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Introdução ao Direito de Familia

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Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
CURSO DE DIREITO 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA/JUR 3106 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
 
OBS: Para facilitar seus estudos, lembre-se de ler todos os artigos citados no material no Código Civil e no Código 
de Processo Civil!! 
 
 
1. Introdução ao direito de família 
 
É o ramo do direito com o qual as pessoas se encontram mais acostumadas. Contribui para a 
proteção da intimidade e do desenvolvimento da personalidade humana. 
 
Disciplina as regras sobre o casamento, a dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, a 
proteção da pessoa dos filhos, as relações de parentesco, a filiação, o reconhecimento dos filhos, a 
adoção, o poder familiar, os regimes de bens entre os cônjuges, o usufruto e administração de bens dos 
filhos menores, os alimentos, o bem de família, a união estável, a tutela e a curatela. 
 
Destina-se a proteger a família, os bens que lhe são próprios, a prole e outros interesses 
afins. Rege as relações pessoais, as relações patrimoniais e as relações assistenciais. Não tem 
conteúdo econômico, a não ser indiretamente. 
 
1.1 Direito das Famílias 
 
Maria Berenice Dias, Rodrigo da Cunha Pereira, Paulo Lobo, Cristiano Chaves de Farias e 
Nelson Rosenvald utilizam a expressão “Direito das Famílias”, em razão da visão pluralista e aberta das 
formas de família garantidas pela CF/88 (art. 226, § 3º e § 4º). 
 
2. Breve histórico 
 
Até a CF/88 o conceito jurídico de família era extremamente limitado e taxativo, pois o 
CC/1916 somente conferia o status de família àqueles agrupamentos originados do casamento. 
 
Não se nega que grande parte desse entendimento se deve à influência da Igreja Católica, 
que pregava (e ainda prega) que o matrimônio decorria da vontade de Deus e que o que Deus uniu o 
homem não podia separar. 
 
Influência também do Direito romano que visualizava a família como a reunião de pessoas 
colocadas sob o mando de um único chefe – o pater familias, sob as ordens de quem se encontravam os 
descendentes e a mulher, além dos escravos. A família tinha uma conotação patrimonial. 
 
2.1. O Código Civil de 1916 
2.1.2 Felicidade x manutenção da família 
O modelo de família era caracterizado como um ente fechado voltado para si mesmo, em que 
a felicidade pessoal dos integrantes ficava em segundo plano. Em primeiro estava a manutenção do 
vínculo familiar a qualquer custo, daí porque se proibia o divórcio e se punia severamente o cônjuge tido 
como culpado na separação judicial. 
 
O CC/1916 não se preocupava com a felicidade dos membros da família. A sociedade era 
extremamente patriarcal e machista. 
 
2.1.2 O papel do homem e da mulher 
 
Cabia ao homem sustentar economicamente a família e à esposa restava o dever de cuidar 
dos filhos e da casa. A legislação estampava a superioridade masculina. Ao homem eram conferidos 
privilégios, o rol de seus direitos era extenso, incluindo, a chefia da sociedade conjugal. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
A esposa ocupava papel meramente secundário, já que quase só tinha deveres. Até o 
Estatuto da Mulher Casada (Lei 4121/62), ela era considerada relativamente incapaz para os atos da 
vida civil. Somente em 1962 tornou-se colaboradora do marido na chefia da sociedade conjugal e 
adquiriu a titularidade do pátrio poder (hoje chamado Poder Familiar). 
 
A desigualdade e o machismo ficavam claros também quando se analisava o art. 219, IV, do 
CC/1916, que permitia a anulação do casamento em decorrência do defloramento da mulher, ignorado 
pelo marido. Além disso, a jurisprudência entendia que o débito conjugal só poderia ser exigido pelo 
homem, nunca pela esposa. 
 
Não se admitia o divórcio, somente a separação judicial (desquite), e o cônjuge culpado pela 
separação era punido automaticamente com a perda da guarda dos filhos, o direito ao uso do nome e o 
direito a alimentos. O divórcio só foi permitido a partir de 1977 (Lei 6.515/77). 
 
Os casais que conviviam como se fossem casados, mas que não se casavam, ficavam à 
margem da sociedade e não tinham seus direitos reconhecidos. 
 
2.1.3 O papel dos filhos 
Os filhos das relações extraconjugais eram tratados como ilegítimos, bastardos, e não tinham 
os mesmos direitos dos filhos legítimos. 
 
Havia uma relação hierárquica bem marcada entre pais e filhos. O pai era o senhor absoluto 
da razão e os filhos mero obedientes. O dever do pai acabava no sustento financeiro dos filhos, a 
educação e a criação competiam à mãe. Esse cenário perdurou por muitos anos, durante quase todo o 
Século XX. 
 
3. A Carta Magna de 1988 
A CF/88 trouxe uma verdadeira revolução ao Direito de Família. Revolução esta consagrada 
e arrematada pelo Código Civil em vigor (Lei 10.406/02). 
 
A CF/88 alterou radicalmente o paradigma da família. O princípio da dignidade da pessoa humana 
provocou uma revolução no Direito Civil como um todo, dando ensejo a um fenômeno conhecido como 
despatrimonialização ou repersonalização do Direito Civil. 
 
Nesse contexto, o Direito de Família passou a encarar a entidade familiar como uma verdadeira 
comunidade de afeto, carinho, amor e ajuda mútua, deixando de ser um núcleo econômico e de 
reprodução. 
 
O afeto passou a ser considerado como um novo valor jurídico. O elo entre os membros 
da família deixou de ter conotação patrimonial. 
 
O dever de cuidado também vem sendo considerado um novo valor jurídico do Direito das 
Famílias. 
 
Os estudos desenvolvidos sobre o cuidado no mundo jurídico assumem caráter constitucional ao 
identificá-lo inicialmente como valor jurídico, conduzindo ao seu reconhecimento como subprincípio do 
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 
 
 
3.1. Especial proteção do Estado 
O âmbito familiar é o local mais adequado para alguém obter a plena realização da sua dignidade, é 
onde o indivíduo cresce e adquire habilidades para a convivência social e, portanto, merece proteção 
especial do Estado. 
O art. 226, caput, da CF dispõe que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
Em que pese o caráter de direito privado, há quem entenda que trata-se de direito público em razão 
desta especial proteção do Estado e das normas de ordem pública (que incidem independentemente da 
vontade das partes). Mas essa aproximação com o direito público não retira o caráter privado do Direito 
de Família. A tendência atual é reduzir o intervencionismo estatal nas relações interpessoais. 
 
A família advinda da CF/88 tem o papel de fazer valer a dignidade dos seus membros como forma de 
garantir a felicidade pessoal de cada um deles. 
 
- L.A.R. 
A família é chamada por Maria Berenice e Rodrigo da Cunha como L.A.R. (Lugar de Afeto e 
Respeito), onde a construção de sonhos, a realização do amor, o sofrimento, enfim os sentimentos 
humanos devem ser compartilhados. 
 
*Tereza Wambier diz que a “cara” da família moderna mudou. Maria Berenice afirma que “o novo 
modelo de família funda-se sobre os pilares da repersonalização, da afetividade, da pluralidade e do 
eudemonismo, impingindo nova roupagem axiológica ao direito de família. Agora, a tônica reside no 
indivíduo, e não mais nos bens ou coisas que guarnecem a relação familiar.” 
 
*Rodrigo da Cunha Pereira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, no prefácio da 
obra “Direito das Famílias” de Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias, diz que a família foi, é e 
continuará sendo o núcleo básico e essencial da sociedade. Em sua essência ela continua a 
mesma. Tudo começa e termina na família. Não interessa mais ao direito o objeto da família, mas o seu 
sujeito. A forma de constituição da família pode até variar, de acordo com o tempo e o espaço em que 
ela se encontra, mas em seu âmagoela será sempre o núcleo estruturante da pessoa e o locus para o 
desenvolvimento de sua personalidade. 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
 
1. Conceitos de Família 
1.1. Maria Helena Diniz: 
- Sentido técnico: grupo fechado de pessoas, composto por pais e filhos e, para efeitos limitados, por 
outros parentes, unidos pela convivência e afeto numa mesma economia, sob a mesma direção. 
1.2. Pablo Stolze: 
- Ente despersonalizado, célula mater da sociedade, cuja definição é ditada pelo vínculo de afetividade 
que une as pessoas, não cabendo ao Estado definir, mas tão somente, reconhecer esses núcleos 
(típicos ou não). 
1.3. Maria Berenice Dias 
- Família é o conjunto de pessoas que se unem pelo afeto e que buscam a felicidade individual, vivendo 
um processo de emancipação dos seus membros. 
OBS: conceito eudemonista socioafetivo 
• eudemonismo- expressão de origem grega ligada ao adjetivo feliz – doutrina que admite ser a 
felicidade individual ou coletiva o fundamento da conduta humana moral; enfatiza a busca do sujeito pela 
sua felicidade; respeita o projeto de felicidade de cada um). 
• socioafetivo – porque é moldado pela afetividade e não pela técnica legislativa. 
.1.4. Lei Maria da Penha (art. 5º, inc. II, da Lei 11340/06) 
Família é a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por 
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. 
1.5. Dicionário Houaiss: "Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente 
compartilham o mesmo espaço e mantém entre si uma relação solidária" 
 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
2. Formas de Família 
- art. 226, CF 
Para alguns doutrinadores a norma da CF/88 fecha as formas de família em três: casamento, união 
estável e família monoparental. 
a) decorrente do casamento 
b) decorrente da união estável 
c) monoparental – formada por qualquer dos pais e sua prole. 
Para outros (Paulo Lobo, Maria Berenice, Rodrigo da Cunha Pereira, Luiz Edson Fachin, Pablo 
Stolze, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald) a norma constitucional não nega outras formas de 
família, como a união homoafetiva, a família anaparental (formada por parentes não tão próximos 
ou até por pessoas que não sejam parentes) e a família recomposta ou reconstituída (família 
mosaico), dentre outras. Conceitos que partem do princípio da afetividade e do conceito 
socioafetivo da família moderna. 
 
