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RESUMO MATERIAL COMPLETO - CULTURA RELIGIOSA - ULBRA

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CAPÍTULOS: 
1 - O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA 
2 - ESPIRITUALIDADE E CONTEMPORANEIDADE 
3 - A RELIGIÃO NO MUNDO 
4 - CRISTIANISMO E CULTURA OCIDENTAL 
5 - RELIGIOSIDADE BRASILEIRA 
6 - REFLEXÕES SOBRE ÉTICA E MORAL 
 
 
 
O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA 
RELIGIOSA 
Prof. Thomas Heimann 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1 
 
O FENÔMENO E A EXPERIÊNCIA 
RELIGIOSA 
 
 
NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER 
 A compreender o fenômeno religioso, reconhecendo sua presença nas mais 
diversas áreas da cultura humana, em uma perspectiva da integralidade do ser; 
 A analisar os principais elementos constitutivos de religiões e manifestações 
religiosas do mundo e da realidade brasileira; 
 A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações 
sociais, políticas, econômicas e culturais. 
 
 
INTRODUÇÃO 
O estudo de uma disciplina com o nome de Cultura Religiosa pode causar certa 
estranheza a alguns universitários. A pergunta que surge é: afinal, a religião, um 
assunto de foro tão íntimo e pessoal, pode ser objeto de estudo científico e 
acadêmico? Qual a relevância ou aplicabilidade disso para uma formação 
acadêmica e profissional, em um mundo cada vez mais tecnicista, racional e 
agnóstico, que se torna, a cada dia, mais indiferente ao campo religioso? 
Do ponto de vista científico, não importa se todos os alunos da disciplina sejam 
completos ateus, agnósticos ou até mesmo críticos da religião, vendo-a como um 
pensamento primitivo, uma prática supersticiosa ou até um entrave ao avanço da 
ciência. O fato é que, independentemente da nossa atitude pessoal frente às crenças 
religiosas, o fenômeno religioso é um dos principais fundamentos da sociedade, 
estando presente em diferentes representações culturais dos diferentes povos e 
civilizações, desde os tempos mais remotos da humanidade. 
A estrutura deste capítulo passa pela definição de conceitos básicos no campo da 
religião, pela demonstração concreta de sua presença nas diferentes representações 
culturais, pela dialogicidade com outros campos do conhecimento humano e 
também por algumas reflexões acerca da experiência religiosa. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_oW3e00gxq_Ey
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Portanto, reconhecer que o fenômeno religioso se inscreve e demarca o processo 
civilizatório humano é um dos grandes desafios a que se propõe este capítulo 
introdutório. 
Como afirma um dos grandes pesquisadores das ciências da religião, se “Deus não 
é objeto de investigação estritamente científica, porém, toda vivência religiosa 
envolve um ser humano e, como experiência humana, pode ser objeto de 
investigação científica” (BENKÖ, 1981, p. 14). 
 
 
O “HOMO RELIGIOSUS”: A UNIVERSALIDADE DA 
RELIGIÃO 
O ser humano é um ser multidimensional, composto por elementos físicos, 
intelectivos, afetivos, volitivos, lúdicos, sociorrelacionais e, também, por 
elementos religiosos. O “homo religiosus”, como afirma a antropologia, 
“desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua primeira aparição na cena da 
história [...] todas as tribos e todas as populações de qualquer nível cultural 
cultivaram alguma forma de religião” (MONDIN, 1980, p. 218). 
A universalidade religiosa precisa ser compreendida em toda a sua diversidade. Há 
muitas formas e expressões religiosas, como o monoteísmo (crença em um só 
deus), politeísmo (crença em vários deuses), panteísmo (Deus e o universo são 
idênticos), dualismo (duas forças opostas que regem o universo), deísmo (há um 
ser supremo, mas que não interage com a criação), teísmo (um ser divino e pessoal 
que interage com a natureza e com as pessoas), esoterismo (a busca de 
conhecimentos ocultos através do espiritual, místico ou sobrenatural – feng shui, 
astrologia, numerologia etc.) entre outras, podendo haver pequenas variações 
conceituais em cada uma delas. 
Em uma abordagem histórica, além das já conhecidas tradições religiosas, como 
as mitologias grega e romana, as religiões clássicas como Judaísmo, Cristianismo, 
Islamismo, Budismo, Hinduísmo, as religiões antigas dos egípcios, incas, maias e 
astecas, há também formas mais primitivas de expressões religiosas. Uma das 
principais é o animismo. Nessas antigas crenças, o ser humano atribuía aos 
animais, às plantas, aos rios, às montanhas, às estrelas etc., uma conotação 
espiritual. Ou seja, nos fenômenos e elementos da natureza habitavam e se 
expressavam espíritos e forças divinas, que deveriam ser venerados e apaziguados, 
especialmente diante de fenômenos climáticos, celestes e geofísicos, como secas, 
terremotos, furacões, erupções de vulcões, eclipses entre outros. Muitas oferendas 
e sacrifícios, inclusive de humanos, foram realizados ao longo dos séculos na busca 
de agradar aos deuses ou de aplacar a sua suposta fúria contra algo ou alguém. 
Do animismo, derivou-se outra prática religiosa, o fetichismo, que consistia em 
atribuir a objetos, animados ou inanimados, um poder mágico ou sobrenatural. 
Esses objetos poderiam ser tanto produzidos pelos indivíduos como encontrados 
na natureza, tais como pedras, dentes, ossos, bonecos, estatuetas, correntes e 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_rKWuy7F_uZWq
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pingentes, passando a servir como amuletos protetores individuais. Podemos 
relacionar o rico mundo das superstições, ainda tão presente na sociedade de hoje, 
como um exemplo atual de crença fetichista. 
 
 
 
Em suma, mesmo que estejamos hoje vivendo um processo crescente 
de secularização, marcado pelo enfraquecimento do sagrado, pela perda de 
interesse na vivência religiosa comunitária, a religiosidade tem permanecido como 
uma constante do ser humano, mesmo que não seja mais cultivada por todos os 
indivíduos da espécie (MONDIN, 1980, p. 218). 
 
 
DEFININDO CONCEITOS: RELIGIÃO, FÉ E 
ESPIRITUALIDADE 
Religiosidade é um conceito complexo, subjetivo e multifacetado. Ele pode 
significar desde um conjunto de crenças, regras e ritos compartilhados por uma 
comunidade, até um sentimento misterioso de interioridade, envolvendo algo 
místico e pessoal. 
No sentido etimológico, o termo latino religio pode advir de dois verbos. O 
primeiro seria religere, cujo sentido denota a atitude de estar atento, refletir e 
observar, dando a ideia de que a religião está ligada a um fenômeno que exige 
cuidado, zelo e dedicação por parte daqueles que a praticam. O segundo verbo 
seria religare, ou seja, religar, unir novamente, sinalizando para o retorno ou 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UqZ0UcxV7BpZ
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UqZ0UcxV7BpZ
reparação de uma situação que foi rompida, na tentativa de se ligar novamente a 
Deus. (ROOS, 2008, p. 859-861). Ambas fazem sentido analisando-se o que 
acontece na vivência religiosa dos crentes. A título de exemplo, citamos o relato 
judaico-cristão que descreve a queda do ser humano em pecado. Ali se rompia a 
relação perfeita entre Deus e o ser humano, que justifica o conceito de reparação 
através da criação da religião, ou seja, uma mediação concreta para religar-se 
novamente com o Criador. 
Avançando no conceito, “qualquer definição de ‘religião’ que não inclua como 
uma variável-chave a crença em seres (...) sobre-humanos que possuem poder de 
auxiliar ou causar dano ao ser humano é contraintuitiva” (SPIRO, In: WIEBE, 
1998, p. 19). Já outras definições dizem que “a religião é um sentimento ou 
sensação de absoluta dependência” ou que “significa a relação entre o homem e o 
poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa 
relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e 
ações (culto e ética)” (GAARDER, 2000, p. 17). 
Essa última definição se aproxima de critérios mais objetivos ao caracterizar a 
religião como:
a) um conjunto de crenças ou doutrinas; b) um conjunto de ritos ou 
cerimônias; c) um código de comportamento ético e moral a ser seguido; d) uma 
experiência relacional com um ser transcendente vivenciada em dimensão 
comunitária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INFOGRÁFICO 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_YJhmnViHEcsr
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Reforça-se que religião implica uma relação em pelo menos dois sentidos: vertical, 
em direção ao ser transcendente; e horizontal, em direção a outras pessoas, que 
compartilham das mesmas crenças. Não há, portanto, religião de um indivíduo só. 
Daí surge a diferenciação entre o conceito de religião e espiritualidade. A 
espiritualidade diz respeito a uma característica humana que designa toda vivência 
que pode produzir mudança no interior do ser humano e redimensiona a sua forma 
de se relacionar consigo, com os outros e com o cosmos. Está relacionada com 
valores, significados e busca de sentido, que podem ser encontrados em diferentes 
lugares, inclusive em si mesmo (GIOVANETTI, 2005, p. 136). 
A forma mais usual de manifestação da espiritualidade é através 
da religiosidade, ou seja, ela se concretiza quando um indivíduo encontra em uma 
religião um conjunto de elementos que dão sentido para sua existência. Nesse 
caminho, surge o conceito de fé religiosa, entendido pela experiência de se sentir 
chamado e confiar em algo ou alguém de cunho sagrado, se relacionando com esse 
ser em uma postura de reverência, confiança, dependência e reciprocidade. 
A religião também ocupa funções importantes. Ela procura dar respostas para as 
grandes questões existenciais, elaborando explicações para a origem, sentido e 
destino de todos os seres vivos. A religião também oferece consolo em momentos 
de sofrimento e alimenta a esperança de uma vida além morte, aplacando a 
angústia humana diante da incômoda consciência de sua finitude. Além de também 
ser um meio de preencher o vazio existencial, a religião auxilia na construção de 
uma identidade pessoal e coletiva, dando ao ser humano um sentimento de 
pertença a um grupo, fator importante para a coesão social e saúde mental. 
 
