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UNIGRANRIO U N I V E R S I D A D E Vá além da sala de aula ! Introdução ao Processo de Negociação Núcleo de Educação a Distância www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitor de Administração Acadêmica Carlos de Oliveira Varella Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação Emilio Antonio Francischetti Pró-Reitora Comunitária Sônia Regina Mendes Direção geral: Jeferson Pandolfo Revisão: Camila Andrade, Laís Sá e Mariana Baptista Produção editoração gráfica: Magno Dal Magro Desenvolvimento do material: Gilberto Alves da Silva Desenvolvimento instrucional: Juliano Souza Copyright © 2018, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. UNIGRANRIO U N I V E R S I D A D E Vá além da sala de aula ! Sumário Introdução ao Processo de Negociação Objetivos .......................................................................................... 04 Introdução ........................................................................................ 05 1. A Comunicação no Processo de Negociação ............................ 06 1.1 Mas, Afinal, o que é Comunicação? ....................................... 07 1.2 Alcançando a Eficácia na Comunicação .................................... 08 1.3 Comunicação Verbal e não Verbal .......................................... 10 1.4 A Comunicação na Era do Conhecimento ................................. 12 2. Estilos de Negociação ........................................................... 13 2.1 Classificação pelos Perfis Psicológicos ..................................... 13 2.2 Classificação pelos Papéis Gerenciais ...................................... 15 2.3 Classificação com Base na Personalidade ................................ 15 3. Formas de Negociação ......................................................... 17 3.1 Negociações com Base nas Leis ............................................. 17 3.2 Negociações com Base em Interesses ..................................... 18 Síntese ............................................................................................ 21 Referências Bibliográficas ................................................................... 22 3Negociação Empresarial Objetivos Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de: ▪ Compreender os principais pressupostos teóricos que fundamentam a negociação empresarial e sua importância no contexto das organizações. 4 Negociação Empresarial Introdução Você já deve ter observado que a negociação é uma atividade que faz parte da nossa rotina, especialmente nas relações empresariais, estando presente em quase todos os processos, sejam eles internos ou externos. No ambiente empresarial, podemos classificar a negociação como um processo de tomada de decisão que acontece a partir do encontro de pessoas, ou grupo de pessoas, que interagem diretamente, ou por meio de intermediários, representantes ou autoridades constituídas. É comum associarmos negociação apenas a processos de compra – quando a organização está adquirindo insumos e equipamentos, por exemplo – ou de venda – quando ela comercializa seus produtos diretamente ao cliente ou junto aos canais de distribuição. Na verdade, ela acontece a todo momento, seja em reuniões para fechamento de prazos, em desenvolvimento de projetos, nas decisões diárias, na contratação de pessoas, em contatos com órgãos públicos, nos contatos com fornecedores, entre outros. Nesta unidade, você vai conhecer um pouco mais sobre as formas de negociação, os estilos dos negociadores e a importância da comunicação no processo negocial. 5Negociação Empresarial 1. A Comunicação no Processo de Negociação O que é necessário para existir uma negociação? A negociação, geralmente, considera a interação entre duas ou mais pessoas, com objetivos comuns ou independentes, que buscam chegar a um ponto de convergência entre os interesses. Sendo assim, a negociação compreende um processo que acontece entre pessoas, sempre quando elas, por si só, não conseguem resolver algum problema ou atender a uma necessidade. Tal processo deve ser composto por pessoas, comunicação e objetivos, sendo influenciado por diversos fatores externos que podem afetar os resultados, de acordo com o momento, urgência e necessidade das partes. Em um momento de escassez de um produto, as empresas que o fabricam passam, momentaneamente, a ter uma vantagem em negociações com seus clientes; na situação inversa, com grande oferta de produtos no mercado, são os clientes que ganham força. Atualmente, são considerados bons negociadores aqueles capazes de alcançar os resultados, sem o uso da força ou artifícios