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Farmacologia e terapêutica veterinária do sistema cardiovascular

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Brasília-DF. 
Farmacologia e TerapêuTica VeTerinária 
do SiSTema cardioVaScular
Elaboração
Iracema Gomes de Araujo
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APrESEntAção .................................................................................................................................. 4
orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5
introdução ..................................................................................................................................... 7
unidAdE i
Fisiologia CardiovasCular ............................................................................................................. 9
CAPítulo 1
aspeCtos básiCos da Função CardíaCa ........................................................................... 9
CAPítulo 2
CiClo CardíaCo: Coração Como uma bomba ............................................................. 17
unidAdE ii
digitáliCos, inotrópiCos positivos e vasodilatadores ............................................................... 20
CAPítulo 1
inotrópiCos positivos ....................................................................................................... 20
CAPítulo 2
inodilatadores .................................................................................................................. 36
CAPítulo 3
inibidores da enzima Conversora de angiotensina ...................................................... 41
CAPítulo 4
vasodilatadores ............................................................................................................... 46
unidAdE iii
drogas antiarrítmiCas .................................................................................................................. 55
CAPítulo 1
ritmiCidade CardíaCa ....................................................................................................... 55
CAPítulo 2
ClassiFiCação dos meCanismos arritmogêniCos ........................................................ 60
CAPítulo 3
ClassiFiCação das drogas antiarrítmiCas .................................................................... 63
PArA (não) FinAlizAr ...................................................................................................................... 72
rEFErênCiAS .................................................................................................................................... 74
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem 
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela 
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade 
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos 
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma 
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para 
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar 
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a 
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de 
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões 
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao 
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e 
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos 
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
introdução
A compreensão da farmacodinâmica clínica das drogas que agem no sistema cardiovascular 
é essencial para a medicina veterinária por duas importantes razões. Primeiramente, para a 
manutenção do padrão da indispensável função bombeadora do coração e, em segundo lugar, pois 
disfunções cardíacas passíveis de tratamento são comuns em diversas espécies. 
Esse caderno de estudos considera as principais drogas utilizadas no manejo terapêutico das 
desordens cardiovasculares, com foco nos aspectos básicos da função cardíaca, agentes inotrópicos 
positivos, inodilatadores e vasodilatadores, bem como drogas antiarrítmicas e anticoagulantes.
objetivos
 » Promover uma breve revisão sobre a anatomia e fisiologia do sistema cardiovascular 
e os seus principais distúrbios em medicina veterinária.
 » Compreender os mecanismos de ação dos diferentes fármacos com ação sobre o 
sistema cardiovascular com relevância em Medicina Veterinária.
 » Analisar diferentes aspectos (clínicos e experimentais) na utilização dos diferentes 
fármacos, a fim de estabelecer as melhores estratégias terapêuticas.
9
unidAdE iFiSiologiA 
CArdiovASCulAr
CAPítulo 1
Aspectos básicos da função cardíaca
O coração do mamífero possui quatro câmaras, dois átrios e dois ventrículos, formados basicamente 
por células miocárdicas, por meio das quais a atividade elétrica se propaga (Figura 1). Imersas 
nessa massa muscular contrátil, existem estruturas constituídas por tecido muscular modificado 
especializadas na gênese e na condução da atividade elétrica.
Figura 1. representação esquemática das estruturas do coração de mamíferos.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/n%C3%b3dulo_sinoatrial>
10
UNIDADE I │ FIsIologIA CArDIovAsCUlAr
No átrio direito, nas proximidades da desembocadura da veia cava superior, situa-se o nó sinusal 
(ou sinoatrial – NSA), que no coração normal é o local de gênese da atividade elétrica cardíaca 
espontânea. Por isso, o NSA éconsiderado o marca-passo cardíaco. Também no átrio direito, na 
superfície endocárdica da porção inferior do septo interatrial, localiza-se o nó atrioventricular – 
NAV. Outro tecido especializado em condução é o feixe de His, que parte do NAV e se estende 
para a musculatura ventricular, subsequentemente dividindo-se e formando uma extensa rede de 
condução intraventricular, as fibras de Purkinje (Figura 2).
Figura 2. representação esquemática dos sistemas de condução da atividade elétrica cardíaca. 
Fonte: <http://www.lifesavers.com.br/r/nocoes-de-Fisiologia-11.html.>.
A manutenção do potencial de repouso dentro de certos valores é fundamental para a ativação 
normal do coração, uma vez que os principais canais iônicos responsáveis pela atividade elétrica 
cardíaca são dependentes de voltagem. Assim como nos neurônios, o potencial de repouso – PR da 
célula miocárdica corresponde em grande parte, ao potencial de equilíbrio do K+. Dessa forma, para 
ativação normal do miocárdio, excetuando-se o marcapasso, é fundamental que o PR seja mantido 
na faixa de -80 a -90mV, quando o canal de Na+, responsável pela fase inicial do potencial de ação 
– PA está fechado. 
As células musculares cardíacas reagem ao estímulo, que se origina do NSA, pela despolarização de 
sua membrana, com uma PA. Um aspecto que chama atenção é a grande diversidade de formas de 
PAs dependendo da região do coração. Outra característica marcante dos PAs cardíacos é a longa 
duração. Levando em conta o nível de potencial de repouso e a velocidade de despolarização, os PAs 
cardíacos podem ser unificados em dois tipos: potencial de ação rápido e lento.
O potencial de ação rápido (em células de resposta rápida) é característico do miocárdio de trabalho 
atrial e ventricular, também do feixe de His e das fibras de Purkinje (Figura 3). Quando a membrana 
é despolarizada, há ativação de canais de Na+ voltagem-dependentes, o que permite o influxo de 
Na+, que vai promover despolarização adicional e, consequentemente, mais influxo de Na+, e assim 
por diante num processo de retroalimentação positiva, o que resulta em uma rápida e grande 
despolarização da membrana na forma de ultrapassagem (de +40 a +50mV). 
11
Fisiologia CardiovasCular │ uNidadE i
Então, a principal corrente de despolarização, responsável pela despolarização (fase 0) do PA 
rápido, é a corrente de sódio dependente de voltagem (INa). Pela sua grande densidade, essa corrente 
é fundamental para a rápida propagação do PA (1 a 5m/s). As menores velocidades ocorrem no 
miocárdio atrial e ventricular e as maiores, nas fibras de Purkinie, tecido especializado na condução. 
A seguir, diferentemente do observado no PA do axônio em que a repolarização se processa em 
poucos milissegundos, há uma rápida e transitória repolarização (fase 1), associada à abertura do 
canal de potássio transiente de efluxo (Ito1) ativada por despolarização. Nesse momento, há um 
rápido e momentâneo aumento da permeabilidade da membrana ao K+, explicado pelas rápidas 
cinéticas de ativação e inativação deste canal. Nas fibras de Purkinje, há a evidencia de que a fase 1 
conta também com influxo de Cl- por meio de um canal de cloreto (Ito2). 
Logo após a fase 1, inicia-se a fase de platô (fase 2) de duração variável (100 a 500ms). Durante 
o platô, a célula fica despolarizada com um potencial próximo de zero mV, e tanto as correntes 
despolarizantes (influxo) quanto as repolarizantes (efluxo) são pequenas, de amplitudes praticamente 
iguais, pois a soma das condutâncias ao Na+ e ao Ca++ praticamente se iguala à condutância ao K+. 
Assim, o fluxo efetivo de cargas durante esta fase é muito pequeno, razão pela qual o potencial 
transmembrana permanece relativamente estável. As correntes despolarizantes presentes nessa 
fase incluem a corrente de cálcio do tipo L (ICa,L) que possuem uma inativação lenta, e a INa, com seu 
componente de inativação lenta. Quanto às correntes repolarizantes, a bomba de Na+/K+ tem seu 
efeito mais proeminente nessa fase, assim como a inativação completa de Ito1 também contribui. É 
interessante ressaltar, que é na fase 2 do PA que há o aumento da condutividade da membrana ao 
Ca++ para as fibras musculares, importante para a contração muscular. 
As correntes despolarizantes decaem completamente, havendo uma absoluta predominância de 
correntes repolarizantes, caracterizando a fase de repolarização rápida final (fase 3). Nessa fase, a 
maior condutância ao K+ está associada com a ativação de canais de K+ dependentes de voltagem, 
retificadores retardados (IK: IKr, IKs e IKur). Induzidas pela despolarização de fase 0, promovendo 
um grande efluxo de K+, o que leva à rápida repolarização. Até que o potencial volta ao nível de 
repouso (fase 4), caracterizado, novamente, por um balanço entre correntes despolarizantes e 
repolarizantes, de modo que o saldo é uma corrente efetiva nula, nas células com PR estável.
Figura 3. representação esquemática do potencial de ação cardíaco em células de resposta rápida.
Fonte: <http://www.uff.br/fisio6/aulas/aula_07/topico_01.htm>
12
UNIDADE I │ FIsIologIA CArDIovAsCUlAr
O potencial de ação lento (em células de resposta lenta) está presente nas células do NSA e NAV 
(Figura 4). Como não há participação de canais de Na+ na gênese desse PA, a principal corrente 
despolarizante e responsável pela fase 0 é a corrente de Ca++ do tipo L (ICa,c), que se caracteriza por 
um ativação mais lenta e uma densidade bem inferior a de INa. Disso resulta uma fase 0 mais lenta 
e, consequentemente, uma propagação do PA mais lenta nos dois nós (cerca de 0,05m/s). Esse PA 
não apresenta fase 1 e fase 2, então, após a fase 0, segue-se uma repolarização contínua, mais lenta 
no início o e mais rápida no final, em função da abertura de canais de K+ retificadores retardados 
(IKr e IKs). Essa repolarização atinge um potencial de cerca de -70 a -60mV, retornando, então, ao 
potencial de repouso (fase 4). Mas essa fase é caracterizada por uma despolarização lenta, assim, 
diferente do miocárdio de trabalho, os nós NAV e NSA não apresentam um PR fixo.
