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IMUNIDADE E ENVELHECIMENTO


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Ana Victória Ribeiro – M7 
IMUNIDADE E ENVELHECIMENTO
INTRODUÇÃO 
A imunidade obedece a princípios biológicos 
fundamentais como a carga genética individual e a 
influência do meio. Com o envelhecimento, este 
binômio sofrerá interferências que tornarão este 
sistema de defesa menos eficiente (disfuncional), 
especialmente em situações de limite estressor, 
seja ele de ordem física ou emocional. 
A discussão continua em torno da fronteira entre 
o envelhecimento natural, fisiológico do sistema 
imune, conhecido como imunossenescência, e o 
limite das alterações imunológicas causadas pela 
presença de doenças crônicas mais frequentes na 
idade avançada. Este fato aumenta a importância 
do cuidado nos estudos sobre o envelhecimento 
imunológico, utilizando-se protocolos rigorosos, 
dos quais excluem-se da amostra a ser estudada 
indivíduos com patologias que possam exigir, 
direta ou indiretamente, uma ação do sistema de 
defesa. Dessa forma, a análise volta-se para as 
transformações imunológicas que ocorrem 
exclusivamente pelo fato de estarmos ficando 
velhos e não por estarmos doentes. 
A diminuição progressiva da reserva funcional do 
organismo, que ocorre naturalmente em todos os 
sistemas na medida em que eles envelhecem 
(senescência), provocará limitações também na 
resposta de defesa, que se agravarão em 
condições de estresse imunológico, situação na 
qual, muitas vezes, as reservas já foram esgotadas. 
Desse modo, as modificações do comportamento 
imunológico decorrentes do envelhecimento 
reduzirão a capacidade de resposta diante de 
uma infecção, maior vulnerabilidade oncológica e 
autoimune, além de poder diminuir a resposta às 
vacinas. Isso implica aumento da mortalidade e 
morbidade por doenças infecciosas, autoimunes e 
neoplasias. 
FUNÇÃO IMUNE 
É a vigilância de um aparato complexo e 
sofisticado como é o do sistema imune que 
possibilita a existência humana. Esta vigilância 
definida geneticamente precisa interagir com 
outros sistemas como o endócrino e o 
neurológico, bem como reagir e adaptar-se ao 
mundo externo fazendo frente a vírus, fungos, 
bactérias, protozoários, parasitas, 
macromoléculas e agentes estranhos ao meio 
interno. As células envolvidas neste sistema têm 
origem em uma célula pluripotencial (célula-
tronco) que proliferam dando origem a duas 
linhagens: linfoide e mieloide. O sistema 
imunológico é dependente da capacidade de 
formar células precursoras. Esta capacidade de 
renovação celular diminui com a idade. 
A linhagem linfoide é composta pelos linfócitos B 
e T, além das células natural killer (NK). A linhagem 
mieloide é constituída pelos neutrófilos, 
eosinófilos, basófilos e monócitos, além das 
hemácias e dos precursores das plaquetas, os 
megacariócitos. 
A proteção imunológica pode ser didaticamente 
dividida em dois tipos: 
 Imunidade inata 
Em contato com o patógeno atua prontamente, 
porém, de forma inespecífica, por meio de 
barreiras físicas e químicas como a pele, enzimas 
de superfície de mucosas, proteínas especiais e 
células com capacidade fagocitária. É composta 
por uma rede celular com diferentes funções, 
como os neutrófilos, os monócitos (com alta 
mobilidade e que darão origem aos macrófagos), 
as células dendríticas, apresentadoras de 
antígenos (fundamentais na ponte que fazem 
entre o sistema imune inato e o adquirido) e as 
células NK, (com função citotóxica e produtora de 
citocinas), em resposta a estímulos. As células NK 
são caracterizadas morfologicamente como 
grandes linfócitos granulares que expressam em 
sua superfície moléculas identificadoras como o 
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CD56 e o CD16. Tem um importante papel 
especialmente na defesa antiviral antes mesmo 
de a resposta adaptativa ser iniciada e sem a 
necessidade de sensibilização prévia. Participam 
da resposta antitumoral pela produção de 
citocinas pró-inflamatórias (interleucinas) como a 
interferona-γ, a qual ativa macrófagos para a 
tarefa da fagocitose. Além disso, as células NK 
também agem sobre a imunidade adaptativa 
modulando a magnitude e a qualidade de sua 
resposta. Em seu conjunto, funcionarão como a 
primeira linha na barreira defensiva contra 
agentes patogênicos. 