ilegais ou antiéticos. No entanto, ainda é comum encontrarmos pessoas que encaram a negociação como uma disputa, na qual somente um dos lados pode sair vencedor. E você, já presenciou alguma situação parecida? Essa situação é estimulada desde a infância, em que as crianças são treinadas para superar os colegas em disputas por pontos e prêmios, criando a impressão de que o resultado só é alcançado por meio de competições, muitas vezes agressivas. Ao longo desta disciplina, veremos que, como as pessoas são diferentes, algumas características podem se sobressair, mas que todas as pessoas podem se aprimorar na arte de negociar. Um dos elementos fundamentais para isso é a comunicação, presente em toda negociação, podendo ser direta – frente a frente – ou a distância – por meio de internet, telefone, e-mails, mensagens eletrônicas, videoconferências etc. 6 Negociação Empresarial Sarfati (2010) destaca que a comunicação é essencial para uma boa negociação e que, por se dar entre indivíduos, está sujeita a interpretações pessoais, moldadas pelas experiências de cada um dos envolvidos. 1.1 Mas, Afinal, o que é Comunicação? De uma maneira bem objetiva, podemos definir comunicação como um processo de transmissão de mensagens entre pessoas, com um determinado objetivo. A questão é que muitos fatores podem afetar a compreensão do conteúdo. Analise, na Figura 1, o modelo clássico do processo de comunicação: Figura 1: Processo clássico de comunicação. Fonte: Do autor. Com base na figura anterior, podemos observar que o processo se inicia quando um emissor codifica uma mensagem e a envia através de um determinado meio e, do outro lado, o receptor decodifica a mensagem, sendo que, ao longo do processo, podem acontecer ruídos que atrapalham todo o processo. Durante o processo, o emissor espera um retorno do receptor, inicialmente quanto ao recebimento da mensagem e, em seguida, sobre sua compreensão. Em uma negociação, esse processo de comunicação é altamente dinâmico, já que os dois lados se alternam no papel de emissor e receptor durante todo o tempo, podendo o resultado esperado ser inicialmente divergente. Bons negociadores se preparam para buscar sempre um ponto de convergência que facilite ou acelere o fechamento da negociação. Emissor Codificação Mensagem Meio Ruído Decodificação Receptor Feedback Resposta Importante 7Negociação Empresarial Para a comunicação ser eficaz, é fundamental que os dois lados tenham compreensão dos significados dos termos utilizados nas mensagens. Uma carta escrita em mandarim pode parecer bastante clara para quem a escreve, mas totalmente incompreensível para um brasileiro que seja fluente somente na língua portuguesa. Mesmo que os códigos pareçam claros, existe, ainda, o fator interpretação. Uma palestra de um brasileiro, falando em português, pode ser interpretada de diferentes formas por diversas pessoas que a assistiram ao mesmo tempo, por exemplo. Vários fatores podem afetar essa percepção, como o estadode espírito de cada um dos presentes, o domínio dos temas tratados, a linguagem corporal do palestrante, a personalidade que pode intimidar ou cativar, o carisma, a situação econômica, eventuais problemas acontecidos na organização do evento antes da palestra, eventuais problemas acontecidos fora do evento – como um engarrafamento, por exemplo, entre outros. Outro problema que pode ocorrer no processo está relacionado aos meios ou canais utilizados, que são responsáveis por transmitir a mensagem, como e-mails, telefone, sites, impressos, voz, entre outros. Um exemplo bem simples de escolha inadequada ocorreu quando uma empresa, especializada na terceirização de mão de obra, resolveu fazer uma ação especial junto a seus colaboradores e escolheu como principal canal de informação sua intranet (rede interna de serviços e informações), pois esta oferecia recursos para a melhor compreensão da mensagem, com textos, hiperlinks, vídeos e canal de esclarecimento de dúvidas. O principal problema em relação à escolha foi que 90% dos colaboradores da empresa atuam alocados nos clientes e sem acesso à intranet, ou seja, praticamente quem teve acesso à mensagem foram os funcionários administrativos, que não eram o foco principal da ação. Esse é um exemplo clássico de comunicação ineficaz. 1.2 Alcançando a Eficácia na Comunicação Diante de tantos possíveis problemas, alcançar o resultado em um processo de comunicação é um desafio, principalmente em uma negociação. Então, como é possível alcançar uma comunicação realmente eficaz? 