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APS SEGURADORA MARCO ANTONIO (1)

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Análise do caso: Defesa de Marco Antonio João contra seguradora Felicidade Total.
Advogados: Diana da Silva Lemos C2199F6, Ivonete Ribeiro dos Santos C251526, Jéssica Lima dos Santos C176JG7, Laudijany Dourado de Carvalho Muniz C375870, Mônica Nayara Pereira Costa C242284 e Stefany Guilherme dos Santos Bernardineli T736331.
 Atividade Prática Supervisionada (APS)
1. Da análise do caso concreto de Marco Antônio João
Marco Antônio João é proprietário de um veículo para uso próprio e, contratou seguro junto à Seguradora Felicidade Total para se prevenir de danos decorrentes de furto, roubo, colisão e incêndio. Acontece que Marco Antônio perdeu o emprego e não conseguiu se recolocar no mercado de trabalho. Preocupado com o sustento da família ele começou a trabalhar como UBER, utilizando seu veículo para essa finalidade. Na segunda semana de trabalho Marco Antônio sofreu um grave acidente de trânsito que resultou na perda total do veículo. A seguradora foi notificada do acidente, realizou os trabalhos de regulação do sinistro e concluiu que não poderia haver pagamento de indenização pela perda total do veículo, uma vez que o segurado estava utilizando o automóvel para destinação diversa daquela declarada no momento da contratação do seguro; 
É o relato.
1. 2 - Do contrato de seguro:
 	As informações prestadas pelo segurado para avaliação de perfil e o dever de indenizar da seguradora, abordada de forma sucinta a responsabilidade das seguradoras quanto ao pagamento de indenizações, ainda que constatadas divergências entre os fatos que envolvem o sinistro e as informações relacionadas ao perfil declarado pelos segurados.
Mencionam-se algumas situações – as mais comuns – apresentaremos posições jurisprudenciais evidenciando que às companhias de seguro cabe uma análise mais flexível dos questionários dos segurados.
Conforme dispõe o artigo 757 do Código Civil, pelo contrato de seguro:
Art. 757 - O segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Este tipo de contrato, como qualquer outro, tal como será exposto adiante, deve ter por fundamentos a probidade e a boa-fé.
Considerando que o contrato de seguro leva em conta “riscos predeterminados”, ao segurado incumbe o dever de, em momento pré-contratual, prestar todas as informações solicitadas pela seguradora. É nesse momento da negociação que as seguradoras geralmente apresentam questionários a serem respondidos pelo futuro cliente; é o que se tem chamado de “cláusula de perfil”.
Ocorre que, em sentido oposto ao da boa-fé, muitas seguradoras têm interpretado o perfil do segurado de modo extremo, buscando alternativas para justificarem, quase que em todos os casos, a negativa de indenização em razão de “agravamento de riscos”.
Esse tipo de conduta das companhias de seguro não passou despercebida pelo Poder Judiciário, e já foi ressaltada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Não há que se considerar a chamada “cláusula de perfil” (grifo nosso) uma “cláusula de não indenização” (grifo nosso). Da mesma forma que na fase pré-contratual exige-se do segurado o dever de probidade e boa-fé no que se refere à veracidade de suas informações, o mesmo dever incumbe às seguradoras na vigência do contrato, não sendo admissível interpretarem o respectivo perfil como excludentes do dever de indenizar, quase que retirando do contrato de seguro, sua natureza de contrato de risco. 
Vale lembrar que considerados os conceitos de fornecedor, consumidor, serviço e produto, à relação entre segurado e seguradora aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, e, consequentemente, o respectivo contrato deve ser interpretado em favor do segurado.
Cabe ao magistrado, analisando todas as questões e provas constantes do respectivo processo, avaliar se, de fato, houve ou não “agravamento de riscos” e se presente a má-fé do segurado.
Das declarações feitas pelos segurados para proposta de seguro, pelos artigos 422 e 765 do Código Civil Brasileiro, tanto na conclusão quanto na execução do contrato, as partes devem observar os princípios de probidade e boa-fé:
“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”
 “Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.”
