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1 Bruna Lago As micoses superficiais são doenças provocadas por fungos ou cogumelos que se localizam preferencialmente na EPIDERME e/ou em seus ANEXOS (pelos e unhas), podendo, entretanto, eventualmente, invadir a derme e, em raríssimos casos, até mesmo órgãos internos. O contágio inter-humano é frequente. São classificadas em quatro grupamentos: a) Ceratofitoses = micoses superficiais propriamente ditas b) Dermatofitoses c) Dermatomicoses micoses superficiais cutâneas e cutaneomucosas d) Candidíases Estas últimas, embora sejam consideradas oportunistas, em pacientes imunocompetentes se comportam como micose superficial. CERATOFITOSES São infecções fúngicas essencialmente superficiais, cujos cogumelos localizam-se na QUERATINA da epiderme e dos pelos, normalmente sem provocar fenômenos de hipersensibilidade (resposta imune celular do hospedeiro é mínima ou ausente). A presença do fungo raras vezes é sintomática, o que torna a infecção crônica. • PITIRÍASE VERSICOLOR A pitiríase versicolor (PV) é uma doença crônica, assintomática na maioria das vezes, de distribuição universal; acomete todas as raças, sem predileção por sexo, com maior prevalência na idade adulta. Essa preferência relaciona-se com uma maior atividade hormonal a partir da adolescência e, consequentemente, da maior oleosidade da pele. É mais prevalente nos climas quentes e úmidos. ➢ ETIOLOGIA: É causada por fungos do gênero Malassezia, que é um membro da biota normal da pele e passa a determinar manifestações clínicas em certas condições que permitem a pseudofilamentação da levedura. A classificação taxonômica atual engloba nove espécies: dermatis, equi, furfur, globosa, obtusa, pachydermatis, restricta, sloof iae e sympodialis. A diferenciação entre as espécies pode ser feita por morfologia e requerimentos nutricionais na cultura, aspectos ultraestruturais e reação em cadeia da polimerase (PCR). Para a comunidade médica, a M. furfur continua sendo considerada o agente etiológico da PV. M. furfur é uma levedura saprófita e lipofílica, encontrada com elevada frequência no couro cabeludo e em regiões de pele glabra (que não contém folículos pilosos e é mais espessa, recobre a palma das mãos e planta dos pés) ricas em glândulas sebáceas. Apesar de não desencadear manifestações clínicas, esta levedura comporta-se como um oportunista e fator agravante em muitos casos de dermatite seborreica. A 2 Bruna Lago incidência baixa de PV entre casais (7,5%) parece demonstrar a necessidade de predisposição individual. Recorrências são frequentes. Vários fatores são tidos como responsáveis pelo rompimento do equilíbrio Malassezia-hospedeiro: idade, sexo, raça, predisposição genética, fatores geoclimáticos que favorecem a hiperoleosidade e hiperidratação, além de fatores sociológicos. Fatores predisponentes endógenos, como má nutrição, avitaminoses, gravidez, diabetes, doença de Cushing, corticoterapia prolongada, terapia parenteral, contraceptivo oral e imunodeficiência também são relatados. ➢ CLÍNICA: As lesões são inicialmente arredondadas, pois surgem a partir da estrutura pilossebácea (em função da lipofilia do agente); no entanto, podem confluir, tornando difícil, por vezes, diferenciar a pele sadia da pele acometida. Em geral, as lesões são hipocrômicas descamativas, mas podem ser hipercrômicas ou eritematosas, daí o nome VERSICOLOR. Alguns pacientes referem prurido, sobretudo após exposição solar, quando então são eritematosas. Sendo a M. furfur uma levedura essencialmente lipofílica, a localização mais frequente da PV é em áreas de maior concentração de glândulas sebáceas, ou seja, na metade superior do tronco e dos braços. Entretanto, pode ocorrer na face, no abdome, nas nádegas e até mesmo nos membros inferiores. Esticando-se distalmente a pele (sinal de Zireli ou do estiramento) ou atritando-a com a cureta, ou mesmo unha (sinal da unha ou de Besnier), aparecem escamas furfuráceas. Caso o paciente esteja suado, tenha a pele oleosa ou tomado banho, torna-se bem mais difícil perceber a descamação. Diversos trabalhos investigam a variação da tonalidade das lesões que podem estar presentes no hospedeiro parasitado. Quanto às LESÕES HIPERCRÔMICAS, os estudos indicam aumento do tamanho, alterações da distribuição e incremento na multiplicação dos melanossomos (organelas onde ocorre síntese e deposição da melanina) na epiderme. Quanto à HIPOCROMIA das lesões, já foi constatado que a levedura produz ácidos dicarboxílicos que inibem a reação dopa-tirosinase, que, por sua vez, diminui a produção de melanina. O ERITEMA seria decorrente da intensidade do processo inflamatório que o fungo é capaz de desencadear. A doença evolui por surtos, com melhora e piora, tornando-se recidivante ou crônica. As RECIDIVAS ocorrem mais frequentemente em pacientes com peles oleosas ou que fazem uso contínuo de produtos oleosos, naqueles que sofrem com sudorese excessiva e também nos