8 Negociação Empresarial Um dos pontos mais importantes é permitir e, principalmente, promover a interação entre as partes, já que a troca constante estimula a participação das partes e ainda ajuda a eliminar ruídos na compreensão das mensagens trocadas. A interação, em geral, promove a simpatia entre as partes, permite alcançar bons níveis de empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) e pode gerar confiança entre as pessoas envolvidas, permitindo, assim, um aprendizado muito valioso, principalmente em negociações complexas. A interação torna-se ainda mais eficiente se incorporar a cooperação ativa entre as partes. Quando um receptor percebe um legítimo interesse do emissor em cooperar durante a troca de mensagens, ele tende a se abrir mais, possibilitando o surgimento de uma relação de confiança entre as partes. É importante destacar que, para que haja cooperação de fato, é necessário considerar a flexibilidade na comunicação, uma participação igualitária nas interações entre as partes e uma clara definição dos valores e crenças que sejam comuns. Finalmente, é importante que o emissor esteja preparado para o retorno em relação a sua mensagem. Uma atitude aberta e cooperativa facilita a clareza do feedback, que pode enriquecer o processo e ainda permitir o aprimoramento da comunicação para uso futuro. Por exemplo, um cliente que utiliza um canal de atendimento para fazer uma reclamação pode se transformar em uma excelente fonte de informações sobre deficiências, não só no produto ou atendimento, mas na comunicação da empresa, assim como relatórios gerados pelas equipes de vendas, com informações colhidas junto a clientes potenciais, podem ajudar na elaboração de materiais de vendas mais eficientes. O maior desafio da comunicação eficaz é a capacidade de absorver positivamente críticas e melhorar continuamente o processo, por meio de uma contínua cooperação e colaboração entre as partes envolvidas no processo. Assista ao vídeo que explica, de uma maneira simples, o processo de comunicação e a influência da comunicação não verbal na interpretação da mensagem, apresentando alguns exemplos de ruídos. Saiba Mais Assista agora 9Negociação Empresarial https://www.youtube.com/watch?v=_C3AmzKpJbQ 1.3 Comunicação Verbal e não Verbal A comunicação pode se dar de duas formas: verbal e não verbal, em que o corpo se torna agente no processo. No caso da comunicação verbal, ela pode ser oral, formada pela voz (e timbre) e pelas palavras e expressões que utilizamos. A escolha das palavras adequadas é fator-chave para se conseguir o resultado esperado, já que existe a questão da interpretação, que pode ser influenciada por diversos fatores, inclusive pela comunicação não verbal, que veremos mais adiante. A forma verbal escrita compreende as diversas formas impressas, com o objetivo de levar a mensagem ao receptor. Como, nesse caso, não existe a interação direta e imediata entre o emissor e o receptor, o risco de problemas é ainda maior, envolvendo tanto as palavras e expressões escolhidas, quanto os meios utilizados, que podem ser cartas, e-mails, relatórios, atas, comunicados oficiais, folhetos publicitários, revistas, jornais, periódicos, house organs (veículos de comunicação interna dentro das organizações), internet, intranets etc. Você já deve ter visto algum tipo de comunicação escrita que dava abertura para diversas interpretações. Mas por quê isso? A comunicação escrita é considerada “fria” e distante e pode agravar a compreensão da mensagem. Não é raro uma organização ter problemas depois de produzir comunicados criados com determinado objetivo, mas que foram mal-interpretados pelos destinatários. Além disso, a comunicação escrita exige maior cuidado, pois erros de grafia e no uso da língua culta podem gerar críticas de quem tem a intenção de prejudicar o emissor. Agora, no caso da comunicação não verbal, a expressão corporal dos agentes (tanto do emissor, quanto do receptor) gera grande impacto nos resultados finais. Atitudes de dispersão do receptor podem causar uma impressão de desinteresse, ao mesmo tempo que uma atitude prepotente do emissor pode criar uma barreira a uma possível cooperação entre as partes. É importante perceber que a linguagem corporal pode ser decisiva para o bom andamento da comunicação e que pode revelar mais do que a linguagem verbal. Tajra (2014) destaca algumas posturas consideradas 10 Negociação Empresarial clássicas: tórax encolhido pode indicar timidez, já o tórax elevado pode passar a impressão de vaidade; um sorriso franco e braços pousados levemente junto ao corpo ou sobre a mesa podem representar abertura para o diálogo, já expressões sérias e braços cruzados podem criar uma barreira entre as partes, sugerindo desinteresse; manter a cabeça erguida pode indicar que