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História do Brasil: Vinda da Família Real Portuguesa

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Aula 01
História do Brasil p/ CACD (Diplomata)
Primeira Fase - Com Videoaulas -
Pós-Edital
Autores:
Diogo D'angelo, Pedro Henrique
Soares Santos
Aula 01
15 de Julho de 2020
 
 
 
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Sumário 
Portugal em apuros: a invasão Napoleônica e a vinda da Família Real Portuguesa para a América .............. 3 
O governo joanino na América portuguesa: política interna e externa ............................................................. 6 
A Revolução Liberal do Porto e o processo de independência do Brasil ......................................................... 14 
Esquema e detalhamento .................................................................................................................................. 29 
Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 56 
Lista de Questões .............................................................................................................................................. 66 
Gabarito ........................................................................................................................................................... 71 
 
 
Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
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APRESENTAÇÃO 
Olá caro aluno! 
Nesta nossa aula abordaremos um momento crucial de nossa história: a vinda da família real portuguesa 
para o Brasil e o processo que levaria à independência de nosso país, além claro de seus assuntos correlatos. 
O tema desta aula invariavelmente tem caído nas provas do CACD, então bastante atenção! 
 
 
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PORTUGAL EM APUROS: A INVASÃO NAPOLEÔNICA E A VINDA DA FAMÍLIA 
REAL PORTUGUESA PARA A AMÉRICA 
A história da vinda da real família portuguesa para suas possessões americanas está, como é bem sabido, 
ligada ao furacão napoleônico que assolava a Europa. Por isso, repassemos rapidamente os eventos que 
levaram Napoleão a voltar suas atenções ao pequeno reino ibérico. 
Tendo chegado ao poder como cônsul francês em 1799 na esteira do golpe de 18 Brumário e, pouco depois, 
coroado imperador em 1804, Napoleão Bonaparte buscava ampliar seu poder e tornar a França hegemônica 
no continente europeu. 
Depois de dominar vastas partes da Europa Central, a exemplo dos Países Baixos, e subjugar as potências 
terrestres do continente – Áustria e Prússia – o imperador francês dirigiu suas atenções à grande inimiga de 
seu país, a Inglaterra. Tentou invadir a ilha britânica e fracassou miseravelmente, sendo derrotado pelas 
forças marítimas inglesas lideradas pelo Almirante Nelson na batalha de Trafalgar em 1805. 
Destruída a frota francesa, Napoleão buscou outras formas de derrotar os britânicos. Analisando 
corretamente os aspectos econômicos de seu tempo, percebeu que uma parcela significativa do comércio 
externo inglês era dirigida ao continente europeu, que era o destino de vários produtos manufaturados na 
ilha britânica. Sendo assim, já que possuía o controle real do continente até as fronteiras russas, decidiu 
sufocar a economia inglesa por meio do famoso Bloqueio Continental. Napoleão instituiu que nenhum país 
europeu poderia abrir seus portos para comprar produtos ingleses sob pena de invasão de tropas francesas. 
Várias outras questões poderiam ser levantadas sobre o Bloqueio Continental e o porquê de sua falha, mas 
escrever sobre isso seria fugir do tema de nossa aula. 
O que nos importa aqui é perceber como a política de Bloqueio impactou o reino de Portugal. A monarquia 
portuguesa enfrentava verdadeiro dilema no que se refere a sua política europeia. Em verdade, Portugal 
possuía vínculos e necessitava de ambas as nações em guerra. Por um lado, a França possuía uma formidável 
“máquina de guerra” que havia vencido as maiores potências terrestres da época. Sua influência alcançava 
vastas partes da Europa, incluindo a vizinha de Portugal, Espanha. Antes mesmo que o irmão de Napoleão 
usurpasse o trono espanhol, a Espanha era aliada francesa. Assim sendo, Portugal corria um sério e real risco 
de ser invadido se simplesmente fosse contra as políticas e exigências do novo monarca francês. 
Por outro lado, a monarquia portuguesa possuía uma longeva aliança com os ingleses, desde o século XV ao 
menos. Ao longo da idade moderna, Portugal foi auxiliado pelas tropas britânicas em diversos momentos, 
desde a independência da Espanha em 1640 à chamada “Guerra Fantástica” em 1762 no contexto da guerra 
dos sete anos, para não mencionar durante o período turbulento da revolução francesa. Esses laços foram 
se estreitando com medidas e tratados econômicos adotados por ambos os reinos, como o tratado de 
Methuen de 1703 – também conhecido como tratado de panos e vinhos. Ainda por cima, os estadistas 
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portugueses reconheciam que, caso desafiassem os ingleses, poderiam partilhar do destino dos 
dinamarqueses – que tiveram sua capital bombardeada por se negarem a furar o bloqueio napoleônico. 
Ademais, o império português, marítimo por excelência, seria extremamente suscetível e frágil a ataques da 
poderosa marinha inglesa. Como sintetizou Rubens Ricupero: 
Durante os conflitos da Revolução e do império napoleônico, Portugal, consciente de sua 
fraqueza militar, tudo fez para manter a neutralidade, não o conseguindo devido à pressão 
franco-espanhola. (...) Na passagem do século XVIII para o XIX, Portugal seguia firmemente 
subordinado à relação assimétrica que estabelecera com a Inglaterra, sua aliada desde 
tempos remotos. (...) Sempre que irrompia um conflito entre as alianças rivais do sistema 
europeu de Balança de Poder, Lisboa via-se defrontada com o mesmo dilema. A fim de 
preservar o império ultramarino, tinha de alinhar-se com o velho aliado britânico, cuja 
esquadra representava a única possibilidade de defesa das colônias e de suas linhas 
marítimas de comunicação com a metrópole. Expunha-se com isso a um possível ataque 
ao território metropolitano por parte da França e de sua aliada, a Espanha. (...) Quase 
inconcebível configurava-se a opção oposta, em favor de Paris e Madri, pois significaria a 
perda do império e, em última análise, o aumento da vulnerabilidade do reino, nesse caso 
ainda mais reduzido e enfraquecido em relação a seu poderoso vizinho continental.1 
Na corte lisboeta, organizaram-se duas facções políticas: uma apoiava a aliança com os ingleses e era dirigida 
por D. Rodrigo de Souza Coutinho. Outra, cuja personalidade mais importante seria o Conde da Barca – 
Antônio de Araújo e Azevedo –, propunha um distanciamento da Grã-Bretanha e uma aproximação com os 
franceses, tal como fizera a Espanha. 
A situação ambígua de Portugal neste contexto de alvoroço político internacional expôs o reino a grandes 
perigos. Balançando entre apoiar a França e apoiar a Inglaterra, sua posição causou dúvidas em todos os 
atores envolvidos. O soberano lusitano tomava medidas que ora agradavam os ingleses e ora agradava aos 
franceses. Tamanha era a ambiguidade de ações que, em 1807, o conselho de Estado decidiu pelo bloqueio 
dos navios ingleses em portos portugueses – e, portanto, uma atitude pró-França – ao mesmo tempo em 
que requisitava secretamente o auxílio inglês para a transferência de membros da família real para a colônia 
americana. A capacidade de iludir os governos das potências em guerra foi tão grande que o comandante da 
esquadra inglesa aportada em Lisboa – e que escoltaria a família para o Brasil – tinhaordens de, caso os 
portugueses voltassem atrás nos planos de sair do reino, bombardear a capital, tal como fizeram com os 
dinamarqueses tempos antes. Outrossim, Napoleão viria a escrever em seu diário que somente o regente D. 
João fora capaz de enganá-lo. 
Cabe aqui um pequeno excerto sobre o plano de transferência da corte portuguesa para a América. Mudar 
a sede da Coroa portuguesa era um plano antigo. Percebendo suas debilidades territorial, militar e 
populacional frente às grandes potências europeias – principalmente em face da vizinha Espanha – os reis e 
 
1 RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil (1750-2016). Rio de Janeiro: Versal, 2017, p. 83-84. 
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ministros portugueses aventaram a possibilidade de migrar a corte desde o século XVI, principalmente 
durante períodos de crise. O plano foi se tornando mais palatável aos monarcas lusitanos na medida em que 
a colônia americana foi se tornando a principal fonte de receita do reino e se aperceberam que, sem o Brasil, 
Portugal nada seria. 
A saída deixou de ser um mero plano quando a notícia da entrada de forças franco-espanholas em território 
português alcançou a Corte. O movimento hostil de franceses e espanhóis fora decidido no tratado de 
Fontainebleau em 27 de outubro.2 Em fins de novembro de 1807, foi dada a ordem de retirada de toda a 
família real e do governo. Foi formada uma Junta Governativa que governaria as terras lusas e, 
posteriormente, organizar a resistência às tropas franco-espanholas. Por volta de 15 mil pessoas migraram 
em poucos dias para a América e cerca de metade do dinheiro circulante foi embarcada. 
Saindo em novembro de 1807, a corte portuguesa chegou ao litoral da América em 1808, aportando em 
Salvador, onde foi recepcionado pelas autoridades civis soteropolitanas. A cidade ficou toda enfeitada para 
a chegada do soberano, evento singular na história do Ocidente. Aquele episódio marcaria de modo 
definitivo os rumos de ambas as sociedades, tanto brasileira quanto lusa. 
 
