultamento de determinados sujeitos pode ser flagrantemente ilustrado pelo silenciamento da escola em relação aos/às homossexuais. No entanto, a pretensa invisibilidade dos/as homossexuais no espaço institucional pode se constituir, contraditoriamente, numa das mais terríveis evidências da implicação da escola no processo de construção das diferenças. De certa forma, o silenciamento parece ter por fim “eliminar” esses sujeitos, ou, pelo menos, evitar que os alunos e as alunas “normais” os/as conheçam e possam desejá-los/as. A negação e a ausência aparecem, nesse caso, como uma espécie da garantia da “norma” (LOURO, 1997, p. 89).
Esse ato de ocultar as diversas práticas sexuais é um risco e contradiz o que, na teoria, julga-se correto a ser feito. Quando se analisa a conduta heteronormativa, onde considera-se que o homem e a mulher heterossexual são os padrões a serem seguidos e copiados, e tudo o que está fora disso é considerado anormal, percebe-se que esconder o fato de que a diversidade existe não anula a sua existência, mas faz com que os olhos se fechem às minorias. Este ato causa revolta aos que conseguem enxergar, mesmo em meio a tanta negligência, os menos favorecidos.
A educação deve então ser entendida com instituição, constituída em uma determinada sociedade, que transmite aos indivíduos a forma de organização desta para o trabalho, para o pensar, sentir, agir, entre outros, elementos estes considerados culturais necessários à sobrevivência no ambiente, ou seja, uma síntese que transponha nesses indivíduos, inicialmente biofisiológicos, todas essas características sociais. E assim, a instituição Escola tem como objetivo fundamental expandir a educação, alcançando as mais distantes comunidades e os mais difíceis locais de acesso. Tem como uma das estratégias, a mudança do comportamento do indivíduo no uso do seu poder social. Assim, desenvolve diferentes mecanismos de controle e, com isso, reivindica por um disciplinar no que define como adequado dentro das necessidades sociais. Segundo Osório e Osório (2004, p. 1), “[...] ela se institui pelo propósito da negação do saber, do domínio da liberdade, mas com um papel bem definido, o controle disciplinador e reprodutor dos condicionantes sociais”.
A palavra poder vem do latim possum, que significa ser capaz; autoridade. Assim, exprime o sentido de persuasão, controle, regulação, etc. Quando se possibilita entender essa palavra como uma relação de forças, entende-se que o poder incita, induz, desvia, torna fácil ou difícil, limita e amplia, torna mais ou menos provável. Foucault, em sua trajetória, não estudou para criar uma teoria de poder, mas para identificar os sujeitos atuando sobre outros sujeitos. O poder “não é algo que se adquira, arrebata ou compartilhe” (FOUCAULT, 1988, p.89), pois “as relações de poder não estão em posição de superestrutura [já] que o poder vem de baixo, isso é, não há no princípio das relações de poder, e como matriz geral, uma oposição binária e global entre os dominadores e os dominado” (FOUCAULT, 1988, p.90).
O poder não é subjetivo, é intencional. A partir dessa premissa, entende-se que as relações se tornam imponentes e controladoras. Quando uma pessoa cumprimenta alguém, é natural que esse alguém se sinta na obrigação de responde-la positivamente. Isso acontece porque esse indivíduo não quer ser taxado de chato ou mal-educado. Esse comportamento é construído de geração em geração através da cultura, e nada mais é do que um ato de coerção desenvolvido no meio em que o indivíduo está inserido. Assim, pode-se compreender quando Foucault (1988) considera que o poder só pode ser tomado no nível das relações; ele não é algo que se tem, mas algo que se exerce “[...] a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis” (FOUCAULT, 1988, p. 102). 
Quando o autor se refere a relações desiguais e móveis, tendemos a compreender que o poder se estabelece em meio à distintos níveis sociais, por exemplo, quando se trata de hierarquia ou poder aquisitivo. Uma pessoa considerada rica pode exercer o poder sobre outra que esteja abaixo de seu nível aquisitivo. Isso acontece na maioria das vezes porque a própria pessoa que se sente inferior a outra se submete ao poder que esse indivíduo exerce através dos bens sobre ela. Isso está intrínseco em meio as culturas, e acaba se tornando um processo naturalizado.