 
O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS 
REPRESENTAÇÕES NA CULTURA 
Retomando o que já afirmamos neste capítulo, mesmo que não tenhamos qualquer 
crença religiosa, o fato é de que ela está fortemente presente em diferentes 
dimensões da cultura e sociedade. 
Quem gosta de olhar filmes e seriados, independentemente do gênero, irá se 
deparar com enredos permeados de religiosidade. Muitos clássicos do cinema 
trazem a marca do religioso, do sobrenatural e do místico. Filmes épicos como 
Tróia, Cruzadas, Ben-Hur, A Paixão de Cristo, Maria Madalena; filmes de ação e 
aventura como a trilogia de Indiana Jones, Senhor dos Anéis, Crônicas de Nárnia, 
A Múmia, Harry Potter, 2012, Thor, etc.; filmes policiais, de terror e de suspense 
como O Exorcista, O Chamado, Ouija - O Jogo dos Espíritos, Seven - Os Sete 
Pecados Capitais; dramas como Ghost, Amor Além da Vida, Cidade dos Anjos, 
até mesmo grandes comédias como Mudança de Hábito, O Todo Poderoso, 
Ghostbusters; a lista é enorme. Das séries, podemos citar Supernatural, Lúcifer, 
Ghost Hunters etc. Também muitas telenovelas abordaram temas religiosos, como 
Roque Santeiro, A Padroeira, Porto dos Milagres, Almas Gêmeas, Babel, Eterna 
Magia entre outras. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_wboqBuRCqLfx
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Já quem gosta da literatura, além da Bíblia ser o maior best-seller mundial, vamos 
encontrar clássicos como Código da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno, de Dan 
Brown, O Monge e o Executivo, A Cabana, ‘Comer, Rezar, Amar’, além de muitos 
livros esotéricos e de linha espiritualista, um dos poucos segmentos que ainda 
crescem no mundo editorial. Já no campo das artes, nomes como Leonardo Da 
Vinci, Rafael, Michelângelo e Aleijadinho são reconhecidos por suas obras com 
temática religiosa. Na própria música, desde autores sacros como Bach, Mozart e 
Beethoven, como inúmeras bandas de rock, passando por cantores e compositores 
nacionais, além de todo movimento de música Gospel, trazem conteúdos religiosos 
em suas letras e composições. 
O campo do turismo é outro elemento importante que se relaciona com a religião. 
Países e cidades têm como fonte de renda o elemento da fé e religiosidade. A 
Capela Sistina no Vaticano, as pirâmides do Egito e de Cuzco no Peru, o Monte 
Olimpo na Grécia e a cidade suspensa de Machu Picchu, o monumento de 
Stonehenge na Inglaterra, a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, as 
peregrinações a cidades santas como Jerusalém e Meca, os santuários de Aparecida 
do Norte, os templos budistas espalhados pelo mundo são apenas alguns dos 
exemplos de lugares turísticos. Já no contexto econômico e financeiro, além do 
turismo, a religião movimenta a economia em diversos setores. Festas como o 
Natal, Páscoa, São João, Sírio de Nazaré, Navegantes, além de promoverem 
feriados em nosso calendário, também movimentam a economia, gerando 
empregos e renda. A venda de produtos religiosos e esotéricos, contratos 
comerciais em que questões religiosas precisam ser observadas (ex.: abate de 
animais para exportação a países islâmicos) e até mesmo frases religiosas nas notas 
de dólar e real mostram essa íntima relação entre religião e a economia. A própria 
indústria alimentar tem se preocupado com questões religiosas, visto que muitas 
religiões possuem regras e restrições alimentares que são impostas a seus fiéis. 
No esporte, talvez até muitos dos leitores possam dar-se conta de que praticam 
ritos religiosos: surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar no mar, jogadores 
entram em campo com o pé direito, atletas apontam para o alto e agradecem a Deus 
diante de conquistas, treinadores usam a mesma roupa com que obtiveram um 
título etc. Crenças, superstições e trabalhos religiosos são comuns no meio 
esportivo. 
O campo educacional também sofreu e ainda sofre influência das religiões. Muitas 
instituições de ensino privadas estão ligadas a grupos religiosos tradicionais como 
católicos, metodistas, presbiterianos, luteranos, batistas e adventistas. Entre as dez 
mais importantes universidades do mundo, seis delas tiveram mantenedoras 
religiosas em sua origem, tais como Harvard, Cambridge, Oxford, Princeton, Yale 
e Columbia. No Brasil, os grupos religiosos também estão vinculados a 
universidades como ULBRA, UMESP, Mackenzie, UNISINOS, PUC etc. 
No campo da linguagem, o uso de expressões religiosas é comum, mesmo por 
quem não é religioso, tais como: “Deus me livre”, “cruz-credo”, “meu Deus do 
céu”, “graças a Deus”. A linguagem religiosa também é expressa em nomes 
próprios como: João, José, Maria, Ângelo etc. Estados brasileiros como Espírito 
Santo, São Paulo, Santa Catarina além de centenas de municípios pelo mundo 
possuem nomes religiosos: São Francisco, San Diego, Los Angeles, San 
Petersburgo, Salvador, Bom Jesus, Santa Maria, Aparecida do Norte, Santa Cruz, 
Santa Rosa etc. 
Por último, dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos 
culturais, o campo político não pode ficar de fora, com ambos, por vezes, fundindo-
se em um poder unificado. Nos antigos impérios egípcio, romano, maia, japonês, 
só a título de exemplo, os governantes eram quase todos divinizados, o que 
legitimava o seu poder absoluto sobre o povo. Por toda a Idade Média, a religião 
cristã esteve muito atrelada às questões políticas, sendo o papado romano um 
importante centro de poder, assim como foram – e continuam sendo – os Estados 
Islâmicos no Oriente Médio. Até mesmo guerras foram travadas sob um suposto 
pretexto religioso, tais como as inúmeras Cruzadas em prol da conquista da Terra 
Santa ou as guerras entre hindus e muçulmanos na região da Kashemira (conflitos
entre Índia e Paquistão). Nos dias atuais, é comum vermos grupos religiosos 
buscando espaços e fazendo lobby em decisões políticas que envolvem a sociedade 
civil, além de continuarem as tensões político-religiosas em diversas partes do 
mundo, incluindo perseguições a determinados grupos minoritários. 
Esses e outros exemplos demonstram o quanto o fenômeno religioso é parte 
constitutiva da sociedade e está profundamente imbricado em diferentes 
dimensões da cultura humana. Tal como afirmam Reblin e Sinner, “não é possível 
entender a experiência religiosa distante da vida social, como se esta independesse 
daquela, assim como não é possível conceber uma sociedade sem uma vida 
religiosa. Religião e sociedade se interconectam, se emaranham e, por vezes, se 
fundem e se confundem na própria amálgama que é a vida humana” (2012, 
Prefácio). 
 
