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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 Diabetes é o aumento da excreção de qualquer coisa pelo rim • Se há aumento da excreção de glicose Diabetes Melito • Se há aumento da excreção de água Diabetes insipidus etc PÂNCREAS ENDÓCRINO - O pâncreas endócrino consiste em cerca de 1 milhão de grupos de células, as ilhotas de Langerhans, as quais contêm 4 tipos principais de célula e 2 tipos menores - Os 4 tipos principais são as células β, α, δ e PP (polipeptídeo pancreático), que podem ser diferenciados por características ultraestruturais de seus grânulos e por seu conteúdo hormonal As células β produzem insulina, que regula a utilização da glicose em tecidos e reduz os níveis de glicose no sangue As células α secretam glucagon, que estimula a glicogenólise no fígado e, portanto, aumenta o açúcar no sangue As células δ contêm somatostatina, que suprime tanto a liberação de insulina quanto de glucagon As células PP secretam um polipeptídeo pancreático que é responsável por diversos efeitos gastrointestinais, como, por exemplo, a estimulação da secreção de enzimas gástricas e intestinais e a inibição da mobilidade intestinal - Essas células não somente estão presentes nas ilhotas, como também estão espalhadas no pâncreas exócrino - Os 2 tipos celulares raros são as células D1 e as células enterocromafins As células D1 produzem um polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP), um hormônio que induz a glicogenólise e a hiperglicemia; esse hormônio também estimula a secreção de líquido gastrointestinal e causa diarreia secretória As células enterocromafinas sintetizam serotonina e dão origem aos tumores pancreáticos, que causam a síndrome carcinoide DIABETES MELITO: - É um grupo de distúrbios metabólicos que compartilham a característica subjacente comum da hiperglicemia - A hiperglicemia no diabetes resulta de um defeito na secreção de insulina, na ação da insulina, ou, mais comumente, em ambas - A hiperglicemia crônica e a desrregulação metabólica concomitante podem estar associadas a danos secundários em múltiplos sistemas de órgãos, especialmente rins, olhos, nervos e vasos sanguíneos DIAGNÓSTICO: - Os valores da glicose sanguínea são normalmente mantidos em uma faixa muito estreita – de 70-120 ml/dl - Os critérios de diagnóstico do diabetes incluem: NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 1. Glicose no plasma em jejum ≥ 126 mg/dL 2. Glicose no plasma aleatório ≥ 200 mg/dL (em um paciente com sinais hiperglicêmicos clássicos) 3. Glicose no plasma de 2 horas ≥ 200 mg/dL durante a realização de um teste oral de tolerância à glicose (OGTT) com uma dose de carga de 75 g 4. Nível de hemoglobina glicosilada (HbA1C ) ≥ 6,5% - Todos os testes, exceto o teste aleatório de glicose no sangue realizado em um paciente com sinais clássicos de hiperglicemia, precisam ser repetidos e confirmados noutra ocasião. Se houver discordância entre os 2 testes (p. ex., nível de glicemia em jejum e HbA1C), então o resultado com maior grau de anomalia é considerado para a avaliação - Deve-se prestar atenção também ao fato de que muitos estresses agudos, como infecções graves, queimaduras ou traumas, podem levar à hiperglicemia transitória, em virtude da secreção de hormônios como catecolaminas e cortisol, que se opõem à ação da insulina - O diagnóstico do diabetes requer persistência de hiperglicemia após a resolução da doença aguda - A tolerância diminuída à glicose (pré-diabetes) é definida como: 1. Glicose no plasma em jejum entre 100 e 125 mg/dL (“glicemia de jejum alterada”) 2. Glicose de 2 horas no plasma entre 140 e 199 mg/dL após uma glicose de 75 g TOTG e/ou; 3. Nível de hemoglobina glicosilada (HbA1C ) entre 5,7% e 6,4% CLASSIFICAÇÃO: - Embora todas as formas de diabetes melito compartilhem a hiperglicemia como característica comum, as alterações subjacentes envolvidas no desenvolvimento da hiperglicemia variam amplamente - A maioria dos casos de diabetes se encaixa em uma das 2 grandes classes: DM tipo 1 é uma doença autoimune caracterizada pela destruição das células β e por deficiência absoluta de insulina. É responsável por aproximadamente 5% a 10% de todos os casos e consiste no subtipo mais comum diagnosticado nos pacientes com menos de 20 anos DM tipo 2 é causado pela combinação de resistência periférica à ação da insulina e resposta secretória inadequada das células β pancreáticas (“deficiência relativa de insulina”) Aproximadamente 90% a 95% dos pacientes diabéticos têm o diabetes do tipo 2, e a maioria deles é obesa Embora classicamente considerada como “de início na vida adulta”, a prevalência do tipo 2 do diabetes em crianças e adolescentes está se ampliando a passos alarmantes, devido ao aumento das taxas de obesidade nesses grupos etários NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 - Embora os principais tipos de diabetes tenham mecanismos patogênicos diferentes, as complicações de longo prazo que afetam rins, olhos, nervos e vasos sanguíneos são as mesmas, assim como o são as principais causas de morbidade e morte HOMEOSTASE DA GLICOSE: - A homeostase normal da glicose é fortemente regulada por 3 processos inter-relacionados: produção de glicose no fígado; captação de glicose e utilização pelos tecidos periféricos, principalmente músculos esqueléticos; ações da insulina e de hormônios contrarregulatórios, incluindo glucagon, na captação de glicose e no metabolismo - A insulina e o glucagon têm efeitos regulatórios opostos na homeostase da glicose - Durante o estado de jejum, os níveis baixos de insulina e altos de glucagon facilitam a gliconeogênese hepática e a glicogenólise (quebra de glicogênio) enquanto diminuem a síntese de glicogênio, evitando, assim, a hipoglicemia. Logo, os níveis plasmáticos de glicose no jejum são determinados primariamente pela produção de glicose hepática - Após uma refeição, os níveis de insulina aumentam e os níveis de glucagon caem em resposta à grande carga de glicose. A insulina promove a captação de glicose e sua utilização nos tecidos - O músculo esquelético é o principal local responsivo à insulina para a utilização de glicose pós- alimentação, revelando-se crítico para evitar hipoglicemia e manter a homeostase da glicose REGULAÇÃO DA LIBERAÇÃO DE INSULINA: - A insulina é produzida nas células β das ilhotas pancreáticas como uma proteína precursora, sendo clivada proteoliticamente no complexo de Golgi para gerar o hormônio maduro e um subproduto peptídico, o C- peptídeo - Tanto a insulina quanto o C-peptídeo são, então, armazenados em grânulos secretórios e secretados em quantidades equimolares após o estímulo fisiológico; portanto, os níveis do C-peptídeo funcionam como um substituto para a