As características do indivíduo estão relacionadas ao seu desenvolvimento construído através de sua vivência, ou seja, depende de suas experienciasao decorrer da vida. Quando uma criança nasce em um nível social considerado elevado, naturalmente se desenvolve em meio às práticas e costumes diferentes de uma criança que nasce e cresce dentro de uma família de classe inferior. A construção feita pelo indivíduo ao decorrer de sua vida, o que ele é ou o que ele almeja ser, depende dos contatos e experiências obtidas até o atual momento presentes em sua existência. Portanto, quando se pensa sobre o processo escolar como o caminho a ser percorrido até o momento em que a pessoa é considerada apta a partilhar de atividades profissionais, diversos questionamentos são suscitados: Quais serão esses caminhos? Como realmente deve ser ensinado? O que deve ser discutido? Qual é o verdadeiro poder da escola no que diz respeito ao ato de formar cidadãos críticos e pensantes? E, no ínterim, qual o verdadeiro papel da educação escolarizada na produção das sexualidades? Estes questionamentos se fazem necessários já que parte do que o indivíduo vivencia dentro da escola enquanto mecanismo de linguagem constrói sua personalidade.
No presente momento no Brasil, muito se discute sobre a educação para as diferenças, entretanto não se vê efeito plausível na prática. Ao se pensar nessas discussões, espera-se que como resultado traga melhorias e crescimento no que diz respeito à compreensão da sociedade sobre essas diferenças, e com isso, a discriminação e o preconceito percam sua força até sua extinção. Infelizmente isso não acontece na velocidade que se deseja. Hoje a população vive em um cenário político de intolerância que consequentemente se projeta nos espaços da vida privada, através das ideologias que dificultam a libertação dessas formas padronizadas de ver a relação entre duas pessoas, seja amorosa ou até mesmo amistosa.
Em uma entrevista dada em 1982, cujo título era Sexo, Poder e Política da identidade, Foucault diz: 
[...] se não há resistência, não há relações de poder. Porque tudo seria simplesmente uma questão de obediência. A partir do momento em que o indivíduo está em uma situação de não fazer o que quer, ele deve utilizar as relações de poder. A resistência vem em primeiro lugar, e ela permanece superior a todas as forças do processo, seu efeito obriga a mudarem as relações de poder. Eu penso que o termo “resistência” é a palavra mais importante, a palavra-chave dessa dinâmica (FOUCAULT, 1982, p.5-6). 
Para o autor, o dizer “não” não deve ser considerado apenas um ato de rebeldia, não é apenas uma negação. O “dizer não constitui uma forma mínima de resistência. Mas naturalmente, em alguns momentos é muito importante. É preciso dizer não e fazer deste não uma forma decisiva de resistência (FOUCAULT, 1982, p. 6)”. Em outras palavras, se não há resistência, como dizer que há poder? É como pensar que há sombra sem luz ou pensar no bem sem o mal. A sombra só existe porque há luz e ainda, se não existe o mal, o que pode ser considerado o bem? Nesse mesmo pensamento, não existe um sem o outro. Não existe sexualidades sem a própria definição e organização da sexualidade.
Quando se diz que o poder não é subjetivo e sim intencional, entende-se que ele surge por meio das vivências e das crenças. 
O poder não existe. Quero dizer o seguinte: a ideia de que existe, em um determinado lugar, ou emanando de um determinado ponto, algo que é um poder, me parece baseada em uma análise enganosa e que, em todo caso, não dá conta de um número considerável de fenômenos. Na realidade, o poder é um feixe de relações, mais ou menos organizado, mais ou menos piramidalizado, mais ou menos coordenado. Portanto, o problema não é de construir uma teoria do coordenado. Portanto, o problema não é de construir uma teoria do poder [...] (FOUCAULT, 1988, p. 248).