a pessoa se sente superior e, por outro lado, a cabeça baixa pode indicar que a pessoa está mais sujeita à influência da outra parte. As expressões faciais também passam mensagens importantes: expressões alegres facilitam a interação; expressões sérias ou raivosas demonstram descontentamento; expressões pensativas podem representar curiosidade sobre o assunto ou, ainda, foco em outros pensamentos (dispersão). Exercite sua capacidade de avaliação de expressões, analisando a Figura 2. Interprete o que cada foto representa. Figura 2: Como a expressão facial pode transmitir emoções. Fonte: Dreamstime. Lembre-se de que, na negociação, é importante uma boa leitura das comunicações verbais e não verbais. Bons profissionais da área conseguem administrar bem sua voz, expressões, linguagem corporal e postura, de forma que a comunicação contribua de maneira eficiente com o processo e não se torne um problema. Além disso, tais profissionais devem estar preparados 11Negociação Empresarial para contornar problemas identificados em relação a outra parte, de forma a minimizar os danos em relação ao resultado esperado. 1.4 A Comunicação na Era do Conhecimento Houve um tempo em que grande parte das comunicações era feita de forma unidirecional, ou seja, somente na direção do emissor ao receptor, como no caso da televisão e do rádio. Hoje, você já deve ter notado, que, na era do conhecimento, por imposição, principalmente da tecnologia disponível, é permitida uma interação instantânea entre as partes, principalmente a partir do surgimento da internet e,mais recentemente, da disponibilização da banda larga a preços acessíveis em grande parte do planeta. Essa realidade vem provocando mudanças profundas na sociedade e gerando muito problemas, principalmente nos processos de negociação entre empresas e clientes, já que qualquer deslize pode tomar dimensões jamais experimentadas anteriormente. Assim, um cliente que movimenta poucos reais em um determinado banco pode causar algum dano se divulgar algum prejuízo que tenha sofrido, nas redes sociais, alcançando rapidamente alguns milhares de pessoas. Os emissores de alguma mensagem estão sujeitos, hoje, a interpretações mais perigosas e aos chamados “patrulhamentos ideológicos” ou “politicamente corretos”. Uma pessoa pode ser acusada de preconceito pelo uso indevido de uma imagem; uma empresa pode ser acusada de apoiar determinado governo corrupto por conta de uma mensagem mal-interpretada; um executivo pode ter que responder, nas redes sociais, por ter participado de uma festa que tenha sido considerada ligada a uma determinada causa contrária aos valores pregados pela organização da qual participa. Note que existe um patrulhamento indireto muito grande em relação ao que comunicamos. Como, na maioria dos casos, a interação não é mais opcional e as pessoas e organizações estão mais expostas a interpretações equivocadas de suas mensagens verbais ou não verbais, intencionais ou não, surge, então, a necessidade de maior cuidado – sem prejudicar a velocidade exigida nos novos tempos – com o conteúdo, os meios e uma compreensão de todos 12 Negociação Empresarial os possíveis envolvidos na comunicação, hoje conhecidos como Stakeholders (partes interessadas – como clientes, funcionários, parceiros, fornecedores, governos, imprensa etc.). E fique atento! Nos processos de negociação, o cuidado deve ser redobrado, pois as partes prejudicadas podem utilizar materiais da comunicação para solicitar indenizações por eventuais perdas ou prejuízos. 2. Estilos de Negociação O negociador precisa ter uma visão clara sobre o seu estilo e, principalmente, ser capaz de fazer uma leitura dos estilos das outras pessoas envolvidas no processo. Segundo Vanin (2013), algumas características compõem o estilo do negociador e são consideradas fundamentais para o processo de negociação: capacidade de resolver conflitos; comunicação natural; é planejador; negocia por princípios; sabe ouvir a outra parte; é conciliador, flexível e criativo; tem compromisso; é ético e sabe se colocar no lugar do outro. Os estilos dos negociadores podem ser decisivos para o alcance dos resultados e, principalmente, para a solução de conflitos. Muitas são as classificações dos estilos dos negociadores, das mais genéricas – cordiais e inflexíveis/extrovertidos e introvertidos/primários e secundários – ou as mais específicas – em que são levadas em conta questões relacionadas à personalidade, adaptabilidade, tipologia humana, visão sistêmica e papéis interpessoais. 