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ATIVIDADE 7 – ESTUDO DIRIGIDO In.: FERREIRINHA, Isabella Maria Nunes; RAITZ, Tânia Regina. As Relações De Poder Em Michel Foucault_Reflexões Teóricas. RAP — Rio de Janeiro 44(2):367-83, MAR./ABR. 2010 FOUCAULT, Michel. Machado, Roberto (org.) O nascimento do hospital. In Microfisica do Poder. RJ: Edições Graal, 1999. 1. Os estudos de Foucault foram considerados polêmicos, em especial pela sistematização de sua tese em um triângulo e compará-lo a um tripé da sociedade enquanto recorte metodológico. Apresente este triângulo e o tripé mencionado. Foucault estudou o poder não para criar uma teoria de poder, mas para identificar os sujeitos atuando sobre os outros sujeitos. No que se refere ao poder, direito e verdade, sob a análise de Foucault, existe um triângulo em que cada item mencionado (poder, direito e verdade) se encontra nos seus vértices. Nesse triângulo, o filósofo vem demonstrar o poder como direito, pelas formas que a sociedade se coloca e se movimenta, ou seja, se há o rei, há também os súditos, se há leis que operam, há também os que a determinam e os que devem obediência. O poder como verdade vem se instituir, ora pelos discursos a que lhe é obrigada a produzir, ora pelos movimentos dos quais se tornam vitimados pela própria organização que a acomete e, por vezes, sem a devida consciência e reflexão. É pela disciplina que as relações de poder se tornam mais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que estabelecem as relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivo-persuadido, e tantas quantas forem as relações que exprimam comando e comandados. Diante do triângulo demonstrado por Foucault, poder — direito — verdade, e das passagens em que ele remete ao aparelho de Estado, por meio de recurso analógico, compara-o ao triângulo do tripé da sociedade, Estado – mercado – sociedade civil. Entende que dentro do triângulo apresentado por Foucault existem diversas ações que perfazem o poder, o direito e a verdade, ações essas que são transportadas para aquelas que permeiam a tríplice Estado-mercado-sociedade civil. Assim, pode-se concluir que a harmonia das relações de poder-direito, poder-verdade, estado, mercado e sociedade civil é essencial para que as políticas e ações sejam fundamentadas nos princípios éticos. 2. Quais os conceitos apresentados do termo Poder pelas autoras (Ferreirinha e Raitz)? O poder disciplinar surgiu em substituição ao poder pastoral (no campo religioso), poder esse exercido verticalmente por um pastor que depende do seu rebanho e vice-versa. No poder pastoral, o pastor deve conhecer individualmente cada membro do seu rebanho, se sacrificar por eles e salvá-los, como denominado por Veiga-Neto (2003:81): “vertical, sacrificial e salvacionista; individualizante e detalhista”. No campo político, a sociedade estatal veio em substituição ao poder de soberania, vem da lógica pastoral, embora não possa ser salvacionista, nem piedoso e nem mesmo individualizante. Assim, o poder de soberania tem um déficit em relação ao poder pastoral. Daí surge o poder disciplinar para preencher essa lacuna, com efeitos individualizantes, vigilante, a fim de preencher os espaços vazios do campo político. Como destacado por Veiga-Neto (2003: 373 rap — Rio de Janeiro 44(2):367-83, MAR./ABR. 2010 as relações de poder em michel foucault: reflexões teóricas 83), em muitos momentos ocorreu a “a invasão do poder pastoral no plano político do corpo social”. Ou seja, o caráter individualizante do poder pastoral deveria ser abarcado pela sociedade estatal e essa contradição pode ser bem identificada no estado de bem-estar social. 3. Argumente a seguinte citação: Uma técnica que é centrada no corpo, produz efeitos individualizantes, manipula o corpo como foco de forças que é preciso tornar úteis e dóceis ao mesmo tempo. E, de outro lado, temos uma tecnologia que, por sua vez, é centrada não no corpo, mas na vida; uma tecnologia que agrupa os efeitos de massas próprios de uma população. (Foucault, 1999:297). 4. Com base na frase a seguir de Foucault, analise o Estado Brasileiro na atual conjuntura de pandemia: “Governar um Estado significará, portanto, estabelecer a economia ao nível geral do Estado, isto é, ter em relação aos habitantes, às riquezas, aos comportamentos individuais e coletivos, uma forma de vigilância, de controle tão atenta quanto à do pai de família. (Foucault, 1979:281).” 5. Qual o sentido de Governamentabilidade segundo Foucault? É o entendimento da governamentabilidade visto por Foucault (1979), governamentabilidade como objeto de estudo em relação às formas de governar. Foucault coloca as questões do problema da população e a questão de governo, em que faz deferência à relação de segurança, população e governo. Foucault (1979:283) discorre que a constituição de governamentalidade implica analisar as formas de racionalidade, de procedimentos técnicos, de formas de instrumentalização, “o essencial é, portanto, este conjunto de coisas e homens; o território e a propriedade são apenas variáveis”. Quando Foucault (1979:282) se refere ao conjunto de coisas e homens, se refere à essência do ser perante as suas necessidades, interações e bem- estar; as propriedades, riquezas, recursos são as variáveis pertinentes de cada território e que dão suporte ao suprimento das necessidades do ser e o bem-estar da população. Estas coisas, de que o governo deve se encarregar, são os homens, os recursos, os meios de subsistência, o território e suas fronteiras, com suas qualidades, clima, seca, fertilidade etc.; os homens em suas relações com outras coisas que