 
O FENÔMENO RELIGIOSO E SUAS INTER-
RELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS 
Um outro importante elemento no estudo do fenômeno religioso é a sua 
interrelação com as diferentes ciências. Talvez por perceberem a relevância 
histórica e cultural da religião e sua enorme influência no comportamento 
individual e social da humanidade, diversos campos do conhecimento foram 
reunidos em uma área chamada de Ciências da Religião. Fazem parte dela a 
Filosofia da Religião, Psicologia da Religião, Sociologia da Religião, 
Antropologia da Religião, Direito Religioso e História das Religiões, para citarmos 
apenas algumas, além do crescente interesse pelo campo da Espiritualidade e 
Saúde. 
Temas de cunho existencial, como a origem do mal ou do sofrimento, o sentido da 
vida e da morte, a metafísica, a autotranscendência e espiritualidade humana, o 
campo da moralidade e da ética, a discussão entre fé e razão são alguns dos eixos 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UnckCt-gqLq3
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_UnckCt-gqLq3
da Filosofia da Religião, auxiliando os indivíduos a promoverem uma reflexão 
crítica sobre o campo religioso. Já a Antropologia da Religião procura demonstrar 
que as diferentes expressões religiosas são criação do próprio ser humano. Busca 
estudar e analisar as estruturas sociais, enfocando temas como mitos, ritos, tabus, 
xamanismo e outras formas de representações religiosas inscritas nos diferentes 
povos. 
A Psicologia da Religião, por sua vez, vai analisar os fenômenos religiosos a partir 
das funções psíquicas e afetivo-emocionais dos indivíduos e grupos. Sigmund 
Freud, pai da Psicanálise, debruçou-se sobre as estruturas e crenças religiosas, 
considerando a religião como uma grande produtora de neuroses, em uma tensão 
constante entre os conceitos de desejo e culpa. Já Carl Gustav Jung, outro 
importante teórico da Psicologia, é autor de livros como Psicologia e 
Religião, Resposta a Jó, Psicologia e Religião Oriental entre outros, vendo a 
religião como uma dimensão importante para obtenção do equilíbrio mental. Pelo 
viés da psicologia da religião, fenômenos religiosos como visões, incorporações, 
obsessões ou até possessões são interpretados como sintomas de possíveis 
transtornos mentais, tais como alucinações e dissociações de personalidade. 
Também o fanatismo religioso é objeto de estudo da psicologia da religião, na 
busca de compreender que processos mentais atuam quando fiéis comportam-se 
de forma irracional, a exemplo do suicídio coletivo incitado pelo Reverendo Jim 
Jones nas Guianas, em 1978, ou dos seguidores de David Koresh, em Waco, Texas, 
no ano de 1993. 
A Sociologia da Religião é outra área que cresce em interesse acadêmico. Émile 
Durkheim, a partir da clássica obra As formas elementares de vida 
religiosa (1912), cria um modelo interpretativo que divide o mundo em duas 
categorias, denominadas de sagrado e profano. Para Durkheim, a religião é 
eminentemente coletiva e possui a função precípua de manter a coesão social. Já 
Max Weber procurou explicar a origem da racionalidade ocidental, escrevendo a 
obra A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-05), um dos maiores 
clássicos da sociologia até hoje. Por fim, o sociólogo contemporâneo Peter Berger 
procura demonstrar que a “religião representa o ponto máximo no processo 
coletivo de elaboração de um sentido para a vida no mundo”, além de identificar 
as raízes do processo de secularização e desencantamento do mundo, no qual 
mostra o porquê as religiões tradicionais vêm perdendo seu poder e monopólio na 
sociedade. (FERREIRA, 2008, p. 859-861). 
Um outro campo de crescente interesse na relação entre ciência e religião é a área 
da espiritualidade e saúde. É fato histórico a íntima associação existente entre 
medicina e religião nas origens da maioria dos povos e culturas. Deuses ou o 
mundo sagrado atuando em curas é um elemento presente desde a antiguidade. 
Esculápio era o deus da cura na mitologia grega. Imhotept o deus médico egípcio. 
Nas escrituras judaicas e cristãs lemos: “Eu sou o Deus que te cura” (Êxodo 16.26). 
Jesus Cristo também ganhou notoriedade histórica por curar muitos doentes, 
conforme relatos dos evangelhos bíblicos. 
Para o médico Alex Botsaris, a medicina, antes de ser ciência, é um produto da 
cultura humana. Como a arte de curar, ela está presente desde as civilizações mais 
rudimentares, no momento em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa 
de curar as pessoas, auxiliando-as a lidar com a dor, com a incapacidade física, 
bem como frente à angústia, suscitadas pela doença e morte. Dessa forma, criaram-
se os primeiros “sistemas médicos” que, nas culturas mais antigas, estavam ligados 
aos sacerdotes e líderes religiosos, como xamãs, pajés, druidas, feiticeiros e 
curandeiros, que exerciam tanto as funções de religiosos como as de 
médico/curandeiro. (BOTSARIS, 2001, p. 57). Os fenômenos da doença e da cura, 
portanto, foram monopólio, por muitos séculos, de religiosos e sacerdotes. Isso é 
chamado de Teurgia, literalmente traduzido como “trabalho de Deus”. A Teurgia 
envolvia cânticos, ritos, preces e outras formas de ligação com as forças divinas, 
sagradas e sobrenaturais, que operariam diretamente por esses meios na cura dos 
indivíduos. 
Em uma correlação com a contemporaneidade, para Landmann, o carisma e o 
poder quase divinizado dos médicos na atualidade têm seu nascedouro justamente 
em uma concepção religiosa ou mágica (LANDMANN, 1984, p. 14-15). Porém, a 
descoberta de técnicas experimentais de pesquisa no século XVII encaminhou uma 
aproximação aos fenômenos do mundo físico e biológico, distinguindo as novas 
práticas médicas da visão religiosa e teológica (PAIVA, 2000, p. 13). Aos poucos, 
as novas descobertas levaram à desapropriação da religião como lugar de cura e 
cuidado físico, passando a ser quase uma exclusividade da ciência médica. 
Gadamer afirma que o médico faz questão de se afastar da figura de curandeiro de 
tantas culturas, revestido pelo segredo das forças mágicas, arrogando ser um 
homem da ciência, isto é, que conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica 
de cura tem êxito, bem como entendendo a relação de causa e efeito. Porém, isso 
não significa que os seus pacientes se satisfaçam com essa explicação, ou seja, a 
esperança de cura quase mágica associada ao poder do conhecimento que o médico 
detém é uma fantasia constante a circular na relação médico-paciente, mesmo que 
os médicos procurem evitá-la a qualquer custo (GADAMER, 2006, p. 40). 
Na perspectiva dos benefícios da espiritualidade para a saúde integral do ser 
humano, Dal Farra refere-se a um conjunto de estudos que têm demonstrado o 
impacto da espiritualidade sobre diversos parâmetros de saúde que podem ser, 
inclusive, mensurados de forma metodologicamente eficiente. Diversas 
publicações científicas têm mostrado evidências “de que o envolvimento religioso 
está favoravelmente associado a indicadores de bem-estar psicológico, incluindo a 
satisfação na vida, a felicidade, menor frequência
de depressão e de utilização de 
drogas de abuso” etc. (DAL FARRA, 2010, p. 589). 
Elementos da fé e espiritualidade representam um ponto importante a ser 
considerado nas questões de saúde coletiva, como podemos observar nos dados 
analisados por Jeff Levin, do National Institute for Healthcare Research, dos 
Estados Unidos, que resumem os resultados obtidos nas pesquisas sobre 
espiritualidade e fé em relação à saúde em um amplo conjunto de aspectos, 
conforme descreve Dal Farra (2010, p. 591-2): 
Princípio 1 — A afiliação religiosa e a participação como membro de uma 
congregação religiosa beneficiam a saúde ao promover comportamentos e estilos 
de vida saudáveis. Princípio 2 — A frequência regular a uma congregação religiosa 
beneficia a saúde ao oferecer um apoio que ameniza os efeitos do estresse e do 
isolamento. Princípio 3 — A participação no culto e na prece beneficia a saúde 
graças aos efeitos fisiológicos das emoções positivas. Princípio 4 — As crenças 
religiosas beneficiam a saúde pela sua semelhança com as crenças e com estilos de 
personalidade que promovem a saúde. Princípio 5 — A fé, pura e simples, 
beneficia a saúde ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e 
expectativas positivas. [...] Pesquisa realizada com pacientes terminais demonstrou 
que o conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida dos pacientes 
como diminui os índices de depressão, de ideias suicidas e de desejo de morte 
breve. (DAL FARRA, 2010, p. 591-2) 
Posto esses elementos que colocam a religião como um objeto da ciência, passível 
de ser descrito e analisado sob a perspectiva acadêmico-científico, passamos agora 
a analisar o conceito de experiência religiosa. 
 
 
A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA 
Você já teve alguma experiência religiosa? Curiosamente, muitos alunos 
respondem negativamente a esse questionamento. Talvez porque a ideia implícita 
seja de que uma experiência religiosa precise ser um evento, algo grandioso, tais 
como revelações proféticas, aparições de seres divinos ou angelicais, falar em 
línguas, sonhos premonitórios, presenciar espíritos atuando em sessões 
mediúnicas, ver demônios sendo expulsos em cultos de libertação, ter recebido 
uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa. 
Dentro da subjetividade que caracteriza as experiências religiosas, podemos 
afirmar que elas podem ser muito mais simples do que as listadas acima. Meditar 
ou fazer uma prece em momentos de angústia e em seguida entrar em um estado 
de paz e tranquilidade, sentindo a presença de Deus, ou ainda experiências de 
conversão, onde o fiel acredita que Deus o chamou para viver uma nova vida, em 
uma mudança visível de sua forma de pensar, sentir e agir, também são 
experiências espirituais/religiosas. 
Tais experiências são interpretadas como mediações da esfera do sagrado ou do 
mundo sobrenatural somente a partir da fé, pois a ciência procura sempre encontrar 
razões lógicas, humanas e científicas para todas elas. Portanto, a interpretação das 
experiências religiosas sempre varia de sentido, dependendo das ideologias, 
convicções, argumentos e crenças pessoais de quem as vivencia, estuda e analisa. 
Vamos dar um exemplo dessa variação interpretativa: para algumas religiões 
neopentecostais, demônios podem possuir pessoas; para os cultos afro-brasileiros, 
entidades espirituais “ocupam” ou “incorporam” nos fiéis; para religiões 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_Q-3MZjvmqMLM
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t001#h.p_Q-3MZjvmqMLM
espiritualistas, espíritos desencarnados podem orientar, obsediar ou subjugar 
indivíduos; para a psiquiatria, tais fenômenos podem ser transtornos dissociativos; 
para a psicologia, podem advir de um elemento de indução e sugestionabilidade de 
líderes religiosos. O fato é que não há como negar a existência da experiência ou 
do fenômeno, mesmo que suas interpretações sejam tão distintas. 
Por essa pluralidade de sentidos, precisamos desenvolver uma atitude de respeito 
para com as diferentes experiências religiosas. Para quem as vivencia, elas são 
reais, modificando, muitas vezes, sua maneira de enxergar o mundo, de se 
relacionar consigo mesmo, com Deus e com as outras pessoas. 
Nas experiências religiosas, portanto, as dimensões intelectuais, emocionais, 
espirituais, sócio-relacionais e até físicas se inter-relacionam. Elas se mostram no 
cumprimento de regras morais, na realização de ritos tradicionais como batismos, 
casamentos, crismas, funerais, preces e rezas, nas expressões cúlticas como 
músicas, cantos e danças, no uso de símbolos ou gestos religiosos. O certo é que 
todas as experiências podem variar em intensidade, indo de um mero formalismo 
religioso motivado pela tradição, até uma experiência interior profunda, autêntica 
e mística, onde se sente a presença do sagrado e do divino na própria vida. 
Finalizando esse capítulo, o estudo da Antropologia parece confirmar, sem negar 
as reconhecidas diferenças entre as religiões, que há uma tendência na busca do 
ser humano pelo sagrado e transcendente, ou seja, a ideia de Deus parece estar 
presente no inconsciente coletivo da humanidade. Podem mudar as formas de 
expressão, a linguagem utilizada, os relatos dos mitos, os tipos de ritos, mas o que 
não vai se alterar é que por trás de todas essas diferenças existe o estabelecimento 
de uma estrutura religiosa comum com a qual a humanidade se relaciona. 
A verdade é que, independentemente do que cremos, em que ou quem cremos 
ou como cremos, nós humanos efetivamente cremos em algo. Nem mesmo ateus 
e agnósticos escapam disso, pois como diz o filósofo Max Scheler, os que não são 
religiosos podem substituir os deuses por outras formas de ídolos, seja a ciência 
ou diferentes formas de ideologias. 
 
