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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Aberta do Brasil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará Diretoria de Educação a Distância Fortaleza, CE 2013 Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica Trabalho e Educação Océlio Jackson Braga Elenilce Gomes de Oliveira Presidente Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloízio Mercadante Oliva Presidente da CAPES José Almeida Guimarães Diretor de EaD - CAPES João Carlos Teatini Clímaco Reitor do IFCE Virgílio Augusto Sales Araripe Pró-Reitor de Ensino Reuber Saraiva de Santiago Diretora de EAD/IFCE e Coordenadora UAB/IFCE Cassandra Ribeiro Joye Coordenadora Adjunta UAB Cristiane Borges Braga Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação Profissional, Científica e Tecnológica Gina Maria Porto de Aguiar Elaboração do conteúdo Océlio Jackson Braga Elenilce Gomes de Oliveira Colaboradora Lívia Maria de Lima Santiago Equipe Pedagógica e Design Instrucional Daniele Luciano Marques Iraci de Oliveira Moraes Schmidlin Isabel Cristina Pereira da Costa Jane Fontes Guedes Karine Nascimento Portela Lívia Maria de Lima Santiago Luciana Andrade Rodrigues Maria Cleide da Silva Barroso Márcia Roxana da Silva Regis Marília Maia Moreira Saskia Natália Brígido Batista Virgínia Ferreira Moreira Equipe Arte, Criação e Produção Visual Benghson da Silveira Dantas Camila Ferreira Mendes Denis Rainer Gomes Batista Érica Andrade Figueirêdo Luana Cavalcante Crisóstomo Lucas de Brito Arruda Lucas Diego Rebouças Rocha Marco Augusto M. Oliveira Júnior Quezia Brandão Souto Rafael Bezerra de Oliveira Suzan Pagani Maranhão Equipe Web Aline Mariana Bispo de Lima Benghson da Silveira Dantas Corneli Gomes Furtado Júnior Fabrice Marc Joye Germano José Barros Pinheiro Herculano Gonçalves Santos Lucas do Amaral Saboya Pedro Raphael Carneiro Vasconcelos Samantha Onofre Lóssio Tibério Bezerra Soares Áudio Lucas Diego Rebouças Rocha Revisão Antônio Carlos Marques Júnior Aurea Suely Zavam Débora Liberato Arruda Hissa Nukácia Meyre Araújo de Almeida Saulo Garcia Logística Francisco Roberto Dias de Aguiar Secretários Breno Giovanni Silva Araújo Laide Ane de Oliveira Ferreira Auxiliar Charlene Oliveira da Silveira Daniel Oliveira Veiga Nathália Rodrigues Moreira Yara de Almeida Barreto Créditos http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0 Braga, Océlio Jackson Trabalho e Educação / Océlio Jackson Braga; Elenilce Gomes de Oliveira. Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. - Fortaleza: UAB/ IFCE, 2013. 99 p. : il. ; 27cm. ISBN 978-85-63953-87-2 1. TRABALHO. 2. EDUCAÇÃO. 3. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. 4. ENSINO. 5. EGRESSOS. I. Joye, Cassandra Ribeiro (Coord.). II. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE. III. Universidade Aberta do Brasil – UAB. IV. Título. CDD 371.3078 B813t Catalogação na Fonte: Tatiana Apolinário Camurça CRB- 3 / 1045 SUMÁRIO AULA 1 AULA 2 AULA 3 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 O trabalho como a categoria fundante das relações sociais 9 O trabalho: das sociedades tribais à sociedade capitalista 11 As implicações da relação capital e trabalho e o desenvolvimento do trabalho 23 Ciência, tecnologia e a indústria cultural no mundo do trabalho 41 Capitalismo de livre concorrência na indústria nascente 28 Capitalismo monopolista ou imperialista 31 As diferentes visões sobre o trabalho no mundo contemporâneo15 Apresentação 7 Referências 94 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 3 Tópico 4 Tópico 1 Trabalho e Educação no contexto socio- econômico contemporâneo (Parte I) 8 Trabalho, ciência e cultura 40 Trabalho e Educação no contexto socio- econômico contemporâneo (Parte II) 22 Currículo 99 Capital, trabalho e as crises econômicas19 Capitalismo tardio 34 AULA 4 AULA 5 AULA 6 Tópico 1 Tópico 2 Cultura e educação na formação do indivíduo 53 Os intelectuais orgânicos e a formação cultural da classe trabalhadora 59 Organização e controle do trabalho: retomando a discussão do perfil profissional 66 Escolaridade e competências subjetivas no merca- do de trabalho: a corrida pela empregabilidade 81 A escolaridade como elemento preferencial dos jovens para acesso ao mercado de trabalho e a situação do emprego no brasil 87 Qualificação e competência: alguns elementos para a discussão 73 Tópico 1 Tópico 2 Tópico 1 Tópico 2 A cultura e a educação como elemen- tos de reprodução e transformação social 52 A educação escolar e a força de trabalho no âmbito das relações entre capital e trabalho e a situação do emprego no Brasil 80 Perfil profissional: a transição escola e trabalho 65 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo à disciplina Educação, Trabalho e Cidadania! Se você é ou deseja ser um educador, certamente precisará do que vamos tratar aqui, pois você compreenderá a escola no contexto das relações entre educação, trabalho e cidadania. A disciplina está dividida em seis aulas, as quais, por sua vez, estão divididas em tópicos. Nas duas primeiras aulas, abordaremos o trabalho e a educação no contexto socioeconômico contemporâneo. Ao final, esperamos que você compreenda as principais transformações que ocorreram no sistema produtivo, bem como seu impacto na organização social e na educação dos trabalhadores. Nas duas seguintes, discutiremos trabalho, ciência e cultura. Você perceberá que o trabalho e a ciência influenciam a forma como nos relacionamos uns com os outros e como lidamos com as coisas que produzimos. Compreenderá, ainda, que a educação escolar dialoga com outros saberes advindos da experiência dos sujeitos em espaços diversos de sua existência. Nas aulas finais, analisaremos a transição da escola ao trabalho, discutindo perfil profissional, tensões e preocupações dos trabalhadores nessa transição. A finalidade é que você compreenda as novas exigências do mundo globalizado na formação do trabalhador. Então, vamos começar! APRESENTAÇÃO 8 Traba lho e Educação AULA 1 Trabalho e Educação no contexto socioeconômico contemporâneo (Parte I) Caro(a) aluno(a), Nesta aula, abordaremos a primeira parte sobre trabalho e a educação no contexto socioeconômico contemporâneo. Ao final, esperamos que você compreenda as principais transformações históricas que ocorreram no sistema produtivo, bem como seu impacto na organização da classe dos trabalhadores. Objetivos • Entender a importância do trabalho no contexto das diferentes sociedades existentes • Compreender a divisão social do trabalho, seus avanços e contradições na organização da sociedade contemporânea • Relacionar trabalho, capital e mercadorias à situação de exploração dos trabalhadores 9 A vida em sociedade depende da nossa capacidade de produzir os bens necessários à nossa sobrevivência. Água, alimentação, roupas, remédios, moradia, lazer, móveis e utensílios são apenas alguns exemplos. Desde os primórdios da civilização, a produção de bens para a satisfação das nossas necessidades sempre exigiu não só tempo, habilidades e dedicação à sua fabricação, mas a condição imprescindível de nos relacionarmos socialmente para trocar os bens produzidos, uma vez que sozinhos não somos capazes de produzir durante uma jornada de trabalho o que precisamos para viver com dignidade e conforto. Assim, o trabalho além de ser uma atividade social está relacionado à nossa capacidade de ensinar às novas gerações o que fazer. Todavia, ao executar o ato de ensinar e aprender, é certo que o homem pode desenvolver e acrescentar novos conhecimentos e novas habilidades e, dessa forma, criar novos objetos de uso ou troca e estabelecer ou até ampliar as relações sociais a partir dos bens produzidos, dos saberes constituídos, e das formas como se relacionam entre si. Podemos concluir então que a continuação do trabalho como condição para a existência da vida em sociedade sempre exigiu a sua reprodução ao longo dos tempos na forma de um conjunto de saberes epráticas comumente chamados por nós de educação, cuja finalidade – além nos preparar para viver e transformar a sociedade – deve garantir nossa formação para o mundo do trabalho e nossa realização pessoal e coletiva. TÓPICO 1 O trabalho como a categoria fundante das relações sociais ObjetivO • Compreender trabalho como categoria determinante para a vida em sociedade AULA 1 TÓPICO 1 Matemát ica Bás ica I I1010 Traba lho e Educação Cabe acrescentar: não há garantia de sobrevivência do gênero humano senão por meio do trabalho, pois, como vimos, ele permite tanto a sobrevivência das pessoas quanto a reprodução da existência delas pela capacidade de aprender das novas gerações. Com isso, não estamos afirmando que a vida humana se resume a trabalho, mas que ele é imprescindível para a existência em sociedade. Por certo, não vivemos para o trabalho; contudo, sem ele tampouco existe vida. Vale ressaltar ainda que as pessoas trabalham e não obtêm diretamente o seu alimento, abrigo, lazer, etc. Elas recebem um pedaço de papel ou de metal (atualmente as moedas são confeccionadas com uma liga de aço inox e bronze, por exemplo) onde está atribuído um valor monetário, permitindo-lhes comprar mercadorias como: casa, comida, roupas, eletrodomésticos, objetos de decoração, brinquedos, etc. O pagamento, em dinheiro, do trabalho realizado por outra pessoa tornou-se mais interessante do que a simples troca de objetos. Imagine como acontecia no início da civilização: você construía duas cadeiras e as levava ao mercado para trocar por leite e carne. Ao final do dia, não encontrou ninguém interessado em cadeiras. Nos dias seguintes você também não obteve sucesso com a troca e você continuou sem a carne e o leite de que tanto precisava. Ora, assim não dá para viver não é mesmo? Seria necessário que surgisse algo que facilitasse as