	
O autor afirma que no meio social existem práticas rituais, ou seja, normas e regras que são impostas. Estas, por sua vez, definem a posição que um indivíduo deve ocupar em determinado diálogo, e consequentemente, os enunciados que deve produzir e o comportamento adequado. Essas abordagens tornam-se claras quando observadas a partir do meio religioso, por exemplo. Quando analisado sistematicamente, pode se compreender como esses rituais organizam o sujeito de forma a fazer parte desse grupo de acordo com suas práticas e costumes. 
Segundo Foucault (1987), o sistema educacional também mantém e/ou modifica a apropriação dos discursos. Ele defende que o sistema educacional, ao mesmo tempo que pode ser um instrumento de acesso ao discurso, limita o sujeito, prescrevendo o que é e o que não é permitido. Assim sendo, entende-se que esse mesmo sistema se apropria do controle e conduz ao discurso. Deste modo, pode-se notar a presença do poder, uma vez que o sistema educacional tem como propósito disciplinar o sujeito por meio do discurso. Em sua obra Vigiar e Punir, ele afirma que a sociedade é vigiada e controlada pelo panoptismo, o qual consiste em “um modelo generalizável de funcionamento, uma maneira de definir as relações do poder com a vida cotidiana dos homens” (FOUCAULT, 1988, p. 169-170).
O panoptismo nada mais é do que uma forma de poder sutil, que já existe na sociedade, e é invisível aos homens. Analisando as regras existentes em uma instituição, seja ela qual for, pode-se perceber que as pessoas acabam cumprindo todos os rituais sem perceberem que estes são formas de controle, ou seja, o indivíduo já está tão habituado com os costumes que não se dá conta de que está sendo controlado. Dessa maneira, todas as instituições sociais, seja escolas, hospitais, fábricas, dentre outras, disciplinam uma sociedade inteira exercendo seu poder unificador. Dentro dessa perspectiva compreende-se que o indivíduo que não segue as regras e normas está fora do contexto e, então, sofre com a exclusão e interdição, sendo chamado até mesmo de louco.
Observando as práticas educacionais, visualiza-se o controle que as instituições tem sobre os estudantes e, através desse controle, observa-se a manipulação da construção das sexualidades. Quando na escola, na aula de educação física, por exemplo, o professor designa o conteúdo prático futebol para os meninos e o vôlei para as meninas, sem perceber, as crianças começam a captar essas informações de forma discriminatória, ou seja, crescem pensando que futebol é para meninos e vôlei para meninas. Se a professora entrega um carrinho para um menino e uma boneca para uma menina, sem perceber, esse profissional já está construindo a ideia de que o menino que brincar de boneca já está fora dos padrões impostos. Isso é uma prática comum e ela não é exclusiva da escola, no meio social isso é vivenciado a todo tempo. No dia a dia, pensar que fazer os serviços domésticos é coisa de mulher ou assistir filmes de luta é coisa de homem, isso está intrínseco e não é uma construção de hoje, mas sim decorrente do passado, desenvolvida através da cultura construída e fortalecida ao longo dos anos. Dessa forma, tais construções podem gerar a exclusão e fortalecer, assim, a discriminação. Entende-se que ao invés do sistema caminhar para a construção de uma sociedade livre para pensar e se desenvolver conforme o que cada um deseja e julga o melhor para sua vida, indiretamente acaba apenas fortalecendo e exercendo seu poder numa visão mascarada de liberdade e desenvolvimento.
Sobre a exclusão, Foucault (1988) afirma que existem três grandes sistemas. O primeiro, a palavra proibida, consiste em controlar o que deve e o que não deve ser dito. São as formas de falar em determinados locais ou em determinados meios sociais, ou seja, quando se está em uma reunião familiar pode-se usar palavras que em um ambiente escolar não se deve.
No segundo sistema, a segregação da loucura, quando se fala em segregação refere-se à separação e afastamento. Assim, o autor afirma que dentro de um sistema o que é considerado diferente deve ser separado. Trazendo para o meio escolar, quando um aluno responde a um professor, por exemplo, ele está agindo contra um sistema de regras. Neste caso, ele deve ser separado dos outros para que assimseja disciplinado, e este ato mostra aos outros o que não devem fazer e ao que fez é exercido o poder.
