Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 DIREITO ELEITORAL GRAAL DA PROVA ORAL DO 29º CPR – 10/2018 Organizado por Valdir Monteiro Oliveira Júnior Sumário 1.O SUFRÁGIO UNIVERSAL ........................................................................................................ 4 1A. Direito à Democracia. Conceito Formal e Material de Democracia. Elementos Essenciais da Democracia. Democracia e Direitos humanos ................................................................... 4 8A. Sistemas Eleitorais. Democracia Indireta e Direta. Plebiscito e Referendo. Iniciativa Popular ................................................................................................................................. 7 2A. Direitos Políticos. O Direito ao Sufrágio. Voto Direto, Secreto, Universal e Periódico. .... 12 2.DIREITOS POLÍTICOS ............................................................................................................. 15 2A. Perda e Suspensão dos Direitos Políticos. ...................................................................... 15 5A. Condições de Elegibilidade ............................................................................................ 18 5B. Inelegibilidades Constitucionais e suas Espécies ............................................................ 19 3C. Inelegibilidades infraconstitucionais. Lei Complementar nº 64/1990. Lei Complementar nº 135/2010. Desincompatibilização. .................................................................................. 22 3.PARTIDOS POLÍTICOS ........................................................................................................... 26 1B. Partidos Políticos. Estatuto e limites à autonomia dos partidos políticos. Modo de criação, fusão e dissolução dos partidos políticos. Registro dos partidos políticos. .............. 26 4.JUSTIÇA ELEITORAL .............................................................................................................. 30 3A. Justiça Eleitoral. Jurisdição e competência. Composição. Juntas, juízes e Tribunais Regionais Eleitorais. Tribunal Superior Eleitoral. Atuação contenciosa, normativa e consultiva............................................................................................................................ 30 5.MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL.......................................................................................... 33 4C. A função eleitoral do Ministério Público Federal. Procuradoria-Geral Eleitoral. Procuradoria Regional Eleitoral. Ministério Público Estadual. .............................................. 33 6.AQUISIÇÃO DA CIDADANIA .................................................................................................. 36 7C. Alistamento: Conceito, Espécies e Procedimentos. Domicílio Eleitoral. Impossibilidade e Cancelamento do Alistamento. Fraude no Alistamento Eleitoral e Revisão do Eleitorado .... 36 7.PROPAGANDA ELEITORAL .................................................................................................... 41 7B. Propaganda eleitoral e suas modalidades. Poder de polícia e a propaganda eleitoral. Propaganda antecipada. Regramento da propaganda eleitoral em bens públicos, de uso comum e bens particulares. Meios de veiculação de propaganda e restrições. .................... 41 5C. Propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Debates. Direito de resposta. Pesquisas eleitorais. Propaganda eleitoral na imprensa escrita e internet. Comícios. Distribuição de material .............................................................................................................................. 50 2 6C. Propaganda intrapartidária. Propaganda partidária. Promoção e difusão da participação feminina pela propaganda partidária. Representação eleitoral por desvirtuamento da propaganda partidária: competência, legitimidade, processamento e sanções .................... 58 8B. Condutas vedadas aos agentes públicos nas campanhas eleitorais: regras materiais e processuais. ........................................................................................................................ 59 8C. Captação Ilícita de Sufrágio: Regras Materiais e Processuais .......................................... 65 8.ORGANIZAÇÃO DO ELEITORADO .......................................................................................... 69 2C. Organização do eleitorado. Seções, zonas e circunscrições eleitorais. Votação. Voto eletrônico e mecanismos de segurança. Mesas receptoras. Fiscalização. Apuração e totalização. Proclamação dos resultados. ............................................................................ 69 3B. Diplomação dos eleitos. Suplentes. Nulidades e novas eleições. Prerrogativas e vedações aos eleitos após a diplomação ............................................................................................. 72 9.CONVENÇÕES PARTIDÁRIAS E REGISTRO DE CANDIDATURA ................................................. 74 6A. Atuação do Pré-Candidato e seu Regime Jurídico. Convenção Partidária. Validade. Prazo de Realização e Forma de Deliberação. Coligações. ............................................................. 74 9B. Registro de Candidatura. Vagas e reserva por sexo. Requisitos e documentos. Diligências. Controle de ofício pelo Poder Judiciário Eleitoral. Substituição de candidaturas. ................. 76 9C. Inclusão Eleitoral da Pessoa com Deficiência. Regras de Estímulo à participação política feminina. Regramento do voto do preso provisório. ............................................................ 81 10.ARRECADAÇÃO DE RECURSOS E PRESTAÇÃO DE CONTAS NAS CAMPANHAS ELEITORAIS .... 85 10A. Fidelidade Partidária e sua proteção. Financiamento de Partidos Políticos. Financiamento das campanhas eleitorais, doações eleitorais e ações pertinentes. Fundo Partidário e sua fiscalização................................................................................................. 85 4A. Prestação de contas dos partidos políticos. Prestação de contas de campanha. Arrecadação de recursos e gastos nas campanhas eleitorais. Procedimento de prestação de contas, competência para julgamento e efeitos da decisão. ................................................ 90 2B. Abuso do Poder Econômico, Político e dos Meios de Comunicação Social...................... 91 12.RECURSOS E AÇÕES ESPECIAIS ELEITORAIS ......................................................................... 93 7A. A Ação de Impugnação do Registro de Candidatura. Legitimidade. Processamento e seus efeitos. Demonstrativo de validade de atos partidários. ...................................................... 93 2B. Ação de investigação judicial eleitoral. .......................................................................... 98 9A. A Representação Eleitoral por Captação e Gastos Ilícitos ............................................. 100 4B. Recursos eleitorais cíveis. Legitimidade recursal. Espécies e cabimento. Processamento dos recursos. Sustentação oral nos tribunais. .................................................................... 103 1C. Recurso contra a Expedição de diploma. Ação de impugnação de mandato eletivo. Ação rescisória eleitoral. ............................................................................................................ 107 13.CRIMES ELEITORAIS E PROCESSO PENAL ELEITORAL ......................................................... 114 3 10B. Crimes eleitorais. Natureza e tipicidade dos crimes eleitorais. As penas. Os crimes previstos no código eleitoral. Os crimes eleitorais previstos na legislação esparsa. ............ 114 10C. Procedimento das ações penais eleitorais perante o Tribunal Regional Eleitoral e seus recursos. Habeas corpus erevisão criminal na Justiça Eleitoral. Recursos das decisões do Tribunal Superior Eleitoral ................................................................................................. 117 6B. Processo penal eleitoral. A polícia judiciária eleitoral. Crimes eleitorais próprios, conexos e competência. Prerrogativa de foro. Aplicação subsidiária do processo penal comum. Recursos eleitorais criminais. O procedimento preparatório eleitoral. ............................... 