“Estão admitidas no Direito de Família todas as entidades fundadas no afeto, na ética e na solidariedade 
recíproca, mencionadas ou não, expressamente, pelo comando do art. 226 da Carta Magna”. (Cristiano 
Chaves e Nelson Rosenvald) 
 
3. Princípios do direito de família 
3.1 Dignidade da Pessoa Humana 
- Ponto de partida do novo Direito de Família 
-É o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da 
Constituição Federal. A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social levou o 
constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional. É o 
mais universal de todos os princípios. 
- Princípio máximo ou super princípio. O patrimônio perde importância e a pessoa é supervalorizada. 
- Coloca a pessoa humana no centro de proteção do Direito. 
- Previsto no art. 1º, III. CF – valor nuclear da ordem constitucional. É o mais universal de todos os 
princípios. Irradia efeitos sobre todo o ordenamento jurídico. Garante o mínimo existencial para cada ser 
humano e, dentro do Direito de Família, garante o pleno desenvolvimento dos membros da família. 
 
Exemplos da jurisprudência de aplicação deste princípio no Direito de Família 
* Imóvel em que reside pessoa solteira é considerado bem de família, protegido pela impenhorabilidade 
(Lei 8009/90). Protege a pessoa, a dignidade e o direito constitucional à moradia. Pelo art. 226, a pessoa 
solteira não constitui família. Mas no caso, o julgador amplia o conceito de bem de família para proteger 
o bem da pessoa natural, com fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana. O tema já foi 
sumulado pelo STJ (Súmula 364). 
 
* Tese do abandono paternofilial ou teoria do desamor. Os juízes vêm condenando pais a pagar 
indenização aos filhos pelo abandono afetivo, por clara lesão à dignidade da pessoa humana. 
Julgados notórios: O primeiro, do extinto Tribunal de Alçada Civil de MG, de 2004 – caso Alexandre – 
em que o pai foi condenado a pagar 200 salários mínimos ao filho por tê-lo abandonado afetivamente. 
A 3ª Turma STJ reformou a decisão e afastou a condenação por danos morais. Em 29 de novembro de 
2005, disse o STJ o seguinte: 
“RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO. DANOS MORAIS. 
IMPOSSIBILIDADE. 1. A indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito, não 
rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, 
incapaz de reparação pecuniária.” (REsp 757.411/MG, Rel. Ministro FERNANDO 
GONÇALVES). 
OBS: Veja o inteiro teor da referida decisão do STJ e os comentários da Professora Giselda Hironaka no 
seguinte link: http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=jurisprudencia&id=161 
 
Em maio de 2012, a Quarta Turma do STJ condenou o pai a pagar R$200.000,00 a título de danos por 
abandonar afetivamente a filha. O mesmo STJ, com nova composição, atento a um direito de família 
mais humano e solidário, julgou o caso da Luciane. A Ministra Nancy Andrighi deixou claro que “na 
hipótese, não se discute o amar – que é uma faculdade – mas sim a imposição biológica e constitucional 
http://www.flaviotartuce.adv.br/index2.php?sec=jurisprudencia&id=161
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de gerar ou adotar filhos” (Informativo 
STJ 496, REsp 1.1.59.242/SP)1. 
 
Sugestão de leitura: Artigo “De Alexandre a Luciane, da cumplicidade pelo abandono ao abandono 
punido”, de autoria do Prof. José Fernando Simão. 
Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/819. Acesso em16/08/2012 
 
 
3.2. Princípio da Liberdade (art. 226, § 7º, CF e art. 1513, CC) 
-O Estado ou qualquer ente privado não pode intervir coercitivamente no âmbito familiar. Princípio 
consagrado no art. 1513 do Código Civil. 
-As pessoas são livres para constituir relação conjugal, união estável, recompor novas formas de 
convívio familiar, alterar o regime de bens na vigência do casamento (lembrando que a imposição do 
regime de separação de bens aos maiores de 70 anos é considerada inconstitucional para a maioria da 
doutrina e jurisprudência). 
- Segundo Maria Berenice Dias: “todos têm a liberdade de escolher o seu par, seja do sexo que for, bem 
como o tipo de entidade que quiser para constituir sua família.” 
- Este princípio deve ser analisado frente a outros princípios como o da proteção integral a crianças e 
adolescentes art. 227 da CF. 
- O Estado pode incentivar o controle da natalidade e o planejamento familiar por meio de políticas 
públicas (mas não pode impor sanções) e criar mecanismos para coibir a violência no âmbito das 
relações familiares (art. 226, § 8º). 
 
3.3 Princípio da igualdade entre os cônjuges e companheiros (art. 5º, inc, I, 226, §§ 3º e 5º, CF; art. 
1511, CC) 
- Os direitos e deveres na sociedade conjugal e na união estável devem ser exercidos igualmente pelo 
homem e pela mulher. 
- São estabelecidos deveres recíprocos e atribuídos igualitariamente tanto ao marido/companheiro 
quanto à esposa/companheira. 
- Consequências práticas: marido/companheiro pode pedir alimentos à esposa/companheira e vice-
versa. Ambos podem acrescer ao seu o sobrenome do outro. Tanto o pai quanto a mãe tem direitos e 
deveres iguais em relação à pessoa e aos bens dos filhos menores. Com relação à guarda, ninguém tem 
preferência. 
OBS:A preocupação constitucional em ressaltar a igualdade substancial entre homem e mulher parece 
decorrer da necessidade de compensar um tempo discriminatório, em que o homem chefiava a relação 
conjugal, subjugando a mulher. A mulher conquistou uma isonomia jurídica em relação ao homem. De 
toda forma, a igualdade não apaga as diferenças entre os gêneros. O desafio é considerar saudáveis e 
naturais as diferenças entre homens e mulheres dentro do princípio da igualdade e proibir o tratamento 
jurídico diferenciado entre pessoas que estiverem na mesma situação. 
 
3.4. Princípio da solidariedade familiar 
Solidariedade é um valor ético, que compreende a fraternidade e a reciprocidade. 
- A solidariedade é reconhecida como objetivo fundamental da Republica Federativa do Brasil (art. 3º, 
inc. I) e isso repercute nas relações familiares. 
- Deve haver solidariedade nos relacionamentos pessoais. 
- Deste princípio decorre, por exemplo, o pagamento de alimentos entre parentes, o dever dos pais de 
sustentar os filhos menores, o dever de amparo às pessoas idosas, a mútua assistência entre os 
cônjuges e companheiros, etc. 
Esta solidariedade não é só patrimonial, mas psicológica e afetiva também. 
A solidariedade familiar nada mais é do que atribuir às pessoas unidas por laços de afetividade o 
dever de cuidarem umas das outras. 
OBS: É bom lembrar que, ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes da família, o Estado se “safa” 
do encargo de promover toda a gama de direitos que são assegurados constitucionalmente ao cidadão. 
Basta atentar que, em se tratando de crianças, adolescentes e idosos, é atribuído primeiro à família, 
depois à sociedade e finalmente ao Estado (art. 227, CF) o dever de garantir com absoluta prioridade os 
direitos inerentes aos cidadãos. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
3.5 Princípio da Igualdade entre filhos 
- art. 227, § 6º, CF e arts. 1596 do CC 
- Decorre do princípio da dignidade da pessoa humana. Iguala a condição dos filhos havidos ou não do 
casamento, ou por adoção. 
-Todo e qualquer filho gozará dos mesmos direitos e proteção, seja na esfera patrimonial ou pessoal. 
 
-Não se admite mais diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos, naturais ou adotivos, etc. Proíbe-se 
que conste do assento de nascimento qualquer referência à origem da filiação e veda designações 
discriminatórias (filho adulterino, filho bastardo, filho espúrio). 
 
3.6 Princípio do pluralismo familiar 
- O Estado reconhece a existência de várias possibilidades de arranjos familiares (art. 226, §§ 3º e 4º) 
- Modificando de forma revolucionária a compreensão do Direito de Família (que, até então, estava 
assentado necessariamente no casamento), o texto Constitucional alargou o conceito de família, 
permitindo o reconhecimento de entidades familiares não casamentárias, com a mesma proteção 
jurídica dedicada ao casamento. 
 
 
3.7 Princípio da Afetividade 
É o grande norteador de todo o Direito de Família contemporâneo, ao lado, obviamente do 
macroprincípio da dignidade da pessoa humana. 
-Atualmente é apontado como o principal fundamento das relações familiares. Decorre da valorização 
constante da dignidade humana. 
- Apesar da Constituição e do Código Civil não trazerem a palavra “afeto” expressa em seus dispositivos, 
é possível reconhecer esse elemento para caracterizar situações merecedoras de tutela. 
• Belmiro Welter identifica algumas passagens em que o afeto é valorado no Código Civil: ao estabelecer 
comunhão plena de vida no casamento (art. 1511); quando admite outra origem à filiação, além do 
parentesco natural ou civil (art. 1596); ao fixar a irrevogabilidade da perfilhação (art. 1604), etc. 
• Segundo Paulo Lôbo, são fundamentos essenciais deste princípio: 
. igualdade de todos os filhos independentemente da origem (art. 227, § 6º, CF) 
. adoção como escolha afetiva com igualdade de direitos (art. 227, §§5º e 6º, CF) 
. a comunidade formada por qualquer dos pais e seus filhos (incluindo os adotivos), com a mesma 
dignidade da família (art. 226, § 4º, CF) 
. direito à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do adolescente (art. 227, CF). 
 