Por fim, o terceiro sistema, a vontade de verdade, atravessou séculos de nossa história. Ela é conduzida pela forma como o saber é aplicado em nossa sociedade, como ela é valorizada e atribuída. Os suportes institucionais da verdade são os livros, bibliotecas, dentre outros. Segundo o autor, se essa verdade for apoiada institucionalmente, ela exerce o poder de coerção sobre outros discursos.
Entende-se o discurso como o próprio poder, e o poder como ações sobre ações. Foucault (1988) defende que as relações de poder postas pelas instituições, sejam elas quais forem, são marcadas pela disciplina. Ele afirma que a disciplina leva consigo uma maneira de punir e que é apenas um modelo reduzido do tribunal. É por meio da disciplina que se estabelecem as relações.
Assim, se estabelece o problema de pesquisa a que este projeto se destina, qual seja, se a linguagem é tomada como dispositivo de poder, como ela se configura frente ao desenvolvimento das sexualidades na educação escolar?
Este projeto foi desenvolvido no intuito de colocar aos olhos de quem lê a real importância das discussões relacionadas às construções das sexualidades. O estudo das influências diretas e indiretas na construção do ser social através do meio escolar deve sair das folhas de papel e atingir os mais distantes locais possíveis. As discussões aqui iniciadas devem levar a um real desenvolvimento em busca de uma sociedade que respeita e colabora com o que é diferente deve se fortalecer e alcançar gerações futuras.
Considera-se então que discorrer tal problema de pesquisa pelos pensamentos e obras de Michel Foucault permitirá esclarecer a desmistificação de conceitos discriminatórios que são levantados ao longo dos tempos, construídos juntamente com a cultura e costumes do ser humano. Compreender através de suas palavras como a linguagem toma forma de poder impondo regras, limitando e usando a coerção como base principal é o mesmo que abrir os olhos para enxergar um caminho de evolução e mudança.
Sabe-se que para existir o poder é preciso de força, ao passo que para estabelecer o saber bastaria apreender ou ensinar. Assim, do entrecruzamento de um e de outro, poder e saber, é que se dá o desenvolvimento das sexualidades e a constituição do sujeito. E por este motivo, entende-se que não há o certo sem o errado e não há o poder sem que haja o que se submete a esse poder.
Enxergar-se de um novo modo, falar-se de novas maneiras, encontrar-se a partir de uma nova perspectiva, conhecer-se de uma nova forma, olhar-se no espelho e estranhar a imagem refletida, isso é sair do mesmo, isso é estar em movimento, em contínua troca e mudança, pesquisa a que este projeto se propõe. Isso pode fazer com que o ser humano recuse a imagem imposta a si mesmo limitando-o, privando-o de ser sujeito sexual, e construindo mais da unidade e diferença.
6 HIPÓTESES OU INDAGAÇÕES SOBRE O OBJETO
I. A linguagem funciona como um poder ampliador na diversidade das sexualidades;
II. O poder linguístico restringe o desenvolvimento das sexualidades;
III. No ambiente escolar a linguagem coaduna com as determinações pedagógicas;
IV. No ambiente escolar a linguagem possui a função política para o desenvolvimento das sexualidades.
7 OBJETIVOS
7.1 OBJETIVO GERAL
Compreender como a linguagem é tomada como dispositivo de poder frente ao desenvolvimento das sexualidades na educação escolar.
7.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
· Entender o que é linguagem;
· Compreender a noção de dispositivo de poder em Foucault;
· Historicizar as sexualidades nas dimensões ética, política e pedagógica;
· Compreender as particularidades da educação escolar;
8 METODOLOGIA
Para iniciar a apresentação da metodologia do presente projeto, pode-se recorrer a uma definição preliminar e genérica de método, compreendendo-o como o “caminho pelo qual se chegou a determinado resultado” (LALANDE, 1993, p. 678). Há ainda uma segunda acepção que o apresenta como “um programa que regula antecipadamente uma sequencia de operações a executar e que assinala certos erros a evitar” (LALANDE, 1993, p. 679), buscando assim a obtenção de um resultado.