120 4 1.O SUFRÁGIO UNIVERSAL 1.1 Direito à democracia. Conceito formal e material de democracia. Elementos essenciais da democracia. Democracia e direitos humanos. (1.a) 1.2 Sistemas eleitorais. Democracia indireta e direta. Plebiscito e referendo. Iniciativa popular. (8.a) 1.3 Direito ao sufrágio. Voto direto, secreto, universal e periódico. (2.a) 1A. Direito à Democracia. Conceito Formal e Material de Democracia. Elementos Essenciais da Democracia. Democracia e Direitos humanos Rafael Veloso I. Direito à Democracia Os direitos políticos, na teoria dos status de Jellinek, representam o “status ativo”, abarcando os direitos de (i) votar e (ii) e ser votado, (iii) de fiscalizar a ação do poder, (iv) de representar para provocar a ação do poder, (v) de participar do procedimento de tomada de decisão por parte do poder e (vi) de aceder a cargos públicos. O regime democrático se pauta na prevalência da vontade da maioria na escolha dos governantes e na tomada de decisões do Poder Público. II. Conceito Formal e Material de Democracia Conceito de democracia (princípio fundamental, fundamento e valor essencial das sociedades ocidentais). Segundo JOSÉ JAIRO GOMES, são princípios fundamentais de direito eleitoral: i) democracia; ii) democracia representativa; iii) Estado Democrático de Direito; iv) soberania popular; v) republicano; vi) federativo; vii) sufrágio universal (direito público subjetivo democrático, pelo qual um conjunto de pessoas - o povo - é admitido a participar da vida política da sociedade, ou seja, votar e ser votado. Enquanto o sufrágio é um direito, o voto representa seu exercício. Além disso, o escrutínio representa a maneira como o processo de votação se perfaz. Vide, nesse tocante, a ADI 4543/DF, em que foi deferida medida cautelar para suspender a eficácia de dispositivo que tratava do “voto impresso” – art. 5º, Lei 12034/2009); viii) legitimidade; ix) moralidade; x) probidade; xi) igualdade ou isonomia. Indo além, referido autor afirma que, mais que princípio, a democracia constitui fundamento e valor essencial das sociedades ocidentais (GOMES, José Jairo). Democracia formal ou procedimental: conjunto de regras e procedimentos que assegura o exercício do poder como reflexo da vontade da maioria de determinada sociedade, sem que se leve em consideração o conteúdo das decisões tomadas. Democracia material ou substancial: além da democracia formal agrega a adoção de decisões voltadas à preservação de direitos humanos e a obtenção da igualdade e da justiça social. Tem uma dimensão substantiva, que envolve a proteção dos direitos fundamentais de todos, inclusive e sobretudo das minorias. II. Elementos Essenciais da Democracia Para a Resolução n. 47/2000 da extinta Comissão de Direitos Humanos da ONU: I) acesso e exercício do poder de acordo com o Estado de Direito (rule of law); II) realização de eleições periódicas e justas, pelo sufrágio universal e secreto, assegurando-se a livre manifestação da vontade popular; III) pluralismo partidário; IV) separação de poderes; V) 5 independência do Poder Judiciário; VI) transparência e responsabilização do Poder Público; e VII) liberdade de informação e expressão jornalística. Para a Carta Democrática Interamerica da OEA/2001: são elementos essenciais da democracia representativa, entre outros: I) o respeito aos direitos humanos; II) o acesso ao poder e seu exercício com sujeito ao Estado de Direito; III) a celebração de eleições periódicas, livres, justas e baseadas no sufrágio universal e secreto como expressão da soberania do povo; IV) o regime pluralista de partidos e organizações políticas; e V) a separação e independência dos poderes públicos. III. Democracia e Direitos Humanos O tratamento da matéria em âmbito internacional. I) O art. XXI da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948 e o art. 25 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, elevaram a democracia ao status de direitos humanos (José Jairo Gomes, p. 46). II) Em 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU (que substituiu a extinta Comissão de Direito Humanos) adotou a Resolução n. 19/36, denominada “Direitos Humanos, Democracia e Estado de Direito”, pela qual se reafirmou que o respeito aos direitos humanos e a preservação da democracia são interdependentes e se reforçam mutuamente. III) Em 2015 a Resolução n. 28/14 do Conselho de Direitos Humanos estabeleceu um fórum sobre direitos humanos, democracia e Estado de Direito, que visa discutir medidas para o fortalecimento dos direitos humanos e as democracias do século XXI. Relação entre democracia e Direitos Humanos: o regime democrático não pode ser definido sem a proteção dos direitos humanos; por sua vez os direitos humanos só encontram um ambiente de promoção em sociedades democráticas. Democracia proposta no âmbito internacional: é uma democracia substancial ou material, uma vez que importa o teor das decisões tomadas, que devem promover os direitos humanos, a diversidade, inclusão e igualdade de todos, mesmo os que pertencem a grupos vulneráveis. Fica consolidado o direito à democracia: que não se resume ao direito do indivíduo de participar de eleições periódicas, mas também exige que o regime democrático seja materialmente conforme aos direitos humanos, promovendo a sociedade inclusiva. Questões anteriores do MPF: João Heliofar 05/10/2015 - 28 oral - Resposta de Gabriela Tavares: 1) Normalmente se diz que no brasil a democracia é semi direta. O que isso significa? Resposta: A democracia direta é aquela em que o cidadão pode participar sem qualquer intermediação do processo político, do jogo político, e a democracia brasileira é semi direta, porque é representativa, a gente escolhe os representantes que terão um mandato e que atuarão de forma indireta, justamente mediante o voto, mas também há instrumentos de democracia direta, como por exemplo o plebiscito, o referendo, a ação popular, são instrumentos de democracia direta. O plebiscito e o referendo possuem feições muito próximas: o referendo ocorre a posteriori, ou seja, o Congresso Nacional vota e depois requer que aquilo seja referendado pela população; já o plebiscito ocorre de forma prévia, justamente para saber se há o consentimento da sociedade em relação a determinada matéria que será aprovada, como por exemplo ocorreu na Constituição para saber a forma de governo e a forma de Estado, foi instrumentalizada por meio de plebiscito. Já a Ação Popular, a meu ver, seria a maior forma, a maior expressão dessa... 2) Ação Popular? Resposta: É, seria a maior... 6 3) Ou seria iniciativa popular? Resposta: É, iniciativa popular, reformulando. Mas a ação popular também seria uma forma de democracia direta, mas a iniciativa popular ela é, a meu ver, a maior forma de expressão da democracia direta justamente porque a iniciativa parte da população. Então, por exemplo, a Lei da Ficha Limpa teve uma forte adesão da sociedade, e o professor Daniel Sarmento afirma que, nessas hipóteses, a presunção de constitucionalidade dessa lei é superior à de outras leis aprovadas pelo Parlamento, justamente diante dessa forte comoção popular, diantedessa forte adesão popular. É a mesma hipótese agora das 10 medidas do MPF contra a corrupção, que também será por iniciativa popular. Então, se exige aquele quórum, aquelas condições previstas na Constituição Federal, e, uma vez aprovada, essa lei possui uma hierarquia axiológica em relação às demais leis do ordenamento. A ação popular também é uma expressão da democracia direta... 4) Doutora, interessante isso que a senhora está falando. Quer dizer que a presunção de constitucionalidade das leis de iniciativa popular é maior? Ela é mais constitucional, então, que as outras? Resposta: O Daniel Sarmento fala, ao tratar do princípio da presunção de constitucionalidade, que existem algumas normas que nascem com presunção de inconstitucionalidade, por exemplo, uma lei aprovada pelo Congresso que objetivasse alterar a LC 64, pois a Lei da Ficha Limpa foi aprovada por meio de uma forte comoção popular. Então, eventual alteração vai precisar de um ônus argumentativo muito maior, o Parlamente precisaria teria esse ônus. Seria, então, uma hierarquia axiológica, não uma hierarquia formal. Então, a LC 135 possui presunção de constitucionalidade superior, reforçada. É interessante, porque justamente acaba invertendo o ônus da prova: quem for editar uma lei que possua como objetivo restringir alguma norma protetiva da Lei Complementar 64 terá um ônus argumentativo muito maior. E a ação popular também é uma forma de democracia direta, porque permite ao cidadão, ou seja, aquele que possui 16 ou 18 anos, nos seus amplos direitos políticos, que ele pode de forma direta ajuizar uma ação popular para anular eventual ato que seja contrário a.... 5) Menor de 18 anos pode propor ação popular? Resposta: Desde que com 16 anos e que ele tenha sido alistado, aí ele poderá propor essa ação popular com o objetivo de anular um ato lesivo àqueles interesses elencados na Lei de Ação Popular. 6) Desde que seja menor de 18 anos, mas se for eleitor, pode propor ação popular? Resposta: Acredito que sim, Excelência, porque se ele está com gozo dos direitos políticos... 7) Ele está no pleno gozo dos direitos políticos? Resposta: Ele é considerado cidadão... 8) Ele está no pleno gozo dos direitos políticos? Resposta: Não, só a capacidade eleitoral ativa, e não passiva. Então, acredito que justamente por partir da iniciativa do cidadão [a ação popular] não teria problema. 9) No caso de desmembramento de estado, qual o instrumento de consulta que se faz? Resposta: Um plebiscito. Deve-se ouvir previamente as populações interessadas de ambos os Estados para ver se elas concordam ou não, e isso é feito por meio de plebiscito. Exige-se também uma lei federal regulamentando. Esse plebiscito vincula, obviamente. Observações finais retiradas de questões de cursos preparatórios 1) Há três princípios que são correlacionados à cítrica doutrinária à concepção de democracia: São eles: I) princípio da ruptura ou separação, II) princípio da redução e III) princípios da abstração e idealização. Dentro do princípio da redução encontram-se casos significativos quando se pensa que a política e a democracia se circunscrevem à ação de determinados indivíduos carismáticos e excepcionais; ou quando se reduz o político, a política e a democracia a algumas instituições privilegiadas, como podem ser os partidos políticos ou a figura das eleições. O exemplo mais grotesco de simplificação é aquele em que só representam a democracia o voto e as eleições. 