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Penal XXXII 1pdf

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DIREITO PENAL
Prof. Nidal Ahmad
 
 
 
AULA 01: TEORIA DA NORMA 
1. Aplicação da lei penal. 
2. A lei penal no tempo 
3. Lugar do crime. 
4. Lei penal no espaço. 
5. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal. 
 
1. DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL 
1.1. DA LEI PENAL NO TEMPO – Art. 2º CP 
1.1.1. INTRODUÇÃO 
Pelo princípio tempus regit actum (‘o tempo rege o ato’), a lei 
penal não alcança os fatos ocorridos antes ou depois de sua vigência, de forma que, 
em regra, a lei aplicável a um crime é aquela vigente ao tempo da execução deste crime. 
A regra, pois, é que a atividade da lei penal se dê no período de 
sua vigência; a extra-atividade é exceção a esta regra. 
1.1.2. PRINCÍPIOS DA LEI PENAL NO TEMPO 
Há dois princípios que regem os conflitos de leis penais no 
tempo: 
1º) o da irretroatividade da lei mais severa; 
2º) o da retroatividade da lei mais benigna. 
Esses dois princípios podem ser resumidos em um só: o da 
retroatividade da lei mais benigna. 
O princípio da irretroatividade da lei mais gravosa constitui um 
direito subjetivo de liberdade, com fundamento no art. 5º, XXXVI e XL, da CF/88. Diz 
aquele que “a lei não prejudicará o direito adquirido”. Diz este que “a lei penal não 
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. 
Exemplos dos princípios expostos: 
 
 
 
Ex1: “A” pratica um crime sob a vigência da lei X, que comina 
pena de reclusão de 1 a 4 anos. Por ocasião do julgamento, passa a viger a lei Y, 
regulando o mesmo fato e impondo a pena de 2 a 8 anos. Qual a lei a ser aplicada, a 
anterior, mais benéfica, ou a posterior, mais severa? 
Deve ser aplicada a lei X, porquanto a lei Y é mais severa, 
incidindo, no caso, o princípio da irretroatividade da lei mais severa. 
Portanto, é possível a aplicação de uma lei não obstante 
cessada a sua vigência, desde que mais benéfica que a lei posterior. Trata-se da 
ultratividade. 
Esse fenômeno chama-se ultratividade, que, em última análise, 
quer dizer que se a lei antiga for mais favorável, prevalecerá ao tempo da vigência da 
lei nova, mesmo estando revogada. 
Ex2: “B” realiza uma conduta punível sob a vigência de lei X, que 
comina pena de 2 a 4 anos de reclusão. Na ocasião de ser proferida a sentença, passa 
a vigorar a lei Y, determinando, para o mesmo comportamento, a pena de reclusão de 
1 a 4 anos. Qual a lei a ser observada, a anterior, mais severa, ou a posterior, mais 
benigna? 
Aplica-se, a lei mais benigna prevalece sobre a mais severa, 
prolongando-se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em que 
não tinha vigência. É ultra-ativa (1º caso) e retroativa (2º). Essas duas qualidades da 
Lex mitior recebem a denominação de extra-atividade. 
Por sua vez, a lei mais severa não retroage nem possui eficácia 
além do momento de sua revogação. Não é retroativo nem ultra-ativa. Essas qualidades 
negativas compõem o princípio da não-extra-atividade da Lex gravior. 
 
1.2. HIPÓTESES DE CONFLITOS DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
1.2.1. ABOLITIO CRIMINIS 
 
Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova já não 
incrimina fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, 
demonstrando não haver mais, por parte do Estado, interesse na punição do autor de 
determinado fato, retroage para alcançá-lo. (adultério era típico, mas se tornou atípico 
com a Lei 11.106/05). É decorrência da previsão do art. 5º, XL, CF, e art. 2º, do CP. 
 