Pode-se compreender, então, que o método diz respeito a um percurso com procedimentos ordenados que visam alcançar um determinado resultado. E quando se adentra à obra de Foucault, não é encontrado um texto definitivo sobre seu método, mas sim uma discussão metodológica marcada pela variabilidade, ainda que ligada a certos princípios gerais. O autor aponta que:
Não tenho um método que se aplicaria, do mesmo modo, a domínios diferentes. Ao contrário, diria que é um mesmo campo de objetos que procuro isolar, utilizando instrumentos encontrados ou forjados por mim, no exato momento em que faço minha pesquisa, mas sem privilegiar de modo algum o problema do método [...] Eu tateio, fabrico como posso instrumentos que são destinados a fazer objetos. Os objetos são um pouquinho determinados pelos instrumentos, bons ou maus, fabricados por mim [...] procuro corrigir meus instrumentos através dos objetos que penso descobrir e, neste exato momento, o instrumento corrigido faz aparecer que o objeto definido por mim não era exatamente aquele. ~e assim que eu hesito ou titubeio (FOUCAULT, 2003, p. 229).
Partindo da perspectiva foucaultiana, é necessário entender que se a compreensão de método está no conjunto de instrumentos operados mediante uma sequência de procedimentos a serem executados na pesquisa, não há um único método pois o autor considera que este deva ser escolhido caso a caso, a partir da construção do problema ou objeto de pesquisa. Tal objeto leva o pesquisador à escolha de estratégias, instrumentos e arranjos, o que se torna possível compreender o método como caminho para se chegar a um resultado, não sendo uma condição a priori da pesquisa a realizar. O método, nesta perspectiva, deve ser revisto, retificado ou alterado duramente o próprio processo de pesquisa. 
Porém, embora os estudos de Foucault tenham sido guiados por critérios tradicionais do trabalho historiográfico, não se pode situá-lo como historiador, mas reconhecer que seu trabalho filosófico é ancorado por pesquisas históricas ou como ele mesmo registra: “Meus livros não são tratados filosóficos nem estudos históricos; no máximo fragmentos filosóficos sobre canteiros históricos” (FOUCAULT, 1980, p. 336). O uso da palavra fragmentos, e não tratados, indica seu desinteresse em construir uma filosofia sistemática, mesmo que em várias ocasiões, retrospectivamente, buscasse realizar um alinhamento coerente entre diferentes momentos de sua investigação.
Buscar por uma problematização ancorada em elementos mais concretos fez Foucault se afastar de pesquisas em história da filosofia e o aproximou da pesquisa filosófica em canteiros históricos específicos, como a sexualidade, a loucura, a prisão e o sujeito moderno. No entanto, focar nos problemas localizados não o impedia, por outras vias, de abordar problemas gerais. Ele dizia: “o domínio da razão [investigado na História da Loucura] não é tão geral quanto o domínio da burguesia?” (Foucault, 1980/2010a, p. 336).
Para o pesquisador Veiga-Neto (2009), se aceitarmos método e teoria em seus sentidos mais amplos, aceitaremos ao dizer que a arqueologia e a genealogia são métodos foucaultianos. “Mas, em parte para evitar as exigências conceituais da tradição moderna, Foucault geralmente evita falar de método” (VEIGA-NETO, 2009, p. 89). Para este autor, Foucault não considera a obra arqueologia do saber (1986) um livro metodológico. Entretanto, se se tomar o verbo constituir no sentido de formar, organizar, estabelecer, diz Veiga-Neto (2009, p. 92), “as máximas foucaultianas constituem uma teoria e apontam um método ou, talvez melhor dizendo, constituem uma teorização – como um conjunto aberto/inacabado de práticas que se valem de diferentes métodos”.