 
 Imunidade adquirida 
Proveniente de exposição a patógenos ao longo da 
vida, apresenta especificidade e memória. É 
representada pelos linfócitos T e B. Os linfócitos T 
promovem o ataque célula a célula enquanto os 
linfócitos B agem por meio da produção de 
anticorpos. 
Enquanto a imunidade inata, por meio de seus 
principais componentes como as células 
fagocitárias, barreiras físicas e químicas como a 
pele e enzimas de superfície de mucosas, além de 
algumas proteínas especiais como o 
complemento, apresenta um repertório limitado 
em sua atuação, a imunidade adquirida apresenta 
o potencial de ampliar sua competência de acordo 
com o agente patogênico ao qual ela se expuser ao 
longo da vida. Isso quer dizer que, a cada 
exposição a determinado micróbio, haverá um 
aumento na quantidade e na especificidade da 
resposta de defesa do hospedeiro. 
É uma imunidade de “memória” que lhe permite 
responder de forma mais rápida e precisa a um 
patógeno específico (imunidade específica). Os 
representantes mais importantes da imunidade 
adquirida ou específica são os linfócitos e os 
produtos originados por eles, os anticorpos. 
A divisão entre imunidade inata e imunidade 
adquirida é meramente didática, uma vez que 
funcionam de forma combinada. 
A resposta imunológica adquirida pode ser 
dividida ainda em resposta imune humoral e 
resposta imune mediada por célula. A resposta 
imune humoral é iniciada pelas imunoglobulinas, 
as quais são produzidas pela diferenciação do 
linfócito B em resposta a antígenos (p. ex., por 
infecções bacterianas). Já a imunidade mediada 
por célula é da responsabilidade do linfócito T, o 
qual prolifera rapidamente em resposta à 
apresentação do antígeno, com produção de 
proteínas mediadoras (citocinas). 
Após a produção pela medula óssea, os linfócitos 
são submetidos a um processo de maturação para 
que adquiram suas capacidades particulares. 
Enquanto os linfócitos B amadurecem na própria 
medula, os precursores do linfócito T migram para 
o timo, onde receberão moléculas diferenciadas 
entre si (receptores de membrana) para que 
adquiram capacidades muito específicas de reagir. 
Os linfócitos T correspondem à proporção de 40 a 
70% do total de linfócitos. Após a passagem pelo 
timo, serão capazes de iniciar a resposta celular 
imune quando antígenos invadirem o corpo, 
sendo também responsáveis pela modulação da 
resposta imune para prevenir autoimunidade e 
defesa contra o crescimento de tumores. A 
progressiva involução do timo deve ser lembrada 
como tendo papel importante na 
imunossenescência. 
Os linfócitos B (independentes do timo), por meio 
de sua própria diferenciação no interior da medula 
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óssea, produzirão anticorpos (imunoglobulinas) 
que protegerão o hospedeiro ao longo da vida. 
Com base em sua estrutura e função, as 
imunoglobulinas são divididas em IgA, IgG, IgM, 
IgD e IgE. 
IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULAS E IMUNIDADE 
HUMORAL 
A distinção entre imunidade humoral e celular é de 
certa forma artificial, porque ambas as células, B e 
T, podem participar em cada reação. Enquanto as 
células T são efetoras na resposta imune celular, 
elas também são necessárias para a maior parte 
da atividade da célula B na resposta imune 
humoral (anticorpos). Por outro lado, enquanto as 
células B envolvem a produção de anticorpos, elas 
podem agir também como células apresentadoras 
de antígenos, na resposta imune celular da célula 
T. 
Os vários componentes celulares do sistema 
imune podem interagir pelo contato célula a célula 
como no caso do linfócito T citotóxico (citolítico) 
ou liberando fatores que podem modular sua 
atividade (linfócito T auxiliar) por meio de 
moléculas como citocinas (proteínas sinalizadoras 
envolvidas na regulação do sistema imune que são 
ativadas emcasos de inflamação (estimulam a 
proliferação celular, sua migração e iniciam a 
apoptose) e linfócitos B (por meio das 
imunoglobulinas). 
