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2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 2 CONCEITO .............................................................................................................. 5 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO SOCIETÁRIO................................................................ 7 3.1 Princípio da Liberdade de Iniciativa ....................................................................... 7 3.2 Princípio da Liberdade de Concorrência ............................................................... 8 3.3 Princípio da Função Social da Empresa ............................................................... 9 3.4 Princípio da Preservação da Empresa ................................................................ 10 3.5 Princípio da Autonomia Patrimonial da Sociedade Empresária .......................... 11 3.6 Princípio da Subsidiariedade da Responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais.............. ......................................................................................................... 11 3.7 Princípio da Limitação da Responsabilidade dos Sócios pelas Obrigações Sociais............. .......................................................................................................... 12 3.8 Princípio Majoritário das Deliberações Sociais .................................................... 12 3.9 Princípio da Liberdade de Associação ................................................................ 13 3.10 Princípio da Proteção do Sócio Minoritário ........................................................ 13 3.11 Princípio da Autonomia da Vontade .................................................................. 14 3.12 Princípio da Inerência do Risco ......................................................................... 14 3.13 Princípio do Impacto Social da Crise da Empresa ............................................ 15 3.14 Princípio da Transparência (nos processos da empresa em crise) ................... 16 3.15 Princípio do Tratamento Paritário dos Credores ............................................... 16 4 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ............................................................................ 16 5 SOCIEDADE SIMPLES ......................................................................................... 18 6 TIPO DE SOCIEDADE ........................................................................................... 19 6.1 Sociedades dependentes de autorização............................................................ 20 6.2 Sociedade nacional ............................................................................................. 22 3 6.3 Sociedade estrangeira ........................................................................................ 22 6.4 Sociedade entre cônjuges ................................................................................... 23 6.5 Sociedade rural ................................................................................................... 23 7 PERSONALIZAÇÃO JURÍDICA DAS SOCIEDADES ........................................... 23 8 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS ...................................... 24 8.1 Sociedades limitadas e sociedades anônimas .................................................... 24 9 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS .............................................................. 25 9.1 Sociedade em comum ......................................................................................... 26 9.2 Sociedade em conta de participação .................................................................. 28 10 SOCIEDADES PERSONIFICADAS ..................................................................... 30 10.1 Sociedade em nome coletivo ............................................................................ 31 10.2 Sociedade anônima ........................................................................................... 32 10.2.1 Ações............ ................................................................................................. 37 10.3 Sociedade Limitada ........................................................................................... 39 10.4 Sociedade comandita simples ........................................................................... 41 10.5 Sociedade simples ............................................................................................ 43 10.6 Sociedade em comandita por ações ................................................................. 44 11 TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ............ 45 11.1 Teoria da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil ....................... 46 12 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 47 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CONCEITO A economia está ligada ao direito societário, isso porque a partir de um vínculo criado entre pessoas e com o acordo de vontade entre as partes, automaticamente se tornam obrigadas a contribuir, seja verbal ou escrito, o objetivo é atingir um resultado de lucro incerto, devido à inerência do risco em toda atividade negocial. O direito rege normativamente a economia, o que de certo modo garante a segurança da atividade negocial. Pode-se conceituar sociedade como uma junção de esforços entre pessoas, e empresa é a atividade que conjuga os fatores de produção, com objetivo de obter lucro através do fim social de desenvolver a nação. A vista disso, a sociedade empresária é uma pessoa jurídica que manifestará sua vontade através das pessoas naturais, seja pela lei ou atos constitutivos, quais sejam o contrato social ou estatuto. A movimentação do capital social é que gera a movimentação da economia, possibilitando o desenvolvimento e crescimento da nação, ao gerar empregos, capitais, tributos, etc. Sendo assim, o direito e a economia precisam estar entrelaçados, de maneira que o direito compreenda e acompanhe as mudanças e os desenvolvimentos econômicos, sem perder a essência de suas normas. Dessa forma, assim como o ordenamento confere capacidade à pessoa humana, reconhece também capacidade a esses organismos criados pela vontade de duas ou mais pessoas, visando a consecução de um fim, através da criação da pessoa jurídica. E essa entidade nasce da celebração de um pacto chamado contrato de sociedade. O contrato de sociedade é um negócio jurídico plurilateral, onde duas ou mais pessoas se reúnem com vontade convergente para a realização com mesma finalidade. Um contrato entre duas ou mais partes, cujas prestações de cada uma reúnem-se para obter objeto comum. Diferente do que acontece nos contratos bilaterais em geral, em que a prestação de cada parte realiza-se diretamente ao interesse da outra. Já nos contratos de sociedade o interesse de cada um somente se 6 realiza como consequência da atividade comum, para a qual estão destinadas às prestações. Refere-se a um contrato de contribuição. O art. 981 do Código Civil, trata da contribuição na formação do contrato de sociedade que pode ser em bens, ou serviços. A norma permite a existência de sócios capitalistas e de sócios denominados de indústria (contribuindo com capital); ou operários (com serviços, e obrigações de dar e fazer). Independentemente da natureza da prestação, de bens ou serviços, os aportes desenvolvem um fundo comum, por transferirem a propriedade dos bens dos sócios para a sociedade. A partir do momento que se forma esse patrimônio, com a contribuição dos sócios, vincula-se à destinação específica, o desenvolvimento em comum pelos sócios da atividade econômica, e durante toda a existência da sociedade, esses bens constituirá seu patrimônio. Respondendo pelas obrigações sociais decorrentes da exploração coletiva da atividade econômica. A finalidade do desenvolvimento em comum da atividade é a obtenção do resultado econômico, adquirindo um proveito para os sócios que uma vez obtido será dividido entre eles. É imprescindível, que assim que a sociedade seja explorada com o objetivo de lucro (ou proveito), mesmo que as vezes o resultado seja negativo, não alterará sua finalidade. O elemento mais importante da sociedade é o pacto social, pois faz com que cada sócio a ele se submeta como manifestação de vontade coletiva, pois esse aspecto é fundamental para estabelecer a natureza jurídica do contrato de sociedade. Se não houver esse vínculo o liame negocial entre os participantes não configurará sociedade. Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. (BRASIL, 2002) 7 O parágrafo único do art. 981, esclarece que a atividade explorada pode se restringir à realização de um ou mais negócios, podendo usar como exemplo típico o consórcio para certa obra ou empreitada, e as joint ventures. 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO SOCIETÁRIO 3.1 Princípio da Liberdade de Iniciativa Conforme disposto no art. 170 da Constituição Federal, a livre iniciativa é um princípio constitucional, geral e explícito, que se refere à ordem econômica, instituída na valorização do trabalho humano, e na livre-iniciativa, analisando os princípios da: da função social da propriedade; da soberania nacional; da propriedade privada; e da livre concorrência. Esse princípio é um componente essencial do capitalismo, com a finalidade de produção, e deve estar assegurada no ambiente econômico, para que o capitalismo seja exercido com eficiência. Ao passo que a liberdade de iniciativa se faz necessária para e eficiência de produção, ela se responsabiliza pelas crises do capitalismo, levando em conta que todos são livres para produzir o que anseiam, sendo inevitável o excesso ou a ausência de produção, levando-se em conta que algumas vezes se produz e não se consome, enquanto poderia ser produzido o que seria consumido. Não há como evitar as crises, porém, a macroeconomia e os instrumentos de administração monetária têm ajudado e auxiliado na superação e na prevenção delas. O princípio da liberdade de iniciativa também está entre as causas de injustiças, visto que as perspectivas de lucratividade de exploração econômica apontam as qualidades e quantidades da produção. O capitalismo de fato, é um sistema de crises e injustiças, mais ainda assim é um modo de produção predominante. Fabio Ulhoa Coelho disserta que: “o princípio da liberdade de iniciativa é inerente ao modo de produção capitalista, em que os bens ou serviços de que 8 necessitam ou querem as pessoas são fornecidos quase que exclusivamente por empresas privadas”. (COELHO, 2013, p. 66) Esse princípio possui duas vertentes: Quais sejam: coibir determinadas práticas empresariais que são incompatíveis com a liberdade de iniciativa, e impor um freio à intervenção do Estado na economia. A Constituição Federal de 1988, assegura a todos os brasileiros e residentes no Brasil, o direito de se estabelecerem empresarialmente, obrigando os demais empresários a não impedirem o exercício desse direito que é garantido constitucionalmente. 3.2 Princípio da Liberdade de Concorrência Trata-se de um princípio constitucional, geral e explícito, conforme dispõe o artigo 170, IV da Constituição Federal: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência; (BRASIL,1988) 9 A liberdade de concorrência possibilita o fornecimento de produtos e serviços com maior qualidade e preços reduzidos no mercado. Os empresários, tem como objetivo melhorar a qualidade de seus produtos e serviços, tentando ajustá-la à economia de custos para competirem pela preferência dos consumidores, oferecendo preços reduzidos. Esse princípio coíbe as práticas empresariais de concorrência ilícita, que se classificam em duas categorias. Conforme a imagem explica: Acerca do assunto Fabio Ulhoa Coelho, também define que: “A regra básica da competição empresarial, que decorre do princípio constitucional da livre concorrência, implica a premiação das decisões empresarialmente “acertadas” (com o lucro) e a penalização das “equivocadas” (com o prejuízo, ou, se o caso, a falência). Esta regra básica não pode ser neutralizada por nenhuma norma jurídica, para que todos possam se beneficiar dos resultados esperados da livre concorrência: melhoria da qualidade e redução dos preços de produtos e serviços” (COELHO, 2013, p. 74) 3.3 Princípio da Função Social da Empresa Também é um princípio constitucional e geral, porém implícito, que foi retirado do princípio constitucional da função social da propriedade, que é contemplado no artigo 5º, XXIII e no artigo 170, III da Constituição Federal de 1988. Deve ser cumprido a função social no que diz respeito a propriedade de bens e serviços, se concentrando na titularidade dos empresários e nos interesses protegidos juridicamente que os circundam. No entendimento da Constituição Federal os interesses metaindividuais de uma parcela da sociedade, ou, da sociedade como 10 um todo, tem total direito de proteção, uma vez que forem afetados pelo modo de como são empregados os bens de produção. E o empresário ao determinar como serão empregados esses bens na sua organização, e na exploração da atividade econômica, deve se orientar e atender à função social da empresa. A função social de uma empresa só se cumpre quando contribui para o desenvolvimento econômico, social e cultural, fornecendo empregos e tributos, além de visar também a proteção ambiental e principalmente respeitando o direito do consumidor. A partir do momento em que a empresa atua corretamente, obedecendo as leis que estão sujeitas e obedecendo a esses objetivos citados, ela estará cumprindo a sua função social. 3.4 Princípio da Preservação da Empresa Esse princípio é geral, legal e implícito, e não é formulado pela lei, deste modo, a doutrina e a jurisprudência a partir do artigo 50 do Código Civil e 28 do CDC o concluem pelas normas relacionadas à desconsideração da personalidade jurídica, recuperação judicial (Lei 11.0101/05) e resolução da sociedade em relação a um sócio (art. 128 c/c CC). O princípio da preservação da empresa tem como finalidade a proteção da atividade econômica, e o empreendimento. O valor que fundamenta este princípio é a solução de diversos conflitos de interesses. Decorre desse mesmo princípio o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. De acordo com Fabio Ulhoa Coelho: “O princípio da preservação da empresa reconhece que, em torno do funcionamento regular e desenvolvimento de cada empresa, não gravitam apenas os interesses individuais dos empresários e empreendedores, mas também os metaindividuais de trabalhadores, consumidores e outras pessoas; são estes últimos interesses que devem ser considerados e protegidos, na aplicação de qualquer norma de direito comercial”. (COELHO, 2013. p. 80) 11 3.5 Princípio da Autonomia Patrimonial da Sociedade Empresária O princípio da autonomia patrimonial da sociedade empresária trata de uma técnica de segregação de riscos, de maneira que os direitos, obrigações e os bens da sociedade não se confundem com os de seus sócios. Sendo assim, a obrigação social compete somente à sociedade e não aos sócios. O que impossibilita que eles respondam por uma obrigação que não compete a eles. Proteger também os interesses dos devedores e credores. A vista disso, a responsabilização dos sócios só é requerida pelos credores, depois que todos os bens da sociedade são executados, e mesmo assim, deve se observar as eventuais limitações impostas pela lei. A autonomia patrimonial na economia globalizada, como técnica de segregação de riscos, é um dos principais instrumentos atrativos de investimentos, pois ao garantir a figura do empresário para que investimentos sejam realizados (tanto individual quanto societariamente), fará com que a economia circule. Proporcionar também a proteção aos investidores, uma vez evita as perdas elevadas nos casos de insucesso empresarial. 3.6 Princípio da Subsidiariedade da Responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais Esse é um princípio legal, especial e implícito, procedente do princípio da autonomia patrimonial. Chega-se a uma conclusão que, sendo a sociedade um sujeito de direito autônomo, não há necessidade de buscar bens no patrimônio dos sócios, enquanto a sociedade dispuser deles em seu próprio patrimônio. Independente da limitação da responsabilidade dos sócios (ou de parte deles), esse princípio se aplica a todas as sociedades, tendo em vista que os direitos do credor só serão satisfeitos através da execução dos bens dos sócios após exaurir todo o patrimônio social. 