Devendo agir com probidade e boa-fé, quando da solicitação de proposta de seguro, o interessado deverá fornecer todas as informações solicitadas pela seguradora, que deverão, por óbvio, estar de acordo com a realidade. Não se admite nenhum tipo de má-fé com a ocultação ou distorção da realidade para fins de obter vantagem indevida, com o cálculo de um prêmio de menor valor. Nesse sentido, vale conferir o artigo 766 do Código Civil Brasileiro:
“Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.”
O artigo 769, por sua vez, é expresso ao dispor que o considerável agravamento de riscos associado à má-fé do segurado é o que acarreta a perda do direito à indenização securitária. In verbis:
“Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.”
Dito de outra forma, ainda que ocorra o sinistro e os fatos demonstrem que tal evento não se deu exatamente dentro da “cláusula de perfil”, eventual agravamento de riscos só terá o condão de afastar o dever de indenizar da seguradora se esta comprovar a má-fé do segurado.
O que também se denota da leitura dos dispositivos legais anteriormente citados é a incidência do princípio venire contra factum proprium, ou seja, considerada sua conduta anterior, uma pessoa não pode contrariá-la ao exercer um direito próprio, pois tem o dever de manter a confiança e a lealdade que decorrem da boa-fé objetiva iniciada já na fase pré-contratual.
Algumas situações de sinistro e inexatidão da “cláusula de perfil”, como visto anteriormente, ao segurado cabe prestar as verídicas informações solicitadas pela seguradora para avaliação de riscos e fixação do valor de prêmio.
Dentre os vários aspectos abordados na avaliação de perfil e riscos, as seguradoras dificilmente deixam de questionar se o veículo, durante determinados períodos e em variadas situações, fica estacionado em vias públicas ou em garagem.
As companhias de seguro entendem que no caso de o segurado declarar que seu veículo fica estacionado em vias públicas há uma exposição maior a riscos do se o veículo fosse guardado em garagem. Isto, certamente, implica alteração de cálculos e majoração dos valores de prêmio.
De fato, apenas para exemplificar, o segurado que declara que seu veículo permanece estacionado na rua todas as noites por não ter garagem própria, tem o bem exposto a um risco maior do que aquele outro que, possuindo garagem, deixa seu veículo nela estacionado durante toda a noite, e, portanto, mais protegido.
Ocorre que na maioria das vezes em que há o furto de um veículo estacionado em via pública, a seguradora se apega a uma interpretação exagerada do questionário respondido pelo segurado, buscando alguma forma de justificar a negativa de indenização. Nessa hipótese, o que se observa é a má-fé da companhia de seguros que, tentando se esquivar da obrigação de indenizar, viola os princípios de probidade e boa-fé que devem nortear as relações – arts. 422 e 765 do código civil, anteriormenteexplanados.
Inúmeras são as situações em que o segurado, quando das declarações relativas ao seu perfil, informa que em sua residência ou local de trabalho há garagem na qual o carro fica estacionado. Em razão dessas informações, caso ocorra o furto de seu veículo nessa localidade, porém enquanto estava estacionado em via pública, provavelmente a seguradora negará a cobertura, sob o argumento de que o automóvel deveria estar guardado na garagem.
Este tipo de situação exige uma análise mais atenta de todos os pontos que dizem respeito ao tipo episódio em debate.
Se o segurado declara falsamente que possui garagem em sua casa, mas por não ser verdade mantém seu veículo estacionado na rua, tem-se caracterizada sua má-fé quando de suas informações pré-contratuais para preenchimento de seu perfil e avaliação de riscos. Certamente, suas declarações inverídicas lhe garantirão uma vantagem indevida, na medida em que o valor do prêmio estará abaixo daquele que seria devido se a seguradora fosse informada corretamente sobre a inexistência da garagem.
2 - Da sustentação para negativa da seguradora:
Tem havido em larga escala a adesão à aplicativos de transporte de passageiros, como o Uber, por exemplo, também é uma informação que deve ser repassada para as seguradoras. O segurado vem, por vez, omitindo informações pertinentes a utilização do automóvel para essa finalidade com o objetivo de se esquivar do reajuste que tal alteração acarreta, em omitindo essas informações a seguradora se desobriga do pagamento da indenização em caso de sinistro. 