Figura 4. representação esquemática do potencial de ação cardíaco em células de resposta lenta.
Fonte: <http://www.fac.org.ar/6cvc/llave/c155/perezra.php>
Uma vez estimulado um PA rápido no miocárdio, por maior que seja a intensidade do estímulo, um 
segundo PA só poderá ser elicitado depois que tenha ocorrido ao menos 50% da repolarização. Esse 
é o período refratário absoluto. A partir daí, inicia-se o período refratário relativo, que é o período 
em que um estímulo com intensidade supralimiar é capaz de estimular um segundo PA. 
Com PA de maior duração, os períodos refratários no músculo cardíaco são muitos mais longos do 
que no axônio e, igualmente, são cruzados pela inativação dos canais de Na+, que só retornam à 
conformação de fechados quando o potencial retorna para o valor de repouso. Uma consequência 
de períodos refratários mais longos é que no coração não ocorre o fenômeno somação temporal, 
observado nos neurônios. Outra consequência é que a frequência máxima possível a ocorrência de 
PA é cerca de três vezes menor no coração, no axônio.
Essas diferenças são muito interessantes e importantes para a função de cada tipo celular, pois no 
axônio, a função básica do PA é transmitir rapidamente mensagens ao corpo, de grandes distancias, 
consequentemente, quanto mais ampla a faixa de frequência, maior a capacidade de transmissão de 
mensagem. Já no miocárdio, a função básica do PA é garantir uma propagação rápida e coordenada 
e, com isso, disparar o processo de contração sincronizada em todo o coração. Dessa forma, 
frequências ventriculares muito altas reduziriam o tempo de enchimento ventricular, diminuindo 
13
Fisiologia CardiovasCular │ uNidadE i
a eficiência da bomba cardíaca. Além disso, a contração muscular cardíaca ocorre “dentro” da 
fase de platô do PA, isto é, no período refratário absoluto, diferente do músculo esquelético, no 
qual a contração ocorre após o finaldo PA. Assim, o músculo cardíaco só é novamente estimulado 
quando a contração já estiver terminado. Consequentemente, o miocárdio não é passível de tetania, 
essencial para sua ritmicidade. Uma observação interessante é que o período refratário no PA lento 
ultrapassa a própria duração do PA, consequência do maior tempo requerido para a remoção da 
inativação do canal de Ca++ do tipo L.
Determinadas células cardíacas não necessitam de estímulo externo para iniciar uma ação potencial. 
Essa propriedade é denominada automatismo, presente nas células do NSA e NAV. Nessas células 
não existem um potencial de repouso fixo, sendo a repolarização seguida de uma despolarização lenta 
da membrana chamada despolarização diastólica ou fase 4 do PAs automáticos. Essa fase prossegue 
até um certo potencial limiar (em torno de -40mV), no qual se desencadeia a despolarização rápida 
(fase 0) por ativação de ICaL, iniciando-se assim um novo PA. As células do NSA são as que apresentam 
a fase 4 mais inclinada (despolarização diastólica mais rápida), atingindo o limiar mais rápido que 
o NAV, o que garante ao NSA a condição de marca-passo cardíaco.
Assim, em condições normais, apenas o automatismo do NSA se manifesta. A despolarização 
diastólica é um somatório de várias correntes iônicas que atravessam a membrana nos dois sentidos. 
As principais correntes são as correntes marca-passo (If), que permite maior influxo de Na
+ do que 
efluxo de K+, as correntes de cálcio (ICaT e ICaL) e as correntes de potássio (IKr e IKs). Entretanto, a 
corrente de Ca++ do tipo T é considerada a principal corrente na gênese do automatismo, sendo 
encontrada em densidade maior no NSA que no NAV.
O miocárdio apresenta, em pontos de contatos entre as células vizinhas, regiões especializadas, 
denominadas discos intercalares, onde se encontram junções de adesão mecânica, como os 
desmossomas, indispensáveis para que o coração suporte as altas pressões desenvolvidas 
(particularmente, no ventrículo esquerdo) em condições normais, mas também nas outras câmaras 
em condições patológicas. Também, há junções especializadas em comunicação que permite a troca de 
substâncias entre células contíguas, chamadas junções comunicantes, ou gap juntions, que formam 
vias de baixa resistência entre célula adjacente, que se aderem formando um canal juncional. 
Dessa forma, há a possibilidade de o miocárdio se comportar como um sincício funcional, pois ocorre 
fluxo de corrente entre as células por meio dessas junções, de tal forma que, se determinada região 
do miocárdio for estimulada, ativando o PA, este se propagará por toda a massa muscular. Como os 
átrios ficam separados dos ventrículos, dizemos que o coração é formado por 2 sincícios, um atrial 
que forma a parede dos dois átrios, e outro ventricular, que forma a parede dos ventrículos. Essa 
divisão permite que os átrios se contraiam pouco antes da contração ventricular, o que é importante 
para a eficácia do bombeamento cardíaco.
Os estímulos excitatórios se propagam pelo coração, originados no NSA, passando pelos átrios 
(como se fosse uma onda), pelo NAV, pelo feixe de His e pelas fibras de Purkinje, e atingem todo 
o miocárdio ventricular. Quando os ventrículos estão inteiramente despolarizados, os átrios já 
repolarizaram. Pode-se dizer que há também uma propagação da repolarização a partir da região 
que primeiro repolariza.
14
UNIDADE I │ FIsIologIA CArDIovAsCUlAr
O traçado do eletrocardiograma – ECG equivale a essa sequência de eventos. O ECG é um 
procedimento clínico que fornece informações sobre a propagação de excitação elétrica nos 
miocárdios atrial e ventricular. Baseia-se em variações na diferença de potencial entre dois pontos 
na superfície corporal em função do tempo. Dependendo da posição dos eletrodos, a morfologia 
das ondas do ECG pode variar. Na posição do braço direito e pé esquerdo (derivação II, segundo 
Einthoven), onde P corresponde à despolarização atrial (excitação atrial), o intervalo PQ corresponde 
ao tempo de condução átrioventricular, o complexo QRS corresponde à despolarização ventricular, 
e a onda T representa a repolarização ventricular.
Figura 5. representação esquemática da unidade eletrocardiográfica
Fonte: <http://ecg.med.br/assuntos-online/o-eletrocardiograma-normal>
A repolarização dos átrios, que ocorre na fase de despolarização dos ventrículos (complexo QRS), 
normalmente não é visto no ECG por causa do baixo valor de voltagem. O segmento ST corresponde 
à fase de platô, que se situam em torno de 0mV. Pode ainda aparecer a onda U, que parece ser 
determinada pela repolarização das fibras ventriculares com PAs mais longos.
Quando o impulso cardíaco normal cursou cada extensão do miocárdio, ele “morre” e o coração 
aguarda um novo PA gerado no NSA. O fenômeno de reentrada é quando o impulso continua e 
trafegar, causando a reentrada do impulso em músculo que já foi excitado. Isso pode acontecer em 
3 condições: 
1. se a extensão do percurso for longa (exemplo, coração dilatado), pois a célula 
originalmente estimulada não estará mais refratária; 
2. se a velocidade de condução diminuir (exemplo, isquemia do músculo); 
3. se o período refratário ficar muito encurtado (exemplo, em resposta a diversos 
fármacos).
A reentrada pode causar muitos padrões anormais de contração cardíaca e até mesmo ritmos 
cardíacos anormais, que ignoram o efeito marca-passo do NSA, como a mais grave de todas as 
arritmias, a fibrilação.
15
Fisiologia CardiovasCular │ uNidadE i
O músculo cardíaco, assim como o músculo esquelético, é estriado porque os filamentos de actina 
e miosina se interdigitam, formando as estrias transversais. Os miofilamentos que também se 
organizam em miofibrilas, têm a mesma constituição que a do músculo esquelético, e é também os 
deslizamentos da actina sobre a miosina que caracteriza a contração.
Figura 6. representação esquemática do ciclo das pontes transversas na contração da musculatura esquelética
Fonte: <http://nutrisdoexercicio.wordpress.com/2013/04/23/histofisiologia-neuromuscular/>
Os mecanismos que causam o acoplamento entre a despolarização da membrana e a contração estão 
associados pelo conceito de acoplamento eletromecânico (Figura 7). Nesse processo, os íons Ca++ 
desempenham papel fundamental. O retículo sarcoplasmático – RS, importante reservatório de 
Ca++, é menos desenvolvido no miocárdio, por isso o influxo de Ca++, por meio do sarcolema, é muito 
importante. Os RS estão situados nas proximidades dos miofilamentos, com curtas vias de difusão 
para o Ca++, possibilitando alterações de concentração de Ca++ diretamente no local de sua ação. A 
liberação de Ca++ ocorre pelos compartimentos dilatados, nas extremidades do RS, chamadas de 
cisternas terminais, que se situam na proximidade imediata de invaginações do sarcolema (Túbulos 
T). O PA se propaga pela membrana da célula cardíaca, atingindo os túbulos T, onde estão os canais 
16
UNIDADE I │ FIsIologIA CArDIovAsCUlAr
de Ca++ do tipo L, também denominados receptores para di-hidropiridina (DHPR). Durante a fase 
de platô (fase 2) do PA, o Ca++ flui, ao longo de seu gradiente eletroquímico, pelos canais (DHPR), 
para o interior das fibras musculares, e ativa canais de Ca++ do RS, denominados receptores para 
rianodina (tipo 2, RyR2), desencadeando liberação adicional de Ca++ pelo RS (liberação de Ca++ 
induzida por Ca++). Esse Ca++ induz o ciclo de contração por sua ligação com a troponina C, igual no 
músculo esquelético (Figura 7).
