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Síndrom� Nefrótic� 1. Definição Ocorre uma permeabilidade dos glomérulos às proteínas, com proteinúria maciça. Define-se a proteinúria com faixa nefrótica aquela superior a 3,5g/ 1,73m²/ 24h. Ela é o estigma da síndrome e leva a outros achados como: hipoalbuminemia, edema, hiperlipidemia e lipidúria. A diferença da síndrome nefrótica para a síndrome nefrítica é a não ocorrência de invasão glomerular por células inflamatórias( glomerulite), mas sim uma alteração grave na permeabilidade glomerular, não sendo mais capazes de reter as macromoléculas, principalmente as proteínas. Além disso, apesar de que os distúrbios que geram síndrome nefrítica podem gerar síndrome nefrótica, a diferença maior das duas é a velocidade de incidência em que a primeira é aguda e a segunda insidiosa. 1.1 Proteinúria Como já dito a faixa nefrótica em adultos é a excreção renal de proteínas maior que 3,5g/ 1,73m²/dia em adultos e 50 mg/kg/dia ou 40 mg/ m²/h nas crianças. O teste padrão ouro é a coleta de urina durante 24h, porém nos dias atuais é utilizado a coleta de amostra urinária diária, com estimação da proteinúria pela relação proteína total/creatinina ou albumina/creatinina. Pois, normalmente o adulto elimina 1 g de creatinina por dia na urina. Portanto, ao descobrirmos a quantidade de proteína e a quantidade de creatinina em uma amostra isolada podemos deduzir a quantidade total de proteína sendo excretada em 24h. O exemplo fixo é que uma relação proteína/creatinina = 4 corresponde a excreção na urina de 24h de 4g de proteína. A proteinúria pode ser seletiva ou não seletiva, dependendo da doença de base. Os glomérulos apresentam dois mecanismos para seletividade: as fendas de filtração e a carga negativa da membrana basal. As fendas são responsáveis pela barreira de tamanho, impedindo a filtração das macromoléculas, enquanto a carga negativa da membrana basal gera a barreira de carga, a qual dificulta a filtração de qualquer partícula com carga negativa. A barreira de tamanho impede normalmente a albumina de passar devido ao seu peso molecular, mas algumas conseguem passar com dificuldade. O maior obstáculo da albumina é a barreira de carga, pois ela é um poliânion( retém muita carga negativa). As globulinas só são impedidas de passar pela barreira de tamanho. O processo lesivo renal que leva a perda de barreira de carga( principalmente a nefropatia por lesão mínima), leva a uma proteinúria seletiva, ou seja à custa de albumina. Enquanto que quando a lesão glomerular determina a destruição da barreira de tamanho temos a proteinúria não seletiva, com perda proporcional das macromoléculas do plasma( albumina e globulinas). A eletroforese de proteínas urinárias identifica os tipos de proteínas da proteinúria, classificando-a em seletiva ou não seletiva. Nessa última forma de lesão, temos alterações estruturais dos glomérulos, normalmente os podócitos estão lesados e determinam um desarranjo das fendas de filtração. 1.2 Hipoalbuminemia A perda de proteínas na urina leva a queda dos níveis plasmáticos delas. A albumina, que gera a pressão oncótica( coloidosmótica), mantém o líquido no compartimento intravascular. Observação: apesar dessa queda a síntese hepática não é compensatória para que não se desenvolva hipoalbuminemia acentuada. O aumento da ingestão de proteínas aumenta o problema, pois não aumenta os níveis de albumina sérica e eleva os níveis de proteinúria. Enquanto o contrário se associa a diminuição da proteinúria, sem interferir nos níveis de albumina. O resultado desse tipo de proteinúria é o edema. Porém a perda de outras proteínas também tem quadros clínicos associados. 1.3 Edema Como precisamos do equilíbrio entre a pressão hidrostática( joga o líquido para fora) e pressão oncótica( puxa o líquido para dentro). O edema se forma quando houver aumento da primeira em relação com a segunda. 1.3.1 Teoria do Underfilling Na teoria clássica, com a síndrome nefrótica, o edema generalizado( anasarca) ocorre pela diminuição da pressão coloidosmótica, devido à hipoalbuminemia. A teoria do Underfilling, mostra que a queda na pressão coloidosmótica faz o líquido sair do intravascular para o interstício, determinando uma tendência à hipovolemia, e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. O resultado disso é a retenção hidrossalina secundária, para compensar a hipovolemia. O líquido retido serve então para agravar o edema. Assim, nesta teoria o edema da síndrome nefrótica seria osmótico e não pressórico como na síndrome nefrítica. O argumento contra essa teoria seria de que para que ela ocorra é necessário uma concentração de albumina inferior a 2g/dl, para formação de edema. Pois, antes disso quando o nível de pressão oncótica plasmática cai o nível de pressão oncótica intersticial também diminui, mantendo-se o gradiente oncótico e não formando edema. 