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L L L Doenças Prevalentes no Idoso HIPERTENSÃO ARTERIAL, ATEROSCLEROSE, DISLIPIDEMIA, DIABETES MELLITUS, FATORES DE RISCO E PROMOÇÃO À SAÚDE. Lorena Lima, M7 A pressão arterial elevada é tipicamente assintomática durante muitos anos. Esta condição insidiosa foi chamada hipertensão essencial, assim denominada porque o aumento gradual na pressão arterial, associado à idade, foi considerado “essencial” para a perfusão normal de órgãos internos, como o cérebro. No entanto, esse aumento não é nem essencial nem benigno.¹ Embora as vias moleculares da regulação da pressão arterial sejam razoavelmente bem compreendidas, os mecanismos que levam à hipertensão na grande maioria dos indivíduos afetados permanecem desconhecidos. A teoria aceita que a “hipertensão essencial” resulta da interação de vários polimorfismos genéticos (que individualmente podem ser inconsequentes) e fatores ambientais, que conspiram para aumentar o volume sanguíneo e/ou a resistência periférica.¹ A hipertensão pode ser primária (idiopática) ou, menos comumente, secundária a uma condição subjacente identificável. Em cerca de 95% dos casos, a hipertensão é idiopática ou “essencial”. A maioria restante dos casos (hipertensão secundária) deve-se a doença renal primária, estreitamento da artéria renal (hipertensão renovascular) ou distúrbios suprarrenais.¹ HIPERTENSÃO A redução da excreção renal de sódio na presença de pressão arterial normal O aumento da resistência vascular pode resultar da vasoconstrição ou alterações estruturais na parede dos vasos Fatores genéticos Embora os estímulos desencadeadores sejam desconhecidos, acredita-se que alterações no controle renal de sódio e elevação da resistência vascular contribuam para a hipertensão essencial: Provavelmente é a principal característica patogênica; de fato, é o fator etiológico mais comum para as formas de hipertensão arterial. Por outro lado, a diminuição da excreção de sódio eleva o volume de líquido e o débito cardíaco, contribuindo para a elevação da pressão arterial. Com a elevação da pressão arterial, os rins excretam sódio adicional. Dessa forma, um novo estado de excreção constante de sódio é alcançado, mas às custas da alta pressão arterial. A hipertensão tem sido associada a polimorfismos específicos do angiotensinogênio e de variantes do receptor da angiotensina ll; polimorfismos no sistema renina- angiotensina também podem contribuir para o conhecimento das diferenças raciais relacionadas com a regulação da pressão arterial.¹ L L L Lorena Lima, M7 Fatores ambientais Estresse, obesidade, tabagismo, falta de atividade física e alto consumo de sal modificam o impacto dos determinantes genéticos. Evidências da relação entre a ingestão de sódio pela alimentação e a prevalência da hipertensão em diferentes grupos de indivíduos são particularmente fortes. SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO O aumento da atividade do sistema nervoso simpático promove elevação da pressão arterial e contribui para o desenvolvimento e a manutenção da hipertensão arterial por meio de estímulo a coração, rins e vasos periféricos, promovendo aumento do débito cardíaco, retenção de volume e aumento da resistência arterial periférica.² Os mecanismos envolvidos na hiperatividade do sistema nervoso simpático são complexos e implicam alterações das vias centrais e periféricas do barorreflexo e do quimiorreflexo. A readaptação dos barorreceptores ajuda a manter as reduções da pressão arterial e parece ter implicações clínicas importantes. Existem, também, evidências da participação do quimiorreflexo na gênese da hipertensão arterial.² A estimulação crônica dos receptores simpáticos induz remodelamento vascular e hipertrofia do ventrículo esquerdo não só por ações diretas e indiretas da própria epinefrina, mas também pela produção de diversos fatores tróficos. Além disso, a estimulação simpática renal está aumentada em pacientes hipertensos e poderia, por mecanismos ligados a diminuição da excreção de sódio e água, e consequente expansão do volume intravascular, contribuir para a patogênese da hipertensão arterial.² HIPERTENSÃO SISTEMA RENINA-ANGIO-ADOSTERONA vasoconstrição direta estimulando a síntese e secreção de Aldosterona aumentando a reabsorção de Na+², seja ação direta sua ou pela aldosterona aumenta a sede promovendo liberação do hormônio antidiurético aumento da atividade simpática.