 
As células que podem responder precisam 
expressar proteínas de membrana como parte do 
desenvolvimento ou da ativação do processo. 
Estas moléculas de superfície (marcadores) 
funcionam como uma espécie de impressão digital 
da célula, permitindo o reconhecimento do grupo 
ao qual pertencem e identificando sua fase de 
ativação. São chamados de CD – cluster of 
differentiation – e agem como marcadores de 
superfície identificados pelo método de citometria 
de fluxo. 
 
Um grupo de diferenciação se define 
caracterizando a molécula que o constitui. Esta 
caracterização deve incluir a natureza bioquímica 
da molécula, seu tamanho, sua estrutura e sua 
aparição nos vários estágios de sua diferenciação. 
Um bom exemplo de marcador da célula T é o CD3 
(linhagem). 
Já a molécula de superfície CD25 (receptor da 
interleucina-2) é um marcador de ativação das 
células T, presente apenas quando da ativação da 
célula T pelo antígeno. Também são conhecidas 
como moléculas acessórias ou moléculas de 
superfície. 
Na resposta da imunidade celular, o linfócito T 
com a molécula de superfície CD8 (também 
chamado de linfócito T citolítico ou citotóxico), ao 
ser ativado por um agente infeccioso, apresentará 
3 fases distintas: expansão, contração e memória. 
Quando a infecção é controlada, a população de 
linfócitos T CD8 + que havia se expandido sofre 
morte celular (apoptose), iniciando a etapa da 
contração. Permanecerá, entretanto, uma 
subpopulação com memória. A manutenção da 
memória replicativa da célula CD8 + é primordial 
no mecanismo da proteção imune. Por outro lado, 
o linfócito T com mólecula de superfície CD4 + , 
também conhecido como linfócito T auxiliar 
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(helper), está implicado com a função dos 
macrófagos por meio da ação de interleucinas. 
Apresentará expansão com menor magnitude e 
terá uma contração retardada. 
Embora muitas vezes a definição dos marcadores 
em termos de sua função se apresente como um 
aspecto prático, nem sempre isto é possível, já que 
um marcador pode funcionar como marcador de 
maturação para determinada linhagem celular e 
como marcador de ativação para outra. 
 
Na resposta humoral, os linfócitos B produzem 
anticorpos que podem se ligar a antígenos ou a 
produtos de antígenos e então ativar uma série de 
respostas defensivas mediadas por células 
fagocitárias e outras proteínas. 
Como se observou até aqui, a célula T apresenta 
receptores específicos (marcadores de 
membrana) CD3 que a distinguem das outras e 
que podem reconhecer e se ligar a um local 
específico do antígeno (epítopo) – quando este é 
muito grande para ser processado pelo linfócito B. 
Depois do reconhecimento, há a ativação de um 
processo que envolve transdução intracelular de 
sinais para o citoplasma e o núcleo; isto resulta no 
avanço da regulação do mRNA para vários 
componentes receptores e para a expressão de 
novas moléculas na membrana celular, 
qualificando a célula para a fase efetora. A 
iniciação da resposta imune requer o 
reconhecimento do antígeno pelo linfócito 
imunocompetente. Algumas destas estruturas 
estão envolvidas com o reconhecimento da célula 
B pela célula T. A célula T ativada libera novos 
fatores de síntese que resultarão em expansão do 
próprio clone de célula T, enquanto outros fatores 
influenciam o desenvolvimento de células B que, 
por sua vez, sintetizarão anticorpos. 
Ocorre então um período de morte celular 
(apoptose) no qual a maioria das células T ativadas 
desaparece e a atividade efetora declina tanto 
quanto o conteúdo antigênico. Esta contração na 
resposta da célula T é tão intensa quanto a 
expansão e, na maior parte dos casos, 95% das 
células T antígeno-específicas desaparecem. Este 
fenômeno de morte celular serve como um 
mecanismo regulador do número de células e de 
manutenção da homeostase. 
 
Quando o antígeno é depletado, a rede de 
anticorpos (memória) já está formada. A resposta 
diminui, deixando expandida uma população de 
células de memória e imunoglobulinas, produto da 
estimulação de linfócitos B, que agora estão 
prontas a responder com rapidez no próximo 
contato com o mesmo antígeno (memória 
imunológica). 