12 3.7 Princípio da Limitação da Responsabilidade dos Sócios pelas Obrigações Sociais Esse princípio é especial, legal e implícito, e toda atividade negocial tem o risco inerente a ela. Por essa razão, com o objetivo de estimular os investimentos, o direito limita a responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade, de forma que eles devem responder subsidiariamente pelas obrigações apenas até o limite fixado em lei. O princípio da limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais tenciona manter a inerência do risco empresarial em determinado nível, contribuindo para que os preços dos produtos e serviços se tornem acessíveis a maior parte da população, e para que também continue atraindo o interesse de investidores. Estimula também, novos investimentos visando eliminar o risco de o investidor perder os bens do seu patrimônio em totalidade. E ao estimular e atrair novos investimentos, os interesses metaindividuais da coletividade acabam sendo atendidos. Por isso, quão mais prestigiado o princípio for, menores serão os serviços e preços dos produtos no mercado. 3.8 Princípio Majoritário das Deliberações Sociais O princípio majoritário das deliberações sociais é legal, especial e explícito, assim dispõe os artigos 1.061, § 1º e 1.076 CC e artigos 110,115, 129 e 136 Lei das Sociedades Anônimas (LSA). Os sócios têm a função de deliberar sobre a vontade da sociedade empresária, prevalecendo a vontade da maioria. Porém, não é democrático o princípio majoritário das deliberações sociais, pois a maioria está associada ao risco assumido. Sendo assim, quanto maior o risco assumido pelo sócio, maior será sua participação nas deliberações da sociedade, sendo proporcional às ações votantes tituladas, e cotas. Por isso, poderá o sócio majoritário definir sozinho a vontade da sociedade, mesmo havendo discordância dos demais. 13 Analisando esse princípio, percebe-se que está relacionado ao interesse social que pode conflitar com os interesses do sócio, que por sua vez precisará interpretar qual interesse proporcionará mais desenvolvimento à empresa. Pode-se entender também como interesse social dos consumidores, investidores no mercado de capital, os trabalhadores e terceiros, que aproveitam para preservar a empresa. 3.9 Princípio da Liberdade de Associação Princípio constitucional, especial e explícito, conforme determina o artigo 5º, XVII e XX da Constituição Federal. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar; XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; (BRASIL, 1988) Esse princípio garante às pessoas que possuem objetivos lícitos em comum, e interessados para se unirem conquistá-los, podendo realiza-los sem barreiras jurídicas. Para mais, assegura também que, ninguém seja obrigado a associar-se contra sua vontade, ou, que não consiga desfazê-la quando quiser. Esse princípio se aplica com a finalidade de proporcionar àqueles que buscam o mesmo objetivo, que é obter lucro e melhores meios de exploração de uma determinada atividade econômica. 3.10 Princípio da Proteção do Sócio Minoritário Esse princípio é legal, especial e implícito. Ainda que o sócio majoritário seja incumbido de ser o intérprete do interesse social, a lei não despreza a importância e a contribuição dos demais sócios para a empresa. 14 O princípio da proteção do sócio minoritário tende a limitar o princípio majoritário. Impedindo que o sócio majoritário se aproprie de ganhos que deveriam ser repartidos para todos os sócios. Aos sócios minoritários são disponibilizados instrumentos para realizarem esses impedimentos, por exemplo, que são os de fiscalização e de recesso. 3.11 Princípio da Autonomia da Vontade É um princípio implícito, especial e legal. Diz respeito à autonomia que cada pessoa tem de escolher com quem deseja contratar ou não. Ainda assim, esta liberdade de escolha está limitada ao interesse público, uma vez que a vontade dos contratantes seja declarada, caso o contrato tenha uma prestação criminosa ele será inválido. É o princípio jurídico mais apropriado à disciplina de relacionamento das partes, por possuírem autonomia para escolher com quem deseja contratar e o modo como querem contratar. Levando em conta que quando o contrato é adequado, ele se articulará com os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, uma vez que há a liberdade de contratação de acordo com a vontade dos empresários. E essa liberdade não poderá ser restringida, pois a competição poderá gerar os benefícios esperados, sejam o aumento da qualidade e na redução dos preços dos produtos e serviços que forem fornecidos pela atividade empresarial. 3.12 Princípio da Inerência do Risco Esse princípio da inerência do risco é legal, especial e implícito. Afinal, qualquer atividade empresarial possui inerente o risco. Há fatores como por exemplo o fracasso e a prosperidade da empresa, que não são elementos controláveis pelo empresário, estando sempre sujeitos a uma margem aleatória. Mesmo o empresário agindo em conformidade com lei, licitando, cumprindo suas obrigações, e tendo decisões corretas e regulares, ainda assim, a empresa 15 sempre estará sujeita a crises. No entanto, o empresário não pode se abster de suas responsabilidades justificado pela inerência do risco da empresa. 3.13 Princípio do Impacto Social da Crise da Empresa É um princípio legal, especial e implícito. Havendo vários fatores que contribuem para o sucesso e fracasso das grandes empresas. Um desses fatores é o interesse das pessoas, que gira em torno do desenvolvimento da atividade. Existindo três pontos, conforme demostra quadro abaixo: Esse princípio é uma justificativa aos mecanismos que são usados juridicamente como prevenção e como solução de crises, sendo destinados aos interesses dos empresários, assim como interesses metaindividuais, que são relacionados à continuidade das atividades empresariais. 16 3.14 Princípio da Transparência (nos processos da empresa em crise) É um princípio legal, especial e implícito. A recuperação judicial e o processo de falência geram custos que deverão ser suportados pelos credores da empresa em crise, e do empresário devedor. Deste modo, a transparência nos processos falimentares é fundamental para que os credores acompanhem as decisões adotadas e os prejuízos que inevitavelmente suportará. Para mais, nesses processos a transparência deve explicar e convencer os credores de que não houve nenhum prejuízo além do esperado. O princípio da transparência deve ser conciliado com a preservação das informações estratégicas da empresa em crise, mantendo a competitividade, pois a atividade econômica que o empresário falido explorava poderá frutificar se for transferida a uma pessoa bem competente. Por isso, é necessário ter cautela na preservação da competitividade da empresa nos processos de recuperação judicial, e falência. 3.15 Princípio do Tratamento Paritário dos Credores O princípio do tratamento paritário dos credores é legal, especial e implícito. O tratamento paritário dos credores compreende que o empresário estando falido, não possuirá recursos suficientes para honrar a totalidade de suas obrigações. A atitude mais racional e justa é a de satisfazer os credores mais necessitados. Os recursos disponíveis sendo insuficientes para o pagamento da totalidade dos direitos de seus credores que são titulares de credito da mesma natureza, será procedida a divisão proporcional ao valor. 4 SOCIEDADES EMPRESÁRIAS O Código Civil em seu artigo 982 definiu: 17 Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. (BRASIL, 2002) Nota-se que é a atividade exercida pela sociedade que define se ela será ou não empresarial, e se será ou não enquadrada como simples. De acordo com o Código Civil, são consideradas pessoas jurídicas de direito privado as: fundações, associações, sociedades, partidos políticos, organizações religiosas e a EIRELI (é um tipo societário de microempresa no qual é exigido apenas um sócio, o proprietário), conforme define o art. 44 do CC. Observe o quadro abaixo: A atividade que irá determinar e configurar uma sociedade empresária deve ser a mesma que é fixada para os empresários. Sendo assim, deve ser profissionalmente organizada para a circulação de serviços e bens produzidos, e estar voltada ao lucro. 