 
 
A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, 
apaga todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, 
íntegros seus efeitos na esfera cível. É o que se extrai do artigo 2º do Código Penal. 
Diante disso, incidindo a abolitio criminis, a consequência lógica 
será a retirada do nome do agente do rol de culpados, além de a condenação em relação 
ao crime abolido não poder ser considerada para fins de reincidência ou antecedentes 
criminais. Os efeitos civis, no entanto, permanecerão hígidos, sendo possível a vítima 
buscar a reparação de danos na esfera cível por meio da respectiva ação de execução, 
já que a sentença penal condenatória transitada em julgado constitui título executivo, 
nos termos do artigo 515 do Código de Processo Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.2.2. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS 
 
Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de 
várias maneiras. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se 
aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em 
julgado (CP, art. 2, parágrafo único). 
Assim, se a lei nova, por exemplo, reduzir a pena mínima de uma 
determinada infração penal ou passar a prever benefício até então inexistente, deverá 
retroagir para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, ainda que tenha sido 
proferida sentença transitada em julgado. 
 
 
 
 
 
 
 
1.2.3. NOVATIO LEGIS INCRIMINADORA 
 
A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio 
legis incriminadora): não retroage. 
A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, 
considera crime fato anteriormente não incriminado. 
A Lei n. 10.224, de 15 de maio de 2001, tornou crime de assédio 
sexual a conduta de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou 
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior 
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, o que 
até então era um indiferente penal, sendo tal situação resolvida, invariavelmente, em 
outra área do direito, notadamente na esfera ou trabalhista. 
Por conferir tratamento severo, a novatio legis incriminadora, por 
evidente, não retroage para alcançar fatos praticados antes da sua vigência, tendo 
eficácia, portanto, somente em relação aos fatos praticados a partir da sua vigência. 
1.2.4. NOVATIO LEGIS IN PEJUS 
 
A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a 
nova lei de drogas, Lei n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de 
drogas). Incide, no caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal não 
retroagirá, salvo para beneficiar o réu" (CF/88, art. 5º, XL). 
 
 
 
 
 
1.3. CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO E LEI PENAL MAIS BENÉFICA 
 
Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME 
PERMANENTE, ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade 
criminosa está presente a vontade do agente. 
Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma 
ficção, considerando que uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade 
de aplicação da pena, o agente responde pelo que praticou em qualquer fase da 
execução do crime continuado. Portanto, se uma lei penal nova tiver vigência durante a 
continuidade delitiva, deverá ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando. 
É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-
se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação 
da continuidade ou da permanência”. 
Assim, se, por exemplo, o agente sequestrou a vítima na 
vigência de uma lei, e, posteriormente, enquanto ainda estava se desenrolando o delito, 
com a vítima no cativeiro, sobrevém lei nova elevando a pena mínima do crime de 
extorsão mediante sequestro, essa lei incidirá sobre o fato, ainda que tenha conferido 
tratamento mais severo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.4. LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA – Art. 3º do CP 
1.4.1. Conceito 
 
De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou 
temporárias, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias 
que as determinaram, aplicam-se aos fatos praticados durante sua vigência. 
São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies: 
* LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. 
Cessam a sua vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional também 
terminar. Portanto, são aquelas promulgadasem caso de calamidade pública, guerras, 
revoluções, cataclismos, epidemias, etc. 
* LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, 
portanto, dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo 
previamente fixado pelo legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua 
vigência. É uma lei que desde a sua entrada em vigor está marcada para morrer. 
 
1.4.2. Características 
 
A) São autorrevogáveis 
 
Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, 
posterior, que a revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule 
integralmente a matéria nela tratada. 
As leis de vigência temporária constituem exceção a esse 
princípio, visto que perdem sua vigência automaticamente, sem que outra lei as 
revogue. 
 
 Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado 
ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência 
 
 
 
 
 
B) São ultrativas 
 
A ultratividade significa a possibilidade de uma lei se aplicar a 
um fato cometido durante a sua vigência, mesmo após a sua revogação (a lei adere ao 
fato como se fosse um carrapato, acompanhando-o para sempre, mesmo após sua 
morte). 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.5. DO TEMPO DO CRIME – Art. 4º 
 
A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita 
da fixação do momento em que se considera o delito cometido. 
 