² A atividade do SRAA local pode ter um importante papel no remodelamento dos vasos de resistência e no desenvolvimento de lesões de órgãos-alvo em hipertensos (hipertrofia do ventrículo esquerdo insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular encefálico, progressão da doença renal, infarto do miocárdio, aterosclerose entre outras). A Angiotensina aumenta a PA fazendo: A produção local de angiotensina II é controlada pela enzima de conversão da angiotensina (ECA) e ou- tras proteases. E essas ações são decorrentes de estímulo do receptor AT1 da angiotensina II. A ativação do receptor AT1 estimula diversas tirosina-quinases que, por sua vez, promovem a fosforilação dos resíduos de tirosina de diferentes proteínas. Isso ocasiona vasoconstrição, crescimento e proliferação celulares. De forma importante, a angiotensina II promove a hiperplasia e a hipertrofia de células musculares cardíacas e dos vasos.² A ação da angiotensina II no receptor AT2, por sua vez leva a efeitos opostos aos da ativação do receptor AT1, com vasodilatação, diferenciação celular e inibição do crescimento celular. Isso porque estimula a produção de fosfatase que inativa a MAP-quinase L L L Lorena Lima, M7 uma das principais enzimas envolvidas na transdução de sinais do receptor AT1.² Um outro mecanismo importante de lesões cardiovasculares relacionado à angiotensina II é o estímulo à produção de superóxidos e consequentemente a trombose, inflamação, vasoconstrição e lesão vascular. E a aldosterona está relacionada ao desenvolvimento de fibrose intra e perivascular e de fibrose intersticial no coração.² HIPERTENSÃO DISFUNÇÃO ENDOTELIAL E REATIVIDADE VASCULAR A teoria atual é de que ocorra uma lesão renal subclínica, progressiva ao longo do tempo, e que leva ao desenvolvimento de lesão da arteríola aferente e túbulo intersticial. Pode ser compreendida em fases: A 1º fase , sob um rim normal, a lesão pode ser iniciada por fatores como: ativação aumentada do SRAA e do SNA, que podem ser facilitados por fatores genéticos (redução de néfrons). Na 2º fase, resultaria em vasoconstrição renal por conta desses estímulos iniciais, que poderia levar em isquemia renal com estimulação da migração de leucócitos e de espécies reativas de oxigênio. Além disso tem sido apontado a produção local de Angio II, causando maior aumento da resistência vascular, reduzindo a taxa de filtração glomerular e a filtração do sódio, bem como leva a doença microvascular renal que se traduz em hipertensão arterial (HA). Quanto a 3º fase, é observado mudança na curva de pressão-natriurese e aumento da pressão de perfusão renal, que mantém e modula a hipertensão arterial sensível ao sal.² Um dos fatores que possivelmente está relacionado ao aumento da sensibilidade vascular aos estímulos vasoconstritores é a presença da disfunção endotelial. Os pacientes hipertensos apresentam maior resposta vasoconstritora à infusão de norepinefrina que os normotensos. Isso ocorre também em filhos normotensos de pais hipertensos quando comparados com filhos de pais normotensos, sugerindo que a hipersensibilidade tem origem genética, não estando ligada à elevação da pressão arterial.² O óxido nítrico (NO) é um potente vasodilatador, inibidor da adesão e agregação plaquetária e supressor da migração e proliferação das células musculares lisas vasculares. Sua produção pela célula endotelial é estimulada pelo estiramento pulsátil, o estresse de cisalhamento e alterações da PA. Em hipertensos há diminuição da vasodilatação mediada pelo NO, possivelmente relacionado ao aumento do estresse oxidativo, com aumento dos radicais de superóxidos que inativam o NO.²ASPECTOS RENAIS HA NO IDOSO A hipertensão arterial (HA) é uma doença altamente prevalente em indivíduos idosos, tornando-se fator determinante na morbidade e na mortalidade elevadas dessa população. É definida como pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg.³ L L L Lorena Lima, M7 Na década de 1960, foi demonstrado que uma pressão arterial diastólica de 105 mmHg aumentava em 10 vezes o risco do indivíduo para acidente vascular encefálico e em 5 vezes para eventos coronarianos, quando comparados com indivíduos com pressão arterial diastólica de 76 mmHg.³ Quanto a fisiopatologia da HA observada no idoso, basicamente, a pressão arterial é o resultado do produto do débito cardíaco e da resistência vascular periférica. Enquanto no jovem o débito cardíaco encontra-se elevado com pouca alteração na resistência vascular periférica, no idoso observa-se exatamente o contrário: aumento nítido da resistência periférica com redução do débito cardíaco. O aumento da resistência periférica no idoso é consequência direta da aterosclerose, que leva a um processo a que podemos chamar envelhecimento do vaso. A aterosclerose é um processo patológico multifatorial, caracterizado inicialmente por disfunção endotelial, seguida por alterações morfológicas do endotélio e da íntima. Essas alterações ocorrem como resposta fibroproliferativa da parede arterial causada por agressão à superfície endotelial.