que apresentam lesões predominantemente infundibulares ou foliculares, em que o fungo é também encontrado no interior do folículo, o que dificulta a ação dos antifúngicos tópicos e sistêmicos. Alguns estudos vêm mostrando que também pode existir predisposição genética nessa situação. ➢ MALASSEZIOSE: É o termo empregado à doença sistêmica causada por leveduras do gênero Malassezia. São raramente causas de fungemia e septicemia, tanto em imunodeprimidos quanto em crianças de baixo peso. A introdução do fungo ocorre por meio de cateteres empregados na alimentação lipídica 3 Bruna Lago parenteral. Febre é o sintoma mais comum e coração e pulmões são os órgãos mais acometidos. A Malassezia furfur pode, excepcionalmente, colonizar e obstruir o saco lacrimal. ➢ FOLICULITE PITIROSCÓPICA/FOLICULITE POR MALASSEZIA: Afeta comumente adultos jovens e, excepcionalmente, é descrita em bebês. Sua distribuição é universal. É mais prevalente em países de clima quente e úmido. Acomete preferencialmente pacientes acamados, tendo localização preferencial nas áreas de maior atrito, em que ocorre oclusão e inflamação do folículo piloso. Afeta principalmente, tronco superior, ombros, membros superiores, pescoço e face. A lesão primária é uma pápula folicular eritematosa ou pústula medindo cerca de 1 a 2 mm. O DIAGNÓSTICO de foliculite por Malassezia é baseado no quadro clínico, no exame micológico direto das pústulas e do folículo piloso, além da boa resposta ao tratamento específico. Se o exame direto não for contundente, deve-se fazer biopsia da lesão folicular. A cultura do material é útil para identificar a espécie. A Malassezia globosa é a espécie predominante na pele do humano e também a etiologia mais frequente da foliculite. ➢ DIAGNÓSTICO: é confirmado pelo exame direto. A coleta pode ser feita com fita gomada (método de Porto, 1953) ou por raspagem. Caracteristicamente na PV, são observadas hifas curtas, curvas e largas e elementos leveduriformes arredondados (blastoconídios) agrupados em forma de cacho de uva ou apresentando aspecto de “espaguete com almôndegas” ao microscópio óptico. A cultura é pouco usada com finalidade diagnóstica, porém o cogumelo cresce bem entre 32 e 35°C, em meios com óleo de oliva. Em um terço dos casos, à luz de Wood, a coloração das lesões pode variar do amarelo-ouro ao róseo- dourado. ➢ TRATAMENTO: a) Nas FORMAS LOCALIZADAS, o tratamento pode ser feito topicamente por 10 a 20 dias com: 1. sulfeto de selênio a 2,5%, 2. propilenoglicol a 50%, 3. cetoconazol a 2% ou 4. outros derivados imidazólicos, como soluções hidroalcoólicas ou xampus com associações de antifúngicos imidazólicos, piritionato de zinco a 2,5%, ácido salicílico e LCD (loção - Liquor Carbonis Detergens). Essas soluções devem ser sempre aplicadas generosamente muito além das áreas aparentemente acometidas. Em geral, recomenda-se novotratamento cerca de 2 meses após, a fim de evitar recidivas, que são frequentes. O xampu deve ser aplicado por cerca de 30 min e, depois, removido no banho; dependendo da proximidade ou do envolvimento do couro cabeludo, recomenda-se lavá-lo semanalmente por vários meses. A solução hidroalcoólica de sulfeto de selênio deve ser aplicada generosamente além dos limites das lesões. O uso de bucha no banho é bastante eficaz, pois auxilia na remoção mecânica do fungo que está presente na camada córnea. b) Nos casos EXTENSOS OU RECIDIVANTES, utiliza-se por via oral: 1. itraconazol 100 mg, 2 vezes por 5 a 7 dias; ou 2. fluconazol 300 mg por semana por 2 semanas ou 3. cetoconazol 200 mg/dia durante 10 a 15 dias. Nos pacientes com recorrências frequentes, deve-se fazer profilaxia por um período de 6 meses, iniciando- se 30 dias após finalizado o tratamento. Há significativa redução das recidivas após o uso de azólicos sistêmicos. A profilaxia com preparados tópicos a cada 1 ou 2 semanas apresenta respostas variáveis e depende da adesão do paciente à prescrição médica. 4 Bruna Lago • PIEDRA BRANCA Infecção fúngica crônica e assintomática. Caracteriza-se por pequenos nódulos branco-amarelados macios e aderentes aos pelos do couro cabeludo, das axilas e da região pubiana, sendo causada pelo Trichosporon beigelii ou T. cutaneum (nomenclatura recente). Este último pode produzir lesões cutâneas eritematosas e descamativas nas vizinhanças (região pubiana, raiz das coxas) e, raramente, lesões extracutâneas em imunodeprimidos. É causa frequente de onicomicose. Foram identificadas, recentemente, seis espécies de Trichosporon que podem produzir infecção humana. ➢ DIAGNÓSTICO: o exame direto do pelo contaminado com KOH permite a visualização. Pode ser feita cultura e micromorfologia. • PIEDRA PRETA Micose rara no nosso meio, caracteriza-se por pequenos nódulos pretos endurecidos, bem aderidos aos pelos (um ou mais para cada fio de cabelo) do couro cabeludo, das axilas e da região pubiana, sendo causada pela Piedraia hortai. Os folículos pilosos não são atingidos, e a infecção