Mormente, se posicionou, o vice-presidente Social e de Benefícios do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor-GO), o corretor de seguros Deivid Pereira explica que transformar o veículo de uso particular em transporte de passageiros aumenta o valor da apólice em cerca de 20%. “Nesses casos o motorista não tem um trajeto definido. Ele circula mais, em diversas regiões e fica mais exposto aos riscos, já que o trabalho dele é no trânsito. Os motoristas de táxi, por exemplo, pagam uma taxa maior por conta desse risco. O Uber entra na mesma categoria”.
O artigo 769, por sua vez, é expresso ao dispor que o considerável agravamento de riscos associado à má-fé do segurado é o que acarreta a perda do direito à indenização securitária. Conforme dispositivo:
“Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.”
Para corroborar a transcrição do artigo no sentido de assistir razão à seguradora em negar a indenização em caso de omissão de informação no momento do preenchimento de questionário para análise de perfil, destaca-se julgado nesse sentido:
TJ-SP - Apelação APL 01571107320118260100 SP 0157110-73.2011.8.26.0100 (TJ-SP)
Data de publicação: 28/05/2015
Ementa: "SEGURO DE VEÍCULO - CLÁUSULA DE PERFIL - NEGATIVA DE COBERTURA - INFORMAÇÕES INVERÍDICAS PRESTADAS PELA SEGURADA QUANDO DA ASSINATURA DA PROPOSTA – SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO. Mostra-se legítima a recusa da seguradora ao pagamento da indenização se a segurada atuou de forma insincera e desleal para se beneficiar de condições contratuais mais vantajosas".
Neste caso, entendemos que a seguradora terá argumentos para justificar a negativa de indenização, conforme decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo sobre o assunto, in verbis:
TJ-SP - Apelação APL 10133617920148260001 SP 1013361-79.2014.8.26.0001 (TJ-SP)
Data de publicação: 27/03/2015
Ementa: Seguro de dano. Regime de perfil. Furto de automóvel estacionado em via pública durante o período de trabalho. Segurada que ao contratar o seguro declarou manter o veiculo em estacionamento fechado ou garagem. Assertiva que não correspondia à realidade. Indenização indevida. Apelação provida.
Restando consignado na proposta que o demandante possuía garagem na empresa, quando, na realidade, o veículo era deixado estacionado na via pública, tem-se a alteração do perfil, circunstância que influi na fixação da taxa do prêmio, perdendo o autor direito ao valor do seguro, nos termos dos artigos por agravamento de risco.
 
Artigo 768 do Código Civil “O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.”
Destarte, é a situação em que a seguradora, de forma cabal, comprova que o segurado agiu de má-fé quando de suas declarações pré-contratuais, com o objetivo explícito de obter alguma vantagem, como é o caso de diminuição do valor do prêmio.
É recorrente situações que geram grande quantidade de demandas judiciais referente à negativa de indenização por sinistro ocorrido por imprudência e imperícia do segurado, que alteram informações com o fim de lograr beneficio referente ao valor do premio.
Assim, com a intenção de obter um valor de prêmio inferior o segurado falta com a verdade, agindo com comprovada má-fé e acarretando o considerável agravamento dos riscos, a indenização não será devida.
Na utilização do sistema UBER de transportes, o trajeto é extenso e imprevisível o que demanda agravamento de riscos e a consequente aceitação desse evento, o que exime de responsabilidade a seguradora, visto que não possui conhecimento dessa informação necessária, pois a negligência, imprudência e imperícia são elementos caracterizadores da culpa, fica então evidenciado que o segurado assumiu o risco do agravamento.
3 – Da defesa de Marco Antônio João
Marco Antônio João é proprietário de um veículo para uso próprio e, contratou seguro junto à Seguradora Felicidade Total para se prevenir de danos decorrentes de furto, roubo, colisão e incêndio, vindo a ocorrer fato alheio à sua vontade -, perda do emprego e não qualificação em mercado de trabalho. 
Fato é que Marco Antônio João possui família e necessita de garantir a sua subsistência e de sua família, em que buscou meios para tal.
Destarte, Marco Antonio João, efetuou contrato de prestação de serviço junto a UBER, após perda do emprego e por estar fora do mercado de trabalho, e, por esta não exigir qualificação tão exagerada.