O professor Flávio Tartuce, em artigo intitulado “O princípio da afetividade no Direito de Família” leciona: 
 
“Dessa forma, apesar da falta de sua previsão expressa na legislação, percebe-se que a 
sensibilidade dos juristas é capaz de demonstrar que a afetividade é um princípio do nosso 
sistema. Como é cediço, os princípios jurídicos são concebidos como abstrações realizadas 
pelos intérpretes, a partir das normas, dos costumes, da doutrina, da jurisprudência e de 
aspectos políticos, econômicos e sociais.” 
http://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/121822540/o-principio-da-afetividade-no-direito-de-
familia 
 
O ilustre doutrinador aponta, ainda, que o reconhecimento das uniões homoafetivas como entidades 
familiares, as indenizações por abandono afetivo, a paternidade socioafetiva e a multiparentalidade são 
corolários do princípio da afetividade. 
 
 
3.8 Princípio da proteção integral a crianças, adolescentes e idosos 
- art. 227, CF – a forma de implementação desse leque de direitos está no ECA (Lei 8069/90), 
microssistema que traz normas de conteúdo material e processual, de natureza civil e penal, e abriga 
toda a legislação que reconhece os menores como sujeitos de direito. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
*O Princípio não é uma recomendação ética, mas diretriz determinante nas relações da criança e do 
adolescente com seus pais, com sua família, com a sociedade e com o Estado. A maior vulnerabilidade 
e fragilidade dos cidadãos até os 18 anos, como pessoas em desenvolvimento, os faz destinatários de 
um tratamento especial. 
- art. 230, CF – implementação pelo Estatuto do Idoso (Lei 10741/03) 
A CF veda discriminações em razão da idade e assegura especial proteção ao idoso – Estatuto do Idoso 
é um microssistema que consagra uma série de prerrogativas e direitos aos maiores de 60 anos. Os 
maiores de 65 anos merecem cuidados mais significativos (transporte gratuito,por exemplo). 
 
3.9 Princípio da Função Social da Família (art. 226, caput, CF) 
- Assim como outros institutos do direito civil foram funcionalizados - função social do contrato, função 
social da propriedade - a família, numa perspectiva constitucional, também foi funcionalizada. 
- A família tem o papel e a função (social) de propiciar o bem-estar e permitir a busca da felicidade dos 
seus membros. 
- Decorre deste princípio a obrigação de sustentar, educar e criar os filhos menores para proporcionar o 
desenvolvimento pleno destes como pessoas humanas. Fundamenta também o parentesco decorrente 
da paternidade socioafetiva. Pode ser utilizado para afastar a discussão da culpa na ação de separação, 
bem como para conceder alimentos a parentes em razão da necessidade. 
- A família serve como instrumento para o desenvolvimento das pessoas e, por consequência, da 
sociedade. (art. 226, a família é a base da sociedade). 
 
 
 
4. CASAMENTO 
4.1 Conceito 
Van Wetter, citado por Maria Helena Diniz, diz que “o casamento é a união do homem e da mulher com 
o fim de criar uma comunidade de existência”. 
 
- O casamento é o vínculo jurídico entre duas pessoas que visa o auxílio mútuo material e 
espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de uma família. 
 
- Definição Clássica (Clóvis Beviláqua) – casamento é um contrato bilateral e solene pelo qual um 
homem e uma mulher se unem, legitimando suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita 
comunhão de vida e de interesses, comprometendo-se a criar e educar a prole. 
 
►Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald ensinam que para conceituar casamento é preciso afastar 
alguns elementos que, indevidamente, povoam o imaginário dos juristas: 
a) é preciso afastar o casamento da ideia de procriação porque para ter filhos não é preciso casar; 
b) não se pode enxergarno casamento a ideia de indissolubilidade, visto que, conforme expressa 
previsão constitucional (art. 226, §6º), o casamento pode ser dissolvido por vontade de um ou de 
ambos os cônjuges; 
c) é necessário desvincular o casamento das referências religiosas porque o nosso país é laico, não 
sendo possível conectar ao casamento civil as exigências ou finalidades típicas de sua estrutura 
religiosa. 
Diante disto, dizem que o casamento é uma das formas de regulamentação social da convivência 
entre pessoas que se entrelaçam pelo afeto. 
 
4.2 Natureza jurídica: 
A natureza jurídica do casamento é matéria controvertida na doutrina 
4.2.1. Corrente publicista: sustenta que o casamento é um instituto jurídico de direito público – um ato 
administrativo. 
4.2.2. Corrente privatista: o casamento seria um instituto de direito privado (apesar de regido por 
normas de ordem pública). Dentro desta corrente é que surge a polêmica: 
- concepção clássica (individualista ou contratualista) – relação puramente contratual, resultante de um 
acordo de vontades, como acontece nos contratos em geral. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
- concepção institucional (supra-individualista) – o casamento é uma grande instituição social (reflete 
uma situação jurídica cujos parâmetros são pré-estabelecidos pelo legislador), a ela aderindo os que se 
casam. É um complexo de normas, um estatuto, uma instituição de direito privado. 
- corrente eclética – o casamento é um ato complexo: um contrato especial de direito de família, 
mediante o qual os nubentes aderem a uma instituição pré-organizada, alcançando o estado 
matrimonial. É contrato porque seu núcleo é o consentimento, mas é especial porque se prende a 
valores morais e pessoais. 
 
5.NOIVADO (esponsais, tratativas ou promessa de casamento) 
Promessa que duas pessoas fazem de futuramente se casar. É um compromisso de casamento, mas 
não cria vínculo de família. 
 
- A ruptura injustificada do noivado pode, havendo demonstração do dano material ou moral, gerar 
responsabilidade civil. A indenização não ocorrerá pelo fim do afeto e sim pela ocorrência de ato ilícito. 
Ex: noivo abandona a noiva em pleno altar, causando-lhe evidentes danos materiais (despesas com 
aluguel da igreja, vestido, buffet, etc.) e, eventualmente, danos morais (constrangimento e situação 
vexatória na hora da cerimônia do casamento). 
O ônus da prova da ocorrência do dano, moral ou material, é do nubente que se sentiu prejudicado pela 
quebra da promessa de casamento. 
 
OBS: Segundo Luciano Chaves de Farias, citado por Cristiano Chaves de Farias, “o debate sobre os 
‘motivos justos’ para o rompimento das relações afetivas (em especial o noivado) é totalmente inócuo e 
despiciendo, pois na era da tutela dos direitos fundamentais e da efetivação de princípios 
constitucionais, como os da dignidade da pessoa humana e da liberdade, torna-se retrógrada a ideia de 
exigir qualquer motivo justificado para o rompimento.” Os únicos motivos que devem prevalecer para 
manter duas pessoas unidas em laços familiares são o amor e o afeto. Caso esses venham a acabar (ou 
até mesmo se descubra depois que eles nem chegaram a existir efetivamente), não há mais por que se 
manter a união. 
- Casar, assim como não permanecer casado, constitui a simples projeção da garantia da 
liberdade de autodeterminação, sendo ato de livre escolha, razão pela qual a simples ruptura de 
noivado não constitui, por si só, um dano indenizável. 
 
OBS2: ROMPIMENTO DE NAMORO não gera responsabilidade civil. Assim já decidiu o Tribunal de 
Justiça do Rio Grande do Sul: 
 
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PREJUÍZOS MORAIS E 
PATRIMONIAIS. Hipótese em que a autora pleiteia indenização nas esferas material e 
moral em decorrência da ruptura de relação amorosa que manteve com o réu. 
Inexistência de ato ilícito atribuível ao demandado, pois o simples rompimento de 
namoro não causa, por si só, o dever de reparação por abalo extrapatrimonial. 
Episódio de mero dissabor não indenizável. Ademais, a demandante limitou-se a 
sustentar a ocorrência de prejuízos materiais porém não demonstrou a referida 
alegação, ônus este que lhe incumbia, em consonância com o art. 333, I, do CPC. 
Requisitos ensejadores da responsabilidade civil não preenchidos. Dever de o 
requerido indenizar a apelante não configurado. RECURSO DESPROVIDO.” (Apelação 
Cível Nº 70018937557, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ubirajara Mach 
de Oliveira, Julgado em 29/03/2007)Data de Julgamento: 29/03/2007Publicação: Diário da 
Justiça do dia 20/04/2007 
 
 
“UNIÃO ESTÁVEL. PRESSUPOSTOS. AFFECTIO MARITALIS. COABITAÇÃO. 
PUBLICIDADE DA RELAÇÃO. PROVA. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. 
ROMPIMENTO DE NAMORO. 1. Não constitui união estável o relacionamento 
entretido sem a intenção clara de constituir um núcleo familiar. 2. A união estável 
assemelha-se a um casamento de fato e indica uma comunhão de vida e de 
interesses, reclamando não apenas publicidade e estabilidade, mas, sobretudo, um 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
nítido caráter familiar, evidenciado pela affectio maritalis. 3. Não se pode 
desconhecer que inúmeros fatos da vida são suscetíveis de provocar dor, de 
impor sofrimento, nem se olvida que qualquer sentimento não correspondido 
pode produzir mágoas e decepção. e nada impede que as pessoas, livremente, 
possam alterar suas rotas de vida, quer antes, quer mesmo depois de casadas. 4. 
Descabe indenização por dano moral decorrente da ruptura, quando o fato não é 
marcado por episódio de violência física ou moral e também não houve ofensa 
contra a honra ou a dignidade da pessoa. 5. Não tem maior relevância o fato de a 
ruptura ter causado abalo emocional, pois são fatos próprios da vida. 6. Não 
comprovados a entidade familiar, o dano moral e nem que a autora tenha concorrido 
para aquisição de qualquer bem, a improcedência da ação se impõe. Recurso 
desprovido.” (Apelação Cível Nº 70038632204, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 23/11/2011)Data de 
Julgamento: 23/11/2011Publicação: Diário da Justiça do dia 28/11/2011 
 