trocas e fosse universal. É dessa necessidade de facilitar as trocas que nasceu o dinheiro. O dinheiro tornou-se tão útil que passou a pagar o trabalho realizado por uma pessoa ou por um grupo de pessoas e tornou-se universal a tal ponto que atingimos uma forma de organização de vida em sociedade em que não trabalhamos para receber outra coisa, senão dinheiro ou salário. Portanto, o dinheiro está na base da organização social capitalista que caracteriza o mundo contemporâneo. Mas nem sempre foi assim. Você percebeu que o trabalho está relacionado não só às questões de satisfação das nossas necessidades materiais, mas a própria vida em sociedade depende da divisão social do trabalho e de formas de compensação como o dinheiro como forma de trocarmos os objetos produzidos. S A I B A M A I S Acesse o site https://www. bcb.gov.br/htms/origevol.asp e obtenha mais informações sobre a “Origem e Evolução do dinheiro”. V o c ê S A B I A? O salário mínimo surgiu no Brasil em meados da década de 1930 com a lei nº 185 de janeiro de 1936 e regulamentada pelo Decreto-Lei nº 399 de abril de 1938. Mas o nome vem do latim salarium, e tem sua origem na prática de pagamento com “sal” que era realizada aos soldados romanos por seus serviços prestados. https://www.bcb.gov.br/htms/origevol.asp https://www.bcb.gov.br/htms/origevol.asp 11AULA 1 TÓPICO 2 TÓPICO 2 O trabalho: das sociedades tribais à sociedade capitalista • Conhecer os aspectos históricos das so- ciedades primitivas até a sociedade atual ObjetivO Nas sociedades tribais, por exemplo, sejam de tempos remotos ou atuais, muitos estudiosos classificaram o modo de trabalho e a produção marcados por uma economia de subsistência e pelo uso de ferramentas rudimentares devido a inexistência de atividade comercial ou produção em escala relevante. Embora constitua um engano, pois o trabalho desses povos tribais foi muitas vezes erroneamente avaliado pelos critérios do modo de produção da sociedade atual, podemos concluir que nem sempre o trabalho existiu como uma atividade penosa. O antropólogo Marshall Sahlins (1974) afirma que muitas dessas sociedades dedicavam poucas horas ao trabalho para suprir suas necessidades, restando-lhes muito tempo livre, sendo, mais adequado classificá-las como “sociedades da abundância e do lazer”. As tarefas como caçar, colher frutos, pescar, ainda que divididas por sexo ou idade estão relacionadas a crenças, rituais e ocorrem em perfeita harmonia com a natureza. Assim, não há a divisão do trabalho como conhecemos na agricultura ou na fábrica. Portanto, não constituíam um “mundo do trabalho”. Mas, nem por isso, podem ser consideradas inferiores ou atrasadas já que conseguiam gozar de uma qualidade de vida singular. Figura 1 - Gravura: Índio caçando com arco (1565) Fonte: Biblioteca Nacional (BN, REcvS 360 A.) Matemát ica Bás ica I I1212 Traba lho e Educação Entre as civilizações da Antiguidade, os gregos e os romanos sintetizam bem as diversas formas de representação do trabalho que estavam relacionadas à escravidão. Embora existissem outros trabalhadores como os artesãos, camponeses e meeiros, a produção dependia praticamente dos escravos. Entre as civilizações da Antiguidade, os gregos e os romanos sintetizam bem as diversas formas de representação do trabalho que estavam relacionadas à escravidão. Embora existissem outros trabalhadores como os artesãos, camponeses e meeiros, a produção dependia praticamente dos escravos. Os senhores e proprietários de terras eram os cidadãos e viviam do “ócio”, do tempo livre dedicado à política e à vida pública na administração da cidade e de seus bens. Na obra, A República, o filósofo Platão (427-347 a.C.) define claramente qual o papel de cada classe social na pólis: há os que defendem a cidade (os guerreiros); os que a administram (sábios cidadãos; excluindo, mulheres, crianças, estrangeiros e escravos); e os que produzem os bens necessários à sua existência pelo seu trabalho (os escravos, os artesãos e camponeses). A ideia de trabalho para os gregos estava relacionada a três diferentes concepções: labor ou “trabalho braçal” como o cultivo da terra; poiesis ou “trabalho de fabricar” como os artesãos, ferreiros, escultores, etc.; e práxis ou “atividade dos cidadãos” que se ocupam da ética e da política na vida pública (ARENTD, 2000). Na Idade Média, o trabalho continuou nas sociedades feudais com o aspecto negativo, pois se tratava de uma atividade inferior, cansativa, penosa, repetitiva e extenuante que deveria ser realizado pelos servos, pelos camponeses livres e aldeãos. Talvez por considerar esse aspecto negativo, muitos historiados atribuem a origem da palavra trabalho ao vocábulo latino tripallium, cujo significado está relacionado a “instrumento de tortura”. A visão judaico-cristã de que o homem deveria viver do suor do seu rosto, ou seja, do trabalho árduo, corroborava esse aspecto negativo e mantinha a organização social. Mas, como você pode perceber, nem os nobres, nem os religiosos exerciam a atividade laboral que abastecia os V o c ê S A B I A? Meeiros eram os agricultores que trabalhavam em terras que pertenciam a outras pessoas. Eles se ocupavam de todo o trabalho e repartiam com o dono da terra o resultado da produção. Geralmente o que recebiam era um pequeno lote onde podiam morar e cultivar a terra em benefício de sua família. V o c ê S A B I A? Pólis: segundo Marilena Chauí (2002), é a cidade-estado grega; ou a reunião dos cidadãos em seu território e sob suas leis. É dela que deriva a palavra política que é a busca do bem comum. 13 feudos e as cidades medievais. O fragmento a seguir é um trecho dos escritos do bispo Adalberon (947- 1031) de Lion, França, e nos dá uma ideia de como era a organização social em torno do trabalho: Os nobres são os guerreiros, os protetores das igrejas, defendem a todo o povo, aos grandes da mesma forma que aos pequenos [...]. A outra classe é a dos servos, esta raça dedesgraçados não possui nada sem sofrimento, fornecem provisões e roupas a todos, pois os homens livres não podem valer-se sem eles (ARLOTA, 1975, p. 70 apud PINSKY, 1982, p. 71). No período medieval, havia também as corporações de ofício constituídas por um mestre de ofício e seus aprendizes (entre eles adolescentes e jovens) que fabricavam artesanatos, roupas, instrumentos de trabalho, e até construções como prédios, igre- jas, praças, etc. Como os servos, também as corporações de ofício estavam obrigados a pagar altas taxas de impostos ao rei e ao senhor feudal onde atuavam. As corporações eram obrigadas a se comprometer com a ordem e a obedecer às leis locais. Somente na Idade Moderna, com a emergência do mercantilismo e do capitalismo é que o trabalho assumiu um aspecto positivo. Com a expansão do comércio, com as grandes navegações e mudanças no cenário político das monarquias que, paula- tinamente, cederam lugar aos estados nacionais, o trabalho escravo e dos servos foi sendo substituído pelo trabalho remunerado nas grandes cidades. No início, artesãos e pequenos produtores se tornaram assalariados, pois passa- ram a trabalhar para a nova classe emergente: os comerciantes e capitalistas indus- triais que organizaram a produção para o consumo em massa. O produto como re- sultado do trabalho assalariado era a mercadoria que não se destinava somente ao consumo pessoal ou familiar local, mas à venda em grande escala. Aqueles artesãos das corporações de ofício que dominavam o processo de pro- dução em pequenos grupos e poucas quantidades e trabalhavam em casa ou numa oficina atuavam na forma de uma cooperação simples com uma pequena produção e com o lucro dividido entre eles ou pagos na forma de salário. Paulatinamente, deram lugar às formas de cooperação avançada dirigidas pelos capitalistas que tinham recursos para investir na produção em escala maior com o objetivo de venda e o consumo em massa. A essa cooperação avançada também é co- nhecida como o nome de produção manufatureira. A diferença para a cooperação simples ou “manufatura simples” é que o trabalha- AULA 1 TÓPICO 2 Matemát ica Bás ica I I1414 Traba lho e Educação dor, embora continuasse como artesão, já não dominava todo o processo produtivo. Na produção de sapatos, por exemplo, cada um cuidava de uma parte e só dominava o que lhe era ensinado a fim de garantir os segredos da produção. Esta é coletiva so- mente no sentido de envolver vários trabalhadores com habilidades específicas para realizar, cada qual, a parte que lhe compete no processo produtivo manufatureiro. O produto final desejado pelo novo dono da produção (o capitalista) é a merca- doria que será vendida e parte do lucro obtido será utilizada para pagar o salário do trabalhador. Ressalte-se que a relação capitalista-trabalhador-mercadoria-lucro nun- ca foi uma relação pacífica, pois ela esconde algumas contradições de classe social que iremos aprofundar. No tópico a seguir estudaremos as diferentes visões sobre o trabalho levando em consideração o mundo contemporâneo. 