7 2) Os principais desafios que se põem à democracia, aos Direitos humanos e ao Estado de Direito, segundo a AGONU e a antiga Comissão de Direitos Humanos, nomeadamente: (i) Uma pobreza crescente; (ii) Ameaças à segurança humana; (iii) Desrespeito dos direitos individuais e entraves ao exercício das liberdades fundamentais; (iv) Erosão do Estado de direito no contexto da luta contra o terrorismo; (v) Ocupação ilegal acompanhada do uso da força; (vi) Escalada dos conflitos armados; (vii) Acesso desigual à justiça por parte dos grupos desfavorecidos e, (viii) Impunidade. O erro da alternativa está em afirmar que o acesso igual à justiça por parte dos grupos desfavorecidos foi elencado como desafio à democracia, aos direitos humanos e ao Estado de Direito pela ONU. 3) São elementos principais da democracia moderna: a igualdade, participação, governo da maioria e direitos da minoria, primado do direito e do julgamento justo, compromisso com os direitos humanos, pluralismo político, eleições livres e justas e divisão de poderes. 4) São garantias institucionais da democracia, dentre outras, as seguintes: I) Legislação eleitoral ativa e passiva (universal, livre, igual e secreta); II) Liberdade de organização; III) Liberdade de comunicação; IV) Governo efetivo; V) Respeito à legalidade; VI) Mecanismos (políticos) de accountability. 8A. Sistemas Eleitorais. Democracia Indireta e Direta. Plebiscito e Referendo. Iniciativa Popular Rafael Veloso I. Sistemas Eleitorais 01) SISTEMAS ELEITORAIS: Sistema eleitoral “identifica as diferentes técnicas e procedimentos pelos quais se exercem os direitos políticos de votas e ser votado”, incluindo-se nesse conceito “a divisão geográfica do país para esse fim, bem como os critérios de cômputo votos e de determinação dos candidatos eleitos” (STF, ADI 5081, trecho do voto do Min. Luís Roberto Barroso). Atualmente, existem três sistemas eleitorais: o majoritário, o proporcional e o misto: 01.1) SISTEMA MAJORITÁRIO: I) CONCEITO: é eleito o candidato que recebe o maior número de votos em determinado distrito/circunscrição eleitoral. Pode-se exigir maioria absoluta ou relativa e realizar-se em turno único ou em dois turnos. II) ORIGEM: parlamento inglês. A Inglaterra adotou o voto direto e nominal em 1265 e o sistema majoritário em 1430, inicialmente em distritos plurinominais e, posteriormente, uninominais. III) É ADOTADO NO BRASIL PARA: a eleição dos chefes do Poder Executivo e dos Senadores, ocorrendo em turno único para a eleição de senadores e de prefeitos e vices em municípios com menos de 200 mil eleitores e em turno duplo (se não houver maioria absoluta no primeiro turno) nos demais casos. IV) SEGUNDO HELIOFAR (2014), SUAS VANTAGENS SÃO: ser de fácil compreensão pelo eleitor; gerar maior vínculo entre comunidade e seu representante; reduzir os custos de campanha, conforme delimitação do distrito; gerar maior estabilidade do governo e inibir a pulverização partidária. V) JÁ AS SUAS DESVANTAGENS SÃO: a ausência de espaço representativo de minorias; a dificuldade de definição do desenho distrital, influenciada por interesses políticos; o enfraquecimento dos partidos políticos, que se tornam mero veículo para lideranças locais. VI) MÉTODOS: VI.a) UNINOMINAL/DISTRITAL: o país é dividido em tantos distritos quantas forem as vagas a serem preenchidas, assim, cada distrito elege apenas um representante, sendo que cada partido apresenta apenas um candidato por distrito. É o método mais praticado entre os países que adotam o sistema majoritário. Em regra, adota-se o mecanismo da maioria simples/relativa e turno único (ex. Canadá, Reino Unido, EUA). A França, excepcionalmente, adota dois turnos, do qual participam todos os candidatos que tenham recebido pelo menos 12,5% de votos; VI.b) PLURINOMINAL (“DISTRITÃO”): neste método cada distrito elege dois ou mais representantes, conforme opção legislativa. Cada partido apresenta tantos candidatos quanto o número de vagas em disputa [obs: Era o método defendido na PEC 54/2007, arquivada em 2014]. 8 01.2) SISTEMA PROPORCIONAL: I) CONCEITO: importa a proporção de votos recebidos pelo partido, que corresponderá ao número de cadeiras que lhe serão atribuídas. Tem como propósito a correção das distorções do sistema majoritário, protegendo os interesses das minorias, fortalecendo o regime democrático e assegurando aos partidosuma representação correspondente à sua força. Assim, dá ênfase à representatividade do mosaico social existente. II) ORIGEM: Tem origem histórica na Europa e foi adotado pela primeira vez na Bélgica, em 1899. É uma tendência mundial, sendo adotado por mais da metade dos países democráticos do mundo. III) NO BRASIL: foi implantado pelo Código Eleitoral de 1932 e é adotado para a eleição de deputados federais, deputados estaduais e vereadores. IV) SEGUNDO HELIOFAR (2014), SUAS VANTAGENS SÃO: a efetiva representação democrática; a representatividade das minorias; e o fortalecimento dos partidos (no sistema de lista fechada). V) CONTUDO, TEM COMO DESVANTAGENS: gerar problemas de governabilidade, tendo em vista a diversidade ideológica da composição do Parlamento e dificuldade de formação de coalizões; gerar a multiplicação de partidos, com pulverização e fragmentação da representação popular. VI) MÉTODOS: VI.a) SISTEMA DE LISTA ABERTA: no qual a votação nominal define a ordem de preenchimento das cadeiras. Tem como desvantagens a competição entre candidatos do mesmo partido (“exército de brancaleone”), gerando individualismo e falta de coesão partidária; e o fato das campanhas, e toda a estrutura relacionada (arrecadação, comitê, prestação de contas), serem individuais e realizadas em toda a circunscrição, resultando em custos altíssimos e inviáveis para um candidato normal. É adotado no Brasil, Dinamarca, Finlândia e Chile, por exemplo; VI.b) SISTEMA DE LISTA FECHADA: em que as cadeiras serão ocupadas conforme ordem preestabelecida por lista apresentada pelo partido. Adota-se o voto em legenda. Tem como vantagens a redução drástica dos custos da campanha, já que não haverá campanhas individuais; e a definição ideológica do partido na campanha. Adotado na Espanha, África do Sul, Itália, Portugal, Israel, Ucrânia, Uruguai, etc; e VI.c) SISTEMA DE LISTA FLEXÍVEL: segundo o qual o Partido Político preordena a lista. O eleitor pode votar na legenda ou num nome da lista. Conforme a votação nominal alcançada, a ordem da lista pode ser alterada. A experiência internacional demonstra que tende a prevalecer a lista preestabelecida. Este método foi proposto pela comissão de reforma política da Câmara de Deputados relatada pelo Deputado Federal Henrique Fontana e é adotado na Bélgica e na Holanda. 01.3) SISTEMA MISTO: I) CONCEITO: É, na realidade, uma combinação dos sistemas majoritário e proporcional, com variações conforme o local em que adotado. II) O MODELO ALEMÃO: é o mais conhecido. Nele, os eleitores possuem dois votos: um no representante do distrito (voto distrital uninominal por maioria simples) e outro no partido (sistema proporcional de lista fechada). A votação na legenda define a quantidade de cadeiras conquistadas pelo partido. As cadeiras são ocupadas primeiramente pelos representantes eleitos pelo voto distrital e as restantes, conforme a lista fechada. Caso o partido obtiver número de cadeiras inferior ao número de representantes distritais eleitos a ele filiados, serão adicionadas cadeiras suplementares ao Parlamento. III) OUTROS PAÍSES: É adotado, com algumas variações, pelo Japão, Coréia do Sul e Lituânia. IV) NO BRASIL: Foi cogitado pela Assembléia Constituinte de 1988, no projeto Afonso Arinos, mas foi derrotado. V) É APONTADO POR HELIOFAR COMO O MELHOR MODELO, MAS TEM COMO DESVANTAGENS: a complexidade, a dificuldade de compreensão pelo eleitor e a dificuldade na definição dos distritos. No caso brasileiro, tem como desvantagem adicional o fato de que sua implantação demandaria uma reforma por meio de emenda constitucional. 01.4) ANÁLISE CRÍTICA DO MODELO BRASILEIRO (HELIOFAR, 2014): O modelo brasileiro, proporcional de lista aberta, traz como desvantagens a falta de governabilidade, a multiplicação e enfraquecimento dos partidos, o personalismo e o altíssimo custo de campanha, principal causa da corrupção. Em outros países, os dois primeiros problemas costumam ser contornados pela adoção de cláusulas de barreira. Contudo, o STF julgou inconstitucional tal previsão (ADI 1351 e 1354). Além disso, a possibilidade de formação de coligações é uma distorção do sistema, 9 permitindo a criação de partidos sem ideologia e representatividade. As grandes dimensões das circunscrições eleitorais bem como a alta quantidade de representantes eleitos por circunscrição potencializam os problemas da lista aberta. Heliofar defende que o sistema eleitoral existente hoje no Brasil [eleição proporcional com lista aberta e votação nominal] não é racional e fomenta distorções do sistema político e a corrupção, em especial considerando os altos custos exigidos para a realização das campanhas eleitorais. A alternativa mais viável, segundo ele, seria a adoção do sistema proporcional com lista fechada, que poderia ser concretizada por legislação ordinária e reduziria drasticamente os custos de campanha. Teria como vantagens o fortalecimento dos partidos, a redução do personalismo com ênfase nas propostas e o fim do domínio econômico sobre as campanhas, tornando viável o financiamento público das campanhas. A grande crítica a essa opção é o risco de que a elaboração das listas fique a cargo das lideranças partidárias, com sujeição do poder ao seu exclusivo interesse gerando grave distorção da representação política. Contudo, esse risco poderia ser contornado pela regulamentação da forma de confecção da lista, impondo-se um modelo de ampla participação dos filiados e divulgação das convenções, inclusive com fiscalização pela justiça eleitoral. Seria possível também determinar a observância da diversidade na composição das listas, incluindo setores sub-representados, como as mulheres. II. Democracia Indireta e Direta 02.1) CONCEPÇÕES SOBRE A DEMOCRACIA: I) A IDÉIA CENTRAL DE DEMOCRACIA (FRIEDRICH MULLER): reside na “determinação normativa do tipo de convívio de um povo pelo mesmo povo”, indo além da estrutura de textos para abarcar um nível de tratamento das pessoas, como membros do Soberano. II) FÓRMULA DE ABRAHAN LINCOLN: “governo do povo, pelo povo e para o povo”. III) CONCEPÇÃO MODERNA (FERREIRA, 1889): abarca o governo constitucional das maiorias que, sobre a base da liberdade e da igualdade concede às minorias o direito de representação, fiscalização e crítica parlamentar; IV) CONCLUSÃO (GOMES, 2016): assim, a democracia autêntica requer o estabelecimento de debate público permanente acerca dos problemas relevantes da vida social, com acesso livre e geral a fontes de informação e possibilidade de preenchimento de espaços contramajoritários (audiências públicas, consulta prévia, participação em conselhos, manifestações, etc.), o que modernamente é associado aos direitos políticos em sentido amplo. 