³ Não há dúvida de que o envelhecimento por si só pode determinar modificações tanto na arquitetura como na composição da parede vascular. O endotélio, atingido pelo envelhecimento, libera menor quantidade de óxido nítrico, que é um importante fator de relaxamento vascular. Bem com tem menor sensibilidade a endotelina, um potente vasoconstritor, assim, o diâmetro do vaso tende a aumentar.³ HIPERTENSÃO Assim, a ausência de uma ação vasodilatadora do óxido nítrico permite que a resposta vasoconstritora, proveniente de outros mecanismos, estimule a proliferação de células musculares lisas, o que possibilita alterações na arquitetura vascular.³ PROMOÇÃO À SÁUDE E PREVENÇÃO redução do peso corporal redução na ingestão de sódio aumento na ingestão de potássio redução do consumo de bebidas alcoólicas exercício físico regular.³ As modificações no estilo de vida devem ser estimuladas em todos os indivíduos como medidas de promoção de saúde e são obrigatórias na abordagem de qualquer indivíduo hipertenso e naqueles com PA na faixa normal limítrofe. As principais medidas a serem implementadas e que resultam em maior eficácia anti-hipertensiva são: Além dessas, deve ser feita a identificação do uso de outras substâncias que possam estar contribuindo para a elevação da PA. É medida de grande importância no caso dos idosos devido à frequente polifarmácia. Entre os medicamentos destacam-se anti-inflamatórios não esteroides, descongestionantes, antidepressivos tricíclicos, corticosteroides, esteroides anabolizantes, vasoconstritores nasais, moderadores do apetite, hormônios tireoidianos (altas doses), antiácidos ricos em sódio, eritropoetina, cocaína, cafeína.³ Recomenda-se que os pacientes participem de uma abordagem multidisciplinar, bem como o suporte da família para adesão do tratamento.³ L L L Lorena Lima, M7 colesterol total (CT), triglicérides (TG), do colesterol da lipoproteína de baixa densidade (LDL-c) e diminuição do colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDL-c)(4) As dislipidemias são causadas por alterações metabólicas que ocorrem em resposta a distúrbios nas etapas do metabolismo lipídico. Como resultado, o perfil lipídico sérico sofrerá alterações e estas podem incluir aumento do: O acúmulo de quilomícrons e/ou de VLDL no compartimento plasmático resulta em hipertrigliceridemia e decorre da diminuição da hidrólise dos TG destas lipoproteínas pela LPL ou do aumento da síntese de VLDL. O acúmulo de lipoproteínas ricas em colesterol, como a LDL no compartimento plasmático, resulta em hipercolesterolemia. Mais comumente a hipercolesterolemia resulta de mutações em múltiplos genes envolvidos no metabolismo lipídico, as hipercolesterolemias poligênicas. Nestes casos, a interação entre fatores genéticos e ambientais determina o fenótipo do perfil lipídico. (5) As dislipidemias podem ser classificadas em primárias quando existem bases genéticas, e em secundárias quando associadas a outras doenças, ao uso de medicamentos e/ou ao estilo de vida do indivíduo. A dislipidemia primária pode ainda ser classificada fenotipicamente de acordo com os componentes lipídicos que se apresentam alterados: DISLIPIDEMIAS Hipercolesterolemia isolada Hipertrigliceridemia isolada Hiperlipidemia mista Diminuição isolada do HDL, com associação ao aumento do LDL e/ou dos TG. A diminuição isolada do HDL é a condição associada a Dislipidemia Aterogênica. (4) Entende-se por aterogênico todo processo capaz de produzir alterações degenerativas nas paredes das artérias. O endotélio arterial em estado saudável repele as células circulantes no sangue e é fortemente antitrombótico. Na aterogênese, uma agressão endotelial permite o depósito de lipídeos na camada íntima do vaso, o que promove a formação de placas de ateroma, acompanhadas por uma reação inflamatória local. (4) L L L Lorena Lima, M7 ATEROSCLEROSE Os mecanismos pelos quais a dislipidemia contribui para a aterogênese incluem os seguintes: - A hiperlipidemia crônica, no caso a hipercolesterolemia, pode prejudicar diretamente a função da CE, aumentando a produção local de radicais livres do oxigênio; dentre outras questões, os radicais livres de oxigênio aceleram a degradação do NO, prejudicando sua atividade vasodilatadora.