são os costumes, os hábitos, as formas de agir e pensar etc. 6. Contextualize o sentido de hospital antes e depois do sec XVIII, apresentando o olhar de Foucault ao novo modelo no que tange às relações de poder e sua perspectiva de análise destas relações nas instituições. Os estudos de Michel Foucault estiveram relacionados às instituições, quartéis, fábricas, prisões, hospitais psiquiátricos e escolas, “instituições de sequestro”,7 em que o autor perpassa pela sociedade disciplinar. A política que conduz tais instituições, Foucault afirma ser a “continuação da guerra por outros meios”.8 “A disciplina procede em primeiro lugar à distribuição dos indivíduos no espaço” (Foucault, 2008:121). Entretanto, a organização espacial, horários, escala hierárquica, tudo leva a essas instituições a prescrição de comportamentos humanos estabelecidos e homogêneos, assim como descreve Foucault (2008:121): A minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçante das inspeções, o controle das mínimas parcelas da vida e do corpo darão, em breve, no quadro da escola, do quartel, do hospital ou da oficina, um conteúdo laicizado, uma racionalidade econômica ou técnica a esse cálculo místico do ínfimo e do infinito. 7. Discorra sobre o panoptismo mencionado por Focault e faça um paralelo deste este olhar na sociedade contemporânea. O panoptismo é, um dispositivo invertido do espetáculo, shows, circo, poucos assistem ao que acontece com a multidão. Segundo Foucault (2008:167): “o panóptico é uma máquina maravilhosa que, a partir dos desejos mais diversos, fabrica efeitos homogêneos de poder”. Foucault (1979:12) explica que os “discursos de verdade” da sociedade, por meio de sua linguagem, comportamento e valores, são relações constituídas de poder e, portanto, aprisionam os sujeitos, como destaca em seu texto. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade, isto é, os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdadeiros..., os meios pelo qual cada um deles é sancionado, as técnicas e procedimentos valorizados na aquisição da verdade; o status daqueles que estão encarregados de dizer o que conta como verdadeiro. Podemos ponderar que a sociedade atual em alguns termos ainda é aprisionada pelo poderio gorvenamental, que rege toda uma sociedade em vários níveis, tornando comoverdade isolutas. A sociedade é aprisionada nesse contexto histórico de governabilidade a base de mentiras, representadas como verdadeiras. 8. Apresente a disciplina como técnica do exercício do poder exemplificando a sua origem e história no Sec XVIII. A disciplina é uma técnica de exercício de poder que foi, não inteiramente inventada, mas elaborada em seus princípios fundamentais durante o século XVIII. Historicamente as disciplinas existiam há muito tempo, na Idade Média e mesmo na Antigüidade. Os mosteiros são um exemplo de região, domínio no interior do qual reinava o sistema disciplinar. A escravidão e as grandes empresas escravistas existentes nas colônias espanholas, inglesas, francesas, holandesas, etc., eram modelos de mecanismos disciplinares. Pode−se recuar até a LegiãoRomana e, lá, também encontrar um exemplo de disciplina. Os mecanismos disciplinares são, portanto, antigos, mas existiam em estado isolado, fragmentado, até os séculos XVII e XVIII, quando o poder disciplinar foi aperfeiçoado como uma nova técnica de gestão dos homens. Fala−se, freqüentemente, das invenções técnicas do século XVIII − as tecnologias químicas, metalúrgicas, etc. − mas, erroneamente, nada se diz da invenção técnica dessa nova maneira de gerir os homens, controlar suas multiplicidades, utilizá−las ao máximo e majorar o efeito útil de seu trabalho e sua atividade, graças a um sistema de poder suscetível de controlá−los. Nas grandes oficinas que começam a se formar, no exército, na escola, quando se observa na Europa um grande progresso da alfabetização, aparecem essas novas técnicas de poder que são uma das grandes invenções do século XVIII. 9. Qual a ideia de clínica no início do sec. XVIII? A clínica aparece como dimensão essencial do hospital. Clínica aqui significa a organização do hospital como lugar de formação e transmissão de saber. Mas vê−se também que, com a disciplinarização do espaço hospitalar que permite curar, como também registrar, formar e acumular saber, a medicina se dá como objeto de observação um imenso domínio, limitado, de um lado, pelo indivíduo e, de outro, pela população. Pela disciplinarização do espaço médico, pelo fato de se poder isolar cada indivíduo, colocá−lo em um leito, prescrever−lhe um regime, etc., pretende−se chegar a uma medicina individualizante. Efetivamente, é o indivíduo que será observado, seguido, conhecido e curado. O indivíduo emerge como objeto do saber e da prática médicos. Mas, ao mesmo tempo, pelo mesmo sistema do espaço hospitalar disciplinado se pode observar grande quantidade de indivíduos. Os registros obtidos quotidianamente, quando confrontados entre os hospitais e nas diversas regiões, permitem constatar os fenômenos patológicos comuns a toda a população. 10. Argumente exemplificando o conceito de disciplina como uma técnica de exercício de poder em pelo menos duas instituições no contexto contemporâneo. A disciplina como técnica de exercício de poder pode ser vista em duas instituições no contexto contemporâneo: o governo e o exército. Ambas tentam massificar os integrantes através de regras, possuem superiores que exercem o controle da disciplina, estabelecimentoo de burocracia, o que permite um maior controle e poder sobre a população inserida no contexto.
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