 
2 Ficara decidido neste tratado que o território português seria dividido e suas colônias seriam repartidas entre França e Espanha. 
Ricupero, op. cit. P. 87. 
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Embarque da Família Real para o Brasil 
 
O GOVERNO JOANINO NA AMÉRICA PORTUGUESA: POLÍTICA INTERNA E 
EXTERNA 
Após o desembarque da corte, várias mudanças foram operadas na antiga forma de relacionamento entre a 
‘colônia’ e a ‘metrópole’, fruto incontornável das circunstâncias. Ora, o Estado português estava migrando, 
logo, seria necessário dotar a colônia com os aparatos burocráticos necessários para seu funcionamento. O 
conjunto da obra seria o fim efetivo do status de colônia das terras lusoamericanas. Podemos ainda afirmar 
com tranquilidade que a partir de então seria operada a inversão do “nexo colonial” entre Portugal e Brasil, 
a ponto de contemporâneos do evento poderem afirmar que Portugal havia se tornado colônia do Brasil. 
Mas vamos ponto a ponto nas questões que levariam a tal realidade. 
O primeiro passo dessa alteração se daria com a abertura dos portos realizada em 1808. Participaria da 
escrita do documento José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu. Como entender e interpretar esse 
documento? 
Primeiramente, devemos retomar a ideia do pacto colonial ou exclusivo metropolitano, como se refere 
importante corrente historiográfica brasileira – que tem em Caio Prado Jr. e Fernando Novais grandes 
expoentes – às práticas mercantilistas adotadas pela metrópole lusa desde a organização sistemática da 
colonização na América. Dentre essas práticas, a mais significativa era a da exclusividade de comércio a que 
estava submetida a colônia. Isto é, a colônia somente poderia comprar produtos advindos da Metrópole (não 
necessariamente produzidos na metrópole) e somente poderia vender sua produção para a mesma. Isto 
criou, ainda segundo esse grupo de historiadores, uma situação desvantajosa aos colonos e prejudicial ao 
desenvolvimento econômico da colônia. 
Pois bem, essa realidade se alterou quando a Família Real chegou em Salvador. Com a assinatura do 
documento supracitado o pacto colonial foi, na prática, destruído. Desta forma, os navios de todas “as 
nações amigas” poderiam comercializar nos portos brasileiros. Com esta medida quebrava-se os middle-men, 
isto é, os mercadores portugueses que até aquele momento operavam no mercado europeu. 
Rubens Ricupero nos chama a atenção para o fato de que a assinatura do documento de abertura dos portos, 
da forma como fora redigido, não era de vontade dos ingleses. Em verdade, os ingleses, desde o tratado 
secreto assinado em 1807, antes da transferência da Corte, queriam um porto onde pudessem comercializar 
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de modo preferencial e não a abertura total a todos os povos. A fórmula final foi bem mais liberalizante do 
que esperavam e mesmo ansiavam os britânicos.3 
Ainda assim, não devemos deixar de ter em mente que a abertura dos portos foi fruto não só da pressão 
diplomática inglesa (ainda que diferente do que desejavam, reafirmamos), como também da vontade de 
grupos expressivos da colônia e da realidade objetiva do Estado português. Os grandes comerciantes luso-
brasileiros que operavam a partir dos portos brasileiros, dentre os quais se destaca o do Rio de Janeiro, 
buscavam maior liberdade econômica. Essa busca advinha não só da experiência prática de que o monopólio 
comercial se mostrava prejudicial a seus interesses, mas também de leituras de autores ‘liberais’ do período, 
particularmente Adam Smith – que publicara seu livro A riqueza das Nações em 1776. Afirmamos é que havia 
uma classe de pessoas instruídas, um substrato social que se alinhava às ideias econômicas ‘avançadas’ do 
tempo, ainda que não necessariamente apoiassem concepções políticas modernas, menos ainda no campo 
do trabalho. Essa elite política luso-brasileira apoiaria rapidamente as mudanças liberais em curso que as 
colocava em primeiro plano nas relações com a antiga metrópole e a permitiria tomar maior controle do 
Estado. A disputa entre os grupos mercantis – simbolizados nas praças mercantis lisboeta e carioca – e o 
medo que a elite brasileira tinha de perder o que havia ganhado no período joanino seria um dos elementos 
que levaria à independência mais a frente. 
Ademais, como seria possível manter o exclusivo metropolitano se sequer o Estado português tinha domínio 
do território do reino? Como seria possível que o aparato estatal ficasse à mercê de um monopólio que era 
impossível de ser exercido? Como nova sede do Estado, era necessário dotar a colônia de meios para 
sustentá-lo. Tal como se manifestou José da Silva Lisboa no momento: “depois da fatal desgraça da invasão 
do Reino, e assento da Corte no Brasil, era de evidente, absoluta, e inevitável necessidade política abrirem-
se os portos destes domínios ultramarinos ao comércio estrangeiro”.4 
O Foreign Office conseguiu, de fato, o que queria com as negociações que resultariam no tratado de 1810, o 
primeiro daqueles que a literatura de relações internacionais chama de “tratados desiguais”. Por meio dele, 
instituíam-se taxas preferenciais de comércio aos navios ingleses e eram concedidos vários ‘direitos’ aos 
nacionais britânicos. Em outras palavras, os ingleses pagariam menos impostos alfandegários que quaisquer 
outros grupos mercantes. 
A flagrante assimetria que caracteriza o tratado exprimiu-se, entre outros pontos,na 
fixação dos direitos sobre mercadorias inglesas em 15% ad valorem, discriminando contra 
mercadorias transportadas em naus portuguesas, cujos gravames haviam sido 
estabelecidos em 16%! Foi necessário esperar decreto de 18 de outubro, oito meses mais 
tarde, para que as autoridades lusitanas se lembrassem de igualar as tarifas! Outro 
exemplo de “reciprocidade cômica” (palavras de Oliveira Lima) que se adotou para as 
 
3 Idem, p. 93. 
4 Apud Ricupero, p. 91. 
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mercadorias tropicais. Era praticamente proibitivo exportar para os mercados ingleses 
produtos similares aos produzidos nas colônias britânicas, como o açúcar e o café – o grosso 
das exportações brasileiras –, apesar de se permitir o lucrativo comércio de reexportação. 
Em “reciprocidade”, a Coroa portuguesa poderia impor tarifas igualmente proibitivas sobre 
a mais que improvável importação, pelo Brasil, de açúcar, café e outros artigos das Índias 
Ocidentais britânicas!5 
O tratado tinha caráter permanente, sendo possível ser revisto a cada 15 anos, prorrogáveis por mais 2, o 
que levaria a Inglaterra a buscar outro tratado já com o Brasil independente em 1825 – no momento em que 
o Brasil buscava a mediação inglesa para que Portugal reconhecesse a cesura dos laços entre a ex-colônia e 
a ex-metrópole. Em 1827, os mesmos termos seriam reiterados, com graves consequências políticas e 
econômicas para o novo Estado. Para que você tenha uma ideia, a Inglaterra somente deixaria de ser nação 
favorecida em 1844, com a chamada Tarifa Alves Branco! Mas isso é tema para outra aula. 
Um segundo elemento, este da parte de cultura política, que foi bastante importante para a superação da 
condição de colônia foi a implantação da imprensa régia também em 1808. Até a vitória da Revolução liberal 
do Porto de 1820, não podemos afirmar que houvesse imprensa livre no país. Havia um tribunal censório, 
relativamente eficiente, que liberava ou não as publicações. No entanto, até aquele momento, não havia 
imprensa legal no país, razão pela qual muito se demorava para a publicação de livros na colônia, tanto mais 
de jornais! A partir daí, e num crescente durante todo o século XIX, a atividade jornalística e editorial ganharia 
forte impulso. E foram os jornais um dos grandes veículos utilizados pelos movimentos revolucionários, 
independentistas e/ou subversivos tanto do reino quanto da colônia – da revolução de 1817, à revolução do 
Porto até a independência. Os jornais, principalmente depois de 1820, seriam meios para a formação de um 
espaço público de debate. 
O terceiro elemento pode ser resumido nas inovações variadas que foram realizadas pelo monarca. Podemos 
citar: o fim da proibição da existência de manufaturas na colônia em 1808 – que não trouxe industrialização 
imediata, mas era uma necessidade prática, principalmente para a organização militar; a fundação do Jardim 
Botânico em 1808, cujo objetivo era, dentre outros, o científico; a criação do Banco do Brasil em 1808 com 
os recursos trazidos de Portugal; a criação da Real Academia Militar em 1810, que instituiu o primeiro curso 
superior no Brasil, dentre várias outras modernizações. Deu para perceber como a metrópole havia se 
“interiorizado” na colônia com a vinda da corte e como essa mesma interiorização levou à superação do 
estado colonial? 
Passemos para algumas questões factuais importantes do período joanino nas terras luso-brasileiras. 
Internamente, podemos elencar alguns pontos interessantes. A chegada da corte foi um evento migratório 
considerável. Conseguir alojamento foi uma tarefa complicada. Chegando ao Rio de Janeiro, várias casas 
foram desapropriadas e muitas outras doadas por membros da praça mercantil carioca ou por fazendeiros a 
 
5 Idem, p. 95-96. 
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membros da nobreza e para a Família Real. Doação de grande expressão foi a Quinta da Boa Vista, doada 
pelo comerciante Elias Antônio Lopes a D. João. À época, a fazenda ficava a certa distância do núcleo urbano 
e constituiu-se no local de residência real. 
Esses pequenos périplos da mudança dão-nos conta de algo significativo: muitos queriam a presença do rei 
aqui. Muito embora tenha surgido certo descontentamento com o deslocamento de pessoas, fato é que a 
presença régia significava a possibilidade de os súditos americanos serem ouvidos por Sua Majestade 
Fidelíssima. Até 1820, a monarquia portuguesa se organizava sob as bases - já fraturadas desde 1789 - da 
monarquia absoluta. Assim, o rei encarnava a soberania estatal e, portanto, os poderes de legislar, julgar e 
executar. Estar perto do rei era ‘graça’. 
O monarca português, por sua vez, não deixava de reforçar os símbolos de poder. Organizou, depois de 
chegar ao Rio de Janeiro, um ritual de beija-mão, no qual todos os súditos do regente poderiam aproximar-
se dele e beijar sua mão em sinal de respeito e lealdade. Reinóis e luso-brasileiros de todas as estirpes se 
encontraram nesta mesma cerimônia, símbolo visível de que o rei era ‘pai de todos’ os seus fiéis súditos. 
 