Não há como considerar apenas um método por Foucault. Através do estudo de suas obras, pode-se perceber sua clarezaem dizer que é possível que haja vários métodos, inviabilizando a possibilidade de se ter um único método a ser seguido, segundo a tradição. Quando se analisa as aulas de metodologias, principalmente em cursos de graduação e pós-graduação, o método claramente pode ser considerado o grande vilão e terror da/na pesquisa. Infelizmente acaba sendo um problema, um círculo vicioso, caso não se mude a maneira de pensar a questão. A nossa modernidade, já apontada por Foucault (1986), exige um salto qualitativo, pois o método muitas vezes é tornado como uma camisa de força.
Diante do exposto, considera-se o que o método para Foucault é senão a experiência do estudo, da pesquisa e do enfrentamento teórico. O mais prudente a se dizer é que o método foucaultiano é de outra ordem, diferentemente do convencional. Assim, o importante não é o nome dado por ele: enunciado, arquivo ou episteme. Para Foucault, o método tem a ver com as condições de possibilidades, e, portanto, cada percurso está suscetível a mudanças e substituições, assim como há substituição de certos saberes por outros. É analisar o método histórico-filosófico que conduz à análises mais úteis tanto para as ciências humanas quanto para as ciências da saúde, pois Foucault aplicou este método para estudar os procedimentos clínicos nos tratamentos psiquiátricos e médicos na primeira metade do século XX.
Torna-se evidente, então, que o autor caminhou na direção de libertar as ciências muito organizadas a partir do método positivista. Sua preocupação epistemológica iniciada, segundo Deleuze (2000), em História da Loucura, resulta em sua Arqueologia do Conhecimento, obra em que chama atenção para métodos que permitam o movimento além do positivismo. Assim, a história não é compreendida como processo linear que alcançaria um fim idealizado, mas sim a partir das contingências que formam o presente, um questionar constante sobre a proveniência enquanto tais contingências, heterogeneidades, rupturas, fragmentações sutis que levam ao desenvolvimento dos acontecimentos históricos.
O pensador francês parte da genealogia de Nietzche, a qual consiste em reconstruir as condições do surgimento, da transformação, do deslocamento de sentido e desenvolvimento dos valores de nossa civilização (GIACÓIA JUNIOR, 2003), uma multiplicidade de interpretações possíveis sobre o fato histórico que leva a trabalhar não com estruturas universais, mas sim com o acontecimento como forma de busca pela consciência crítica do homem.
No entanto, as críticas sobre sua base metodológica e sua teoria social buscam no universo do discurso seu cerne. Cabe ressaltar que para o autor, o discurso não é um ente metafísico, constituído a priori dos elementos da sociedade. O discurso não está sozinho na história, pois ele segue as relações já postas pelos saberes e instituições já estabelecidas, que lhe dão determinada positividade, a qual desempenha o papel de um a priori histórico.
Para o autor, o discurso é: 
Um bem – finito, limitado, desejável, útil – que tem suas regras de aparecimento e também suas condições de apropriação e de utilização: um bem que coloca, por conseguinte, desde sua existência (e não simplesmente em suas “aplicações práticas”), a questão do poder; um bem que é, por natureza, o objeto de uma luta, e de uma luta política (FOUCAULT, 1986, p. 136-137).
Para além de compreender o discurso como um conjunto de signos que expressaria um pensamento, ou algo que distorceria a realidade, compreende-se, a partir de Foucault, o discurso em sua formação plural, discursos, os quais disseminam-se pelo tecido social, infiltram-se nas escolas, nas casas, nas universidades, nos hospícios, nas prisões, sem estarem limitados a nenhuma dessas maquinarias. Com suas regras internas e externas, os discursos organizam e ordenam os sentidos por onde passam.
Aprende-se assim que as sínteses discursivas que são compreendidas como naturais, provenientes do mundo social, devem ficar em suspenso. Isto não significa negá-las, mas trazê-las para o centro da discussão e mostrar que resultam de uma complexa trama que as permitem aparecer dessa forma neste momento. É compreender o quanto, por exemplo, a educação para a sexualidade pode justificar-se (ou não) dentro de uma lógica neoliberal; é problematizar os resultados de um ensino que (não) prepara profissionais com as capacidades para lidarem com as sexualidades. São essas formas que precisam ser desnaturalizadas, colocadas em suspenso.