¹ - Na hiperlipidemia crônica, as lipoproteínas se acumulam dentro da íntima, onde acredita-se que geram dois derivados patogênicos, LDL oxidada e cristais de colesterol. A LDL é oxidada pela ação de radicais livres de oxigênio gerados localmente por macrófagos ou CEs, sendo removida por macrófagos através do receptor scavenger (depurador ou de limpeza), resultando na formação de células espumosas.A LDL oxidada estimula a liberação local de fatores de crescimento, citocinas e quimiocinas, aumentando o recrutamento de monócitos, e também apresenta ação citotóxica para CEs e CMLs. Mais recentemente, demonstrou-se que os cristais de colesterol extracelular diminutos, encontrados nas lesões ateroscleróticas iniciais, servem como sinais de “perigo” que podem ativar células imunes inatas, como monócitos e macrófagos, para produzir IL-1 e outros mediadores pró- inflamatórios.¹ A hipótese atualmente mantida sobre a patogenia está associada à hipótese de resposta à lesão. Este modelo considera a aterosclerose uma resposta inflamatória crônica da parede arterial à lesão endotelial.¹ DISLIPIDEMIAS Lesão das células endoteliais – e, consequentemente, disfunção endotelial – causando aumento da permeabilidade, adesão de leucócitos e trombose Acúmulo de lipoproteínas (principalmente LDL oxidada e cristais de colesterol) na parede do vaso Adesão plaquetária Adesão de monócitos ao endotélio, migração para a íntima e diferenciação em macrófagos e células espumosas Acúmulo de lipídeos dentro dos macrófagos, que respondem liberando citocinas inflamatórias Recrutamento de CMLs em decorrência dos fatores liberados pelas plaquetas ativadas, macrófagos e células da parede vascular Proliferação de CMLs e produção de MEC¹ De acordo com este modelo, a aterosclerose resulta dos seguintes eventos patogênicos: L L L Lorena Lima, M7DISLIPIDEMIAS A lesão endotelial é o pilar desse mecanismo, pois a perda das células endoteliais (CE) resulta em espessamento da camada da íntima e na presença de uma alimentação com alto teor de lipídios ocorrem ateromas típicos. As primeiras lesões ateroscleróticas irão surgir em locais de endotélio intacto, mas disfuncional, em que essas CEs apresentam maior permeabilidade, adesão leucocitária e alteração na expressão gênica que pode contribuir para o desenvolvimento daaterosclerose. Os estímulos desencadeadores dessas lesões incluem HAS, hiperlipidemia,¹ toxinas da fumaça do cigarro e a citocina inflamatória TNF, que estimula a expressão gênica pró- aterogênica. No entanto, as duas causas mais importantes de disfunção endotelial são os distúrbios hemodinâmicos e a hipercolesterolemia.¹ A importância dos fatores hemodinâmicos na aterogênese é ilustrada pela observação de que as placas tendem a ocorrer nos óstios da saída dos vasos, nos pontos de ramificações e ao longo da parede posterior da aorta abdominal, em que há fluxo sanguíneo turbulento (shear stress). ¹ Várias evidências envolvem a hipercolesterolemia na aterogênese, uma delas é que os lipídios predominantes nas placas ateromatosas são de colesterol e ésteres de colesterol, assim, a LDL ,por ser rica em colesterol, tem baixa densidade e tem favorecida a sua entrada e alojamento na túnica íntima dos vasos.¹ ² Ainda no início da aterogênese, as CEs disfuncionais expressam moléculas de adesão que promovem a adesão dos leucócitos, em particular monócitos e linfócitos T que migram para a íntima sob a influência de quimiocinas produzidas localmente.¹ Assim, os monócitos se diferenciam em macrófagos e começam a engofar as lipoproteinas (principalmente LDL), incluindo a LDL oxidada e os cristais de colesterol (que são produzidos pela ação de radicais livres liberados dos macrófagos). Os cristais de colesterol parecem ser desencadeadores particularmente importantes da inflamação através da ativação dos inflamassomas com subsequente produção de IL-1. ¹ L L L Lorena Lima, M7DISLIPIDEMIAS Essa ação de radicais livres dos macrófagos também elaboram fatores de crescimento que estimulam a proliferação das CMLs.¹ Os linfócitos T recrutados para a íntima interagem com os macrófagos e também contribuem para a inflamação crônica. As células T ativadas na lesão crescente da íntima elaboram citocinas inflamatórias (p. ex., IFN-γ), que estimulam macrófagos, CEs e CMLs. Como consequência do estado inflamatório crônico, leucócitos ativados e células da parede vascular liberam fatores de crescimento que promovem a proliferação de CMLs e síntese de matriz.