1.3.2 Teoria do Overfilling Trata-se da retenção salina primária. No qual temos uma tendência para hipervolemia e aumento da pressão hidrostática capilar. A proteinúria não seletiva perde macromoléculas com ação enzimática que ativam canais de sódio na membrana luminal de células no néfron, aumentando a reabsorção de sódio e água e criando a hipervolemia. Sendo o edema causado pela congestão volêmica. 1.3.3 Conclusão das teorias Essas teorias indicam que o mecanismo do edema nefrótico varia de acordo com a patologia glomerular de base e pode ainda ser diferente em pacientes com a mesma glomerulopatia. Crianças com nefropatia por lesão mínima e hipoalbuminemia grave, predominam com o fenômeno de Underfilling, enquanto adultos com outras glomerulopatias costumam sobressair a retenção hidrossalina primária. Nos pacientes com Overfilling temos níveis de renina suprimidos ou normais, enquanto que nos pacientes com Underfilling temos níveis aumentados. 1.4 Hiperlipidemia O paciente com síndrome nefrótica desenvolve hipercolesterolemia, com predomínio da LDL. A hipertrigliceridemia é encontrada em menor escala, ainda mais nos pacientes com falência renal crônica. O mecanismo envolvido com a hipercolesterolemia é o aumento da síntese hepática de lipoproteínas, pela queda da pressão oncótica devido a hipoalbuminemia. Ou seja, o mesmo estímulo que leva a ele produzir mais albumina também faz sintetizar lipoproteína. A hipertrigliceridemia é causada pela redução do catabolismo da VDL, devido a perda urinária da enzima lipoproteinalipase. Essa hiperlipidemia nefrótica resulta também da filtração glomerular de lipídios, que provoca lipidúria. O sedimento urinário começa a conter corpos graxos ovalados e cilindros graxos. Ela contribui para a aterogênese e complicações associadas( doença coronariana). A hiperlipidemia e a lipidúria nefrótica aceleram a perda de função renal, provavelmente por induzir lesão tubulointersticial. 1.5 Doenças renais que se apresentam como síndrome nefrótica Assim como a síndrome nefrítica, a síndrome nefrótica pode ser uma doença renal primária( idiopática) ou secundária a fatores ou patologias extrarrenais, como infecções, medicamentos, neoplasias, doenças multissistêmicas e distúrbios hereditários. As duas principais formas secundárias de doenças sistêmicas são o diabetes mellitus( glomeruloesclerose diabética) e amiloidose( glomerulopatia amiloide). A síndrome nefrótica primária pode ser classificada em cinco formas principais: 2. Doença Por Lesão Mínima É a causa principal em crianças. Ocorre uma perda da carga negativa da barreira glomerular, originando um tipo seletivo de proteinúria. Mesmo no transplante pode ocorrer reincidência o que infere é que um fator circulante neutralize a carga negativa do glomérulo. Do ponto de vista histopatológico esta doença é caracterizada pela pobreza de achados à microscopia óptica. Na microscopia eletrônica temos o achado de fusão dos processos podocitários. 2.1 Manifestações Clínicas e Laboratoriais A doença por lesão mínima ocorre em qualquer idade, mas predomina em crianças entre um a oito anos. Normalmente, o quadro clínico inicia-se com uma síndrome nefróticaclássica, com todos sinais e sintomas. O quadro de proteinúria intensa inicia-se normalmente após fatores desencadeantes, como infecções virais e respostas alérgicos( asma e eczema). A função renal não está alterada, a não ser na hipovolemia grave, com hipotensão e hipoperfusão renal. A instabilidade hemodinâmica com choque circulatório é a complicação mais séria, nas crianças, ocorrendo na fase de formação do edema. Ela pode ser precipitada pelo surgimento de diarreia, sepse ou pela iatrogenia. Pode vir associado a dor abdominal, febre e vômitos, tornando fundamental a investigação de peritonite espontânea, provavelmente causada por Streptococcus pneumoniae. Nos exames laboratoriais, costumamos ver proteinúria seletiva, sem consumo de complemento. Uma hematúria microscópica, com níveis de IgG reduzidos e IgM aumentados. Além de que o EAS não revela sinais de glomerulite. 