função da célula β, diminuindo com a perda de massa da célula β no diabetes tipo 1, ou aumentando com a hiperinsulinemia associada à resistência NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 - O estímulo mais importante para a síntese e a liberação de insulina é a própria glicose - O aumento nos níveis de glicose sanguínea resulta em captação de glicose pelas células β pancreáticas, facilitada pelo transportador de glicose independente de insulina, o GLUT-2 - As células β expressam um canal de K + sensível ao ATP na membrana, que apresenta duas subunidades: o canal de K + sensível ao ATP e o receptor de sulfonilureia, sendo este último o local de ligação dos agentes hipoglicemiantes orais (sulfonilureias), uma das várias classes de medicamentos usados no tratamento do diabetes - O metabolismo da glicose gera ATP, que inibe a atividade do canal de K + sensível ao ATP, levando à despolarização da membrana e ao influxo do Ca 2+ - O aumento resultante no Ca 2+ intracelular estimula a secreção de insulina, presumivelmente do hormônio armazenado dentro dos grânulos das células β. Essa é a fase de liberação imediata de insulina- Se o estímulo secretório persistir, segue uma resposta tardia e prolongada que envolve a síntese ativa de insulina - A ingestão oral de alimentos leva à secreção de vários hormônios que desempenham papel relevante na homeostase da glicose e de saciedade - Observa-se que a classe mais importante de hormônios responsáveis pela promoção da secreção de insulina a partir de células pancreáticas β consecutivamente à alimentação são as incretinas. 2 incretinas foram identificadas: o polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP), secretado por “células K” enteroendócrinas no intestino delgado proximal, e o peptídeo-1 similar ao glucagon (GLP-1), secretado por “células L” no íleo distal e no cólon - A elevação nos níveis de GIP e GLP-1 após a ingestão de alimentos por via oral é conhecida como “efeito da incretina” - Além do aumento da secreção de insulina a partir de células β, esses hormônios também reduzem a secreção de glucagon e retardam o esvaziamento gástrico, o que promove saciedade - Uma vez liberados, o GIP e GLP-1 circulantes são degradados na circulação por uma classe de enzimas conhecidas como dipeptidil-peptidase (DPPs), especialmente DPP-4 NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 - O “efeito da incretina” está significativamente atenuado em pacientes com diabetes tipo 2, e os esforços para restaurar a função da incretina podem levar a melhor controle glicêmico e perda de peso (através da restauração de saciedade). Essas observações resultaram no desenvolvimento de duas novas classes de medicamentos para pacientes com diabetes tipo 2: agonistas do receptor de GLP-1 – mimetizadores sintéticos do GLP-1 que se ligam ao receptor de GLP-1 e o ativam em locais extrapancreáticos e nas ilhotas – e inibidores de DPP-4, que melhoram os níveis de incretinas endógenas ao retardar sua degradação AÇÃO DA INSULINA E RESPECTIVAS VIAS DE SINALIZAÇÃO: - A insulina é o hormônio anabólico conhecido mais potente, com múltiplos efeitos de síntese e promotores de crescimento - A principal função metabólica da insulina consiste em majorar a taxa de transporte de glicose em determinadas células do corpo, aumentando, assim, a mais importante fonte de energia, bem como de metabólitos intermediários que são usados na biossíntese de componentes estruturais celulares, como, por exemplo, lípidos, nucleotídeos e aminoácidos - Essas células são as células do músculo estriado (incluindo as miocárdicas) e, em menor grau, adipócitos - A captação de glicose em outros tecidos periféricos, mais notavelmente no cérebro, independe de insulina - Nas células musculares, a glicose é tanto armazenada com glicogênio quanto oxidada para gerar ATP - No tecido adiposo, a glicose é primariamente armazenada como lipídio - Além de promover a síntese lipídica, a insulina também inibe a degradação lipídica nos adipócitos. De modo similar, a insulina promove captação de aminoácidos e síntese proteica enquanto inibe a degradação proteica - Os efeitos anabólicos da insulina são atribuíveis à síntese aumentada e à degradação reduzida de glicogênio, lipídios e proteínas. Além disso, a insulina tem diversas funções mitogênicas, incluindo a iniciação da síntese de DNAem certas células e a estimulação de seu crescimento e diferenciação - O receptor de insulina é uma proteína tetramérica composta de 2 subunidades α e 2 β - O domínio citoplasmático da subunidade-β tem atividade de tirosina-cinase - A ligação da insulina ao domínio extracelular da subunidade-α ativa a tirosina-cinase da subunidade-β, resultando em autofosforilação do receptor e em fosforilação (ativação) de diversas proteínas substrato intracelulares, como, por exemplo, a família das proteínas substrato do receptor de insulina (IRS), as quais incluem IRS1-IRS4 e GAB1 - As proteínas substrato, por sua vez, ativam múltiplas cascatas de sinalização subsequentes, inclusive as vias da PI3K e da MAP cinase, que medeiam as atividades mitogênicas e metabólicas da insulina na célula - A sinalização da insulina facilita o tráfego e o atracamento das vesículas que contêm a proteína transportadora de glicose GLUT-4 na membrana plasmática, o que promove captação de glicose. Esse processo é mediado por AKT, o principal efetor da via da PI3K, mas também ocorre de forma independente pela proteína citoplasmática CBL, que é um alvo de fosforilação direta do receptor de insulina NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 PATOGÊNESE DO DM TIPO 1: - O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune em que a destruição das ilhotas é causada principalmente por células efetoras imunológicas que reagem contra antígenos endógenos das células β - O diabetes do tipo 1 se desenvolve com mais frequência na infância, tornando-se manifesto na puberdade e progredindo com o avançar da idade - A maioria dos pacientes com diabetes do tipo 1 necessita de insulina para sobreviver; sem ela, esses pacientes desenvolvem sérias complicações metabólicas, como, por exemplo, cetoacidose e coma - Assim como ocorre na maior parte das doenças autoimunes, a patogênese do diabetes tipo 1 envolve a interação de fatores genéticos e fatores ambientais SUSCETIBILIDADE GENÉTICA: - Atualmente, são conhecidos mais de trinta loci de suscetibilidade para o diabetes tipo 1. Destes, de longe o mais importante é o locus HLA no cromossomo 6p21, que, de acordo com algumas estimativas, contribui para até 50% da suscetibilidade genética do diabetes tipo 1 - Cerca de 90% a 95% dos caucasianos com essa doença têm tanto o haplotipo HLA-DR3 quanto o HLA- DR4, contrariamente a cerca de 40% dos indivíduos normais; além