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Julia Ribeiro Prata Medicina IX de Julho Conduta em casos de intoxicações exógenas Emergência médica caracterizada por distúrbios funcionais do organismo causados pela interação com substâncias tóxicas de quaisquer naturezas As intoxicações agudas representam de 150 a 400 casos por 100 mil anualmente nas emergências e se apresentam dentro de um amplo espectro de etiologias: tentativas de suicídio, abuso de drogas, exposição ocupacional, até as ingestões e exposições acidentais Agentes tóxicos Substância química capaz de causar dano ao sistema biológico, alterando uma ou mais funções, podendo provocar a morte De modo geral, a intensidade da ação do agente tóxico será proporcional a concentração e ao tempo de exposição Intoxicações exógenas no pronto socorro A maioria dos pacientes são adultos com overdose intencional por drogas orais Outros cenários clínicos comuns incluem a intoxicação acidental em crianças, que representam a maioria das chamadas para os centros regionais de controle de intoxicação Drogas de abuso ilícitas: intoxicação crônica a partir de agentes farmacêuticos em doses supraterapêuticas; exposições químicas ambientas, industriais e agrícolas; interações medicamentosas Muitas vezes, o paciente intoxicado pode estar alterado ou torporoso, ou ainda não cooperativo. Isso limita a história ao que pode ser obtido a partir de testemunhas, como socorristas ou familiares, e a informação gerada pelo exame físico se restringe às funções sobre as quais o paciente não possui controle consciente Informações em relação a quais medicamentos ou substâncias estavam disponíveis para o paciente e a hora da ingestão também são importantes – Atendimento Pré Hospitalar APH Fases da intoxicação A compreensão destas fases (4) permite definir melhor as abordagens do ponto de vista da vigilância da saúde das populações expostas e intoxicadas por substâncias químicas Vias de intoxicação Ingestão -> deglutição de substâncias químicas, acidental ou intencionalmente Inalação -> aerossóis, pós, fumaças e gases Absorção -> contato direto da pele com certas substâncias Injeção -> inoculada no organismo humano através de peçonhas ou seringas ➢ Corresponde ao contato do agente toxico com o organismo É importante considerar a via de incorporação do agente tóxico, a dose ou concentração dele, suas propriedades físico-químicas, bem como o tempo no qual se deu a exposição A suscetibilidade da população exposta é também fator importante a ser considerado ➢ Período de “movimentação” do agente tóxico no organismo Destacam-se os processos de absorção, armazenamento, biotransformação e eliminação do agente tóxico ou de seus metabolitos pelo organismo As propriedades físico-químicas determinam o grau de acesso aos órgãos alvo, assim como a velocidade de eliminação do organismo. Portanto, a toxicinética também condiciona a biodisponibilidade ➢ Interação entre as moléculas das substâncias químicas e os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos, podendo provocar desde leves distúrbios até mesmo a morte Períodos da intoxicação ➢ Quando ainda não existem manifestações clínicas, mas existe história de contato direto ou indireto com as substâncias químicas A definição das ações de saúde dependerá das características da substância e da exposição ➢ Os sinais e sintomas, quadros clínicos e síndromes são evidentes e determinarão as ações de saúde a serem adotadas Pelo grande número de substâncias químicas existentes e considerando que muitas vezes a exposição é múltipla, a sintomatologia é inespecífica, principalmente na exposição de longo prazo Tipos de exposição As intoxicações podem ser agudas ou crônicas e poderão se manifestar de forma leve, moderada ou grave Abordagem no pronto socorro ➢ ABCDE da avaliação primaria do ATLS -> Airway, Breathing, Circulation, Disability e Exposition Exame físico completo (pesquisar vias de introdução de agentes tóxicos) com aferição de todos os sinais vitais ➢ Avaliar a integridade da via aérea e procurar por sinais de depressão respiratória Em alguns casos, a via aérea avançada pode ser necessária para proteção (como em pacientes comatosos ou com exposição da via aérea a agente químico) ou tratamento Considerar a intubação orotraqueal para bloqueio neuromuscular nos pacientes com hipertermia e dificuldade no controle da temperatura (síndrome serotoninérgica) ➢ Avaliar status hemodinâmico do paciente; iniciar fluidos para reposição volêmica Sempre fazer o ECG: algumas drogas podem causar distúrbios de ritmo importantes, e a identificação de alterações inicialmente sutis (como o alargamento do intervalo QT) é fundamental para o manejo do paciente O tratamento do choque deve ser individualizado para cada tipo de intoxicação, visto que sua etiologia depende do mecanismo de ação do tóxico A escolha da droga vasoativa também deve ser individualizada (vasoplegia X depressão miocárdica) e possíveis efeitos adversos Taquicardias de QRS largo são tratadas com bicarbonato e seguem as terapias recomendadas pelo ACLS Considerar uso de antidoto específico para o tratamento da depressão circulatória Tóxicos e suas síndromes ➢ Morfina Heroína Oxicodona Imidazólicos ➢ Cocaína Anfetamina Efedrina Beta-antagonistas ➢ Organofosforados