15 TÓPICO 3 As diferentes visões sobre o trabalho no mundo contemporâneo • Relacionar capitalismo e Revolução Industrial às modificações no mundo do trabalho e à luta de classes • Entender as diferentes concepções sobre a divisão social do trabalho ObjetivOs Como é vista a situação do trabalhador no mundo contemporâneo? Também não é diferente apesar do avanço técnico-científico e da conquista de alguns direitos sociais e trabalhistas. A situação do trabalhador continua sendo de exploração. Vamos comparar, a seguir, duas visões: a do filósofo social e economista alemão Karl Marx (1818-1883) e a do sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) sobre a relação trabalho- sociedade no mundo contemporâneo. Ambos iniciam suas pesquisas sobre o fenômeno histórico da Revolução Industrial e a crescente especialização do trabalho promovida pela produção industrial moderna e pelos conflitos entre trabalhadores e capitalistas. Em sua primeira obra, A divisão social do trabalho (1893), Durkheim enuncia dois princípios básicos que devem orientar quem deseja compreender o trabalho na sociedade: consciência coletiva e solidariedade mecânica e orgânica. S a i b a m a i s Revolução Industrial: de acordo com o historiador Eric Hobsbawm (1917-2012), trata-se de um conjunto de mudanças profundas não só no campo técnico-científico que teve início por volta de 1760, na Inglaterra, e alterou o modo de os seres humanos viverem, relacionarem-se e produzirem mercadorias. O modo de produção predominante nas cidades europeias antes da Revolução Industrial consistia no artesanato e na manufatura. AULA 1 TÓPICO 3 Matemát ica Bás ica I I1616 Traba lho e Educação Por consciência coletiva, Durkheim (2005) entende a existência de um conjunto de crenças e sentimentos comuns aos membros de uma comunidade/sociedade e que estão presentes nas regras, normas, leis e costumes que garantem sua integração. Ela influencia o comportamento dos indivíduos e permanece como herança passada às gerações futuras por intermédio da educação, sendo percebida no modo de vida, na cultura por eles desenvolvida. Dessa forma, a sociedade ‘prevalece sobre o indivíduo por meio das instituições sociais como a família, a escola, o Estado que solidificam as relações sociais, o trabalho e a modo de vida de seus membros. Nas sociedades primitivas, por exemplo, a coerção social era mantida pelos costumes, tradições e pouca diversidade da divisão do trabalho. Nelas o indivíduo poderia sofrer severas punições se ousasse romper com o conjunto de crenças e sentimentos que mantinham unido seu grupo. A esta forma de integração social Durkheim (2005) chamou de solidariedade mecânica. Com a complexa vida em sociedade que evolui ao longo dos tempos, além da crescente diferença de crenças e valores, o trabalho se diversificou, aumentando as relações de troca e dependência mútua entre as pessoas. As sanções repressivas baseadas somente na tradição já não eram suficientes, mas foram instituídos novos sistemas sociais para manter coesa a sociedade como o sistema legislativo, penal, comercial, econômico, educacional, etc. O princípio da solidariedade orgânica é justamente baseado na diversificação das relações sociais e na divisão do trabalho que gerou uma interdependência das funções sociais. Ou seja, necessitamos uns dos outros para garantir a sobrevivência coletiva e as instituições sociais são responsáveis por manter a harmonia social mediante a aplicação de leis e punições. Para Durkheim (2005), os constantes e violentos conflitos entre os trabalhadores e os capitalistas de sua época na divisão do trabalho são consequências de uma anomia, isto é, da ausência ou insuficiente normatização das relações sociais ou, ainda, falta de regulamentação das relações trabalhistas por instituições competentes. Não há dúvida de que as ideias de Émile Durkheim contribuíram para nossa compreensão da organização social e da divisão do trabalho. Ele concordava que os conflitos existentes entre trabalhadores e empresários podiam ser resolvidos se as Figura 2 – Émile Durkheim Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/ 24/Emile_Durkheim.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/ 24/Emile_Durkheim.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/ 24/Emile_Durkheim.jpg 17 instituições sociais fossem fortalecidas e mediassem os problemas entre empresários e trabalhadores. Mas mesmo com a mediação do Estado, no século XX, isso não se confirmou. Vamos compreender agora, na visão de Karl Marx, os principais processos que modificaram, ao longo do tempo, a divisão do trabalho no contexto das relações sociais. Os animais caçam, acumulam comida, mas suas ações são meramente instintivas. A formiga, a abelha ou a aranha, por exemplo, apenas executam aquiloque está predeterminado em sua natureza. Marx foi um dos primeiros a afirmar que o trabalho é uma atividade exclusivamente humana. Para ele, o trabalho é o fundamento que possibilita a vida em sociedade e se apresenta como a ação criativa que nos diferencia dos animais e nos realiza como seres humanos. Somente o homem cria valor ao produzir algo para uso ou troca com pleno exercício de sua consciência e liberdade. Portanto, o trabalho é uma atividade exclusivamente humana; e, no trabalho que o homem produz estão implícitos os conhecimentos e as habilidades desenvolvidos que são ensinados às novas gerações para que seja possível a continuação da existência em sociedade (Marx, 1983). Nisto está implícito o princípio básico da educação como reprodução do saber social: alguém ensina e alguém aprende, e a interação entre os indivíduos é que resulta na ação social. Mas diferentemente de Durkheim, para Marx, a existência de conflitos em qualquer sociedade tem sua origem na luta de classes sociais. Marx (1983) observou em seu tempo que, com o advento da Revolução Industrial em meados do século XVIII, a produção e o consumo expandiram, em escala global, o que consolidou o sistema capitalista. Este, por sua vez, modificou o modo como compreendemos o trabalho nas relações sociais em todas as culturas, dando origem, a partir das ruínas da sociedade feudal, a duas classes antagônicas: a burguesia e o proletariado. Se olharmos para a Idade Média, as classes sociais AULA 1 TÓPICO 3 O que é trabalho? Você concorda que é a atividade mediante a qual as pessoas buscam a sobrevivência? E os animais? Podemos afirmar que eles trabalham? Matemát ica Bás ica I I1818 Traba lho e Educação antagônicas são: os senhores feudais e os servos, camponeses e escravos. Na sociedade antiga: os patrícios e os plebeus. Assim, para Marx, o mundo do trabalho tornou-se o mundo do capital, as relações sociais erguem-se a partir das relações de produção, sendo, na sociabilidade burguesa, relações antagônicas, pois somente uma classe usufrui do produto da riqueza social pela acumulação do capital, restando aos trabalhadores a parte relativa à sua sobrevivência, paga na forma de salário MARX (s/d apud BEZERRA, 2011). Vamos agora aprofundar esses conceitos que caracterizam o pensamento marxiano. 19 TÓPICO 4 Capital, trabalho e as crises econômicas • Relacionar capital e trabalho ao sistema produtivo e às formas de remuneração do trabalhador • Entender o lucro como parte da riqueza gerada pela força de trabalho ObjetivOs O capital, cabe esclarecer, não é somente o dinheiro. Por natureza, o capital é uma relação social que funciona à base de acumulação de riquezas; se essa acumulação não for mais possível, as relações sociais e as relações de produção entram em crise e deterioram-se (MARX, 1983). Um exemplo notável de uma crise na sociedade capitalista foi a Crise de 1929, nos EUA, com a quebra da bolsa de valores de New York, que gerou a falência de milhares de empresas e milhões de desempregados (BRENER, 1998). No sistema capitalista, crises econômicas acontecem com certa regularidade. Para evitar o colapso desse modelo econômico, o capital modifica- se, metamorfoseia-se e inova os meios de produção – instrumentos e objetos de trabalho – com o uso da tecnologia regularizando a acumulação de riquezas e contornando as crises; o que, na maioria das vezes, exige a exploração da classe trabalhadora, incluindo, aqui, o achatamento dos salários, a perda de direitos sociais e trabalhistas e, claro, a adaptação aos novos processos produtivos através da qualificação profissional, como estudaremos mais adiante. Na busca por dinheiro, o trabalhador vende a sua força de trabalho, S a i b a m a i s Para obter mais informações sobre a Crise econômica de 1929, acesse o site https://www.mundovestibular. c o m . b r / a r t i c l e s / 5 4 5 / 1 / A - C R I S E - E C O N O M I CA - D E - 1 9 2 9 / Paacutegina1.html AULA 1 TÓPICO 4 https://www.mundovestibular.com.br/articles/545/1/A-CRISE-ECONOMICA-DE-1929/Paacutegina1.html https://www.mundovestibular.com.br/articles/545/1/A-CRISE-ECONOMICA-DE-1929/Paacutegina1.html https://www.mundovestibular.com.br/articles/545/1/A-CRISE-ECONOMICA-DE-1929/Paacutegina1.html https://www.mundovestibular.com.br/articles/545/1/A-CRISE-ECONOMICA-DE-1929/Paacutegina1.html Matemát ica Bás ica I I2020 Traba lho e Educação tornando-a disponível à produção como uma mercadoria, seja na área industrial, comercial ou de serviços. Para os detentores do capital a força de trabalho empreendida em qualquer atividade é apenas mais uma mercadoria que, juntamente com os instrumentos de trabalho, são adquiridas com a finalidade de desenvolver-se, aperfeiçoar-se a fim de elevar os níveis de produção com um objetivo: gerar lucro com a venda das mercadorias. Nesse sentido, explica Marx (1984, p. 105): A produção capitalista não é apenas produção de mercadorias, é essencialmente produção de mais-valia. O trabalhador produz não para si, mas para o capital. Não basta, portanto, que produza em geral. Ele tem de produzir mais-valia. Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista ou serve à autovalorização do capital. Segundo Marx (1983), o que o capitalista chama de lucro (mais-valia) é o trabalho excedente realizado pelo trabalhador – ou trabalho não pago, que é apropriado pelo contratante, ou melhor, pelo dono do capital monetário. Para compreender como o capitalista (dono da propriedade e dos meios de produção) apropria-se do trabalho excedente ou da riqueza gerada pelo trabalhador, reflita, a seguir, sobre a situação baseada na teoria de valor de Marx (1983): em uma fábrica de sapatos, um grupo de trabalhadores passa 8 horas trabalhando e produz 100 O que o trabalhador recebe em troca? O salário do trabalho é óbvio. Mas o que é salário pago ao trabalhador? Corresponde somente às horas empregadas na produção de mercadorias? Pergunto a você: o lucro que é a “mais-valia” ou o “valor a mais” embutido no preço da mercadoria é gerado pelas máquinas? Pelo material empregado nela? Ou pelo trabalho? Concorda que é pelo trabalho? 