02.2) A PARTICIPAÇÃO POPULAR É PRESSUPOSTO BÁSICO DA DEMOCRACIA, TENDO SIDO CONCEBIDA EM TRÊS MODELOS: I) DEMOCRACIA DIRETA: modelo clássico que tem como paradigma o autogoverno ateniense dos séc. V e VI a.C, mas impraticável sob o modelo de sufrágio universal; II) DEMOCRACIA INDIRETA/REPRESENTATIVA: a participação dos cidadãos se dá pela escolha de representantes que receberam um mandato que os habilita a tomas as decisões político administrativas conforme julgarem conveniente, sem qualquer vinculação jurídica à vontade dos eleitores. Atualmente a representação política é intermediada pelos partidos, sendo a filiação uma condição de elegibilidade no Brasil (art. 14, par. 3º, CRFB). Atualmente, discutem-se mecanismos de maior controle popular sobre o mandatário, como através do instituto do recall. III) DEMOCRACIA SEMIDIRETA/MISTA: objetiva conciliar os dois modelos anteriores. O governo e o parlamento são formados por representação, mas são previstos mecanismos de intervenção direta dos cidadãos. É o modelo adotado no Brasil, segundo qual “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitosou diretamente, nos termos desta Constituição” (art. 1º, p.u., CRFB). Assim, “a democracia representativa é temperada com mecanismos próprios de democracia direta, entre os quais citem-se: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular (CF, art 14, I, II, III e art. 61§ 2º)” (Gomes. p. 40). III. Plebiscito, Referendo e Iniciativa Popular 10 03.1) NOÇÕES GERAIS: O plebiscito e o referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional administrativa ou legislativa (art. 2º da Lei 9709/98). Ambos estão previstos no art. 14 da Constituição Federal e regulamentados pela Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998. A diferença entre plebiscito e referendo concentra-se no momento de sua realização. 03.2) PLEBISCITO: I) CONCEITO: “(...) consiste na consulta prévia à edição de “ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido” (Lei 9709/98, art. 2º, §1º)” (Gomes. p. 40). (ex.: plebiscito sobre a monarquia de 1993). II) ART. 18, §§ 3º E 4º DA CRFB: a criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Estados e Municípios exige aprovação da população interessada mediante plebiscito. III) O TSE ENTENDE: “a criação de novos municípios somente será possível após a edição da lei complementar federal” (Pet 2.971/BA, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 30.4.2009), observada a convalidação das alterações realizadas até 31/12/2006 (art. 96 ADCT). IV) JULGADO RELEVANTE DO STF: STF - Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 7º da Lei 9.709/98. Alegada violação do art. 18, § 3º, da Constituição. Desmembramento de estado-membro e município. Plebiscito. Âmbito de consulta. Interpretação da expressão “população diretamente interessada”. População da área desmembranda e da área remanescente. Alteração da Emenda Constitucional nº 15/96: esclarecimento do âmbito de consulta para o caso de reformulação territorial de municípios. Interpretação sistemática. Aplicação de requisitos análogos para o desmembramento de estados. Ausência de violação dos princípios da soberania popular e da cidadania. Constitucionalidade do dispositivo legal. Improcedência do pedido. (...) 4. Sendo o desmembramento uma divisão territorial, uma separação, com o desfalque de parte do território e de parte da sua população, não há como excluir da consulta plebiscitária os interesses da população da área remanescente, população essa que também será inevitavelmente afetada. (ADI 2650, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 24/08/2011). V) EXEMPLOS: Quanto a plebiscitos, pode-se citar o: i) relativo à forma e ao sistema de governo no Brasil (monarquia parlamentar ou república; parlamentarismo ou presidencialismo), em 21 de abril de 1993, conforme previsão do art. 2º ADCT. ATENÇÃO: há quem sustente, como Ivo Dantas, que o sistema presidencialista e a forma republicana de governo adquiriram o status de cláusulas pétreas após o plebiscito de 1993; ii) também foram realizados plebiscitos no Estado do Pará, em 2011, sobre a possibilidade de desmembramento dessa unidade federativa e da criação de mais dois estados nessa região – Carajás e Tapajós. Na ocasião, o STF se manifestou sobre a abrangência da consulta, definindo que deveria ser consultada toda a população do Estado e não somente das regiões a serem alteradas (ADI 2650). 03.3) REFERENDO: I) CONCEITO: “É a consulta posterior à edição de “ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição” (Lei 9709/98, art. 2º, §2º)” (Gomes. p. 40/41). É uma consulta posterior sobre determinado ato ou decisão governamental, seja para atribuir-lhe eficácia que ainda não foi reconhecida (condição suspensiva), seja para retirar a eficácia que lhe foi provisoriamente conferida (condição resolutiva). (ex.: recente referendo sobre o uso de armas). II) AUTORIZAÇÃO DO CONGRESSO POR DECRETO (1/3): a realização de plebiscito e referendo em questões de relevância nacional depende de autorização do Congresso Nacional (art. 49, XV da CRFB), mediante decreto legislativo proposto por no mínimo 1/3 dos votos dos membros que compõem uma das Casas do Congresso Nacional, excetuados os casos expressamente previstos na Constituição (art. 18, §§3º e 4º da CRFB e art. 2º do ADCT). III) O PLEBISCITO E O REFERENDO ESTÃO SUBMETIDOS À RESERVA LEGAL EXPRESSA (art. 14, caput da CRFB). IV) NÃO SE ADMITE A CONVOCAÇÃO DE PLEBISCITO OU REFERENDO MEDIANTE INICIATIVA POPULAR. V) NOS DEMAIS ENTES FEDERADOS: Nas questões de competência dos Estados, DF e Municípios a forma de convocação é regulada pela Constituição Estadual e pela Lei Orgânica. VI) EXEMPLOS: O Brasil já realizou dois 11 referendos: (i) sobre o sistema de governo, em 6 de janeiro de 1963, durante a gestão de João Goulart, após curto período parlamentarista, no qual a população optou pelo retorno ao presidencialismo; (ii) e, em 23 de outubro de 2005, sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, com vistas à aprovação ou não do disposto no art. 35 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do desarmamento). Nesta consulta, maioria do eleitorado optou pela não proibição. O RESULTADO DE PLEBISCITO OU REFERENDO PODE SER ALTERADO POR LEI OU EMENDA À CONSTITUIÇÃO? Segundo Pedro Lenza, o legislador não pode contrariar a vontade popular, que passa a ser vinculante. Assim, a lei ou a EC contrárias à consulta seriam inconstitucionais por violação aos artigos 14, I ou II c/c art. 1º da Constituição. 03.4) INICIATIVA POPULAR: I) CONCEITO: “(...) é o poder atribuído aos cidadãos para apresentar projetos de lei ao Parlamento, desfechando, com essa medida, procedimento legislativo que poderá culminar em uma lei” (Gomes. p.41). II) PREVISÃO: A iniciativa popular está prevista no art. 61, §2º da CRFB e poderá ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos cinco Estados, com não menos 0,3% do eleitorado de cada um destes Estados. No caso de leis municipais, a iniciativa deve contar com a adesão de 5% do eleitorado. A iniciativa popular também é regulada pela Lei nº 9.709/98. Esta lei estabeleceu que o projeto de iniciativa popular deve se restringir a um único assunto e que não se pode rejeitar proposição decorrente de iniciativa popular por vício de forma (art. 13, §2º). III) SENTIDO: Como se observa, o povo não tem a capacidade de legislar diretamente, apenas possuindo a prerrogativa de apresentar o projeto de lei à Câmara que poderá, ou não, se tornar lei. IV) EXEMPLOS: Até hoje, foram aprovados quatro projetos oriundos de iniciativa popular: i) Lei 8.930/1994 (inclusão do homicídio qualificado como crime hediondo, após o caso Daniella Perez); ii) Lei 9.840/1999 (combate à compra de votos), iii) Lei 11.124/2005 (criação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social) e iv) Lei 11.124/2005 (Lei da Ficha Limpa). V) DIFICULDADE NA VERIFICAÇÃO DAS ASSINATURAS: Contudo, em todos os casos, dada a dificuldade de verificação das assinaturas, os projetos não tramitaram formalmente como leis de iniciativa popular, sendo “adotados” por parlamentares que os apresentaram como seus autores. Esta sistemática foi questionada no STF no caso do pacote das “10 Medidas contra a corrupção” e, após decisão do relator, realizou-se a conferência individualizada das assinaturas e autuou-se o projeto formalmente como de iniciativa popular (MS 34530 MC / DF). VI) ATENÇÃO: A doutrina majoritária não admite iniciativa popular em sede de emendas constitucionais, por entender que o rol do art. 60 da CRFB é taxativo, mas existem vozes em sentido contrário entendendo que por um critério de razoabilidade é admissível iniciativa popular de PEC com base na idéia de que o titular do Poder Constituinte é o povo, concepção inexoravelmenteligada à noção de soberania popular. 