O Beija-mão 
Até 1814, Napoleão ainda era uma ameaça à Europa. Depois de sua derrota contra as forças aliadas, o motivo 
primeiro da vinda da família real não existia mais – as tropas francesas da invasão de Junot haviam sido 
retiradas. Assim, a permanência de D. João e da corte portuguesa em sua colônia foi perdendo legitimidade 
frente aos olhos da comunidade europeia e, particularmente, para os reinóis. Desta forma, decidiu alterar 
formalmente o status das terras americanas, que deixaram de conquista, domínio ou ainda colônia, para se 
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transformar em Reino Unido. Não se tratava agora de Portugal-Metrópole e Brasil-colônia, mas sim do Reino 
Unido de Portugal, Brasil e Algarves.6 
Este evento político não foi de pouca monta e mera formalidade vazia de significado como alguns 
historiadores afirmam. Ao contrário, como apontam István Jancsó e Paulo Pimenta em seu artigo “As peças 
de um mosaico”, a elevação do Brasil a Reino foi marcante para organização inicial de uma identidade muito 
dispersa até então: a de ‘brasileiro’, isto é, do sentimento de pertença dos luso-brasileiros a uma entidade 
política maior que a de suas províncias. 
O que queremos dizer é: havia camadas identitárias na colônia no âmbito regional - isto é, paulista, baiano, 
mineiro etc - e no âmbito imperial - ou seja, todos faziam parte do império português e súditos do monarca 
luso. Poderíamos afirmar claramente que o nascido em São Vicente ou no Rio de Janeiro sentia-se tão 
português quanto um reinol. Uma camada identitária intermediária, embora existisse formalmente na 
instituição do governo-geral da colônia, ganhou significância quando o próprio rei a pareou ao reino europeu. 
Desta forma, a partir de 1815, o conjunto das províncias portuguesas na América tinha um nome e um centro 
de poder: Brasil, com capital no Rio de Janeiro. Nortistas e sulistas poderiam agora se ver parte de uma 
organização política só. Essa identidade seria posteriormente reforçada nos debates parlamentares de 1820 
em Lisboa, mas isso fica para mais a frente. 
Ainda é necessário afirmar que, ao se tornar reino, o Brasil passaria a gozar dos mesmos privilégios - ao 
menos em teoria - que Portugal. A defesa dessas prerrogativas, como, por exemplo, a liberdade comercial e 
posteriormente a da representação política, seria um ponto de união das classes políticas brasileiras de norte 
a sul. 
Apesar detodas as vantagens trazidas pela corte portuguesa à antiga colônia e ao novo estatuto de reino 
unido, havia muito descontentamento com o governo de D. João, especialmente no Nordeste. Antigo polo 
de prosperidade da colônia nos séculos XVI e XVII, o nordeste brasileiro passou passava por dificuldades 
financeiras desde fins do século XVIII. As destruições da guerra contra os holandeses e, depois, a 
concorrência com o açúcar das Antilhas inglesas – tornada ainda pior com a abertura dos portos e o tratado 
de 1810 – levou a uma decadência da região com questões sociais potencialmente explosivas que viriam à 
tona em 1817 na chamada revolução pernambucana ou revolução dos padres. 
A explicação deste movimento insurrecional passa por múltiplos fatores. Para fins didáticos, vamos elencar 
três (para além da decadência econômica mencionada acima): ideias revolucionárias, seca e impostos 
elevados. 
 
6 Região ao sul de Portugal que até a proclamação da República Portuguesa (1910) era tratada como reino de jure separado de 
Portugal, mas que de facto não possuía qualquer diferenciação administrativa, privilégio ou autonomia frente ao governo lusitano. 
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As ideias da Revolução Francesa embasaram as ações tomadas pelos revolucionários pernambucanos, como 
se pode constatar nos escritos deixados por muitos dos envolvidos no movimento. Face a uma monarquia 
absoluta que não concedia espaços de representação e atuação política, as ideias de igualdade jurídica, de 
República e de participação “popular” – particularmente aquela representada pelo período jacobino – 
pareciam muito atraentes para parcela importante das camadas médias pernambucanas e de sua elite. Este 
ideário atuaria como norte condutor em muitas das medidas tomadas uma vez iniciados os movimentos de 
rebeldia. 
Também é relevante destacar dois pontos factuais – diria Braudel, parte da “espuma” da história – que 
levaram ao estouro do movimento. O primeiro trata-se de uma seca que ocorreu em 1816 que agravou o 
quadro econômico e social já bastante complicado da região. O outro refere-se ao aumento da carga 
tributária na região realizado pelo governo joanino para custear o alumiamento da corte carioca. 
Esses problemas levaram alguns homens a conspirarem para tomar o poder local e emancipar-se do governo 
português. As autoridades ligadas ao governo do Rio de Janeiro, ao saberem do que se passava, reagiu 
prendendo alguns dos conspiradores. No entanto, a insatisfação era generalizada e parte da tropa sublevou-
se a 6 de março de 1817, aderindo ao programa dos conspiradores e rebeldes. O representante do governo 
de D. João foi expulso de Pernambuco, uma república foi proclamada e um governo provisório formado. Em 
29 de março foi convocada uma assembleia constituinte que formalizou a separação de poderes, a liberdade 
de imprensa e a manutenção da escravidão. 
Foram enviados representantes do novo governo para outras províncias com o objetivo de trazê-las para a 
nova república, embora sem muito sucesso. A reação do governo português não tardou e a repressão foi 
violenta. As tropas portuguesas rapidamente ganharam terreno e em maio de 1817 rendiam as forças 
revolucionárias. As lideranças tiveram penas variadas: alguns foram mortos, outros degredados e outros 
presos. Dentre os últimos podemos contar Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio. 
A relevância da revolução pernambucana está em ter sido a última do ‘período colonial’ e de efetivamente 
terem conseguido alcançar o poder mesmo que por pouco tempo – diferença marcante em relação à 
Conjuração Baiana e à Inconfidência Mineira. Além disso, suas propostas políticas liberais eram bastante 
avançadas e influenciaram políticos da região nos foros representativos do Império posteriormente. 
Passemos então para a face externa da política joanina. Primeiro fato importante de recordarmos era o de 
que Portugal esteve em guerra até 1814. Havia, portanto, a necessidade de enfrentar a ameaça franco-
espanhola. Muito embora a atuação militar portuguesa em solo europeu fosse diminuta, D. João, ainda 
regente, decidiu por atuar contra seus inimigos na América. 
Aqui faz-se necessário distinguir claramente as ações tomadas pelo regente em relação à França e em relação 
à Espanha. Iniciemos pela primeira: tendo o reino sido invadido por ordem de Napoleão e em vista dos 
conflitos fronteiriços entre as duas colônias, D. João decidiu atacá-lo nas posses franceses da Guiana. Assim, 
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destinou para Caiena uma divisão de homens do Exército luso-brasileiro e tomou conta da região com 
relativa facilidade. As tropas ficaram estacionadas na região até o fim das guerras napoleônicas e ‘forçaram’ 
os franceses - já com Luís XVIII a frente - a negociarem as fronteiras favoravelmente aos portugueses. As 
tropas somente sairiam da Guiana em 1817. 
 Em relação à América espanhola, a política joanina foi um pouco diferente, por questões dinásticas. D. João 
era casado com a irmã do rei Fernando VII, Carlota Joaquina. As políticas matrimoniais ibéricas foram no 
sentido de estreitar os laços entre os dois reinos e, caso houvesse um problema sucessório, os reinos 
pudessem, novamente, ser unidos sob uma coroa - tal como ocorrera em 1580. 
Após a partida dos Bragança ao Brasil, Fernando VII fora sequestrado e um Bonaparte havia assumido o trono 
espanhol. Essa usurpação dos direitos dinásticos dos Bourbon espanhóis imediatamente foi contestada no 
reino e nas colônias hispano-americanas. Enquanto se formavam as juntas governativas em Espanha - que 
se uniriam na Junta de Cádiz -, progressivamente os cabildos da América espanhola também se organizaram 
em nome de El-Rey de Espanha, Fernando VII. A partir de 1810, várias juntas desafiaram o governo de 
Bonaparte e passaram a governar autonomamente os territórios das colônias – evento que é considerado o 
início do processo de independência dessas regiões. 
A sublevação espanhola e hispano-americana contra os franceses colocava uma dificuldade a D. João para 
simplesmente declarar guerra e invadir o território ao sul do Brasil, tal como fizera com a Guiana francesa. 
Assim, 
(...) a Corte mudou de tática e passou a empenhar-se em colocar a serviço do plano 
português os direitos dinásticos da consorte de D. João e do seu sobrinho, o infante de 
Espanha [que havia migrado junto com a corte portuguesa]. Despertou, com isso, as 
ambições incontroláveis da princesa Dona Carlota Joaquina de assumir, não como 
instrumento lusitano, mas de verdade e em caráter absolutista, a regência das possessões 
espanholas das Américas em nome do pai e o irmão.7 
Enquanto planos urdiam no Rio de Janeiro, o Cabildo Abierto8 de Buenos Aires decidiu pela deposição do 
vice-rei e pela formação de uma junta teoricamente subordinada diretamente ao rei sequestrado e não à 
junta central de Espanha. O governador espanhol de Montevidéu foi, então, promovido vice-rei e recebeu a 
incumbência de retomar o controle de Buenos Aires nem que para isso tivesse de pedir auxílio militar à corte 
portuguesa. Estando em situação periclitante – atacado pelos portenhos e pelo cadilho José Artigas – Elío 
pediu socorro a D. João. 
 