O sistema imune é um processo dinâmico que 
interage com vários componentes dele mesmo e 
com o meio ambiente. Seu papel é garantir a 
integridade do organismo. Este objetivo é 
alcançado pela capacidade de distinguir o próprio 
do não próprio, da alta especificidade e da 
memória imunológica. Assim, a imunidade 
depende em última instância do número de 
células que podem ser ativadas e do número de 
células-filhas que podem ser produzidas por esta 
ativação no espaço de tempo entre o período de 
exposição ao agente agressor e a resolução do 
processo. Com o envelhecimento, todas as 
etapas deste mecanismo estão modificadas. 
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IMUNOSSENESCÊNCIA 
O progressivo e fisiológico declínio da reserva 
funcional que ocorre em todos os sistemas 
biológicos ao longo da vida também afetará o 
sistema de defesa, a função imune. A este 
fenômeno chamamos imunossenescência, que 
corresponde ao envelhecimento imunológico 
traduzido por um conjunto de modificações tanto 
na resposta inata quanto na adquirida. 
Tais modificações podem ocorrer em uma ou 
várias etapas do caminho de ativação celular, as 
quais resultarão em menor eficiência do sistema 
de defesa aumentando a propensão e a gravidade 
de doenças infecciosas, autoimunes e neoplásicas. 
A marca do envelhecimento é o progressivo 
declínio dos três maiores sistemas de 
comunicação do corpo: o imune, o endócrino e o 
nervoso. Entre as incontáveis variáveis 
relacionadas com o processo de envelhecimento, 
uma das mais controversas é o perfil imunológico 
do indivíduo velho. Há um consenso de que ele se 
modifica, tornando-se menos eficiente. Embora 
tenha sido aceito por muito tempo que a 
imunidade inata fosse menos atingida com o 
envelhecimento, os estudos mais recentes 
demonstram a existência de importantes 
alterações também nesta esfera de defesa. 
IMUNIDADE INATA 
Entre os componentes da imunidade inata, os 
neutrófilos, que apresentam um papel importante 
na defesa primária contra fungos e bactérias, e 
fazem parte das etapas de ativação (p. ex., 
liberação de enzimas proteolíticas) são afetados 
no envelhecimento, reduzindo seu potencial 
microbicida como também sua interação com o 
sistema da imunidade adquirida. A capacidade 
fagocitária e, em alguns estudos também a 
capacidade quimiotática estão reduzidas, dando 
mais tempo à multiplicação bacteriana 
aumentando o dano tecidual (liberação de 
enzimas proteolíticas). 
As células dendríticas relacionam o sistema imune 
inato com o adquirido, tendo a capacidade de 
induzir tanto uma potente resposta antigênico-
específica como também à tolerância. Iniciam e 
amplificam respostas, estando distribuídas pelo 
corpo em regiões de contato com o meio externo 
como pulmões, trato digestivo e em extensa rede 
a qual inclui outras células apresentadoras de 
antígenos. Com o envelhecimento, apresentam 
menor eficiência na apresentação do antígeno, o 
que levará a menor estimulação de linfócitos T. 
Os monócitos/macrófagos, componentes de alta 
mobilidade, parecem aumentar em número com o 
avançar da idade, entretanto sua função 
(diferenciação) é reduzida. 
Com relação às células NK importantes na defesa 
viral e oncológica, com o envelhecimento ocorre 
um aumento quantitativo, porém à custa de 
células menos eficientes na produção de citocinas 
(responsáveis pela emissão do sinal e regulação 
para a resposta imune). Há um aumento, porém, 
de células killer de menor competência. 
IMUNIDADE ADAPTATIVA 
O declínio da atividade da célula T é representado 
por um aumento na proporção das células de 
memória (que já tiveram contato com um 
antígeno), em relação a células virgens (naïve), 
aquelas que ainda nãoentraram em contato com 
um antígeno, o que resultará em uma diminuição 
do potencial de reatividade a novos antígenos. 