04) ARTIGOS INTERESSANTES: 04.1) CORRUPÇÃO: O OVO DA SERPENTE (HELIOFAR): I) CAUSA DA CORRUPÇÃO. O ovo da serpente, ou a causa, da corrupção não é a impunidade, mas sim o financiamento de campanha. II) EXCESSO DE CANDIDATOS, INVIABILIZANDO A FISCALIZAÇÃO: O atual sistema inviabiliza a fiscalização pela enorme quantidade de candidatos cujas contas de campanha demandam acompanhamento. Essa quantidade excessiva se deve ao fato de a campanha não ser por partido (como na maioria da Europa) nem por distrito (como nos EUA). III) ALTO CUSTO DAS CAMPANHAS: A campanha é encarecida pelo fato de os candidatos disputarem vagas até mesmo contra correligionários do partido. Ou seja, não podem contar com financiamento de seu partido. IV) RESULTADO: A necessidade absurda de obter recursos do setor privado torna a via lícita de arrecadação estreita demais, razão por que há um consenso silencioso na classe política 12 de que o caixa dois é uma necessidade inafastável. V) CONSEQUÊNCIA DO CAIXA DOIS: Cria um vínculo maldito entre financiador e candidato, pois a dívida que surge na campanha será paga na administração. VI) CONCLUSÃO: Só haverá mudança se o sistema eleitoral for alterado. 04.2) NÃO HÁ REFORMA POLÍTICA SEM REFORMA DO SISTEMA HELEITORAL – CONCLUSÕES: I) Os sistemas eleitorais existentes no mundo atendem às suas raízes históricas. II) O modelo brasileiro se mostra obsoleto e implica um custo insuportável para a democracia, sendo o ovo da serpente da corrupção. III) Dentre os sistemas existentes e praticados nas principais democracias do mundo, parece que o melhor deles é o sistema distrital misto, que concilia as vantagens do sistema majoritário e do sistema proporcional. Contudo, a necessidade de alteração constitucional o torna improvável. IV) Diante desse panorama, o sistema de lista partidária fechada, com uma regulamentação que garantisse a democratização na formação da lista (com ampla participação dos filiados em convenção), é certamente a melhor opção para se fazer uma profunda reforma no sistema brasileiro. Fortaleceria os Partidos Políticos, livraria o cenário político do personalismo exacerbado, diminuiria dramaticamente os custos da campanha e viabilizaria o financiamento público eleitoral. Nesse artigo, foi feito menção à expressão “Gerrymandering”: expressão americana que se refere ao uso de artifícios políticos para a definição de distritos que atendam ao interesse de determinado partido. Tem origem na proposta do governador Eldrigde Gerry, em 1812, cujo desenho lembrava uma salamandra (“salamander”). Relaciona-se ao problema de definição dos distritos eleitorais no sistema majoritário. 05) QUESTÕES ANTERIORES: 05.1) 18º CPR– Questão subjetiva: O que vem a ser plebiscito e referendo? Em que hipóteses podem ser realizados? 05.2) 28º CPR -ORAL - Examinador: João Heliofar de Jesus Villar: Fale sobre o histórico da Justiça eleitoral. Antes da sua implementação como era o sistema eleitoral? Como era o sistema de verificação dos poderes no regime anterior? Há alguma relação entre a Justiça Eleitoral e a Revolução de 30? Quais eram as causas/objetivos da reforma? 05.3) 28º CPR -ORAL - EXAMINADOR: JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR: O que significa democracia semidireta? No caso de desmembramento de Estado, qual o instrumento utilizado? 05.4) CONCLUSÕES RETIRADAS DE QUESTÃO DE CURSO PREPARATÓRIO: I) O veto popular legislativo é o instrumento que permite ao povo opor-se a uma lei já aprovada, mas ainda não vigente, por solicitação dos próprios eleitores. Na forma típica, consta de três momentos: a) o órgão legislativo aprova uma lei que não entra em vigor de imediato; b) o povo solicita que a lei seja submetida a sua manifestação; c) se a recusa for majoritária, a lei não subsiste. (Verdadeiro) II) O recall ou voto destituinte, previsto no ordenamento jurídico dos Estados Unidos, diferentemente do impeachment, NÃO exige acusação criminal ou comprovação de má conduta, sendo suficiente a perda da confiança da maioria dos eleitores. (Verdadeiro) III) O projeto de lei de iniciativa popular NÃO poderá abranger mais de um assunto, nos termos do art. 13, §1º, da Lei nº 9.709/1998 (Verdadeiro); 2A. Direitos Políticos. O Direito ao Sufrágio. Voto Direto, Secreto, Universal e Periódico. Renata Souza Materiais consultados: GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2018; RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018; Graal do 28º CPR; Mjolnir; Transcrições de provas orais ; Comentários de julgados do Dizer o Direito. 13 Direitos Políticos: Os direitos políticos ou cívicos, de acordo com José Jairo Gomes, são as prerrogativas e os deveres inerentes à cidadania, englobando o direito de participar direta ou indiretamente do governo, da organização e do funcionamento do Estado. Os direitos políticos são conferidos apenas aos nacionais que preencham determinados requisitos previstos na Constituição (povo), e não indistintamente a toda a população. Os direitos políticos relacionam-se à ideia de democracia. Na teoria dos status de Jellinek, os direitos políticos representam o status ativo (status activus). Os direitos políticos, consoante se extrai da CF, disciplinam as diversas manifestações da soberania popular, que é concretizada pelo sufrágio universal, pelo voto direto e secreto (com valor igual para todos os votantes), pelo plebiscito, referendo e iniciativa popular. - Cidadania x Nacionalidade: são conceitos que não podem ser confundidos. A nacionalidade é um status do indivíduo perante o Estado. A cidadania é um status relacionado ao regime político. Consequentemente, um sujeito pode ser brasileiro e não ser cidadão (exemplo: criança). Cumpre salientar que, embora no campo da ciência social a cidadania seja compreendida de forma ampla (abarcando direitos civis, políticos, sociais e econômicos), no Direito Eleitoral, os termos cidadão e cidadania são utilizados de modo restrito, envolvendo, somente, os direitos de votar e ser votado (jus suffragii e jus honorum). De acordo com José Afonso da Silva, “a cidadania se adquire com a obtenção da qualidade de eleitor, que documentalmente se manifesta na posse do título de eleitor válido.” - GOMES, p. 73. - Estatuto da Igualdade Brasil-Portugal (Decreto nº 3.927/2000): prevê que brasileiros em Portugal e portugueses no Brasil gozarão dos mesmos direitos e estarão sujeitos aos mesmos deveres dos nacionais desses Estados, com exceção daqueles direitos expressamente reservados pela Constituição de cada uma das partes aos seus nacionais. Tais benefícios não são automáticos, sendo atribuídos mediante decisão dos órgãos internos com competência para tanto. Exigem que os brasileiros e portugueses que o requisitarem sejam civilmente capazes e tenham residência habitual no país que pleiteiam. Havendo a equiparação, portugueses, independentemente de naturalização, podem gozar de direitos políticos no Brasil (para direitos políticos, deve haver o mínimo de três anos de residência habitual e o gozo de direitos políticos no Estado de residência importa na suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado da nacionalidade). O Direito ao Sufrágio: O sufrágio é o direito público subjetivo democrático, por meio do qual o povo é admitido a participar da vida política da sociedade. O sufrágio é a essência dos direitos políticos, traduzindo o direito de votar e ser votado. Nesta linha, o sufrágio apresenta duas dimensões: a) capacidade eleitoral ativa (cidadania ativa): direito de votar, de eleger representantes; e b) capacidade eleitoral passiva (cidadania passiva): direito de ser votado, de ser eleito. “Tal direito não é a todos indistintamente atribuído, mas somente às pessoas que preencherem determinadosrequisitos. Nos termos do artigo 14, §§ 1º e 2º, da Constituição, ele só é reconhecido: (a) a brasileiros natos ou naturalizados; (b) maiores de 16 anos; (c) que não estejam no período de regime militar obrigatório (conscritos). Quanto aos naturalizados, a cidadania passiva sofre restrições, já que são privativos de brasileiro nato os cargos de Presidente e Vice- Presidente da República. Não há impedimento a concorrem e serem investidos nos cargos de Deputado Federal e Senador. O que a Constituição lhes veda é ocuparem a presidência da Câmara Federal e do Senado (CF, art. 12, § 3º).” - GOMES, p. 72/73. - Classificação do sufrágio: 1. Universal x Restrito: a) Universal: no sufrágio universal, o direito de votar é conferido ao maior número possível de nacionais. São admissíveis, contudo, eventuais restrições fundadas em circunstâncias que naturalmente impedem a participação no processo político. O sufrágio universal, portanto, não se confunde com a ausência de restrições ao direito de votar e ser votado. 