Diante de fato, passou a utilizar seu veículo para tal finalidade, junto com a oportunidade de solucionar o seu problema e a subsistência de sua família, por completo, afim de dar qualidade que lhe é garantido por nossa Constituição Federal em seu artigo 6, que diz:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Desta feita, Marco Antônio sofreu um grave acidente de trânsito, na segunda semana de trabalho, que resultou na perda total do veículo. A seguradora foi notificada do acidente, realizou os trabalhos de regulação do sinistro e concluiu que não poderia haver pagamento de indenização pela perda total do veículo, uma vez que o segurado estava utilizando o automóvel para destinação diversa daquela declarada no momento da contratação do seguro.
Buscando mostrar e esclarecer que em nenhum momento houve má-fé do segurado, devido à demasiada preocupação em manter a sustentação e/ou subsistência de sua família -, maior patrimônio que esse não há -, e também o único patrimônio que possui materialmente -, seu veículo, não presumiu e nem buscou motivos para que ocorresse tal infortúnio, a fim de causar danos a outrem e nem a si próprio.
Uma das principais dignidade da pessoal humana, é viver em família e por esta ser honrada, visão essa, que todo homem de honra e que vive em família busca -, a subsistência.
Visto isso, não há que se falar em má-fé configurada.
Já dito por Silvio de Salvo Venosa, Maria Helena Diz e outros ilustres doutrinadores, que diz:
Silvio de Salvo Venosa:
“Alimentos, na linguagem jurídica, possuem significado mais amplo do que o sentido comum, compreendendo, além da alimentação, também o que for necessário para a moradia, vestuário, assistênciamédica e instrução”. Os alimentos traduzem-se em prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir essas necessidades e assegurar sua subsistência.
Maria Helena Diniz:
“O fundamento desta obrigação de prestar alimentos é o principio da preservação da dignidade da pessoa humana (CF, artigo 1, III) e o da solidariedade social e familiar (CF, artigo 3), pois vem a ser um dever personalíssimo devido pelo alimentante, em razão de parentesco, vinculo conjugal ou convivencial que o liga ao alimentando...” 
Como dito, por Maria Helena Diniz, na doutrina, em contra-ponto ao conceito de má-fé é:
“Boa-fé é o estado de espirito em que uma pessoa ao praticar ato comisso ou omissivo, está convicta de que haja em conformidade com a lei; proposito de não prejudicar direito alheios; lealdade ou honestidade no comportamento, considerando os interesses alheios, e na celebração e execução dos negócios jurídicos.” 
Conforme enunciado n. 374 da IV Jornada de Direito Civil no STJ, o juiz deve proceder com equilíbrio, atentando às circunstâncias reais, e não a probabilidades infundadas, quanto à agravação dos riscos.
Cabe ressaltar que a Seguradora Felicidade Total, incorrerá em enriquecimento sem causa, visto que, aufere contra-prestação pecuniária do segurado em face da prestação de serviço, que é a cobertura do sinistro, havendo recebido o valor estipulado e a negativa ou escusa da indenização, essa entidade estará incursa nos moldes do enriquecimento ilícito. Esses casos merecem uma atenção do judiciário. Já dito pelo legislador, ao elaborar o Código Civil.
A Constituição federal, prevê a defesa do consumidor como uma de suas cláusulas pétreas, em decorrência dos direitos e garantias fundamentais de todo cidadão. Dando assim relevância a proteção ao consumidor, admitindo ser este a parte mais frágil na relação consumeirista, merecendo por isso proteção constitucional conforme se extrai do artigo 5º, inc. XXXII, da Lei Fundamental. 
 O doutrinador Pedro Ivo Andrade apresenta que:
“Mister se faz, então que o Estado, concedido como Estado de Direito Democrático e Social, passe a tutelar penalmente o consumidor - protegendo o bem jurídico em apreço – a fim de assegurar-lhe, enquanto pessoa, existência digna, segundo os ditames da justiça social, em cumprimento ao mandamento constitucional.”
Neste jaez, não há que se falar em má-fé, logo caberá indenização a Marco Antônio João pela Seguradora Felicidade Total, devido ao fato de não haver demonstrada a intenção de fraudar o seguro contratado.
4 - CONCLUSÃO:
Assim, apenas quando a seguradora, de forma cabal comprovar a má-fé do segurado é que conseguirá afastar o dever de indenizar, haja vista que a boa-fé do consumidor é presumida. 
Situações que podem eximir de responsabilidade em indenizar o segurado pela seguradora, caso de omissão ou distorção de informações necessárias. 