Com a involução do timo, diminui o repertório de 
células T provenientes dele, inclusive aquelas com 
capacidade supressora que impediriam a quebra 
do delicado equilíbrio entre estas e as efetoras, 
aumentando assim a chance de fenômenos 
autoimunes. O envelhecimento é acompanhado 
por um progressivo aumento na proporção de 
células T que atuam de forma disfuncional. 
O declínio da capacidade imune com a idade 
poderia ser atribuído à prevalência de um linfócito 
T com fenótipo senescente. Suas células virgens 
apresentam defeitos funcionais, redução dos 
telômeros, diminuição na produção de 
interleucina 2, prejuízo na expansão e 
diferenciação em célula efetora e consequente 
redução na habilidade da resposta antigênica. Sua 
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maior característica é a irreversibilidade da perda 
de sua capacidade replicativa. O número de 
divisões celulares, nos quais a senescência é 
atingida, depende da espécie, da idade e do 
conjunto genético do indivíduo. Assim, células de 
origem fetal ou neonatal são capazes de um 
número maior de divisões do que as células de 
indivíduos velhos – limite de Hayflick. Com o 
avanço da idade, há um aumento no número de 
células que parecem normais, mas falham em 
responder ao estímulo ativador. 
Os linfócitos B, embora não demostrem alteração 
quantitativa importante, apresentarão a 
qualidade da função de seus anticorpos 
prejudicada, o que se refletirá em respostas mais 
baixas às vacinas. Com o envelhecimento a medula 
óssea tem reduzida a capacidade de expansão da 
população de linfócitos B. 
Estes linfócitos são estimulados de forma menos 
eficiente, fazendo surgir uma população de 
linfócitos B de memória cada vez maior e de 
linfócitos virgens (naïve) cada vez menor, 
reduzindo a capacidade de reconhecer novos 
antígenos. Enquanto os títulos de anticorpos para 
partículas estranhas e a resposta imune 
secundária caem com a idade, os autoanticorpos 
aumentam. Aumenta a frequência da 
autorreatividade que parece se originar na 
diminuição do potencial de regulação imune, ou 
talvez pelo fato de que o sistema imune também 
preencha a função de remover material autólogo 
danificado. 
Geralmente estes autoanticorpos são IgM e IgG de 
baixa afinidade A afinidade do anticorpo é crítica 
na resposta imune, já que é ela quem determina a 
força e a especificidade com a qual o anticorpo se 
ligará ao antígeno. Anticorpos com alta afinidade 
são capazes de se ligar mais avidamente, 
formando o chamado complexo imune, tornando 
mais eficiente a eliminação do antígeno. 
Anticorpos de baixa afinidade, por sua vez, são 
pouco específicos e pouco eficientes na 
eliminação do antígeno e apresentam, além disso, 
mais reações cruzadas com outros antígenos. O 
declínio na resposta dos anticorpos e a diminuição 
de sua ligação (afinidade) com o antígeno 
aumentarão o estado de anergia (não 
responsividade ao antígeno). O fato de os 
anticorpos produzidos pelo linfócito B de 
indivíduos velhos serem de baixa afinidade se 
refletirá no menor percentual de eficácia na 
vacinação quando comparados a jovens. 
Além das células envolvidas em todo o processo 
de defesa, existem as proteínas mediadoras da 
resposta imunológica, as citocinas, que afetam 
desde a proliferação e a diferenciação até o 
estágio final de morte celular (apoptose). Entre as 
principais, destacamos as interleucinas (IL-1, IL-2 e 
IL-6), a interferona- γ (IFN-γ), o fator de necrose 
tumoral alfa (TNF-α), e o fator de crescimento 
tumoral (TGF). Estes mediadores apresentam-se 
alterados com o envelhecimento. 
As interleucinas possuem, entre outras funções, a 
de ativação dos linfócitos e a indução da divisão de 
outras células. Cada interleucina atua sobre um 
grupo limitado e específico de células que 
expressam receptores adequados para elas. Com 
o envelhecimento, diminui a produção 
interleucina-2 (IL-2), importante fator de 
crescimento para linfócito T. Além disso, células 
de doadores velhos não expressam receptor para 
IL-2 na mesma proporção. A mobilização do cálcio 
e a ativação para a progressão do ciclo celular 
estão modificadas nas células de indivíduos 
velhos. Enquanto algumas células podem não 
liberar interleucina-2 e interferona-γ 
adequadamente após a ativação, elas liberam 
outros fatores, como o TNF-α, com propriedades 
inflamatórias, interleucina-1, interleucina-6, mais 
do que os liberados por células de indivíduos 
jovens. 