do mais, 40% a 50% dos pacientes com diabetes do tipo 1 são heterozigotos combinados de DR3/DR4, contrariamente aos 5% de indivíduos normais - Os indivíduos que apresentam tanto o DR3 quanto o DR4 em concomitância com um haplotipo DQ8 (o qual corresponde aos alelos DQA1*0301-DQB1*0302) ostentam um dos mais elevados riscos herdados para o diabetes tipo 1 em estudos realizados com irmãos - De forma previsível, os polimorfismos nas moléculas de HLAestão localizados ou adjacentes aos bolsos de ligação peptídica, o que é consistente com a noção de que os alelos associados à doença codificam moléculas com a capacidade de apresentar antígenos em particular - Não se sabe ainda se as associações da doença-HLArefletem a habilidade de moléculas de HLAespecíficas apresentarem antígenos de ilhotas próprios ou se estão relacionadas com o papel das moléculas HLAna seleção e tolerância das células T - Diversos genes não HLA também conferem suscetibilidade ao diabetes tipo 1. O primeiro gene não MHC associado à doença a ser identificado foi o da insulina, com um número variável de repetições tandem (VNTRs) na região promotora associado à suscetibilidade da doença. O mecanismo subjacente a essa associação é desconhecido - É possível que esses polimorfismos influenciem o nível de expressão da insulina no timo, afetando, assim, a seleção negativa de células T reativas à insulina - A associação entre polimorfismos em CTLA4 e PTPN22 e tireoidite autoimune já foi mencionada; não surpreendentemente, ambos os genes também estão ligados à suscetibilidade ao diabetes tipo 1 - A relação do diabetes tipo 1 com a seleção e a regulação de células T alteradas também é ressaltada pela prevalência marcante dessa doença em indivíduos com defeitos de linha germinativa rara em genes que codificam para os reguladores do sistema imunológico, como, por exemplo, AIRE, mutações que causam a síndrome de poliendocrinopatia autoimune do tipo 1 (APS, tipo 1) FATORES AMBIENTAIS: - Como ocorre em outras doenças autoimunes, a suscetibilidade genética contribui apenas em parte para o risco de diabetes, e os fatores ambientais devem desempenhar algum papel NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 - Embora se tenha sugerido que infecções virais anteriores talvez tenhamfuncionado como gatilho para o desenvolvimento da doença, nem o tipo de vírus nem a forma como promove a autoimunidade específica da ilhota foram estabelecidos. Alguns estudos sugerem que os vírus podem partilhar antígenos com epitopos das ilhotas, e a resposta imunitária aos vírus resulta em reatividade cruzada e destruição dos tecidos das ilhotas, um fenômeno conhecido como mimetismo molecular - Por outro lado, infecções também são conhecidas por serem protetoras contra o diabetes tipo 1 MECANISMOS DE DESTRUIÇÃO DA CÉLULA ΒETA: - Embora o início clínico do DM tipo 1 seja abrupto, há um longo período de latência entre o início do processo autoimune e o aparecimento da doença - Nesse período, ocorre perda progressiva das reservas de insulina - As manifestações clássicas da doença ocorrem tardiamente em seu curso, após mais de 90% das células β terem sido destruídas - A anomalia imunológica fundamental no diabetes tipo 1 é uma falha da autotolerância em células T específicas para antígenos das ilhotas. Essa falha da tolerância pode resultar de algumas combinações de deleções clonais defeituosas das células T autorreativas no timo, assim como de defeitos nas funções das células T regulatórias ou resistência das células T efetoras à supressão pelas células regulatórias. Portanto, as células T autorreativas não somente sobrevivem, como também são estabilizadas para responder aos autoantígenos - A ativação inicial dessas células é conhecida por ocorrer nos linfonodos peripancreáticos, talvez em resposta aos antígenos que são liberados das ilhotas danificadas - As células T ativadas trafegam, então, até o pâncreas, onde causam lesão à célula β - Múltiplas populações de células T foram implicadas nesse dano, incluindo as células TH1 (que podem secretar citocinas, abrangendo IFN-γ e TNF, que danificam as células β) e CTLs CD8+ (que matam diretamente as células β) - Os autoantígenos das ilhotas que são alvos do ataque imunológico podem incluir insulina, a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAB) das células β e o autoantígeno 512 das células da ilhota (ICA512) - No entanto, não está claro se os autoanticorpos causam a lesão ou se somente são produzidos como consequência da lesão da ilhota PATOGÊNESE DO DM TIPO 2: - O DM tipo 2 é uma doença complexa que envolve a interação de fatores genéticos e ambientais, além de um estado pró-inflamatório - Não há evidência de base autoimune NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 FATORES GENÉTICOS: - A suscetibilidade genética contribui para a patogênese, como resta evidenciado pela taxa de concordância da doença, acima de 90%, nos gêmeos monozigóticos. Além disso, parentes de 1º grau apresentam de 5- 10x mais risco de desenvolver diabetes tipo 2 do que aqueles sem histórico familiar, quando comparados por idade e peso - Estudos de associação ampla de genoma (GWAS) realizados ao longo da última década identificaram pelo menos 30 loci que conferem individualmente um aumento mínimo a modesto do risco de vida para o diabetes tipo 2 - A elucidação dos mecanismos bioquímicos pelos quais esses e outros genes ligados contribuem para patogênese do diabetes é um trabalho em andamento FATORES AMBIENTAIS: - O mais importante fator de risco ambiental para o diabetes tipo 2 é a obesidade, particularmente a obesidade central ou visceral - Mais que 80% dos indivíduos com diabetes tipo 2 são obesos, e a incidência de diabetes em todo o mundo tem aumentado proporcionalmente à obesidade - A obesidade contribui para as alterações metabólicas principais do diabetes e a resistência à insulina no início da doença - Um estilo de vida sedentário (caracterizado por falta de exercício) é outro fator de risco para diabetes, independente da obesidade. Perda de peso e a prática de exercícios geralmente têm efeitos aditivos para melhorar a sensibilidade à insulina e, muitas vezes, são as primeiras medidas não farmacológicas tentadas em pacientes com diabetes tipo 2 mais branda DEFEITOS METABÓLICOS DO DIABETES: - Os 2 efeitos metabólicos primordiais que caracterizam o DM tipo 2 são: Diminuição da resposta dos tecidos periféricos, especialmente de músculo esquelético, tecido adiposo e fígado em relação à insulina (resistência à insulina) Secreção inadequada de insulina em virtude da resistência desenvolvida e hiperglicemia (disfunção da célula β) - A resistência à insulina prediz o desenvolvimento da hiperglicemia e, geralmente, faz-se acompanhar do hiperfuncionamento