Brevemente, o miocárdio relaxa quando o transporte ativo primário – ATP se liga à cabeça 
da miosina, o que diminui sua afinidade pela actina e volta para 90º, e quando a concentração 
citosólica de Ca++ diminui, pois não há ligação de Ca++ a TnC e o complexo tropomiosina-troponina 
retorna a sua conformação de repouso, isto é, recobrindo os sítios ativos na actina para ligação da 
miosina. Há a rápida reabsorção (ou recaptação) de Ca++ pelo RS, um processo dependente de ATP, 
que é mediado por uma Ca++-ATPase,também chamada de ATPase transportadora de cálcio do RS 
(SERCA), e modulada pela proteína fosfolambam. A fosforilação do fosfolambano, por proteínas 
cínases dependentes de AMPc, desinibe (e assim, estimula) a atividade da SERCA e com isso 
aumenta a recaptaçao de Ca++ pelo RS. O Ca++ também é transportado por meio do sarcolema para 
fora da célula, por uma Ca++-ATPase e por um trocador de 3Na+/1Ca+. Esse trocador transfere 3Na+ 
para dentro, a favor do gradiente, e 1Ca++ para fora da célula, contra o gradiente de concentração, 
sendo então um transporte ativo secundário, mantido pela atividade contínua de Na+-K+-ATPase.
Figura 7. representação esquemática do mecanismo de acoplamento excitação-contração no músculo 
cardíaco.
17
CAPítulo 2
Ciclo cardíaco: coração como uma 
bomba
Sob o ponto de vista funcional, o coração consiste de duas bombas, interligadas de modo sequencial. 
O coração direito, abastecido com sangue venoso pelas veias cavas superior e inferior, por intermédio 
da contração do ventrículo direito, ejeta sangue venoso para circulação pulmonar por meio da 
artéria pulmonar. O coração esquerdo bombeia o sangue rico em oxigênio, por meio de contração 
do ventrículo esquerdo, por meio da aorta, para a circulação corporal (sistêmica). As contrações do 
coração esquerdo e do direito ocorrem simultaneamente. A função de bombeamento do coração 
está baseada na sequência rítmica de contração (sístole) e relaxamento (diástole), que compõem 
o chamado ciclo cardíaco. A ação bombeadora do coração reflete-se nas mudanças de volume e 
pressão que ocorrem em cada câmara cardíaca e nas grandes artérias, na medida em que o coração 
completa cada ciclo.
A direção do fluxo sanguíneo é determinada pela disposição das valvas cardíacas, cuja função 
permite o transporte do sangue em uma só direção. A valva atrioventricular direita é composta por 
três cúspides (ou folhetos) e denomina-se valva tricúspide, enquanto aquela que separa o átrio e 
ventrículo esquerdo é composta por duas cúspides, sendo denominada bicúspide ou mitral. Essas 
valvas atrioventriculares abrem-se quando a pressão ventricular é menor que a atrial e fecham-se 
quando as pressões se invertem. Além das valvas atrioventriculares, existem as semilunares, 
constituídas por três cúspides cada, inseridas no trato de saída da artéria pulmonar (valva pulmonar) 
e da aorta (valva aórtica). As valvas semilunares abrem-se, quando a pressão ventricular ultrapassa 
a pressão arterial (pulmonar ou aórtica), e fecha-se quando ocorre o inverso.
Sons sincronizados, ou melhor, ruídos, podem ser percebidos por meio do tórax, com auxilio de 
estetoscópio, são produzidos no coração durante o ciclo cardíaco. Quatro ruídos ou bulhas cardíacas 
geralmente são produzidos pelo coração, mas somente duas são audíveis pelo estetoscópio. A primeira 
bulha cardíaca inicia-se no começo da sístole ventricular, sendo um ruído abafado, alto e de longa 
duração. É produzida pela oscilação do sangue nas câmaras ventriculares e pela vibração das paredes 
dessas câmaras, quando há elevação abrupta da pressão ventricular e, principalmente, com a retração 
repentina das valvas atrioventriculares (A-V), havendo desaceleração do sangue quando elas se 
fecham. As vibrações dos ventrículos e do sangue neles contidos são transmitidas, através dos tecidos 
adjacentes, e alcançam a parede torácica, sendo ouvido um ruído do tipo “tum”. Assim, a primeira 
bulha coincide com o fechamento das valvas A-V. A segunda bulha coincide com o fechamento abrupto 
das valvas semilunares e é composta por vibrações de frequência mais alta (tom mais alto), com menor 
intensidade e duração; é auscultada como um ruído mais “claro”, do tipo “ta”. 
Com recursos eletrônicos especiais (fonocardiograma), uma terceira bulha cardíaca pode ser 
demonstrada. Causada pelo sangue entrando durante o enchimento ventricular inicial, essa bulha 
consiste de vibrações de frequência e intensidade baixas. Em corações sobrecarregados, como em 
18
UNIDADE I │ FIsIologIA CArDIovAsCUlAr
caso de insuficiência cardíaca congestiva, quando o volume ventricular é muito grande, a terceira 
bulha pode ser auscultada, o que é um sinal grave. 
Uma quarta bulha consiste de poucas oscilações de baixa frequência, é ouvida raramente em 
indivíduos normais, sendo causada por oscilações do sangue e das câmaras durante a sístole atrial. 
Os ruídos anormais são caracterizados como sopros cardíacos, que podem ser causados por uma 
insuficiência valvar, quando não há o fechamento completo da valva, ou por uma estenose, quando 
não há abertura completa da valva, então, esse estreitamento dificulta a passagem do sangue. A 
insuficiência mitral e a estenose mitral produzem, respectivamente, sopros sistólico e diastólico, 
pois há refluxo do sangue no momento da diástole ou dificuldade para passagem do sangue na 
diástole. A insuficiência aórtica e estenose aórtica, por outro lado, produzem, respectivamente, 
sopros diastólico e sistólico. As características do sopro servem como guia importante para o 
diagnóstico de doença valvar.
A cada geração espontânea de um PA pelo NSA, inicia-se um ciclo cardíaco. Esse, portanto, refere-se 
ao período compreendido entre o início de um batimento cardíaco e o início do batimento seguinte. 
Porquanto, as alterações de volume e pressão no lado direito são similares àquelas do lado esquerdo 
do coração, exceto quanto à pressão desenvolvida na sístole, cujo valor situa-se em torno de 1/5 
da pressão desenvolvida pelo ventrículo esquerdo. Para facilitar, o lado esquerdo é usado como 
exemplo na figura 7. O ciclo cardíaco inicia-se com a excitação atrial, a qual é indicada pela onda P 
no ECG. Como a valva A-V está aberta, a transferência de sangue do átrio para o ventrículo, feita 
pela onda de contração atrial, completa o período de enchimento ventricular. 
Essa sístole atrial é responsável pelos pequenos aumentos das pressões atrial (onda a) e ventricular, 
assim como do volume ventricular, já que a valva aórtica está fechada (pressão na aorta maior que 
no ventrículo esquerdo). Em frequências cardíacas baixas, a contribuição da sístole atrial para 
o enchimento ventricular é pequena, uma vez que, quando a despolarização atinge o ventrículo 
esquerdo, indicado pela presença do complexo QRS no ECG, inicia-se a sístole ventricular. 
Então, observa-se, em um curto intervalo de tempo, uma rápida subida da pressão ventricular, 
forçando o fechamento da valva A-V (mitral) e produzindo a primeia bulha cardíaca. Nesse curto 
período em que as valvas mitral e aórtica permanecem fechadas, a contração ventricular processa-se 
sem haver alteração de volume na câmara, por isso essa fase da sístole é denominada de contração 
isovolúmica ventricular. O aumento progressivo de tensão na parede ventricular produz rápido 
aumento da pressão ventricular e também em pequena elevação da pressão atrial (onda c) por 
causa da elevação do assoalho atrial e pequena protusão da valva A-V em direção a cavidade atrial. 
No momento em que a pressão ventricular ultrapassa a pressão na aorta (aproximadamente 80 
mmHg), a valva semilunar abre-se, começando a fase seguinte de ejeção de sangue da cavidade 
ventricular para aorta. 
Essa fase de ejeção tem um componente inicial rápido (ejeção rápida) seguido por uma ejeção final 
mais lenta (ejeção reduzida). A ejeção rápida é caracterizada pelo aumento da pressão ventricular 
e pelo declínio da curva de volume ventricular e como a entrada de sangue na aorta ocorre mais 
rapidamente que a passagem deste para as artérias menores, a pressão aórtica, que antes estava em 
declínio, agora aumenta até atingir um valor máximo, aproximadamente na metade do período de 
19
Fisiologia CardiovasCular │ uNidadE i
ejeção. Essa pressão máxima é referida como pressão arterial sistólica. Nesse momento, o miocárdio 
ventricular esquerdo começa a se repolarizar, conforme se constata pela presença da onda T no 
ECG. A pressão ventricular torna-se inferior à aórtica, mas a ejeção continua,ainda que reduzida 
(fase de ejeção reduzida), devido à alta aceleração imprimida ao sangue pela contração ventricular 
na fase anterior. 