¹ A proliferação de CMLs da íntima e a deposição de MEC convertem a lesão inicial, as estrias gordurosas, em um ateroma maduro, contribuindo assim para o crescimento progressivo de lesões ateroscleróticas. Os principais fatores de crescimento estão envolvidos na proliferação das CMLs e síntese de matriz são: fator de crescimento derivado de plaquetas, ator de crescimento de fibroblastos e TGF-α. As CMLs recrutadas sintetizam MEC (principalmente colágeno), que estabiliza as placas ateroscleróticas. No entanto, as células inflamatórias ativadas nos ateromas também podem causar apoptose das CMLs da íntima e ruptura da matriz, levando ao desenvolvimento de placas instáveis.¹ Estrias gordurosas Placas Ateroscleróticas O desenvolvimento da aterosclerose tende a seguir a série de alterações morfológicas: Estrias gordurosas se iniciam como minúsculas “linhas” amarelas, planas, que se coalescem formando lesões alongadas de 1 cm ou mais de comprimento. Elas são compostas por macrófagos espumosos contendo lipídeos, mas são minimamente elevadas.As estrias gordurosas podem aparecer na aorta de crianças com menos de 1 ano de idade e estão presentes em praticamente todas as crianças com mais de 10 anos de idade, independentemente de fatores de risco genéticos, clínicos ou alimentares. Nem todas as estrias gordurosas estão destinadas a evoluir para placas ateroscleróticas.¹ As placas ateromatosas são lesões elevadas, branco-amareladas, que variam de 0,3 a 1,5 cm de diâmetro, mas podem coalescer para formar massas maiores. As placas ateroscleróticas são irregulares, geralmente envolvem apenas uma porção da parede arterial; no corte transversal, portanto, as lesões parecem “excêntricas”.¹ Em ordem decrescente de gravidade, a aterosclerose envolve a aorta abdominal infrarrenal, as artérias coronarianas, artérias poplíteas... L L L Lorena Lima, M7DISLIPIDEMIAS Não Modificáveis: anomalias genéticas, histórico familiar, avanço da idade, gênero masculino. Modificáveis: hiperlipidemia, hipertensão, tabagismo, diabetes melito, inflamação.¹ FATORES DE RISCO A prevalência e a gravidade da aterosclerose foi correlacionada a numerosos fatores de risco, lguns destes fatores de risco são constitucionais (e, portanto, menos controláveis), mas outros são adquiridos ou estão relacionados com comportamentos modificáveis. Dessa forma, a presença de dois fatores de risco aumenta a chance de infarto do miocárdio em aproximadamente quatro vezes, e a presença de três deles aumenta em sete vezes.¹ as artérias carótidas internas e os vasos do polígono de Willis. Em um mesmo paciente, a aterosclerose tipicamente é mais grave na aorta abdominal do que na aorta torácica.¹ As placas ateroscleróticas apresentam três componentes principais: (1) células, que incluem CMLs, macrófagos e linfócitos T; (2) MEC, que inclui colágeno, fibras elásticas e proteoglicanos; e (3) lipídeo intracelular e extracelular. Os ateromas típicos contêm lipídeos em relativa abundância, mas algumas placas chamadas placas fibrosas são compostas quase exclusivamente de CMLs e tecido fibroso. As placas geralmente aumentam progressivamente ao longo do tempo através da morte e degeneração celular, síntese e degradação da MEC (remodelação) e organização do trombo. Os ateromas também sofrem, frequentemente, calcificação.¹ Ruptura, ulceração ou erosão As placas ateroscleróticas são suscetíveis a várias alterações clinicamente importantes: As placas ateroscleróticas são suscetíveis a várias alterações clinicamente importantes: da superfície luminal das placas ateromatosas expõe substâncias altamente trombogênicas e induz a formação de trombos. Hemorragia dentro da placa. Ateroembolismo. Formação de aneurismas. a ruptura do envoltório fibroso sobreposto ou dos vasos de paredes finas, nas áreas de neovascularização, pode causar hemorragia dentro da placa. A ruptura da placa aterosclerótica libera restos celulares dentro do sangue, produzindo microembolia composta por componentes da placa. pressão induzida pela aterosclerose ou a atrofia isquêmica da camada média subjacente, com perda de tecido elástico, causa enfraquecimento estrutural que pode levar à dilatação e ruptura aneurismática.¹ L L L Lorena Lima, M7DISLIPIDEMIAS Como os hábitos de atividade física, adquiridos durante a infância e a adolescência, tendem a se manter durante toda a vida, Alves et al.28 retratam a importância de políticas que incentivem as atividades esportivas nesses grupos etários mais jovens.(6) Assim, a prática de exercícios físicos deve ser incentivada e bem orientada a este subgrupo da população, bem como à população em geral, sendo esta prática considerada hoje como a melhor prevenção utilizada para as doenças cardiovasculares.