é assintomática. ➢ TRATAMENTO DAS PIEDRAS: Nas tricomicoses fúngicas, antifúngicos tópicos sob forma de loções ou xampus são frequentemente utilizados no tratamento associados a agentes esfoliantes e, também, para prevenção de recidivas. Itraconazol por via oral deve ser empregado nos casos extracutâneos. Não há necessidade de cortar os cabelos. • TINHA (TINEA) NEGRA Produzida principalmente pela Hortaea werneckii ou Phaeoanellomycis werneckii, mas também pela Stenella araguata. Ocorre mais comumente em crianças do sexo feminino, nas zonas tropicais e subtropicais. ➢ CLÍNICA: Clinicamente, caracteriza-se por mancha enegrecida, de pequena dimensão, com localização geralmente palmar (por isso o nome) ou, mais raramente, plantar ou bordas dos dedos; pode haver uma única lesão ou poucas que coalescem. A dermatoscopia auxilia no diagnóstico ao possibilitar a visualização de espículas finas, superficiais e pigmentadas, formando um aspecto quase reticulado que não segue as linhas naturais da região palmar. ➢ TRATAMENTO: O tratamento é feito com ceratolíticos (agentes que amolecem e soltam a camada córnea, ex. ácido salicílico) e antifúngicos tópicos, com cura em poucos dias. DERMATOFITOSES Embora o termo dermatofitose não corresponda à classificação taxonômica, ficou consagrado para designar doenças causadas por um grupo de fungos que, geralmente, em vida parasitária, vivem à custa da QUERATINA da pele, dos pelos e das unhas. Agrupam-se sob essa denominação fungos dos gêneros 5 Bruna Lago Trichophyton, Microsporum e Epidermophyton, cujas características morfológicas, fisiológicas e antigênicas os relacionam entre si. ➢ EPIDEMIOLOGIA: Atualmente, são descritas mais de 40 espécies de dermatófitos. Destas, 30 são patogênicas para o homem. Têm distribuição universal, mas com certas peculiaridades (T. soudanense, na África; T. concentricum, na Ásia, na América Central e no Brasil); essas variações de frequência dependem de migrações. A prevalência é maior nas zonas tropical e subtropical, em regiões de clima quente e úmido. A mesma espécie pode produzir quadros clínicos bem diferentes e, inclusive, com seletividade de grupos etários; assim: a) o T. tonsurans pode produzir tinea do couro cabeludo na infância e dermatofitose corporis no adulto. A dermatofitose capitis (tinea do couro cabeludo) é quase exclusiva da criança e regride espontaneamente com a puberdade, à exceção da produzida pelo T. schoenleinii (tinea favosa), que pode persistir por toda a vida. As onicomicoses são típicas dos idosos devido ao crescimento lentificado das unhas. b) O T. rubrum é, de longe, o agente etiológico mais frequente. Portadores assintomáticos existem e tornam complexa, pelo menos parcialmente, a interpretação dos dados epidemiológicos. ➢ ETIOPATOGENIA: Os dermatófitos, na sua FASE ASSEXUADA, que é a do parasitismo, são constituídos por três gêneros: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton; na fase SEXUADA (saprofitismo no meio ambiente), já foram descritos dois gêneros: Nannizzia (corresponde ao Microsporum) e Arthroderma (corresponde ao Trichophyton). a) No gênero Microsporum, devem ser consideradas as seguintes espécies: M. audouinii, com localização preferencial no couro cabeludo; M. canis, acometendo couro cabeludo e pele glabra; M. ferrugineum e o M. gypseum, acometendo couro cabeludo e tronco. Podem, raramente, acometer a unha, ocorrendo com maior frequência em pacientes imunodeprimidos. Há casos de onicomicoses em pacientes imunocompetentes por meio do contágio de gatos domésticos doentes. b) No gênero Trichophyton, devem ser consideradas as seguintes espécies: T. rubrum, podendo produzir praticamente quase todos os quadros clínicos de dermatofitose e tendo como característica principal certa resistência aos tratamentos; T. schoenleinii, poupando apenas as dobras naturais, os pés e as mãos; T. tonsurans, poupando a área da barba e das pregas dos pés e das mãos; T. yaounedi, comprometendo exclusivamente o couro cabeludo. Outras espécies são: T. soudanense, T. megninii e T. mentagrophytes, que apresenta duas variedades: interdigitale (antropofílico) e mentagrophytes (zoofílico). c) O gênero Epidermophyton só tem uma espécie patogênica para o homem: E. floccosum, com preferência pelas dobras e pelos pés, podendo atingir também tronco e unhas, porém não acomete o couro cabeludo e a barba. A EXUBERÂNCIA das manifestações clínicas depende do grau de hipersensibilidade celular (linfócito T). Além do hospedeiro, esse aspecto é inerente à virulência e às espécies que, por conseguinte, têm também habitat natural próprio. Com relação ao habitat, os dermatófitos podem ser divididos em três grupos: 1. ANTROPOFÍLICOS: adaptados ao homem, produzem, em geral, pouca ou nenhuma reação de hipersensibilidade (T. rubrum, T. concentricum, T. schoenleinii, T. tonsurans, T. mentagrophytes var. interdigitale, M. audouinii e outros), sendo, portanto, mais resistentes ao tratamento, exigindo uma dose por vezes maior de antifúngico, ou um tratamento mais prolongado; recidivas são frequentes. São a principal etiologia das infecções crônicas. As epidemias de tinea capitis em creches e orfanatos são causadas por dermatófitos antropofílicos, geralmente o T. tonsurans. 