2.1 Classificação pelos Perfis Psicológicos Alguns especialistas apresentaram classificações de estilos com base na teoria de Carl Jung, o conhecido psiquiatra suíço, que focava sua pesquisa nos impulsos que dirigem as ações das pessoas. Observe que a classificação abaixo apresenta quatro estilos primários, sendo os dois primeiros mais característicos dos iniciadores e os dois últimos mais ligados aos reativos dentro de uma negociação: 13Negociação Empresarial ▪ Estilo Restritivo: O negociador acredita que o único resultado aceitável é uma vitória. Neste estilo, parte-se da premissa de que o acordo só é possível quando existe pressão ou as pessoas são forçadas, o que impede a cooperação entre elas; ▪ Estilo Ardiloso: O objetivo seria sobreviver ao processo de negociação e garantir a manutenção do status quo, chegando a qualquer resultado possível. Parte-se do pressuposto que as pessoas não são influenciadas pelas ações dos outros e que, por isso, não vale a pena negociar diretamente – o melhor seria se concentrar em documentos formais, como procedimentos, regulamentos e regras; ▪ Estilo Amigável: Considera-se que, mesmo existindo diferenças, elas sempre podem ser contornadas. Seu principal objetivo é manter um bom relacionamento entre as partes, independentemente do resultado da negociação. Neste estilo, parte-se do pressuposto que os negociadores são simpáticos e cooperativos; ▪ Estilo Confrontador: Os negociadores buscam chegar a um acordo consistente, apesar de estarem sempre questionando e contestando os pontos principais de uma negociação. O objetivo é alcançar o melhor acordo global, de acordo com a situação e circunstâncias. Parte-se do pressuposto que os negociadores combinam características como confiança e controle. Uma outra abordagem, também inspirada na obra de Jung, está relacionada aos tipos psicológicos, classificados como introvertidos – voltados para si mesmos e focados na mudança de si próprios – e extrovertidos – voltados para fora e focados na modificação do ambiente, sendo que ambos podem ser afetados por estímulos internos ou externos. Segundo essa teoria, existiriam quatro tipos de personalidade: ▪ Introvertido afetado por estímulos internos: Aquele que responde mais às posições pessoais e aos estímulos internos; ▪ Introvertido afetado por estímulos externos: Responde mais ao ambiente externo; ▪ Extrovertido afetado por estímulos internos: Age sobre o ambiente externo, a partir de estímulos e posições pessoais; 14 Negociação Empresarial ▪ Extrovertido afetado por estímulos externos: Age com o objetivo de modificar o ambiente, a partir dos estímulos externos. 2.2 Classificação pelos Papéis Gerenciais Segundo Mintzberg (apud MARTINELLI, 2002), um dos maiores especialistas em estratégia e gestão empresarial, existiriam dez papéis a serem desempenhados pelos gestores. Três deles seriam interpessoais (decorrentes do status), outros três seriam informativos (relacionados ao acesso à informação) e quatro deles relacionados ao processo de gestão e tomada de decisão (mais ligados às necessidades de negociação): ▪ Empreendedor: É o papel que o gestor assume ao iniciar os processos de mudança, sempre buscando novas oportunidades e melhorias; ▪ Controlador de distúrbios: É o papel que o gestor assume em situações imprevistas, que fogem da rotina e, por isso, não permitem respostas ou ações planejadas ou programadas; ▪ Alocador de recursos: Quando o gestor define, de forma clara, o que vai ser feito, quando e por quem. Neste papel, ele assume o controle da elaboração de todas as estratégias; ▪ Negociador: Quando o gestor pode assumir dois papéis: um interno, no qual ele atua diretamente junto aos seus subordinados, no sentido de alcançar os resultados esperados, e um externo, no qual o gestor se relaciona com outras organizações e com o ambiente fora da empresa, atuando também como porta-voz e alocador de recursos. 2.3 Classificação com Base na Personalidade Segundo alguns especialistas, a personalidade das pessoas, conjugada com o comportamento, tem influência direta nos estilos de negociação. O negociador teria, então, um estilo próprio e um adaptado, que utilizaria de acordo com a situação de negociação. Segundo a classificação de Gottschalk (apud MARTINELLI, 2002), existem quatro estilos: 15Negociação Empresarial ▪ Duro: O negociador teria como características principais ser agressivo e dominante, buscando sempre atingir os melhores resultados, sem se intimidar com possíveis conflitos; aceitar assumir riscos e ser competitivo. Mas, por outro lado, o negociador também pode não se preocupar nem se interessar pela outra parte; estar sempre voltado para a disputa e necessitar de ser respeitado; ▪ Caloroso: Orientado para as pessoas, geralmente é compreensivo e colaborador, demonstrando interesse