(6) PROMOÇÃO A SAÚDE O efeito agudo ou crônico do exercício aeróbio, tanto de baixa como de alta intensidade e duração, pode melhorar o perfil lipoprotéico, estimulando o melhor funcionamento dos processos enzimáticos envolvidos no metabolismo lipídico (aumento da lipase lipoprotéica e lecitina- colesterol-acil-transferase; redução da lipase hepática), favorecendo, principalmente, aumentos dos níveis da HDL-C e da subfração HDL2-C, assim como a modificação da composição química das LDL-C, tornando - as menos aterogênicas.(6) Além disso, a atividade física aumenta a sensibilidade à insulina com consequente redução da insulinemia, o que pode desempenhar papel importante sobre as lipoproteínas. Nesse contexto, a melhora da sensibilidade à insulina, encontrada nos indivíduos submetidos a exercício físico regular, aumenta o efeito antilipolítico da insulina no tecido adiposo, com consequente redução do transporte de ácidos graxos livres para o fígado, levando à diminuição do suprimento de matéria prima para a produção hepática de VLDL e apo B, resultando em redução dos níveis plasmáticos de triglicérides.(6)Estudos verificaram que o exercício aeróbico regular pode prevenir a perda da vasodilatação endotélio- dependente, além de restaurar os níveis prévios em homens de meia- idade e idosos sedentários. Quando comparados homens aerobicamente treinados e homens sedentários, os primeiros apresentam uma vasodilatação endotélio-dependente preservada em relação aos sedentários.(6) L L L Lorena Lima, M7DIABETES MELITOS diabetes tipo 1: doença autoimune caracterizada por destruição de células β pancreáticas e uma deficiência absoluta de insulina. O diabetes melito é um grupo de distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia, que resulta de defeitos na secreção da insulina, na ação da insulina ou, mais comumente, ambas. A grande maioria dos casos de diabetes se enquadra em uma de duas grandes classes: Ele representa cerca de 5% a 10% de todos os casos e é o subtipo mais comum diagnosticado em pacientes com menos de 20 anos de idade.¹ diabetes tipo 2: causado por uma combinação de resistência periférica à ação da insulina e uma resposta secretória inadequada pelas células β pancreáticas. Aproximadamente 90% a 95% dos pacientes diabéticos têm diabetes tipo 2, e muitos deles estão acima do peso. Embora os principais tipos de diabetes surjam por diferentes mecanismos patogênicos, as complicações de longo prazo nos rins, olhos, nervos e vasos sanguíneos são as mesmas e são as principais causas de morbidade e morte.¹ L L L Lorena Lima, M7DIABETES MELITOS DIABETES TIPO 1 - FISIOPATOLOGIA supressão do aleitamento materno antes de 3 a 4 meses de vida e sua substituição precoce pelo leite de vaca, pois a "tolerância oral" na diabtes tipo 1 parece ser alterada, além da similaridade da caseína com a GLUT-2 na células da ilhota pancreática.² Além disso, Foi proposto que certos vírus (vírus da caxumba, rubéola e coxsackie B, em particular) possam ser desencadeantes, talvez porque alguns antígenos virais se assemelha aos antígenos das células beta, levando a destruição das ilhotas.¹ Assim, a DM tipo 1 tem início quando ocorre um desequilíbrio nos mecanismos de tolerância aos antígenos próprios. As células T-CD4 ativadas (CD4+) agem no processo da insulite, determinando reações inflamatórias e secreção de citoquinas (especialmente IL-1), interferon-gama (IFN-gama) e fator de necrose tumoral (TNF-alfa).² O antígeno específico da célula-beta, alvo inicial do sistema imune, não está definido, mas os auto-anticorpos contra vários componentes das células-beta, presentes no soro de pacientes diabéticos recém- diagnosticados e de indivíduos que posteriormente desenvolvem a doença, são importantes marcadores da progressão desta.² Os marcadores humorais mais freqüentes da agressão imune são: anticorpo antiinsulina (IAA), anticorpo antiilhotas de Langerhans citoplasmático (ICA), antienzima descarboxilase do ácido glutâmico 65 (anti-GAD65) e antiproteína de membrana com homologia às tirosino-fosfatases (anti-IA2). O ICA é o primeiro a aparecer, e o anti-GAD65 geralmente está associado a outras doenças autoimunes.² O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que a destruição das ilhotas é causada principalmente por células efetoras imunológicas que reagem contra antígenos endógenos das células beta.¹ Tal como acontece com a maioria das doenças autoimunes, a patogenia do diabetes tipo 1 envolve suscetibilidade genética e fatores ambientais.¹ A região do sistema antígeno leucocitário humano (HLA), localizada no complexo principal de histocom- patibilidade (MHC), situa-se no braço curto do cromossomo 6 e constitui o principal locus de suscetibilidade para DM tipo 1, denominado locus IDDM1.