7 Ricupero, op. cit., p. 108. 
8 “(...) assembleia extraordinária que congregava os cabildos de diversas cidades vizinhas”. Idem, ibidem. 
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O príncipe regente de fato interviu e mandou tropas adentrarem o território da Banda Oriental.A chegada 
de tropas luso-brasileiras forneceu o tão necessário alívio às tropas leais à Espanha e o cerco à cidade de 
Montevidéu foi levantado. No entanto, conforme Ricupero, esta movimentação militar de D. João ia de 
encontro aos interesses britânicos. Conforme o autor, “Para os ingleses, o projeto lusitano no Rio da Prata 
aparecia como uma temerária diversão de forças tendente a debilitar a luta contra o inimigo comum.”9 
Assim, Strangford, o representante britânico junto à corte portuguesa, atuou diplomaticamente para a 
realização de um armistício, que acabou sendo celebrado em maio de 1812. Após a saída das tropas 
portuguesas, as tropas leais ao governo de Espanha foram derrotadas e Montevidéu capturada em 1814. 
Restaurado Fernando VII ao poder após o Congresso de Viena de 1814, os avanços liberais que haviam sido 
feitos com a Constituição de Cádiz de 1812 - promulgada pelas Cortes de Espanha durante o período da 
guerra napoleônica - foram enterrados e o rei passou a governar de forma absoluta, não sem resistências. 
Movimento semelhante foi organizado contra os governos autônomos que haviam se formado com as juntas. 
O governo de Madri queria retomar o controle político-econômico de suas colônias. Isso, no entanto, não 
era mais aceitável para as elites criollas dos vice-reinos, que haviam experimentado o poder durante a 
ausência de El-Rey. Assim, descrevendo de uma forma resumida, uma nova onda de contestações se iniciou, 
desta vez com o propósito claro de separação da metrópole. 
Neste novo contexto, conflitos estouraram nas colônias hispano-americanas ao sul do Brasil. Estavam em 
contenda diferentes grupos e projetos: os independentistas radicados em Buenos Aires que queriam 
construir um Estado centralizador, outros independentistas, tais como Artigas, que queriam um Estado 
bastante descentralizado, e os realistas espanhóis. Em face dessa realidade, D. João aproveitou-se para 
novamente tentar anexar a Banda Oriental e alcançar, enfim, as chamadas “fronteiras naturais” do Brasil 
(que seriam os rios Amazonas e Prata). 
Em 1816, então, foi enviado o Exército contra as tropas de Artigas. D. João poderia elencar duas grandes 
problemáticas para sua decisão: primeiro, o temor de que líder o caudilho viesse a invadir e ocupar o 
território das Sete Missões que antes do tratado de Madri de 1750 fizera parte do domínio espanhol. 
Outrossim, também havia o receio de que o pavio revolucionário aceso na Banda Oriental viesse a encontrar 
seu caminho para o Rio Grande do Sul. A campanha foi longa e somente em 1820 é que D. João conseguiu 
finalmente vencer os federales e tomar conta da região. Os platinos radicados em Buenos Aires se viram 
impotentes para lidar com a agressão portuguesa, haja vista os vários desafios políticos que tinham de 
enfrentar, além da sempre vigente ameaça de recolonização espanhola. Artigas retirou-se para o Paraguai, 
onde morreu em 1850 sem voltar a pisar em solo pátrio novamente. 
 
9 Idem, p. 107. 
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A Espanha reclamou diplomaticamente do movimento agressivo dos lusitanos junto às potências do então 
Concerto Europeu. Depois de mediação, ficou resolvido que Portugal devolveria a região mediante algumas 
condições, dentre as quais uma indenização de 7,5 milhões de francos. No entanto, os espanhóis 
retardaram de todas as maneiras o cumprimento do estipulado, enquanto esperavam 
organizar expedição de reconquista militar que partiria de Cádiz. No momento em que se 
completavam os preparativos, as tropas destinadas à expedição envolveram-se na 
revolução liberal de 1820, adiando em definitivo o assunto.10 
Com o descumprimento do tratado, o território da Banda Oriental foi anexado ao reino do Brasil, do qual 
faria parte formalmente até 1828. Essa vitória de D. João, no entanto, seria diminuída pela revolução liberal 
do Porto que tomou conta de Portugal no mesmo ano. 
 
A REVOLUÇÃO LIBERAL DO PORTO E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO 
BRASIL 
Um grupo de liberais, com alguns militares envolvidos, iniciou um movimento em 24 de agosto de 1820 
partindo do Norte de Portugal propondo reformas políticas substanciais. Elas seriam feitas pelas antigas 
“Cortes” que foram remodeladas similarmente ao funcionamento das Cortes de Cádiz e bastante inspiradas 
no modelo francês revolucionário. A principal tarefa das Cortes de Lisboa seria a de escrever uma 
constituição que fosse capaz de modernizar o Estado português e reorganizar suas relações com as demais 
partes do império ultramarino. 
O ideário do movimento revolucionário era de inspiração francesa, mas moderado pelas tradições 
portuguesas. Ambicionavam implantar uma monarquia parlamentar em que ficassem claramente divididos 
os poderes do Estado e no qual o rei tivesse papel diminuto na condução dos negócios públicos. 
Conseguindo a adesão de amplas parcelas da elite portuguesa, o movimento tomou conta de Portugal com 
relativa facilidade. Em 27 de setembro foram formadas duas Juntas: a Junta Provisional do Supremo Governo 
do Reino, para o governo ordinário, em lugar da Regência do Reino, e a Junta Preparatória para as Cortes 
Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, que organizaria as eleições para as Cortes.11 
 
10 Idem, p. 111. 
11 “O governo revolucionário de Portugal, por decreto de 18 de abril determinara a aplicação ao ultramar americano do regulamento 
de 22 de novembro, observado pela antiga metrópole nas eleições para as Cortes Gerais, sem mudança capaz de influir na 
representação. Cada província daria tantos deputados quantas vezes tivesse o número de trinta mil moradores, e no caso do excesso 
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Igualmente foram enviadas cartas para as províncias que compunham o reino do Brasil e para a corte de D. 
João. A este último, as Cortes informavam que estavam encaminhando o processo de regeneração do Reino 
e requisitava que jurasse as Bases da Constituição que seria feita e retornasse com toda a sua família a 
Portugal. 
As províncias do norte do Brasil - considerando aí Bahia, Pará e Maranhão - rapidamente aderiram, ante a 
possibilidade dada pelas Cortes de Lisboa de ganharem mais autonomia política e representação em âmbito 
legislativo, no qual eles poderiam lutar por questões que lhes fossem caras. Em seguida, as províncias do 
Sudeste também aderiram ao projeto liberal das Cortes. 
Quando a notícia chegou a D. João em 12 de outubro, encontrou-o surpreso e sem apoio para resistir ao 
assalto liberal às formas tradicionais de governar a que estivera acostumado. Inicialmente, apoiado pela 
grande nobreza emigrada, lançou um manifesto a 27 de outubro resistindo à decisão de convocação das 
Cortes, afirmando que o movimento era ilegal. Prometia retornar a Portugal para lidar com a situação. 
No entanto, o movimento ganhou muito apoio e forçou o monarca a fazer concessões. Em fevereiro de 1821, 
lançou outro manifesto, informando que enviaria seu filho Pedro com poderes para negociar com as Cortes. 
Entre fevereiro e março receberam notícia das reclamações das Cortes, que reforçava a queixa referida da 
permanência da família real em terras brasileiras. Assim, em março de 1821, anunciou ao povo que retornava 
ao reino e deixava seu filho como regente do Brasil. Embarcou para Lisboa em abril e lá aportou em julho. 
Este processo foi bastante tenso e marcado por idas e vindas. No meio dele, várias ideias mirabolantes 
surgiram, como a possibilidade aventada de permanecer no Brasil e deixar a terra-mãe de vez… No entanto, 
a realidade era que nem os grupos brasileiros estavam dispostos a lutar por uma monarquia absoluta e já se 
alinhavam com asCortes, como dito acima. 
Apesar de tudo, D. João não aquiesceu totalmente ao projeto das Cortes. Partiu, mas aqui deixou seu filho 
herdeiro ao trono português e teria dito a ele antes de embarcar, conforme registrado na história pátria, 
embora não haja confirmação absoluta do evento: “Faça a independência antes que um aventureiro a faça”. 
Esse fato foi fundamental para os desenvolvimentos ulteriores e marcante para o processo de independência 
das províncias brasileiras. 
Nesse ínterim, já que as comunicações entre os dois lados do Atlântico eram demoradas, eleições foram 
realizadas em Portugal e os trabalhos legislativos foram iniciados em janeiro sem a presença dos deputados 
brasileiros eleitos para as Cortes. Iniciaram pelas discussões de organização do Estado e logo chegaram às 
discussões acerca da relação entre as províncias americanas e o governo lisboeta. Duas posições políticas 
principais se definiram neste aspecto: alguns deputados, empenhados a restaurar a dignidade portuguesa a 
 