21 pares de sapatos. Retirando todos os custos com a produção, incluindo seus salários (70 pares), o excedente de riqueza gerado por eles equivale a 30 pares de sapatos que o capitalista, quando vender, irá chamar de lucro. Os 30 pares de sapatos excedentes – sejam transformados em lucro ou não – constituem-se, grosso modo, na riqueza gerada que só se torna possível graças à força de trabalho do grupo. Todavia, no sistema capitalista, ela é compreendida como “resultado da produção”, “lucro” e não é dividida entre os trabalhadores e, sim, apropriada pelo capitalista. Assim, de acordo com essa lógica de acumulação de riqueza do capitalista, a força de trabalho empreendida no processo produtivo é considerada apenas mais uma mercadoria contratada pelo menor preço: o salário. Você compreende agora que todo produto criado ou transformado pelo trabalhador e colocado à venda contém um excedente de trabalho? Esta característica acrescenta ao produto o valor de troca, permitindo, por sua vez, a acumulação de riquezas, uma vez que o produto traz consigo uma quantidade de trabalho não paga a quem o produziu. O que resta então ao trabalhador? Responde Marx (2004, p. 28): […] ao trabalhador pertence a parte mínima e mais indispensável do produto; somente tanto quanto for necessário para ele existir, não como ser humano, mas como trabalhador, não para ele continuar reproduzindo a humanidade, mas sim a classe de escravos [que é a] dos trabalhadores. A parte mínima é apenas o salário cuja medida é ajustada ao que pode custear sua miserável subsistência. Apesar do desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da conquista de direitos sociais, ao longo do século XX, a classe trabalhadora ainda continuadestituída da riqueza que produz. Em seu cotidiano, você percebe a situação de exploração da classe trabalhadora? Estamos acertados então quanto ao entendimento de que o trabalho é imprescindível ao gênero humano e que a divisão social do trabalho consiste na maneira como os homens organizam essa atividade básica indispensável para sua sobrevivência na sociedade contemporânea? Na próxima aula, apresentaremos os desdobramentos históricos do trabalho no contexto das mudanças no modo de produção capitalista e sua relação com a educação dos trabalhadores. S a i b a m a i s Para conhecer mais a situação dos trabalhadores na primeira fase da Revolução Industrial, assista ao filme: D’aens - Um Grito de Justiça, Ano: 1992, Direção: Stijn Coninx Gênero: Drama / Biografia / Histórico AULA 1 TÓPICO 4 22 Traba lho e Educação AULA 2 Trabalho e Educação no contexto socioeconômico contemporâneo (Parte II) Caro(a) aluno(a), Nesta aula você irá compreender as diferentes fases de desenvolvimento do capitalismo durante o avanço tecnológico da Revolução Industrial, bem como as formas de adaptação da classe trabalhadora ao processo produtivo. Esperamos que você entenda também como a educação foi utilizada no processo de formação e qualificação dos trabalhadores. Então, vamos à aula! Objetivos • Conhecer os desdobramentos da relação trabalho e educação nas diferentes fases do capitalismo • Compreender as diferentes formas de adaptação e resistência da classe trabalhadora às exigências de qualificação profissional do capital 23 TÓPICO 1 As implicações da relação capital e trabalho e o desenvolvimento do trabalho • Conhecer as principais mudanças ocorri- das no mundo do trabalho e na educação ObjetivO Neste tópico você compreenderá a relação entre trabalho e educação em seus desdobramentos históricos e as diferentes fases do capital em que a educação é tomada como forma de ampliar a produção e o lucro. Abordaremos também como a classe trabalhadora reagiu diante das mudanças tecnológicas que ocorreram no avanço do processo produtivo capitalista. Na obra O Manifesto Comunista, de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels, afirmam que “A História de toda a sociedade que existiu até agora é a História da luta de classes” (1996, p. 9). Isso nos faz pensar que a educação, assim como a economia, ou a política ou o desenvolvimento técnico-científico não podem ser analisados fora do referencial histórico e das relações sociais. A educação escolar ou profissional, por exemplo, uma vez contextualizada historicamente a partir da luta de classes, sempre revela os reais interesses de seus idealizadores, bem como, se sua finalidade contempla apenas o domínio de V o c ê s a b i a? Em 2012, em Barcelona, na Espanha, aproximadamente cem mil pessoas manifestaram nas ruas sua insatisfação com a política econômica e com o alarmante crescimento do desemprego, que atinge a taxa de 24% da população ativa (CALIXTO, 2012). S a i b a m a i s O Manifesto Comunista é uma excelente obra para compreender a relação entre classes dominantes e classes dominadas a partir do referencial sociopolítico e histórico. Disponível em <http://www.ebooksbrasil. org/adobeebook/manifestocomunista. pdf>. Acesso: 23 abr 2013. AULA 2 TÓPICO 1 Matemát ica Bás ica I I2424 Traba lho e Educação conteúdos e habilidades ou se visa à emancipação social de quem vai recebê-la. É o que vamos aprofundar a seguir com os estudos de Mariano Enguita, em sua obra A face oculta da escola (1989), e Michel Foucault (1926-1984) sobre disciplina e controle nas instituições coletivas. Na sociedade capitalista, principalmente, a educação escolar é direcionada conforme o interesse do modo de produção de quem detém os meios de produção, e é imposta a classe trabalhadora para gerar mão de obra abundante, pois quanto maior o exército de trabalhadores disponíveis, menor será o valor pago a eles na forma de salário. Mas não é só isso. Há uma preocupação em disciplinar o indivíduo para que haja conforme as regras estabelecidas. Nesse sentido, Enguita (1989), em seus estudos ste o surgimento da escola na Revolução Industrial, explica bem o direcionamento da educação em função do modelo de produção vigente ao afirmar que os capitalistas industriais exigiram do Estado, no século XVIII, providências para preparar, desde a primeira infância, um novo tipo de trabalhador que fosse dócil e obediente na rotina fabril. Não só com princípios cristãos, piedoso, humilde, resignado às promessas de que o reino dos céus passaria a ser dos pobres e de que os últimos seriam os primeiros, mas disciplinado e disposto a obedecer a ordens. E o instrumento apropriado para isso era a escola. Sobre documentos da época, relata Thompson (1967, p.84 apud ENGUITA 1989, p. 114): Em 1772, William Powell já havia visto a educação como meio de adquirir ou instalar o ‘hábito laborioso’, e o reverendo William Turner, em 1786, enaltecia as escolas dominicais de Raikes como “um espetáculo de ordem e regularidade” e citava um fabricante Gloucester [Inglaterra] afirmando que as crianças que frequentavam as escolas voltavam “mais tratáveis e obedientes, e menos briguentas e vingativas”. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/1/1a/Mariano_ern%C3%A1ndez.jpg Figura 3 – Enguita Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ en/5/52/Foucault5.jpg Figura 4 – Foucault http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1a/Mariano_ern%C3%A1ndez.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1a/Mariano_ern%C3%A1ndez.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/5/52/Foucault5.jpg http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/5/52/Foucault5.jpg 25 O pensador francês Michel Foucault (1926-1984), em seu livro Microfísica do Poder (1979), diferentemente de Émile Durkheim reconhece nas instituições coletivas como a prisão, o hospital, o exército, o trabalho, a escola, a forma mais dissimulada de disciplinamento do indivíduo pela criação de mecanismos de controle como as normas e regras destinadas a sufocar a iniciativa e a individualidade e não necessariamente manter a coesão social. Segundo Foucault, em espaços públicos como o mercado ou as praças ainda se podia desfrutar de certa liberdade, mas os espaços fechados pesquisados por ele desde a Revolução Industrial foram meticulosamente elaborados e manipulados para subjugar o indivíduo. As formas de controle podem ser verificadas na vigilância panóptica, na organização do espaço, no controle do tempo, nos registros contínuos das atividades e do conhecimento. Podemos também concluir que desde o século XIX, a tecnologia evoluiu e apareceram no cenário produtivo novas máquinas que exigiram uma organização maior e trabalhadores mais qualificados e o papel da educação não seria outro senão preparar o homem para dominar a máquina. Mas, nesse cenário, em que cada vez mais as máquinas assumem as funções do trabalhador, precisamos compreender qual o real papel da educação. Digamos que o modo de produção seja incrementado com novas máquinas, novas tecnologias que exijam do trabalhador a capacidade de mover essas máquinas ou de aprender uma nova habilidade para produzir mais. É aí que entra a educação, que passa a ser utilizada não só para qualificar o trabalhador, mas, também, como instrumento indireto de acumulação do capital. Afinal, os grupos humanos em determinada situação histórica demandam um tipo de educação que, por sua vez, articula-se com os “arranjos produtivos e com suas correspondentes estruturas sociais, políticas e culturais” (ARRAIS NETO, 2006, p. 21). AULA 2 TÓPICO 1 Você concorda que a ação disciplinadora e de controle na fábrica e na escola são muito semelhantes e visam subjugar o trabalhador? Matemát ica Bás ica I I2626 Traba lho e Educação Assim, qualquer projeto de educação é um projeto que traz em si interesses sociais, políticos eeconômicos e, como explicamos acima, o modo mais fácil e coerente de compreender as implicações entre educação e trabalho é situá-la historicamente no contexto da luta de classes, pois a classe dominante é quem determina o modelo de educação apropriada aos seus interesses. No quadro a seguir, você pode perceber como as fases de desenvolvimento da Revolução Industrial e do Capitalismo estão inter-relacionadas com os projetos educacionais implantados no mundo contemporâneo: Painel Histórico do Capitalismo (Baseado em Ernest Mendel) Revolução industrial (Baseado em Eric Hobsbawm) Relação Educação e Trabalho Capitalismo de Livre Concor- rência 1ª Fase: fim do século XVIII. 