6 Bruna Lago 2. ZOOFÍLICOS e 3. GEOFÍLICOS: (M. canis, T. verrucosum, T. mentagrophytes var. mentagrophytes) e os (M. gypseum), respectivamente, provocam no homem quadros mais inflamatórios e exuberantes, inclusive com tendência à cura espontânea. As fontes de infecção podem ser, consequentemente, o homem, determinados animais (cão, gato, porco, gado etc.) e o solo. A HIPERSENSIBILIDADE CELULAR ESPECÍFICA é dada pelo teste intradérmico à tricofitina (extrato devárias culturas de dermatófitos), com resposta papuloeritematosa, em 24 a 48 h. Foi comprovado em estudos de imuno-histoquímica com marcadores linfocitários e moléculas de adesão intercelular que existe modulação in situ da imunidade celular em pacientes com dermatofitose crônica. Ocorre também IMUNIDADE HUMORAL revelada por anticorpos séricos: fixadores do complemento, aglutininas e reaginas específicas. Outro aspecto de interesse é a chamada CERATINOFILIA dos dermatófitos; isto é, esses cogumelos teriam facilidade de cultivo na queratina, daí o uso de cabelos para “pesca” de dermatófitos no solo. Os dermatófitos dispõem de queratinase, o que possibilita a invasão da camada córnea, mas lá ficariam restritos por um bloqueio em decorrência de fatores naturais fungistáticos séricos, como a α2-macroglobulina e a transferrina insaturada, que impediriam a sua penetração no organismo. Em casos raros, em geral por deficiência imunológica específica ou sistêmica, os dermatófitos podem atingir a derme, a hipoderme e até mesmo os ossos, a não ser por inoculação direta (depilação, fazer barba etc.). • DERMATOͅFITOSE DO CORPO (TINEA CORPORIS) O quadro clássico é representado por lesões eritematoescamosas, circinadas (lesões em forma de anel), isoladas ou confluentes, uma ou várias com crescimento centrífugo, de modo que a parte externa é mais ativa; por vezes pode ter aspecto concêntrico. Para se obter um resultado fidedigno em um exame micológico da lesão de dermatofitose, deve-se procurar obter a amostra na periferia da lesão circinada. Há casos com predominância de vesícula e, até mesmo, pústula; outras vezes, a lesão é em placa eritematoescamosa e de evolução lenta; o PRURIDO está sempre presente. São localizações usuais os braços, a face e o pescoço. • DERMATOͅFITOSE MARGINADA (TINEA CRURIS) Caracteriza-se por lesão eritematoescamosa, a partir da prega inguinal. Avançando sobre a coxa, com nitidez de borda (daí o nome marginada), a lesão pode invadir o períneo e propagar-se para as nádegas, a região pubiana e, até mesmo, o baixo-ventre. É MUITO PRURIGINOSA e, por isso, a liquenificação é frequente. O não acometimento da pele da bolsa escrotal demonstra a especificidade da ceratinofilia dos dermatófitos e ajuda no diagnóstico diferencial com a candidíase. • DERMATOͅFITOSE DOS PÉS (TINEA PEDIS) Três formas são descritas: aguda, eczematoide, representada por vesículas em geral plantares e digitais, é causada pelo T. mentagrophytes 7 Bruna Lago var. mentagrophytes sendo bastante PRURIGINOSA; a forma intertriginosa é causada pelo T. mentagrophytes var. interdigitale, de localização nas pregas interpododáctilas (predominantemente), caracterizada por fissuras e maceração; e a forma crônica, caracterizada por lesões descamativas pouco pruriginosas, acometendo praticamente toda a região plantar. Nessa imagem, o acometimento do oco plantar e a não bilateralidade excluem o diagnóstico de eczema de contato. • DERMATOͅFITOSE IMBRICADA (TINEA IMBRICATA) Apresenta lesões escamosas em círculos concêntricos ou que formam arabescos, atingindo grandes áreas do corpo e muito pruriginosas. O agente etiológico é o T. concentricum. É típica de determinadas regiões, como a Polinésia (“tokelau”); no Brasil (Mato Grosso e Amazônia) tem o nome de “chimberê”. Parece ter um caráter genético. • DERMATOͅFITOSE UNGUEAL (TINEA UNGUIUM) OU ONICOMICOSE Caracteriza-se por lesões destrutivas e esfarinhentas das unhas, iniciando-se pela borda livre, de cor branco-amarelada, como o marfim velho; geralmente, há ceratose (alteração da camada mais superficial da pele (camada córnea), com hipertrofia e aspecto escamoso ou verrucoso) do leito ungueal. É doença eminentemente crônica, comprometendo uma ou várias unhas dos pés (preferentemente as do hálux) ou, com frequência bem menor, das mãos. O acometimento ungueal é, em geral, secundário ao plantar. • DERMATOͅFITOSE DA FACE Tem um aspecto peculiar e, às vezes, de difícil diagnóstico. São lesões eritematoescamosas de crescimento centrífugo, às vezes com disposição em asa de borboleta, lembrando o lúpus e a dermatite seborreica; em geral, o prurido é discreto. • DERMATOFITOSE DO COURO CABELUDO (TINEA CAPITIS) Caracteriza-se pelo comprometimento