 
REFERÊNCIAS 
BENKÖ, A. Psicologia da religião. São Paulo, Ed. Loyola, 1981. 
BOTSARIS, Alexandros Spyros. Sem anestesia: o desabafo de um médico – os 
bastidores de uma medicina cada vez mais distante e cruel. Rio de Janeiro: 
Objetiva, 2001. 
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proposições metodológicas. Revista Brasileira de Educação Médica. 34 (4): 
587-597; 2010. 
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DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA. BORTOLLETO FILHO, 
Fernando (Org.). São Paulo: ASTE, 2008. FERREIRA, Valdinei Aparecido. 
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GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 
2000. 
GADAMER, Hans-Georg. O caráter oculto da saúde. Petrópolis: Vozes, 2006. 
GIOVANETTI, José Paulo. Psicologia e espiritualidade. Em AMATUZZI, Mauro 
Martins (Org.). Psicologia e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2005, p. 129-145. 
LANDMANN, Jayme. A outra face da medicina. Rio de Janeiro: Salamandra, 
1984. 
MONDIN, Battista. O homem, quem é ele?: elementos de antropologia 
filosófica. São Paulo: Edições Paulinas, 1980. 
PAIVA, Geraldo José de. A religião dos cientistas: uma leitura psicológica. São 
Paulo: Edições Loyola, 2000. 
REBLIN, Iuri A.; SINNER, Rudolf Von. Religião e sociedade: desafios 
contemporâneos. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2012. Prefácio. 
WIEBE, Donald. Religião e Verdade: rumo a um paradigma alternativo para o 
estudo da religião. São Leopoldo: Sinodal, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ESPIRITUALIDADE E 
CONTEMPORANEIDADE 
Prof. Thomas Heimann 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
ESPIRITUALIDADE E 
CONTEMPORANEIDADE 
 
NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER 
 A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações 
sociais, políticas, econômicas e culturais; 
 A participar da reflexão a respeito dos valores humanos, sociais, éticos e 
espirituais; 
 A construir,
a partir de valores éticos e religiosos, princípios norteadores de 
sustentabilidade e cidadania; 
 A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal, social e 
profissional; 
 A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de 
respeito, diálogo e tolerância. 
 
 
INTRODUÇÃO 
Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão transversalizar 
o campo da religião e espiritualidade em sua relação com a sociedade 
contemporânea. 
A primeira parte do capítulo irá abordar alguns conceitos importantes para 
compreendermos diversos fenômenos atuais no campo religioso e relacional. 
Conceitos como globalização, fundamentalismo, tolerância e secularização são 
tratados a partir do fenômeno da Globalização, ao passo que os conceitos de 
trânsito, sincretismo e mercado religioso estarão mais relacionados à religiosidade 
latino-americana e brasileira. 
A segunda abordagem temática do capítulo parte para um assunto que transcende 
especificidades culturais, enfocando um fenômeno de cunho mais ontológico e 
existencial, que diz respeito a cada ser humano na relação intra e interpessoal: a 
culpa e o perdão. A abordagem dessa temática é interdisciplinar, pois envolve 
elementos não apenas da religiosidade, mas também elementos filosóficos, 
antropológicos, psicológicos e teológicos, com diferentes possibilidades 
interpretativas. 
Que esses temas nos auxiliem a refletir sobre nossos pensamentos, valores, crenças 
e posturas cotidianas, nos diferentes âmbitos da convivência humana. 
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_oW3e00gxq_Ey
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FUNDAMENTALISMOS, TOLERÂNCIA E 
FENÔMENOS RELIGIOSOS NO CONTEXTO DA 
GLOBALIZAÇÃO 
Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização. O mundo 
globalizado, através dos meios de comunicação, em especial a internet, permite a 
interação e conexão entre pessoas em quaisquer partes do mundo. De certa forma, 
tornaram-se tênues as linhas que demarcam nações, territórios, culturas e 
jurisdições. Vivemos todos em uma espécie de “aldeia global”. A Globalização 
não é, portanto, um fenômeno apenas da área da comunicação, mas mundial, das 
relações sociais, econômicas, culturais, religiosas, enfim, das relações humanas. 
Hall (2011) descreve que o processo de Globalização, ao interconectar as pessoas 
em diversas partes do mundo, cria um novo modelo de identidade, no qual se deve 
levar em conta não mais os modelos de uma sociedade organizada entre fronteiras, 
mas uma sociedade híbrida, multifacetada, transcultural em seus usos, costumes, 
tradições e concepções da realidade. Afirma Hall: “as identidades nacionais estão 
em declínio, mas novas identidades – híbridas estão tomando o seu lugar” (2011, 
p. 69). 
Na relação com a religiosidade, esse hibridismo retrata uma realidade muito 
presente em nosso país, o sincretismo religioso. Nele se constrói uma identidade 
religiosa híbrida, resultado da fusão ou interpenetração de diferentes religiões, 
seitas, filosofias, personagens, crenças e visões de mundo, numa mescla 
harmonizada de diferenças. Para Araújo, “o sincretismo ocorre quando dois ou 
mais sistemas religiosos se combinam, de modo que ambos deixam de existir como 
tais e produzem um sistema religioso original” (2008, p.930). 
A Umbanda, que combina elementos das religiões africanas, indígenas, kardecistas 
e também elementos do catolicismo popular é um claro exemplo de sincretismo. 
Além disso, indivíduos que alternam idas a missas ou cultos, frequentam 
esporadicamente centros espíritas, tomam passes em um terreiro, meditam num 
centro budista, fazem terapia de Reiki, consultam cartomantes etc, com idas e 
vindas nesses diferentes contextos, também demonstram uma atitude religiosa 
sincrética, fruto de uma globalização e indiferenciação religiosa, marcas da 
religiosidade brasileira. 
O próprio trânsito religioso, outra característica marcante de nossa religiosidade, 
demonstra a diluição gradativa de referências identitárias que vivemos na 
contemporaneidade. Isso é enfatizado pela socióloga da religião, Hervieu-Léger, 
que chama esse movimento de “religiosidade à la carte”, marcada pela mudança, 
fluidez e mobilidade de indivíduos entre as diversas opções religiosas existentes 
no seu contexto social. (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 28). Esse “trânsito” pode ser 
contínuo, implicando novas experimentações religiosas motivadas por 
curiosidade, modismos ou por necessidades pessoais, com a possibilidade de 
sucessivos retornos à religião de origem. Almeida e Montero acrescentam outra 
explicação para o trânsito religioso, relacionando-o com o processo de 
mercantilização dos bens de salvação pelas diferentes instituições, que oferecem 
cura, sucesso e prosperidade aos adeptos, numa espécie de “mercado religioso”. 
(2001, p.92). 
Diferentemente da Europa, onde o movimento de secularização é cada vez mais 
visível, com a religião perdendo sua força, poder e relevância, tanto para 
indivíduos quanto grupos, implicando a diminuição significativa do envolvimento 
religioso, no Brasil a força da religião ainda se faz muito presente na sociedade. 
Apesar das mudanças nas formas de expressão religiosa, ainda há forte influência 
da religiosidade na vida da maioria das pessoas. No Brasil, ainda consegue se 
encher estádios em cerimônias religiosas e cruzadas pela fé. Vamos ver esse 
paradoxo, a partir das imagens abaixo. 
 