Essa queda de pressão ventricular leva ao fechamento da valva aórtica (segunda bulha), terminando 
assim o período de sístole e ejeção ventricular (não é ejetado todo volume). Agora, as duas valvas 
(mitral e aórtica) estão fechadas e o miocárdio ventricular está relaxando, de modo que, por uma 
função de tempo, não há variação de volume ventricular, por isso esse período é denominado de 
relaxamento isovolúmico, que marca o início de diástole. Por causa da queda da tensão ativa na 
parede ventricular, a pressão ventricular diminui rapidamente. A pressão aórtica varia pouco 
devido à elasticidade de suas paredes, mas depois decresce durante toda a diástole, na medida em 
que o sangue flui em direção à microcirculação. A pressão atrial continua crescendo, devido ao 
retorno venoso e ao fato da válvula mitral estar fechada, até o momento em que supera a pressão 
ventricular, que inicialmente é rápido, havendo grande aumento do volume ventricular porque o 
gradiente pressórico é muito favorável à passagem do sangue da cavidade atrial a ventricular. 
Na medida em que esse gradiente pressórico diminui, o que ocorre na fase média da diástole, a 
velocidade de enchimento torna-se menor, caracterizando a fase de enchimento ventricular lento ou 
diástole, havendo um pequeno e lento aumento do volume ventricular. Simultaneamente, a pressão 
aórtica continua caindo lentamente até atingir um valor mínimo no final da diástole, referida como 
pressão arterial diastólica. O enchimento ventricular termina com a sístole atrial e o fechamento da 
valva mitral, que indicam o início de mais um ciclo cardíaco.
Figura 8. representação esquemática da relação temporal entre as pressões atrial, ventricular e aórtica, o volume 
ventricular, o eletrocardiograma e fonocardiograma, no ventrículo esquerdo.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_card%C3%adaco> 
20
unidAdE ii
digitáliCoS, 
inotróPiCoS 
PoSitivoS E 
vASodilAtAdorES
CAPítulo 1
inotrópicos positivos
Os digitálicos e diversos agentes químicos da mesma família são derivados de plantas, como 
a dedaleira roxa (Digitalis purpurea), além de outras espécies não relacionadas aos digitális. O 
uso medicinal de extratos dessas plantas, contendo princípios cardioativos, apresenta uma longa 
história, datada dos tempos antigos das civilizações grega e romana. 
A aplicação dos digitálicos na medicina moderna pode ser datada em 1765, quando William 
Withering – médico da Inglaterra – relatou suas observações sobre o uso de terapêutico da dedaleira. 
Essa notável história teve início com uma senhora idosa que, durante muitos anos, divulgou um 
remédio popular de ervas supostamente eficaz contra a hidropsia (edema). Apesar de tal remédio 
ser um segredo de família e de ter em sua composição cerca de 20 diferentes ervas, Withering 
atribuiu corretamente os efeitos terapêuticos benéficos ao ingrediente da dedaleira. Após 10 anos de 
estudos, Withering foi convencido sobre os valores terapêuticos da planta e publicou a sua clássica 
monografia intitulada “An account of the Foxglove and some of its medical uses: with practical 
remarks on dropsy and other diseases”.
A monografia “An account of the Foxglove and some of its medical uses: with practical 
remarks on dropsy and other diseases”, pode ser encontrada no seguinte link: <http://
books.google.com.br/books/about/An_Account_of_the_Foxglove_and_Some_
of_I.html?id=VgIta49rzT4C&redir_esc=y>.
Devido à resposta diurética frequentemente pronunciada, os rins foram primeiramente atribuídos 
como órgãos-alvo para a dedaleira; entretanto, Withering expôs que ele teria ação sobre os movimentos 
cardíacos, em um grau até o momento não observado com qualquer outro medicamento, e tal efeito 
pode ser convertido para fins salutares. Estudos subsequentes realizados por diversos estudiosos 
identificaram o coração como sendo o foco dos agentes digitálicos em pacientes com falência 
cardíaca congestiva e designaram como o seu principal mecanismo de ação o seu efeito inotrópico 
positivo sobre o miocárdio. Tais agentes também exercem importantes ações antiarrítmicas que 
possuem aplicações terapêuticas, estando a falência cardíaca congestiva instalada ou não.
21
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
A resposta terapêutica aos digitálicos em pacientes com falência cardíaca congestiva implica em 
um amplo escopo de ajustes hemodinâmicos que aumentam a contratilidade miocárdica, além de 
aumentar o output cardíaco, aumentar a diurese e reduzir o edema, controlar as arritmias cardíacas 
e reduzir o volume sanguíneo, a pressão venosa, o tamanho do coração e a frequência cardíaca. A 
melhora na contratilidade miocárdica é o seu efeito mais importante, consistindo no efeito primário, 
a partir dos quais todos os demais efeitos são dependentes.
A habilidade dos glicosídeos cardíacos em aumentar a contratilidade miocárdica foi demonstrada 
em uma série de experimentos. O músculo cardíaco suspenso, e em comprimento constante, 
responde aos digitálicos com um aumento na força sistólica isométrica; já quando o músculo 
cardíaco é estudado sob condições isotônicas, o encurtamento muscular é aumentado. A infusão 
endovenosa da droga aumenta a pressão desenvolvida intraventricular em indivíduos intactos, 
até mesmo quando a frequência cardíaca, o retorno venoso e a pressão sanguínea são mantidas 
constantes por meios experimentais. Tais resultados validam um efeito direto no encurtamento 
contrátil, independente de alterações no comprimento da fibra em repouso, frequência cardíaca, 
ou pós-carga.
A ação inotrópica positiva dos glicosídeos cardíacos é particularmente pronunciada nos corações 
hipodinâmicos ou com falência. Entretanto, tal fato não deve ser interpretado como evidência de 
que os digitálicos corrigem seletivamente o defeito bioquímico específico no coração com falência 
cardíaca crônica. Tal imperfeição já foi identificada de forma satisfatória. Os digitálicos, por meio 
do aumento da disponibilidade de cálcio nas fibras cardíacas, aumentam a contratilidade, tanto 
do coração normal quanto daquele com falência. Assim, os glicosídeos cardíacos podem aumentar 
a fração de encurtamento cardíaco através de uma via celular que ignore ou envolva – apenas 
parcialmente – o defeito espontâneo. (ARANOW, 1992).
O mecanismo de ação dos digitálicos, útil na falência cardíaca congestiva, seria o seu efeito inotrópico 
positivo sobre a musculatura cardíaca; entretanto, apenas parte de seus mecanismos podem ser 
respondidos sem controvérsias. (FELDMAN, 1993).
A bomba de sódio e potássio (Na+/K+-ATPase) presente na membrana celular é dependente de 
magnésio e responsável pelo transporte ativo de Na+ e K+ contra os seus respectivos gradientes de 
concentração (Figura 9). Acredita-se que Na+/K+-ATPase seja o receptor celular para os glicosídeos 
digitálicos (AKERA e NG, 1991) de forma que a sua inibição por tais substâncias resulta em uma 
progressiva redução nas concentrações intracelulares de K+, a medida que a habilidade da bomba em 
transportar os íons Na+ e K+ diminui (KATZ, 1985). Uma diminuição na concentração intracelular 
de íon potássio e/ou um aumento em sua concentração extracelular reduz o potencial de repouso 
da membrana para valores mais negativos, o que pode levar a um aumento do automatismo e, 
eventualmente, um prejuízo na condução e excitabilidade. A inibição da Na+/K+-ATPase e a 
depleção resultante das concentrações intracelulares de potássio são os responsáveis por muitos 
das atividades tóxicas antiarritmogênicas dos digitálicos.
22
UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
Figura 9. representação esquemática da atividade da bomba de sódio e potássio.
disponível em: <http://dc367.4shared.com/doc/mttYwy58/preview.html>.
O efeito inotrópico envolve a ativação do trocador Na+/Ca++, pormeio do acúmulo de Na+ no 
meio intracelular. Baker et al. (1969) demonstraram com axônio gigante de lula que o aumento 
no conteúdo de sódio no meio intracelular aumentava a captação do íon cálcio através do 
processo de troca mediado pelo transportador Na+/Ca++. Tal mecanismo parece ser eficaz em 
outros tecidos excitáveis e tem sido evocado como o elo entre a inibição da Na+/K+-ATPase e a 
inotropia digitálica no coração (LANGER, 1977). A sequência de eventos pode ser visualizada na 
seguinte progressão: 
I. os digitálicos interagem com a Na+/K+-ATPase, inibindo-a;
II. o efluxo de sódio é reduzido;
III. as concentrações intracelulares de Na+ aumentam;
IV. aumenta o gradiente para o transporte antiporte por meio da membrana entre Na+ 
(intracelular) e Ca++ (extracelular);
V. a concentração intracelular de Ca++ aumenta; 
VI. o aporte de Ca++ para as proteínas contráteis aumenta; e 
VII. o efeito inotrópico positivo é alcançado (Figura 10).
23
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
Figura 10. representação esquemática da ação dos digitálicos sobre a bomba de sódio e potássio e a sua 
consequência sobre os processos contráteis cardíacos.
Fonte: modificado de riviere Je e papich mg, In: veterinary pharmacology and therapeutics, 9th edition, iowa: 
Wiley-blackwell.
Output Cardíaco
Glicosídeos digitálicos exercem uma ação fundamentalmente similar no miocárdio com ou sem 
falência: o aumento na contratilidade. Entretanto, alterações no output cardíaco são influenciados 
pelo status funcional do sistema cardiovascular no momento da administração dos digitálicos.
Coração sem falência
O output cardíaco do coração normal aumenta minimamente e pode até reduzir suavemente após 
o tratamento com os digitálicos (BRAUNWALD, 1985). A resistência periférica total é aumentada 
pelos digitálicos no indivíduo normal como resultado do aumento centralmente mediado no tônus 
simpático vasomotor e um efeito vasoconstrictor direto. A impedância do sistema arterial para a 
ejeção ventricular é, desse modo, aumentada, o que se opõe à tendência de aumento no output 
cardíaco produzido pela resposta inotrópica positiva à droga. O aumento na impedância de efluxo 
e na contratilidade cardíaca tende a neutralizar um ao outro, produzindo uma pequena razão de 
alteração no output cardíaco em populações normais.