compensatório das células β e da hiperinsulinemia nos estágios precoces da evolução do diabetes - Ao longo do tempo, a incapacidade das células β em se adaptar às necessidades secretoras crescentes para a manutenção de um estado euglicêmico resulta em hiperglicemia crônica e nas complicações de longo prazo resultantes do diabetes permanente NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 RESISTÊNCIA A INSULINA: - É a incapacidade de os tecidos-alvo responderem normalmente à insulina - Fígado, músculo esquelético e tecido adiposo são os principais tecidos em que a resistência à insulina se manifesta na tolerância anormal à glicose - A resistência à insulina resulta em: • Incapacidade para inibir a produção endógena de glicose no fígado (gluconeogênese), o que contribui para os altos níveis de glicose no sangue em jejum • Incapacidade para absorver a glicose e síntese de glicogênio ocorrendo no músculo esquelético logo após uma refeição, o que contribui para o elevado nível de glicose pós-prandial no sangue • Incapacidade para inibir a lipoproteína lipase no tecido adiposo, conduzindo a um excesso circulante de ácidos graxos livres (AGLs), que, por sua vez, amplificam o estado de resistência à insulina - Uma variedade de defeitos funcionais foi relatada na via de sinalização de insulina em estados de resistência a essa substância. Por exemplo, observa-se fosforilação reduzida da tirosina do receptor de insulina e de proteínas IRS nos tecidos periféricos, o que compromete a sinalização da insulina e reduz o nível do transportador de glicose GLUT-4 na superfície da célula • Obesidade e Resistência à Insulina: - A obesidade é o fator mais importante que contribui para a resistência à insulina - A obesidade pode ter impacto adverso na sensibilidade à insulina de diversas maneiras: 1. Ácidos graxos livres (AGLs) O tecido adiposo central é mais lipolítico do que os locais periféricos, o que pode explicar as consequências particularmente deletérias desse padrão de distribuição da gordura. O excesso de AGLs sobrecarrega as vias de oxidação dos ácidos graxos intracelulares, levando ao acúmulo de intermediários citoplasmáticos, como, por exemplo, o diacilglicerol (DAG). Esses intermediários “tóxicos” podem atenuar a sinalização através da via do receptor de insulina Nos hepatócitos, a insulina normalmente inibe a gliconeogênese através do bloqueio da atividade da carboxicinase fosfoenolpiruvato, o 1º passo enzimático nesse processo. A sinalização atenuada da insulina permite que a fosfoenolpiruvato carboxicinase aumente a gliconeogênese. O excesso de AGLs também compete com a glicose pela oxidação do substrato, levando à inibição retroativa das enzimas glicolíticas, agravando, assim, ainda mais o desequilíbrio existente da glicose 2. Adipocina É preciso lembrar que o tecido adiposo não é somente um depósito passivo de armazenamento de gordura, mas também um órgão endócrino funcional que libera hormônios em resposta a alterações no estado metabólico Uma variedade de proteínas secretadas na circulação sistêmica pelo tecido adiposo foi identificada, e são chamadas coletivamente de adipocinas (ou citocinas adiposas). Algumas promovem a hiperglicemia, enquanto outras adipocinas (como a leptina e a adiponectina) diminuem a glicose no sangue, em parte por causa do aumento da sensibilidade à insulina emtecidos periféricos. Os níveis de adiponectina estão reduzidos na obesidade, contribuindo, assim, para a resistência à insulina 3. Inflamação Sabe-se que um ambiente inflamatório – mediado não somente por um processo autoimune, tal como o diabetes do tipo 1, mas também por citocinas pró-inflamatórias que são secretadas em resposta ao excesso de nutrientes, como, por exemplo, os ácidos graxos livres (AGL) e a glicose – resulta tanto da resistência à insulina quanto da disfunção de célula β O excesso de AGLs no interior de macrófagos e células β pode ativar o inflamassoma, um complexo citoplasmático multiproteico que leva à secreção da citocina interleucina IL-1β AIL-1β, por sua vez, faz a mediação da secreção das citocinas pró-inflamatórias de macrófagos adicionais, células de ilhotas e outras células NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 10 AIL-1 e outras citocinas são liberadas na circulação e agem sobre os principais locais de ação da insulina para promover resistência à insulina. Assim, AGLs em excesso podem impedir a sinalização de insulina diretamente nos tecidos periféricos, bem como indiretamente, através da liberação das citocinas pró-inflamatórias DISFUNÇÃO DA CÉLULA BETA: - Embora a resistência à insulina, por si só, possa levar a uma tolerância limitada à glicose, a disfunção das células β é praticamente um requisito para o desenvolvimento do diabetes patente - Em contraste com os defeitos genéticos graves na função da célula β que ocorre em formas monogênicas de diabetes, a função da célula β aumenta precocemente, no processo da doença, na maioria dos pacientes com diabetes do tipo 2 “esporádica”, principalmente como uma medida compensatória para combater a resistência à insulina e manter a euglicemia. No entanto, às vezes, aparentemente esgotam sua capacidade de se adaptar às demandas de longo prazo da resistência periférica à insulina, e o estado hiperinsulinêmico dá lugar a um estado de deficiência relativa de insulina - Vários mecanismos têm sido implicados na promoção da disfunção da célula β no diabetes tipo 2, entre eles: • Excesso de ácidos graxos livres, os quais comprometem a função da célula β e atenuam a liberação de insulina (“lipotoxicidade”) • Impacto da hiperglicemia crônica (“glicotoxicidade”) • “Efeito incretina” anormal, levando à redução da secreção de GIP e GLP-1, os hormônios que promovem liberação de insulina • Deposição amiloide dentro ilhotas. Esse é um achado característico nos indivíduos com diabetes tipo 2 prolongado, fazendo-se presente em mais de 90% das ilhotas diabéticas examinadas, mas não está claro se é uma causa ou um efeito do “esgotamento” da célula β • O impacto da genética não pode ser descontado, dado que muitos dos polimorfismos associados ao aumento do risco para o diabetes tipo 2 ocorrem em genes que controlam a secreção de insulina ASPECTOS CLÍNICOS DO DIABETES: - Anteriormente, acreditava-se que o diabetes tipo 1 ocorria primariamente em pessoas mais jovens que 18 anos, mas agora sabe-se que acomete pessoas em qualquer idade - Nos dois primeiros anos após o início do diabetes tipo 1 patente, as necessidades de insulina exógena podem ser mínimas por causa da continuidade da secreção de insulina endógena (conhecida como período de lua de mel). Posteriormente, toda reserva residual de célula β é exaurida, e a necessidade de insulina aumenta significativamente. Embora a