 
 
 
 
 
O Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a qual se 
reputa praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do 
resultado. 
Diante disso, se, por exemplo, o agente, ao tempo da ação, 
contava com 17 anos, 11 meses e 25 dias, de idade, efetua disparos de arma de fogo 
contra a vítima, que vem a falecer 10 dias depois, devemos indagar se incidirão as 
normas de direito penal ou as normas relativas ao Estatuto da Criança e Adolescente. 
Nesse caso, considerando-se a teoria da atividade, incidirão as 
normas do Estatuto da Criança e Adolescente, Lei n. 8.069/90, uma vez que, ao tempo 
da ação, o agente era menor de 18 anos e, portanto, inimputável, não incidindo, assim, 
normas do Código Penal. Em outras palavras, ficará afastada a aplicação da lei penal, 
podendo o agente ser submetido a medida socioeducativa. 
1.6. LUGAR DO CRIME – Art. 6º 
 
A determinação do lugar em que o crime se considera praticado 
é decisiva no tocante à competência penal internacional. Surge o problema quando o 
crime se desenrola em lugares diferentes. 
A aplicação do princípio da territorialidade guarda relação com a 
determinação do lugar em que o crime se considera praticado, tendo relevância, ainda, 
no tocante à competência penal internacional. 
Convém, de logo, esclarecer que o tema aqui estudado não se 
confunde com a fixação da competência territorial, cuja determinação, via de regra, leva 
em conta o lugar da consumação do delito, conforme prevê o artigo 70 do Código de 
Processo Penal. 
O CP adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é 
lugar do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. 
Nos termos da teoria da ubiquidade, mista ou da unidade, lugar 
do crime é aquele em que se realizou qualquer dos momentos do iter, seja da prática 
dos atos executórios, seja da consumação. 
Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, já que, segundo o 
artigo 6º “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, 
no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. 
A expressão “deveria produzir-se o resultado” refere-se às 
hipóteses de tentativa. Aplica-se a lei brasileira ao crime tentado cuja conduta tenha 
 
 
 
sido praticada fora dos limites territoriais (ou do território por extensão), desde que o 
impedimento da consumação se tenha dado no País. 
Assim, na hipótese de um cidadão brasileiro que se encontra na 
cidade brasileira de Santana do Livramento/RS, atirar contra a vítima que se encontra 
em solo Uruguaio, na cidade de Rivera, separada por uma rua do Município brasileiro, 
vindo este a falecer, aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios do crime 
foram praticados em território brasileiro e o resultado se produz em país estrangeiro. 
Da mesma forma, se um Americano, residente na Argentina, 
envia uma carta-bomba a um brasileiro, que se encontra no Rio de Janeiro, vindo o 
engenho a explodir no momento em que a vítima abriu o pacote que a continha, vindo 
a falecer, também aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios foram 
praticados no estrangeiro e o resultado se produziu em território brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.7. DA LEI PENAL NO ESPAÇO – Art. 5º 
1.7.1. INTRODUÇÃO 
 
A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que 
o Estado exerce a sua soberania. 
Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis 
brasileiras aos delitos cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, 
que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as 
leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.7.2. TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO (EMBARCAÇÕES E 
AERONAVES) 
 
Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território 
brasileiro por equiparação: 
A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública 
ou a serviço do governo brasileiro onde estiverem. 
B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade 
privada, que estiverem navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
Nesse contexto, se, por exemplo, um Oficial da Marinha do Brasil 
é assassinado por um marinheiro dentro da embarcação pública brasileira, que se 
encontrava atracada num Porto dos Estados Unidos, a lei brasileira será aplicável, uma 
vez que, para efeitos penais, consideram-se como extensão do território brasileiro as 
embarcações de natureza pública, onde quer que se encontrem. 
De outro lado, se durante um cruzeiro marítimo em embarcação 
privada brasileira, cruzando alto-mar, um turista resolve provocar lesão corporal em 
outro turista, incidirá a lei penal brasileira, uma vez que, para efeitos penais, consideram-
se como extensão do território brasileiro as embarcações de natureza privada que 
estiver navegando em alto-mar. 
Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde 
que públicos, não são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes 
neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, 
entretanto, são de natureza privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º). 
Territorialidade: é a regra. Ao crime cometido no território 
nacional, aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de 
direito internacional, conforme art.5º e seus parágrafos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.8. EXTRATERRITORIALIDADE 
 
Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja 
cometido fora do Brasil, os agentes se sujeitam à lei brasileira, nas hipóteses 
mencionadas no art. 7º, do CP, quais sejam: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA 
a) contra a vida ou a liberdade do 
Presidente da República; 
b) contra o patrimônio ou a fé pública da 
União, do Distrito Federal, de Estado, de 
Território, de Município, de empresa 
pública, sociedade de economia mista, 
autarquia ou fundação instituída pelo 
Poder Público; 
c) contra a administração pública, por 
quem está a seu serviço; 
d) de genocídio, quando o agente for 
brasileiro ou domiciliado no Brasil; 
Nestes casos, o agente é punido segundo 
a lei brasileira, ainda que absolvido ou 
condenado no estrangeiro. 
EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA 
a) que, por tratado ou convenção, o 
Brasil se obrigou a reprimir; 
b) praticados por brasileiro; 
c) praticados em aeronaves ou 
embarcaçõesbrasileiras, mercantes ou 
de propriedade privada, quando em 
território estrangeiro e aí não sejam 
julgados. 
Nestes casos, a aplicação da lei brasileira 
depende do concurso das seguintes 
condições: 
a) entrar o agente no território 
nacional; 
b) ser o fato punível também no país 
em que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre 
aqueles pelos quais a lei brasileira 
autoriza a extradição; 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a 
pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não 
estar extinta a punibilidade, 
segundo a lei mais favorável. 
Cometido por estrangeiro contra 
brasileiro fora do Brasil. 
se, reunidas as condições: 
a) entrar o agente no território nacional; 
b) ser o fato punível também no país em 
que foi praticado; 
c) estar o crime incluído entre aqueles 
pelos quais a lei brasileira autoriza a 
extradição; 
 
 
 
d) não ter sido o agente absolvido no 
estrangeiro ou não ter aí cumprido a 
pena; 
e) não ter sido o agente perdoado no 
estrangeiro ou, por outro motivo, não 
estar extinta a punibilidade, segundo a lei 
mais favorável. 
 + 
a) não foi pedida ou foi negada a 
extradição; 
b) houve requisição do Ministro da 
Justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÕES EXAMES ANTERIORES AULA 01 
1) (XXXI EXAME) André, nascido em 21/11/2001, adquiriu de Francisco, em 18/11/2019, 
grande quantidade de droga, com o fim de vendê-la aos convidados de seu aniversário, 
que seria celebrado em 24/11/2019. Imediatamente após a compra, guardou a droga no 
armário de seu quarto. Em 23/11/2019, a partir de uma denúncia anônima e munidos do 
respectivo mandado de busca e apreensão deferido judicialmente, policiais 
compareceram à residência de André, onde encontraram e apreenderam a droga que 
era por ele armazenada. De imediato, a mãe de André entrou em contato com o 
advogado da família. Considerando apenas as informações expostas, na Delegacia, o 
advogado de André deverá esclarecer à família que André, penalmente, será 
considerado 
A) inimputável, devendo responder apenas por ato infracional análogo ao delito de 
tráfico, em razão de sua menoridade quando da aquisição da droga, com base na Teoria 
da Atividade adotada pelo Código Penal para definir o momento do crime. 
B) inimputável, devendo responder apenas por ato infracional análogo ao delito de 
tráfico, tendo em vista que o Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir o 
momento do crime. 
 