Outra circunstância sempre presente nos questionários de perfil das companhias de seguro refere-se à utilização, ou não, do veículo para exercício profissional. Geralmente a pergunta procura saber se o segurado utiliza o carro para visitar clientes um determinado número de vezes por semana.
O intuito desse tipo de pergunta é o de que, caso ocorra um sinistro durante o uso do veículo para trabalho, a seguradora ter mais uma opção para tentar escapar do dever de indenizar. Nota-se, como bem já observou o poder judiciário, que estamos diante de uma exagerada forma de utilização da cláusula de perfil de modo a interpretá-la como cláusula de não indenização, deturpando quase que completamente a natureza de risco do contrato de seguro.
Cláusulas de perfil não são cláusulas de não indenizar. No caso de sinistro, ainda que suas circunstâncias não estejam em total harmonia com o perfil do segurado, se ausente a má-fé deste, a seguradora tem o dever de indenizar.
	O contrato de seguro é de risco, não sendo lícito às seguradoras exagerarem na interpretação do perfil do segurado para justificarem a negativa de indenização. Do contrário, chegar-se-ia ao ponto em que o abuso de muitas companhias de seguro na interpretação do perfil do segurado praticamente inviabilizará o uso dos veículos, resultando num contrato de seguro em quase que não há riscos para a seguradora. Ademais, limitações extremas chegam até mesmo a afetar o direito de ir e vir, vez que muitas limitam até mesmo a distância para utilização de veículo.
A negativa de cobertura, pelo simples fato de o evento não estar em total harmonia com o que foi declarado pelo segurado no preenchimento de seu perfil, deve ser avaliada com cuidado pelas seguradoras, sob o risco de, além da indenização, ser responsabilizada civilmente por outros danos, tanto morais como materiais.
 Ao firmarem a contratação de seguros, segurado e seguradora devem agir com total transparência e prudência, sob pena de responder pelos danos que derem causa. Conforme preceitua o artigo 765 do código civil brasileiro, que diz:
				“ O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa fé e veracidade, tanto a respeito do objeto quanto das circunstâncias e declarações a ele concernentes.”
Conforme entendimento do Tribunal do Rio Grande do Sul, merece guarida a alegada pretensão de Marco Antônio João.
TJ-RS - Recurso Cível 71004662789 RS (TJ-RS)
Data de publicação: 29/09/2014
Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VEÍCULO. REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. NEGATIVA DE COBERTURA, MOTIVADA POR QUEBRA DE PERFIL DO SEGURADO. DANO MORAL INOCORRENTE. MERO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. Trata-se de ação de cobrança referente ao pagamento de seguro de veículo, negado por suspeita de quebra de perfil. Insurge-se a ré contra a sentença que julgou parcialmente procedente o pedido, condenando-a ao pagamento de indenização no valor de R$ 6.320,44, com o abatimento da franquia, bem como, a título de danos morais, no valor de R$ 5.000,00. Merece provimento o recurso do réu no sentido de afastar os danos morais, pois inocorrentes no caso concreto. Trata-se de descumprimento contratual, situação que não ultrapassa o que se entende como mero dissabor do cotidiano e, portanto, não atinge o patrimônio moral da pessoa. RECURSO PROVIDO (Recurso Cível Nº 71004662789, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Cintia Dossin Bigolin, Julgado em 24/09/2014)
4 - BIBLIOGRAFIA:
In:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=QUEBRA+DE+PERFIL+DO+SEGURADO
in: https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=CL%C3%81USULA+PERFIL+(SEGURO+PERFIL)
in:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=NEGATIVA+DE+COBERTURA+POR+QUEBRA+DE+PERFIL
in: www.jusbrasil.com.br 
in:
http://carlosrossi.adv.br/ementarios/perfil-do-segurado-clausula-de-perfil-inexatidao-das-informacoes-prestadas-pelo-segurado-ocorrencia-de-sinistro-e-o-dever-de-indenizar-das-seguradoras/
in:
https://www.fenacor.org.br/noticias/uber-veja-quando-seguradora-pode-negar-indeni 
in:
 www.conteudojuridico.com.br
in:
 www.conjur.com.br 
Código civil Brasileiro
Código do Consumidor
Constituição Federal

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