da povoação chegar a 15 mil almas designaria mais um representante, desprezada a diferença que não atingisse o último algarismo.” 
CARVALHO, Manuel Emílio Gomes de. Os Deputados Brasileiros nas Cortes Gerais de 1821. Brasília: Senado Federal, 2003, p. 80. 
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todo custo, queriam que o centro do poder e das decisões ficasse com o governo central em Lisboa, 
concedendo pouca autonomia legislativa e tributária para as províncias americanas. Outros, aos quais se 
juntariam os deputados brasileiros, mostrar-se-iam mais flexíveis ante a possibilidade de partilhar o poder 
com outras instâncias que não aquela das Cortes. Ao fim e ao cabo, a primeira proposta sairia vencedora. 
Enquanto isso, as juntas governativas das províncias se organizavam dando, pela primeira vez, a chance de 
as elites locais se apropriarem de um poder maior que a mera municipalidade – como fora o caso durante o 
período colonial. Igualmente eram feitas eleições para as Cortes e próximo de meados de 1821 os deputados 
brasileiros chegaram em Lisboa. 
Aqui é importante frisar que, neste momento inicial, não havia a intenção clara e determinada de se realizar 
a Independência. Os deputados brasileiros que chegavam à Lisboa buscavam, seriamente, a manutenção da 
unidade imperial portuguesa, com a preservação da monarquia e da dinastia de Bragança a frente. A grande 
diferença que viria a marcar a atuação dos deputados americanos de seus pares lusos seria o grau de 
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autonomia que seria outorgado ao governo regencial do Rio de Janeiro e aos governos de cada uma das 
províncias da América. 
 
 Deputados das Cortes de Lisboa 
 
Também se faz necessário apontar que havia muitas divergências entre os deputados brasileiros. Seria um 
engano acreditar que, porque provinham do mesmo reino – no caso, o Brasil – possuíam interesses idênticos. 
Os interesses comercias e a facilidade de comunicação aproximavam muito mais a províncias do Pará, 
Maranhão, Pernambuco e, em certa medida, a Bahia, dos portugueses do que dos cariocas. Não à toa, foram 
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regiões que tiveram de ser subjugadas pelo Imperador Pedro I para se manterem sob a mesma unidas ao 
Centro-Sul do país. 
No entanto, vale dizer, a reunião de deputados das mais diferentes províncias num único local propiciou, 
sim, o despertar de uma consciência de que eles eram diferentes, em algum grau, dos portugueses europeus. 
Ou seja, ao serem tratados em bloco pelos deputados portugueses – que os viam como “os brasileiros” – os 
deputados da América começaram a perceber vínculos mais concretos de unidade. Isso não fez, no entanto, 
que as diferenças desaparecessem. 
Seja como for, as Cortes de Lisboa não caminharam no sentido que uma parcela importante da elite brasileira 
desejava, isto é, as elites do centro-sul. Logo após o início dos trabalhos legislativos, ficou claro que os liberais 
portugueses estavam preocupados em resguardar prerrogativas do reino europeu, ainda que em detrimento 
das “liberdades” americanas. Tendo notícia dos encaminhamentos das Cortes, o governo da província de S. 
Paulo, influenciado claramente por José Bonifácio e sua família, formulou uma série de instruções aos 
deputados eleitos, dentre os quais seu irmão Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. 
As Instruções dão-nos uma noção da perspectiva da elite ilustrada coimbrã do centro-sul. Interessa-nos 
sobremaneira as duas primeiras partes do documento. Conforme nos traz Gomes de Carvalho: 
Ocupa-se a primeira [parte] dos interesses comuns do império luso-brasileiro. Cumpre aos 
representantes propugnarem a indivisibilidade da monarquia e a igualdade entre dois 
reinos e fixarem previamente a sede da realeza a qual será alternadamente o Brasil e 
Portugal. Regularão o comércio externo e interno conciliando as conveniências recíprocas 
sem tolher a liberdade de nenhum dos Estados. Haverá um tesouro da união para a guerra, 
a dotação da família real e outras despesas de caráter geral, para o qual contribuirão 
proporcionalmente às suas rendas públicas as duas seções do império. Os povos da Europa 
e da América terão nas Cortes o mesmo número de mandatários. No segundo capítulo, 
refere-se o regimento unicamente ao Brasil. Fixadas as atribuições e poderes que lhe 
resultam da categoria de reino e determinados os direitos e deveres impostos pela união, 
os mandatários promoverão o estabelecimento de um governo-geral ou regência no Brasil 
com autoridade sobre as juntas provinciais. Quando o monarca e o parlamento 
estanciarem em Portugal, preencherá a regência o príncipe herdeiro.12 (Grifo nosso) 
É interessante notar o teor do texto citado pelo autor. Embora inicie falando da necessidade de manutenção 
da unidade imperial, os representantes de São Paulo imaginavam uma unidade com ampla autonomia. Afora 
o mesmo rei e mesmos corpos diplomático e legislativo, teriam administrações, tesouros e organizações 
internas próprias, uma federação real. Também é de valor perceber que as instruções, na segunda parte, 
 
12 Idem, p. 162. 
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pedem, na prática, que se legitime o status quo existente na América portuguesa, isto é, um governo-geral 
acima das províncias e a presença do príncipe herdeiro na ausência do rei. 
José Bonifácio 
No entanto, como dito, muitos liberais portugueses não estavam dispostos a tratar o Brasil diferentemente 
das possessões africanas ou asiáticas, ou seja, como ‘ultramar’, ou ainda diferentemente de Algarves, que 
recebia a denominação honorífica de reino unido, sem qualquer autonomia. As atitudes dos deputados 
assim o demonstravam, uma vez que não se preocupavam com a ausência de brasileiros para legislarem 
questões relativas ao Brasil – apesar de promessa feita por líderes das Cortes de que os artigos que 
atingissem diretamente os interesses brasileiros pudessem ser revistos depois.13 Esta postura de fundo 
levaria a grandes desentendimentos, que pouco a pouco minaram as possibilidades de acordo e união do 
império. 
As relações entre as duas partes do Atlântico começaram a deteriorar por três resoluções tomadas: em 
primeiro lugar, os embates entre os presidentes das juntas das províncias – representantes do poder civil – 
com os comandantes de armas – que possuíam o controle das forças militaresprovinciais – que eram 
indicados pelas Cortes; em segundo, a exigência de retorno de D. Pedro feita pelas Cortes em Setembro de 
1821; por fim, o documento feito por autoridades da Província de São Paulo, apoiado por outros membros 
das elites brasileiras, de Minas Gerais particularmente, instando o príncipe a desobedecer as determinações 
das Cortes portuguesas de retorno a Portugal. 
Quanto às desavenças entre os comandantes de armas e os presidentes de província, a alegação das 
províncias era a de que não possuíam poder real uma vez que não tinham controle efetivo da força. À medida 
que as tensões foram aumentando entre as duas partes do império português, esta medida pareceu às elites 
 