dos cabelos, que são invadidos e lesados; há também lesões eritematoescamosas do couro cabeludo. Os cabelos são fraturados próximo à pele, produzindo as típicas áreas de tonsura, caracterizadas por pequenos cotos de cabelos ainda implantados. Na tinea tricofítica, as áreas de deglabração são pequenas, ao contrário das microspóricas, cuja área em geral é única e grande. Nessas duas, os cabelos voltam ao normal com o tratamento ou com a involução espontânea, na época da puberdade. A explicação para essa regressão seria o início da produção de ácidos graxos com propriedades fungistáticas. Na variedade favosa, entretanto, ocorre atrofia com alopecia definitiva ou cicatricial. Essa variedade apresenta um aspecto morfológico muito característico: as escútulas fávicas (godet) – crosta constituída por micélio, esporos, células, sebo e exsudato. A alopecia definitiva é mais frequentemente causada pelo T. schoenleinii, porém agentes de origem zoofílica e geofílica, como T. violaceum e M. gypseum, também são capazes de causá-la por reação inflamatória intensa com posterior fibrose e atrofia folicular. Os principais agentes de tinea capitis no Brasil são M. canis (parasitismo ectothrix) e T. tonsurans (parasitismo endothrix). Há uma variante seborreica “não tonsurante” de tinea capitis, produzida pelo T. tonsurans, que deve ser diferenciada em crianças da dermatite seborreica no couro cabeludo e da pseudotinea amiantácea. A dermatoscopia possibilita o achado de cabelos em “vírgula” e também, descritos nos melanodérmicos, 8 Bruna Lago pelos em “saca-rolha”; há diferenças dermatoscópicas que podem diferenciar infecções pelo T. tonsuras do M. canis. • DERMATOFITOSE INFLAMATÓRIA Há três tipos principais: (1) kerion, localizado no couro cabeludo ou na barba, representado por placa de foliculite aguda ou subaguda, eminentemente hiperérgica, com intensa supuração e cura espontânea, às vezes com alopecia cicatricial; (2) sicose tricofítica, representada por pústulas centralizadas por pelos na região da barba e do bigode. Às vezes são isoladas e, outras vezes, formam conglomerados; a evolução é, em geral, crônica; (3) folliculitis capitis abscedens et suf odiens, caracterizada por lesões de foliculite com túneis intercomunicando abscessos, no couro cabeludo; a etiologia em geral é estafilocócica, porém, quando micótica, o agente mais frequente é o T. tonsurans, e denomina-se perifoliculite abscedante de Hoffmann, descrita por Ramos e Silva em 1956. • DERMATOFITOSES GRANULOMATOSAS São representadas por manifestações clínicas variadas, mas com características comuns, como dermatófito na derme com reação granulomatosa, com ou sem hipersensibilidade à tricofitina . Podem ser localizadas ou generalizadas. As localizadas são: (1) tipo Majocchi: ocorrem naturalmente em situações de oclusão ou por uso indiscriminado de corticosteroides, levando à quebra da barreira cutânea. Apresentam-se como nódulos com tendência à fistulização; foram descritas na face (queixo) ou nos punhos e são frequentemente diagnosticadas por exame histopatológico da lesão, demonstrando hifas no interior de folículos distendidos e infiltrado inflamatório granulomatoso; (2) tipo Wilson-Cremer: nódulos eritematosos, com tendência à ulceração nos membros inferiores, em geral de mulheres, provavelmente por trauma decorrente da raspagem de pelos. Segundo Lacaz, essa variante corresponde ao granuloma tricofítico de Majocchi. As generalizadas são: (1) tipo Azulay: erupção generalizada, eritematoescamosa, com pápulas, tubérculos e comprometimento ungueal;(2) tipo Artom: quadro eritrodérmico com lesões tumorais e adenopatia generalizada; (3) tipo Pelevine-Tchermogoubof: erupção generalizada, com lesões eritematoescamosas, placas de infiltrações, nódulos, alguns dos quais ulcerados, adenopatia e comprometimento ósseo. 9 Bruna Lago • TINEA INCÓGNITA O uso de corticoide tópico, ou mesmo sistêmico, pode mascarar o quadro clínico em função da falta de características clínicas da lesão, porém, por ser pruriginosa e pela história de recidivas quando da suspensão do corticoide, suspeita-se do diagnóstico, que é confirmado pelo exame micológico. • IDES OU DERMATOFÍTIDES Quadros hiperérgicos, agudos ou subagudos, de morfologia variada, com tendência a simetria e decorrentes de disseminação hematogênica de produtos antigênicos de dermatófito, com propensão a recidivas no portador de dermatofitose. O aspecto disidrosiforme é o mais comum (formação de pequenas bolhas preenchidas de líquido, que geralmente aparecem na palma das mãos, nas laterais dos dedos ou na sola dos pés e que causam coceira intensa, podendo durar até 3 semanas); entretanto, têm-se descrito erupções liquenoides, psoriasiformes, morbiliformes, eritemas multiforme e nodoso, púrpura, eritema anular e outros. Três são os fundamentos para este diagnóstico: as lesões serem desabitadas, o fungo ser demonstrado em foco à distância e o quadro desaparecer com a cura da