² Dos fatores genéticos conhecidos, foram identificados mais de 20 loci de suscetibilidade à diabetes, com mais forte associação ao HLA-DR (o MHC de classe II), os tipo HLA-DR3 e HLA- DR4. Contudo, sabe-se que esses genes contribuem, mas não necessariamente causam a doença! O mecanismo pelo qual o MHC atua na predisposição do DM tipo 1 não está completamente elucidado, mas possivelmente está envolvido no processo de deleção de clones de linfócitos auto-reativos no timo. A anormalidade imune fundamental no diabetes tipo 1 é uma falha da autotolerância em linfócitos T específica para os antígenos das células beta. Os fatores ambientais são desencadeantes, envolve vírus, alimentação e toxinas. Estudos epidemiológicos evidenciaram risco duas vezes maior do desenvolvimento do DM tipo 1 condicionado à L L L Lorena Lima, M7DIABETES MELITOS DIABETES TIPO 2 - FISIOPATOLOGIA Os dois defeitos que caracterizam o diabetes tipo 2 são: (1) diminuição da capacidade dos tecidos periféricos de responderem à insulina (resistência à insulina) e (2) disfunção de células beta que se manifesta como secreção inadequada de insulina diante da resistência à insulina e hiperglicemia.¹ A resistência à insulina antecede o desenvolvimento da hiperglicemia e, geralmente, está acompanhada por hiperinsulinemia e hiperfunção compensatória das células beta nos estágios iniciais da evolução do diabetes.¹ Os fatores ambientais, como um estilo de vida sedentário e hábitos alimentares, desempenham um papel inequívoco, bem como os fatores genéticos também estão envolvidos, conforme evidenciado por uma taxa de concordância de 80% a 90% em gêmeos monozigóticos.¹ Resistência a insulina O fígado, músculos esqueléticos e tecido adiposo são os principais tecidos onde a resistência à insulina se manifesta. Ela cursa como falha da inibição da gliconeogênese no fígado (+glicemia em jejum), baixa captação e produção de glicogênio nos músculo e adipócitos (+glicemia pós- prandial) e ainda falha na lipase dependente de hormônio do tecido adiposo (+AGLs).¹ O principal fator precursor dessa resistência é obesidade, principalmente a visceral, com distribuição central (abdominal) pois o tecido central é mais lipolítico do que o periférico. A obesidade contribui para a resistência insulínica de algumas formas: Excesso de AGLs Adipocinas Inflamação Existe uma relação inversa entre a sensibilidade à insulina e a concentração plasmática de AGLs. Os triglicerídeos intracelulares e os produtos do metabolismo dos ácidos graxos são potentes inibidores da sinalização de insulina e resultam em um estado de resistência à insulina adquirida.¹ São proteínas/hormônios produzidas pelos adipócitos, em que algumas podem promover a hiper ou hipoglicemia. No caso a leptina e a adipocitina promovem a hipoglicemia ao aumentar a sensibilidade dos tecidos à glicose, na DM a adipocitina está diminuída.¹ O excesso de AGLs dentro de macrófagos e células beta pode ativar o inflamassoma, um complexo multiproteico citoplasmático que leva à secreção da citocina interleucina (IL-1 β) - mesma fisiopatologia da aterosclerose. A IL-1 β estimula a secreção de citocinas pró- inflamatórias adicionais por macrófagos, ilhotas e outras células, e a IL-1, bem como outras citocinas, promovem a resistência à insulina nos tecidos periféricos. Assim, o excesso de AGLs pode impedir a sinalização de insulina diretamente, bem como indiretamente através da liberação de citocinas.¹ Disfunção das células beta A função das células betas aumenta no início do processo da doença, como um mecanismo compensatório. Entretanto, com o tempo, as células beta se tornam incapazes de se adaptar às demandas de longo prazo da resistência à insulina periférica.¹ L L L Lorena Lima, M7DIABETES MELITOS Excesso de ácidos graxos livres que comprometem a função das células beta e atenuam a liberação de insulina (lipotoxicidade). Hiperglicemia crônica (glicotoxicidade). O “efeito incretina” anormal, que leva à secreção reduzida de hormônios que promovem a liberação de insulina Substituição das ilhotas por substância amiloide, presente em mais de 90% das “ilhotas diabéticas” Formação de produtos finais da glicação avançada (AGEs) Assim, o estado de hiperinsulinêmico dá lugar a um estado de deficiência relativa de insulina. O mecanismo dessa disfunção envolve: Complicações Crônicas da DMA morbidade associada ao diabetes de longa duração, de qualquer tipo, resulta das complicações crônicas causadas pela hiperglicemia, e do dano resultante induzido nas artérias musculares de grande e médio calibre (doença macrovascular diabética) e nos pequenos vasos (doença microvascular diabética).