destruição das células β seja um processo prolongado, a transição da tolerância à glicose alterada para o diabetes propriamente dito pode ser abrupta, e frequentemente é trazida à tona por um evento, como, por exemplo, uma infecção, que também está associada à necessidade aumentada de insulina - Os pacientes com diabetes tipo 2 normalmente têm mais de 40 anos e, frequentemente, são obesos. No entanto, com o aumento da obesidade e do estilo de vida sedentário na sociedade, o diabetes tipo 2 agora é visto em crianças e adolescentes com frequência crescente. Em alguns casos, a atenção médica é procurada por causa de fadiga, tonturas ou visão turva inexplicadas. Mais frequentemente, o diagnóstico do diabetes do tipo 2 é feito após testes de sangue rotineiros em pessoas assintomáticas. O teste de glicose de rotina é recomendado para todos com idade superior a 45 anos A TRÍADE CLÁSSICA DO DIABETES: - O aparecimento do diabetes tipo 1 é normalmente marcado pela tríade de poliúria, polidipsia e polifagia, e, quando grave, também cetoacidose diabética, todas resultantes de desarranjos metabólicos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 11 - Devido ao fato de a insulina ser um dos principais hormônios anabólicos, sua deficiência resulta em um estado catabólico que afeta não somente o metabolismo de glicose, mas também o metabolismo de gordura e proteínas - A secreção não contraposta de hormônios contrarregulatórios (glucagon, hormônio do crescimento e epinefrina) também desempenha papel relevante nesses desarranjos metabólicos - A assimilação da glicose nos tecidos musculares e adiposos é nitidamente diminuída ou abolida. Não só o armazenamento de glicogênio no fígado e no músculo cessa, como também as reservas são depletadas pela glicogenólise - A hiperglicemia resultante excede o limiar renal para a reabsorção e segue- se a glicosúria. A glicosúria induz diurese osmótica e logo poliúria, causando profunda perda de água e eletrólitos. A perda de água renal obrigatória, combinada com a hiperosmolaridade resultante dos níveis aumentados de glicose no sangue, tende a depletar a água intracelular, disparando os osmorreceptores dos centros de sede do cérebro. Desse modo, aparece sede intensa (polidipsia) - Com a deficiência de insulina, a balança muda de anabolismo promovido pela insulina a catabolismo de proteínas e gorduras. A proteólise se segue, liberando os aminoácidos gliconeogênicos que são removidos pelo fígado e usados como blocos de construção para a glicose - O catabolismo de proteínas e gorduras tende a induzir um balanço de energia negativo, o que, por sua vez, leva ao apetite aumentado (polifagia), logo completando a tríade clássica do diabetes: poliúria, polidipsia e polifagia - A despeito do apetite aumentado, os efeitos catabólicos prevalecem, resultando em perda de peso e fraqueza muscular. A combinação de polifagia e perda de peso é paradoxal e sempre deve levantar suspeita de diabetes COMPLICAÇÕES METABÓLICAS AGUDAS DO DIABETES: CETOACIDOSE DIABÉTICA - A cetoacidose diabética é uma complicação grave do diabetes tipo 1, mas também pode ocorrer no diabetes tipo 2, embora não tão comumente nem em extensão tão significativa. O fator precipitante mais comum é a falta de tomar insulina, embora outros fatores de estresse, como infecções intercorrentes, doenças, traumas e certas drogas, também possam levar a essa complicação. Muitos desses fatores estão associados à liberação da catecolamina epinefrina, que bloqueia qualquer ação residual de insulina e estimula a secreção de glucagon. A deficiência de insulina acoplada com o excesso de glucagon diminui a NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 12 utilização periférica de glicose enquanto aumenta a gliconeogênese, exacerbando gravemente a hiperglicemia (os níveis de glicose plasmática estão, em geral, na faixa de 250 a 600 mg/dL). Hiperglicemia causa diurese e desidratação osmóticas, características do estado de cetoacidose - O 2º efeito importante da deficiência de insulina é a ativação da maquinaria cetogênica. A deficiência de insulina estimula a lipoproteína lipase, com interrupção resultante do armazenamento adiposo e aumento nos níveis de ácidos graxos livres. Quando esses ácidos graxos livres alcançam o fígado, são esterificados à acil-coenzima A graxo. A oxidação das moléculas de acil-coenzima A graxo nas mitocôndrias hepáticas produz corpos cetônicos (ácido acetoacético e ácido β-hidroxibutírico).A taxa na qual os corpos cetônicos são formados pode exceder aquela em que o ácido acetoacético e o ácido β-hidroxibutírico podem ser utilizados pelos tecidos periféricos, levando à cetonemia e à cetonúria. Se a excreção urinária das cetonas estiver comprometida pela desidratação, o resultado é cetoacidose metabólica sistêmica. A liberação de aminoácidos cetogênicos pelo catabolismo das proteínas agrava o estado cetótico - As manifestações clínicas da cetoacidose diabética incluem fadiga, náuseas e vômitos, dor abdominal grave, odor frutado característico e respiração trabalhosa e profunda (também conhecida como respiração de Kussmaul) - A persistência do estado cetótico leva à depressão na consciência cerebral e ao coma - A reversão de cetoacidose requer administração de insulina, correção da acidose metabólica e tratamento dos fatores precipitantes subjacentes, como, por exemplo, infecção - A cetoacidose é significativamente baixa no DM tipo 2, por causa dos níveis mais altos de insulina na veia portal nesses pacientes, o que evita a oxidação de ácidos graxos hepáticos irrestrita e mantém a formação dos corpos cetônicos sob controle SÍNDROME HIPEROSMÓTICA HIPEROSMOLAS (HHS) - O DM tipo 2 pode desenvolver a HHS - É decorrente da desidratação grave como resultado de uma diurese osmótica sustentada (em especial, em pacientes que não bebem água suficiente para compensar as perdas urinárias da hiperglicemia crônica) - Tipicamente, o paciente é uma pessoa mais velha diabética que foi debilitada por um AVE ou uma infecção e se mostra incapaz de manter a ingestão normal de água - A ausência de cetoacidose e de seus sintomas (náuseas, vômitos e respiração de Kussmaul) retarda a busca por cuidados médicos até que a desidratação seja bastante grave e ocorra comprometimento do estado mental - Em geral, a hiperglicemia é mais grave do que na cetoacidose diabética, dentro da faixa de 600 a 1.200 mg/dL HIPOGLICEMIA: - A complicação metabólica aguda mais comum em qualquer tipo de diabetes é a hipoglicemia - Geralmente é resultado da perda de uma refeição, do esforço físico excessivo, da administração de insulina em excesso ou durante a fase de determinação de dose para agentes antidiabéticos - Os sinais e sintomas de hipoglicemia incluem tonturas, confusão, sudorese, palpitações