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RESUMOEXPANDIDO TAINA

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COMPREENDENDO A IMPORTÂNCIA DOS ESTÁGIOS DA MOTIVAÇÃO 
PARA A MUDANÇA PARA O TRATAMENTO DE INDIVÍDUOS 
DEPENDENTES DE ÁLCOOL E DROGAS 
 
TAINÁ SOUZA MARTINS1; MARIANE LOPEZ MOLINA2 
 
1Faculdade Anhanguera do Rio Grande – ttaimartins@gmail.com 
2Faculdade Anhanguera do Rio Grande– mariane.molina@educadores.net.br 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O conceito de dependência é a relação que um indivíduo tem com o ato de 
consumir uma substância psicoativa. As substâncias psicoativas, lícitas ou não, 
estão presentes na vida das pessoas em diversos contextos. Porem, muitas 
utilizam de forma prejudicial e, em alguns casos, acaba evoluindo para um 
quadro de abuso e dependência dessas substâncias (KANTORSKI, 2005). A 
Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o uso abusivo de substâncias 
psicoativas como uma doença crônica e recorrente, o qual, constitui um 
problema de saúde pública. Apesar de cada substância causar quadros clínicos 
diferentes, há um plano de tratamento que pode ser comum para a dependência 
química que contém o objetivo de mudança no estilo de vida. Como forma de 
intervenção para mudança existem as Comunidades Terapêuticas (CTs), onde 
no Brasil, em meados de 1978 surgiram as primeiras representando um dos 
modelos de cuidado a pessoas com transtornos decorrentes do uso de 
substâncias psicoativas (ZANELLATO, 2013). 
Centrado nos estágios da motivação para a mudança no tratamento do 
álcool e drogas, o presente resumo tem por objetivo esclarecer a importância da 
compreensão dos estágios dentro do tratamento bem como contribuir para 
estudos de profissionais que trabalham com público que utilizam os serviços de 
reabilitação e tratamento da dependência química. 
 
 
2. METODOLOGIA 
 
Trata-se de um estudo do tipo revisão de literatura, iniciado pela busca e 
seleção do material através de artigos científicos. Os critérios utilizados para a 
seleção se deram através de artigos, publicados desde 2005, que abordassem 
tanto métodos qualitativos quanto métodos quantitativos, durante a busca na 
literatura foram encontrados 50 artigos abordando os estágios da motivação para 
a mudança, priorizando a motivação para a mudança com dependentes de 
substâncias psicoativas. Foram utilizadas as palavras-chave motivação para 
mudança, substância psicoativa e saúde mental. As pesquisas foram realizadas 
em livros, artigos da Scielo e Pepsic. Ao todo foram inseridos no presente 
trabalho seis artigos científicos e um livro, “O tratamento da dependência química 
e as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas” 
(ZANELLATO & LARANJEIRA, 2013). 
 
 
 
 
 