Clique aqui https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs 
e assista ao vídeo sobre a secularização crescente na Europa: templos religiosos se 
transformam em bares, livrarias e outros estabelecimentos comerciais. 
Já na relação com os Fundamentalismos, a Globalização introduz algumas 
questões para reflexão: é possível afirmar que a formação de uma identidade 
híbrida realmente está em processo na sociedade atual? Em pleno século XXI, 
pode-se afirmar que as diversas culturas, com seus princípios, com suas normas e 
valores, com suas tradições, com sua religiosidade, estão convivendo 
harmonicamente? O que dizer, então, das frequentes notícias que veiculam 
intolerâncias, preconceitos, radicalismos, seja em relação à etnicidade, a grupos 
minoritários, os indígenas, por exemplo, a gênero, ou mesmo em questões ligadas 
à religiosidade? 
As questões da intolerância e do preconceito estão ligadas essencialmente ao 
Fundamentalismo que, embora não seja algo novo, reaparece ou “globaliza-se” no 
século XXI. Pode-se afirmar que atitudes fundamentalistas muitas vezes têm 
corroborado práticas e atitudes discriminatórias para com aqueles que, por assim 
dizer, não se adequam a um padrão estabelecido pela sociedade ou por 
determinado grupo social. O teólogo Leonardo Boff assim conceitua o 
Fundamentalismo: 
Não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a 
letra das doutrinas e normas sem cuidar do seu espírito e de sua inserção no 
processo sempre cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e 
atualizações, exatamente para manter sua verdade essencial. O fundamentalismo 
representa a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista. 
(BOFF, 2002, p. 25) 
O Fundamentalismo, portanto, se caracteriza basicamente pela ideia de que existe 
apenas uma verdade, expressa na opinião do próprio fundamentalista, e que outras 
ideias não podem ser consideradas, respeitadas, sequer devendo existir (BOFF, 
2002). Nesse sentido, precisamos admitir que os “fundamentalismos nossos de 
cada dia” estão muito mais perto de cada um de nós do que supomos. Convivemos 
e até compactuamos com posturas fundamentalistas em diferentes áreas da vida. A 
https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs
polarização crescente das discussões nas redes sociais, por exemplo, seja no campo 
das ideologias políticas,
religiosas, morais, científicas e até futebolísticas revelam 
o quanto os indivíduos estão imersos na onda dos radicalismos e fundamentalismos 
na sociedade atual, marcados pela intolerância e agressividade das relações 
cotidianas. 
Num olhar histórico-social, identificamos exemplos clássicos de 
fundamentalismo. Na Idade Média, os tribunais da Santa Inquisição assumiram 
posições radicais, condenando todos os que se posicionavam contra os preceitos 
da Igreja. Também ideologias políticas como o Fascismo e Nazismo são reputadas 
como exemplos de fundamentalismos, com efeitos nocivos à sociedade. 
O Nazismo de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, ao afirmar a 
existência de uma “raça superior” às demais, e a necessidade de extermínio das 
ditas “raças inferiores”, numa posição de eugenismo extremo, fez a humanidade 
presenciar os horrores dos campos de concentração, onde milhares de judeus e 
outros grupos minoritários foram exterminados pelos nazistas. De forma mais 
recente, o atentado do grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda em 11 de setembro 
de 2001, às Torres Gêmeas do World Trade Center, matando cerca de três mil 
pessoas, mostra a relação entre o fundamentalismo e a violência. 
Como vai dizer Odalia, muitas vezes, atitudes violentas são justificadas sob o 
argumento do “pensar diferente”. O uso da violência se torna algo corriqueiro, 
banal, assumindo contornos de normalidade ao dizer que “o ato violento se insinua 
[...] como um ato natural cuja essência passa desapercebida” (ODALIA, 2004, p. 
23). 
Com relação ao fundamentalismo religioso, nele os indivíduos e grupos se 
apresentam como únicos detentores da verdade, não permitindo outras 
compreensões do Sagrado e do Divino que não seja aquela considerada pelo fiel. 
Esse pensamento pode levar à discriminação, à intolerância, ao desrespeito ao 
semelhante e, em muitos casos, até mesmo a atos de violência, como já aconteceu 
no cenário social e religioso brasileiro. 
É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias a respeito 
do Divino e do Transcendental. O que está em discussão é o respeito à diversidade 
de pensamento, seja ele religioso, ideológico ou moral. 
Aqui se mostra a importância de conhecermos o conceito de tolerância, tal como 
propugnado por Gaarder: 
Tolerância, ou seja, respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do 
nosso, é uma palavra-chave no estudo das religiões. Não significa, 
necessariamente, o desaparecimento das diferenças e das contradições. [...] Uma 
atitude tolerante pode perfeitamente coexistir com uma sólida fé e com a tentativa 
de converter os outros. Porém, a tolerância não é compatível com atitudes como 
zombar das opiniões alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A tolerância não 
limita o direito de fazer propaganda, mas exige que esta seja feita com respeito 
pela opinião dos outros. (GAARDER, 2004, p. 14-5) 
 
Clique aqui https://www.youtube.com/watch?v=SJMm4RAwVLo 
e assista ao vídeo de Karen Armstrong sobre a intolerância e fundamentalismo 
religioso. 
Cabe ao ser humano, no respeito ao seu semelhante, perceber as diversas religiões 
e culturas existentes, compreender as diversas formas de religiosidade e de 
pensamento numa sociedade plural e caminhar para uma convivência ética, onde 
possa dar testemunho do que crê sem desrespeitar quem pensa diferente. 
Passamos agora a uma outra questão contemporânea, que também está vinculada 
à promoção de uma cultura de paz e de resgate de relacionamentos mais saudáveis: 
o tema da culpa e perdão. 
 
 
CULPA E PERDÃO: UMA QUESTÃO EXISTENCIAL 
Numa reportagem de capa da revista Veja (2002), intitulada "Culpa: por que esse 
sentimento se tornou um dos tormentos da vida moderna" a revista aborda um tema 
de grande relevância, não só para o campo da religião mas para toda vida 
relacional: o sentimento de culpa. A reportagem procura apontar para "as culpas 
cotidianas de cada um", que parecem não ser uma questão de escolha pessoal, mas 
sim uma realidade inexorável aos indivíduos que vivem na sociedade moderna: 
competição no emprego, optar por filhos ou carreira, o desempenho sexual, comer 
demais, a ditadura da beleza, o insucesso financeiro são apenas algumas dentre as 
diversas culpas listadas. 
Poderíamos perguntar se é possível um sujeito saudável psiquicamente olhar para 
o seu passado e dizer que nunca sentiu algum tipo de culpa. Estudiosos do 
comportamento humano confirmam que a ausência completa de culpa é um dos 
indicativos para um possível diagnóstico de psicopatia e sociopatia. Visto sob esse 
ângulo, a culpa parece fazer parte da dimensão humana, sendo uma questão 
inclusive civilizatória, que nos permite viver em coletividade, abarcando a 
dimensão da alteridade, ou seja, a capacidade de nos colocar no lugar do outro na 
relação interpessoal. 
O fato de ser universal não tira da culpa o seu caráter pessoal, particular e subjetivo. 
Há elementos familiares, religiosos, sociais e culturais na sua constituição, ou seja, 
o que para determinados indivíduos, grupos, sociedades ou culturas poderia ser 
considerado um ato culposo, para outros poderá ser um costume normal ou uma 
prática natural. 
Com relação às fontes da culpa, ela pode ser de origem interna ou externa. As 
culpas externas são atribuídas ou impostas aos indivíduos pelos costumes, 
tradições, regras e leis dos mais diferentes âmbitos: civis, religiosos, sociais, 
profissionais e mesmo pessoais. Quando uma regra ou lei é violada, o transgressor 
https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_97ONJdaGqMBL
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_97ONJdaGqMBL
se torna culpado perante ela, mesmo que ele não se sinta culpado internamente, o 
que denominamos de culpa objetiva (COLLINS, 2004, p.158). Já a culpa 
subjetiva é o sentimento pouco confortável de pesar, remorso, vergonha e 
autocondenação que surge, com frequência, quando fazemos e pensamos algo que 
sentimos estar errado, ou quando deixamos de fazer algo que julgamos que deveria 
ter sido feito (2004, p. 158). 
A culpa subjetiva, portanto, está intimamente associada aos sentimentos humanos, 
no sentido de provocar algum tipo de sofrimento psíquico, remetendo-nos à 
segunda fonte da culpa, essa de caráter interno: a nossa própria consciência. É 
possível afirmar que o ser humano é dotado de uma capacidade inata, uma voz 
interior que lhe dá uma intuição íntima e pessoal do que é certo ou errado. O 
curioso é que a culpa subjetiva pode brotar no indivíduo mesmo quando não há 
uma culpa objetiva ou exterior imposta a ele, ou seja, posso me sentir culpado por 
algo que objetivamente não foi provocado por mim (exemplo: a culpa de ter sido 
o único sobrevivente de uma tragédia ou acidente). 
Isso nos leva a uma outra reflexão. Afinal, o sentimento de culpa é um aspecto 
positivo ou negativo na vida das pessoas e da própria sociedade? 
Por mais paradoxal que possa parecer, a culpa pode cumprir funções positivas e 
construtivas para a vida relacional. Ela nos auxilia na prevenção de atos ilícitos 
ou prejudiciais, pois antes mesmo de violar uma regra a culpa antecipatória já pode 
se fazer presente no indivíduo. Uma segunda função é o ato da reflexão, pois após 
cometer um ato que a sua consciência apontou como má, a culpa surge e pode levar 
o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias ações. A reparação, no 
sentido de pedir perdão e restituir concretamente a quem lesamos também é um 
aspecto positivo da culpa. Por último, a culpa pode levar o indivíduo a não mais 
cometer um ato que sua consciência julgou ilícito e o fez sofrer, gerando 
uma mudança positiva de comportamento. 
Olhando para as funções positivas elencadas, pode-se afirmar que um indivíduo 
que não sinta nenhuma culpa diante de algumas atitudes e decisões pessoais, pode 
tornar-se uma ameaça para si e para a sociedade. A ausência
da culpa, que parece 
indicar a inoperância da consciência moral, faz com que o indivíduo perca a noção 
dos limites e da liberdade do outro, tornando-o um indivíduo "perigoso" 
socialmente. 
Quanto aos aspectos negativos da culpa, esses são mais fáceis de serem percebidos. 
A culpa pode cobrar um alto preço do indivíduo, como provocar crises de 
ansiedade, angústia, preocupação, insônia, mau humor, baixa autoestima, 
melancolia, depressão e, inclusive, levar um indivíduo a cometer o suicídio. 
Doenças como úlceras, gastrites, impotência, frigidez, enxaquecas, entre outras, 
também podem ter um forte componente emocional ligado às culpas individuais. 
Culpas reprimidas e não resolvidas se tornam, potencialmente, sintomas 
neuróticos. A culpa também pode ser utilizada negativamente como forma de 
manipular e chantagear pessoas. Relacionamentos pautados sobre o sentimento de 
culpa são nocivos, pois geram sentimentos como pena, comiseração, rancor, 
indiferença, criando um ambiente não saudável e de sofrimento aos envolvidos. 
 