13 Idem, p. 170. 
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brasileiras cada vez mais um instrumento de controle das Cortes no Brasil. Este sentimento foi fortalecido 
pelo envio de tropas portuguesas que ficaram sob controle desses governadores de armas, a exemplo do 
que ocorreu em Pernambuco em fins de 1821, ou o caso das tropas estacionadas na corte fluminense. Em 
verdade, este foi um dos principais motivos para a retórica da ‘recolonização’ das Cortes que fez escola na 
tradição historiográfica desde o trabalho do Visconde de Cairu sobre o processo de independência escrito na 
década de 1820. 
O pedido de retorno do príncipe regente foi outro golpe que estremeceu as relações. Para as Cortes, o 
retorno do herdeiro seria fundamental para retirar um ponto aglutinador para as elites brasileiras e acabaria 
a noção de um governo-geral acima das províncias. Essas ficariam ligadas e dependentes diretamente do 
governo central em Lisboa. A tão desejada autonomia das províncias brasileiras, particularmente do centro-
sul, seria alquebrada. 
Por fim, o documento dos paulistas causou verdadeira ira nos representantes da Nação portuguesa. O pedido 
para que o príncipe regente desobedecesse às Cortes, concretizado na proclamação do Fico do dia 9 de 
janeiro de 1822,14 foi uma afronta à autoridade das Cortes que depois de deliberação acirrada decidiram 
pedir mais uma vez o retorno do regente e a punição daqueles que haviam assinado o documento. 
Enquanto isso, no Brasil, ocorreram desenvolvimentos importantes para a cesura dos laços políticos. Em 16 
de janeiro de 1822, José Bonifácio assumiu a Secretaria de Negócios do Reino e a do Estrangeiro, tornando-
se de forma oficial a figura proeminente do governo encabeçado pelo regente. Um mês depois, frente às 
notícias que chegavam das Cortes e as querelas que eram apresentadas, Bonifácio e d. Pedro tomaram a 
decisão de convocar eleições para “Procuradores-Gerais” das províncias, que atuariam como corpo 
consultivo, mas não deliberativo, do governo. Este corpo de procuradores-gerais viria a ser instalado em 2 
de junho de 1822, mas não teria sobrevida. As Câmaras municipais e as províncias, naquele momento, 
queriam mais que mero poder de ‘consulta’. Tanto o é que no dia seguinte, 3 de junho, d. Pedro, seguindo 
os pedidos dos procuradores, fez um decreto convocando uma Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa 
composta de deputados das províncias. No dia 19 do mesmo mês seriam enviadas as instruções eleitorais 
para essa Assembleia. 
Tão importante quanto a convocação dos procuradores-gerais e a convocação de eleições foi a edição de um 
manifesto às nações lançado dia 6 de agosto. Este documento, cujo teor teve decisiva influência de Bonifácio 
– secretário dos Negócios Estrangeiros como dito – afirmava aos demais países do mundo o compromisso 
de manter as boas relações além de reafirmar o intento de continuar unido a Portugal. No entanto, atacava 
claramente os trabalhos das Cortes Portuguesas. Vejamos um pequeno trecho (grafia original): 
 
14 “Como é para o bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora só tenho a recomendar-
vos união e tranquilidade” disse o príncipe na ocasião. 
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Cumpre-Me [o príncipe] expôr-lhe succinta, mas verdadeiramente a série dos factos 
emotivos, que Me têm obrigado a anuir á vontade geral do Brazil, que proclama á face do 
Universo a sua Independencia politica; e quer como Reino Irmão, e como Nação grande e 
poderosa, conservar illesos e formes seus imprescriptiveis direitos, contra os quaes 
Portugal sempre attentou, e agora mais que nunca, depois da decantada Regeneração 
politica da Monarchia pelas Côrtes de Lisboa. (...) Muitas e muitas vezes levantaram seus 
brados a favor do Brazil os nossos Deputados; mas suas vozes expiram sufocadas pelos 
insultos da gentalha assalariada das galerias. A todas as suas reclamações responderam 
sempre que eram ou contra os artigos já decretados da Constituição, ou contra o 
Regulamento interior das Côrtes, ou que não podiam derrogar o que já estava decidido, ou 
finalmente respondiam orgulhosos - aqui não ha Deputados de Provincias, todos são 
Deputados da Nação, e só deve valer a pluralidade - falso e inaudito principio de Direito 
Publico, porém muito útil aos dominadores, porque, escudados pela maioria dos votos 
Europeus, tornavam nulos os dos Brazileiros, podendo assim escravizar o Brazil a seu sabor. 
Foi presente ao Congresso a Carta que Me dirigiu o Governo de S. Paulo, e logo depois o 
voto unanime da Deputação, que Me foi enviada pelo Governo, Câmara, e Clero da sua 
Capital. Tudo foi baldado. A Junta daquele Governo foi insultada, taxada de rebelde, e digna 
de ser criminalmente processada. Enfim, pelo órgão da Imprensa livre os Escriptores 
Brazileiros manifestaram ao Mundo as injustiças e erros do Congresso; e em paga da sua 
lealdade e patriotismo foram invectivados de venaes, e só inspirados pelo genio do mal, no 
machiavelico Parecer da Commissão. Á vista de tudo isto, já não é mais possível que o Brazil 
lance um véu de eterno esquecimento sobre tantos insultos e atrocidades; nem é 
igualmente possivel que elle possa jamais Ter confiança nas Côrtes de Lisboa, vendo-se a 
cada passo ludibriado, já dilacerado por uma guerra civil começada por essa iniqua gente, 
e até ameaçado com as cenas horrorosas de Haiti, [a revolução haitiana que foi 
marcadamente racial] que nossos furiosos inimigos muito desejam reviver.15 
Você pode estar se perguntando: ora, houve uma convocação de constituinte e um documento editado 
falando de independência antes mesmo do ‘grito do Ipiranga’ e dos cortes formais das relações entre os dois 
países? Bem, isso requer de nós um aprofundamento em dois pontos. 
Primeiramente, devemos ter em mente que a escolha dos marcos históricos são sempre, obviamente, 
posteriores aos eventos e processos históricos. Após o fim da unidade imperial entre Brasil e Portugal, alguns 
marcos foram buscados para definir o momento efetivo da cesura de laços. 
Alguns poderiam ser escolhidos: a convocação das Cortes constituintes, o grito do Ipiranga, a aclamação do 
Imperador e ainda sua coroação. Ora, cada um destes momentos – alguns dos quais vamos abordar daqui a 
pouco – teria um efeito simbólico. Explicamos: enquanto o 7 de setembro tem como figura principal e, 
basicamente, única D. Pedro – o que fortalece sua imagem como emancipador dos povos –, a aclamação do 
 
15 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/manife_sn/anterioresa1824/manifestosemnumero-41437-6-agosto-
1822-576171-publicacaooriginal-99440-pe.html> 
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imperador, em 12 de outubro, coloca em cena, também, o ‘povo’, as elites políticas, os grupos ao redor do 
monarca; igualmente, aconvocação das Cortes como marco colocaria um peso significativo à ‘nação’ 
reunida, mais do que ao monarca. Logo, a definição da data foi uma luta simbólica na história para dar um 
determinado ‘tom’ à narrativa dos acontecimentos, 
Segundamente, no que se refere à convocação das Cortes antes mesmo da cesura formal dos laços, tal fato 
não deve nos espantar tanto assim. O que foi feito nada mais era do que a implementação efetiva do que 
estava previsto no documento formulado pelos Andradas e encaminhado para as Cortes. Ora, na medida em 
que as Cortes falharam em dar a devida atenção aos negócios do Brasil – assim visto pela elite do centro-sul 
– o governo do regente tomou a iniciativa política de criar uma constituição própria ao Brasil, mas mantendo 
a unidade imperial. Isto é, a nova constituição não seria feita para se opor àquela de Lisboa, mas para reger 
os assuntos internos do reino. Somente depois de o príncipe, com o apoio de Minas Gerais, São Paulo e Rio 
de Janeiro, declarar guerra a Portugal é que a Constituinte, reunida em 1823, faria uma constituição para um 
país completamente independente. 
Bem, a situação tornou-se insustentável quando as Cortes deliberaram, finalmente, que o príncipe regente 
deveria retornar imediatamente, que os representantes de S. Paulo que haviam assinado a representação 
para a manutenção do regente contra as decisões das Cortes deveriam ser punidos e, por fim, anulava os 
atos tomados pelo gabinete do príncipe regente. O conjunto destas determinações alcançou o Rio de Janeiro 
em fins de agosto de 1822, quando d. Pedro visitava a província de São Paulo. Junto com estas determinações 
das Cortes, recebeu uma carta de sua esposa, D. Leopoldina, e de Bonifácio. Ambos urgiam para que o 
príncipe tomasse uma decisão – claramente instando-o para que fizesse a independência. Depois de ler as 
cartas das Cortes, de sua esposa e de seu ministro a 7 de setembro, quando passava pelo pequeno curso 
d’água do Ipiranga, tomou a decisão pela independência completa, iniciando, ali, a guerra contra Portugal. 
A notícia se espalhou rapidamente pelo centro-sul e rapidamente ganhou a adesão das elites dessa região. 
Também o povo participou do processo, saudando D. Pedro por onde passava e animando-se para o serviço 
das armas contra a ‘tirania’ das Cortes portuguesas. Pouco mais de um mês depois, a 12 de outubro, D. Pedro 
foi aclamado no Senado da Câmara da cidade do Rio de Janeiro como Imperador e Defensor Perpétuo do 
Brasil. Em 1 de dezembro, foi coroado e sagrado. 
 