14 b) Restrito: o sufrágio restrito é aquele limitado a determinado grupo de indivíduos, a uma parcela dos nacionais. De acordo com a doutrina, são espécies de sufrágio restrito: b.1) Censitário: é o sufrágio fundado na capacidade econômica do sujeito. No Brasil, esta forma de sufrágio já foi adotada na Constituição Imperial de 1824 e, mais moderadamente, nas Constituições Republicanas de 1891 e de 1934. b.2) Cultural ou capacitário: é o sufrágio fundado na aptidão intelectual do sujeito. A CF/88 acolheu parcialmente esta espécie de sufrágio, pois nega capacidade eleitoral passiva aos analfabetos, considerados inelegíveis (art. 14, § 4º), embora estabeleça que estes podem votar, se quiserem. b.3) Masculino: é o sufrágio que veda a participação feminina no processo político. 2. Igual x Desigual: a) Igual: o sufrágio igual é uma decorrência do princípio da isonomia. O voto de todos os cidadãos apresenta idêntico peso, sendo irrelevantes circunstâncias como riqueza, idade, grau de instrução, naturalidade ou sexo. No sufrágio igual, todos têm o mesmo valor no processo político-eleitoral. É a máxima do one man, one vote. Importante salientar que, no que tange à capacidade eleitoral passiva, a CF limitou o sufrágio igual, fixando o critério etário como condição de elegibilidade para determinados cargos (exemplo: candidatos aos cargos de Presidente, Vice-Presidente e Senador devem contar com a idade mínima de 35 anos). b) Desigual: no sufrágio desigual, admite-se a superioridade de determinados votantes. “São exemplos de sufrágio desigual: o voto familiar, em que o pai de família detém número de votos correspondente ao de filhos; o voto plural ou plúrimo, em que o eleitor pode votar mais de uma vez na mesma eleição, desde que o faça na mesma circunscrição eleitoral; o voto múltiplo, em que o eleitor pode votar mais de uma vez na mesma eleição em várias circunscrições eleitorais” - GOMES, p. 75 - Sufrágio, voto e escrutínio: o voto representa o exercício do direito de sufrágio; o voto é a concretização do sufrágio. O escrutínio, de sua vez, indica a maneira como o processo de votação se perfaz (exemplo: escrutínio secreto ou público). Contudo, o termo escrutínio também pode identificar o processo de apuração dos votos depositados na urna (escrutinar = apurar os resultados de uma votação) e pode ser sinônimo de turno (a eleição pode se dar em primeiro ou segundo turno). Voto Direto, Secreto, Universal e Periódico: O voto é o ato pelo qual os cidadãos escolhem os ocupantes dos cargos políticos-eletivos. - Natureza jurídica do voto: para a doutrina da soberania popular, o voto é um direito. De outro lado, para a doutrina da soberania nacional, o voto é um dever, uma função política em benefício da coletividade e do Estado. José Jairo Gomes, assim como a maioria da doutrina brasileira, adota posição sincrética, no sentido de que o voto é um direito público subjetivo dotado de função social e política, função esta que legitima sua obrigatoriedade, como dever cívico. Já entendeu a jurisprudência que, sendo o voto um direito, a frustração no seu exercício, por falha no serviço estatal, enseja indenização ao seu titular. - Voto direto, secreto, universal e periódico: consoante previsto no art. 60, § 4º, II, da CF/88, o voto direto, secreto, universal e periódico é cláusula pétrea. - Voto direto: os governantes são escolhidos diretamente pelos cidadãos, sem intermediários nesse ato. No sistema brasileiro, o voto indireto é exceção, ocorrendo eleições indiretas no caso de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente da República nos últimos dois anos do período presidencial. - Voto secreto: o voto é sigiloso, não podendo o seu conteúdo ser revelado pela Justiça Eleitoral. O segredo é direito público subjetivo do eleitor e apenas ele, querendo, pode revelar seu voto. E ́nula a votação quando preterida formalidade essencial do sigilo dos sufrágios (art. 220, IV, do Código Eleitoral). Admite-se, excepcionalmente, o afastamento do sigilo do voto nos casos em que o eleitor seja uma pessoa com deficiência e houver necessidade de auxílio humano para a manifestação de sua vontade na urna eletrônica. A necessidade de preservação do sigilo do voto 15 fundamentou a concessão, pelo STF, de medida cautelar na ADI 5889, no sentido de afastar, para as eleições de 2018, o voto impresso, suspendendo o dispositivo introduzido pela minirreforma eleitoral de 2015 que determina a impressão do registro dos votos realizados em urna eletrônica. - Voto universal: característica do sufrágio (sufrágio universal). - Voto periódico: decorre do princípio republicano. Em intervalos regulares de tempo, os cidadãos devem comparecer às urnas para votar, renovando, assim, a representação política. Além das supracitadas características que, como dito, são cláusulas pétreas, o voto no Brasil também se reveste de: - Personalidade: o sujeito só pode votar pessoalmente, não sendo possível fazê-lo por procuração, representante ou correspondência. - Obrigatoriedade: no Brasil, o voto é obrigatório para os maiores de 18 anos e menores de 70 anos. - Liberdade: embora exista o dever de votar, o cidadão pode escolher livremente entre os partidos políticos e candidatos, votar em branco ou anular seu voto. - Igualdade: no processo político-eleitoral, os votos dos cidadãos têm o mesmo peso. * Questões de prova oral: - 27º CPR: Voto universal. Voto direto. Nacionalidade e cidadania. Tem alguma diferença na CF? Direitos políticos. - 28º CPR: No sentido estrito, no sentido jurídico, de que o sujeito precisa para alcançar a cidadania? É um pressuposto fundamental o alistamento? O brasileiro naturalizado pode ser candidato a governador? O que é sufrágio cultural? O caso do analfabeto é caso de sufrágio cultural? Sufrágio, voto e escrutínio. Defina e distinga para mim uma coisa da outra. O escrutínio no Brasil é aberto e não secreto? 2.DIREITOS POLÍTICOS 2.1 Direitos polıt́icos. Perda ou suspensão dos direitos polıt́icos. (2.a) 2.2 Condições de elegibilidade. (5.a) 2.3 Inelegibilidades constitucionais e suas espécies. (5.b) 2.4 Inelegibilidades infraconstitucionais. Lei Complementar nº 64/1990. Lei Complementar nº 135/2010. Desincompatibilização. (3.c) 2A. Perda e Suspensão dos Direitos Políticos. Renata Souza Materiais consultados: GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2018; RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2018; Graal do 28º CPR; Mjolnir; Transcrições de provas orais ; Comentários de julgados do Dizer o Direito. Perda e Suspensão dos Direitos Políticos: A CF/88 traz duas formas de privação de direitos políticos: perda e suspensão. A cassação de direitos políticos, largamente empregadapelo governo militar para afastar opositores do regime, é vedada, por expressa disposição constitucional. - Perda: perder é deixar de ter algo que se tinha; liga-se à definitividade; a perda é permanente, embora se possa recuperar o que se perdeu. - Suspensão: é a privação temporária de direitos políticos. - Natureza jurídica: Antônio Carlos Mendes acentua que a perda ou suspensão dos direitos políticos não constituem sanção penal, mas sanção constitucional de natureza não-penal. 16 - Consequências jurídicas da perda ou da suspensão: cancelamento do alistamento e exclusão do corpo de eleitores, cancelamento ou suspensão da filiação partidária, perda de cargo ou função pública, impossibilidade de ajuizar ação popular, impedimento para votar ou ser votado, impedimento para exercer a iniciativa popular e perda do mandato eletivo. - Hipóteses de perda ou suspensão de direitos políticos: previstas nos incisos do art. 15, da CF/88. “Parte da doutrina tem considerado os incisos I (cancelamento de naturalização) e IV (escusa de consciência) do citado art. 15 da Constituição como hipóteses de perda de direitos políticos. As demais são suspensão (...) No entanto, Cretella Júnior (1989, v. 2, p. 1122, nº 169) afirma que, na escusa de consciência, pode haver perda ou suspensão. Cremos, porém, que essa hipótese (e também a de incapacidade) é de suspensão ou de impedimento, não de perda” - GOMES, p. 11. I - Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado: o art. 12, § 4º, I, da CF/88, determina a perda da nacionalidade do brasileiro naturalizado que tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional. Também será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro nato que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. A perda da nacionalidade brasileira implica na perda dos direitos políticos ipso facto. II - Incapacidade civil absoluta: na sua redação atual, o art. 3º, do Código Civil, apenas estabelece os menores de 16 anos como absolutamente incapazes. Por força do Estatuto da Pessoa com Deficiência, os deficientes, em princípio, são plenamente capazes para o exercício de atos da vida civil; a restrição à capacidade civil é baseada na impossibilidade de a pessoa exprimir sua vontade e não na deficiência em si. Ao Poder Público cabe garantir ao deficiente os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em igualdade de condições com as demais pessoas, inclusive o direito de votar e ser votado. A interdição e a curatela não implicam necessariamente na suspensão dos direitos políticos, por dizerem respeito especialmente à prática de atos relacionados ao patrimônio. “A suspensão de direitos políticos fulcrada no artigo 15, II, da Constituição Federal deve ser reservada apenas aos casos em que a pessoa se tornar completamente inapta a formar e expressar o seu querer. Aqui, então, o juiz cível que decretar a interdição deverá comunicar esse fato à Justiça Eleitoral, de maneira que seja suspenso o alistamento do interditado, com sua consequente exclusão do rol de eleitores (CE, art. 71, II, e § 2º)” - GOMES, p. 16. III - condenação criminal transitada em