24
UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
Coração com falência
A capacidade de trabalho do ventrículo com falência em qualquer volume diastólico final ou pressão 
é inadequada pra gerar um volume sistólico normal. A fração de ejeção é reduzida adequadamente, o 
que aumenta o volume de sangue residual no ventrículo após a sístole. Caso o enchimento diastólico 
continue em uma razão próxima ao normal, o ventrículo irá dilatar a fim de acomodar o aumento 
no volume diastólico final. Após a administração de digitálicos, ambos os processos são revertidos. 
O aumento no vigor contrátil cardíaco mediado pelos digitálicos aumenta a capacidade de trabalho 
do ventrículo em qualquer pressão final de enchimento diastólico. Os digitálicos trocam a função 
ventricular completa em direção ao aumento da contratilidade (MASON, 1973). O esvaziamento 
sistólico é mais completo neste momento e o volume residual ventricular é reduzido. O output 
cardíaco aumenta e o tamanho do coração é reduzido à medida que o volume de enchimento 
ventricular é diminuído.
Ajustes hemodinâmicos subsequentes evocam outras respostas que contribuem para a manutenção 
da melhora do output cardíaco no paciente com falência cardíaca congestiva. Por exemplo, a 
vasoconstricção mediada pelo sistema nervoso simpático e seu respectivo aumento na resistência 
vascular periférica já estão em progresso nestes indivíduos, como parte da resposta compensatória 
para a sua condição patofisiológica; o aumento na impedância para a ejeção ventricular está 
em vigor. Após os digitálicos, o aumento pronunciado da contratilidade miocárdica e o volume 
sistólico colocaram em progressão uma retirada reflexa do tônus vasomotor. Isso, por sua vez, 
evoca a vasodilatação periférica, a redução da resistência periférica e a redução da impedância 
do efluxo. Tal sequência de eventos continua a dominar, à medida que a perfusão periférica e a 
oxigenação tecidual melhora, o que compensa os efeitos vasoconstrictores diretos dos digitálicos. 
O aumento no output cardíaco persiste à medida que o estado de compensação do miocárdio 
prevaleça.
Metabolismo energético cardíaco
Os primeiros estudos forneceram evidências de que a resposta inotrópica positiva para os 
glicosídeos cardíacos seria única, quando contrastado com a atividade catecolaminérgica, devido 
aos digitálicos aumentarem a força de contratilidade sem um aumento proporcional no consumo 
de oxigênio. Entretanto, estudos com músculos sem falência, mostraram que os glicosídeos 
cardíacos aumentam o consumo de oxigênio proporcionalmente ao aumento na força contrátil. 
(LEE e KLAUS, 1971).
Tais dados, aparentemente contraditórios, podem ser reconciliados por meio da comparação da 
dinâmica cardíaca dos digitálicos nos corações com e sem falência. O coração com um volume 
ventricular normal responde aos digitálicos com o aumento no consumo de oxigênio proporcional 
com o aumento na contratilidade. O aumento no consumo de oxigênio é o resultado direto do 
aumento na contratilidade, de acordo com o conceito de que a demanda miocárdica pelo oxigênio é 
diretamente influenciada pelo estado inotrópico, frequência cardíaca e tensão da parede. A tensão 
da parede ventricular é diretamente proporcional à pressão ventricular e ao raio (Teoria de Laplace). 
Assim, ela diminuirá se houver uma redução na pressão ou no raio. 
25
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
Já no coração dilatado e com falência, a redução no tamanho cardíaco, secundária à ação inotrópica 
da terapia com digitálicos, leva a uma redução significante na tensão da parede, o que, por sua vez, 
leva a uma redução na demanda miocárdica por oxigênio.
Pressão sanguínea
Ajustes na pressão sanguínea após a terapia com glicosídeos cardíacos são secundários ao progresso 
cardiodinâmico no paciente com falência cardíaca congestiva e a pressão sistêmica tende a 
normalizar.
Efeitos neuroendócrinos
Nos pacientes com falência cardíaca congestiva, a redução na frequência cardíaca acompanha o 
efeito inotrópico positivo. Tal resposta é resultado, aparentemente, dos efeitos neuroendócrinos 
que têm sido reconhecidos como, talvez, mais importantes do que o próprio efeito inotrópico em 
doses terapêuticas. Também parece que tais efeitos neuroendócrinos são independentes da ação 
inotrópica positiva.
Os efeitos neuroendócrinos são alcançados devido a os digitálicos aumentarem a sensibilidade 
reflexa dos barorreceptores, que foi perdida durante a falência cardíaca. A dessensibilização parece 
causar um aumento nas concentrações de catecolaminas nos pacientes, bem como os digitálicos 
restauram a sensibilidade e diminuem o tônus simpático nos pacientes com falência cardíaca. Os 
efeitos neuroendócrinos também são atribuídos à estimulação vagal (efeito parassimpatomimético). 
Os efeitos neuroendócrinos são responsáveis pela diminuição na frequência de disparo do nodo 
sinusal, bem como na redução da velocidade de condução do impulso no nodo atrioventricular.
Excitabilidade
Efeitos eletrofisiológicos diretos e indiretos dos digitálicos podem ser demonstrados por todo 
o coração (GILLIS e QUEST, 1990). A redução na concentração intracelular de íon potássio e o 
aumento no conteúdo intracelular de íon sódio resultante da inibição da bomba de sódio e potássio 
produz uma despolarização parcial da célula, isto é, a negatividade da face interna da membrana 
é reduzida. A redução resultante no potencial diastólico traz esse valor para próximo ao limiar, 
tendendo então à aumentar a excitabilidade. O aumento da excitabilidade pode ser observado no 
átrio e no ventrículo a partirde uma pequena dose de digitálicos; entretanto, a excitabilidade é 
deprimida com o aumento progressivo do conteúdo da droga à medida que a despolarização 
diastólica progride para além do limite crítico.
Automatismo
As células marca-passo são caracterizadas pela despolarização espontânea, o que move o potencial 
diastólico para o limiar de excitação requerido para a fase 0 e, desse modo, disparando o potencial 
de ação automaticamente (ver capítulo 1). Doses terapêuticas de glicosídeos cardíacos produzem 
26
UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
uma redução na curva da despolarização espontânea do marca-passo sinoatrial, o que produz uma 
redução na taxa de disparos. Esse efeito, entretanto, é secundário ao aumento do tônus vagal e à 
diminuição do tônus simpático. Após o pré-tratamento com atropina, ou com doses relativamente 
altas de digitálicos, os efeitos não vagais dominam e um aumento no automatismo é observado; tal 
resposta prevalece nos sistemas especializados de condução atrial e, especialmente, ventricular. 
O aumento no automatismo evocado pelos glicosídeos cardíacos é relacionado com uma acelerada 
taxa de despolarização diastólica espontânea. A atividade marca-passo das células do sistema de 
condução ventricular, normalmente latente, é magnificada, levando a batimentos ventriculares 
ectópicos que são normalmente um importante sinal inicial de toxicidade digitálica. Em contraste, 
as fibras musculares no átrio e ventrículos podem ser despolarizadas de forma que se tornem não 
excitáveis, sem a deflagração de impulsos espontâneos. Caso a excitabilidade do músculo ventricular 
caia para abaixo do normal, concomitantemente com o aumento da frequência de impulsos ectópicos 
a partir das fibras de condução especializadas, a tendência para a fibrilação ventricular é aumentada.
A relevância clínica para a não usual pós-despolarização atrasada, que pode ser vista com a 
utilização dos digitálicos, não é completamente elucidada. Essas despolarizações secundárias do 
potencial inicialmente estão abaixo do limiar e aparecem espontaneamente durante a diástole, 
após um potencial de ação comum. A pós-despolarização pode alcançar o limiar à medida que a 
toxicidade piora; as extra-sístoles resultantes contribuem para as arritmias ectópicas associadas 
com a intoxicação por digitálicos.
Condução do impulso e período refratário
O efeito dominante dos digitálicos na condução do impulso é reduzir a velocidade de condução por 
meio de mecanismos tanto vagais quanto não vagais. Essa resposta é praticamente predominante no 
sistema de transmissão atrioventricular e contribui de forma importante para os efeitos benéficos 
dos digitálicos em controlar a taxa ventricular durante a fibrilação atrial e palpitação.
As ações vago-dependentes no animal intacto encurtam o período refratário das fibras atriais, que 
tendem a exacerbar o ritmo de fibrilação atrial. Em contraste, o período refratário do sistema de 
condução atrioventricular é marcadamente prolongado pelos mecanismos vagais. Os digitálicos 
encurtam o período refratário no ventrículo, o que contribui para as arritmias de reentrada.
Efeitos combinados durante a fibrilação atrial e a 
palpitação
Durante a fibrilação atrial, a frequência ventricular é rápida e sem ritmo, como resultado da 
transmissão dos impulsos nervosos de forma rápida e irregular através do nodo atrioventricular. 
Tal fato contribui ainda mais para a síndrome da falência cardíaca por promover o enchimento 
ventricular e ejeção incompleta. Devido ao fato de os digitálicos prolongarem o período refratário 
e atrasarem a condução do impulso nervoso através do nodo atrioventricular, o ventrículo será 
bombardeado por menos impulsos que atravessam efetivamente a junção atrioventricular. Assim, a 
frequência ventricular é ajustada para um nível mais lento, porém, mais fisiológico (MIJLER, 1985).