 
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
 A partir literatura estudada, pequena parte abordou, diretamente, o 
Modelo Transteórico relacionado ao uso de drogas ilícitas. A maioria dos estudos 
sugere mais pesquisas com populações específicas, pode-se perceber que este 
ainda é um campo pouco estudado, mas com resultados promissores. No mundo 
todo, essa prática é utilizada como um fator para a ressocialização 
(ZANELATTO, 2013). 
A presente revisão buscou no modelo transteórico a base conceitual para 
o estudo da motivação para a mudança em dependentes químicos. O modelo 
transteórico começou a ser elaborado a partir da análise dos resultados 
divergentes de diversos estudos, alguns indicavam que a aderência a um 
tratamento formal faz com que as pessoas modifiquem comportamentos 
indesejados; outros, referiam que as mudanças podem acontecer sem nenhum 
tipo de ajuda profissional, e outros ainda afirmavam que mudanças bem– 
sucedidas podem ocorrer com ou sem ajuda profissional (SOUSA, 2013). Em 
1979, Prochaska buscou identificar, a partir da análise comparativa dos dezoito 
maiores sistemas de psicoterapia, os processos de mudança comuns a todos 
eles. Por isso, o modelo que ali nascia foi denominado transteórico e indicava 
que automudanças bem sucedidas dependem de fazer coisas certas (processos) 
no momento certo (estágios) (FÉLIX, 2018). O modelo transteórico está focado 
na mudança intencional, ou seja, na tomada de decisão do indivíduo, ao contrário 
de outras abordagens que estão focadas nas influências sociais ou biológicas no 
comportamento. Nesse sentido, as pessoas que modificam comportamentos 
adictivos tendem a se mover através de uma série de estágios, que envolvem 
emoções, cognições e comportamentos, independentemente de estarem ou não 
em tratamento (ZANELATTO, 2013; BITTENCOURT, 2009). 
Os estágios de motivação para a mudança representam a dimensão 
temporal do modelo transteórico, e permitem que possa ser compreendido 
quando mudanças particulares nas atitudes, intenções e comportamentos 
tendem a acontecer. Inicialmente foram idealizados quatro estágios: pré–
contemplação, contemplação, ação e manutenção. Posteriormente, foi verificado 
que entre o estágio da contemplação e o da ação, as pessoas passavam por 
uma fase de planejamento da ação. Esse período foi denominado determinação 
(ZANELATTO, 2013; SOUSA, 2013). Para o autor, a implicação mais importante 
de suas pesquisas foi a descoberta da necessidade de, inicialmente, acessar o 
estágio de prontidão para a mudança do cliente e só então adequar as 
intervenções terapêuticas a ele (ZANELATTO, 2013). É importante ressaltar que 
a motivação para a mudança pode (e parece ser) influenciada tanto pela 
presença de sintomas psiquiátricos quanto pelo grau de intensidade da 
dependência (FÉLIX, 2018). 
Na dependência química existem estágios de motivação no tratamento do 
indivíduo para a sua aceitação e mudança de comportamentos considerados 
problema, que ocorrem nesse processo que são a Pré-Contemplação, 
Contemplação, Preparação, Ação e a Manutenção (ZANELATTO, 2013; 
ANDRETTA, 2011; BITTENCOURT, 2009). 
 
 
Portanto, os estágios de motivação para a mudança são contemplados da 
seguinte forma: Estágio de Pré-Contemplação, aqui o dependente químico 
possui uma resistência a mudança, pois não entende os seus comportamentos 
e atitudes como sendo um problema relevante, o adicto recusa a ideia de que 
ele está com problemas e considera a preocupação das pessoas algo 
exagerado, pois para ele não existe nada com o que se preocupar; 
Contemplação, o dependente começa a tomar consciência de que tem 
problemas com o consumo de drogas, entretanto, ele não se mobiliza na 
mudança de comportamento e atitude, ele está constantemente a procura de 
argumentos para defender seus atos, negando os obstáculos enfrentados; 
Determinação, a pessoa começa a despertar e ver de modo mais claro seus 
problemas e prejuízos causados pelo uso de drogas e como a aceitação e 
mudança de comportamento podem fazer ele sair dessa situação, o indivíduo 
pensa em como certas atitudes podem auxiliá-lo em sua recuperação, e começa 
sua preparação para dar início a mudança; Ação, no estágio da ação a pessoa 
começa a pôr em prática de fato as mudanças em seus comportamentos e 
atitudes considerados problemas, nessa fase, o indivíduo terá que se dedicar e 
ter muita motivação, sendo as mudanças desse estágio mais visíveis; 
Manutenção, este estágio é o que possui maiores desafios para o dependente 
químico, pois a manutenção possibilita conferir se os comportamentos e ações 
da fase anterior de fato levaram o indivíduo ao processo de mudança. É um 
estágio de muitos desafios, porque exige um esforço contínuo da pessoa para 
que não tenha recaída e assim, possa prosseguir em virtude dos resultados 
esperados (FÉLIX, 2018; ZANELATTO, 2013; ANDRETTA, 2011; 
BITTENCOURT, 2009). 
 Nos estágios de tratamento são encontrados muitos desafios pelo 
dependente químico, mas que, podem ser superados com os cuidados, 
acolhimento e atividades práticas feitas pelos indivíduos envolvidos, que são 
fundamentais nesse processo, para que haja resultados satisfatórios (SOUSA, 
2013). Tem se considerado vantajoso o entendimento do comportamento 
humano por meio do Modelo Transteórico por este ser um construto integrativo. 
Autores têm considerado que o conceitode motivação para mudança abrange 
uma perspectiva evolutiva e que isso ajuda a evitar explanações estáticas sobre 
o que parece ser um ativo em determinados processos, como nas adições 
(ZANELATTO, 2013). Com seu estudo, pode ser possível prever com mais 
certeza percentuais de adesão e abandono dos tratamentos, a avaliação do 
estágio de motivação para mudança pode ser útil, enquanto ferramenta clínica, 
por avaliar riscos de abandono de tratamento (ANDRETTA, 2011). 
 Os psicólogos inseridos no tratamento da dependência química e álcool 
devem atentar para esta correlação entre motivação e gravidade da dependência 
do álcool e drogas, é de fundamental importância, pois contrasta com o 
preconceito de diversos profissionais da área da saúde e dos próprios 
dependentes, que consideram quem tem um grau mais severo de dependência 
como mais difícil de ser tratado, o que muitas vezes, interfere no investimento de 
estratégias adequadas e personalizadas para um tratamento mais direcionado e 
efetivo (FÉLIX, 2018; KANTORSKI, 2005). 
 