18 Conforme exposto acima, podemos incluir como empresários, os prestadores de serviços e comerciantes que atuam de forma habitual no mercado, e que exercem atividade econômica e organizada 5 SOCIEDADE SIMPLES Nessa sociedade os sócios exercem a suas profissões, ou melhor dizendo, a prestação desse serviço tem natureza estritamente pessoal. Podemos citar como exemplo uma sociedade de médicos, pois os próprios profissionais são os que realizam a atividade fim da sociedade, assim como; pesquisadores, escritores, dentistas, dentre outros. O artigo 966 Código Civil, traz como exceção ao enquadramento como empresário a prestação de serviços intelectuais, que assim dispõe: Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (BRASIL, 2002) A principal diferença entre essas duas modalidades de sociedade é a natureza da atividade desenvolvida, está no fato de estas possuírem finalidade lucrativa, porque aquelas também podem ostentar essa característica. O traço distintivo entre ambas é o objeto social, pois a sociedade empresária tem por objeto o exercício de empresas que são as atividades econômicas organizadas de prestação ou circulação de bens ou serviços; enquanto a sociedade simples tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial. O que irá de verdade caracterizar a pessoa jurídica de direito privado não estatal como sociedade simples ou sociedade empresária, será o modo de empreender o seu objeto. Pois, o objeto social explorado sem empresarialidade, ou seja, sem profissionalmente organizar os fatores de produção, atribui à sociedade o 19 caráter de simples. Enquanto a exploração empresarial do objeto social, caracteriza a sociedade como empresária. 6 TIPO DE SOCIEDADE O artigo 983 do Código Civil diz que: Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo. (BRASIL, 2002) Sendo assim, o legislador criou cinco tipos societários específicos para as sociedades empresárias: a sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044); a sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051); a sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087); a sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089 c/c a Lei 6.404/1976); e a sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092). Caso os sócios queiram constituir uma sociedade empresária, terão obrigatoriamente que escolher um desses cinco tipos, não sendo permitido constituir uma sociedade empresária atípica, ou seja, que não enquadre em nenhum dos tipos mencionados acima. Já as sociedades simples, o legislador fez o oposto. Não criou nenhum tipo societário específico, o que permitiu a constituição de uma sociedade simples atípica, que costuma se chamar de sociedade simples “pura”, ou seja, uma sociedade simples que não adota um tipo societário específico. Porém, o legislador permitiu que a sociedade simples use emprestado um dos tipos societários previsto para a sociedade empresária, que poderão ser: a sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita simples, e a sociedade limitada. Vale frisar que a sociedade simples não pode optar pela forma de sociedade por ações (pois estas são empresárias nos termos do art. 982, parágrafo único, do Código Civil). 20 6.1 Sociedades dependentes de autorização Está consagrado na Constituição Federal o regime capitalista de mercado, ao qual estabelece expressamente os primados da livre-iniciativa em seu art. 170: No entanto, há atividades cujo exercício, possui indiscutível interesse público, que exige autorização governamental e, que se submetem a forte fiscalização por parte do poder público. Um exemplo, são os casos das atividades financeiras, de seguro, que se relacionam à saúde e à educação. 21 O próprio dispositivo constitucional que assegura a livre iniciativa, mencionou acima, uma ressalva de que a lei pode estabelecer casos específicos em que o exercício de atividade econômica irá depender de autorização prévia dos órgãos públicos. Nesse sentido, o legislador constituinte originário, o legislador do Código Civil de 2002 disciplinou nos arts. 1.123 a 1.141, sobre o tratamento jurídico conferido às sociedades dependentes de autorização. Deixando claro que, essa matéria é de competência do poder executivo federal: Art. 1.123. A sociedade que dependa de autorização do Poder Executivo para funcionar reger-se-á por este título, sem prejuízo do disposto em lei especial. Parágrafo único. A competência para a autorização será sempre do Poder Executivo federal. (BRASIL, 2002) A sociedade que depende de autorização para funcionar, a princípio terá o prazo de 12 (doze) meses para entrar em funcionamento, a contar da publicação da lei ou do ato administrativo autorizador, salvo se nesses foi estipulado prazo distinto (art. 1.124 do Código Civil). Após concedida a autorização, nada impede, seja a mesma cassada pelo poder concedente. Isso ocorrerá se a sociedade infringir disposição de ordem pública, ou, praticar atos contrários aos fins declarados no seu estatuto, como determina o art. 1.125: Art. 1.125. Ao Poder Executivo é facultado, a qualquer tempo, cassar a autorização concedida a sociedade nacional ou estrangeira que infringir disposição de ordem pública ou praticar atos contrários aos fins declarados no seu estatuto. (BRASIL, 2002) Um exemplo de sociedade que depende de autorização, são os bancos, nos termos do art. 18 da Lei 4.595/64: “As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras.” (BRASIL, 1964) 22 6.2 Sociedade nacional O critério adotado pelo direito brasileiro para a definição da nacionalidade de uma sociedade, não é o da nacionalidade dos sócios, nem o da origem do seu capital social. De acordo com o artigo 1.126 do Código Civil: “É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração”. Caso essa sociedade resolva mudar a nacionalidade, precisarão do consentimento unânime de seus sócios. A vista disso, não importa a nacionalidade, o local da residência ou a origem do capital empregados dos sócios para aferição da nacionalidade da sociedade que eles constituírem. 6.3 Sociedade estrangeira Caso a sociedade não preencha os requisitos citados no art. 1.126 do Código Civil (sede no Brasil e organização de conformidade com as leis brasileiras), será considerada uma sociedade estrangeira, necessitando de autorização governamental para entrar em funcionamento em nosso País. Após a autorização, a sociedade precisará proceder ao respectivo registro na Junta Comercial do Estado em que irá desenvolver suas atividades (art. 1.136). Cumpridas as formalidades do registro, e iniciadas as suas atividades, se submeterá às leis e aos tribunais brasileiros, assim como atos e operações que praticarem no território nacional (art. 1.137). E por fim o art.1.141 permite o registro para a sociedade estrangeira autorizada a funcionar no Brasil, podendo obter autorização do Poder Executivo Federal para nacionalizar-se, podendo transferir sua sede para o território de nosso País. 23 6.4 Sociedade entre cônjuges O art. 977 disserta que: “Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.” Essa regra vale para sociedades empresárias e para sociedades simples. 6.5 Sociedade rural Assim disserta o art. 984 do Código Civil: Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária. Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas que regem a transformação. (BRASIL, 2002) Esta regra vale para as sociedades empresárias, assim como a regra do art. 971 do Código Civil está para os empresários individuais: Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. (BRASIL, 2002) 7 PERSONALIZAÇÃO JURÍDICA DAS SOCIEDADES A norma do art. 985 do CC, define que: “A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).” (BRASIL, 2002) 24 As sociedades, só tem a sua personalidade reconhecida, após o registro no órgão competente: cartório (se for uma sociedade simples); junta comercial (se for uma sociedade empresária) art. 1.150 do Código Civil. Sendo assim, enquanto não constar o registro do ato constitutivo da sociedade, o direito até reconhece sua existência, mas não lhe confere personalidade (arts. 986 a 990 do Código Civil). Caso o início da personalidade jurídica da sociedade se dê com o seu registro, o término se dará com a sua dissolução, resultando em liquidação e extinção. Agora, caso a sociedade não consiga com os seus bens sociais, honrar as dívidas, os sócios poderão ser responsabilizados (caso o tipo societário escolhido determine a responsabilidade ilimitada deles), um exemplo é sociedade com nome coletivo. Se o tipo societário escolhido, determinar a responsabilidade limitada dos sócios, eles poderão ser responsabilizados por exemplo, caso seja decretada a desconsideração da personalidade jurídica nos termos do art. 50 do Código Civil. 