 
 
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“A Proclamação da Independência” por François Mereaux. Perceba a participação popular destacada neste 
quadro. 
O Império do Brasil logo após a independência 
As duas cerimônias pelas quais passou o imperador – a de aclamação e a de sagração – remetem a duas 
perspectivas políticas diferentes e, na análise de alguns historiadores, opostas. A aclamação, como dito, traz 
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como central a escolha do povo – seja em sentido estrito, isto é, aqueles que compunham a comunidade 
política, seja em sentido amplo, ou seja, a população como um todo – que figura, portanto, como fonte do 
poder. Na tradição ibérica, desde o século XVII temos isso colocado claramente pelo pensador espanhol 
Suárez contra o direito divino dos reis. Por outro lado, a sagração – e depois o art. 99 da constituição que 
considerava o imperador figura sagrada – trazia em seu bojo a ideia de escolha divina do imperador, que não 
‘deve’, assim, a fonte do seu poder se não ao Deus Todo-Poderoso. Essa tradição provém principalmente dos 
reinos protestantes e da Igreja Galicana – francesa – particularmente com os tratados de Jaime I da Inglaterra 
e de Jacques Bossuet da França. 
O governo português, certamente, não aceitou pacificamente a decisão tomada pela corte do Rio de Janeiro 
e medidas belicosas foram colocadas em ação em algumas províncias brasileiras – notadamente Bahia, 
Cisplatina (atual Uruguai), Piauí, além do apoio tácito obtido do Pará e Maranhão. 
Aqui encontramos mais um ponto controverso entre historiadores do período: nossa independência teria 
sido mero “desquite” entre pai e filho ou um conflito de larga escala? Podemos encontrar historiadores de 
importância em ambos os lados da contenda. Em seu livro mais recente, Ricupero mantém-se ligado à tese 
da separação sem grandes derramamentos de sangue. Em suas palavras, a natureza de nossa independência 
foi "pacífica e evolutiva”.16 Em sentido contrário, uma pesquisa mais recente de Hélio Franchini Neto, 
defendeu a tese de que houve sim uma importante guerra de independência.17 
Certo é que não tivemos no Brasil o mesmo movimento armado e de luta intensa pelo qual passou boa parte 
da América hispânica. Entretanto, como dito, houve luta e confronto político, fosse com as tropas 
portuguesas estacionadas no Brasil, fosse com as autoridades de algumas províncias, nomeadamente do 
Maranhão e do Pará. Assim, tropas foram mobilizadas e significativas operações militares desencadeadas – 
tanto em mar quanto em terra. Como exemplo, podemos citar o caso da Bahia que comemora sua 
independência como tendo ocorrido em 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas lideradas por 
Inácio Luís Madeira capitularam em Salvador frente as tropas brasileiras comandadas pelo francês Pedro 
Labatut. 
Esse é um debate significativo e bastante longevo dentro dos cursos de história, mas pouco relevante para 
o concurso. Assim, pedimos escusas por não nos aprofundarmos mais nele. 
Vários elementos são importantes para analisarmos nesse processo de efetivo corte das relações entre Brasil 
e Portugal: qual foi a importância da manutenção da monarquia sob a égide da continuidade da dinastia de 
 
16 Ricupero, p. 120. 
17 NETO, Hélio Franchini. Independência e morte: política e guerra na emancipação do Brasil (1821-1823). Tese de doutoramento: 
UnB, 2016. 
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Bragança? Que projetos estavam em disputa quando da independência, tanto no que se refere às formas de 
governo em disputa quanto aos projetos diferentes desejados pelas províncias? 
Quando estudamos a história de nosso país, sempre salta aos olhos a diferença entre os processos na 
América portuguesa e na América espanhola: mantivemos a unidade territorial do conjunto das províncias 
brasileiras enquanto houve fragmentação entre os hispânicos; criamos uma monarquia, a única que durou 
no continente americano; tivemos longo período de estabilidade política, enquanto a América espanhola foi 
convulsionada por décadas com movimentos sediciosos e guerras civis. Essa “excepcionalidade brasileira” é 
creditada, por grande consenso de historiadores, à manutenção do sistema monárquico no Brasil. 
Isso porque o regente era o príncipe herdeiro do trono português, “legítimo” governante da América 
portuguesa. Sua liderança aglutinava vários grupos políticos que viam nele uma solução de continuidade que 
evitaria problemas de contestação política. Além disso, a literatura aponta que a manutenção da monarquia 
foi imperiosa para a igual manutenção da escravidão. A legitimidade de D. Pedro torna-se mais impactante 
quando comparamos com a América espanhola e observamos as diferentes elites criollas lutando para 
controlar o Estado formado. As facções do Império não lutavam contra a legitimidade do imperador ou 
contra o Estado imperial, mas para alcançar o governo imperial. Por essa razão que Iara Lis Carvalho Souzapôde chamar D. Pedro de “Imperador-Contrato”.18 
No entanto, havia dissenso entre as elites políticas brasileiras sobre o tipo de Estado que seria construído. 
Afora a pequena minoria republicana, as grandes questões colocadas se tratavam sobre as relações entre o 
governo central e as províncias – o grau de autonomia de cada uma das províncias – e qual seria o papel do 
imperador nesse grande esquema político. 
Alguns grupos de liberais lutaram – no âmbito da Constituinte de 1823 e no Parlamento – pela implantação 
de um modelo “federativo”, no qual as províncias teriam bastante liberdade orçamentária e administrativa. 
Essa luta foi perdida na constituinte e durante o primeiro reinado e seria somente alterada em 1834 com a 
aprovação do Ato Adicional à Constituição que deu algum grau de autonomia às unidades do Império. O 
modelo vitorioso que vigorou durante todo o Império foi o Estado centralizado e unitário, que chegou a um 
grau de burocratização bastante elevado.19 
Formado o Estado imperial a partir da herança portuguesa e vencidos vários embates militares de norte a 
sul do país, era de fundamental importância o reconhecimento desse novo status. Como ocorria esse 
procedimento de reconhecimento? De acordo com Ricupero, “a aceitação de um ator recém-independente 
no cenário mundial subordinava-se, em última instância, ao reconhecimento da legitimidade do novo 
 
18 SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria Coroada: o Brasil como corpo político autônomo, 1780-1831. São Paulo: UNESP, 1999. 
19 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987. 
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participante pelas grandes potências.”20 Era particularmente importante a aprovação de nossa 
independência por parte da Inglaterra. No entanto, enquanto a Inglaterra apoiava em geral os movimentos 
de independência da América espanhola, sua atuação seria constrangida em relação ao Brasil, já que era 
aliada de Portugal. Assim, por mais que o mercado brasileiro fosse muito importante para os ingleses, esses 
teriam de fazer um jogo diplomático difícil para acomodar as duas partes. 
 Ainda assim, a diplomacia britânica seria fundamental para o reconhecimento da independência. Esse apoio, 
no entanto, seria condicionado a basicamente dois pontos: celebração de tratados de comércio e a abolição 
do tráfico de escravos. 
A realização de tratado comercial era questão pacífica, já que o tratado de 1810 ainda se encontrava em 
vigor no Brasil. O fim do tráfico seria uma questão “infinitamente mais espinhosa”21, uma vez que toda a 
estrutura econômica estava baseada na mão-de-obra escrava e, claro, porque os traficantes de escravos 
formavam um grupo econômico poderoso na Corte – queremos dizer, o tráfico em si mesmo era uma 
atividade bastante lucrativa. 
Diz-nos Ricupero que o processo de reconhecimento pode ser dividido em duas partes: uma liderada por 
José Bonifácio entre agosto de 1822 e julho de 1823; outra, entre 1823 e 1825, negociada por “ministros 
mais fracos”22 que garantiram os acordos com Portugal e com a Inglaterra. 
A fase de Bonifácio foi marcada por uma altiva postura frente às demandas inglesas e portuguesas. Entendia 
o Patriarca que o Brasil partia de condições vantajosas na negociação com a Inglaterra – vista a necessidade 
inglesa de manutenção dos acordos comerciais com nosso país – e com Portugal, na medida em que esse 
não conseguia reverter os rumos da guerra de independência. Sua perspicácia política pode ser entrevista 
quando ordenou que Felisberto Brant, – futuro marquês de Barbacena – que negociava o reconhecimento, 
se retirasse de Londres em abril de 1823 na confiança de que o reconhecimento era uma questão de tempo. 
“O próprio Canning mais de uma vez admitiu que não esperaria indefinidamente para assegurar as vantagens 
comerciais”.23 
Acontece que os desenvolvimentos políticos do Império levariam à queda e ao exílio de Bonifácio, alterando 
os rumos das negociações. Sua firmeza com vistas ao interesse público seria substituída por preocupações 
outras, algumas delas pessoais do novo monarca – notadamente seu interesse em resguardar seus direitos 
dinásticos: 
 
20 Ricupero, p. 120-121. 
21 Idem, p. 121. 
22 Idem, p. 125. 
23 Idem, p. 124. 
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A partir de então, o que passou a predominar já não era, como no tempo do Patriarca, a 
perspectiva do Brasil independente, mas o interesse dinástico pessoal do seu monarca, 
perspectivas que seguramente se confundiam no espírito de um príncipe descrito como 
liberal de convicção, mas absolutista de temperamento. Daí a necessidade de afastamento 
dos Andradas, além dos motivos internos que para isso concorreram. Só o poder do 
Imperador lograria impor solução altamente impopular, que tornava o divórcio em relação 
à maioria da opinião pública e grande parte das facções políticas afinadas com o espírito 
da independência, contribuindo eventualmente para a abdicação.24 
Na busca por resguardar seus direitos e de reconhecer a independência do país, D. Pedro dispôs-se, portanto, 
a pagar o preço exigido. Acabou por renovar os termos do tratado comercial de 1810 com os ingleses e por 
aceitar o fim do tráfico de escravos, para além de ratificar as exigências portuguesas, particularmente a 
indenização de 2 milhões de libras. Vamos analisar globalmente o resultado a que chegaram os negociadores 
brasileiros. 
Como vimos, a corte portuguesa quando chegou ao Brasil poucas possibilidades e meios possuía para resistir 
à pressão inglesa de realização do tratado de 1810. Portugal necessitava do apoio britânico na guerra contra 
Napoleão, para manter o fluxo comercial e o abastecimento de produtos manufaturados. Assim sendo, a 
assinatura do tratado era o único caminho que se mostrava aos portugueses. 
Quando da independência do Brasil, o Império não se encontrava nas mesmas situações que os portugueses 
de 12-15 anos antes. A guerra contra a (ex)metrópole ia bem, não havia ameaça de outras potências externas 
e os ingleses demonstravam grande interesse em auxiliar a causa brasileira – apesar de não se pronunciarem 
abertamente. Aceitar as condições inglesas da forma proposta deve ser entendido como voluntarismo do 
imperador para realizar um reconhecimento que resguardasse seus interesses, um preço pago pelas 
“vantagens derivadas de ter sido um príncipe, legítimo herdeiro do trono, [como] o autor da proclamação 
da independência.”25 O tratado com os ingleses preservava todos os privilégios que os britânicos haviam 
gozado sob governo português, condição diversa daquela das repúblicas hispano-americanas. 
A questão comercial, tanto quanto a indenizatória e a simbólica, trouxeram complicações políticas e 
econômicas ao governo imperial e ao imperador pessoalmente, mas empalidecem frente à decisão tomada 
de acabar com tráfico de escravos. Embora tenham existido vozes contrárias ao tráfico e à escravidão desde 
a independência – particularmente a de José Bonifácio – havia um consenso entre as elites brasileiras – a 
produtora fundiária e a comercial/traficante – de que a mão de obra escrava era necessária e deveria ser 
mantida. Quando a notícia do tratado que acabava com o tráfico se difundiu, crítica uníssona foi direcionada 
 