Carbamato Piridostigmina ➢ Atropina Anti-histamínicos Anti-parkinsonianos Antidepressivos tricíclicos Plantas belladonna ➢ – Etanol Barbitúricos Benzodiazepínicos Neurolépticos ➢ Sinais e sintomas -> letargia/sonolência, hipotensão, apneia, miose, redução da motilidade gastrointestinal Tratamento -> suporte clínico. Naloxone pode ser usado em intoxicações graves com maior risco respiratório e cardiovascular ➢ Sinais e sintomas -> hipertensão, taquicardia, diaforese, midríase com resposta pupilar à luz, excitação do SNC e delírio Tratamento -> benzodiazepínicos, redução da temperatura corporal, alfa/beta antagonistas, bloqueadores do canal de Ca e bicarbonato de sódio ➢ Sinais e sintomas -> diarreia, diaforese, perda urinaria, miose, bradicardia, aumento de secreções respiratórias, vômitos, lacrimejamento, hipotensão e sialorreia Tratamento -> descontaminação (sempre pré-hospitalar), proteção da via aérea, atropina e pralidoxima Nos pacientes abusadores crônicos, pode precipitar sintomas de abstinência ➢ Sinais e sintomas -> midríase sem reação pupilar à luz, alterações do estado mental (alucinações, sinestesia), hipertermia, vermelhidão, pele seca, retenção urinaria, redução da motilidade intestinal e taquicardia Substâncias causadoras comuns -> anti-histamínicos, canabinóides sintéticos, antipsicóticos, antieméticos e relaxantes musculares Tratamento -> fisostigmina (inibidor da acetilcolinesterase) ➢ - Sinais e sintomas -> sonolência, fala empastada, nistagmo, ataxia, hipotensão, coma e depressão respiratória Tratamento -> suporte clínico. Nos casos de intoxicação exclusivamente por benzodiazepínicos, o flumazenil não deve ser usado rotineiramente: nos usuários crônicos da droga, podem ocorrer convulsões refratárias à nova administração de benzodiazepínicos, além de sintomas de abstinência. Sua única utilidade em casos de intoxicação é quando a via aérea do paciente está comprometida pela depressão respiratória, e ainda assim o seu risco deve ser ponderado (especialmente se há condições para oxigenação e via aérea avançada imediatas). Seu efeito antagonista é efêmero, portanto, haverá re-sedação do paciente entre 60 a 90 min após a sua administração, e assim não serve como tratamento para ingestão de benzodiazepínicos Descontaminação Objetivoé diminuir a exposição do organismo ao agente tóxico, reduzindo o tempo e/ou a superfície de exposição Varia de acordo com a via de intoxicação -> digestiva, respiratória, cutânea ou percutânea Deve ser ponderada baseando-se no risco benefício da técnica disponível e/ou escolhida, tempo e quantidade de ingestão do tóxico, bem como os efeitos esperados do mesmo Exemplo: paciente que ingeriu benzodiazepínicos em quantidades não tóxicas e que está apenas sonolento não se beneficia tanto da descontaminação e ainda pode agregar o risco de broncoaspiração, a depender de como a descontaminação é realizada Descontaminação externa Pacientes expostos a inseticidas ou agentes biológicos devem ser sempre descontaminados fora do ambiente hospitalar por equipes especializadas É importante que toda a equipe esteja devidamente paramentada (principalmente quando nos deparamos com exposições sem descontaminação prévia), e que o paciente tenha toda a sua vestimenta retirada. Deve também ter sua pele lavada em água corrente ou soro fisiológico Intoxicações exógenas ➢ Lavagem gástrica -> utilizar quando ingesta for potencialmente letal Devido aos riscos de aspiração e trauma esofágico, a American Não provocar vômitos ! Não dar nada por via oral ! Association os Poison Centers sugere que apenas seja realizada dentro de 1hr após a ingestão do agente tóxico potencialmente fatal, que não se adsorve ao carvão ativado ou para o qual não existe antidoto e, mesmo assim, em um centro com experiência suficiente para executar o procedimento ➢ Técnica -> utilizar dissolvido em manitol a 20% 300mL e administrar a mistura via sonda nasogástrica (utilizar sonda calibrosa) Dose única -> 1g/Kg (dose para adultos 50 a 100g; dose para crianças menores de 5 anos 10 a 25g) via sonda nasogástrica É adsorvente, administrado com o objetivo de reduzir a absorção gástrica do tóxico. Tem efeito se administrado nas primeiras 4hrs após a ingestão. O paciente acordado deve estar colaborativo e os comatosos devem preferencialmente estar intubados e sempre receber por sonda nasogástrica Exames laboratoriais Hemograma, bioquímica sérica com função renal, provas de função hepática, exame de urina (BHCG se pertinente), triagem toxicológica de urina, concentração de álcool sérico e glicemia Hemodiálise Eficaz e indicada nas intoxicações graves cujas substâncias são por moléculas pequenas, com pequeno volume de distribuição, rápida redistribuição por tecidos e plasma e eliminação endógena reduzida -> metanol, etileno-glicol, teofilina, salicilatos, lítio, fenobarbital, metformina, valproato, carbamazepina, sais de potássio com hipercalemia severa Resumo: o que fazer em casos de intoxicações exógenas ? Estabilização inicial Reconhecer o agente tóxico Antídotos e tratamento específico Notificação compulsória Contatar as Centrais de Intoxicações Cuidados no campo e indústria Profilaxia de novos casos: tratamento psiquiátrico nas tentativas de suicídio
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