• Saiba mais sobre o tema (notícias do site do IBDFAM): 
 
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=1368 – “Rompimento de noivado não é motivo de 
indenização” 
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2012 – “TJMS não concede indenização por desmanche 
de noivado” 
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2905 – “Relacionamento desfeito no dia do chá de 
panelas gera reparação” 
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2415 – “Noivo não é obrigado a casar” 
 
 A propósito, vale a pena ler o inteiro teor do seguinte julgado do Tribunal de Justiça de Goiás no 
site:www.tjgo.jus.br, cuja ementa transcrevemos abaixo: 
 
“APELAÇÃO CÍVEL. INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. 
ROMPIMENTO UNILATERAL DE NOIVADO ÀS VÉSPERAS DO 
CASAMENTO. RUPTURA SEM MOTIVO JUSTIFICADO. DEVER DE 
INDENIZAR DO NOIVO. 'Cabe indenização por dano moral e material, pelo 
rompimento de noivado e desfazimento da cerimônia de casamento já 
programada, sem qualquer motivo justo.' APELAÇÃO CONHECIDA E 
IMPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA.” (TJGO, 4ª Câm. Cível, Ap. Cível 
320122-39.2008.8.09.0006, Rel. Des. Kisleu Dias Maciel Filho, j. 
01.07.2010, DJ 621 de 16.07.2010). 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA/JUR 3106 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
 
1.CARACTERES DO CASAMENTO 
 
a)ato solene – o casamento e o testamento constituem os dois atos mais repletos de formalidades do 
Direito Civil. 
Estas formalidades destinam-se a dar maior segurança e garantir a seriedade e validade destes atos. 
O casamento está envolvido em uma aura de solenidade, que se inicia com o processo de habilitação e 
publicação dos editais, desenvolve-se na cerimônia em que é celebrado e prossegue com o registro no 
livropróprio. 
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=1368
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2012
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2905
http://www.ibdfam.org.br/?noticias&noticia=2415
http://www.tjgo.jus.br/
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
b) normas que o regulam são de ordem pública – não podem ser derrogadas por vontade das partes, 
por convenções particulares. Mesmo que haja liberdade para a escolha do cônjuge, os nubentes não 
podem discutir o conteúdo e a extensão dos seus direitos e deveres, nem impor regras sobre a 
dissolução do vínculo ou reconhecimento dos filhos, por exemplo. 
c) estabelece comunhão plena de vida com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges 
– isso implica em união exclusiva, visto que o primeiro dever imposto a ambos os cônjuges é o de 
fidelidade recíproca (art. 1565 e 1566, CC). 
 
d)exige diversidade de sexos? NÃO MAIS. 
No dia 05.05.2011, no julgamento da ADI 4277 e ADPF 132, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, 
por unanimidade, como entidade familiar as uniões entre pessoas do mesmo sexo (uniões 
homoafetivas). Este foi um grande passo para a admissão do casamento entre pessoas do mesmo sexo 
e já foram proferidas decisões nesse sentido. 
 
- A propósito, eis a ementa do julgamento do RESP 1183378 / RS, em que o Superior Tribunal 
de Justiça, em outubro de 2011, determinou o prosseguimento da habilitação do casamento de 
duas mulheres: 
 
DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO (HOMOAFETIVO). 
INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. 
INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO EXPRESSA A QUE SE HABILITEM PARA O CASAMENTO PESSOAS DO 
MESMO SEXO. VEDAÇÃO IMPLÍCITA CONSTITUCIONALMENTE INACEITÁVEL. ORIENTAÇÃO 
PRINCIPIOLÓGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF N. 132/RJ E DA ADI N. 
4.277/DF. 1. Embora criado pela Constituição Federal como guardião do direito infraconstitucional, no estado 
atual em que se encontra a evolução do direito privado, vigorante a fase histórica da constitucionalização do 
direito civil, não é possível ao STJ analisar as celeumas que lhe aportam "de costas" para a Constituição 
Federal, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito desatualizado e sem lastro na Lei Maior. Vale 
dizer, o Superior Tribunal de Justiça, cumprindo sua missão de uniformizar o direito infraconstitucional, não 
pode conferir à lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita. 2. O Supremo Tribunal 
Federal, no julgamento conjunto da ADPF n. 132/RJ e da ADI n. 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código 
Civil de 2002 interpretação conforme à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o 
reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade 
familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. 3. Inaugura-se com a Constituição Federal de 
1988 uma nova fase do direito de família e, consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um 
explícito poliformismo familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir esse núcleo 
doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial proteção do Estado". Assim, é bem de ver 
que, em 1988, não houve uma recepção constitucional do conceito histórico de casamento, sempre 
considerado como via única para a constituição de família e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora 
consagrados princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção 
constitucional do casamento - diferentemente do que ocorria com os diplomas superados - deve ser 
necessariamente plural, porque plurais também são as famílias e, ademais, não é ele, o casamento, o 
destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o intermediário de um propósito maior, que é a 
proteção da pessoa humana em sua inalienável dignidade. 4. O pluralismo familiar engendrado pela 
Constituição - explicitamente reconhecido em precedentes tanto desta Corte quanto do STF - impede se 
pretenda afirmar que as famílias formadas por pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do 
Estado, se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais heteroafetivos. 5. O que 
importa agora, sob a égide da Carta de 1988, é que essas famílias multiformes recebam efetivamente a 
"especial proteção do Estado", e é tão somente em razão desse desígnio de especial proteção que a lei deve 
facilitar a conversão da união estável em casamento, ciente o constituinte que, pelo casamento, o Estado 
melhor protege esse núcleo doméstico chamado família. 6. Com efeito, se é verdade que o casamento civil é 
a forma pela qual o Estado melhor protege a família, e sendo múltiplos os "arranjos" familiares reconhecidos 
pela Carta Magna, não há de ser negada essa via a nenhuma família que por ela optar, independentemente 
de orientação sexual dos partícipes, uma vez que as famílias constituídas por pares homoafetivos possuem 
os mesmos núcleos axiológicos daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade 
das pessoas de seus membros e o afeto. 7. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser 
diferente, o direito à auto-afirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias. Em uma 
palavra: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se é garantido o direito à diferença. 
Conclusão diversa também não se mostra consentânea com um ordenamento constitucional que prevê o 
princípio do livre planejamento familiar (§ 7º do art. 226). E é importante ressaltar, nesse ponto, que o 
planejamento familiar se faz presente tão logo haja a decisão de duas pessoas em se unir, com escopo de 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
constituir família, e desde esse momento a Constituição lhes franqueia ampla liberdade de escolha pela 
forma em que se dará a união. 8. Os arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565, todos do Código Civil de 
2002, não vedam expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não há como se 
enxergar uma vedação implícita ao casamento homoafetivo sem afronta a caros princípios 
constitucionais, como o da igualdade, o da não discriminação, o da dignidade da pessoa humana e 
os do pluralismo e livre planejamento familiar. 9. Não obstante a omissão legislativa sobre o tema, a 
maioria, mediante seus representantes eleitos, não poderia mesmo "democraticamente" decretar a perda 
de direitos civis da minoria pela qual eventualmente nutre alguma aversão. Nesse cenário, em regra é 
o Poder Judiciário - e não o Legislativo - que exerce um papel contramajoritário e protetivo de 
especialíssima importância, exatamente por não ser compromissado com as maiorias votantes, mas 
apenas com a lei e com a Constituição, sempre em vista a proteção dos direitos humanos 
fundamentais, sejam eles das minorias, sejam das maiorias. Dessa forma, ao contrário do que pensam 
os críticos, a democracia se fortalece, porquanto esta se reafirma como forma de governo, não das maiorias 
ocasionais, mas de todos. 10. Enquanto o Congresso Nacional, no caso brasileiro, não assume, 
explicitamente, sua coparticipação nesse processo constitucional de defesa e proteção dos socialmente 
vulneráveis, não pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação tácita de um Estado 
que somente é "democrático" formalmente, sem que tal predicativo resista a uma mínima investigação 
acerca da universalização dos direitos civis. 11. Recurso especial provido.” (STJ, T-4 Quarta Turma, REsp 
1183378/RS, Recurso Especial 2010/0036663-8, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 25.10.2011, DJe 
01.02.2012) 
 
O Conselho Nacional de Justiça editou em maio de 2013 a Resolução 175, que determina 
que todos os Cartório de Registro Civil devem formalizar a habilitação e celebração do 
casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
 
 
e) não comporta termo ou condição – é negócio jurídico puro e simples. 
 
2.CAPACIDADE PARA O CASAMENTO 
 
- O CC/1916previa a idade núbil para as mulheres a partir dos 16 anos e para os homens a partir dos 18 
anos (lembrando que a maioridade civil só era atingida aos 21 anos). 
- O CC/02 não manteve essa diferença em razão da igualdade substancial entre homens e mulheres. 
►Idade núbil – art. 1517, CC – homens e mulheres podem se casar a partir dos 16 anos. 
 
- Entre 16 e 18 anos, as pessoas são relativamente incapazes (art. 4º, I, CC) e precisam ser assistidas 
para os atos da vida civil. 
 