A interleucina-6 está relacionada com distúrbios 
inflamatórios crônicos, e seus níveis parecem 
aumentar com a idade. Assim, existem perda da 
função celular, modificação na habilidade em 
responder aos eventos de ativação e modificações 
da resposta aos eventos desta ativação. 
FENÓTIPO SENESCENTE E CENTENÁRIOS 
O fenótipo do envelhecimento é determinado por 
um conjunto de eventos aleatórios associados a 
alguns predeterminados como o ambiente, a 
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genética, o equilíbrio químico hormonal e 
fenômenos epigenéticos. 
Os principais aspectos observados no 
envelhecimento imunológico caracterizam-se por 
uma resposta de ativação e efetora diminuída ou 
disfuncional tanto na resposta imune inata quanto 
na adaptativa, tendo no linfócito T sua principal 
expressão, uma vez que o timo já terá involuído 
completamente. 
Na imunidade inata os neutrófilos demonstram 
menor atividade quimiotática e fagocítica, e as 
células NK apresentam aumento numérico com 
menor capacidade citotóxica. 
Na imunidade adaptativa há atrofia do timo, 
desequilíbrio entre as células T virgens e as de 
memória, dificultando a indução de resposta 
imunológica adaptativa contra novos antígenos, 
além de uma alteração na produção de 
imunoglobulinas (anticorpos) pelos linfócitos B. 
Uma marcante característica do fenótipo 
senescente é a diminuição de células periféricas 
nativas (naïve) já depletadas pelo contato com 
antígenos ao longo da vida e não substituídas após 
a involução do timo e, portanto, convertidas a 
células de memória (imunidade adaptativa). Este 
fato limita a geração de novas células para fazer 
frente aos novos antígenos que se apresentarão 
durante o envelhecimento. 
Estas alterações concorrerão para o aumento da 
gravidade em caso de exigência defensiva aguda 
maior, ao mesmo tempo que a produção de 
mediadores inflamatórios e sua consequente 
estimulação antigênica prolongada podem dar 
origem a uma situação de cronicicidade 
inflamatória de baixo grau (inflamm-aging). Este 
processo tem impacto no meio interno, podendo 
mudar sua composição ao longo do tempo, uma 
vez que uma carga antigênica crônica formada por 
antígenos não eficientemente inativados e por 
restos celulares não completamente eliminados 
poderá estar envolvida na estimulação 
imunológica continuada e contribuir para a 
patogênese de doenças crônico-degenerativas. 
Estas alterações que estimulam a produção de 
citocinas pró-inflamatórias, proteases, 
quimiocinas, entre outros, são conhecidas como 
fenótipo secretor relacionado à senescência, que 
pode ser benéfico ou deletério, dependendo do 
momento no qual ele é desencadeado e por 
quanto tempo é mantido. 
O estado inflamatório prolongado, de baixa 
intensidade (inflamm-aging), é o resultado da 
ativação de macrófagos e linfócitos T dirigidos 
contra vírus comuns como por exemplo o Epstein-
Barr (EPV) ou o citomegalovírus (CMV). Trata-se de 
um desequilíbrio entre os agentes inflamatórios e 
a rede anti-inflamatória (pleiotropia antagônica), 
aumentando a morbidade. Tanto uma condição 
inflamatória subclínica como uma incapacidade do 
sistema imune em degradar estes produtos, ao 
mesmo tempo que, induzindo certa tolerância ao 
antígeno facilitando, a destruição de tecido sadio, 
esta distorção do reconhecimento, podem estar 
envolvidas na patogênese das doenças crônicas do 
envelhecimento bem como a ocorrência de 
fenômenos alérgicos e autoimunes. Em outras 
palavras, afonte antigênica tanto pode ser externa 
(vírus, bactérias) como endógena, derivada de 
macromoléculas alteradas que continuam a 
estimular a atividade dos macrófagos. 