27
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
Benefícios similares são ganhos durante o flutter atrial. Os digitálicos podem converter esse ritmo 
para fibrilação atrial (ou o aumento na frequência do último) por meio de um mecanismo vago-
dependente, evocando a redução no período refratário atrial. A frequência ventricular ainda é 
reduzida devido a uma refratariedade atrioventricular prolongada e redução na condução do 
impulso. A conversão do flutter atrial para a fibrilação pelos digitálicos é vista de forma otimista 
em razão de a frequência ventricular ser controlada de forma mais fácil durante a fibrilação do que 
durante o flutter atrial.
Para uma breve revisão sobre as diferenças entre a fibrilação atrial e o flutter 
atrial, leia o seguinte artigo: ORGA FILHO, Adalberto et al. Diretriz de fibrilação 
atrial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 81, supl. 6, 2003. Disponível em: <http://
www.arquivosonline.com.br/pesquisartigos/Pdfs/2003/8106/Dir_FibriAtrial.pdf>.
Efeitos no eletrocardiograma
A multiplicidade dos efeitos eletrofisiológicos dos digitálicos cardíacos no miocárdio pode ser 
expressa de uma forma igualmente complexa por meio do eletrocardiograma. A maioria dos tipos 
de distúrbios de condução e disritmias detectados em animais doentes pode ser reproduzida em 
indivíduos normais por meio dos glicosídeos cardíacos. A maioria dessas alterações são mais 
importantes para o diagnóstico da toxicidade por glicosídeos do que para a sua terapia.
Pacientes com falência congestiva, com taquicardia sinusal ou outra taquiarritmia 
supraventricular demonstram, geralmente, o retorno em direção ao eletrocardiograma normal 
após a administração de digitálicos. Frequências ventriculares rápidas associadas com a 
fibrilação ou flutter atrial devem ser reduzidos à medida que a ação depressora dos digitálicos 
sobre a condução atrioventricular é manifestada. O prolongado intervalo PR, refletindo o atraso 
na condução atrioventricular, é relativamente comum no aspecto do eletrocardiograma de cães 
submetidos à terapia com digitálicos. Reciprocamente, um aumento no intervalo PR não é 
necessariamente um pré-requisito para a resposta terapêutica. Alguns cardiologistas acreditam 
que o prolongamento do intervalo PR pode ser um sinal incerto de uma toxicidade induzida 
pelos digitálicos. (TILLEY, 1979).
Diferentes tipos de anormalidades no eletrocardiograma podem aparecer, caso a resposta 
terapêutica aos digitálicos degenera em toxicidade. A progressão de sinais no eletrocardiograma 
que se segue foi reconhecida como resultado da ação da digoxina (DETWEILER, 1977): i) sinais 
ocasionalmente observados em cães normais, mas também característicos de efeitos da digoxina 
(bloqueio de primeiro grau atrioventricular ou bloqueio atrioventricular com queda nas batidas); ii) 
sinais improváveis de acontecer espontaneamente em cães normais em repouso (bradicardia sinusal 
menor que 50 batimentos/minuto ou taquicardia sinusal excedendo os 200 batimentos/minuto); e 
iii) sinais que não ocorrem em cães normais (dissociação atrioventricular, taquicardia paroxismal 
atrial com ou sem bloqueio, focos ectópicos atriais, fusão de batimentos, bloqueio intraventricular 
ou batimentos ectópicos ventriculares).
28
UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
rins e diurese
Os mecanismos compensatórios que participam com o objetivo de restaurar o fluxo sanguíneo na 
falência cardíaca congestiva inclui aumento reflexo no tônus simpático vasoconstrictor. A constrição 
arteriolar no rim é particularmente crucial devido à redução do fluxo sanguíneo renal diminuir a 
taxa de filtração glomerular, resultando em uma retenção de água e de sódio. A subperfusão renal 
também ativa um mecanismo humoral rim-dependente que promove a reabsorção adicional de 
água e de sal. Tal sequência de eventos envolve a seguinte progressão de fatos: diminuição do débito 
cardíaco, hipotensão, reflexos via barorreceptores, aumento na atividade simpática, constrição 
arteriolar renal, redução no fluxo renal, liberaçãode renina, aumento na formação de angiotensina, 
aumento na formação de aldosterona, retenção de sódio, retenção de água e expansão de volume 
sanguíneo (Figura 3).
Figura 11. sistema renina – angiotensina – aldosterona.
disponível em: <http://dc153.4shared.com/doc/ptQma0e0/preview.html>.
O aumento no volume sanguíneo tende a aumentar o débito cardíaco; entretanto, uma consequência 
prejudicial é o aumento no volume do fluido intersticial, o que promove a formação de edema. À 
medida que o volume sanguíneo expande e a pressão intravascular dilata, a probabilidade para 
a formação de edema aumenta proporcionalmente. O edema forma-se nos pulmões e em outros 
tecidos periféricos caso a falência ventricular esquerda e direita, respectivamente, se agrava 
progressivamente.
29
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
Após o tratamento com digitálicos, os processos acima mencionados são revertidos. A vasoconstrição 
reflexa é removida à medida que o débito cardíaco e a hemodinâmica melhoram; o fluxo sanguíneo 
renal e a taxa de filtração glomerular aumentam e o estímulo para a secreção de aldosterona reduz. 
Uma redução marcante na secreção de aldosterona pode ser observada após a terapia com digitálicos 
em cães com falência cardíaca congestiva (CARPENTER et al., 1962). 
Uma diurese profusa é resultado da diminuição da reabsorção renal de água e sódio. A diurese 
e uma redução na pressão hidrostática capilar move a água tecidual a partir do compartimento 
tecidual para o espaço vascular, promovendo o alívio ao edema. A diurese não é uma característica 
proeminente da terapia com digitálicos, caso o edema não acompanhe a síndrome da falência 
cardíaca congestiva. Similarmente, os digitálicos não evocam a diurese, caso o edema não seja 
cardiogênico. Assim, a resposta diurética aos digitálicos é secundária à melhora circulatória e não é 
um efeito direto sobre os rins. (ROBINSON, 1972).
Efeitos extracirculatórios 
Os glicosídeos cardíacos podem afetar as funções celulares ao longo do corpo, aparentemente por 
meio da inibição total da bomba de sódio e potássio, ou seja, tais agentes podem afetar a função da 
musculatura esquelética, a atividade da glândula tireoide, os parâmetros hematológicos e tantas 
outras funções. Tais atividades parecem ter pouca relevância terapêutica, exceto para a toxicose 
evidente que geralmente requer quantidades da droga em excesso, quando comparada à quantidade 
que deveria ser administrada. 
Reações de vômito após a administração de digitálicos estarão relacionadas principalmente com a 
sua ação central e ocorrem mesmo após a administração parenteral em um animal eviscerado. Tanto 
a zona quimiorreceptora do gatilho quanto o centro emético medular parecem estar envolvidos: a 
irritação local da mucosa gástrica também pode participar da resposta emética após a administração 
oral de digitálicos.
Farmacocinética
O intestino delgado é o principal sítio para a absorção dos digitálicos após ser administrado por via 
oral, apesar de a taxa e a extensão deste processo variar de acordo com os diferentes componentes 
de sua formulação. A absorção de digoxina após a sua administração por via oral por meio de um 
elixir é, normalmente, uniforme, variando entre 75-90%, com o pico de sua concentração sérica 
sendo alcançado dentro de 45 – 60 minutos (KRASULA et al., 1976). O valor de pico sérico é menor 
e ocorre mais tardiamente (por volta de 90 minutos) quando administrado sob a forma de tablete. 
Dependendo dos métodos farmacológicos utilizados na formulação dos tabletes, a absorção dos 
glicosídeos digitálicos pode ser irregular e ineficiente na medida em que as concentrações séricas 
necessárias para a terapêutica podem não ser alcançadas. 
30
UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
Após a administração intravenosa, a resposta inotrópica positiva máxima para a digoxina é 
alcançada dentro de 60 minutos (HAMLIN et al., 1971). Há uma queda inicial nas concentrações 
séricas à medida que a droga mistura-se com o compartimento vascular e é distribuída ao longo 
dos tecidos, seguida por uma lenta queda exponencial. Os valores biológicos de meia-vida para os 
glicosídeos digitálicos em cães permanecem incertos devido á variedade de resultados obtidos a 
partir de diferentes laboratórios e até mesmo a partir de um único laboratório. Breznock (1973, 1975) 
reportou que a meia-vida plasmática da digoxina foi de 38,9 a 55,9 horas, em diferentes estudos. 
Outros valores aproximados incluem 27 horas (BARR et al., 1972), 30 horas (HAHN, 1977), 24 
horas (DOHERTY, 1973) e 31 horas (de RICK et al., 1978). Tais variações fortalecem a necessidade 
da adoção de regimes de dosagem individuais dependendo da resposta do paciente. 
Dessa forma a excreção urinária parece ser a sua via de eliminação mais importante, sendo que 25% 
da digoxina liga-se a proteínas plasmáticas (BREZNOCK, 1973). Os glicosídeos digitálicos e os seus 
metabólitos podem seguir um ciclo enterro-hepático no qual os componentes são excretados na 
bile, pelo fígado, e alguns ainda podem ser posteriormente reabsorvidos.
toxicidade dos digitálicos
Concentrações plasmáticas 
O desenvolvimento de um radioimunoensaio preciso, para mensurar a quantidade de digoxina e 
digitoxina em fluidos biológicos, foi um importante avanço no campo da farmacologia. A aplicação 
clínica desse método permite a correlação das concentrações séricas dessas drogas com os seus 
efeitos terapêuticos ou tóxicos. (HABER, 1985).