- Via de regra, antes mesmo dos 16 anos, as pessoas encontram-se fisicamente aptas a procriar, mas 
não têm maturidade suficiente para assumir as responsabilidades com o casamento (lembrando que o 
casamento não tem a finalidade de procriação e que para procriar não é preciso casar). A lei estabelece 
uma idade núbil em razão da necessidade de ser necessário um grau mínimo de responsabilidade e 
maturidade física, moral e psicológica para a nova realidade de vida que é o casamento. 
 
- Impedimento para casar é diferente de incapacidade para casar. Incapacidade significa a inaptidão do 
indivíduo para casar com quem quer que seja (ex: menor de 16 anos; pessoa que não tenha 
discernimento). Impedimento é a falta de legitimação para o casamento com determinadas pessoas (ex: 
não podem casar parentes em linha reta). 
 
- Vale lembrar que com a celebração do casamento cessa a incapacidade civil dos nubentes – ocorre a 
emancipação (art. 5º, inc. II, CC). 
 
► A concordância de ambos os genitores ou representantes legais é indispensável para quem se casa 
antes dos 18 anos – art. 1517. 
Se houver divergência entre os pais ou representantes legais – o juiz decide (art. 1517, p.u.). 
 
 - art. 1518 – até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização, no caso 
de surgir um fato novo muito grave que justifique a revogação, não pode ser por mero capricho. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
- art. 1519 – a denegação do consentimento (por um ou por ambos os pais), quando injusta, pode ser 
suprida pelo juiz 
 
A lei não define o que é “injusta”, cabendo ao juiz apurar no caso concreto. Razões de preconceito 
racial, religioso, ou mesmo ciúmes, são obviamente motivos injustos para negar consentimento para o 
casamento. 
 
- Alvará para suprimento de consentimento: 
 
O pedido de suprimento de consentimento faz-se mediante procedimento de jurisdição voluntária. Se 
deferido o pedido, será expedido alvará a ser juntado no processo de habilitação de casamento e o 
casamento será celebrado obrigatoriamente no regime da separação de bens (art. 1641, III, CC). 
 
No pedido de suprimento, o menor púbere pode outorgar procuração ao advogado, sem assistência de 
seu representante legal, em razão da colidência de interesses. Será nomeado curador especial ao 
menor. 
 
►Hipótese excepcionais de casamento antes dos 16 anos: 
 
Art. 1520 – excepcionalmente permite-se o casamento de quem não alcançou a idade núbil, para evitar 
a imposição ou cumprimento de pena criminal ou no caso de gravidez. 
 
- Para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal – crimes contra os costumes. 
A Lei 11106/05 revogou os incisos VII e VIII do art. 107 do CP(causas de extinção da punibilidade), e o 
casamento deixou de evitar a imposição ou cumprimento de pena criminal nos crimes contra os 
costumes. A referida lei, inclusive, aboliu os crimes de sedução e de rapto. 
Para Maria Berenice Dias, admitir o casamento do réu com a vítima nos crimes contra os costumes 
chancelava o estupro, por exemplo, absolvendo o autor de um crime hediondo. Por isso, ela considera 
que houve uma derrogação tácita do art. 1520 do CC e permaneceu apenas a hipótese de gravidez para 
casamento antes dos 16 anos. 
Para Pablo Stolze, há outra forma de extinguir a punibilidade em razão do casamento, se for 
considerado que o matrimônio revelou o perdão do ofendido (outra causa de extinção da punibilidade). 
 
OBS: a expressão “para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal” abrange qualquer sanção de 
caráter criminal, ainda que prevista no ECA. 
 
- em caso de gravidez – visa proteger a prole vindoura. É a concepção arcaica do casamento remédio, 
para salvar a honra da mulher. 
 
- Em ambos os casos, será necessário suprimento judicial de idade – pedido de alvará para 
suprimento de idade (lembrando que também será necessária a autorização dos pais ou 
representantes legais) 
 
Suprida a idade de um ou de ambos os nubentes – o casamento será realizado no regime da separação 
de bens. 
 
OBS: O casamento de quem não completou a idade mínima para casar é anulável (art. 1550, I, CC). 
Entretanto, o art. 1551 dispõe que não se anulará o casamento por motivo de idade, se dele resultou 
gravidez. 
 
3.PROCESSO/PROCEDIMENTO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO 
 
Arts. 1525 a 1532 do CC e arts. 67 a 69 da Lei de Registros Públicos (Lei 6015/73) 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
- Finalidade – constatar a capacidade dos nubentes para a realização do ato, a inexistência de 
impedimentos matrimoniais (art. 1521) ou de causas suspensiva (art. 1523) e dar publicidade. 
 
Os noivos devem requerer a instauração do processo de habilitação no cartório de seu domicílio. Se 
domiciliados em municípios diferentes, podem fazê-lo em qualquer um deles, mas o edital será 
publicado nos dois. 
 
Os nubentes demonstram estar em condições de casar com a apresentação dos documentos 
previstos no art. 1536. 
 
- Deve ser juntado ao processo o pacto antenupcial ou o termo de opção pelo regime da 
comunhão parcial (art. 1640, p.u.) 
 
- art. 1526 – nova redação dada pela lei 12.133/09 – Não há mais necessidade de homologação do 
processo de habilitação pelo juiz. 
 
“Art. 1.526. A habilitação será feita pessoalmente perante o oficial do Registro Civil, com 
a audiência do Ministério Público. 
Parágrafo único. Caso haja impugnação do oficial, do Ministério Público ou de terceiro, 
a habilitação será submetida ao juiz.” 
 
 
- art. 1527 – estando em ordem a documentação, o oficial afixará os proclamas em lugar ostensivo de 
seu cartório e os fará publicar pela imprensa local, se houver. 
Decorrido o prazo de 15 dias a contar da data da fixação do edital em cartório, o oficial entregará aos 
nubentes a certidão de que estão habilitados a se casar dentro de noventa dias, sob pena de perda da 
eficácia da certidão de habilitação. Vencido esse prazo, será necessária nova habilitação. 
OBS: Havendo urgência, a publicação dos editais poderá ser dispensada, a critério do juiz (art. 1527, 
p.u) 
 
- art. 1528 – é dever do oficial do CRC esclarecer os nubentes sobre os fatos que podem ocasionar a 
invalidade do casamento, bem como sobre os diversos regimes de bens. 
 
- art. 1532 – eficácia da habilitação – 90 dias, a contar da data em que foi extraída a certidão de 
habilitação. 
 
OBS2: Cabe lembrar que o art. 1512 do CC regulamenta o art. 226, § 1º da CF e dispõe que o 
casamento é civil e gratuita a sua celebração. O parágrafo único do art. 1512 determina que a 
habilitação, o registro e a primeira certidão são gratuitos para as pessoas cuja pobreza for declarada, 
sob as penas da lei. 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA/JUR 3106 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO 
 
 Tanto no casamento civil quanto no religioso com efeitos civis é necessário o cumprimento das 
formalidades legais e da solenidade para garantir a importância, a seriedade e o reconhecimento das 
bodas. 
 A celebração do casamento sem o atendimento dos rigores da lei torna o ato inexistente, salvo 
em casos excepcionais de dispensa (casamento nuncupativo, p.ex.). 
- os noivos, depois de cumpridas as formalidades preliminares e tendo em mãos a certidão de 
habilitação fornecida pelo oficial do registro civil, devem requerer à autoridade que presidirá o 
ato a designação de dia, local e hora para a celebraçãodo casamento (art. 1533, CC). 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
- Local da cerimônia (art. 1534)– sede do próprio cartório de registro civil onde se processou a 
habilitação para o casamento, ou outro local, público ou particular – com o consentimento do 
celebrante (clubes, salões de festa, templos religiosos, casa de um dos noivos, etc.) 
 
 As portas do local da cerimônia devem permanecer abertas para permitir o ingresso de qualquer 
pessoa e para que a solenidade se realize com toda a publicidade, a fim de possibilitar a oposição de 
eventuais impedimentos. 
 Em local público exige-se a presença de pelo menos duas testemunhas, parentes ou não. Em local 
privado, exige-se a presença de quatro testemunhas (art. 1534, § 2º) 
Se algum dos noivos não souber ou não puder assinar, serão colhidas impressões digitais, sendo 
necessária a presença de no mínimo quatro testemunhas. 
 
► Carlos Roberto Gonçalves recomenda que não se realize cerimônias em prédios de apartamentos 
que mantêm as portarias fechadas para evitar a arguição de nulidade ou inexistência. 
Sílvio Rodrigues diz que o novo Código Civil conservou essa velharia (necessidade de manter as portas 
abertas) certamente para não ser cumprida. 
 
- horário da cerimônia – durante o dia ou à noite, e em qualquer dia, inclusive domingos e feriados, 
contanto que não ocorra de madrugada ou em altas horas da noite (o que dificultaria a presença de 
pessoa que pretenda opor algum impedimento) 
 
 - autoridade competente – em Goiás, são os juízes de paz, nomeados para exercer o cargo pelo 
período de 03 anos, nomeando-se também um suplente. 
 
MOMENTO DA CELEBRAÇÃO 
 
Art. 1535 do CC 
 
- O comparecimento dos nubentes deve ser simultâneo (ou de seus procuradores). 
 
- Presentes os noivos ou procurador, as testemunhas, o Oficial do CRC e o presidente do ato, a 
autoridade celebrante deve perguntar aos noivos, a um e depois ao outro, se é de é de livre e 
espontânea vontade que persistem no propósito de casar. 
Da leitura do art. 1.535 tem-se que a resposta deve ser oral e pessoal, mas admite-se no caso de surdo 
ou mudo perguntas e repostas escritas ou por gestos. O importante é que o consentimento seja 
inequívoco, por palavras, gestos, escritos que se resumam ao “sim”. 
O silêncio não pode ser interpretado como manifestação de vontade. 
O estrangeiro pode ser valer de intérprete caso não entenda bem o vernáculo. 
 