Como práticas que seguem regras, os discursos serão tomados, neste projeto, “[...] na qualidade de monumentos. Não se trata de uma disciplina interpretativa: não busca um ‘outro discurso’ mais oculto. Recusa-se a ser alegoria [...]” (Foucault, 1986, p. 157). Essa apropriação marca uma sutil e produtiva forma de abordar os discursos a partir da perspectiva qualitativa, o que é apontado por Bogdan e Biklen (1994, pag. 51) como “Os investigadores qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos de investigação, com o objetivo de perceber “aquilo que eles experimentam, o modo como eles interpretam as suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem”.
O caminho metodológico desta pesquisa surgirá das exigências do objeto de estudo, buscando como fundamento a epistemologia qualitativa, adequada ao estudo da linguagem. Assim, a opção pelo estudo de caso como método qualitativo bem como a seleção dos sujeitos participantes, os instrumentos e procedimentos metodológicos, e ainda a construção e análise da informação aqui utilizada serão elementos metodológicos calcados na epistemologia qualitativa.
Será utilizado o estudo de caso como uma possibilidade para compreender como a linguagem é tomada como dispositivo de poder frente ao desenvolvimento das sexualidades na educação escolar. Para Gil (1999), o estudo de caso é caracterizado por centrar-se em um estudo intenso e extenuante de um ou poucos objetos, permitindo, dessa forma, um amplo e detalhado conhecimento deste (s) objeto (s). Andrade (2002) complementa esta ideia, apontando que o estudo de caso aborda uma diversidade de procedimentos e instrumentos que permitem reunir e registrar dados acerca de um caso particular ou alguns casos análogos, buscando organizar um relato crítico e sistemático de uma experiência. 
Este tipo de delineamento de pesquisa tem sido amplamente utilizado por pesquisadores em diversas áreas principalmente nas ciências sociais, pois além de permitir um conhecimento real das situações de vida dos sujeitos, permite também descrever o contexto em que a pesquisa está sendo desenvolvida, possibilitando assim explicar a impossibilidade de utilização de outras vias metodológicas como levantamentos e experimentos.
Conforme Leão (2006), os objetos de estudos da Educação e demais ciências humanas, desde suas origens, não permitem a apreensão das ciências modernas por uma abordagem quantitativa. Portanto, a pesquisa com o estudo de caso decorrente da metodologia qualitativa trabalha sempre com unidades sociais, o que nos remete a uma representatividade, entendendo como caso: o indivíduo, a comunidade, o grupo, a instituição, e aqui em específico, a escola. Porém, nesta vertente, o sujeito ou comunidade elegível devem ser representativos do conjunto do qual fazem parte. 
González Rey (2005, p. 112) aponta que “a legitimidade da informação do estudo de caso está definida pelo que ela aporta à construção do modelo em desenvolvimento no curso da pesquisa”. Para o autor, o estudo de caso possui, então, grande relevância na produção da pesquisa e na elaboração de conclusões significativas, representando um outro caminho para se compreender a legitimidade da informação. 
Porém, esta representatividade qualitativa sempre estará sob dúvidas do ponto de vista estatístico. Tal indagação se pauta na noção estatística de amostra, entendida como um conjunto selecionado em determinada população, de maneira causal e aleatória, que seja representativo desta. 
Para compor essa amostra representativa deve-se sempre buscaro aprofundamento do conhecimento do contexto social e das condições históricas que permeiam o fenômeno estudado, bem como a própria relação que se estabelece entre pesquisador e sujeito(s) em estudo. Deve-se sempre garantir o critério de representatividade da população, uma vez que ela é uma parte do universo escolhido de forma criteriosa, a fim de não influenciar o resultado do levantamento de dados. 
Torna-se possível, por esse ponto de vista, mensurar o desvio da amostra em relação a uma determinada população, e empregar coeficientes que indiquem com exatidão a existência de distorções ou erros, bem como as possibilidades de efetuar uma generalização em direção à população.