8 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS 8.1 Sociedades limitadas e sociedades anônimas No cenário atual, não podemos afirmar que toda sociedade limitada é uma sociedade de pessoas. Tampouco, que toda sociedade anônima é uma sociedade de capital. A doutrina contemporânea resguarda que, sociedades limitadas podem assumir aspecto capitalista, assim como sociedades anônimas podem assumir aspecto personalista. No Brasil, não é incomum que as sociedades anônimas (especialmente companhias fechadas familiares) assumam esse aspecto personalista, através de regras estatutárias, como as que impõem a limitação de circulação de ações nominativas, ou, por meio de acordos de acionistas. Observe o quadro abaixo: 25 9 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS O Código Civil divide as sociedades em dois grupos: em um ele trata das sociedades personificadas, e no outro ele trata das sociedades não personificadas. Neste, estão a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação. No outro grupo das sociedades personificadas estão as: sociedade simples pura, sociedade limitada, sociedade anônima, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações, e sociedade cooperativa. Se a sociedade é uma categoria de pessoa jurídica, não se admitir que uma sociedade não tenha personalidade jurídica. A questão é: se trata de uma sociedade dotada de personalidade jurídica ou não se trata de uma sociedade. 26 As sociedades não personificadas, mesmo estando disciplinadas na parte do Código Civil, referente às sociedades empresárias, podem eventualmente desenvolver atividades civis não empresariais. Por tratar de sociedades, cujo objeto social pode ser de natureza empresarial ou civil. Ou seja, podem ser sociedades simples ou sociedades empresárias. 9.1 Sociedade em comum O art. 986 do Código Civil, dispõe sobre a sociedade que ainda não inscreveu seus atos constitutivos no órgão de registro competente: a junta comercial (em se tratando de sociedade empresária), e no cartório de registro civil de pessoas jurídicas, (em se tratando de sociedade simples). Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. (BRASIL, 2002) Diante dessa classificação doutrinária, diversos autores entendem que a sociedade em comum, disciplinada pelo atual Código Civil é na verdade apenas uma nova expressão trazida pelo legislador, para se referir às: sociedades de fato e sociedades irregulares (expressões antigas consagradas pela doutrina). A sociedade em comum é uma espécie de sociedade despersonificada (ou seja, que não possui personalidade jurídica), constituindo sociedade irregular ou de fato. A vista disso, as normas da sociedade em comum são aplicáveis as sociedades que não possuem atos constitutivos, ou que possuam sem o devido registro. As dívidas e os bens da sociedade em comum, diante da ausência de personalidade jurídica própria, constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum, assim dispõe o artigo 988 do Código Civil. Os sócios da sociedade em comum (nas relações entre si ou com terceiros), por se tratar de sociedade de fato ou irregular, somente por escrito poderão provar a existência da sociedade, mas os terceiros poderão prová-la de qualquer modo. 27 Portanto, sociedade de fato é a sociedade sem contrato escrito, que já está exercendo sua atividade sem nenhum indício de que seus sócios estejam tomando as providências necessárias à sua regularização. A sociedade em comum, é a sociedade contratual em formação, ou seja, é aquela que tem contrato escrito e está preparando o seu registro perante o órgão competente, antes de iniciar a exploração do seu objeto social. E a sociedade irregular, é a sociedade com contrato escrito e registrado, já iniciado as atividades normais, mas que apresenta irregularidades no seu registro. A definição da responsabilidade dos sócios quanto às obrigações sociais, é a disciplina mais importante da sociedade em comum, estabelecida no Código Civil. E é regra geral do direito societário que os sócios respondam subsidiariamente pelas suas obrigações sociais, em virtude da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas. Princípio consagrado pelo Código Civil, em seu art. 1.024, que dispõe: “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.” (BRASIL, 2002) Para a aplicação do disposto no artigo citado, é necessário reconhecer a existência de uma pessoa jurídica devidamente constituída. Ou seja, de um ente com personalidade jurídica reconhecido pelo ordenamento jurídico. Vale frisar, como já estabelece o Código e, conforme já citado, que a personalidade jurídica se inicia somente a partir do registro dos atos constitutivos da sociedade no órgão competente. A sociedade em comum é despida de personalidade jurídica, por isso o Código a classifica como uma sociedade não personificada. Portanto, a consequência da ausência de personalidade jurídica da sociedade em comum teria que causar, em tese, a responsabilidade direta e ilimitada dos seus sócios pelas obrigações sociais. Levando em conta que se não há personalidade jurídica, não poderá ser aplicado o artigo 1.024 do CC, uma vez que, tal dispositivo se refere ao princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, e não havendo uma pessoa jurídica devidamente constituída, automaticamente não há um ente autônomo (distinto da pessoa dos sócios), de quem se possa exigir a responsabilidade por dívidas contraídas em seu nome. 28 A sociedade em comum, por não se tratar de pessoa jurídica com existência formal reconhecida pelo ordenamento jurídico (lembrando que a personalidade só se inicia com o registro) não tem um “patrimônio próprio” que possa ser formalmente identificado, ou seja, não possui bens, nem conta bancária em seu nome, o seu “patrimônio social”, forma-se de bens e direitos titularizados por cada um de seus sócios. Portanto, o Código estabeleceu uma especialização patrimonial, melhor dizendo, um patrimônio de afetação. Com efeito, pode-se dizer que o patrimônio social da sociedade em comum, forma-se através de todos os bens que estiverem diretamente afetados ao exercício da atividade constitutiva do objeto social, assim diz o art. 988 “Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.” (BRASIL, 2002) 9.2 Sociedade em conta de participação A doutrina chama essa sociedade em conta de participação, de sociedade secreta, mas não se trata de uma sociedade, mas sim, de um contrato especial de investimento. Ao definir sociedade empresária como pessoa jurídica, seria errado considerar a conta de participação uma espécie destas. Embora muitos doutrinadores concluam em sentido oposto a conta de participação, a rigor, é simplesmente um contrato de investimento comum, e que o legislador, impropriamente, classificou como sociedade. Acaba que tais características, que a afastam da sociedade empresária típica, é a despersonalização e a natureza secreta, em que seu ato constitutivo não precisa ser levado a registro na Junta Comercial. Outros aspectos que justificam não considerá- la uma sociedade, são: a conta de participação, necessariamente, não necessita de capital social; liquida-se pela medida judicial de prestação de contas e não por ação de dissolução de sociedade; e, não possui nome empresarial. A sociedade em conta de participação apresenta duas categorias distintas de sócios: o sócio ostensivo e o sócio participante (também chamado de sócios ocultos). 29 O artigo 991 do Código Civil dispõe que: Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. (BRASIL, 2002) Percebe-se, que a conta de participação é uma “sociedade” que só existe internamente, assim dizendo, entre os sócios. Externamente, isto é, perante terceiros, só aparece o sócio ostensivo, que exerce em seu nome individual, a atividade empresarial. E responderá sozinho pelas obrigações contraídas. Os sócios participantes, não aparecem nas relações com terceiros (por isso são chamados de sócios ocultos), os mesmos só participam dos resultados sociais, conforme é definido na elaboração do ato de constituição da sociedade. As sociedades em conta de participação geralmente são informais, por isso o art. 992 do Código Civil dispõe: “A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.” (BRASIL, 2002) O que não significa que conta de participação não possua um contrato. Existe sim, e não precisa ser escrito. Além disso, a conta de participação, como frisado várias vezes, não possui personalidade jurídica, mesmo que seu 30 contrato seja escrito e inscrito em algum órgão de registro, assim prevê o art. 993 do Código Civil: Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier. (BRASIL, 2002) Os contratos de sociedade em conta de participação, geralmente são registrados no cartório civil de títulos e documentos, mas esse registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Normalmente, é constituída também para realizar empreendimentos temporários ou, até mesmo, para a realização negócios específicos. 