- tendo os nubentes manifestado de forma inequívoca o consentimento, o juiz declarará efetuado 
o casamento proferindo as palavras sacramentais, discriminadas no art. 1535, segunda parte. 
 
A declaração do celebrante é essencial. Pode-se afirmar que o ato só é concluído com a solene 
declaração do celebrante. O CC/02 afastou qualquer dúvida sobre o momento em que o casamento se 
tem por definitivamente constituído. - Ocorre mediante um duplo requisito: manifestação de vontade 
dos contraentes e a afirmação do celebrante de que os declara casados (art. 1514). Neste 
momento os noivos estão casados 
 
Não basta só a declaração de vontade dos contraentes, mesmo porque eles podem se arrepender 
ou ser oposto algum impedimento. 
 
SUSPENSÃO DA CERIMÔNIA (ART. 1538) 
- algum dos contraentes recusa a solene afirmação de sua vontade; declarar que esta não é livre 
e espontânea ou manifestar-se arrependido. 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
Nestes casos, o casamento deverá ser suspenso e não será admitido ao nubente que der causa à 
suspensão retratar-se no mesmo dia. 
 Se apesar da recusa, a cerimônia prosseguir e o ato for concluído e registrado, o casamento será 
inexistente por falta de elemento essencial: o consentimento. 
 
 A retratação não será aceita ainda que o nubente declare tratar-se de brincadeira. 
O certo é designar o casamento para o dia seguinte ou para a próxima data dentro do prazo de eficácia 
da habilitação, para permitir que o nubente indeciso reflita sobre a decisão de casar-se. 
 
A celebração não pode prosseguir no mesmo dia – se prosseguir é caso de nulidade por que contrariou 
proibição expressa. Esta proibição se justifica pelo receio de que o contraente seja moralmente coagido 
a voltar atrás e manifestar perante o juiz uma afirmação que não corresponda ao seu verdadeiro desejo. 
 
► A cerimônia também deve ser suspensa se os pais, tutores ou curadores revogarem a autorização 
concedida para o casamento – art. 1518, CC, bem como se for oposto algum impedimento legal cuja 
existência se mostre plausível pela idoneidade do oponente, a seriedade e a robustez da prova ou 
informação. 
 
ASSENTO NO LIVRO DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS 
 
Após a celebração do casamento, é lavrado o assento no livro de registro, que é assinado pelo 
presidente do ato, pelos cônjuges, testemunhas e pelo oficial de registro. 
 
Devem constar do assento os elementos elencados no art. 1536 do CC e art. 173 da Lei 6015/73.( Ler) 
 
Deve constar ainda, se for o caso, a autorização para casar e transcrever-se-á a escritura antenupcial 
(art. 1537). O cônjuge que optou por adotar o sobrenome do outro deve assinar o assento do casamento 
com o nome de casado. 
 
O assento destina-se a dar publicidade ao ato e serve como prova do casamento e do regime de bens. A 
falta do assento não torna o casamento inválido, apenas dificulta sua prova. 
 
Art. 1543 – prova-se o casamento realizado no Brasil pela certidão de registro. 
 
Art. 1543, p. único – na ausência do registro, justificada sua falta, perda ou extravio, admite-se qualquer 
outro meio de prova. 
 
 Nada obsta que inexistindo tal assento seja o casamento provado por outros meios, inclusive pela 
posse do estado de casado, provada por testemunhas que assistiram à celebração do ato ou que 
sempre consideraram os cônjuges casados entre si – aplicação da teoria da aparência. 
 
 Serve como prova de casamento que tenha sido efetivamente celebrado e que não se possa 
provar. Sem esse antecedente a mera situação fática da posse do estado de casado seria 
eventualmente uma união estável. É admitida em caráter excepcional, para sanar falhas no registro do 
casamento ou falta do registro. 
 
Far-se-á por processo judicial e a sentença será levada a registro produzindo todos os efeitos desde a 
data do casamento. 
 
No casamento religioso com efeitos civis o registro no livro próprio é condição de eficácia do casamento. 
 
ESPÉCIES DE CASAMENTO 
O Estado admite duas formas de casamento: o civil e o religioso com efeitos civis 
1. CASAMENTO CIVIL – é o realizado perante o oficial do Cartório de Registro Civil. É realizado por um 
celebrante (juiz de paz), na presença de testemunhas e dos nubentes e do oficial do registro, nas 
dependências do cartório ou em outro local. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
A gratuidade da celebração do casamento civil é preceito constitucional (art. 226, § 1º) repetido no CC 
(art. 1512). 
 
2. CASAMENTO RELIGIOSO COM EFEITOS CIVIS – A solenidade religiosa do casamento tem 
prestígio em razão da disputa entre a Igreja e o Estado em matéria matrimonial. 
O casamento religioso tem tanta importância que a própria CF/88 admite efeitos civis a este ato (art. 
226, § 2º), bastando o atendimento aos requisitos legais (art. 1515 e 1516) 
Neste caso não se realiza o ato civil. É suficiente proceder o registro do casamento no Cartório para que 
se tenha o casamento por realizado. 
 
A validade civil do casamento religioso está condicionada à inscrição do casamento no Registro Civil das 
Pessoas Naturais, desde que feita a habilitação antes ou depois do ato religioso (art. 1515, CC). 
2.1 COM PRÉVIA HABILITAÇÃO (art. 1516,§ 1º) 
Processada e homologada a habilitação e obtida a certidão/certificado de habilitação, este será 
apresentado ao ministro religioso, que o arquivará. 
 
Celebrado o casamento, deverá ser promovido seu registro, dentro de 90 dias de sua realização,mediante comunicação do celebrante ao CRC competente ou por iniciativa de qualquer interessado. 
 
Prazo de 90 dias a contar da celebração, se passado sem o registro, os noivos deverão promover nova 
habilitação e cumprir todas as formalidades legais, se desejarem conferir efeitos civis ao casamento 
religioso (art. 1516, § 1º). 
 
2.2 COM HABILITAÇÃO POSTERIOR 
Celebrado o casamento religioso, os nubentes requererão a qualquer tempo, instruindo o pedido com a 
certidão do ato religioso e com os documentos exigidos pelo art. 1525. Processada e homologada a 
habilitação, o oficial fará o registro do casamento e o registro produzirá efeitos a partir da data da 
celebração (art. 1515). 
 
OBS: O Brasil não tem religião oficial, o Estado é laico. Não se pode priorizar uma religião em detrimento 
de outras. Por isso, o casamento pode ser realizado na Igreja Católica apostólica romana, ortodoxa, 
igrejas evangélicas, etc. Logicamente não se admite o casamento em religião que admite a poligamia e 
celebra múltiplos casamentos de uma mesma pessoa. Fora isto, nada impede que o casamento de 
qualquer crença ou religião seja levado ao registro civil. 
► Polêmica existe quanto à validade do casamento espírita: A tendência é que é válido e tem efeitos 
civis. 
Para os contrários – os argumentos são: espiritismo não é religião, o médium não é autoridade 
competente para a celebração do casamento; não existe hierarquia eclesiástica, não há legitimação 
consuetudinária. 
Para os favoráveis – (Dalmo Dallari, entre eles) – argumentos: a lei brasileira não define religião nem 
elenca requisitos formais para a autoridade celebrante; o Estado brasileiro não tem religião oficial; o 
Censo do IBGE de 2002 considera o espiritismo uma das religiões brasileiras. 
O TJBA acatou este entendimento e concedeu efeitos civis ao casamento espírita, cujo registro foi 
negado pelo oficial do cartório, e determinou o registro do casamento. 
O TJRS também concedeu efeitos civis a um casamento celebrado em terreiro de Umbanda e 
determinou o registro do casamento. 
 
 3. FORMAS ESPECIAIS DE CASAMENTO 
CASAMENTO POR PROCURAÇÃO 
É uma modalidade de casamento (art. 1542) 
- a procuração deve ser outorgada por instrumento público com poderes especiais – eficaz pelo prazo de 
90 dias. 
 
Deve constar da procuração que os poderes são para receber, em nome do outorgante, o outro 
contraente (nomeado e qualificado). Deduz-se que ambos não podem nomear o mesmo procurador, até 
porque há a obrigação de cada procurador atuar em prol dos interesses do seu constituinte. 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
Por ausência de óbice legal, ambos os noivos podem ser representados por procurador (procurador ad 
nuptias). 
 
A doutrina reconhece ao procurador um certo poder de decisão que lhe permite recusar a celebração 
sempre que possa supor que o mandante, se tivesse conhecimento de determinada causa, não se 
casaria (ex. causa de invalidade ou doença física ou psíquica do nubente) 
 
Para a revogação do mandato é necessário instrumento público (art. 1542, §§1º e 4º). A revogação do 
mandato não precisa chegar ao conhecimento do mandatário para produzir efeitos, mas isso não exime 
o mandante do dever de informar o mandatário e o outro nubente da revogação, sob pena de responder 
pelos prejuízos morais ou patrimoniais que causar com sua omissão, se o casamento se realizar. 
 