julgado: a condenação criminal transitada em julgado enseja a suspensão de direitos políticos, enquanto perdurarem seus efeitos. Consoante a jurisprudência, trata-se de norma autoaplicável. “A suspensão de direitos políticos constitui efeito secundário da sentença criminal condenatória, exsurgindo direta e automaticamente com seu trânsito em julgado, independentemente da natureza ou do montante da pena aplicada in concreto. Por isso, não é necessário que venha gravada na parte dispositiva do decisum.” - GOMES, p. 17. A expressão condenação criminal abrange crimes de qualquer natureza e, igualmente, contravenções penais. Irrelevante o elemento subjetivo do tipo penal, havendo a suspensão dos direitos políticos, portanto, também em delitos culposos. A suspensão dos direitos políticos ocorre: a) ainda que a pena aplicada seja restritiva de direitos; b) mesmo que a pena seja somente pecuniária; c) ainda que o réu tenha sido beneficiado com o sursis (art. 77, do CP); d) mesmo que o réu tenha logrado livramento condicional (art. 83, do CP); e) ainda que a pena seja cumprida no regime de prisão aberto, albergue ou domiciliar. Também haverá suspensão dos direitos políticos no caso sentença penal absolutória imprópria (aplicação de medida de segurança). Por outro lado, no caso de transação penal e sursis processual, NÃO há suspensão dos direitos políticos, pois não há condenação criminal. “Os efeitos da suspensão dos direitos políticos somente cessam com o cumprimento ou a extinção da pena. Aqui se 17 compreendem todas as espécies de pena, a saber: privativas de liberdade, restritivas de direitos e multa (CP, art. 32). Nesse sentido, reza a Súmula nº 9 do TSE: A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos. Logo, a propositura de revisão criminal (CPP, art. 621) por si só não faz cessar os efeitos da condenação, de maneira a restaurar os direitos políticos.” - GOMES, p. 24. No que tange a alguns delitos, o legislador estabeleceu um tratamento mais gravoso para a ocorrência de condenação criminal. Assim, conforme dispõe o art. 1º, I, e, da LC nº 64/90, no caso de condenação transitada em julgada ou por órgão colegiado, pelos crimes ali elencados, o agente também ficará inelegível pelo prazo de 8 anos, após o cumprimento ou extinção da pena. Quanto à execução provisória da pena criminal, esta restringe-se ao efeito principal da condenação penal, que é a privação da liberdade, não afetando os direitos políticos, o que só ocorre com o trânsito em julgado; contudo, a depender do crime imputado ao réu, pode haver restrição à cidadania passiva, em razão da inelegibilidade prevista no art. 1º, I, e, da LC nº 64/90, já que existirá decisão condenatória proferida por órgão judicial colegiado. Por fim, é preciso analisar se a suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado acarreta a perda automática de mandato eletivo. Neste sentido, havendo condenação criminal transitada em julgado, haverá a perda imediata do mandato eletivo de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da República. Por outro lado, no caso de Deputados Federais e Senadores, há discussão se, ocorrendo condenação criminal, pelo STF, se dá a perda automática do mandato ou se isso ainda dependerá de uma decisão da Câmara ou do Senado, sendo possível a identificação de três correntes principais acerca do tema: 1ª Corrente: mesmo com a condenação criminal transitada em julgado, o Deputado ou Senador somente perderá o mandato se assim decidir, por maioria absoluta, a respectiva Casa Legislativa, nos termos do art. 55, VI e § 2º, da CF/88 (esta é o entendimento adotado pela 2ª Turma do STF - AP 996, julgamento em 29/05/2018). 2ª Corrente: se o parlamentar federal foi condenado criminalmente, com trânsito em julgado, o STF poderá determinar a perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP; nesse caso, a própria condenação já tem o condão de acarretar a perda do mandato e a Casa Legislativa deverá simplesmente cumprir a decisão; se o STF não determinou a perda do cargo, mesmo assim a Casa Legislativa pode decidir pela perda do cargo, com base no art. 55, § 2º, da CF/88 (o STF já adotou esta corrente no julgamento da AP 470/MG, mas ela não representa mais o entendimento da Corte).3ª Corrente: se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado, a perda do cargo será uma consequência lógica da condenação, cabendo à Mesa da Câmara ou do Senado somente declarar que houve a perda, à luz do art. 55, III e § 3º, da CF/88; se o parlamentar federal for condenado a uma pena em regime aberto ou semiaberto, a condenação criminal não gera a perda automática do cargo e o Plenário da Casa Legislativa irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se deverá haver ou não a perda do mandato (é a posição adotada pela 1ª Turma do STF - AP 694/MT, julgamento em 2/5/2017 e AP 863/SP, julgamento em 23/5/2017). IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa: consoante o art. 5º, VIII, da CF/88, ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Trata o referido dispositivo da chamada escusa ou objeção de consciência. Como obrigações legais a todos impostas podem ser citados o exercício da função de jurado e a prestação de serviço militar. V - improbidade administrativa: entre as sanções cabíveis para a prática de atos de improbidade administrativa encontra-se a de suspensão dos direitos políticos. Para que ocorra a suspensão dos direitos políticos, tal sanção deve vir expressa na sentença que julga procedente o pedido inicial. Ademais, a suspensão somente se efetiva com o trânsito em julgado da sentença (art. 20, da Lei nº 8.429). * Questões de prova oral: 18 - 28º CPR: Cassação, perda e suspensão de direitos políticos. Já houve cassação no Brasil? 5A. Condições de Elegibilidade Valmor Piazza Distinção entre Condição Elegibilidade (14, §3º, CF) e Causas INelegibilidade (14, §4º a 7º, CF) Teoria Clássica (STF e TSE) A Elegibilidade consiste na própria Capacidade Eleitoral Passiva, ou seja, o direito público subjetivo de pleitear mandato político. Reune Condições Elegibilidade (aspecto positivo) E não incorrer em Causas INelegibilidade (aspecto negativo), sendo alcançada de forma gradual - alguns cidadãos nunca a alcançam plenamente, como os naturalizados - Condição Elegibilidade: requisitos positivos para concorrer eleição (ius honorum), encontrando previsão no art. 14, §3º, CRFB e regulamentação na lei ordinária (reserva legal simples). - Causas INelegibilidade: impedimentos que obstam concorrer à eleição (AIRC) ou - se superveniente ou natureza constitucional - fundamentam impugnação do diploma (RDC). Previstos na Constituição e em legislação complementar (14, §9º, CRFB) - Condições Registrabilidade: elementos formais para registro, como fotografia, certidão de quitação eleitoral (art. 11, §1º, L9.504). Portanto, para concorrer à eleição, necessita-se preencher as condições de elegibilidade e não incidir em causas de INelegibilidade. Adriano Soares da Costa - doutrina minoritária Inexiste diferença entre Condições de Elegibilidade E Causas de INelegibilidade, configurando ambas verdadeiras condições de Registrabilidade, ou seja, pressupostos para o registro da candidatura. Caso ausênte uma condição: não há direito ao registro (AIRC). Registro de Candidatura consiste em um fato jurídico que cria a elegibilidade, de modo que antes do registro ninguém possui direito à elegibilidade. Este direito somente surge após o registro da candidatura. As diferenças acabam por incorrer em consequências práticas, uma vez que a CRFB (14, §9º) demanda Lei Complementar para prescrever novas causas de inelegibilidade. Dessa forma, para Adriano Soares, as tradicionais condições de registrabilidade (art. 11, §1º, L9.504) seriam inconstitucionais, pois previstas em legislação ordinária. Condições de Elegibilidade (art. 14, §3º, CF): I. Nacionalidade Brasileira: vínculo jurídico-político que liga o indivíduo a determinado Estado. Apenas nacional detém capacidade eleitoral passiva, à exceção dos portugueses equiparados, pois podem gozar de direitos políticos no Brasil. II. Plenitude dos direitos políticos: Denotam a capacidade de votar e ser votado e são adquiridos com o alistamento. A suspensão e a perda de direitos políticos afeta a elegibilidade (art. 15 da CRFB) III. Alistamento: condiciona à aquisição da cidadania ativa e passiva. Através do alistamento eleitoral que se adquire a cidadania. A prova de alistado é feita pelo título eleitoral. IV. Domicílio eleitoral na circunscrição: no mínimo 6 meses antes da eleição (art. 9º, L9.504). Circunscrição: nas eleições municipais, é o município; nas eleições gerais, exceto presidencial, é o estado; e, por fim, na eleição presidencial, é o território nacional. Domicílio eleitoral é o local da residência ou moradia e, havendo mais de uma, o de qualquer delas (art. 42, p.u., Código Eleitoral). Domicílio eleitoral não se confunde com domicílio civil: Domicílio civil é o local no qual 19 a pessoa estabelece residência com ânimo definitivo. O conceito de domicílio eleitoral é um conceito bem elástico, porque alcança o domicílio e a residência. Atenção: O TSE elasteceu ainda mais o conceito de domicílio eleitoral, basta a comprovação de pelo menos um dos seguintes vínculos: patrimonial, laborativo ou social. Observe que com o requisito patrimonial a pessoa não precisa ter domicílio na circunscrição, nem residência, bastando ter um patrimônio no local. V. Filiação partidária: no mínimo 6 meses antes da eleição (art. 9º, L9.504). Estatutos partidários podem exigir tempo