 
 
 
 
 
 
C) imputável, podendo responder pelo delito de tráfico de drogas, mesmo adotando o 
Código Penal a Teoria da Atividade para definir o momento do crime. 
D) imputável, podendo responder pelo delito de associação para o tráfico, que tem 
natureza permanente, tendo em vista que o Código Penal adota a Teoria do Resultado 
para definir o momento do crime. 
 
2) (XXIX EXAME) Em 05/10/2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adquirir 
uma moto em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 
09/10/2018, sequestra Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No 
mesmo dia, a dupla entra em contato com a família da vítima, exigindo o pagamento da 
quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para sua liberação. Duas semanas após 
a restrição da liberdade da vítima, período durante o qual os autores permaneceram em 
constante contato com a família da vítima exigindo o pagamento do resgate, a polícia 
encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de imediato, 
Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família. 
Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e 
reservada, deverá esclarecer que sua conduta 
A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal 
adota a Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para 
fins penais. 
B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão ministerial, pois o Código Penal 
adota a Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza 
formal, sua consumação se deu em 05/10/2018. 
C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na 
condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma 
consumada. 
D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na 
condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma 
tentada, já que o crime não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois 
não houve obtenção da vantagem indevida. 
 
3) (XXVIII EXAME) Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 
10/01/2017, por decisão transitada em julgado, em 05/03/2018, à pena base de 4 anos 
 
 
 
de reclusão, majorada em 1/3 em razão do emprego de arma branca, totalizando 5 anos 
e 4 meses de pena privativa de liberdade, além de multa. Após ter sido iniciado o 
cumprimento definitivo da pena por Sílvio, foi editada, em 23/04/2018, a Lei nº 
13.654/18, que excluiu a causa de aumento pelo emprego de arma branca no crime de 
roubo. Ao tomar conhecimento da edição da nova lei, a família de Sílvio procura um(a) 
advogado(a). Considerando as informações expostas, o(a) advogado(a) de Sílvio: 
A) não poderá buscar alteração da sentença, tendo em vista que houve trânsito em 
julgado da sentença penal condenatória. 
B) poderá requerer ao juízo da execução penal o afastamento da causa de aumento e, 
consequentemente, a redução da sanção penal imposta. 
C) deverá buscar a redução da pena aplicada, com afastamento da causa de aumento 
do emprego da arma branca, por meio de revisão criminal. 
D) deverá buscar a anulação da sentença condenatória, pugnando pela realização de 
novo julgamento com base na inovação legislativa. 
 
4) (XXVII EXAME) No dia 05/03/2015, Vinícius, 71 anos, insatisfeito e com ciúmes em 
relação à forma de dançar de sua esposa, Clara, 30 anos mais nova, efetua disparos de 
arma de fogo contra ela, com a intenção de matar. Arrependido, após acertar dois 
disparos no peito da esposa, Vinícius a leva para o hospital, onde ela ficou em coma por 
uma semana. No dia 12/03/2015, porém, Clara veio a falecer, em razão das lesões 
causadas pelos disparos da arma de fogo. Ao tomar conhecimento dos fatos, o 
Ministério Público ofereceu denúncia em face de Vinícius, imputando-lhe a prática do 
crime previsto no Art. 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, uma vez que, em 
09/03/2015, foi publicada a Lei nº 13.104, que previu a qualificadora antes mencionada, 
pelo fato de o crime ter sido praticado contra a mulher por razão de ser ela do gênero 
feminino. Durante a instrução da 1ª fase do procedimento do Tribunal do Júri, antes da 
pronúncia, todos os fatos são confirmados, pugnando o Ministério Público pela 
pronúncia nos termos da denúncia. 
Em seguida, os autos são encaminhados ao(a) advogado(a) de Vinícius para 
manifestação. Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de 
Vinicius poderá, no momento da manifestação para a qual foi intimado, pugnar pelo 
imediato 
A) reconhecimento do arrependimento eficaz. 
B) afastamento da qualificadora do homicídio. 
 
 
 
C) reconhecimento da desistência voluntária. 
D) reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa. 
 