O CC/02 considera anulável o casamento realizado pelo mandatário sem que ele ou o outro contraente 
soubesse da revogação do mandato, desde que ao casamento não siga a coabitação (art. 1550, V). 
- O casamento realizado no momento em que o representado esteja morto e que este fato seja ignorado 
pelo outro nubente ou pelo procurador é inexistente. A natureza do ato não permite que ele se constitua 
quando já morto um dos noivos. Pacífico o entendimento de que é inexistente o casamento realizado por 
procuração quando já operada sua caducidade em virtude do falecimento do outorgante. 
 O CC/02 inova ao prever a hipótese de procuração outorgada pelo nubente no casamento 
nuncupativo que não estiver em iminente risco de vida (art. 1542, § 2º) 
 
CASAMENTO NUNCUPATIVO 
É o casamento realizado quando um dos nubentes está em iminente risco de morte/vida (art. 1540 e 
1541). 
Permite-se a dispensa do processo de habilitação e até da presença do celebrante. Não é necessário o 
atendimento dos requisitos legais. 
Ex. um dos nubentes é ferido por arma de fogo, ou sobrevive a grave acidente ou é vítima de um mal 
súbito, em que não há a mínima esperança de salvação, e a duração da vida não irá além de alguns 
instantes ou horas. Nestas circunstâncias desesperadoras, pode a pessoa desejar regularizar a vida 
conjugal que mantém com outra pessoa ou pretender que se efetive o casamento já programado e 
decidido, mas ainda não providenciado. 
É também chamado casamento in extremis vitae momentis ou in articulo mortis. 
 Em razão da extrema urgência, quando não for possível obter a presença do juiz ou de seus 
suplentes e do oficial, os contraentes poderão celebrar o casamento “na presença de seis testemunhas, 
que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou na colateral até o segundo grau” – art. 
1540 
 
Bastará que os contraentes manifestem o propósito de casar, e de VIVA VOZ, recebam um ao outro por 
marido e mulher, na presença das seis testemunhas. Estas deverão comparecer em dez dias perante a 
autoridade judiciária mais próxima a fim de que sejam reduzidas a termo as suas declarações (art. 
1541). Se não comparecerem espontaneamente, poderá qualquer interessado requerer sua notificação. 
 
O juiz colherá as declarações e poderá encaminhá-las ao juiz competente em razão da matéria ou da 
pessoa – este determinará providências para verificar a inexistência de impedimento – procedimento 
semelhante a uma habilitação posterior. O MP será ouvido e depois proferida sentença, da qual caberá 
apelação. Transitada em julgado a sentença o juiz mandará registrá-la no livro do Registro de 
Casamentos, e os efeitos da sentença retroagirão à data da celebração do casamento. 
 
Todo esse procedimento é dispensável se o enfermo melhorar e puder ratificar o casamento na 
presença da autoridade competente e do oficial do registro (art. 1541, § 1º) – em qualquer caso, quer o 
noivo sobreviva ou não, os efeitos do casamento retroagirão à data de sua celebração. 
 
CASAMENTO EM CASO DE MOLÉSTIA GRAVE (art. 1539) 
 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
Pressupõe-se que já estejam satisfeitas as formalidades preliminares do casamento e o oficial do 
registro civil tenha expedido o certificado de habilitação ao casamento, mas a gravidade do 
estado de saúde de um dos nubentes o impede de locomover-se e de adiar a cerimônia. 
 
Neste caso, o juiz irá celebrar o casamento na casa do nubente ou onde se encontrar (por ex. no 
hospital), na companhia do oficial, ainda que à noite (sendo urgente), perante duas testemunhas 
que saibam ler e escrever. 
 
Só se aplica o art. 1539 em caso de moléstia grave que efetivamente impossibilite o nubente de 
aguardar a celebração futura do casamento. 
 
Moléstia grave – aquela que pode acarretar a morte do nubente em breve tempo, embora não seja 
iminente, e cuja remoção do nubente o sujeite a riscos. 
 
- Art. 1539, § 1º - Se a autoridade competente para celebrar o casamento não puder comparecer, 
qualquer de seus substitutos legais poderá celebrar o casamento. Na falta ou impedimento do oficial do 
registro, o juiz poderá nomear uma pessoa que o substitua, atuando como oficial ad hoc. 
 
- Art. 1539, § 2º - O termo lavrado e assinado pelo celebrante, pelo oficial ad hoc e pelas testemunhas 
será assinado por todos e registrado no respectivo livro em cinco dias, perante duas testemunhas, 
ficando arquivado. 
 
 Se o nubente enfermo não puder assinar, serão necessárias quatro testemunhas (art. 1534, § 2º) 
 
CASAMENTO CONSULAR 
 
É aquele celebrado porbrasileiros no estrangeiro, perante a autoridade consular ou diplomática 
brasileira. 
 Art. 1544 
 
O cidadão brasileiro residente no exterior pode optar por se casar pela lei brasileira, perante a 
autoridade consular, ou simplesmente conforme a lei estrangeira. 
 
A competência dos agentes consulares para celebrar casamento está prevista no art. 18 da LICC. 
 
A eficácia do casamento, no Brasil, é submetida à condição de seu registro em território nacional, em 
180 dias a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório do domicílio dos 
nubentes ou se não tiverem domicílio certo, no 1º Ofício da capital do Estado em que passarem a residir. 
 
O prazo de 180 dias é mera recomendação burocrática, podendo os cônjuges promover o registro 
posteriormente. 
 
OBS: No caso de casamento de estrangeiros, a LICC estabelece que a lei do país onde está domiciliada 
a pessoa determina as regra gerais sobre direito das famílias. 
 
Para a validade do casamento de estrangeiros no Brasil, vindo o casal a fixar residência aqui, é 
necessário o registro da certidão do casamento, com a devida tradução e a autenticação pelo agente 
consular no Brasil (LRP, art. 32) 
 
Por outro lado, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que o casamento celebrado no estrangeiro é 
válido e impede novo casamento no Brasil: 
 
Resp 280197 / RJ RECURSO ESPECIAL 
2000/0099301-8 Relator(a) Ministro ARI PARGENDLER (1104) Órgão Julgador T3 - 
TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 11/06/2002 Data da Publicação/Fonte DJ 
05/08/2002 p. 328 RDR vol. 24 p. 266 Ementa CIVIL. CASAMENTO REALIZADO NO 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
ESTRANGEIRO. MATRIMÔNIO SUBSEQÜENTE NO PAÍS, SEM PRÉVIO DIVÓRCIO. 
ANULAÇÃO. O casamento realizado no estrangeiro é válido no país, tenha ou não 
sido aqui registrado, e por isso impede novo matrimônio, salvo se desfeito o 
anterior. Recurso especial não conhecido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os 
autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA 
TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso 
especial. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Antônio de 
Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, ocasionalmente, a Sra. 
Ministra Nancy Andrighi. 
 
 
CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO 
 
A possibilidade de converter a união estável em casamento é assegurada constitucionalmente (art. 226, 
§ 3º). 
 
De forma simples, o CC (art. 1726) limita-se a dizer que o pedido deve ser formulado em juízo, com 
posterior assento no registro civil. 
 
A exigência de processo judicial acaba trazendo dificuldades para o presente caso (vez que é 
necessário contratar advogado, pagar custas e quem sabe até produzir provas), e acaba afrontando o 
comando constitucional de que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento. 
 
. Talvez a exigência se justifique para dar efeito retroativo ao casamento. Entretanto, é muito mais 
romântico casar, além do que é grátis, podendo os conviventes estabelecer a retroatividade para efeitos 
de ordem patrimonial em pacto antenupcial. Ademais, há quem entenda que a conversão do casamento 
não produz efeitos pretéritos, valendo apenas a partir da data em que se realizar o seu registro. 
 
O Judiciário vem afastando a necessidade de expedição de editais e proclamas, para a concessão da 
conversão, exigidos por alguns Cartórios de Registro Civil. Os Tribunais de Justiça de vários Estados da 
Federação passaram a expedir Provimentos, na tentativa de suprir a imprecisão legislativa infraconstitucional 
e orientar os Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais. 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
RELAÇÕES DE PARENTESCO (arts. 1591 a 1595) 
 
1. PARENTESCO 
1.1 Conceito: é a relação vinculatória existente entre pessoas que descendem umas das outras ou 
de um mesmo tronco comum, bem como a relação que une um cônjuge ou companheiro aos 
parentes do outro, além da relação entre adotante e adotado e entre pai institucional e filho 
socioafetivo. 
 
OBS: cônjuges/companheiros –não são parentes entre si. 
 
- O conhecimento da relação de parentesco tem grande importância prática já que a lei lhe atribui 
efeitos relevantes, estatuindo direitos e obrigações recíprocos entre os parentes, de ordem pessoal e 
patrimonial, e fixando proibições com fundamento em sua existência. Ex: dependendo do maior ou 
menor grau de proximidade, os parentes têm direito à sucessão, a alimentos e não podem casar uns 
com os outros na linha reta e em certo grau da colateral. 
 
2. ESPÉCIES DE PARENTESCO 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
2.1. Consanguíneo ou Natural (art. 1591, 1592 e 1593, CC) 
É o vínculo entre pessoas descendentes de um mesmo tronco ancestral, ligadas umas às outras 
pelo mesmo sangue. É o parentesco decorrente de laços de sangue. Pessoas ligadas por vínculo 
biológico. Ex: pai e filho, irmãos, primos, etc. 
 
O parentesco por consanguinidade existe tanto na linha reta como na linha colateral. 
 
2.2. Civil (art. 1593, in fine) 
 
O parentesco civil recebe esse nome porque trata-se de uma criação da lei. 
 
- É o parentesco decorrente da adoção (atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de 
qualquer vínculo com os pais e parentes consanguíneos, salvo para efeito de impedimento matrimonia . 
 
Pais e filhos adotivos são parentes civis em virtude de lei (art. 1626, CC). 
 