e respeito pelos interlocutores. É focado nos interesses comuns e valoriza a interdependência. Além disso, ele costumaapoiar as propostas dos outros e é modesto sobre sua participação. Por outro lado, ele tem dificuldade de dizer não, perde o senso de prioridade sobre os interesses que representa, é muito dependente dos outros e assume, com dificuldades, suas responsabilidades; ▪ Calculista: Orientado para questões, é analítico e reservado, conhecendo bem os detalhes e os fatos. É sistemático e executa muito bem as tarefas, sempre buscando amparo em dados e números, sendo persistente e metódico. Por outro lado, é frio e não sabe lidar com as emoções (próprias e dos outros), prende-se a detalhes, tem dificuldade de ágil na tomada de decisões e espera que os outros aceitem seus argumentos, pois são baseados em dados concretos, sendo inflexível e muitas vezes obsessivo; ▪ Negociador: Orientado para os resultados que se busca. É flexível e ágil em identificar oportunidades; utiliza-se de habilidades sociais, evitando ser ofensivo; utiliza fatos e argumentos que sustentem sua posição; é adaptativo às situações mais diversas e é capaz de utilizar recursos não planejados. Por outro lado, está sempre atrás de um acordo, parte do pressuposto que está tudo em ordem e foge de conflitos, seguindo sempre em frente, não se prendendo a quase nada, mesmo quando se trata de um tema importante. Em todas as abordagens sobre esse tema, os especialistas destacam que é muito difícil mudar totalmente um estilo pessoal (psicológico/comportamental), ainda que seja possível fazer adaptações para situações nas quais se conheça o perfil da outra parte. Para essa Importante 16 Negociação Empresarial adaptação, é de grande importância entender plenamente o contexto da negociação, todos os materiais, documentos e pessoas envolvidos, bem como os objetivos esperados – e, se possível, também os objetivos desejados pela outra parte. 3. Formas de Negociação Toda negociação considera que existem duas ou mais partes com interesses inicialmente diversos, que tendem a convergir para um determinado ponto no fechamento do processo. Assim como os agentes, objetivos e estilos são diferentes a cada negociação, existem diferentes formas de negociar, que podem ser baseadas na lei ou nos interesses. Segundo Brandão, Duzert e Spinola (2010), existem dez formas de negociar. Vamos conhecer cada uma delas a seguir: 3.1 Negociações com Base nas Leis Em negociações com base nas leis, a tomada de decisão é realizada a partir de uma terceira parte, externa ao processo e sem interesse direto. Por exemplo: ▪ Negociação com base na força policial (ou militar): O uso de uma força armada tem sempre um alto custo para o resultado da negociação, podendo agravar o conflito entre as partes. Geralmente, é utilizada quando se considera a impossibilidade de outras alternativas, ou como recurso de autodefesa de uma das partes, ou de ambas, para preservar possíveis situações polêmicas; ▪ Negociação através de juízes: Neste caso, recorre-se à justiça para determinar o resultado final de um conflito, tomando-se como referência a aplicação das leis. A decisão final pode ser alcançada por uma oferta final de conciliação aprovada pelas partes, ou pela definição do juiz, quando não existe acordo. O desafio das partes, nesse modelo, é compreender da melhor forma a estrutura das leis, a fim de montar sua proposta ou defesa, de forma que pareça mais justa. 17Negociação Empresarial 3.2 Negociações com Base em Interesses Em negociações baseadas em interesses, são consideradas as oportunidades de ganhos mútuos entre as partes, para se chegar a um acordo positivo para os dois lados, tendo ou não a participação de terceiros. ▪ Negociação direta: Não existem intermediários, ou seja, as partes negociam diretamente entre elas. É na negociação direta que os estilos relacionados aos traços psicológicos e às personalidades ficam mais evidentes e podem ser melhor identificados por negociadores mais habilidosos. A maior parte das relações comerciais de compra e venda e as negociações internas nas organizações também são desse tipo; ▪ Negociação com múltiplas partes (ou multiparte): Caracterizada pela participação de mais de dois indivíduos em um fórum de discussão, com o objetivo de se chegar a uma tomada de decisão. Geralmente, o objetivo é alcançar um consenso, ou seja, quando todos acreditam que chegaram ao melhor acordo possível para atender às necessidades de cada um e das partes envolvidas. Alguns desafios para se chegar ao consenso são as possíveis coalizões entre partes que se unem para influenciar o todo; o risco de se utilizar uma votação em que a opção