10 SOCIEDADES PERSONIFICADAS O código também cuida das sociedades personificadas, sejam: sociedade limitada, sociedade simples pura, a sociedade anônima, sociedade cooperativa, sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações. Sendo que, a principal consequência da personificação das sociedades, é o reconhecimento da sociedade como sujeito de direitos. Ou seja, como ente autônomo dotado de personalidade distinta da pessoa dos seus sócios e, com patrimônio autônomo, ao qual não se confunde com o patrimônio dos sócios. Considera-se sociedade personificada toda aquela que possuir registro de seus atos constitutivos em órgão competente. Antes mesmo de começar as atividades econômicas, o empresário deve se inscrever no registro de empresas mercantis, através das juntas comerciais dos estados. 31 10.1 Sociedade em nome coletivo A sociedade em nome coletivo gira em torno de uma firma social cujo os sócios respondem de forma ilimitada e solidária com seus bens particulares. Sendo que os sócios podem limitar entre si, de acordo com a responsabilidade de cada um, assim dispõe os artigos 1039 e 1044 do Código Civil. Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. (BRASIL, 2002) E trata-se do mais antigo tipo societário medieval, segundo a doutrina comercialista. Pois constituíam verdadeiras sociedades fraternas entre mercadores e artesãos, fortalecidas por um dever de recíproca solidariedade entre os membros e, dotadas de um patrimônio comum (num regime de copropriedade entre todos os sócios), que eram coobrigados perante terceiros. A vista disso, as dívidas sociais eram rateadas entre os sócios proporcionalmente à sua participação nos negócios. Essa sociedade tem como principal característica a responsabilidade ilimitada dos sócios que a compõem. Em outras palavras, esgotado o patrimônio da sociedade em nome coletivo, os credores podem executar o restante das dívidas sociais no patrimônio pessoal dos sócios. Assim sendo, o art. 1.039 do CC dispõe: Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. (BRASIL, 2002) A sociedade em nome coletivo, não admite sócio pessoa jurídica. 32 Observa-se que a limitação de responsabilidade que os sócios podem estabelecer, produz efeitos somente a eles e não à terceiros. Diante os credores da sociedade, portanto, a responsabilidade dos sócios de uma sociedade em nome coletivo, é sempre ilimitada. Porém, há a previsão contratual de limitação de responsabilidades entre eles, que repercutirá apenas internamente, o que poderá por exemplo, dar direito de regresso de um sócio contra o outro. Por se tratar de sociedade contratual, assim como a sociedade limitada, a sociedade em nome coletivo é regida pelas normas da sociedade simples (art. 1.040 do CC), e o seu contrato social deve conter cláusulas gerais que estão previstas no art. 997 do Código Civil, conforme determina o art. 1.041: “O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a firma social.” (BRASIL, 2002) 10.2 Sociedade anônima A sociedade anônima é a que tem fim lucrativo, com o seu capital dividido em ações, e essas ações é que limita as responsabilidades que cada um detém. A denominação pode ser: CIA ou S.A. Na evolução normativa, ocorrida nos diversos ordenamentos jurídicos europeus, o Brasil deixou de exigir a prévia autorização governamental para a constituição das sociedades anônimas, e incorporou o sistema da regulamentação. Dessa forma, a autorização do governo passou a ser exigida somente nos casos excepcionais, alguns exemplos são: a constituição de sociedade estrangeira, instituições financeiras, e companhias abertas. As sociedades anônimas são regidas por lei específica, a Lei das Sociedades Anônimas (LSA), Lei nº 6.404/1976. A lei atual das sociedades por ações foi editada em um momento bastante delicado da economia nacional, após o famoso boom de 1971, que foi marcado pela grande especulação que tomou conta das bolsas de valores do Rio de Janeiro e São Paulo, causando sérios prejuízos aos investidores populares, e a partir desse cenário o Brasil percebeu que precisava, urgente de uma 33 nova legislação que proporcionasse mais proteção aos acionistas minoritários e, mais segurança para o desenvolvimento do mercado de capitais. A lei das sociedades anônimas (LSA) é bem enaltecida pela doutrina comercialista, motivo pelo qual até hoje está em vigor, sem ter sofrido alterações relevantes em seu texto original. O ano de sua edição é 1976, e a LSA teve apenas algumas alterações em sua redação provocada pela lei nº 9.457/1997 que a preparou para o processo de privatizações; pela lei nº 10.303/2001, que buscou proteger os interesses dos acionistas minoritários e tornar o mercado de capitais mais atrativo e seguro para os investidores; a lei nº 11.638/2007 e 11.941/2009, que, essencialmente, trouxeram novas regras acerca da elaboração e, da divulgação das demonstrações financeiras desse tipo societário; lei nº 12.431/2011 e 13.129/2015, que ocasionaram modificações e acréscimos pontuais. Ainda sobre, essas últimas alterações da LSA, vale destacar que elas foram introduzidas em nosso ordenamento jurídico visando uma adaptação às novas tendências do direito societário, especialmente no que tange à chamada governança corporativa. A governança corporativa é um dos temas mais atuais relacionado à sociedade anônima, que é referente ao estudo das chamadas práticas de governança corporativa “corporate governance”, resultante de estudos e trabalhos inicialmente desenvolvidos na nos Estados Unidos e Inglaterra. Governança Corporativa é um movimento que nasceu nos Estados Unidos e no Reino Unido, por volta de 1990, tendo como objetivo identificar e sistematizar melhores práticas de gestão da empresa e relacionamento com os acionistas. Tal movimento repercutiu muito no Brasil, o que acabou inspirando a formação do novo mercado da BOVESPA, em 2000 e, a reforma da LSA em 2001. O sistema de governança corporativa embora seja um movimento mundial, principalmente em função da globalização econômica, é possível identificar dois principais sistemas que apresentam algumas características distintivas, e a opção por um ou por outro sistema, dependerá muito do ambiente: social, econômico, político, corporativo e regulatório de um país. 34 O primeiro é o outsider system, mais adotado em países onde o mercado de capitais já se encontra num estágio bem avançado de desenvolvimento. Esse sistema costuma, apresentar conforme demonstra quadro abaixo: O outro, é o insider system, mais comum em países onde os mercados de capitais ainda não tão avançado, é o caso de alguns países asiáticos e europeus e, até mesmo do Brasil. Esse sistema costuma apresentar, conforme demonstra quadro abaixo: 35 No Brasil, nota-se uma maior aproximação com o insider system, já que aqui ainda predominam as companhias de capital concentrado. Apesar do crescimento nos últimos anos, o mercado de capitais ainda não supera em importância o mercado de crédito, a Bovespa lançou o Bovespa Mais, tendo como objetivo ajudar as pequenas e médias empresas a abrir o capital. No que diz respeito aos acionistas, os mesmos ainda não participam “ativamente” da vida da sociedade. A governança corporativa nas empresas estatais, regida pelo art. 173, § 1º, da Constituição Federal, a Lei nº 13.303/2016, estabeleceu o estatuto jurídico da empresa pública e da sociedade de economia mista. E nessa lei percebe-se a 36 preocupação com a adoção de boas práticas de governança corporativa nas entidades. O art. 6º determina que: Art. 6º O estatuto da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias deverá observar regras de governança corporativa, de transparência e de estruturas, práticas de gestão de riscos e de controle interno, composição da administração e, havendo acionistas, mecanismos para sua proteção, todos constantes desta Lei. (BRASIL, 2016) A sociedade anônima é a sociedade de capital por excelência, e por sua vez, tem como principal característica a sua feição eminentemente capitalista. Assim dizendo, nela a entrada de estranhos ao quadro social independe da anuência dos demais sócios. Outra importante característica relacionada às sociedades anônimas, é a sua essência empresarial. O Código Civil em seu art. 982, parágrafo único, dispõe que as sociedades por ações, cuja principal espécie é exatamente a sociedade anônima, é considerada uma sociedade empresária independentemente do seu objeto social. Segundo o artigo 4.