dermatofitose. ➢ DIAGNÓSTICO DAS DERMATOFITOSES: É feito comumente e, com muita fidelidade, pelo exame direto (micélios septados e artrosporos). A cultura é fundamental para fazer o diagnóstico da espécie (questões relacionadas à epidemiologia e prognóstico) e, portanto, rastrear a fonte de contágio. O material para exame é obtido por raspado. A luz de Wood também é um método útil; torna os cabelos fluorescentes esverdeados nas tineas favosa e microspórica (a tricofítica não fluoresce). É um método excelente para acompanhamento do tratamento e para coleta de espécimes. ➢ TRATAMENTO: A conduta terapêutica varia com a forma clínica e espécie causadora. Em geral, processos inflamatórios mais intensos são causados pelas espécies zoofílicas e geofílicas, e são de fácil tratamento, podendo haver mesmo cura espontânea, ao contrário das infecções causadas pelos fungos antropofílicos, que podem ser crônicas e recorrentes como a tinea pedis e as onicomicoses pelo T. rubrum. a) TRATAMENTO TÓPICO: A clássica solução alcoólica de iodo (1%), ácido salicílico (2%) e ácido benzoico (3%) foi por muito tempo a primeira escolha terapêutica, sobretudo nas lesões da pele glabra, dos pés e das unhas. Outros medicamentos mais eficazes e atuais são: terbinafina tópica a 1%; derivados imidazólicos (miconazol a 2%, oxiconazol a 1%, tioconazol a 1%, isoconazol a 1%, flutrimazol a 1%) em 1 ou 2 aplicações diárias. Existem nas seguintes apresentações: creme, loção, spray e pó. Tolciclato a 1%, ciclopiroxolamina a 1% e amorolfina a 0,025% são outras opções. O uso de vaselina salicilada ou ureia a 20%, na tinea pedis com descamação, é de grande valia. 10 Bruna Lago b) TRATAMENTO SISTÊMICO: É mandatório fazê-lo nos casos de tinea capitis, tinea corporis extensa e onicomicoses com grau de acometimento maior que 50% da superfície ungueal e/ou acometimento de matriz ungueal, bem como na tinea pedis crônica. 1. Embora a griseofulvina continue sendo de grande utilidade, ela é suplantada, em eficácia (à exceção do tratamento da tinea capitis especialmente causado pela espécie Microsporum) e menor toxicidade, por todos os novos antifúngicos, porém pode ser a única opção, em termos de custo. A dose para crianças é de 10 a 20 mg/kg/dia, e, para adultos, de 1 g/dia dividida em 2 tomadas, devendo ser ingerida logo após as refeições. O tempo para o tratamento da tinea capitis é de cerca de 30 a 45 dias; tinea corporis, de 20 dias; tinea pedis, de 45 dias. Várias cepas de T. rubrum são resistentes à griseofulvina. Itraconazol 100 mg/dia, fluconazol 150 mg/ semana e terbinafina 250 mg/dia são superiores em termos de eficácia. DERMATOMICOSES ONICOMICOSE POR FUNGOS FILAMENTOSOS NÃO DERMATÓFITOS Os agentes das denominadas dermatomicoses são fungos geofílicos, filamentosos, hialinos (Scytalidium hyalinum, Scopulariopsis brevicaulis, Aspergillus spp., Fusarium spp., Penicillium spp. etc.) ou demáceos (Scytalidium dimidiatum), e causam infecção ungueal mais frequentemente do que se suspeita. Esses fungos, em geral, são contaminantes, porém também podem produzir infecção ativa, muitas vezes em imunodeprimidos. Já está comprovado que esses cogumelos invadem a queratina danificada, causando onicomicose, e, no caso de Scytalidium spp., podem invadir a queratina sã. Atualmente, os FFND têm sido valorizados como agentes causais, e não meramente contaminantes ou colonizadores secundários. Mesmo com etiologia variada, a apresentação clínica é semelhante, a não ser quando o FFND for um fungo dermáceo, ou seja, de paredes escuras e que produzem lesões igualmente escuras nas unhas. A conjunção do aspecto clínico semelhante à dermatofitose, acompanhado de paroníquia (inflamação da pele em torno da unha), exame micológico direto positivo (hifas mais tortuosas e largas) e meios de cultura, possibilita que o médico faça o diagnóstico de onicomicose por um FFND. Os FFND não respondem bem à terapêutica sistêmica convencional. Em geral, são invasores secundários da queratina previamente danificada, sendo necessária a realização de uma avulsão química (debridamento da placa ungueal para diminuir a massa crítica fúngica, permitindo uma maior concentração e biodisponibilidade da droga nas camadas mais profundas da unha e leito ungueal) nos casos mais extensos, inclusive de maneira repetida, a fim de melhorar a resposta terapêutica aos antifúngicos tópicos e sistêmicos. ➢ TRATAMENTO DAS ONICOMICOSES POR DERMATÓFITOS E FUNGOS FILAMENTOSOS NÃO DERMATÓFITOS: A apresentação em esmalte tornou obsoletas as loções e as soluções, ainda que permaneçam eficazes, são menos dispendiosas. a) Amorolfina a 5%, aplicada semanalmente, e ciclopiroxolamina a 8%, aplicada nas 2 primeiras semanas a cada 3 dias e, então, semanalmente, podem ser capazes de curar sozinhas as onicomicoses menos extensas. Antes da aplicação, recomenda-se lixar a área a ser aplicada. b) Oxiconazol a 1%, miconazol a 1% e isoconazol a 1% são menos eficazes. 