OBS: Art. 1593 – o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou de outra 
origem. 
Este artigo reconhece a possibilidade de parentesco através de outros vínculos, distintos da 
consanguinidade, prestigiando sentimentos como o amor, o desejo de construir uma relação afetuosa 
Avanço do CC/02 porque o CC/1916 considerava parentesco civil apenas o que se originava da adoção. 
Ao utilizar a expressão “outra origem” a lei abriu espaço ao reconhecimento da paternidade 
desbiologizada ou socioafetiva. 
 
- É o parentesco decorrente da parentalidade socioafetiva – parentesco fundado numa relação de 
afeto, gerada pela convivência, fundada na “posse do estado de filho”. 
 
Pai e filho advindo de inseminação artificial heteróloga gera relação paternofilial apesar de não haver 
vínculo biológico. 
*Inseminação artificial homóloga – o material genético pertence ao casal interessado. É utilizada nas 
situações onde o casal possui fertilidade, mas não é capaz da fecundação por meio do ato sexual. 
*Inseminação artificial heteróloga - Na inseminação heteróloga o material genético é doado por terceira 
pessoa, sendo aplicável, por exemplo, nos casos de esterilidade e incompatibilidade sanguínea. (Neste 
caso surge a paternidade socioafetiva ). 
 
- Adoção à brasileira também gera paternidade/filiação socioafetiva. 
 
O Enunciado nº 103 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na I Jornada de Direito Civil de 2002 
assim dispõe: o Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele 
decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo 
parental proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou 
mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade sócio-afetiva, fundada na 
posse do estado de filho. 
 
2.3. Afim (ou por afinidade) – art. 1595, CC 
 
- É o vinculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou companheiro e os parentes do outro 
(sogro, genro, cunhado, etc..). 
 
- O vínculo de afinidade resulta do casamento ou da união estável. Ou ainda da relação com os 
filhos do cônjuge ou companheiro (madrasta, padrasto e enteados). 
 
- Esta relação tem seus limites traçados na lei (se estabelece por determinação legal) e não 
ultrapassa esse plano, pois não são parentes os afins de afins.Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
 
- O vínculo é pessoal, portanto os afins de um cônjuge/companheiro não são afins entre si, logo não 
há afinidade entre concunhados, também não estão unidos por afinidade os parentes de um 
cônjuge/companheiro e os parentes do outro. 
 
- Constitui impedimento matrimonial a afinidade em linha reta (art. 1521, II, e art. 1723, § 1º CC), 
assim não podem casar genro e sogra, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e enteado., 
mesmo depois da dissolução do casamento ou da união estável que deu origem a esse parentesco 
por afinidade. 
 
- art. 1595, § 2º, o parentesco por afinidade na linha reta não se extingue com a dissolução do 
casamento ou da união estável. Por isso se diz que não há ex-sogra, ex-genro. 
 
Na linha colateral, a afinidade não passa do 2º grau (cunhados) e cessa com a dissolução do 
casamento/união estável (pela morte, divórcio, dissolução da união estável). Por isso nada impede 
que o viúvo ou divorciado se case com o cunhado. 
 
- Contagem de graus é feita da mesma forma que no parentesco consangüíneo (regra da simetria). 
 
OBS: No casamento a afinidade é determinada a partir da celebração. Já na União estável há uma 
dificuldade prática em estabelecer o termo inicial da relação de convivência e, por conseqüência, de 
fixar o momento em que se estabelece a afinidade. 
 
OBS2: A afinidade não traz todos os efeitos do parentesco comum (natural ou civil). A principal 
consequência é estabelecer impedimento matrimonial. 
 
Além disso, a Lei 11924/09 alterou a LRP (lei 6015/73) para autorizar o enteado(a) a adotar o 
sobrenome do padrasto ou madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem 
prejuízo dos próprios sobrenomes. 
 
OBS: O Tribunal de Justiça de São Paulo, em recente decisão, autorizou um rapaz a ter o nome da 
madrasta incluído na certidão de nascimento juntamente com a mãe biológica e o pai: 
 
EMENTA: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA Preservação da Maternidade Biológica 
Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua 
família - Enteado criado como filho desde dois anos de idade Filiação socioafetiva 
que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de 
filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, 
e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, 
de que se trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea 
tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
solidariedade Recurso provido. (TJSP, Ap. Cível 00064222-26.20118.26.0286) 
 
3.O vínculo de parentesco 
 
O vínculo de parentesco se estabelece por linhas e graus. 
Linhas: reta e colateral. 
Grau: distância entre gerações 
 
3.1. Parentes em linha reta 
 
Pessoas que descendem umas das outras (art. 1591). 
A linha reta pode ser ascendente ou descendente. Toda pessoa sob o prisma de sua ascendência tem 
duas linhas de parentesco: a materna e a paterna. 
- Na linha reta contam-se os graus pelo número de gerações entre os parentes. 
- Na linha reta o parentesco não tem limite, a contagem do parentesco é ad infinitum. 
 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
3.2. Parentes em linha colateral (transversal ou oblíqua) 
Pessoas que provêm de um tronco ancestral comum, sem descenderem umas das outras. Ex: irmãos, 
tios, primos. 
 
Na linha colateral o parentesco estende-se até o quarto grau (art. 1592). 
Efeitos: impedimento para casar até o 3º grau; chamamento para suceder até o 4º grau. 
 
 
A contagem se faz pelo sistema romano de contagem de graus na linha colateral (art. 1594) 
 
• Lembrar: 
- Irmãos são colaterais em 2º grau. Não há parentesco na linha colateral em 1º grau. 
- Tios e sobrinhos são parentes colaterais em 3º grau. Primo, tio-avô e sobrinho-neto são parentes em 4º 
grau. 
- Irmãos germanos ou bilaterais são os que têm o mesmo pai e a mesma mãe. Irmãos unilaterais são os 
irmãos somente por parte de pai ou de mãe. 
 
OBS: Na linha colateral, o parentesco por afinidade não passa do 2º grau (cunhados) e cessa com a 
dissolução do casamento/união estável (pela morte, divórcio, dissolução da união estável). Por isso nada 
impede que o viúvo(a) ou divorciado(a) se case com o ex-cunhado(a). 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
DIREITO CIVIL VI – DIREITO DE FAMÍLIA/JUR 3106 
Profª: Ana Flávia da Silva Borges 
 
OBS: Lembre-se de sempre ler os artigos citados no material de apoio no Código Civil, Código de Processo Civil e 
Constituição Federal. Isso facilitará seus estudos!!!!! 
 
 
IMPEDIMENTOS E CAUSAS SUSPENSIVAS 
 
1.Impedimento matrimonial 
 
Impedimento – é a impossibilidade de alguém casar com determinada pessoa. 
 
Para que os indivíduos possam casar devem reunir condições impostas pela lei, que costumam 
apresentar-se sob a forma de negativa e são designadas como IMPEDIMENTOS (circunstâncias ou 
situação de fato ou de direito, expressamente especificadas na lei, que vedam a realização do 
casamento) 
 
Não se deve confundir impedimento com incapacidade. O incapaz não pode se casar com nenhuma 
pessoa. Ex. uma criança de 08 anos de idade. O impedido apenas não está legitimado a casar com 
determinada pessoa (Ex. ascendente com descendente), mas pode fazê-lo com outra pessoa. 
 
Os impedimentos visam evitar o incesto e preservar a moral familiar, obstando a realização de 
casamentos entre parentes consanguíneos, por afinidade ou por adoção, a monogamia, não permitindo 
o casamento de pessoas já casadas, e evitar uniões que tenham raízes no crime. 
 
Estão previstos no art. 1521 do CC que determina que “não podem casar”. Desatendida essa vedação 
legal o casamento é nulo (art. 1548, II). 
 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
 
Material de apoio – Direito de Família 
Professora Ana Flávia Borges 
 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do 
adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau 
inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio 
contra o seu consorte. 
 
 
Dividem-se em três categorias: 
 
2- IMPEDIMENTOS RESULTANTES DO PARENTESCO 
 
2.1 de consanguinidade – (art. 1521, I e IV) 
A proibição do casamento na linha reta é ad infinitum. Na linha colateral vai até o 3º grau. 
As relações sexuais entre parentes consanguíneos caracterizam incesto, que sempre foi combatido. 
O CC não admite núpcias incestuosa – além das razões morais, há razões derivadas de eventuais 
problemas genéticos que poderiam ser causados aos filhos. 
 
Tios e sobrinhos são parentes colaterais em 3º grau – O Decreto-Lei 3200/41 permite o casamento 
avuncular (entre tios e sobrinhos) desde que haja exame pré-nupcial e o resultado seja favorável à 
saúde da prole. 
 
2.2 de afinidade – Não podem casar os afins em linha reta –art. 1521, II. (sogra e genro, padrasto e 
enteada) 
 
▸ parentesco por afinidade – é o que liga um cônjuge/companheiro aos parentes do outro (art. 1595). E 
a afinidade na linha reta não se extingue com a dissolução do casamento (art. 1595, § 2º). 
 
A proibição refere-se apenas à linha reta. 
 
 A afinidade na linha colateral não constitui empecilho ao casamento. (pode casar com ex-cunhado). 
Além disso, o vínculo é pessoal, não sendo parentes os afins de um dos cônjuges com os afins do outro. 
Ex: concunhados não são parentes. 
 
2.3 de adoção –art. 1521, III e V 
 
Os incisos são até dispensáveis se considerarmos que a CF proíbe qualquer discriminação entre filhos, 
seja o parentesco natural ou decorrente de adoção 
 
 Não seria necessário dizer que o adotante não pode casar com quem foi cônjuge do adotado, pois se 
configura a hipótese

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