Serão elencadas como caso uma escola, pública, na cidade de Campo Grande-MS, e uma escola, privada, também na mesma cidade, pois entende-se que a prática discursiva como elemento linguístico pode apresentar diferenciações enquanto dispositivo de poder nas modalidades de cada configuração escolar. E para a abordagem dos aspectos dos discursos, será utilizada a entrevista, baseadas em roteiros semiestruturados, como uma técnica de construção da informação que supõe o contato face a face entre o pesquisador e sujeito da pesquisa, tendo em suas diversas modalidades um formato flexível e aberto que implica grande participação do entrevistador. 
Assim, o pesquisador se torna um elemento essencial, pois deve conduzir a entrevista de acordo com as características e desdobramentos da situação atual, retomando os princípios foucaultianos, ou seja, por mais que tenha elementos diretivos da entrevista estabelecidos a priori, o pesquisador deverá obter os dados na situação, no momento, na vivência e ocorrência da ação. 
Segundo Alves-Mazzotti & Gewandsznadjer (2004, p. 168) a entrevista possui uma natureza interativa que permite:
Tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questionários, explorando-os em profundidade (...) as entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas, sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas, assemelhando-se muito a uma conversa.
Esta técnica será desenvolvida na interação com profissionais que trabalham nas instituições elencadas: um(a) coordenador(a); um(a) professor(a); um(a) administrativo. Totalizar-se-á, assim, seis práticas discursivas sobre o tema da pesquisa. E ao analisar os discursos serão buscadas suas especificidades (Foucault, 1986; 2007), pois o funcionamento dos discursos não está pré-definido à espera de nossas leituras, como se bastasse um arsenal de ferramentas metodológicas para desmembrá-los e decifrá-lo. Cada discurso tem suas peculiaridades e idiossincrasias, não analisadas em sua totalidade, até porque, no seu exterior, povoam inúmeros discursos distintos que lhe alteram a constituição e ordenação interna. 
Através da análise do próprio material, de sua materialidade, que serão apreendidos parcialmente os discursos ao “[...] mostrar em que sentido o jogo das regras que utilizam é irredutível a qualquer outro; segui-los ao longo de suas arestas exteriores para melhor salientá-los” (Foucault, 1986, p. 157). Isso porque o filósofo mostra uma diferente maneira para se trabalhar, permitindo avançar e traçar outra definição para os discursos: “Práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. E esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever” (Foucault, 1986, p. 55).
Portanto, na análise discursiva deste projeto é este mais que será buscado, pois o discurso não descreve somente situações através de palavras e significados, mas cria uma realidade possível. Não existe previamente a instituição escola que traga toda realidade voltada à mudanças frente à sexualidade; ela têm sido produzida historicamente como um dispositivo de poder e controle social, conforme tratado na revisão bibliográfica apresentada acima. Portanto, a interpretação dos dados buscará apresentar os elementos que controlam, selecionam, organizam e redistribuem a linguagem e o discurso em nossa sociedade e, na especificidade aqui contida, na educação escolar, que objetivam “[...] conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade” (Foucault, 2007, p. 9) frente ao desenvolvimento das sexualidades.
9 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
	Ano: 2020
	AÇÕES/ETAPAS
	J
	F
	M
	A
	M
	J
	J
	A
	S
	O
	N
	D
	Elaboração do projeto de pesquisa
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Levantamento bibliográfico
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Elaboração dos instrumentos de pesquisa
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Ano: 2021
	AÇÕES/ETAPAS
	J
	F
	M
	A
	M
	J
	J
	A
	S
	O
	N
	D
	Pesquisa de campo
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Análise dos dados
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Elaboração da dissertação
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Depósito do trabalho para qualificação
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Qualificação
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Ano: 2022
	AÇÕES/ETAPAS
	J
	F
	M
	A
	M
	J
	J
	A
	S
	O
	N
	D
	Revisão orientada e elaboração da dissertação
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Depósito do trabalho para defesa
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Defesa
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
10 REFERÊNCIAS
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