 
INFOGRÁFICO 
 
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_YJhmnViHEcsr
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Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos tratando é a 
relação existente entre a culpa e pagamento. Para o psiquiatra suíço Paul Tournier, 
a culpa traz como consequência quase inevitável uma ideia de pagamento, como 
se houvesse uma atitude psicológica enraizada no coração humano que nos diz que 
"Tudo deve ser pago". (1985, p.200). 
Esse sentimento de dívida constante está presente em muitos atos religiosos. Como 
diz Tournier (1985, p. 201), basta lembrar as multidões inumeráveis de fiéis hindus 
que mergulham nas águas do rio Ganges a fim de serem lavados de suas culpas e 
até nas ofertas votivas e no ouro que cobrem as estátuas de Buda. Igualmente, são 
inúmeros os penitentes e peregrinos de todas as religiões que impõem a si mesmos 
sacrifícios, práticas ascéticas (privar-se de qualquer forma de prazer) ou duras 
jornadas como formas de pagamento, seja por culpas cometidas ou até por graças 
alcançadas. Tais pessoas parecem ter uma necessidade interna de pagar, de expiar 
as suas culpas. 
Porém, essa ideia de pagamento não fica circunscrita ao mundo religioso. O ser 
humano também busca pagar suas culpas do cotidiano. Uma falha leve com a 
namorada, por exemplo, pode ser paga com um buquê de flores e um convite para 
jantar. Um castigo imposto injustamente a um filho pode ser compensado com um 
presente; e assim por diante. 
A típica frase "Essa ele me paga!", muitas vezes repetida por nós em inúmeros e 
variados contextos e situações, expressa o que estamos aqui afirmando. Todas as 
faltas, erros, delitos e pecados parecem exigir um pagamento, cujo preço 
geralmente será proporcional ao tamanho do erro. Na prática da confissão católica, 
por exemplo, a penitência que é atribuída pelo sacerdote ao fiel normalmente será 
proporcional à gravidade do seu pecado. 
Os pagamentos podem ser, inclusive, inconscientes. A psicanálise afirma que 
muitas doenças nervosas e físicas, e até mesmo acidentes, bem como frustrações 
na vida profissional, podem ser tentativas de expiação da culpa que é totalmente 
inconsciente. Seriam formas de punição que o sofredor administra a si mesmo e 
continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável 
(TOURNIER, 1985, p. 201). 
 
 
CULPA E RELIGIÃO 
Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus aspectos fundantes 
sendo, por vezes, até utilizada como instrumento de domínio das igrejas sobre os 
fiéis. Como diz Tournier (1985, p. 202), para apagar o passado de culpas e pecados, 
uma expiação (pagamento) deve ser feita, sendo esse o sentido de quase todos os 
ritos e sacrifícios praticados nas diferentes religiões. Espera-se que eles garantam 
a libertação da culpa descartando o débito que deu origem a ela. 
Isso pode ser percebido desde as práticas primitivas de aplacar a ira dos deuses por 
oferendas e sacrifícios, quando acreditava-se que alguém havia cometido um delito 
grave contra os deuses. Nas religiões orientais o conceito da transmigração das 
almas e da lei do carma trazem implícita a ideia de que para evoluir espiritualmente 
o indivíduo precisa “pagar” as suas faltas através de ações positivas, negação de 
determinadas práticas ou realização de diferentes rituais. 
Em religiões espiritualistas, afro-brasileiras e mesmo em muitas denominações 
cristãs, também está presente o conceito da teologia retributiva, ou seja, de que 
dificuldades, doenças, sofrimentos e tragédias seriam uma forma de pagamento 
por erros, más ações ou pecados cometidos, doutrina também conhecida como “lei 
do retorno”. 
Por um longo tempo, o cristianismo também se estruturou sobre a prática do 
pagamento por culpas e pecados cometidos. Na Idade Média, era comum a venda 
de indulgências, que nada mais eram do que uma compra do perdão e da salvação 
eternas. Além disso, havia a veneração de relíquias sagradas, encomendas de 
missas pagas, realização de votos e promessas, práticas de autoflagelo, tudo como 
forma de expiar as suas culpas, pagar as dívidas com Deus e ganhar algum mérito 
pessoal diante Dele. 
Não é essa proposta, porém, que um cristianismo comprometido com os 
evangelhos bíblicos e com o ensino e obra de Jesus Cristo oferece aos seres 
humanos. A igreja cristã tem o compromisso de proclamar a salvação, a graça e o 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_bNVnb7fJA9bZ
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_bNVnb7fJA9bZ
perdão de Deus à humanidade oprimida pela culpa: a salvação conquistada em 
Cristo, por Cristo e através de Cristo. Essa salvação não tem preço, não pode ser 
comprada por ninguém, até porque, para o cristianismo, sacrifícios expiatórios ou 
esforço moral não são suficientes para pagar a dívida com Deus. Na realidade, o 
cristão não precisa pagar nada, pois Cristo já pagou em seu lugar. Como lembra 
Tournier: 
[...] é Deus mesmo quem paga, Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas, 
o preço mais caro que ele poderia pagar: a sua própria morte, em Jesus Cristo, na 
cruz. A obliteração (destruição/eliminação) de nossa culpa é livre para nós porque 
Deus pagou o preço. Jesus Cristo veio "para salvar o que estava perdido" (Mt 
18:11). (TOURNIER, 1985, p. 212-3) 
Em síntese, a libertação total da culpa, a salvação, não é mais uma ideia remota de 
perfeição para sempre inacessível; mas passa a ser personificada numa pessoa - 
Jesus Cristo - que veio como presente de amor e misericórdia dado por Deus à 
humanidade. (TOURNIER, 1985, p. 214). Essa é uma possibilidade que, 
racionalmente, é vista como “loucura para aqueles que não creem”, tal como diz o 
apóstolo Paulo em 1 Coríntios 1.18. 
 
 
O PERDÃO COMO ATO LIBERTADOR 
O grande ápice do nosso capítulo é a palavra "perdão". De nada adianta falar de 
culpas se não abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão. Numa dimensão 
humana, das relações interpessoais, poderíamos afirmar que o perdão é uma das 
mais importantes ferramentas terapêuticas existentes nesta vida. 
Numa sociedade cada vez mais pautada pela violência, intolerância, orgulho e 
individualismo, a arte de perdoar se torna um dos grandes desafios humanos, a 
ponto de esse ser um dos pedidos que Jesus inseriu na oração do Pai Nosso, 
ensinando aos seus discípulos: “[...] perdoa as nossas dívidas (ofensas), assim 
como nós perdoamos aos nossos devedores (a quem nos tem ofendido)” (Mateus 
6.12). Jesus ensina e encarna o perdão, intercedendo até mesmo em favor daqueles 
que o açoitaram, crucificaram e o conduziram à morte, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, 
porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). 
O psicólogo americano Dr. Frederic Luskin, autor do livro O poder do perdão, 
criador do Projeto do Perdão da Universidade de Stanford, faz uma relação
entre 
o bem-estar trazido pelo perdão e a saúde do ser humano. Luskin afirma que 
guardar ressentimentos, culpar os outros ou apegar-se às mágoas estimulam o 
organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas substâncias químicas 
associadas ao stress, que prejudicam o corpo. Outro estudo de Luskin indicou que 
as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos 
doenças crônicas diagnosticadas (TARANTINO, 2003). 
Portanto, perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde, na dimensão 
emocional, física e espiritual. Sabemos, porém, que isso não é fácil. Mais do que 
ações, o ato de perdoar e pedir perdão acabam sendo um longo processo que 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_Uj-Tz0a-A-BR
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_Uj-Tz0a-A-BR
precisa ser buscado e aprimorado em nossa vida. Numa perspectiva psicológica, o 
perdão sempre acontece no interior do indivíduo, sendo uma decisão íntima e 
pessoal. Por isso é que perdoar e reconciliar são conceitos diferentes. O perdoar é 
uma relação consigo mesmo, já o reconciliar envolve a relação com o outro, que 
nos feriu. Podemos perdoar mesmo quando não houver reconciliação, até porque, 
por vezes, ela é impossível de ser efetivada concretamente. 
Porém, quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o agressor, no 
qual só vai aumentar sua própria dor e sofrimento, ficando prisioneiro dela. Por 
isso é que se diz que perdoar é libertar-se, pois quem perdoa rompe os laços com 
o mal feito a si, eliminando o poder e domínio daquele que cometeu a ofensa. 
Já numa perspectiva religiosa cristã, o primeiro passo para aprendermos a perdoar 
e a recebermos o perdão é confiar que as nossas culpas e os nossos erros já foram 
todos pagos por Deus através da morte de Jesus Cristo. 
O reconhecimento dos nossos erros, que leve a um verdadeiro e sincero 
arrependimento, que nos motive a viver de forma correta e a ter uma disposição 
interna constante em perdoar aos outros, num compartilhamento mútuo e recíproco 
do perdão que nos é oferecido por Deus em Cristo Jesus, é aquilo que o próprio 
Jesus ensina nos evangelhos. Nada mais de auto sacrifícios, penitências ou 
sofrimentos auto impingidos. 
Culpa e perdão! Questões existenciais que permanecerão atuando, afligindo e 
ressoando nos corações humanos enquanto o indivíduo viver, mas cuja resolução 
está mais próxima do nosso alcance do que podemos imaginar. Dentre tantas 
possibilidades, na visão cristã, a resposta está na pessoa que se tornou a encarnação 
viva do amor, da paz, do consolo e do perdão, chamada Jesus Cristo. Crer e 
apoderar-se desse perdão é a ferramenta terapêutica por excelência, fonte de vida 
e alegria, da qual todos, sem exceção, podem fazer uso. 
 
 
REFERÊNCIAS 
ARAÚJO, João Dias. Sincretismo. In: Dicionário Brasileiro de 
Teologia. (Fernando Bortolleto Filho – Org.). São Paulo, ASTE, 2008, p.930-1. 
BOFF, Leonardo. Fundamentalismo: a globalização e o futuro da humanidade. 
Rio de Janeiro: Sextante, 2002. 
COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão. Edição Século 21. São Paulo: Vida 
Nova, 2004. 
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das 
religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. 
HERVIEU-LÉGER, D. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. 
Lisboa: Gradiva, 2005. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_jq0l-RcVvgfl
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_jq0l-RcVvgfl
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2011. 
ODALIA, Nilo. O que é violência? 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004. 
TARANTINO, Mônica. Perdoar é humano. Revista Isto É, 8 de janeiro de 2003, 
edição n.1736. 
TOURNIER, Paul. Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino 
do evangelho. São Paulo: ABU, 1985. 
 