¹ A doença macrovascular provoca aterosclerose acelerada entre os diabéticos, resultando em aumento do infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e isquemia das extremidades inferiores. Os efeitos da doença microvascular são mais profundos na retina, nos rins e nos nervos periféricos, resultando em retinopatia, nefropatia e neuropatia diabéticas, respectivamente.¹ Pelo menos três vias metabólicas distintas parecem estar envolvidas na patogenia das complicações de longo prazo: A taxa de formação de AGE encontra- se altamente acelerada pela hiperglicemia. Os AGEs se ligam a um receptor específico (RAGE), que é expresso em células inflamatórias (macrófagos e células T), endotélio e músculo liso vascular.¹ Ativação da proteína cinase C A ligação AGE-RAGE no endotélio leva a liberação de citocinas e fatores de crescimento (TGFβ), geração de espécies reativas de oxigênio em células endoteliais, aumenta da atividade pró-coagulante e proliferação de CMLs e da síntese de matriz. Podem ainda se ligar diretamente a proteinas da matriz que capturam outras proteinas no caso a LDL, acelerando a aterosclerose.¹ A proteina cinase C intracelular (PCK) é uma importante via de transdução de sinais em muitos sistemas, sendo ativada por íons cálcio ou o diacilglicerol (DAG). Assim, a hiperglicemia estimula síntese de novo de DAG, ativando a PCK. Com essa ativação, ocorre a produção de moléculas pró-angiogênicas (VEGF), implicada na neovascularização observada na retinopatia diabética, bem como moléculas pró- fibronogênicas (TGFβ).¹ L L L Lorena Lima, M7DIABETES MELITOS Perturbações nas vias de poliol. Em alguns tecidos que não requerem insulina para o transporte de glicose (nervos, cristalino, rins e vasos), a hiperglicemia leva a um aumento da glicose intracelular. Essa glicose será metabolizada pela enzima aldose, transformando-a em sorbitol, um poliol, e depois em frutose, usando o NADPH. Só que o NADPH também é requerido pela enzima glutationa redutase em uma reação de regeneração da glutationa reduzida (GSH), assim, a concentração de GSH diminui e ela é importante fator antioxidante na célula já que seu aumento está relacionado com o estresse oxidativo.¹ FATORES DE RISCO E PREVENÇÃO O envelhecimento está associado ao desenvolvimento de resistência insulínica, uma condição que predispõe os idosos a intolerância à glicose, HA, dislipidemia e síndrome metabólica que aceleram o aparecimento da doença cardiovascular (DCV).³ No processo fisiológico do envelhecimento ocorrem modificações na composição do corpo que predispõem a essa condição, principalmente devido à grande perda de massa magra, responsável pela distribuição da glicose mediada pela insulina, e aumento de gordura visceral, ligada ao aumento da resistência insulínica.³ Os idosos apresentam tendência ao acúmulo de gordura abdominal e à obesidade, além de reduzirem sua atividade física, tendo em muitos casos também história de maus hábitos alimentares por muitos anos.³ Idosos com DM têm altas taxas de morte prematura, incapacidade funcional e presença de comorbidades como HA, doença arterial coronariana (DAC) e acidente vascular encefálico (AVE). Além disso, idosos com DM têm risco maior para o desenvolvimento de diversas síndromes geriátricas, tais como depressão, distúrbios cognitivos, incontinência urinária, quedas e dor persistente.³ As medidas de prevenção do DM2 envolvem intervenções farmacológicas e não farmacológicas; as últimas devem ser implementadas sempre e podem ser, eventualmente, associadas a terapias farmacológicas, principalmente nos casos de maior risco ou HbA1c mais elevada (< 6%).(6) As medidas não farmacológicas incluem modificações da dieta alimentar e atividade física. A dieta prescrita considera um déficit de 500 a 1000 calorias/dia, com retirada das gorduras saturada, além de alimentação com nozes, iogurtes, frutas vermelhas, chás e café, pois estão associados ao menor risco de desenvolver DM2. Quanto a atividade prescrita, recomenda-se atividade física aeróbica moderada, caminhada rápida de 150min/semana com sessão de mais de 10 min e menor que 75min.(7) L L L Lorena Lima, M7 REFERÊNCIAS 1- PATOLOGIA BÁSICA, ROBBINS 2- CLÍNICA MÉDICA, VOL 2 3- TRATADO DE GERIATRIA, ELIZABETH 4- ART: ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DA DISLIPIDEMIA ATEROGÊNICA E IMPACTOS NA HOMEOSTASIA, GODIM, 2017 5- DIRETRIZES DE DISLIPIDEMIA E PREVENÇAO A ATEROSCLEROSE, V, 2017. 6- MARTELLI A. ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS DA ATEROSCLEROSE E A ATIVIDADE FÍSICA REGULAR COMO MÉTODO NÃO FARMACOLÓGICO NO SEU CONTROLE, 2014 7- DIRETRIZ DIABETES MELITO, SBD, 2019-2020