 
 
 
 
4. CONCLUSÕES 
 
Através da revisão de literatura foi possível compreender a importância dos 
estágios de motivação para mudança no tratamento da dependência química. 
Além disso, foi possível observar que o psicólogo inserido nesse contexto precisa 
intervir incentivado a motivação para a mudança e reconhecendo os estágios de 
cada indivíduo no processo. Logo, o profissional em psicologia pode atuar de 
acordo com a necessidade interna, transcendendo sua visão no que diz respeito 
a concepção de mundo do indivíduo, suas vivências, suas subjetividades e sua 
relação com a dependência, contribuindo positivamente para o tratamento e 
reinserção social desta população. Reconhecer o estágio motivacional em que o 
dependente se encontra pode auxiliar na forma de tratamento aplicada, visando 
à obtenção de resultados ainda mais eficazes. Porém ainda os achados não são 
suficientes para uma mudança significativa e duradoura no comportamento do 
dependente. Ainda percebe-se uma escassez de estudos voltados para esta 
área, o que se espera, são estudos mais atualizados com ensaios clínicos 
randomizados visando um tratamento significativo e duradouro da dependência 
química. 
 
 
 
 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
ANDRETTA, I., & OLIVEIRA, M. S. A entrevista motivacional em adolescentes 
usuários de droga que cometeram ato infracional. Psicologia: Reflexão e Crítica, 
Porto Alegre, 2011. 
 
 
BITTENCOURT, S. A. Motivação para a mudança: Adaptação e validação da 
escala URICA (University of Rhode Island Change Assessment) para o 
comportamento de comer compulsivo (Tese de doutorado, Faculdade de 
Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 
RS, Brasil, 2009. 
 
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[online]. 2006, v. 23, n. 1 [Acessado18 Outubro 2021] , pp. 3-12. Disponível em: 
<https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000100001>. Epub 09 Out 2007. 
ISSN1982-0275.https://doi.org/10.1590 
 
 
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<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2013000100018&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 out. 
2021.http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.1-18. 
 
 
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química e as terapias cognitivo-comportamentais: um guia para terapeutas. 
Porto Alegre: Artmed, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S18066976200500%200100005&lng=pt&nrm=iso
https://doi.org/10.1590/S0103-166X2006000100001
tel:1982-0275
https://doi.org/10.1590
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2013000100018&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2013000100018&lng=pt&nrm=iso
http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.1-18

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