Em humanos, as concentrações plasmáticas terapêuticas e tóxicas da digoxina são frequentemente 
entre 0,8-1,6 ng/mL e maior que 2,4 ng/mL, respectivamente (MOE e FARAH, 1975). Números 
similares foram obtidos em estudos com animais: concentrações plasmáticas de digoxina de 0,5-
2 ng/mL e 2,3 ng/mL foram consideradas não tóxicas para cavalos (BUTON et al., 1980) e gatos 
(ERICKSEN et al., 1980), respectivamente. Concentrações plasmáticas de digoxina maiores que 2,5 
ng/mL foram descritas como não tóxicas para cães saudáveis e com falência cardíaca espontânea; 
vale ressaltar que valores entre 0,8 e 1,9 ng/mL pode também ser terapêutico no grupo de animais 
com falência cardíaca espontânea. Concentrações de digoxina maiores que 2,5 a 3,0 ng/mL foram 
associadas com o aumento na probabilidade de intoxicação nos cães. (de RICK et al., 1978).
A administração intravenosa aguda de digoxina em doses tóxicas em cães foi determinada em 
0,177 mg/Kg (BECK, 1969). Toxicidade subaguda com digoxina pode ser induzida e mantida 
em Beagles saudáveis por meio de uma dose de 0,125-0,150 mg/Kg com um incremento após 1, 
4 e 24 horas, seguido por uma dose de manutenção diária de 0,015-0,025 mg/Kg (FILLMORE e 
DETWEILER, 1973; TESKE et al., 1976). Os sinais de toxicidade foram suaves ou ausentes quando 
as concentrações séricas de digoxina foram menores que 2,5 ng/mL; por sua vez, sinais moderados 
de intoxicação foram associados com concentrações entre 2,5 e 6 ng/mL, enquanto que intoxicação 
severa, inclusive com algumas mortes, foi observada quando as concentrações séricas de digoxina 
31
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
ultrapassavam 6 ng/mL. A mais elevada concentração de digoxina foi associada com hipotermia 
(redução de 0,6 a 1,7ºC), aumento no nitrogênio ureico sanguíneo e aumento na creatinina sérica. O 
aumento inesperado nas concentrações séricas de creatinina e no nitrogênio ureico foi interpretado 
como uma evidência de que a intoxicação por digoxina compromete a função renal.
Sinais clínicos
A intoxicação por digitálicos é caracterizada por um conjunto de sinais clínicos cuja forma varia 
desde desconforto gastrointestinal até a perda de peso crônica e arritmias com riscos de vida 
(DETWEILER, 1977; TILLEY, 1979). A anorexia inicial e o amolecimento das fezes são efeitos 
colaterais comuns; caso eles não piorem, não há a necessidade de reduzir a dose de administração. 
Vômitos após a administração de glicosídeoscardíacos por via endovenosa também é uma reação 
comum; por outro lado, vômitos em cães após a administração de digitálicos por via oral devem 
ser observados mais cautelosamente, principalmente se acompanhada por diarreia prolongada, 
devendo tais indivíduos ser examinados para buscas de outras evidências de intoxicação. Distúrbios 
gastrointestinais são certamente perturbadores e podem debilitar o paciente; entretanto, as 
consequências letais da intoxicação por digitálicos estão relacionadas às arritmias cardíacas.
Uma variedade de anormalidades pode aparecer no eletrocardiograma, à medida que a intoxicação 
por digitálicos aparece. A redução na frequência sinoatrial e a lenta condução atrioventricular, 
alcançadas com a terapia com digitálicos, podem progredir para o bloqueio incompleto ou completo 
do coração, com redução dos batimentos cardíacos e alterações no segmento ST visto que se segue 
com a intoxicação. O bloqueio atrioventricular, por sua vez, pode progredir para ritmo de escape 
juncional e sístoles ventriculares prematuras. Caso um complexo QRS extra apareça após cada 
sístole regular, os digitálicos terão evocado sístoles ventriculares acopladas. Tal ritmo pode aparecer 
antes ou após o desenvolvimento de outras arritmias que podem ser associadas com a intoxicação 
por digitálicos. A taquicardia paroxismal atrial ou ventricular com bloqueio e sístole ventriculares 
prematuras multifocais são evidências adicionais de severo distúrbio cardíaco. A ocorrência dessas 
ou de qualquer outra importante anormalidade no eletrocardiograma necessita de uma remoção 
completa da terapia com digitálicos; o tratamento com uma dose menor não deve ser estabelecido 
até que o eletrocardiograma esteja livre de tais arritmias.
Detweiler (1967) fez uma breve revisão sobre as diferentes sensibilidades espécie-específicos para 
a intoxicação com glicosídeos digitálicos. A dose letal mediana para diversas espécies, tendo o 
gato como a unidade, seria: gato, 1; coelho, 2; diversas rãs, 28; diversos sapos, >400; ratos, 671. A 
resistência à toxicidade dos digitálicos parece residir no coração e, pode ser reflexo de uma relativa 
sensibilidade da bomba de sódio e potássio à inibição mediada pelos glicosídeos.
Envolvimento eletrolítico
A toxicidade cardíaca aos digitálicos é afetada pela disponibilidade de eletrólitos, em especial, o íon 
potássio e cálcio. Em essência, redução nas concentrações de K+ potencializa a arritmogenicidade 
dos digitálicos, enquanto que o excesso de K+ antagoniza tal atividade arritmogênica. A atividade 
antiarrítmica do K+, na intoxicação por digitálicos é relacionada, provavelmente, à inibição exercida 
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UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
por tal cátion na ligação do glicosídeo com o transportador Na+/ K+ - ATPase. A razão intracelular/
extracelular de K+ parece ser o determinante primário da interação desse íon com os digitálicos, 
mais do que apenas a concentração intersticial de K+. A disritmia induzida por digitálicos pode 
ocorrer na presença de concentrações plasmáticas normais de K+ devido a depleção intracelular 
desse cátion que acompanha a inibição da Na+/ K+ - ATPase. 
tratamento 
Apesar de as técnicas de radioimunoensaio poderem distinguir as concentrações plasmáticas 
terapêuticas e tóxicas dos digitálicos, uma sobreposição considerável pode ocorrer, ou seja, a 
concentração terapêutica em um paciente pode ser considerada tóxica em outro. A experiência e o 
julgamento clínico devem ser exercidos quando a intoxicação por digitálicos é diferenciada de uma 
exacerbação na falência cardíaca com o tratamento para as arritmias.
Quando a intoxicação por digitálicos é diagnosticada, o primeiro procedimento é remover a terapia 
com os glicosídeos; a progressão do paciente deve, então, ser monitorada cuidadosamente por 
meio de eletrocardiogramas frequentes. As medidas conservadoras acompanhadas por repouso 
são frequentemente efetivas no controle das arritmias cardíacas e outros sinais de intoxicação; 
entretanto, a terapia apropriada deve ser instituída, caso as arritmias piorem ou falhem em sua 
reversão espontânea.
O cloreto de potássio (KCl) é administrado na tentativa de aumentar as concentrações plasmáticas 
de potássio para limites além dos valores normais e, assim, suprimir as arritmias causadas pelos 
glicosídeos. Entretanto, caso as concentrações plasmáticas de potássio já estejam elevadas nos cães 
intoxicados por digitálicos, a administração de K+ exógeno pode causar uma deterioração adicional 
no perfil do eletrocardiograma. Obviamente, um cuidado considerável deve ser exercido quando 
a terapia com K+ for empregada no manejo da intoxicação com digitálicos. Em cães, o padrão de 
dosagem para o KCl inclui 0,6 a 1 g por via oral como dose inicial, seguido por 0,3 a 0,5 g, a cada 
1 ou 2 horas para 2 doses, e continuado em intervalos de 4 horas, caso necessário para o controle 
das arritmias. (DETWEILER, 1977). A infusão lenta de KCl por via endovenosa com o frequente 
monitoramento do eletrocardiograma e das concentrações séricas de K+ podem ser experimentados. 
(ETTINGER e SUTER, 1970). Entretanto, uma infusão de sais de potássio com elevada velocidade 
podem precipitar outras arritmias, incluindo a fibrilação ventricular. 
A colestiramina é uma resina de troca, que liga o glicosídeo ao trato gastrointestinal, usada 
experimentalmente com o objetivo de interromper o ciclo enterro-hepático e, assim, apressar a 
eliminação dos componentes digitálicos. 
Adicionalmente, o uso de anticorpos antiglicosídeos é outra terapia utilizada (HABER, 1985; 
KUROWSKI et al., 1992). A Digoxina imune FAB Digibind® é um anticorpo antidigoxina produzido 
em ovelhas; é um tratamento utilizado em animais, porém, é muito caro. Um frasco pequeno 
contém 38 mg de Digoxina imune FAB que neutralizará 500 mcg de digoxina. Os animais irão 
melhorar rapidamente após a administração. Caso seja utilizado em animais, um ensaio clínico 
para quantificar as concentrações séricas de digoxina não serão corretos devido a interferência e não 
devem ser utilizados para monitorar a toxicidade. 