2ª Fase: de 1848 a 1873. Substituição gradual da produção artesanal e manufatureira pela produção industrial capitalista 1ª Fase (1760 a 1850): Predomínio da fabricação de bens de consumo; destaca-se a indústria têxtil e a energia a vapor. Instrução elementar: Não havia interesse dos capi- talistas nem do Estado em promover a educação para a classe trabalhadora. A produção industrial exigia o trabalho braçal e intenso dos operários. Capitalismo Monopolista ou Imperialista - de 1870 a 1940: Expansão do capital para domi- nar a nações subdesenvolvidas e alinhá-las aos interesses dos países dominantes. 2ª Fase (1850 a 1900): Expansão da industrialização pelo mundo com o surgimento das novas formas de energia, como hidrelétricas e os deriva- dos do petróleo e as melhorias no sistema de transporte, como as locomotivas e os barcos a vapor. Taylorismo: a racionaliza- ção do processo produtivo: administração científica. Capitalismo Tardio a partir de 1940 com a terceira revolução tecnológica. 3ª Fase (1900 a 1980) Começa a formação das multina- cionais. A produção fica automa- tizada, inicia-se a produção em série e a sociedade de consumo em massa. Amplia-se os meios de comunicação, e surge a indústria química e eletrônica, a engenharia genética e também microeletrônica, a robótica e a informática. Fordismo: seguindo os princípios do taylorismo, introduziu a linha de monta- gem; a produção em série; e um sistema de recompensas e punições conforme o com- portamento dos operários na fábrica. Toyotismo: modelo japonês que surgiu na década de 1970 e inspirou novas mod- elos de produção exigindo qualificação profissional do trabalhador. Quadro 1: Painel Histórico do Capitalismo Fonte: baseado no livro Capitalismo Tardio (1972) de Ernest Mendel 27 Aqui você compreendeu que a escola teve um papel importante como instituição social utilizada pelos capitalistas para preparar o trabalhador à rotina na fábrica, bem como percebeu as diversas fases de desenvolvimento do capital no mundo contemporâneo. AULA 2 TÓPICO 1 28 Traba lho e Educação TÓPICO 2 Capitalismo de livre concorrência na indústria nascente • Relacionar liberalismo econômico e Revolução Industrial no desenvolvimento do capita-lismo concorrencial ObjetivO Segundo Ernest Mendel (1985), o capitalismo pode ser compreendido em três estágios históricos: 1º estágio: capitalismo concorrencial; 2º estágio: capitalismo monopolista ou imperialista; e 3º estágio: capitalismo tardio. Em cada um deles, a relação trabalho e educação foi diferente, exigindo novas adaptações da classe trabalhadora que, ao longo do tempo, se organizou para reivindicar seus direitos. O primeiro momento do capitalismo pode ser também chamado de “capitalismo de livre concorrência”, porque, baseada nos ideais do liberalismo econômico e, tendo início no fim do século XVIII, inaugurou um novo modo de produção que, gradativamente, destruiu a produção artesanal e nativa. A Revolução Industrial alterou, definitivamente, o modo de produção no qual predominou a fabricação de bens de consumo em uma escala intercontinental nunca antes vista na história da humanidade; com destaque da indústria V o c ê S A B I A? Ernest Mandel (1923-1995) foi um importante economista, escritor, líder político e militante marxista que nasceu em Frankfurt, atuou na Bélgica e teve grande influência nos partidos de esquerda no mundo. Sua obra: “Capitalismo tardio” (1972) é considerada uma contribuição significativa para a compreensão histórica das metamorfoses do capitalismo e para a ação política do marxismo no século XXI. V o c ê S A B I A? Liberalismo econômico: teoria econômica que seguia os princípios dos Economistas Clássicos como o escocês Adam Smith (1723-1790). Pregaram a propriedade privada; a não intervenção do Estado na economia; a livre concorrência; e a lei da procura e da oferta, afirmando que o mercado se autorregulava. 29 têxtil, que adaptou a inovação tecnológica da energia a vapor a seu maquinário de produção tornando-se, em pouco tempo, a principal fonte de riqueza por retirar seu lucro do trabalho excedente dos trabalhadores. A produção artesanal e manufatureira que garantia a sobrevivência familiar ou de grupos de famílias organizados em oficinas de produção não conseguiu competir e diversificar seus produtos como a indústria nascente. Entre os anos de 1840 a 1870, a indústria têxtil tornou-se a melhor opção de empregabilidade, levando ao inchamento populacional as metrópoles, principalmente, da Grã- Bretanha e dos EUA. Posteriormente, França, Bélgica, Itália, Japão e Espanha adotaram o modelo industrial-capitalista, iniciando uma verdadeira corrida pela construção de estradas e ferrovias, a fim de facilitar a distribuição e o escoamento das mercadorias e a abertura de novos mercados. A acumulação primitiva do capital em todos esses países dependia principalmente da exploração dos trabalhadores que chegavam a trabalhar 12 a 16 horas por dia em condições desumanas. O grau de instrução escolar atingia uma quantidade ínfima de alguns estamentos da sociedade. Não havia interesse dos capitalistas nem do Estado em promover a educação para a classe trabalhadora. Poucos conseguiam uma instrução elementar (baixo domínio da leitura e habilidade de fazer contas). Em sua obra, A face oculta da escola, Mariano Enguita (1989), descreve duas citações: a primeira do filósofo John Locke (1632-1704) e a segunda de um dos dirigentes das escolas anglicanas de Hannah More, na Inglaterra do século XIX, sobre o modelo de educação pensada pela burguesia em ascensão para as massas de trabalhadores. Ei-las: Ninguém está obrigado a saber tudo. O estudo das ciências em geral é assunto daqueles que vivem confortavelmente e dispõem de tempo livre. Os que têm empregos particulares devem entender as suas funções; e não é insensato exigir que pensem e raciocinem apenas sobre o que forma sua ocupação cotidiana (LOCKE, s.d.: III, 225 apud ENGUITA, 1989, p. 111). [As crianças aprendiam] durante a semana trabalhos toscos que os preparam para serem serventes. Não permito que se ensine a escrever os pobres, pois meu objetivo não é convertê-los em fanáticos, mas formar os baixos estamentos para a indústria e a piedade (VAUGHAN ; ARCHER, 1971, p. 37 apud ENGUITA, 1989, p. 111). A produção industrial do capitalismo concorrencial exigia pouca instrução e trabalho braçal e intenso dos operários (DAL ROSSO, 2008). O trabalhador operava a AULA 2 TÓPICO 2 Matemát ica Bás ica I I3030 Traba lho e Educação máquina com movimentos repetitivos e, diferentemente da produção artesanal – na qual era essencial seu conhecimento – em pouco tempo já não dominava as partes da produção, tornando-se mão de obra supérflua e facilmente substituível. A criação de um exército de desempregados era uma estratégia de dominação para baixar os custos e manter a disciplina e o controle no chão da fábrica. A inserção de mulheres e crianças no processo produtivo garantia ainda mais a diminuição dos custos da produção, pois seu salário era menor que dos homens. Diante de tantas condições de degradação e violência, a classe trabalhadora passou a organizar-see a exigir mudanças nas condições de trabalho. Foi o período do surgimento dos sindicatos e movimentos sociais e políticos a favor dos trabalhadores. Apesar do ganho de alguns direitos trabalhistas, como a diminuição da carga-horária de trabalho e a regulação dos salários, poucas mudanças ocorreram, e o capital concorrencial continuou avançando no mundo do trabalho, acumulando mais-valia e propagando a cultura do consumo. 31 TÓPICO 3 Capitalismo monopolista ou imperialista ObjetivO • Entender as estratégias de expansão do capital no modelo de produção taylorista-fordista No período de 1870 a 1940, o capital acumulado pelas empresas dos países dominantes assumiu um caráter expansionista, tendo o Estado liberal como plataforma de projeção para abrir novos mercados. A concentração e centralização da riqueza monetária permitiram a formação dos primeiros trustes e cartéis capazes de manipular o mercado e se infiltrar financeira e politicamente nos países pobres e subdesenvolvidos com o apoio dos governantes e empresários locais. Esses países, mais tarde, foram chamados de “Terceiro Mundo” e seu crescimento foi alinhado aos interesses dos países dominantes, seja para a retirada de matérias-primas, seja para o escoamento da produção. Segundo Braverman (1987), o capital assumiu essa forma expansionista porque, simultaneamente, aderiu ao processo de colonização do mundo, às rivalidades internacionais e conflitos armados pela divisão do globo, financiando as guerras e a política de dominação. AULA 2 TÓPICO 3 Como se dá a adaptação do trabalhador nesse novo estágio do capital? Matemát ica Bás ica I I3232 Traba lho e Educação Podemos acrescentar que o aprimoramento do maquinário e o surgimento de novas formas de energia, como hidrelétricas e os derivados do petróleo, além das melhorias no transporte, como as locomotivas e os barcos a vapor – que caracterizam a segunda fase da revolução industrial – constituem-se elementos históricos que impulsionaram o estágio do capital monopolista e