 
CRÉDITOS 
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado 
Design: Luiz Specht 
Diagramação: Marcelo Ferreira 
Ilustrações: Marcelo Germano 
Revisão ortográfica: Ane Arduin 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_xQ2Swgdf9CBE
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t002#h.p_xQ2Swgdf9CBE
 
CAPÍTULO 3 
A RELIGIÃO NO MUNDO 
 
NESTE CAPÍTULO, VOCÊ VAI APRENDER 
 
 A compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica, 
constituinte das civilizações; 
 A conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo 
ocidental e oriental; 
 A reconhecer os principais fatos da história das religiões, bem como suas 
consequências; 
 A demonstrar consciência da diversidade, respeitando o ser humano em suas 
diferenças geracionais, religiosas, de acesso, credo, gênero, classes sociais, 
escolhas sexuais e das pessoas com deficiência; 
 A analisar a importância dos valores éticos, morais e espirituais na formação 
integral do ser humano. 
 
INTRODUÇÃO 
Quem sou eu? Como foi que tudo veio a existir? Por que existe tanto sofrimento? 
Existe um propósito no Universo? Se Deus existe, como faço para ser salvo? O 
que acontece depois da morte? - essas são algumas questões presentes em todas as 
culturas humanas. São questões existenciais, pois lidam com a existência humana. 
Elas formam a base de todas as religiões e, por conseguinte, de toda a cultura 
humana. Conforme Gaardner, “não existe nenhuma raça ou tribo de que haja 
registro que não tenha tido algum tipo de religião” (2013, p. 11). 
As culturas dos povos foram moldadas conforme as respostas que suas religiões 
ofereciam às questões existenciais. Por exemplo, o conceito de Direitos Humanos 
tem profundas raízes na tradição bíblica, especialmente no visão do ser humano 
como “criado à imagem de Deus”. 
Outro exemplo é a preferência de hindus pela culinária vegetariana por razões 
religiosas, pois acreditam que todos os animais carregam um atman, grosso modo, 
uma alma imortal. 
Além da capacidade de moldar culturas, os conceitos religiosos de um povo 
também influenciam a forma como indivíduos fazem suas escolhas cotidianas. Por 
exemplo, um judeu ou adventista não trabalham depois do pôr do sol da sexta-
feira, que, para eles, marca o início do sábado, dia de santificar a Deus e se dedicar 
ao descanso. Outro exemplo é o pastor Dietrich Bonhoeffer que, por razões 
religiosas, se opôs ao regime nazista e chegou a afirmar: “Jesus Cristo, e não 
homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador” (Declaração de Bremen). 
Em um mundo cada vez mais interconectado, você certamente trabalhará com 
pessoas de diversas etnias e de variadas tradições religiosas. Mesmo aqueles que 
não professam nenhuma crença específica são filhos e filhas de culturas 
marcadamente religiosas. Por todas essas razões, conhecer as grandes religiões do 
mundo é útil para desenvolver competências que ajudarão você a melhor se 
relacionar com todas as pessoas, especialmente com aquelas que agem, creem e 
pensam diferentemente de você. Além disso, esse conhecimento ajudará você a 
compreender melhor suas próprias questões existenciais. Neste capítulo, 
começaremos nossa jornada no Oriente e conheceremos a tradição dos hindus na 
Índia, os ensinos de Sidarta (Buda) e a pregação da simplicidade e da ordem por 
parte de Confúcio e Lao Tsé. Depois, iremos ao Oriente Médio e estudaremos as 
religiões abraâmicas que moldaram a sociedade ocidental: o Judaísmo e o 
Islamismo. 
 
 
Para saber mais: 
 Direitos humanos: o que a igreja tem a ver com isso? 
 Dietrich Bonhoeffer: uma biografia. 
 
 
RELIGIÕES DO ORIENTE 
Vamos encontrar, nesta seção, quatro grandes religiões: Hinduísmo, Budismo, 
Confucionismo e Taoísmo. De cada uma podemos tirar lições transmitidas por 
séculos e vividas por seguidores que buscavam sentido para a vida entre essas 
religiões e filosofias. 
 
HINDUÍSMO 
O Hinduísmo não tem fundador, nem credo fixo. Na verdade, o Hinduísmo é o 
conjunto de religiões
que se originam das interações entre o povo nativo do vale 
do rio Indo e os povos indo-europeus, que chegaram na região 4 mil anos atrás. 
A religião que surge dessas interações de povos sustenta uma visão cíclica da 
história. A cada final de ciclo, o Deus Shiva dança sobre o mundo até reduzi-lo a 
pedaços. Depois, o deus Brahman recria o mundo novamente. 
Um hindu crê que, depois da morte, sua alma renasce numa nova criatura, humana 
ou animal. O que determina a próxima existência é o carma, que aponta para o 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_-zxn9aTeoCLl
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https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.ultimato.com.br%2Fconteudo%2Fdireitos-humanos-o-que-a-igreja-tem-a-ver-com-isso&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHbSuiVYVjmYD_sTOFfYRspyzGqow
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.ihu.unisinos.br%2F169-noticias%2Fnoticias-2015%2F541537-dietrich-bonhoeffer-uma-biografia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFVPX-fFVXOkk9HbTgsfc9gdP_nTA
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_rKWuy7F_uZWq
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movimento de “ação e reação”: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima 
existência. Veja que a visão cíclica também está presente na forma como o 
Hinduísmo explica o sofrimento e a libertação dele. A esse ciclo de nascimento, 
morte e renascimento dá-se o nome de Samsara, a roda da vida. Para se libertar da 
Samsara, o hindu deve dedicar-se a ações nobres. O que determina a próxima 
existência é o carma, que aponta para o movimento de ação e reação: o que você 
faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Também há no conceito de 
carma a ideia de ordem natural das coisas, da existência que deve ser aceita para 
que o indivíduo aprenda e evolua. 
 
 
As Castas 
Desde tempos imemoriais, sempre houve quatro varnas (cor em sânscrito). De 
acordo com o RigVeda (textos sagrados hindus), as varnas se originam do 
sacrifício do deus Purusha: da boca, nasceram os brâmanes (classe sacerdotal); de 
seus braços, vieram os guerreiros; de suas pernas, surgiram os agricultores e 
artesãos; e de seus pés, os servos. Havia também os dalits (intocáveis), que teriam 
nascido do pó das unhas de Purusha. 
A base religiosa desse sistema é a noção de impureza e pureza. Castas baixas 
ocupam trabalhos impuros para ajudar as castas altas a se manterem puras, que por 
sua vez realizam rituais religiosos em favor de todas as castas. Para reencarnar em 
uma casta superior, o indivíduo deve usar suas existências para melhorar seu 
carma. 
Apesar de abolido pela Constituição indiana de 1947, o sistema de castas continua 
tendo um papel importante na sociedade indiana. 
Preconceito? Não é bem assim que os indianos pensam. Quer saber mais sobre as 
castas? Clique aqui. 
 
 
 
Da vaca ao conceito de ahimsa (resistência pela não-
violência) 
A vaca é um animal sagrado na Índia, e é considerada mais pura do que um 
brâmane. Para os hindus, a vaca e todos os outros animais possuem atman (alma) 
e, por essa razão, não podem ser mortos. Isso transformou muitos hindus em 
vegetarianos e, conforme Gaarder (2013, p. 48) “abriu caminho para o ideal da não 
violência, que ficou mais tarde conhecido com a luta de Gandhi pela independência 
da Índia." 
Mahatma Gandhi ensina a ahimsa - a resistência pela não violência. Conheça mais 
de suas ideias neste link. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5dgEEtgQ7CGN
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_5dgEEtgQ7CGN
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fsuper.abril.com.br%2Fhistoria%2Fdivisao-ancestral%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNET_gbA-azarnBDP41Qw369RAvObA
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_zPn8fLvtuUoa
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_zPn8fLvtuUoa
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fdharmalog.com%2F2012%2F08%2F02%2Fgandhi-explica-porque-e-como-realizar-o-principio-da-nao-agressao-ahimsa-parte-indissociavel-da-verdade%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGrql1DHouMniw5VFajvC5HP5IEow
 
 
Como se libertar do carma? Três vias de Salvação 
No Hinduísmo védico, o ciclo do carma e reencarnação era visto como positivo. 
Mais tarde, a reencarnação foi vista como um círculo vicioso, do qual seria 
necessário se libertar. No período védico tardio, de 1000 a.C. a 500 a.C., os 
escritos Upanishads introduziram a noção de Brahman, a força divina que permeia 
todo o universo. 
Assim, três novas formas de se libertar do carma foram sendo gradualmente 
formados: Via do sacrifício - o hindu deve realizar corretamente os rituais 
religiosos, além de seguir o caminho do ascetismo; Via do Conhecimento 
- conforme os Upanishads o ser humano alcança a libertação por meio da 
compreensão plena da unidade entre o atman (alma) e Brahman; Via da Devoção 
- nesta via ensina-se que a libertação por meio do bhakti, isto é, a fé e devoção a 
Deus, realizando os rituais sem pensar em recompensas. 
O hindu empenha-se em se libertar do carma e da reencarnação e atingir o moksha, 
que é a união final do atman (alma) com o Brahman. No moksha não haverá mais 
individualidade, pois todos estarão dissolvidos no Brahman. 
 
 
Três deuses 
Até o momento, você já ouvir falar sobre Shiva, o deus destruidor, e Brahman, o 
deus criador, que permeia todo o universo, mas o Hinduísmo também tem um 
terceiro grande deus: Vishnu, o deus sustentador. 
 
 
 
 
Brahman 
conhecido como o Deus criador, Senhor da Sabedoria, cultuado pelos sacerdotes. 
Todos nascem dele. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_TwSoOvdm8S0j
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_TwSoOvdm8S0j
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_f0FlYzPH8TLv
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_f0FlYzPH8TLv
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_Gu2AdenT7283
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_Gu2AdenT7283
 
 
 
Vishnu 
o deus mantenedor da criação. 
 