e taquicardia; se a hipoglicemia persistir, pode ocorrer perda de consciência - A reversão da hipoglicemia através da ingestão oral ou intravenosa de glicose previne o aparecimento de danos neurológicos permanentes NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 13 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES: - A morbidade associada ao diabetes de longa duração de um ou outro tipo se deve a danos induzidos em artérias musculares de grande e médio porte (doença macrovascular diabética) e em pequenos vasos (doença macrovascular diabética) por hiperglicemia crônica - A doença macrovascular causa aterosclerose acelerada entre os diabéticos, resultando em risco aumentado de infarto do miocárdico, AVC e isquemia das extremidades inferiores - Os efeitos da doença microvascular são mais profundos na retina, nos rins e nervos periféricos, resultando em retinopatia diabética, nefropatia e neuropatia, respectivamente PATOGÊNESE DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS: - A hiperglicemia persistente (“glicotoxicidade”) parece ser responsável pelas complicações no longo prazo do diabetes - A maioria das evidências que suportam o papel do controle glicêmico na melhora das complicações em longo prazo veio de grandes experimentos randômicos. Nesses experimentos, a avaliação do controle glicêmico baseou-se no percentual de hemoglobina glicosada, também conhecida como HbA1C ,que é formado pela adição covalente não enzimática das metades de glicose na hemoglobina das células vermelhas. Diferentemente dos níveis da glicose sanguínea, o HbA1C fornece uma medida do controle glicêmico ao longo do tempo de vida de uma célula vermelha (120 dias) e é pouco afetado por variações diárias - Recomenda-se que o HbA1C seja mantido abaixo de 7% em pacientes diabéticos - É importante enfatizar que a hiperglicemia não é o único fator responsável pelas complicações em longo prazo do diabetes, e que outras alterações subjacentes, como a resistência à insulina, e comorbidades, como a obesidade, também desempenham papel importante - Pelo menos 4 mecanismos diferentes foram implicados nos efeitos deletérios da hiperglicemia persistente nos tecidos periféricos, embora a primazia de qualquer uma sobre a outra não esteja clara. Em cada um dos mecanismos propostos, considera-se que o aumento do fluxo de glicose através de várias vias metabólicas intracelulares gere precursores prejudiciais que contribuem para danos nos órgãos-alvo FORMAÇÃO DE PRODUTOS FINAIS DA GLICAÇÃO AVANÇADA: - Os produtos finais da glicação avançada (AGEs) resultam das reações não enzimáticas entre os precursores dicarbonil derivados da glicose (glioxal, metilglioxal e 3-deoxyglicosona) com os grupos amino das proteínas intracelulares e extracelulares - A taxa natural da formação do AGE é mais acelerada na presença de hiperglicemia - O AGE se liga a um receptor específico (RAGE), que é expresso nas células inflamatórias (macrófagos e células T), no endotélio e no músculo liso vascular - Os efeitos prejudiciais do eixo de sinalização AGE-RAGE dentro do compartimento vascular incluem: • Libertação de citocinas e fatores de crescimento, incluindo o fator de crescimento transformante β (TGF-β), o qual leva à deposição de excesso de material de membrana basal e do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), envolvido na retinopatia diabética • Geração de espécies reativas de oxigênio (ROS) em células endoteliais • Aumento da atividade pró-coagulante em células endoteliais e macrófagos • Proliferação aumentada das células musculares lisas vasculares e síntese da matriz extracelular - Além dos efeitos mediados pelo receptor, os AGEs podem interagir com proteínas da matriz extracelular NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 14 - A ligação cruzada de moléculas de colágeno tipo I nos grandes vasos diminui sua elasticidade, o que, eventualmente, predispõe esses vasos ao rompimento pelo estresse e à lesão endotelial. De modo similar, a ligação cruzada do colágeno tipo IV induzida por AGE na membrana basal reduz a adesão das células endoteliais e aumenta o extravasamento de fluidos - As proteínas com ligações cruzadas pelos AGEs mostram-se resistentes à digestão proteolítica. Logo, a ligação cruzada diminui a remoção de proteínas enquanto acentua a deposição de proteínas - Os componentes da matriz modificados pelo AGE também aprisionam proteínas plasmáticas ou intersticiais • Nos grandes vasos, o aprisionamento de LDL, por exemplo, retarda seu efluxo da parede dos vasos e acentua a deposição de colesterol na íntima, acelerando, assim, a aterogênese • Nos capilares, inclusive naqueles dos glomérulos renais, as proteínas plasmáticas, como, por exemplo, a albumina, se ligam à membrana basal glicada, sendo responsáveis, em parte, pelo espessamento da membrana basal (característica da microangiopatia diabética) ATIVAÇÃO DA PROTEÍNA CINASE C: - A ativação dependente de cálcio da proteína cinase C intracelular (PKC) e pelo segundo mensageiro diacilglicerol (DAG) é uma importante via de transdução de sinais - A hiperglicemia intracelular estimula a síntese de novo de DAG a partir de intermediários glicolíticos, levando, portanto, à ativação excessiva da PKC - Os efeitos consequentes da ativação da PKC são numerosos, incluindo produção de VEGF, TGF-β e da proteína procoagulante inibidor do ativador do plasminogênio 1 (PAI-1) pelo endotélio vascular - É evidente que alguns efeitos dos AGEs e da PKC ativada se sobrepõem, e ambos provavelmente contribuem para a microangiopatia diabética. MORFOLOGIA E CARACTERÍSTICAS DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES: -As alterações morfológicas importantes estão relacionadas com as muitas complicações sistêmicas tardias do diabetes - Essas alterações são observadas tanto no diabetes tipo 1 quanto no tipo 2 PÂNCREAS: - As lesões no pâncreas são inconstantes e raramente de valor diagnóstico - As alterações típicas estão associadas com mais frequência ao tipo 1 do que ao tipo 2 - Uma ou mais das seguintes alterações podem estar presentes: • Redução no número e no tamanho das ilhotas. Esse problema é NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 15 observado mais frequentemente no diabetes tipo 2, em especial quando há avanço rápido da doença. A maioria das ilhotas é pequena e inconspícua • Infiltrados leucocitários nas ilhotas (insulite) são compostos principalmente de linfócitos T e são também observados nos modelos animais do diabetes autoimune. O infiltrado linfocitário pode estar presente nos diabéticos tipo 1 no momento da apresentação clínica • No diabetes tipo 2 pode haver redução sutil da massa celular das ilhotas • A deposição amiloide nas ilhotas no diabetes tipo 2 começa ao redor