24 Idem, p. 125. 
25 Idem, p. 128. 
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ao imperador, afirmando, dentre tantas outras coisas, que ele não observara os interesses públicos e as 
necessidades do país e que o governo havia se curvado às vontades britânicas.Pagando o alto custo, o Império obteve o reconhecimento de Portugal e da Inglaterra em 1825, seguindo 
pouco tempo depois outras potências europeias – a esta data já os Estados Unidos haviam reconhecido a 
independência brasileira (1824), mas sem grandes impactos internacionais. Nosso país entrava oficialmente 
ao novo concerto das nações. 
 
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ESQUEMA E DETALHAMENTO 
 
ANTECEDENTES DA VINDA À AMÉRICA 
 
• Conjuntura Revolucionária Francesa 
 Campanha do Rossilhão (1793-1795) e aproximação Espanha-Portugal (Guerra da Primeira 
Coalizão); 
 
 Espanha de inimiga, torna-se aliada de França: Guerra das Laranjas (1801) – Guerra da 
Segunda Coalizão 
 
 Tratado de Badajós (1801): 
o Estabeleceu a paz entre Portugal e Espanha (art. I); 
o Portugal fecharia seus portos à Grã-Bretanha (art. II); 
o Espanha devolve Jeromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo 
Maior e Ouguela, mas anexa Olivença (art. III); 
o Portugal deveria combater o contrabando em suas terras (art. IV); 
o Rei de Espanha garantia a “inteira conservação dos Seus Estados, e Domínios sem a menor 
exceção ou reserva” (art. IX); 
 
 Tratado de Madri (1801): 
o Pagamento de 20 milhões de francos aos franceses; 
o Cessão territorial de parte do atual Amapá para a Guiana Francesa (60 milhas entre o 
Vincent-Pinzon e o Araguari); 
o Equiparação das mercadorias francesas às inglesas; 
o Promessa de fechamento dos portos aos ingleses; 
 
• Durante as guerras revolucionárias e napoleônicas, duas grandes facções se digladiaram na Corte 
portuguesa: a corrente francesa e a corrente inglesa. Com o tratado de Badajós, a corrente francesa cresceu 
em poder, mas o pendor de D. João aos ingleses sempre manteve aberta a possibilidade de retorno à aliança 
inglesa; 
 De um lado, o risco da invasão do reino pelas tropas franco-espanholas; 
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 De outro, o risco de perda das colônias, sem as quais Portugal era nada; 
 
 
 A situação se precipitou com a declaração do Bloqueio Continental em 1806 e posterior 
pedido francês de sequestro de bens ingleses e detenção de ingleses em Portugal; 
 
• A dubiedade portuguesa quanto ao bloqueio continental, a recusa tácita (embora oficialmente 
retardada em ser anunciada) no sequestro e detenção dos súditos ingleses exigida por Napoleão precipitou 
a assinatura do Tratado de Fontainebleu em outubro de 1807 com Espanha. 
 
• Entre 1806 e 1807, ganhava força a facção inglesa, liderada pelo futuro Conde de Linhares, D. Rodrigo 
de Sousa Coutinho, que pressionava o príncipe regente pela aliança com a Inglaterra, declaração de guerra 
à França e saída da família real de Portugal rumo ao Brasil, ressuscitando velho plano de transferência da 
Corte em caso de perigo. 
 
• Na Inglaterra, enquanto não se decidia o príncipe regente, faziam-se dois planejamentos: caso 
Portugal decidisse pela transferência, a Marinha Britânica escoltaria a Família Real para o Brasil; caso 
decidisse pela recusa e dubiedade, as forças inglesas ocupariam fortes em Lisboa e ao longo do Tejo e 
apresaria os navios portugueses, em nome de auxílio a Portugal e não como anexação. 
 
• Sem muita escolha, tendo o exemplo de inúmeras casas reais que haviam caído para Napoleão, com 
o conhecimento do Tratado de 1807 e da ida de Janot à Espanha com destino a Portugal (com o pretexto de 
auxiliar o príncipe), D. João decidiu em novembro de 1807 pela retirada da corte para o Brasil, saindo de 
Portugal a 29 de novembro, quando chegavam as tropas francesas na capital portuguesa. 
AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE D. JOÃO NA AMÉRICA 
 
• Chegada “de surpresa” em Salvador 21-22 de janeiro de 1808; 
 
• A abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808: 
 
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 Admitia-se a entrada nas alfândegas brasileiras de todos os gêneros transportados em navios 
estrangeiros que se achassem em paz com Portugal; 
 Permitia-se a exportação para todos os portos, por navios nacionais ou estrangeiros, de todos os 
gêneros coloniais; 
 Reduziu os “direitos” cobrados nas alfândegas, de 30 para 24% ad valorem, sendo o dobro para 
vinhos, aguardente e azeite. 
 
• Por que abrir os portos? 
 O argumento da fatalidade: sem marinha capaz de assegurar o comércio, perdido o reino, era 
impossível manter o comércio fechado; 
 
 Contra-argumento: Embora fosse necessária alguma medida que permitisse o escoamento da 
produção e o abastecimento de produtos europeus, não havia necessidade de abrir todos os portos. 
Poder-se-ia abrir um porto franco ou impor condicionamentos e limitações ao comércio; 
 
 O argumento da pressão inglesa: simplesmente se cumpria a convenção de 22 de outubro de 1807 
em que se previa o acesso de navios britânicos ao Brasil; 
 
 Contra-argumento: a convenção estabelecia UM único porto na América, previsto em SC; 
 
 A política de abertura foi fortemente influenciada por José da Silva Lisboa, leitor das publicações de 
cunho liberal da Europa, particularmente de Adam Smith. Sua importância se comprova pela tomada 
de decisão de D. João antes da chegada dos Ministros de Estado e pela sua elevação a “conselheiro 
da corte” e a criação, para ele, da cadeira de “ciência econômica” depois, no Rio de Janeiro. Alguns 
argumentam mesmo que ele teria feito a primeira versão da Carta Régia. 
 
 Essa abertura marca o início de uma política que se concebe brasileira, que consulta os interesses 
brasileiros. Seria completada com o alvará de 1º de abril de 1808 (no RJ), pelo qual se levantavam as 
proibições que existiam no Brasil e nos territórios ultramarinos para o estabelecimento de 
manufaturas. 
 
• Partida de Salvador, depois de a Câmara tentar evitar sua partida, a 26 de fevereiro de 1808, 
chegando no RJ a 07 de março. 
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• A chegada da corte à capital colonial provocou um período intenso de festas, mas também de 
angústia. Era necessário acomodar milhares de pessoas, a começar pela Família Real. Essa ficou no paço do 
governador e agregou os edifícios próximos, o Convento da Carmo, a Casa da Câmara e a Cadeia. Pouco 
tempo depois, um grande negociante, Elias Antônio Lopes, ofereceu a d. João a sua Quinta da Boa Vista, em 
São Cristóvão, afastado do centro. D. João se mudou para lá, enquanto Carlota Joaquina preferiu ficar no 
centro. 
 
 
TRATADOS DE 1810 
 
• Antiga era a pretensão inglesa de realizar tratado geral de comércio com Portugal, mas as práticas 
protecionistas portuguesas acabaram por impedir a consecução de um tal plano. Com a nova situação 
geopolítica da transferência da corte feita sob proteção britânica, novas oportunidades se abriam. 
 
• Valentim Alexandre argumenta que a abertura de negociações com Portugal implicava na garantia de 
que a Inglaterra não reconheceria outro soberano em Portugal que não os descendentes da família Bragança; 
 
• Para além disso, pelas próprias fontes da época fica patente a vinculação entre o auxílio político-
militar e a assinatura de um tratado de comércio. Facilidades comerciais para a obtenção de garantias 
políticas. 
 
• A realização de tratado, do lado português, também pode ser entendida pela necessidade de regular 
o comércio com o único mercado aberto para as produções luso-brasileiras. A ideia era que se pudesse obter 
da Grã-Bretanha um regime mais favorável de comércio que facilitasse a importação

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