da maioria não seja efetivamente a melhor solução para possíveis conflitos e possíveis problemas de comunicação, principalmente os relacionados a interpretações equivocadas de alguns membros. Geralmente, o uso desta forma de negociação dá mais legitimidade aos resultados e decisões, por isso é muito utilizada em situações em que se busca evitar ou diminuir conflitos, como negociações políticas de impacto social, mudanças críticas em regras sindicais e obras complexas com eventuais impactos ambientais; ▪ Negociação informal paralela: Caracterizada pela utilização de representantes (não oficiais) que buscam um acordo, deixando de lado possíveis conflitos e hostilidades que surgiram entre os representantes principais. Seu objetivo é encorajar o processo colaborativo ao identificar indivíduos capazes de contornar situações complexas que poderiam inviabilizar um acordo. Essa forma é muito utilizada, por exemplo, em questões que envolvem 18 Negociação Empresarial conflitos entre países, em que negociações informais acontecem em paralelo ou antes de reuniões oficiais, de forma a resolver questões consideradas críticas e que, se tratadas oficialmente, poderiam gerar um impasse; ▪ Negociação por meio de agentes: Caracteriza-se pelo uso de um agente no processo de negociação, que pode atuar com alguma autonomia ou somente como um intérprete. A utilização de um agente se justifica em muitas situações: quando ele possui um expertise especial ou um conhecimento relevante sobre alguma situação importante no processo; quando tem grande influência sobre pessoas ou organizações relacionadas ao processo de negociação; preservam a imagem do negociador – que, a qualquer momento, pode alegar que o agente tomou uma atitude não autorizada ou contrária às diretrizes passadas. Agentes podem ser empregados de uma empresa, parceiros, empresas terceirizadas ou profissionais independentes, sendo que, no caso das empresas, existe um maior controle quando o agente é um empregado; já nos outros modelos, é necessário um maior alinhamento para evitar problemas, já que o controle é muito reduzido; ▪ Negociação por meio de um facilitador: Caracteriza-se pelo uso de um facilitador, que possui habilidades especiais para gerenciar conflitos. Um facilitador não tem poder de decisão, e o seu papel é ajudar as partes a resolverem eventuais hostilidades ou impasses durante a negociação. Geralmente, eles são responsáveis por toda a organização dos encontros, arrumando agendas, materiais e ambientes onde acontecerão as reuniões entre as partes. Deve-se promover um clima colaborativo, preparando-se antes, mapeando os interesses das partes envolvidas, identificando os perfis dos participantes e organizando e conduzindo todo o processo de negociação; ▪ Negociação por meio de um mediador: Caracteriza-se pelo uso de um mediador designado por uma autoridade ou escolhido voluntariamente pelas partes. Seu papel é ajudar as partes a chegarem a um acordo. Ele não tem poder nem papel direto na tomada de decisão, mas pode contribuir na melhoria das propostas envolvidas no processo de negociação, persuadindo os negociadores a aceitarem as melhores alternativas. Geralmente, o mediador tem autorização para promover perícias, auditorias e pesquisas que julgue necessárias para a melhor condução do processo, mas não sugere uma solução, deixando para osagentes esse papel. Negociações comerciais, impasses internacionais, questões relacionadas a comunidades e instituições de ensino são situações em que se costuma recorrer à mediação na busca de soluções para impasses; ▪ Negociação por meio de meta-mediação: Caracteriza-se pela definição de pessoa ou instituição que cria os referenciais que serão utilizados na negociação. Os meta-mediadores, também chamados de mediadores de segunda ordem, assumem papel relevante no processo, já que criam os referenciais que são base da negociação. Eles podem ter o poder de fazer recomendações ou atuar diretamente nos conflitos. A principal diferença entre mediadores e meta-mediadores é que os primeiros são envolvidos em situações mais específicas e definidas pelas partes envolvidas no momento da negociação; já os outros criam regras e parâmetros, que podem ser utilizados a qualquer momento por qualquer negociador. É o caso de algumas federações e conselhos de autorregulamentação, que atuam como juízes para a proposição de um acordo, que pode não ser aceito, tendo a justiça como recurso; ▪ Negociação por meio de um árbitro: Caracteriza-se pela escolha entre as partes de um árbitro que terá poder de decisão no processo de negociação. O árbitro tem o papel de estabelecer as principais regras que vão nortear