maior o qual não poderá ser alterado em ano de eleição (arts. 18 e 20 L9.096/1995). Membros do MP, Judiciário e Tribunais de Contas: filiação, no mínimo, 6 meses antes do pleito, quando deve ocorrer a desincompatibilização (LC 64/90, arts. 1º, II, a, 8, 14 e j). Militares: não é exigida a filiação partidária do militar da ativa, bastando o alistamento e o registro de candidatura - participa da convenção sem estar alistado no partido. Suspensão de direitos políticos: a filiação não é cancelada, mas só suspensa, sendo possível o aproveitamento do tempo anterior à suspensão para fim de comprovação do prazo mínimo de filiação. OBS: a candidatura nata era prevista na Lei das Eleições e garantia o direito àqueles que já eram titulares de cargos eletivos de serem indicados para concorrer à reeleição. O STF declarou a inconstitucionalidade desse artigo. Ficou assentada a orientação que mesmo aqueles detentores de cargos devem ser escolhidos em convenção, sob o fundamento de que o cargo pertence ao partido que o elegeu, e não ao filiado. OBS: O registro da candidatura será realizada pelo próprio partido, ocorrerá até 15 de agosto do ano eleitoral, e se o partido for omisso, caberá ao candidato fazê-lo em 48 (quarenta e oito) horas. OBS: A comprovação da filiação partidária se dará por comunicação dos próprios partidos que devem remeter ao juiz eleitoral a relação de nomes dos seus filiados, conforme art. 19, 9.096/95. Em caso de omissão do partido, é facultado ao prejudicado requerer diretamente a justiça eleitoral a inclusão do seu nome na lista. A filiação pode ser provada por qualquer meio, não só pelas listas enviadas à justiça eleitoral (súmula 20 do TSE). A CRFB adotou democracia partidária, inexistindo candidatura avulsa. Pluralidade de filiação: Havendo coexistência de filiações partidárias, prevalecerá a mais recente, devendo a Justiça Eleitoral determinar o cancelamento das demais (art. 22, parágrafo único, L9.096). Atenção: não existe mais a regra de dupla filiação. VI. Idade mínima: 35 anos (Presidente, Vice e Senador), 30 anos (Governador e Vice), 21 anos (Deputado Federal ou Estadual, Prefeito e Vice e juiz de paz) e 18 anos (Vereador). A idade mínima pode ser preenchida até a data da posse (art. 11, §2º, L9504), salvo para vereador- data- limite do registro. Momento de aferição: em regra devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade (art. 11, §10 da L9.504/97) – o TSE tem entedimento de que essa ressalva final aplica-se apenas à inelegibilidade e não à condição de elegibilidade como o não pagamento de multa por não comparecimento às urnas (Info TSE 3/2013). Porém, o domicílio eleitoral e a filiação partidária se auferem na data da eleição. O juiz realiza uma análise prospectiva. OBS: O TSE entende por fato superveniente “aquele que ocorre depois da propositura da demanda, sobre o qual não se tinha controle, tampouco conhecimento de sua existência, como acontece nos casos em que se obtêm liminares ou antecipações de tutela que afastem provisoriamente a condenação ou o fato, ou mesmo decisão definitiva que acarrete a extinção da causa geradora da inelegibilidade, não constituindo alteração fática ou jurídica superveniente o eventual transcurso de prazo de inelegibilidade antes da data de realização das eleições” (Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral no 380-59/PR, rel. Min. Arnaldo Versiani, em 6.11.2012). 5B. Inelegibilidades Constitucionais e suas Espécies Valmor Piazza 20 Conceito de inelegibilidade: situação/ impedimento que obsta o exercício da Capacidade Eleitoral Passiva (dirieto de ser votado). Atenção: a inelegibilidade não é pena. Espécies de inelegibilidade: Classificações de INelegibilidades: Absolutas: Atingem a capacidade eleitoral passiva para TODOS os cargos (analfabetos e inalistáveis) Relativas: Obstam somente a capacidade eleitoral passiva de determinados cargos. Classificação de Adriano Soares da Costa: - Inelegibilidade Sanção/ Cominada: advêm da prática de um ilícito (ex. improbidade administrativa). Podem ser Simples (um único pleito) ou Potenciadas (eleições futuras) - Inelegibilidades Inatas: visam ao equilíbrio e moralidade das eleições (ex. parentesco) Qual é a diferença entre as inelegibilidades constitucionais e legais? As Constitucionais não precluem; enquanto que as legais precluem e devem ser previstas em Lei Complementar. Caso Arruda DF: As inelegibilidades supervenientes ao requerimento de registro de candidatura poderão ser objeto de análise pelas instâncias ordinárias no próprio processo de registro de candidatura, desde que garantidos o contraditório e a ampla defesa. Votação por maioria. 21 (Recurso Ordinário no 15429, Acórdão de 26/08/2014, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 27/08/2014) As causas de INelegibilidade constitucionais (14, §4º a §7º, CRFB) podem ser arguidas após o prazo da AIRC, em sede de RDC. Todavia, as infraconstitucionais possuem a AIRC como prazo limite, salvo se supervenientes. I. Os inalistáveis e os analfabetos (§4º): Inalistáveis: a) Estrangeiros (exceção Português equiparado); b) Conscritos (serviço militar obrigatório); c) menores de 16 anos (exceção para o menor com 15 anos que complete 16 até a data do pleito); d) Quem perdeu ou teve suspensos os direitos polítocos. Analfabetos: Caso de dúvida fundada sobre o analfabetismo, deve-se proceder a teste de alfabetização, desde que individual e sem constrangimento; ou seja, veda-se teste coletivo. Atenção 1: o analfabeto funcional não é inelegível. Atenção 2: é possível aferir analfabetismo mesmo que já o indivíduo já exerça mandato político. Súm 15 TSE: O exercício de mandato eletivo não é circunstância capaz, por si só, de comprovar a condição de alfabetizado do candidato. II. Reeleição para Cargos do Executivo (§5º): A EC 16/97 inseriu a reeleição para cargos no Poder Executivo. Todavia, somente pode-se reeleger para um único período subsequente o Presidente da República, Governador, Preferito e quem os houver sucedido ou substituído. Atenção 1: O TSE veda a candidatura como Vice por 3 vezes consecutivas. Atenção 2: A figura do Prefeito Itinerante (município diversos) também restou vedada pela corte eleitoral. Considerou ser a alteração de domicílio eleitoral prática incompatível com os fins da Constituição, por ensejar perpetuação no poder e apoderamento de unidades da federação por clãs políticos. Atenção 3: Historicamente os membros do Poder Legislativo sempre puderam se reeleger. III. Desincompatibilização do Presidente, Governador e Prefeito para concorrer a outros cargos (§6º): Caso os titulares destes cargos desejem concorrer a outro cargo, devem renunciar ao mandato até 6 meses antes do pleito. Atenção 1: não é necessária a renúncia para concorrer à reeleição. Atenção 2: o TSE não permite que o titular se licencie do cargo 6 meses antes do pleito e renuncie somente após a convenção. Atenção 3: não se aplica ao Vice caso não tenha substituído o titular nos 6 meses anteriores ao pleito, ou seja, pode concorrer a outros cargos sem renunciar (caso Marco Maciel - Vice-Presidente e posteriormente Senador). Todavia, caso substitua o titular ou suceda-o definitivamente, será necessária a renúncia (caso Alkmin - ex- Vice-Governador do falecido Mario Covas) IV. INelegibilidade Reflexa (§7º): “São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.” Espécie de inelegibilidade relativa decorrente de parentesco. Atenção 1: Súm Vinculante 18: a dissolução de sociedade conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade. Busca-se evitar o “governador-laranja”. Atenção 2: Remanesce a inelegibilidade no caso de desmembramente de município, quando do parentesco com o “município-mãe” (STF, RE 158.314) (Súm 12 TSE). Atenção 3: Súm 6 TSE: “São inelegíveis para o cargo de chefe do Executivo o cônjuge e os parentes, [...] do titular do mandato, salvo se este, reelegível, tenha falecido, renunciado ou se afastado definitivamente do cargo até seis meses antes do pleito.” (caso Roseana Garotinho). Atenção 4: União Estável também acarreta inelegibilidade. 22 Inelegibilidades reflexas (art. 14, §7º, CRFB) e Heterodesincompatibilização: A desincompatibilização do chefe do executivo para se eleger a outro cargo eletivo é hipótese de autodesincompatibilização, pois permite o afastamento da própria inelegibilidade funcional. Porém, o ato de desincompatibilização do chefe do executivo pode beneficiar um terceiro que está reflexamente inelegível em razão do fato de ele ser chefe do Poder Executivo, sendo esse caso chamado de heterodesincompatibilização. Assim, segundo orientação do TSE, se o titular do mandato se afastar definitivamente do cargo 6 meses antes das eleições e não se candidatar à reeleição (afastamento esse que não era necessário para sua reeleição), evitará a inelegibilidade dos respectivos parentes. 3C. Inelegibilidades infraconstitucionais. Lei Complementar nº 64/1990. Lei Complementar nº 135/2010. Desincompatibilização. FONTES: Material do grupo MPF LEVADO À SÉRIO; Santo Graal 28CPR. ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de Direito Eleitoral (12 ed, 2018). Atualizado por Felipe Fróes, em 07/09/2018 É inelegível a pessoa que, embora regularmente no gozo de seus direitos políticos, esteja impedida de exercer temporariamente sua capacidade eleitoral passiva, ou seja, da condição de ser candidato e, consequentemente, de poder ser votado. A inelegibilidade é uma condição obstativa do exercício passivo da cidadania. Atenção: a inelegibilidade não é pena. A inelegibilidade inata,
Compartilhar