de industrialização mundial. A necessidade de ajustar o trabalhador às mudanças e avanços do processo produtivo na fábrica tornou-se a preocupação permanente dos donos do capital. Tanto o local de trabalho como as pessoas que executavam as atividades passaram a ser observadas com um olhar científico, a fim de que fossem desenvolvidas metodologias de trabalho para habituar o trabalhador ao maquinário (BRAVERMAN, 1987). Em 1911, com sua obra Princípios da Administração Científica, o engenheiro mecânico Frederick Taylor (1856-1915) introduziu o conceito de “organização científica do trabalho” com a finalidade de implantar metodologias de trabalho eficientes como a qualificação de gerentes, seleção e treinamento dos trabalhadores para se evitar desperdícios e aproveitar ao máximo a força de trabalho disponível. Em consequência, surgiram, dentro dos departamentos do pessoal [...] e outras instituições acadêmicas e para-acadêmicas, um complexo de disciplinas acadêmicas e práticas, destinadas ao estudo do trabalhador. Logo depois de Taylor, surgiram a Psicologia Industrial e a Fisiologia industrial para aperfeiçoar os métodos de seleção, adestramento e motivação dos trabalhadores e foram logo ampliadas numa pretensa sociologia industrial, para o estudo da oficina como um sistema social. (BRAVERMAN, 1987, p. 125). O taylorismo tinha a finalidade de racionalizar o processo produtivo (administração científica); garantir o monopólio do conhecimento com a gerência científica para não se tornar refém do saber do trabalhador e garantir que este não dominasse os segredos da produção. Competia às lideranças da fábrica a seguinte missão: integrar o homem à máquina, de tal forma que este se sentisse parte daquela. A formação profissional era básica e visava habituar os trabalhadores ao trabalho repetitivo e exaustivo; ao disciplinamento do corpo e à obediência; além de garantir sua substituição imediata em casos de resistência pessoal ou coletiva, como as greves ou outras formas de organização de classe como ações empreendidas pelos sindicatos. 33 V o c ê s a b i a? Referência ao empresário estadunidense Henry Ford (1863-1947) fundador da Ford Motor Company que introduziu a produção e o consumo em massa de automóveis no mundo. A partir dos anos de 1930, o fordismo difundiu-se no mundo, seguindo os princípios básicos da teoria da administração científica (taylorismo). Introduziu a linha de montagem; a produção em série; e um sistema de recompensas e punições, conforme o comportamento dos operários na fábrica. E aqui cabe ressaltar o modelo de educação implícito no sistema fordista de produção para convencer o trabalhador a submeter-se ao sistema capitalista. Você lembra que a acumulação de riquezas está relacionada à elevação da quantidade de trabalho excedente (não pago ao trabalhador) e que a estratégia fundamental daquele que detém os meios de produção (o capitalista) é criar condições para aumentar essa quantidade de trabalho excedente. Pois bem. Isto ocorre de duas maneiras: com o aumento da jornada de trabalho e com o aumento da produtividade das pessoas, da matéria-prima e das máquinas (MARX, 1983). Ora, o aumento da produtividade das pessoas passa pela educação/instrução. E não estamos nos referindo somente a cursos preparatórios para uso de ferramentas e máquinas específicas, que consistem em: a. Acostumar as pessoas a assumir o controle de suas emoções e pulsões. b. Disciplinar fisicamente as pessoas para o estudo, o que implica permanecer entre quatro paredes durante a maior parte do dia, sentar- se horas a fio, não conversar com o colega durante a aula, e enfileirar-se. c. Recepcionar informações compartimentalizadas em disciplinas e reproduzi-las em casa ou no ambiente de trabalho, etc. Muitos de nós já vimos esse modelo de educação, não é verdade? Esse padrão escolar perdura até hoje e é muito útil ao capital, sobretudo para os processos de produção de regime fordista, onde o disciplinamento, a obediência e a padronização são imprescindíveis. S a i b a m a i s Durante os anos de 1930 a 1970, prevaleceu nas economias capitalistas o modelo de acumulação denominado de Para mais informações, acesse o site: http:// www.cienciashumanas.com.br/resumo_ artigo_5713/artigo_sobre_o_fordismo AULA 2 TÓPICO 3 34 Traba lho e Educação TÓPICO 4 Capitalismo tardio • Compreender as crises do capital no modelo de produção fordista e a reestru- turação produtiva com o toyotismo • Relacionar o avanço tecnológico e a qualificação profissional ao perfil do traba- lhador no modo de produção flexível ObjetivOs Em meio a tantas crises, a partir de 1940 com a terceira revolução tecnológica, o capital diversificou a produção com o uso de novas tecnologias, migrando para os países subdesenvolvidos para usufruir de mão de obra mais barata e de matérias-primas. O modelo de produção taylorista/fordista já não fazia tanto sentido diante de uma indústria que se renovava tecnologicamente numa velocidade que não podia vender seus produtos em grande escala como no período monopolista nem mantê-los em estoques por muito tempo. A necessidade de novos mercados e as crises econômicas, como a crise do petróleo na década de 1970, de caráter universal e alcance global, o desemprego estrutural e as reivindicações dos trabalhadores fizeram com que o sistema capitalista se reinventasse à procura de um modo de produção mais flexível (MÉSZÁROS, 2002). Este novo modelo deveria contemplar a diminuição dos custos com a produção, dos encargos sociais e os direitos trabalhistas e, simultaneamente, aproveitar as novas tecnologias como a robótica e a microeletrônica. Para tanto, a qualificação técnica e profissional também tinha que mudar nas nações subdesenvolvidas com políticas educacionais de abrangência nacional capaz de gerar mão de obra qualificadapara V o c ê S A B I A? Também chamada de revolução técnico- científica que surgiu na segunda metade do século XX, com a automatização da produção; o surgimento da indústria química e eletrônica; dos meios de comunicação; a informática; a microeletrônica; a robótica; a engenharia genética, etc. 35 atender às novas exigências do mercado global. O objetivo de obrigar o Estado a investir tanto na qualificação profissional das nações subdesenvolvidas está relacionado à chegada das multinacionais que migraram a partir da década de 1980 para onde podiam pagar impostos e salários menores, sobretudo na América do Sul e na Ásia. O custo de abertura e funcionamento de uma empresa em vários países, seguindo um processo de fragmentação da produção, na maioria das vezes, tornou-se mais competitivo, uma vez que os salários pagos eram irrisórios se comparados aos países de origem dessas multinacionais. Para atraí-las, os governos prometiam pacotes de isenção de impostos e segurança de novos mercados para seus produtos, gerando uma guerra fiscal entre estados de uma mesma federação que ainda perdura em nossos dias. Houve também uma diversificação quanto à área de investimento do capital. As economias nacionais já não podiam mais gerar empregos e se manter somente com os parques industriais. No novo cenário, a partir da década de 1970, com a queda vertiginosa do regime fordista de produção seriada para consumo em massa, a área de serviços mostrou-se um campo lucrativo, pois diversificou os empregos, principalmente, o setor financeiro. A criação de bancos internacionais e fusões de conglomerados permitiram a criação de fundos de empréstimos para as nações pobres e subdesenvolvidas que escondiam os interesses dos países desenvolvidos. As altas taxas de juros de bancos como o Banco Mundial e o FMI resultaram no endividando dessas nações, tais quais os países da América Latina, entre eles o Brasil, obrigando- os a assumir compromissos de abertura de suas fronteiras alfandegárias e comerciais para os produtos estrangeiros em detrimento dos produtos nacionais/locais, e o que é pior, aceitando a proposta de pagamento de baixos salários aos trabalhadores. Para Antunes (2003), o capitalismo, após um longo período de acumulação monopolista que ocorreu durante o fordismo e da fase keynesiana, começou a mostrar, em meados dos anos 70, sinais de um quadro muito crítico, dando lugar a novos AULA 2 TÓPICO 4 V o c ê s a b i a? A origem da nossa Dívida Externa vem da Independência do Brasil, mas foi durante a ditadura, entre as décadas de 1960 e 1980, que a dívida deu o seu maior salto. Antes do Golpe de 1964, a dívida externa no Brasil era de 12 bilhões de dólares e, ao final da ditadura, ela já atingia a casa dos 100 bilhões. A dívida se estabilizou somente depois dos governos FHC e Lula. Fonte: http://www.brasilescola.com/ brasil/divida-externa-brasileira.htm . Acesso em: 12 maio 2013. Matemát ica Bás ica I I3636 Traba lho e Educação modelos produtivos. Uma das experiências de produção flexível que se disseminou nesse período de crise foi o toyotismo, modelo japonês que exige uma formação profissional baseada nas competências individuais do trabalhador. Na concepção de Ohno (1997), entre suas características destaca-se a produção em pequenos lotes; estoque mínimo; aumento constante da eficiência; eliminação do desperdício; redução de custos de produção; sistema de gestão com ênfase na criatividade e na multifuncionalidade, pois cada colaborador é treinado para cuidar de várias máquinas e executar tarefas diferenciadas. O trabalho é horizontalizado e em equipe, diferentemente da verticalização do modelo fordista. As organizações de produção flexíveis não se tornaram hegemônicas em toda parte, assim como o modelo fordista que as precedeu. Mas a classe trabalhadora sofreu a desregulamentação de seus direitos com os novos contratos de trabalhos flexíveis (temporários, terceirizados, subcontratados, etc.), com o desmantelamento dos sindicatos, por força dos novos