todo o processo e as possíveis decisões. Essa forma oferece algumas vantagens, como: redução de prazos para uma decisão final; redução de custos (pela agilização do processo); e favorecimento de um relacionamento contínuo, quando o modelo se torna eficiente para os dois lados. A negociação arbitral gera decisões que podem ser de cumprimento obrigatório, mediante contratos e outros documentos, mas não tem força de lei. Leia o artigo Morfologia da negociação e aprofunde seu conhecimento sobre as formas de negociação. Saiba Mais Assista agora 20 Negociação Empresarial http://www.cos.ufrj.br/uploadfile/1152208057.pdf Síntese Nesta unidade de aprendizagem, pudemos compreender a importância do processo de comunicação para uma negociação eficaz, na qual o emissor e receptor devem usar códigos e meios que sejam compreensíveis, possibilitando uma interação entre as partes envolvidas. Além da comunicação, conhecemos algumas classificações de estilos dos negociadores, algumas focadas em características psicológicas, outras em questões comportamentais, e mais algumas relacionadas aos papéis gerenciais, voltadas para o mundo empresarial. Por fim, tivemos contato com as formas de negociação, sendo algumas amparadas em leis e outras em interesses, podendo ser diretas – quando feitas entre as partes, sem participação de outros – ou indiretas – por meio de agentes, representantes ou mediadores. Dominar os conceitos de comunicação, entender os estilos das partes envolvidas e a forma como será conduzida a negociação são elementos essenciais para um bom resultado ao final do processo, de preferência que atenda às necessidades de todos os envolvidos. 21Negociação Empresarial Referências Bibliográficas BRANDÃO, Adalberto; DUZERT, Yann; SPINOLA, Ana Tereza. Negociação: negociações empresariais. São Paulo: Saraiva, 2010. DANIELA RAMOS. Processo de comunicação. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=_C3AmzKpJbQ. Acesso em: 17 jan. 2018. DUZERT, Yann; PAULA, Melise M. V.; SOUZA, Jano M. de. Morfologia da negociação. Disponível em: www.cos.ufrj.br/uploadfile/1152208057.pdf. Acesso em: 17 jan. 2018. FERREIRA, Gonzaga. Negociação: como usar a inteligência e a racionalidade. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2013. MARTINELLI, Dante P. Negociação empresarial: enfoque sistêmico e visão estratégica. Barueri: Manole, 2002. SARFATI, Gilberto (org.). Manual de negociação. São Paulo: Saraiva, 2010. TAJRA, Sanmya Feitosa. Comunicação e negociação: conceitos e práticas organizacionais. São Paulo: Érica, 2014. VANIN, Jorge Alexandre. Processo de negociação. Curitiba: Intersaberes, 2013. ZENARO, Marcelo. Técnicas de negociação: como melhorar seu desempenho pessoal e profissional nos negócios. São Paulo: Atlas, 2014. 22 Negociação Empresarial Introdução ao Processo de Negociação Objetivos Introdução 1. A Comunicação no Processo de Negociação 1.1 Mas, Afinal, o que é Comunicação? 1.2 Alcançando a Eficácia na Comunicação 1.3 Comunicação Verbal e não Verbal 1.4 A Comunicação na Era do Conhecimento 2. Estilos de Negociação 2.1 Classificação pelos Perfis Psicológicos 2.2 Classificação pelos Papéis Gerenciais 2.3 Classificação com Base na Personalidade 3. Formas de Negociação 3.1 Negociações com Base nas Leis 3.2 Negociações com Base em Interesses Síntese Referências Bibliográficas Introdução aos Escritos do Antigo Testamento (Tanak)e às suas Teologias Objetivos Introdução 1. Os Problemas do Antigo Testamento 1.1 Há Conflitos entre o Texto Bíblico e a Ciência? 1.2 Há Conflitos entre o Texto Bíblico e Questões de Ordem Moral? 2. Os Valores do Antigo Testamento 3. A Pluralidade Teológica do Antigo Testamento 4. As Intenções Teológicas dos Textos do Antigo Testamento Síntese Leitura Complementar Referências Bibliográficas Etapas do Processo de Negociação Objetivo Introdução 1. Preparação e Criação de Valor 1.1 A Preparação 1.2 A Criação de Valor 2. Distribuição de Valor 3. Implementação e Monitoramento 3.1 Após o Fechamento 3.2 Avaliação dos Resultados de uma Negociação Síntese Referências Bibliográficas Introdução ao Processo de Negociação Objetivos Introdução 1. A Comunicação no Processo de Negociação 1.1 Mas, Afinal, o que é Comunicação? 1.2 Alcançando a Eficácia na Comunicação 1.3 Comunicação Verbal e não Verbal 1.4 A Comunicação na Era do Conhecimento 2. Estilos de Negociação 2.1 Classificação pelos Perfis Psicológicos 2.2 Classificação pelos Papéis Gerenciais 2.3 Classificação com Base na Personalidade 3. Formas de Negociação 3.1 Negociações com Base nas Leis 3.2 Negociações com Base em Interesses Síntese Referências Bibliográficas
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