 
 
 
Shiva 
deus renovador, senhor da vida e da morte, o deus dos iogues, retratado como um 
asceta, traz a doença e a morte, mas também a cura. 
 
O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses, mas aos milhares 
de divindades locais. Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local. 
Além disso, há uma infinidade de deusas. Segundo Gaarder (2013, p. 48): “Alguns 
adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_AD04gy5mYJ2O
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_AD04gy5mYJ2O
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4xgAkJRnYKRa
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4xgAkJRnYKRa
grande e poderosa divindade feminina, a “Rainha do Universo” ou “Deusa-Mãe””. 
A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da “Mãe Índia” 
(Bhárata Mata ou Bharthamata) como a divindade nacional do atual Estado da 
Índia. 
 
BUDISMO 
O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio à fortuna e 
ao luxo. Aos 29 anos, ele teria tido o primeiro contato com um velho, um doente e 
um cadáver. Ao mesmo tempo, ele teria visto um alegre asceta. Dessa comparação, 
ele concluiu que a vida de conforto não concede plenitude à existência. 
Siddatha renuncia à vida do palácio e parte para uma vida de ascetismo, que não 
lhe traz resultados. Tendo experimentado os dois extremos, conforto e ascetismo, 
Siddartha conclui que nenhum deles levavam ao nirvana. Por isso, propôs o 
“caminho do meio”, da meditação, pelo qual chegou à iluminação (bodhi). Pela 
meditação, ele percebe que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo. 
Assim, é apenas suprimindo o desejo que se pode escapar de outras encarnações. 
No “Sermão de Benares”, Siddartha apresenta as quatro verdades que guiam o ser 
humano na superação do sofrimento: 
 Tudo
é sofrimento. O apego aos elementos dessa existência nos leva ao 
sofrimento, tudo aquilo que amamos não dura para sempre. Tudo é maya (ilusão). 
 Desejo é a causa do sofrimento. Se tudo é ilusão, não há razão para se apegar ao 
que quer que seja, pois sofremos sempre que perdemos o ser ou o objeto a que 
somos apegados; 
 Quando o desejo cessa, começa o nirvana. Abandonar o desejo e conhecer a 
transitoriedade da vida é a saída do carma e o início do Nirvana; 
 Uma pessoa alcança o Nirvana pelo caminho das oito vias: 
1. entendimento justo: conhecer o caminho que conduz à cessação do sofrimento; 
2. resolução justa: não prejudicar ou matar qualquer ser vivo; 
3. palavra justa: abster-se da mentira, calúnia e injúria; 
4. conduta justa: abster-se de tirar a vida, de roubar e praticar a luxúria; 
5. sustento de vida justo: abster-se das armas, álcool, tóxicos e de qualquer 
atividade ilícita; 
6. esforço justo: a vontade necessária para estancar as más qualidades que afloram à 
mente; 
7. pensamento justo: ter consciência do seu próprio corpo, dos sentimentos e das 
atividades da mente; 
8. meditação justa: a serenidade interna é desenvolvida através da prática de 
meditação que, em última análise, conduz ao nirvana. 
 
 
Tipos de Budismo 
Depois da morte de Siddartha, o Budismo se dividiu em duas tendências: 
o Theravada (“a escola dos antigos”), predominante no sul da Ásia e 
o Mahayana (“grande veículo”), predominante na China, Coréias e Japão. 
O Budismo Theravada enfatiza a salvação por meio de ascetismo e meditação. Não 
há deuses. E nem mesmo Buda seria capaz de iluminar alguém. Cada indivíduo 
deve imitar o exemplo de buda até atingir o Nirvana. Nessa linha de Budismo, o 
nirvana só é possível para monges. 
Conheça mais do Budismo Theravada e Mahayana, assistindo o vídeo: 
 
https://youtu.be/HVfaZx6RtbA 
 
O Budismo Mahayana, por seu turno, ensina que todas as pessoas podem alcançar 
o nirvana. A famosa escola Zen Budista, por exemplo, enfatiza a “visão direta” de 
Buda por meio de um estudo e contemplação de si mesmo. Na prática zen, a 
iluminação também pode ocorrer nas atividades rotineiras. Por esse motivo, no 
Japão, atividades como fazer arranjo de flores (ikebana), tomar chá, poesia (haicai) 
e lutar (bushidô) passaram a ter importância ritualística. 
Assista A esse vídeo e compreenda a diferença entre as escolas budistas: 
 
https://youtu.be/VdP33BFaopA 
 
CONFUCIONISMO E 
TAOÍSMO 
Com seu PIB de 12,7 trilhões de dólares (2017), a China é segunda maior potência 
econômica. Provavelmente, hoje ou no futuro próximo, seu trabalho e relações 
terão algum ponto de contato com o maior país da Ásia. Por isso, conhecer as 
religiões que formaram a cultura e religiosidade chinesa são importantes. 
 
 
Confucionismo 
Confúcio nasceu em 551 a.C em uma China devastada pelas guerras civis. Depois 
de tentar reformar o país pela via política, se estabelece como professor particular. 
A filosofia de Confúcio não dedica muita atenção às grandes perguntas 
existenciais, mas à vida diária e a busca por harmonia. Ele está mais preocupado 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_UX4Ctxw88UCO
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_UX4Ctxw88UCO
https://youtu.be/HVfaZx6RtbA
https://youtu.be/VdP33BFaopA
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_qM8v6avK9Dfd
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_qM8v6avK9Dfd
com uma visão política pragmática do que com o destino da alma após a morte. 
Ele teria dito: “quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode 
compreender a morte?”. 
 
 
Ensinos 
Confúcio buscava o tao, a harmonia predominante do Universo, que só pode ser 
alcançada com conhecimento e compreensão. Nesse ponto, o estudo da tradição 
era capaz de ensinar ao ser humano as regras éticas corretas, as celebrações rituais 
corretas e seu lugar correto na sociedade. Para Confúcio, os conceitos de uma 
atitude correta em todas as esferas são piedade filial, respeito e reverência. 
Outro ponto do ensino de Confúcio é a simplicidade como base da harmonia. Por 
isso, um mundo em paz começa com honra do indivíduo. Para ele, se um indivíduo 
possui honra, terá caráter. Se tem caráter, seu lar terá harmonia. Se há harmonia na 
família, o país estará em paz. E países em paz produzem um mundo harmonioso. 
Quer mudar o mundo? Comece com seu quarto. 
O Confucionismo conquistou as classes dominantes, tornando-se praticamente 
uma religião estatal, que influencia a forma chinesa de pensar até hoje. O coração 
do povo simples não foi conquistado por Confúcio, mas por Lao Tsé, fundador do 
Taoísmo. 
 
 
Taoísmo 
A origem do taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado Lao-Tsé, 
o grande e velho mestre. Teria sido contemporâneo de Confúcio. 
 
 
O Livro Sagrado e seus conceitos 
Uma boa ideia do início do taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos no texto 
de Huston Smith (2001, p. 194), que assim coloca: 
Lao-tsé (...) recolheu-se durante três dias e retornou com um magro volume de 
5.000 caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. (...) Um 
livrinho de apenas 25 páginas e 81 capítulos. 
No Tao Te King, tudo gira em torno do Tao, que literalmente significa “caminho”. 
Esse caminho pode ser entendido de três maneiras: 1- Tao é o caminho da realidade 
última; 2- Tao é o caminho do Universo, o poder propulsor de toda a natureza, o 
princípio ordenador por trás da vida; 3- O Tao refere-se ao caminho da vida 
humana, quando ela se harmoniza com o Tao do Universo. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6eD91EPE9D6r
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6eD91EPE9D6r
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6E4JaY_f9EIe
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_6E4JaY_f9EIe
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_58-rM2Z79EVW
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_58-rM2Z79EVW
 
 
 
YIN/YANG 
Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da relatividade de 
todos os valores e, como ideia correlata, a identidade dos opostos. Nesse aspecto, 
o taoísmo está ligado ao tradicional símbolo chinês do yin/yang: 
 
 
Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal, 
ativo/passivo, etc. Mas as metades, embora estejam em tensão, se contemplam e 
se equilibram com a outra. “A vida não se dobra sobre si mesma, e chega, 
completando o círculo, à percepção de que tudo é um e tudo está bem” (SMITH, 
2001, p. 210). 
O conceito de Tao e Ying/Yang está presente na realidade brasileira, especialmente 
em práticas vindas da China, tais como terapias chinesas do Do-In, Acupuntura e 
Reiki, Feng-Shui (harmonização de ambientes), artes marciais como Kung Fu. 
Quer conhecer mais desse conceito? Leia neste link e assista esse vídeo. 
 
 
RELIGIÕES 
ABRAÂMICAS 
O que Cristianismo, Judaísmo e Islamismo têm em comum? Seus seguidores 
adoram somente um Deus, Senhor e Criador de tudo. As três religiões possuem 
origem no patriarca Abraão, por isso também são chamadas de religiões 
abraâmicas. Neste capítulo, estudaremos o Judaísmo e o Islamismo. 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4QANvifd9W-J
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_4QANvifd9W-J
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.revistahcsm.coc.fiocruz.br%2Fyin-e-yang-a-harmonia-vital-na-cosmologia-chinesa%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHuPgSRSItsb_VekUTV0sXFSAkSQg
https://www.youtube.com/watch?v=cqj3i_6YDSM
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_SFs4ZROT9XkU
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs001/t003#h.p_SFs4ZROT9XkU
JUDAÍSMO 
O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo Cristianismo e 
Islamismo. 
O Monoteísmo das religiões abraâmicas reconhece “Elohim” como o Deus único, 
o criador do mundo e de suas criaturas. Toda vida depende dele e tudo o que é bom 
flui dele. É um deus

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