ou nos próprios capilares e entre as células. Em estágios avançados, as ilhotas podem ser virtualmente obliteradas; também é possível observar fibrose. Lesões similares podem ser encontradas em pessoas mais velhas não diabéticas, aparentemente como parte normal do envelhecimento • O aumento no número e no tamanho das ilhotas é especialmente característico dos recém-nascidos não diabéticos de mães diabéticas. Presumivelmente, as ilhotas fetais sofrem hiperplasia em resposta à hiperglicemia materna DOENÇA MACROVASCULAR DIABÉTICA: - O diabetes exige um tributo pesado do sistema vascular - A disfunção endotelial, que predispõe à aterosclerose e a outras morbidades cardiovasculares, é generalizada no diabetes, como consequência dos efeitos deletérios da hiperglicemia persistente e da resistência à insulina no compartimento vascular - O marco da doença macrovascular diabética é a aterosclerose acelerada que envolve a aorta e as artérias de médio e grande calibre. Exceto por sua elevada gravidade e por seu início em idade precoce, a aterosclerose nos diabéticos é indistinguível daquela que ocorre nos não diabéticos - O infarto do miocárdio, causado pela aterosclerose das artérias coronárias, é a causa mais comum de morte nos diabéticos - A gangrena dos MMII, como resultado da doença vascular avançada, é cerca de 100x mais comum nos diabéticos do que na população em geral - As maiores artérias renais também estão sujeitas à aterosclerose grave, porém o efeito mais danoso do diabetes nos rins é exercido nos glomérulos e na microcirculação - A arteriosclerose hialina, lesão vascular associada à hipertensão, é mais prevalente e mais grave nos diabéticos do que nos não diabéticos, mas não é específica para o diabetes e pode ser vista em pessoas mais velhas não diabéticas sem hipertensão. Assume a forma de um espessamento amorfo e hialino na parede das arteríolas, o que causa estreitamento da luz. Não surpreendentemente, nos diabéticos está relacionada não somente à duração da doença, mas também ao nível da pressão sanguínea MICROANGIOPATIA DIABÉTICA: - Uma das características morfológicas mais consistentes do diabetes é o espessamento difuso das membranas basais - O espessamento é mais evidente nos capilares da pele, dos músculos esqueléticos, da retina, dos glomérulos renais e da medula renal. No entanto, também pode ser observado em estruturas não vasculares, como os túbulos renais, a cápsula de Bowman, os nervos periféricos e a placenta - Devemos notar que, a despeito do aumento na espessura das membranas basais, os capilares diabéticos são mais permeáveis às proteínas plasmáticas do que os normais - A microangiopatia é a base do desenvolvimento da nefropatia, da retinopatia e de algumas formas de neuropatia diabética NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 16 NEFROPATIA DIABÉTICA: - Os rins são os alvos primários do diabetes - A falência renal fica atrás somente do infarto do miocárdio como causa de morte dessa doença - 3 lesões são encontradas: (1) lesões glomerulares (2) lesões vasculares renais, principalmente arteriosclerose (3) pielonefrite, incluindo papilite necrotizante - As lesões glomerulares mais importantes são espessamento da membrana basal capilar, esclerose mesangial difusa e glomerulosclerose nodular ESPESSAMENTO DA MEMBRANA BASAL CAPILAR: - O espessamento generalizado da membrana basal capilar glomerular (GBM) ocorre em praticamente todos os casos de nefropatia diabética e faz parte da microangiopatia diabética - Estudos morfométricos meticulosos demonstram que esse espessamento começa até 2 anos após o início do diabetes tipo 1 e, em 5 anos, atinge cerca de 30% de aumento - O espessamento continua progressivamente e, em geral, de forma concorrente com o alargamento mesangial - Simultaneamente, há espessamento da membrana basal tubular ESCLEROSE MESANGIAL DIFUSA: - Essa lesão consiste no aumento difuso da matriz mesangial - Pode haver proliferação leve e precoce das células mesangiais no processo da doença, mas a proliferação celular não é parte proeminente dessa lesão - O aumento mesangial está tipicamente associado ao espessamento geral da GBM - Com a progressão da doença, a expansão das áreas mesangiais pode evoluir para configurações nodulares - A expansão progressiva do mesângio se correlaciona bem com as medidas de deterioração da função renal, como a proteinúria aumentada GLOMERULOSCLEROSE NODULAR: - Também é conhecida como glomerulosclerose intercapilar ou doença de Kimmelstiel-Wilson - As lesões glomerulares assumem a forma de nódulos de matriz, ovoides ou esféricos, frequentemente laminados, situados na periferia do glomérulo - Os nódulos frequentemente mostram características de mesangiólise com desgaste da interface luz capilar/ mesangial e ruptura dos locais em que os capilares estão ancorados nos eixos mesangiais. O último pode produzir microaneurismas capilares decorrentes da distensão externa dos capilares livres como resultado das pressões e dos fluxos intracapilares - Em geral, nem todos os lóbulos no glomérulo individual estão envolvidos por lesões nodulares, mas até mesmo os lóbulos não envolvidos e os glomérulos mostram uma esclerose mesangial difusa surpreendente NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 17 - Com o avanço da doença, os nódulos individuais aumentam e, eventualmente, podem comprimir e incorporar os capilares, obliterando o tufo glomerular. Com frequência, essas lesões nodulares estão acompanhadas por acúmulo proeminente de material hialino nas alças capilares (“capas de fibrina”) ou aderentes às cápsulas de Bowman (“gotas capsulares”). Tanto as arteríolas hilares glomerulares aferentes quanto as eferentes mostram hialinose - Como consequência das lesões glomerulares e arteriolares, os rins sofrem isquemia, desenvolvem atrofia tubular e fibrose intersticial e, em geral, sofrem contração geral no tamanho - Aproximadamente 15% a 30% dos indivíduos com diabetes de longa duração desenvolvem glomerulosclerose nodular, que, na maioria dos casos, está associada a uma falência renal ATEROSCLEROSE E ARTERIOLOSCLEROSE RENAL: - Constituem parte da doença macrovascular nos diabéticos - O rim é um dos órgãos mais frequente e gravemente afetados; no entanto, as alterações nas artérias e arteríolas são similares àquelas encontradas por todo o corpo - A arteriolosclerose hialina afeta não somente a arteríola aferente, mas também a eferente PIELONEFRITE: - É a inflamação aguda ou crônica dos rins que, em geral, começa no tecido intersticial e depois se espalha para afetar os túbulos - Tanto a forma aguda quanto a forma crônica dessa doença são mais comuns nos diabéticos do que na população em geral, e, uma vez afetados, os diabéticos tendem a apresentar um envolvimentomais