33
Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
Agentes como o íon magnésio, o Ácido Etilenodiamino Tetra-acético – EDTA, citrato de sódio, 
sais de canrenoato, procainamida e quinidina possuem pouco uso clínico em animais. Entre 
os agentes antiarrítmicos, a lidocaína, o propranolol e especialmente a fenitoína são as drogas 
mais utilizadas no controle da arritmia cardíaca. A atropina pode ser útil nos casos de severa 
bradicardia sino-aórtica. Na presença de bloqueio atrioventricular, agentes antiarrítmicos e terapia 
com potássio devem ser evitadas. A utilização de intervenções antiarrítmicas em que a dose de 
digitálicos pode ser aumentada, na esperança de alcançar uma resposta inotrópica maior, pode 
ser perigosa e sem garantias. A quinidida pode realmente causar um aumento nas concentrações 
plasmáticas de digoxina, provavelmente por meio do bloqueio dos transportadores de efluxo. 
indicações terapêuticas para os digitálicos
Falência cardíaca congestiva
Há controvérsia relativa aos benefícios reais para a sobrevivência com o uso dos glicosídeos digitálicos 
no manejo da terapia em longo prazo da falência cardíaca congestiva em pacientes animais. Os 
glicosídeos cardíacos são indicados para a falência cardíaca congestiva, resultante de uma sobrecarga 
absoluta ou relativa, cujo fornecimento de energia para o coração é descomprometido. Tais 
problemas incluem a hipertensão, impedância de saída passiva (ex. dirofilariose) e cardiomiopatia 
dilatada idiopática. Novas drogas inodilatadoras têm sido muito utilizadas no lugar dos digitálicos 
no manejo da falência cardíaca congestiva.
Arritmias atriais
Os digitálicos podem ser utilizados no tratamento da fibrilação ou flutter atrial, com a presença ou 
não da doença cardíaca congestiva. Entretanto, a droga não é empregada para a remoção do padrão 
arrítmico. O objetivo da terapia comdigitálicos, em qualquer desses estágios, é reduzir a frequência 
ventricular, por meio da desaceleração da condução atrioventricular, eliminar o déficit do pulso, 
caso presente, e melhorar a eficiência cardíaca (MEIJLER, 1985). O potencial envolvimento da 
falência cardíaca latente ou oculta na patogênese da fibrilação atrial em alguns animais não deve 
ser desconsiderado; os resultados benéficos dos digitálicos no tratamento do que parece ser uma 
fibrilação atrial descomplicada pode muito bem envolver tais complexidades.
Precauções
Os digitálicos não são indicados em casos de choques circulatórios, falência renal, falência hepática, 
contrações ventriculares prematuras, taquicardia ventricular ou bloqueio cardíaco, ao menos que 
a anormalidade esteja associada com a falência cardíaca congestiva (BRAUNWALD e KAHLER, 
1964). A terapia com digitálicos em pacientes com falência cardíaca congestiva com bloqueio 
cardíaco ou taquicardia ventricular deve ser supervisionada de forma intensa e sua administração 
deve ser monitorada de perto, por meio de registros contínuos de eletrocardiograma. Os digitálicos 
podem acentuar o bloqueio atrioventricular, o que pode resultar em uma séria redução da frequência 
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UNIDADE II │ DIgItálIcos, INotrópIcos posItIvos E vAsoDIlAtADorEs
ventricular e o seu us em tratamento também pode transformar uma taquiarritmia ventricular em 
fibrilação.
Apesar de os digitálicos diminuírem a frequência sinusal na falência cardíaca congestiva, tal atividade 
é complexa e não possui aplicação na tentativa de reduzir a frequência cardíaca quando a taquicardia 
sinusal é presente sem a evidência de falência cardíaca congestiva. A taquicardia associada a outras 
condições, tais como febre, tireotoxicose, pericardite constritiva ou tamponamento cardíaco, não é 
passível de terapia com digitálicos. Cardiomiopatias hipertróficas e a ruptura da cordoalha tendinea 
constituem outras não indicações para a terapia com digitálicos. 
A toxicose digitálica pode simular certos aspectos da doença cardíaca, especialmente severas 
arritmias. Os clínicos devem sempre assegurar que cada paciente enquadrado para o tratamento 
com digitálicos não os tenham recebido, sob quaisquer preparações, recentemente; caso contrário, a 
tentativa de produzir uma terapia com digitálicos em pacientes que realmente sofrem de intoxicação 
não reconhecida pode apresentar resultados negativos.
Procedimentos clínicos
Quando iniciado o tratamento com digoxina, o esquema de dosagem preciso pode ser menos 
importante do que o cuidado com o monitoramento da resposta do paciente durante a implementação. 
Em todos os casos, uma dose pré-determinada não deve ser administrada indiscriminadamente 
até que os efeitos tóxicos sejam observados. Caso os sinais de intoxicação aparecem logo após o 
manejo dos digitálicos e antes de os efeitos benéficos serem atingidos, o tratamento é suspenso 
e retomado com doses baixas, após os sinais de toxicose estarem ausentes. Similarmente, caso a 
toxicose desenvolva-se durante a manutenção da terapia, a dose deverá ser reajustada para um nível 
menor. Por outro lado, a dose poderá ser aumentada ou administrada em intervalos menores, caso 
os efeitos terapêuticos não sejam alcançados com o esquema terapêutico pré-determinado. Assim, 
o manejo da terapia com digitálicos deve ser interpretado na clínica de acordo com as necessidades 
individuais de cada paciente. 
Os dados publicados por de Rick et al. (1978) indicaram que a administração de 0,025 mg/Kg de 
digoxina a cada 12 horas, ao longo de 36 horas, ou seja, dose total de digitalização de 0,1 mg/Kg, 
seguido por uma dose de manutenção de 0,01 mg/Kg a cada 12 horas, foi associada com uma menor 
toxicidade em relação às técnicas com doses elevadas. Harris (1974) e Hahn (1977) defendem que 
uma dose elevada de digoxina não é necessária em cães e que a dose de manutenção diária de 
0,022 mg/Kg (administrada a cada 12 horas) deva ser implementada como procedimento original. 
Utilizando os cálculos farmacocinéticos baseados em indivíduos animais, Button et al. (1980) 
encontraram que o padrão de 0,022 mg/Kg seria a dose de manutenção ideal para digoxina em cães. 
Kittleson (1983) assinalou que devido à elevada razão toxicidade/dose terapêutica, os digitálicos 
deveriam ser administrados de acordo com a razão área de superfície corpórea/peso corporal. 
Assim, já que tal razão geralmente diminui à medida que o tamanho do animal aumenta, raças 
de cães maiores podem requerer menos digitálicos por Kg de peso corporal em relação às raças 
menores. De acordo com a dose de digoxina recomendada, de 0,22 mg/m2 de área de superfície 
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Digitálicos, inotrópicos positivos e vasoDilataDores │ UniDaDe ii
corporal, duas vezes ao dia, cães pesando 10, 20, 30, 40 e 50 kg deveriam receber 0,011, 0,009, 
0,008, 0,007 e 0,006 mg/kg de digoxina, respectivamente, duas vezes ao dia. 
Abordagem parenteral
A administração endovenosa de digoxina aumenta a probabilidade de arritmias tóxicas e esta 
limitação deve ser considerada. Administração intramuscular reduz o perigo, mas a dor e o inchaço 
nos locais de injeção limita a aceitação do paciente por esse método. A dose de manutenção oral 
deve ser substituída, caso seja possível.
A resposta inotrópica positiva para a digoxina pode ser detectada dentro de 15 a 30 minutos após 
a administração endovenosa em cães (HAMLIN et al., 1971). Quando em estado de emergência, a 
dose total administrada por via endovenosa é de aproximadamente 0,044 mg/Kg (ETTINGER e 
SUTER, 1970), sendo 25 a 50% do total da dose administrada, inicialmente, de forma lenta, através 
da via endovenosa; 25% adicional é administrada dentro de 30 a 60 minutos ou 60 a 120 minutos. 
Os pacientes tratados com essa técnica devem ser examinados com cuidado, a fim de monitorar os 
sinais de intoxicação e anormalidade no eletrocardiograma.
36
CAPítulo 2
inodilatadores
Os inodilatadores são agentes que possuem tanto propriedades vasodilatadoras quanto inotrópicas 
positivas (OPIE, 2001). Historicamente, o manejo em curto prazo de falência cardíaca aguda 
ou descompensada, caracterizada por disfunção sistólica, é beneficiada por uma combinação 
com dobutamina (inotrópico positivo) e nitroprussiato de sódio (vasodilatador). Agentes dessa 
classe combinam tais propriedades e o pimobendan, que é disponível em uma formulação para 
administração oral, torna a terapia crônica possível. 
Aplicação clínica
O pimobendan é um agente original com propriedades úteis no manejo clínico de cães com 
falência cardíaca secundária, cardiomiopatia dilatada ou doença valvular degenerativa crônica. A 
eficácia do pimobendan no tratamento da falência cardíaca em consequência da cardiomiopatia 
dilatada e da doença valvular degenerativa crônica foi avaliada minuciosamente em cães quando 
comparado a outras drogas cardioativas até o momento, incluindo os inibidores da enzima 
conversora de angiotensina. Em um estudo prospectivo duplo-cego com placebo, O’Grady et al. 
(2003) demonstraram uma duplicação da sobrevida global de Doberman pinschers, com falência 
cardíaca secundária à cardiomiopatia dilatada, de uma média de 63 ± 14 dias com furosemida, um 
inibidor da enzima conversora de angiotensina e placebo, versus 128 ± 29 dias com furosemida, 
um inibidor da enzima conversora de angiotensina e pimobendan (0,25 mg/Kg, por via oral, duas 
vezes ao dia). Estudos adicionais sugerem um benefício para a sobrevivência com a combinação de 
pimobendan e furosemida, quando comparado com a associação entre furosemida com um inibidor 
da enzima conversora de angiotensina (com ou sem digoxina), em cães com falência cardíaca 
secundária à cardiomiopatia dilatada e da doença valvular degenerativa crônica. Outros estudos 
oferecem evidências conflituosas a respeito da superioridade do pimobendan para o tratamento 
desde a falência cardíaca secundária até a doença valvular degenerativa crônica.
Análises preliminares de um estudo contínuo de O’Grady et al. (2003) não mostraram

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