acordos econômicos e com a mobilidade das multinacionais operando em lugares sem tradição de organização sindical (HARVEY, 1992). A crise do capital tornou-se estrutural e desencadeou profundas mudanças econômicas, sociais, políticas e ideológicas com a finalidade de recuperar o ciclo de valorização do capital. Todavia, nenhuma dessas mudanças seria possível sem a redefinição do papel do Estado: este ficaria reduzido a um mínimo de ações. O Estado interventor e do Bem-Estar Social defendido pelo economista inglês John Maynard Keynes, adotado pela maioria dos países após a Crise de 1929, e que favoreceu principalmente a sobrevivência do sistema capitalista, deu lugar ao Estado das privatizações e da flexibilização V o c ê S A B I A? Com a reestruturação produtiva do modelo fordista para modelos mais flexíveis como o toyotismo, os trabalhadores perderam postos de trabalho, e os sindicatos, força de persuasão nas negociações. O objetivo já não era lutar pela superação do capitalismo nem reivindicar direitos, mas evitar demissões em massa. Fonte: ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamoforses e a centralidade do mundo do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1998. Figura 5 – Keynes Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com- mons/6/66/John_Maynard_Keynes.jpg 37 dos direitos trabalhistas, orientado por uma nova teoria econômica dos anos de 1980: o neoliberalismo (SOUSA, 2006). As ideias dos economistas Friedrich Hayek e Milton Friedman, ambos da Universidade de Chicago, entraram na ordem do dia e se tornaram a nova cartilha econômica imposta pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, nos anos 80, aos países periféricos, através de organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Esta “nova teoria econômica” é alicerçada nas ideias do economista escocês Adam Smith (1723-1790). Sobre ela explica Dalarosa (2001, p. 198) que “o liberalismo é uma filosofia política, defende os princípios do modo de produção capitalista, fundamenta-se na liberdade individual, na propriedade privada dos meios de produção e na liberdade de ação do capital em relação ao trabalho e ao Estado”. Estes princípios retomados no mundo globalizado da década de 1990, isto é, no mundo em que as novas tecnologias, os transportes e a comunicação aproximam as nações, além de manterem os fundamentos do capitalismo e pregarem o Estado mínimo, os princípios estabelecem agora como meta para os Estados Nacionais a contenção dos gastos com o social; a desestatização; a elevação das taxas de juros para atrair capital; a abertura do mercado interno para multinacionais; a desregulamentação dos direitos trabalhistas e a desarticulação dos sindicatos (SOUSA, 2006). No âmbito da educação e de sua relação com o trabalho, a tarefa principal do Estado nessa reestruturação produtiva que chegou aos nossos dias é abrir caminho para o progresso nos padrões neoliberais de desenvolvimento, proporcionando uma política educacional que garanta a formação de trabalhadores com alto padrão de qualificação para, mais uma vez, adequar-se às mudanças do capital. Nesse contexto, a educação profissional e tecnológica é direcionada estrategicamente para produzir conhecimentos científicos e reproduzir a lógica do capital, legitimando o controle social. Frigotto (1995, p. 26) esclarece o uso direcionado do sistema educacional na reprodução da nova ordem ao afirmar que, no emparelhamento: neoliberalismo, reestruturação produtiva e globalização, as S a i b a m a i s Considerado um dos mais importantes economistas de toda a história, John Maynard Keynes nasceu numa família de intelectuais. Estudou no famoso Colégio Eton, da aristocracia inglesa, onde obteve medalhas por mérito em matemática. Fonte: http://educacao.uol. com.br/biografias/john-m-keynes.jhtmAULA 2 TÓPICO 4 Matemát ica Bás ica I I3838 Traba lho e Educação relações sociais de produção capitalistas não se perpetuam automaticamente, mas são articuladas e impostas com objetivos e fins específicos numa rede de ações estruturadas para que os indivíduos internalizem o modelo produtivo vigente. Dessa forma, a educação é subordinada pelas políticas nacionais ao sistema capitalista para adequar-se e atender às necessidades dos novos tempos de globalização. Segundo Antunes (2003), ainda com base na nova fase de reestruturação produtiva, as estratégias utilizadas pelas empresas para aumentar a produtividade e a lucratividade também mudaram ao ponto de exigirem agora a participação dos trabalhadores chamados já nesse novo contexto de “colaboradores”, a fim de que se sintam membros participantes do processo produtivo. Contudo, ainda segundo o autor citado, a mudança não passa de uma estratégia manipuladora, pois preserva, em sua lógica e forma, as condições do trabalho alienado, denunciada por Marx (2004, p. 36): “O trabalhador não está defronte àquele que o emprega na posição de um livre vendedor. [...] O valor da força de trabalho é completamente destruído se não for vendida a cada instante”. Em quaisquer contextos – ou da “acumulação rígida” do capitalismo concorrencial ou monopolista ou da “acumulação flexível” do capitalismo tardio – a educação é fundamental para consolidar a formação do caráter humano e sua participação no mundo do trabalho. A questão que devemos refletir é que na disputa por trabalho cada trabalhador vê no outro o seu oponente e somente em algumas situações opõe-se aos empregadores ou políticos mantenedores da situação de exploração. Cabe destacar ainda que a competição entre os trabalhadores transpõe-se, de alguma maneira, para a educação escolar à medida que os mecanismos de seleção para o emprego incluem níveis cada vez maiores de escolarização como um dos critérios para a sua contratação. E o resultado dessa competição entre os trabalhadores é inegavelmente vantajosa para o capital. Some-se o fato de que atualmente existe vasto exército industrial de reserva de trabalhadores que se formam todos os anos para atuar, por exemplo, na área metalúrgica ou automobilística e não conseguem emprego e, caso consigam, sabem que podem ser facilmente substituídos, como acontece nos momentos de greve coletiva. V o c ê S A B I A? A capacidade de ser flexível está associada à recente modificação na organização do trabalho denominada de reestruturação produtiva. A flexibilidade está relacionada, entre outras características, à atitude das pessoas diante de situações econômico e sociais imprevisíveis, adaptando-se a novas situações (SALERNO, 1995). 39 O capital ainda tem como vantagem à sua disposição o sistema financeiro que lhe permite retirar o dinheiro de um país e investir em outro rapidamente; a quebra de barreiras geográficas para a entrada de seus produtos; a elevação do nível de qualificação dos trabalhadores que as políticas educacionais são obrigadas a realizar como o aumento de cursos tecnológicos e as inovações das comunicações e dos equipamentos/ferramentas de trabalho que barateiam os preços das mercadorias (HARVEY, 2011). Reforçamos, por último, que a educação é necessária para os trabalhadores, apesar de servir também às finalidades do processo de acumulação de riquezas. Não por acaso, Marx (2004) se referiu à importância da educação escolar, que deve ser garantida gratuitamente às crianças e jovens, integrando atividades físicas, artístico-culturais e científico-tecnológicas. Chegamos ao final desta aula, em que apresentamos alguns elementos para ajudar a compreender as relações historicamente determinadas entre trabalho e educação, situando-as no contexto atual. Até a próxima aula! AULA 2 TÓPICO 4 40 Traba lho e Educação AULA 3 Trabalho, ciência e cultura Caro(a) aluno(a), Nesta aula, discutiremos acerca da relação existente entre trabalho, ciência e cultura. Você perceberá que, no mundo contemporâneo, essa relação torna-se cada vez mais estreita, à medida que a ciência é aplicada – na forma de novas tecnologias – no sistema de produção e consumo capitalista influenciando o modo como nos relacionamos com os outros e lidamos com as coisas que produzimos. Objetivos • Compreender a ciência como um elemento da cultura e da sociedade por meio de suas diferentes concepções • Entender a relação existente entre saber tradicional, saber científico e tecnologia • Compreender cultura e educação como elementos de reprodução e transformação social 41 TÓPICO 1 Ciência, tecnologia e a indústria cultural no mundo do trabalho ObjetivOs • Conhecer as concepções racionalista e empirista da ciência • Diferenciar ciência e tecnologia e seu emprego na produção e na melhoria da qualidade de vida dos indivíduos • Reconhecer como o capital se utilizou da ciência na Revolução Industrial para criar uma sociedade do consumo • Estudar a influência dos meios de comunicação social no fo- mento do consumo exagerado A ciência e a tecnologia estão presentes em nosso cotidiano e são frutos do desenvolvimento ao longo dos séculos e estão relacionadas ao sistema produtivo, ao trabalho, à melhoria da nossa qualidade de vida e ao consumo. Vamos estudar como estes elementos interagem na cultura, no modo de vida em sociedade no mundo contemporâneo. 