grave - Um padrão especial de pielonefrite aguda, a papilite necrotizante (ou necrose papilar), é muito mais prevalente nos diabéticos do que nos não diabéticos COMPLICAÇÕES OCULARES DIABÉTICAS: - O olho é profundamente afetado pelo DM - Hiperglicemia induzida pelo diabetes conduz à opacificação adquirida da lente, condição conhecida como catarata - O diabetes de longa data também está associado ao aumento da pressão intraocular (glaucoma) e os danos resultantes no nervo óptico - As mudanças histopatológicas mais profundas do diabetes são vistas na retina. A vasculopatia retinal do diabetes melito pode ser classificada em retinopatia diabética de fundo (preproliferativa) e retinopatia diabética proliferativa NEUROPATIA DIABÉTICA: - A prevalência da neuropatia periférica em indivíduos com diabetes depende da duração da doença; em geral, até 50% dos pacientes diabéticos apresentam clinicamente neuropatia periférica, e até 80% daqueles que tiveram a doença por mais de 15 anos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO DIABETES CRÔNICO: - Em ambos os tipos, os efeitos em longo prazo do diabetes, mais do que as complicações metabólicas agudas, é que são os responsáveis pela maioria esmagadora de morbidade e mortalidade NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 18 - Na maioria dos casos, essas complicações aparecem aproximadamente 15 a 20 anos após o início da hiperglicemia - A severidade das complicações crônicas está relacionada tanto com o grau quanto com a duração da hiperglicemia, como evidenciado pela atenuação do dano do órgão-alvo através do controle glicêmico eficaz em estudos prospectivos - Complicações macrovasculares, como o infarto de miocárdio, a insuficiência vascular renal e os acidentes vasculares encefálicos, são as causas mais comuns de mortalidade no diabetes de longa duração. Os diabéticos têm uma incidência 2-4x maior de doença da artéria coronariana e apresentam risco 4x maior de morte por causa de complicações cardiovasculares do que os não diabéticos. Igualmente, observa-se elevado risco de doença cardiovascular nos pré-diabéticos. O diabetes é, com frequência, acompanhado por condições subjacentes que favorecem o desenvolvimento de eventos cardiovasculares adversos. Por exemplo, hipertensão é encontrada em aproximadamente 75% dos indivíduos com diabetes tipo 2 e potencializa os efeitos da hiperglicemia e da resistência à insulina na disfunção e na aterosclerose endoteliais. Outro risco cardiovascular visto com frequência em diabéticos é a dislipidemia, que inclui tanto os níveis aumentados de triglicerídeos e de LDL quanto os níveis diminuídos da lipoproteína “protetora”, a lipoproteína de alta densidade. Acredita-se que a resistência à insulina contribua para a “dislipidemia diabética” pelo favorecimento da produção hepática de lipoproteínas aterogênicas e pela supressão da captação dos lipídios circulantes nos tecidos periféricos. Finalmente, os diabéticos apresentam níveis elevados de PAI-1, que é um inibidor de fibrinólise e atua, portanto, como um pró-coagulante na formação de placas ateroscleróticas - Nefropatia diabética é a principal causa da doença renal em estágio terminal nos Estados Unidos. Cerca de 30% a 40% de todos os diabéticos desenvolvem evidências clínicas de nefropatia, porém uma fração consideravelmente pequena de pacientes com diabetes tipo 2 progridem para a doença renal terminal. A frequência da nefropatia diabética é fortemente influenciada pela composição genética da população em questão. As primeiras manifestações da nefropatia diabética é o surgimento de pequenas quantidades de albumina na urina (> 30 mg/dia, porém < 300 mg/dia), que é a microalbuminúria. Notavelmente, a microalbuminúria também é um marcador para a morbidade e a mortalidade cardiovascular fortemente aumentado no caso de pessoas com diabetes tipo 1 ou tipo 2. Por isso, todos os pacientes com microalbuminúria devem ser avaliados para doença macrovascular, e a intervenção agressiva deve ser realizada, a fim de reduzir os fatores de risco cardiovascular. Sem intervenções específicas, aproximadamente 80% dos diabéticos do tipo 1 e 20% a 40% dos diabéticos tipo 2 irão desenvolver nefropatia patente com macroalbuminúria (> 300 mg de albumina urinária por dia) ao longo de 10 a 15 anos, geralmente acompanhada pelo aparecimento de hipertensão. A progressão da nefropatia patente para a fase final da doença renal é altamente variável, mas, em cerca de 20 anos, mais de 75% dos diabéticos tipo 1 e aproximadamente 20% dos diabéticos tipo 2 com nefropatia desenvolverão doença renal terminal, o que requer diálise ou transplante renal - Danos visuais, algumas vezes cegueira total, são uma das consequências mais temidas do diabetes de longa duração. Cerca de 60% a 80% dos pacientes desenvolvem alguma forma de retinopatia diabética aproximadamente 15 a 20 anos depois do diagnóstico. A lesão fundamental da retinopatia – neovascularização – é atribuída à superexpressão de VEGF induzida por hipóxia na retina. O tratamento atual para essa condição inclui a administração intravítrea de agentes antiangiogênicos. Os diabéticos também apresentam propensão aumentada para glaucoma e formação de catarata, ambos contribuindo para o dano visual no diabetes - A nefropatia diabética pode evocar uma variedade de síndromes clínicas, afligindo o SNC, os nervos sensorimotores periféricos e o SNA. O padrão mais frequente de envolvimento é a polineuropatia simétrica distal dos membros inferiores, que afeta tanto a função motora quanto a sensorial. Ao longo do tempo, os membros superiores também podem ser envolvidos, aproximando-se, assim, de um padrão de polineuropatia de “luvas e meias”. Outras formas incluem neuropatia autonômica, que produz distúrbios na NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 19 função intestinal e na bexiga, e algumas vezes impotência sexual e mononeuropatia diabética, que pode manifestar-se como pés caídos, punhos caídos ou paralisia súbita dos nervos craniais isolados - Diabéticos são afligidos pela suscetibilidade acentuada a infecções de pele e a tuberculose, pneumonia e pielonefrite. Em um indivíduo com neuropatia diabética, uma infecção trivial do dedo do pé pode ser o 1º evento de uma longa sucessão de complicações (gangrena, bacteremia, pneumonia) que pode, por fim, levar à morte. A base da suscetibilidade acentuada é multifatorial e inclui funções neutrofílicas diminuídas (quimiotaxia, aderência ao epitélio, fagocitose e atividade microbiana) e produção de citocinas pelos macrófagos prejudicada. O comprometimento vascular também reduz a distribuição das células e moléculas circulantes que são requeridas pela defesa do hospedeiro
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