Concentrações elevadas de interleucina-6 (IL-6) e 
fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) são 
relacionados como preditores de fragilidade, 
morbidade e mortalidade. Este fenômeno não é 
incompatível com a longevidade, uma vez que 
mesmo em centenários pode ser encontrado, 
entretanto, aumenta sua vulnerabilidade. A maior 
sobrevivência associada a uma boa qualidade de 
saúde dependerá do nível particular de citocinas 
anti-inflamatórias e de um “genótipo protetor”. 
Dessa forma os centenários parecem estar 
equipados com variantes de genes que lhes 
permitem otimizar o equilíbrio entre os agentes 
pró e anti-inflamatórios. Os marcadores genéticos 
encontrados no fenótipo pró�inflamatório 
relacionados a doenças comuns no 
envelhecimento estão sub-representados nos 
centenários ao mesmo tempo que mediadores 
anti-inflamatórios estão representados de forma 
mais importante neste grupo, chamando a 
atenção para o controle genético desta condição. 
Estudos epidemiológicos em diferentes 
populações indicam a presença de forte 
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componente familiar. Estes estudos revelam que 
parentes de longevos, mas não cônjuges, têm 
maior chance de serem longevos também e 
correrem menor risco de sofrer de doenças 
crônico-degenerativas como diabetes, doenças 
cerebrovasculares e câncer. 
Centenários em boas condições de saúde parecem 
ser capazes de neutralizar estas respostas 
inflamatórias, mas não são capazes de alterar a 
competência imunológica contra agentes 
infecciosos. Deve-se considerar que a longevidade 
depende também de outros fatores não 
exclusivamente genéticos. Dessa forma, o 
fenótipo senescente parece refletir não apenas 
uma função prejudicada, mas uma desregulação. 
A longevidade e o envelhecimento saudável têm 
sido relacionados também com altos níveis de 
citotoxicidade das células NK que desempenham 
importante papel contra células infectadas por 
vírus e tumores, enquanto baixos níveis funcionais 
têm sido associados ao aumento da morbidade e 
mortalidade por infecções, má resposta a 
vacinação contra a gripe e aterosclerose. 
Há ainda dois aspectos que vêm sendo estudados: 
o encurtamento dos telômeros e o estresse 
oxidativo igualmente envolvidos na diminuição da 
eficiência imunológica relacionada à idade. Tal 
fenótipo, a chamada senescência celular 
replicativa, indica que a capacidade de proliferar 
chegou à exaustão com o encurtamento máximo 
dos telômeros. Essas modificações poderiam 
explicar o aumento da morbidade relacionado 
com o envelhecimento, incluindo não somente as 
doenças infecciosas, mas também doenças 
vasculares, demência e neoplasias. O declínio da 
função imune inata tem consequências sobre a 
imunidade adaptativa, uma vez que sua ação está 
intimamente relacionada. 
PAPEL NEUROENDÓCRINO 
O sistema imunológico se relaciona e é modulado 
quimicamente por padrões hormonais. 
Aumentam os estudos que relacionam sua 
eficiência com padrões de comportamento de 
humor. Quando uma infecção desencadeia uma 
resposta inflamatória as células do sistema imune 
inato produzem citocinas pró�inflamatórias que 
agem no cérebro provocando um “estado de 
enfermidade”. Se a ativação imunológica 
prossegue como durante uma infecção sistemica, 
um câncer ou uma doença autoimune, o resultado 
subsequente poderá ser uma sinalização para o 
cérebro de exacerbação do “estado de 
enfermidade”, com sintomas de depressão, 
agravados em indivíduos com maior 
vulnerabilidade. 
Ainda que os fatores que iniciam um estado de 
estresse psicológico e de estresse físico sejam 
diferentes, a forma pela qual eles afetam o 
sistema imunológico é parecida e inclui a ativação 
do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e o eixo 
simpático-adrenal-medular que, por sua vez, 
influenciarão o sistema imunológico. Um aumento 
do cortisol encontrado após trauma físico (fratura 
de bacia) está associado a uma diminuição da 
produção de superóxido pelos neutrófilos e 
aumento do risco de infecção. 
Assim, com o envelhecimento, condições 
estressantes emocionais (perdas, insegurança) ou 
físicas (traumas, doenças), ativarão os caminhos 
que poderão levar o eixo medular à depressão 
crônica, diminuindo a resposta imune. 
 
Ana Victória Ribeiro – M7