11 Bruna Lago A ciclopiroxolamina a 8% é a melhor opção para o tratamento das onicomicoses de origem mista (fungos e bactérias ou dermatófitos e leveduras). O esmalte amorolfina a 5% é a melhor opção para o tratamento das onicomicoses por FFND. Se o grau de distrofia ungueal for muito importante, recomendam-se avulsão, cirúrgica ou química (preparados tópicos de ureia a 30 a 40%, ureia a 20% associada ou não a ácido salicílico a 20%), e tratamento sistêmico concomitante. c) A primeira escolha terapêutica mais eficaz para fungos dermatófitos é a terbinafina na dose de 250 mg/dia. d) O itraconazol é um antifúngico de amplo espectro e tem apresentado ótimos resultados em onicomicose como pulsoterapia, ou seja, 200 mg, 2 vezes/dia durante 7 dias ao mês, por 3 a 9 meses, mas também pode ser empregado 100 mg/dia com resposta semelhante. e) O fluconazol também é eficaz nas onicomicoses por fungos dermatófitos na dose de 300 mg por semana, obtendo-se melhor resposta quando associado à avulsão química prévia. f) A griseofulvina NÃO deve ser usada em onicomicoses pela baixa eficácia e alto risco de hepatotoxicidade. O tempo de tratamento é de cerca de 6 meses ou mais, quando a unha a ser tratada é a dos pododáctilos. Em geral, as unhas das mãos requerem menor tempo de tratamento por terem crescimento mais rápido. Recomenda-se sempre a associação do tratamento tópico ao tratamento sistêmico. Pacientes imunodeprimidos requerem terapia mais prolongada. Recorrênciassão frequentes mesmo em imunocompetentes. É muito importante explicar aos pacientes que, além de tratar a unha doente, deve-se adotar algumas medidas preventivas contra a reinfecção como a higienização dos calçados, redução da umidade e o uso profilático nos pés de agentes antifúngicos e talco ou pó. • PÉ DE ATLETA É a designação para o intertrigo interpododáctilo. Caracteriza-se clinicamente por maceração, eritema, descamação e fissura. É a principal porta de entrada para erisipela (processo infeccioso da pele, que pode atingir a gordura do tecido celular, causado por uma bactéria que se propaga pelos vasos linfáticos) dos membros inferiores. Na etiologia, são encontrados dermatófitos, Candida e bactérias, que podem agir isoladamente ou, com frequência, associados. Quanto mais exuberantes, mais provável a etiologia bacteriana. Em geral, o tratamento com antimicóticos tópicos é suficiente. Costuma ser recorrente. Deve- se recomendar sempre secar bem os espaços interdigitais e mesmo o uso profilático de pós antimicóticos. CANDIDÍASES Micose produzida essencialmente pela Candida albicans (70 a 80%) e, poucas vezes, por outras espécies de Candida, comprometendo, isolada ou conjuntamente, mucosas, pele e unhas e, raramente, outros órgãos. É de distribuição universal, atingindo, com muita frequência, recém-natos; pode ocorrer em adultos e idosos; certas profissões, como empregados domésticos, lavadores de pratos, cozinheiros, enfermeiros, são mais atingidos. A CANDIDÍASE ESOFÁGICA e a das VIAS RESPIRATÓRIAS SUPERIORES são doenças definidoras da AIDS. 12 Bruna Lago ➢ ETIOPATOGENIA: O gênero Candida compreende mais de 200 espécies, sendo a maioria incapaz de infectar o homem. A Candida albicans existe normalmente como saprófita no tubo gastrintestinal, na orofaringe (50%) e na mucosa vaginal (20 a 25%, e, em grávidas 30%). Outras espécies (parapsilosis, tropicalis, stellatoides, glabrata, krusei, guillermondi etc.) também podem produzir manifestações clínicas de candidíase. São fungos oportunistas que agridem o homem em determinadas condições, dentre as quais destacam-se: 1. modificações fisiológicas, como na gravidez, quando os glicídios existem em maior quantidade na vagina; 2. doenças como o diabetes também predispõem à candidíase 3. deficiências imunológicas e endocrinopatias 4. tratamento prolongado por antibióticos (alteração da flora) ou por corticoides e imunossupressores 5. estados de umidade prolongada (lavadeiras, fraldas dos bebês). Existe, em condições normais, um fator sérico natural anticândida que dificulta a invasão do cogumelo. • CANDIDÍASE INTERTRIGINOSA Atingindo as dobras naturais (interdigitais, inframamárias, inguinais, axilares), é caracterizada por lesões erosivas, fissurais, úmidas, com induto esbranquiçado, pruriginoso, e também por pequenas lesões satélites arredondadas, eritematoescamosas, e, até mesmo, por pústulas abacterianas. • CANDIDÍASE UNGUEAL E PERIUNGUEAL Há intensa lesão eritematoedematosa periungueal (paroníquia), que é dolorosa e pode levar à onicólise. Caracteristicamente, acomete a borda proximal da unha. As unhas dos quirodáctilos, por estarem mais em contato com a água, são caracteristicamente acometidas. É a principal causa de paroníquia. • VAGINITES E BALANITES Lesões erosivas esbranquiçadas, úmidas e pruriginosas, na vagina e no sulco balanoprepucial. Corrimento esbranquiçado vaginal é característico; não ocorre em circuncidados. Podem ser adquiridas por contato sexual. A balanite, quando recorrente, o