2.2 Tratamento Existem duas características básicas: períodos de remissão e atividade, e resposta dramática à corticoterapia. A evolução é geralmente boa, sendo que apenas 5% dos pacientes evoluem com rins em estado terminal em até 25 anos. As crianças podem ter remissão espontânea do quadro. O tratamento difere de acordo com a idade. Nos adultos, o mais utilizado é a prednisona 1 mg/kg/dia( máx 80mg/dia), uso diário, por oito semanas consecutivas. Com a remissão da proteinúria, devemos realizar o desmame até completar seis meses de tratamento. Em crianças, a dose inicial de prednisona é de 60 mg/ m²/ dia( máx 60 mg/dia), por 4 a 6 semanas. Quando há resposta temos a dose reduzida para 40mg/m²/dia, em dias alternados e por quatro semanas, progredindo com desmame nos meses subsequentes. Na maior parte das crianças e 80% dos adultos temos uma melhora da proteinúria nas primeiras semanas de tratamento. Metade dos respondedores não desenvolve mais a doença, ou apresenta apenas um episódio que responde novamente bem à corticoterapia. A outra metade desenvolve a forma recidivante frequente, com mais de 4 recidivas por ano. Nestes são associados imunossupressores, sendo a ciclofosfamida a droga de escolha. Essas drogas aumentam o período de remissão e diminuem as doses de corticoide. Quadro de conceitos da Doença por lesão Mínima: 3. Glomeruloesclerose Focal e Segmentar O termo Glomeruloesclerose Focal e Segmentar é genérico, traduz um padrão de lesão glomerular que se caracteriza pelo surgimento de esclerose com colapso capilar em menos de 50% dos glomérulos renais( lesão focal) e em parte das alças de cada glomérulo acometido. A forma primária é idiopática, costuma surgir em qualquer faixa etária, predominante nas pessoas entre 25-35 anos. Ela é a principal forma de síndrome nefrótica primária em adultos. 3.1 Patologia e Patogênese Assim como na DLM, trata-se de um distúrbio dos linfócitos T, que secretariam uma citocina, responsável pela lesão do epitélio visceral glomerular( podócitos). A lesão é mais grave pois afeta as fendas de filtração( barreiras de tamanho), gerando proteinúria não seletiva. Os glomérulos que não tem as alterações da GEFS apresentam as da DLM( fusão podocitária) e as áreas escleróticas e mesangiais evidenciam depósitos frequentes de IgM e C3. O termo esclerose se refere ao acúmulo de material homogêneo não fibrilar que leva ao colapso de capilares glomerulares. É um material hialino, derivado de proteínas plasmáticas que extravasam pelo epitélio visceral lesado. Os primeiros glomérulos a serem atingidos são os justamedulares. A lesão costuma ser nas pontas, nas regiões adjacentes aos túbulos contorcidos proximais. A progressão da doença leva ao comprometimento dos glomérulos corticais, que estende a esclerose para as alças capilares mais próximas ao hilo glomerular. Outro achado é a hipertrofia glomerular( expansão do mesângio). 3.2 Manifestações Clínicas e Laboratoriais A forma idiopática é abrupta e acompanha síndrome nefrótica clássica na ocasião do diagnóstico em ⅔ dos casos. A maior parte das formas secundárias tem inicio insidioso, com níveis subnefróticos de proteinúria. Em ambos os casos temos proteinúria não seletiva, refletindo as áreas focais de esclerose com desestruturação da arquitetura das fendas de filtração e graus variáveis de insuficiência renal. As condições clínicas que não se apresentam na síndrome nefrótica clássica são a hipertensão arterial e a hematúria microscópica. Não existem alterações laboratoriais características da doença, exceto a maior incidência de hematúria, piúria estéril e presença de proteinúria não seletiva. Os níveis de complemento estão normais na forma idiopática. 3.3 Tratamento Assim como a DLM, a corticoterapia é a base. Em 20% dos casos temos remissão completa. A terapia com duração maior propiciou 40 a 60% de remissão nos protocolos atuais. Utiliza-se prednisona 1mg/ kg/ dia, diariamente por 3-4 meses, seguido a redução paulatina da dose nos 3-6 meses subsequentes caso haja melhora da proteinúria. Pacientes com recidiva usam ciclosporina( 2-4mg/kg/ dia dividido em duas doses diárias), por 12-24 meses, com desmame gradual. A ciclofosfamida não é indicada pois não existe evidência de benefício. 4. Proteinúria e Perda Progressiva da Função Renal Qualquer glomerulopatia crônica cursa com esse conceito. No caso, elas evoluem com falência renal progressivamente ao longo de anos, sendo o grau de proteinúria um dos principais fatores prognósticos. A proteinúria possui papel direto na lesão renal pois o aumento da concentração delas no lúmen tubular provoca lesão tubulointersticial, por lesar o epitélio, provocando a liberação de citocinas inflamatórias e fibrosantes. Culminando na fibrose tubulointersticial e no rim terminal. Os inibidores da ECA são drogas que reduzem em até 40% a proteinúria desses pacientes, diminuindo a progressão da falência renal crônica. O funcionamento dele é pela inibição do efeito constritor da angiotensina II na arteríola eferente, o IECA reduz a pressão de filtração de glomerular, diminuindo a proteinúria e o efeito esclerosante da hiperfiltração. Os bloqueadores dos receptores de Angiotensina II apresentam efeitos semelhantes servindo nos casos de intolerância aos IECA. Eles acabam por ser indicados em todos os casos de GEFS, com proteinúria acima de 1g/dia que não tiveram remissão com terapia imunossupressora. Referências: - MEDCURSO 2021 - INTRODUÇÃO À NEFROLOGIA - DOENÇAS GLOMERULARES
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