1.1 A CIÊNCIA E O AVANÇO DA TECNOLOGIA EM NOSSO COTIDIANO A cada dia que passa, deparamo-nos com novas descobertas que evidenciam o avanço da ciência, entre as quais destacamos: o raio x, a tomografia, a ressonância magnética, o raio laser, as células-tronco, o DNA, a energia solar, a fibra de carbono, o coração artificial, as telecomunicações, a internet, as novas tecnologias digitais, etc. AULA 3 TÓPICO 1 Fonte: http://www.saude.ba.gov.br/han/index.php?option=com_cont ent&view=article&id=461&catid=13&Itemid=59 Figura 6 - Equipamento de ressonância magnética Figura 7 - Planta de energia solar Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Valle_1_y_ Valle_2.jpg http://www.saude.ba.gov.br/han/index.php?option=com_content&view=article&id=461&catid=13&Itemid=59 http://www.saude.ba.gov.br/han/index.php?option=com_content&view=article&id=461&catid=13&Itemid=59 http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Valle_1_y_Valle_2.jpg http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Valle_1_y_Valle_2.jpg Matemát ica Bás ica I I4242 Traba lho e Educação As inovações da ciência alteram as ferramentas e instrumentos de trabalho. No campo da educação escolar, por exemplo, o professor usa a educação a distância, o e-book, a lousa digital; o aluno substitui a apostila pelas ferramentas de busca da internet e faz suas leituras em mídia eletrônica. No âmbito da saúde, o médico não precisa mais fazer uma intervenção cirúrgica invasiva, pois a ressonância permite conhecer o estado dos órgãos internos. Na seara das comunicações, diminui a velocidade da transmissão de imagem e voz, o que permite a comunicação em tempo real de pessoas localizadas em lugares diferentes, um exemplo disso é a ferramenta videoconferência. Os automóveis tornam-se mais leves e, surpreendentemente, mais rápidos. Enfim, podemos elaborar uma lista enorme de benefícios proporcionados pela ciência, mas é importante ter claro o principal benefício: economia de tempo e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Os avanços mencionados acima se consolidaram na segunda metade do século XX e historiadores, como Toffler (1980), chamam essa fase de “terceira onda” ou “terceira revolução tecnológica” ou ainda de “revolução digital” em referência ao novo modelo de sociedade que se constitui no século XXI: a sociedade da informação, do conhecimento e da comunicação. Mas será que a sociedade do conhecimento conseguiu diminuir a desigualdade social, a exploração dos trabalhadores e aumentar a qualidade de vida do homem contemporâneo?É o que vamos discutir mais adiante. Primeiro, é imprescindível diferenciar o que seja ciência e tecnologia. E, depois, compreender em que sentido a relação ciência e tecnologia com a cultura e a Figura 9 - Telefonia móvel Fonte: http://www.corbisimages.com/ stock-photo/royalty-free/42-47253319/man- on-laptop-talking-on-cell-phone Figura 8 - Internet Fonte: DEaD/IFCE http://www.corbisimages.com/stock-photo/royalty-free/42-47253319/man-on-laptop-talking-on-cell-phone http://www.corbisimages.com/stock-photo/royalty-free/42-47253319/man-on-laptop-talking-on-cell-phone http://www.corbisimages.com/stock-photo/royalty-free/42-47253319/man-on-laptop-talking-on-cell-phone 43 Os saberes tradicionais ou do senso-comum mantêm alguma ligação com os saberes científicos ou são divergentes? Quais as diferenças e interlocuções dos saberes científicos com os saberes tradicionais? educação fomentam a transformação da sociedade, isto é, as mudanças efetivas nas relações sociais, pois para muitos autores, como Toffler (1980), a grande diferença do crescente desenvolvimento tecnocientífico consiste em afirmar que a Revolução Industrial cumpriu o papel de substituir o esforço físico do homem e a “revolução digital” cumpre bem o papel de substituir o esforço mental do homem. 1.2 O SABER CIENTÍFICO E O SABER DAS TRADIÇÕES Segundo Ander-Egg (1978) a ciência é um conjunto de conhecimentos racionais cujos conteúdos são certos ou prováveis porque são obtidos com rigor metodológico mediante verificações e sistematizações constantes em referência a um objeto de mesma natureza. O conhecimento, portanto, é o resultado do trabalho científico que envolve delimitação do objeto ou fato a ser investigado, rigorosos procedimentos metodológicos para observação, verificação, experimentação, sistematização e demonstração da prova científica: o que o sujeito afirma corresponde ao objeto estudado; corresponde à sua natureza propriamente dita (CHAUI, 2010, p. 299). Logo, não se trata de um saber baseado na opinião, ou na tradição, ou na experiência cotidiana de algumas pessoas como se constitui o saber do senso-comum. Contudo, não significa que o saber do senso-comum como as práticas milenares de plantio na agricultura, ou os ritos de socialização das tribos indígenas ou mesmo crenças religiosas estejam erradas ou não possam ter seu valor comprovado. Muitas vezes o saber científico confirma a aplicação de práticas culturais ou ações sobre a natureza que vêm sendo repassadas de geração a geração como é o caso de muitas plantas medicinais utilizadas pelas sociedades tribais cuja eficácia pode ser hoje comprovada nos mais sofisticados laboratórios farmacológicos. AULA 3 TÓPICO 1 Pritchard (s/d apud CUNHA, 2007), em seu estudo sobre bruxaria e oráculos no Sudão, concluiu que as premissas sobre o que existe no mundo tornam os saberes científicos diferentes dos tradicionais. Outra distinção é apresentada por Matemát ica Bás ica I I4444 Traba lho e Educação Strauss (s/d apud CUNHA, 2007) que identifica o conceito científico como uma ideia abstrata, principal característica do conhecimento moderno ao passo que o conhecimento tradicional opera com as percepções (cheiro, cores, sabores, etc.) do sujeito. Cunha (2007) identifica a dominância do saber científico sobre o saber tradicional, advertindo que a aproximação dos cientistas com o saber tradicional limita-se a apreendê-lo para, em seguida, destruí-los ou desconsiderá-los, embora ainda existam estudos que reconheçam práticas tradicionais. De fato, não é comum o reconhecimento dos paradigmas e práticas de ciências tradicionais como fontes potenciais de inovação da ciência. Essas atitudes se transpõem para o âmbito escolar, onde os conhecimentos científicos são apresentados, muitas vezes, sem o estabelecimento de qualquer conexão com os saberes obtidos em circunstâncias diversas da vida cotidiana. Uma vez que você entendeu a relação que existe entre o saber tradicional (senso-comum) e o saber científico no modo como formulam e produzem o conhecimento, vamos diferenciar ciência e tecnologia. 1.3 CIÊNCIA E TECNOLOGIA: DIFERENCIANDO UMA DA OUTRA O saber científico, rigoroso e sistemático, busca comprovar hipóteses e formular leis. A tecnologia, ao contrário, é a aplicação das leis ou descobertas científicas, isto é, do conhecimento científico obtido através de técnicas e de instrumentos em situações práticas que visam melhorar a relação do homem com a natureza e com sua qualidade de vida. No sentido mais amplo, a tecnologia está relaciona às soluções do mundo do trabalho e, em alguns casos, independe do saber científico. Por exemplo, o domínio e a utilização do fogo pelos homens primitivos ou do uso do ferro nas civilizações pré-históricas para fabricação de armas, carroças, objetos de trabalho, etc. são tecnologias desenvolvidas que marcaram a cultura desses povos. Nem por isso eles podem ser considerados atrasados. Uma coluna ou uma ponte construída no mundo contemporâneo segue princípios e técnicas desenvolvidos na Antiguidade embora não se utilize mais os mesmos materiais ou V o c ê S A B I A? Na Amazônia brasileira, biólogos ensinavam aos seringueiros e aos índios o modelo sustentável de caça, desprezando o conhecimento acumulado por essas populações? Após quase dez anos, um estudo científico considerou sustentável o conhecimento tradicional adotado pelos seringueiros (CUNHA, 2007). 45 instrumentos. O saber (científico ou do senso-comum) é enriquecido de geração em geração no processo de ensino-aprendizagem e é aplicado (na forma de técnicas ou tecnologia) na vida prática. Estamos de acordo então que ciência e tecnologia caminham juntas? É importante que você saiba que existem diferentes concepções de ciência que foram gestadas e modificadas ao longo do tempo de acordo com a história e a cultura das sociedades que as produziram. Portanto, a ciência também é um fenômeno cultural. A concepção de ciência como a explicamos anteriormente e que predomina atualmente nasceu na Idade Moderna. O filósofo Francis Bacon (1561-1626) destaca-se desse período como “fundador da ciência moderna”, com sua obra Novum Organum (1620), em que ressalta a necessidade de um método científico baseado na experiência chamado de empirismo. Explica Chalmers (1999, p. 18): O filósofo Francis Bacon e muitos de seus contemporâneos sintetizaram a atitude científica da época ao insistirem que, se quisermos compreender a natureza, devemos consultar a natureza e não os escritos de Aristóteles. As forças progressivas do século XVII chegaram a ver como um erro a preocupação dos filósofos naturais medievais com as obras dos antigos – especialmente de Aristóteles – e também com a Bíblia, como as fontes do conhecimento científico. Estimulados pelos sucessos dos “grandes experimentadores”, como Galileu, eles começaram cada vez mais a ver a experiência como fonte de conhecimento. V o c ê s a b i a? A Teoria da Relatividade de Albert Einstein (1879-1955) já não está tão distante do nosso cotidiano. Atualmente é utilizada para calibrar GPS e observar o Universo. Para saber mais: http://noticias.uol. com.br/c iencia/ul t imas-not ic ias / r e d a c a o / 2 0 1 3 / 0 3 / 2 0 / t e o r i a - d a - relatividade-e-usada-para-calibrar-gps- e-observar-o-universo.htm. Acesso em: 13 maio 2013. V o c ê s a b i a? Empirismo segundo Chaui (2010) é a concepção científica baseada na interpretação dos fatos mediante observações e experimentos que permitem estabelecer induções e que, ao serem confirmadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e leis de funcionamento. AULA 3 TÓPICO 1 http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/03/20/teoria-da-relatividade-e-usada-para-calibrar-gps-e-observar-o-universo.htm http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2013/03/20/teoria-da-relatividade-e-usada-para-calibrar-gps-e-observar-o-universo.htm
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