que é a regra, só se resolve com a postectomia. • CANDIDÍASE ORAL Mais comum nos recém-natos e, também, em idosos, debilitados e pacientes com AIDS; as lesões são erosivas e esbranquiçadas. • CANDIDÍASE CRÔNICA HIPERPLÁSICA É uma forma rara de candidíase oral, caracterizada clinicamente pela presença de placas esbranquiçadas, de distribuição homogênea ou mesmo salpicada, acometendo principalmente as regiões comissurais da mucosa oral. Acomete predominantemente homens, acima dos 50 anos, tabagistas. O tratamento envolve cessação do tabagismo, antifúngicos (inicialmente tópicos, podendo ser necessário utilizar antifúngico sistêmico) e mesmo cirurgia nos casos refratários. Existe a possibilidade de progressão para displasias moderadas a graves, inclusive com transformação para carcinoma espinocelular nos casos não tratados. • CANDIDÍASE MUCOCUTÂNEA CRÔNICA (CMC) É a designação para um grupo heterogêneo de síndromes clínicas, muitas vezes genéticas, caracterizadas por infecção crônica e recorrente da pele, unha e orofaringe. Não existe tendência à disseminação ou ao envolvimento visceral. Em geral, inicia-se antes dos 3 anos e caracteriza-se clinicamente por lesões orais, 13 Bruna Lago perlèche, envolvimento ungueal e paroníquia com importante distrofia, vulvovaginite e acometimento cutâneo. Em alguns casos, observam-se lesões ceratósicas com tendência à formação de verdadeiros cornos cutâneos ou de granulomas que predominam no couro cabeludo, na face, nas sobrancelhas e nas extremidades. Os defeitos imunológicos que determinam o quadro clínico variam de efeitos específicos a quadros de falência generalizada. A associação a síndromes de endocrinopatias múltiplas é frequente. Timoma está relacionado com uma rara forma de início na idade adulta. As diversas formas de suscetibilidade do hospedeiro que estão relacionadas ao local da infecção revelaram uma compartimentalização dos tecidos com adaptação da resposta imune baseada no sítio da infecção pela levedura Candida spp. Estudos sobre imunodeficiências primárias indicam a participação da resposta Th17 em pacientes com CMC. • CANDIDÍASE VISCERAL Pulmões, coração e outros órgãos podem ser invadidos por disseminação hematogênica, sobretudo em pessoas em uso prolongado de imunossupressores ou usuários de drogas injetáveis. Existe também a forma septicêmica. ➢ DIAGNÓSTICO DAS CANDIDÍASES: No exame direto, é fundamental o achado de hifas finas ou, mais caracteristicamente, pseudo-hifas para confirmação diagnóstica, já que a simples presença de blastosporos (esporos arredondados) sugere apenas colonização. Na cultura em meio adequado, como ágar Sabouraud com antibiótico, crescem colônias cremosas e brancacentas em 2 a 5 dias. A diferenciação entre as espécies é realizada por meio de provas bioquímicas, morfologia e mais recentemente por PCR e ELISA, porém não são necessárias ao diagnóstico. ➢ TRATAMENTO: No tratamento da candidíase, devem-se considerar fatores predisponentes locais e gerais (diabetes), peculiaridades topográficas e forma clínica (superficial ou sistêmica); nesse particular, o manuseio dos casos pode ser feito empregando-se preparados tópicos antifúngicos e, também, tratamento sistêmico, se necessário, como: a) paroníquia e intertrigo: fluconazol ou itraconazol oral complementando com terapia tópica antifúngica com derivados azólicos, nistatina 100.000 UI creme, timol a 4% em clorofórmio por 2 a 3 meses para prevenir recidivas b) balanite: creme com nistatina 100.000 UI e ácido bórico a 2%; para balanites recidivantes, a postectomia está indicada c) dermatite das fraldas: cuidados gerais de higiene local e troca de fraldas, hidrocortisona a 1% associada a nistatina creme 25.000 a 100.000 UI, para alívio do quadro inflamatório em caso de maceração, ou imidazólicos nas trocas de fraldas. Protetores de barreira são utéis, assim como a exposição diária ao sol d) vaginite: comprimidos vaginais ou óvulos (nistatina 100.000 UI, clotrimazol 500 mg, miconazol 1.200 mg), tioconazol creme a 6,5%, itraconazol e fluconazol e) candidíase oral, estomatite, perlèche: violeta de genciana a 2% (3 a 4 vezes/dia); solução de 400.000 a 500.000 UI nistatina 3 a 4 vezes/dia ou associação das duas; fluconazol oral ou itraconazol oral f) visceral: anfotericinaB, 5-fluorocitosina g) gastrintestinal: nistatina oral, cetoconazol oral h) brônquica: nistatina e pimaricina em aerossóis, cetoconazol oral, itraconazol e fluconazol i) mucocutânea crônica: itraconazol e fluconazol contínuos, pois, caso contrário, recidiva em pouco tempo. ➢ RECORRÊNCIA: O fracasso no tratamento das micoses superficiais decorre de vários fatores, como: irregularidade no tratamento (frequência, doses); defeito de absorção (griseofulvina); falta de correção das concausas; eliminação das complicações inflamatórias (corticoide) e bacterianas (antibacterianas); resistência microbiana; reexposição; imunodeficiência.
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