º da LSA: “Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários. (BRASIL, 1976) Quer dizer, que a S/A será aberta quando tiver autorização para negociar seus valores mobiliários no mercado de capitais, e fechada quando não tiver autorização para tanto. Em razão do já mencionado boom, ocorrido nas bolsas de valores do Rio de Janeiro e de São Paulo, foi criado após alguns anos, um ente estatal específico, com a finalidade de assumir o controle e, a fiscalização das operações do mercado de capitais no Brasil. Em 1976, com efeito, a Lei 6.385/76 criou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), inspirada no direito norte-americano Securities and Exchange Comission. O Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade autárquica federal de natureza especial, com característica de agência reguladora. Verifique o que 37 disserta o art. 5.º da Lei 6.385/1976 em redação dada pela Lei nº 10.411, de 26.2.2002: Art. 5º É instituída a Comissão de Valores Mobiliários, entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária. (BRASIL, 2002) Ao contrário do que muitos pensam, a Bolsa de Valores não é órgão que integra a Administração Pública, pois trata-se de uma associação privada, formada por sociedades corretoras que por meio de autorização da CVM, presta serviço de interesse público. Consistente na manutenção de local adequado à realização das operações de compra e venda dos diversos valores mobiliários, emitidos pelas companhias. 10.2.1 Ações É o principal valor mobiliário emitido pela companhia. Refere-se à valor mobiliário que representa parcela do capital social, oferecendo ao seu titular o status de sócio, o chamado “acionista”. As ações classificam-se bens móveis para efeitos legais. As ações, vale frisar, são os valores mobiliários mais importantes das sociedades anônimas, por representarem parcela do capital social e confiar aos seus titulares a condição de acionistas da companhia. Existem duas classificações importantes das ações de uma S/A: a primeira leva em conta os direitos e obrigações que elas conferem aos seus titulares, e a segunda que leva em consideração a forma de transferência. As ações se classificam em: a) ordinárias: que confere direitos normais ao seu titular; b) preferenciais: que confere uma preferência (ou vantagem) ao seu titular; 38 c) de fruição: que confere apenas direito de gozo ao seu titular. As ações ordinárias, como o próprio nome propõe, são aquelas que conferem aos seus titulares direitos comuns, ordinários. Chamado também de ordinarialista, o titular de uma ação dessa espécie, não possui nenhuma vantagem ou direito especial em relação aos demais sócios. Mas também, não se sujeita a nenhum tipo restrição, (como acontece com titulares de outras espécies de ação). A ação preferencial, no que lhe diz respeito, como o próprio nome também propõe, confere ao titular, chamado de preferencialista, uma preferência ou vantagem em relação aos ordinarialistas. Em compensação, o estatuto pode restringir ou retirar alguns dos direitos normalmente atribuídos aos titulares de ações ordinárias, até mesmo o direito de voto. Porém, é preciso reforçar que essas restrições que podem vir a ser impostas aos preferencialistas, devem vir expressamente citadas no estatuto (conforme disposto no art. 19 da LSA), e nunca poderão privar o titular da ação preferencial dos seus direitos fundamentais de acionista, como dispõe o art. 109 da lei. Conforme demostra imagem: 39 E a terceira espécie de ação, que leva em conta os direitos e as obrigações que elas conferem aos seus titulares, que são as ações de fruição. As quais são emitidas em substituição a ações ordinárias ou preferenciais que foram totalmente amortizadas, atribuindo aos seus titulares “meros” direitos de gozo ou fruição. O art. 44 da LSA, nesse sentido disserta “O estatuto ou a assembléia-geral extraordinária pode autorizar a aplicação de lucros ou reservas no resgate ou na amortização de ações, determinando as condições e o modo de proceder-se à operação.” O § 2º desse dispositivo, determina que “A amortização consiste na distribuição aos acionistas, a título de antecipação e sem redução do capital social, de quantias que lhes poderiam tocar em caso de liquidação da companhia.” E o § 5.º complementa: § 5º As ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas por ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela assembleia-geral que deliberar a amortização; em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia, as ações amortizadas só concorrerão ao acervo líquido depois de assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da amortização, corrigido monetariamente. (BRASIL, 2002) Posto isto, determinada a amortização de uma ação preferencial ou ordinária, e se calcula o valor patrimonial naquele momento e paga-se esse valor ao titular da ação. Neste caso, o estatuto ou a assembleia geral que, decidir por essa amortização (conforme o caso), vai decidir também, se a substitui por uma ação de fruição. O titular dessa ação de fruição, fazendo-o, terá a partir de então, somente direitos de gozo ou fruição contra a companhia. 10.3 Sociedade Limitada Na sociedade limitada a responsabilidade é de acordo com a cota de cada sócio, mas todos respondem de forma integral o capital social. A vista disso, deve-se seguir à denominação social a palavra limitada por extenso ou abreviadamente. A sociedade limitada representa o tipo societário mais utilizado na praxe comercial brasileira, e corresponde a aproximadamente mais de 90% dos registros de sociedades no Brasil. 40 A grande presença de sociedades limitadas se deve ao fato de ela ostentar duas características específicas, que a torna um tipo societário muito atrativo para os pequenos e médios empreendimentos, que são: a contratualidade e a limitação de responsabilidade dos sócios. Com efeito, o fato de os sócios responderem limitadamente pelas obrigações sociais, resulta que os empreendedores em potencial se sintam estimulados a compor uma sociedade limitada para o exercício de empresa, visto que, a limitação de responsabilidade funciona como relevante fator de redução do risco empresarial. O simples fato de a sociedade limitada ter a característica de limitação de responsabilidade dos seus sócios, não explica por si só a sua extrema aceitabilidade entre os pequenos e médios empreendedores, pelo fato de a sociedade anônima também ser um tipo societário que se caracteriza pela responsabilidade limitada de seus acionistas. Outra característica que faz da sociedade limitada o tipo societário mais utilizado na praxe comercial brasileira, é a sua contratualidade. A contratualidade proporciona aos sócios a liberdade na hora de firmar o vínculo societário entre eles. No Brasil, a sociedade limitada deu origem com a edição do Decreto 3.708/1919, que foi a chamada Lei das Limitadas, era composto apenas por 19 artigos, ao qual cuidava da sociedade por quotas de responsabilidade, que conjugava características típicas das sociedades institucionais de capital (a sociedade anônima), com características específicas das sociedades contratuais de pessoas. O contrato social da sociedade limitada deve ser escrito, porque será necessário que os sócios o leve ao registro no órgão competente. Se a sociedade limitada for empresária, o contrato social deverá ser registrado na Junta Comercial; caso a sociedade limitada seja simples, ou seja, não tenha por objeto o exercício de empresa, o contrato social deverá ser registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Assim prevê o art. 1.150 do Código Civil: Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. (BRASIL, 2002) 41 O contrato social da sociedade limitada deve mencionar também, conforme dispõe o inciso I do art. 997 do Código Civil “nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas.” Após a qualificação dos sócios, deverá o contrato social qualificar a própria sociedade limitada, mencionando: a denominação, o objeto, a sede e prazo da sociedade (art. 997, inciso II, do Código Civil). 10.4 Sociedade comandita simples Na sociedade comandita simples, os sócios classificam-se em duas categorias: os comanditários, que respondem pelo valor de sua cota; e comanditados, que são solidários e de forma ilimitada. Conforme pode-se notar nos artigos 1045 e 1051 do código civil vigente. Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários. Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade: I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044; II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias de sócio. Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio, os atos de administração. (BRASIL, 2002) Não há concordância quanto à origem histórica das sociedades em comandita simples, há quem aponte sua origem na própria sociedade em nome coletivo, a comandita simples seria uma evolução dela, acrescida da responsabilidade limitada de alguns sócios. 42 O Código Civil, em seu art. 1.045 determina: Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários. (BRASIL, 2002) Esse tipo societário, existem sócios de responsabilidade ilimitada, e assim prevê o art. 1.046: Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste Capítulo. Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo. (BRASIL, 2002) Em suma, o regime jurídico do sócio comanditado é o mesmo do sócio da sociedade em nome coletivo, ou seja: o comanditado tem que ser pessoa física; só o comanditado pode administrar a sociedade; só o nome do comanditado pode constar da firma social; e a responsabilidade do comanditado é ilimitada. Em contrapartida a limitação de responsabilidade, o Código Civil em seu art. 1.047, determina: Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidades de sócio comanditado. Parágrafo único. Pode o comanditário ser constituído procurador da sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais. (BRASIL, 2002) Vê-se, que somente o nome dos sócios comanditados podem constar da firma social, uma vez que estes são os que respondem ilimitadamente pelas obrigações da sociedade (art. 1.157 do Código Civil). Observe o quadro demonstrativo: 43 Por fim, vale destacar que a sociedade em comandita simples, assim como a sociedade em nome coletivo, dissolve-se de pleno direito por qualquer das causas previstas no artigo 1.033 do Código Civil e, pela declaração de sua falência também (se for empresária). 10.5 Sociedade simples Na sociedade simples, os bens dos sócios podem responder pela sociedade somente após executar os bens sociais, assim, os sócios responderão na proporção de seu patrimônio social, salvo se no ato constitutivo houver cláusula de responsabilidade solidaria. Essa sociedade tem por objeto o exercício de atividade econômica não empresarial. Um exemplo típico de sociedade simples é o das sociedades uniprofissionais, que são sociedades formadas por profissionais intelectuais, exemplo: médicos, dentistas, engenheiros, etc. Cujo objeto social é o exercício da própria atividade intelectual de seus sócios. O art. 983 do Código Civil determina: Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de 44 conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo. (BRASIL, 2002) 10.6 Sociedade em comandita por ações A sociedade em comandita por ações, nesse tipo o capital é dividido em ações conforme a sociedade anônima. A vista disso, só o acionista pode administrar a sociedade, e responder de forma ilimitada e subsidiaria pelas obrigações da sociedade. Assim leciona os artigos 1090 e 1092 do Código Civil. Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou denominação. Art. 1.092. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contraentes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. (BRASIL, 2002) No que diz respeito à organizada de várias formas, o art. 983 do CC disserta: Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as constantes de leis especiais que, para o exercício de certas atividades, imponham a constituição da sociedade segundo determinado tipo. (BRASIL, 2002) A partir da leitura desse dispositivo legal, conclui-se que a sociedade simples tem um modelo de organização básico, que aqui estamos denominando de sociedade simples pura (alguns autores chamam de “sociedade simples simples”). Sobre a responsabilidade dos sócios, por se tratar de sociedade simples pura uma pessoa jurídica, quer dizer, ente ao qual o ordenamento jurídico atribui personalidade, ela responde pelas suas obrigações com seus bens sociais. 45 Por isso, o art. 1.024 do CC, sobre o princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas : “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.” (BRASIL, 2002) Por fim, o conceito de sociedade personificada e sociedade não personificada, tem-se discutido muito no campo do direito empresarial brasileiro. Sob essa perspectiva, é visto que nos dias atuais e pelas práticas explicitas do mercado empresarial tornou-se de uma tamanha relevância. 11 TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Os artigos 49 A e 1.024 do Código Civil, consagram o princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas, e constitui uma importante ferramenta jurídica de incentivo ao empreendedorismo, na medida em que consagra a limitação de responsabilidade (a depender do tipo societário adotado) atuando também como importantíssimo redutor do risco empresarial. A doutrina define que, o reconhecimento de personalidade às pessoas jurídicas corresponde a uma sanção positiva ou premial. O ordenamento jurídico estimula os particulares a desenvolverem atividades econômicas, o que interessa não apenas aos empreendedores, mas também à própria sociedade. Contudo, a história das relações econômicas esclarece que o uso das pessoas jurídicas e a consagração do princípio da autonomia patrimonial podem dar abertura a abusos. Os empresários maldosos, usavam de várias artimanhas para fraudar seus credores, utilizando-se da personalidade jurídica e, beneficiando-se da separação patrimonial como um verdadeiro escudo protetor contra-ataques aos seus patrimônios pessoal. Posto isto, com a finalidade de salvaguardar o princípio da autonomia patrimonial e, evitando o seu uso abusivo e deturpado, formulou-se a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, a qual deveria ser aplicada quando se 46 verificasse (e constatasse) o uso abusivo da personalidade jurídica em detrimento de seus credores. 11.1 Teoria da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil Essa teoria chegou ao Brasil através de Rubens Requião, na década de 1960. O autor, a despeito da ausência de previsão legislativa, já defendia a sua aplicação no País. Diante do abuso de direito, e da fraude no uso da personalidade jurídica, cabe o juiz brasileiro indagar em seu livre convencimento, se há de consagrar a fraude ou o abuso de direito, ou, se deverá desprezar a personalidade, visando alcançar as pessoas e bens que dentro dela se escondem para fins ilícitos e abusivos. Com a edição do Código Civil de 2002, a teoria da desconsideração recebeu um novo tratamento legislativo, e o legislador editou dispositivo que refletiu, com fidelidade aos ideais originais da disegard doctrine. Com efeito, o art. 50 do Código Civil estabeleceu que: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (BRASIL, 2002) Portanto, o artigo citado, é atualmente a regra matriz acerca da disregard doctrine no direito brasileiro. Sendo de aplicação obrigatória, a todos os casos de desconsideração da personalidade jurídica (com exceção dos referentes às relações de consumo, aos crimes ambientais e às infrações à ordem econômica) por possuírem disciplina normativa própria, já prevista em leis especiais. 47 12 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e concordata. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 1998. BARBOSA, Denis Borges. 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Princípios do Direito Comercial – com anotações ao Projeto do Código Comercial. 1 ed. Editora Saraiva, 2012. 48 PAES DE ALMEIDA, Amador. Execução de bens dos sócios. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. RESTIFFE, Paulo Sérgio. Manual do novo direito comercial. São Paulo: Dialética, 2006. ROSA JR., Luiz Emygdio F. da. Títulos de crédito. 4 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. TOLEDO, Paulo F. C. Salles de; ABRÃO, Carlos Henrique (coord.). Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. TOMAZETE, Marlon. Direito societário. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Curso de direito comercial. São Paulo: Malheiros, 2004. WALD, Arnoldo. Obrigações e Contratos. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
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