5) (XXVI EXAME) Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado 
crime, e se encontrava em cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João respondia 
a uma ação penal pela prática de crime idêntico ao cometido por Jorge. Durante o 
cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo por João, foi publicada e 
entrou em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas dos dois como 
criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência dalei nova, João e Jorge o 
procuram, como advogado, para a adoção das medidas cabíveis. Com base nas 
informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você deverá esclarecer que 
A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença 
condenatória já ter transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará 
sendo considerado primário e de bons antecedentes. 
B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos 
civis e penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para 
fins de reincidência ou maus antecedentes. 
C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos 
penais da condenação de Jorge, mas não os extrapenais. 
D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos 
foram praticados anteriormente à edição da lei. 
 
6) (XIX EXAME) Em razão do aumento do número de crimes de dano qualificado contra 
o patrimônio da União (pena: detenção de 6 meses a 3 anos e multa), foi editada uma 
lei que passou a prever que, entre 20 de agosto de 2015 e 31 de dezembro de 2015, tal 
delito (Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal) passaria a ter pena de 2 a 
5 anos de detenção. João, em 20 de dezembro de 2015, destrói dolosamente um bem 
de propriedade da União, razão pela qual foi denunciado, em 8 de janeiro de 2016, como 
incurso nas sanções do Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal. 
Considerando a hipótese narrada, no momento do julgamento, em março de 2016, 
deverá ser considerada, em caso de condenação, a pena de 
A) 6 meses a 3 anos de detenção, pois a Constituição prevê o princípio da retroatividade 
da lei penal mais benéfica ao réu. 
 
 
 
B) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei temporária tem ultratividade gravosa. 
C) 6 meses a 3 anos de detenção, pois aplica-se o princípio do tempus regit actum 
(tempo rege o ato). 
D) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei excepcional tem ultratividade gravosa. 
 
7) (XVII EXAME) John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de 
bandeira americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido 
barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de São Paulo. Nesse 
contexto, é correto afirmar que a lei brasileira 
A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo José ser 
processado de acordo com a lei estadunidense. 
B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava 
atracada em território nacional. 
C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em território 
estrangeiro, foi praticado por brasileiro. 
D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena, é competência 
do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os crimes praticados em embarcação 
estrangeira atracada em território de país diverso. 
 
8) (XIII EXAME) Considere que determinado agente tenha em depósito, durante o 
período de um ano, 300 kg de cocaína. Considere também que, durante o referido 
período, tenha entrado em vigor uma nova lei elevando a pena relativa ao crime de 
tráfico de entorpecentes. Sobre o caso sugerido, levando em conta o entendimento do 
Supremo Tribunal Federal sobre o tema, assinale a afirmativa correta. 
A) Deve ser aplicada a lei mais benéfica ao agente, qual seja, aquela que já estava em 
vigor quando o agente passou a ter a droga em depósito. 
B) Deve ser aplicada a lei mais severa, qual seja, aquela que passou a vigorar durante 
o período em que o agente ainda estava com a droga em depósito. 
C) As duas leis podem ser aplicadas, pois ao magistrado é permitido fazer a combinação 
das leis sempre que essa atitude puder beneficiar o réu. 
D) O magistrado poderá aplicar o critério do caso concreto, perguntando ao réu qual lei 
ele pretende que lhe seja aplicada por ser, no seu caso, mais benéfica. 
 
 
 
 
AULA 02: 
1. Crimes omissivos 
2. Desistência voluntária e arrependimento eficaz 
3. Arrependimento posterior 
4. Crime impossível 
5. Erro de tipo essencial 
6. Erro quanto à pessoa 
7. Erro na execução 
8. Resultado diverso do pretendido 
 
AULA 02 
2.1. DOS CRIMES OMISSIVOS E RELEVÂNCIA DA OMISSÃO 
2.1.1. Considerações gerais 
A conduta humana não se externa apenas a partir de um 
movimento corpóreo, traduzido por uma ação. De fato, ao lado da ação, a conduta 
omissiva constitui uma forma independente de conduta humana, suscetível de ser 
regida pela vontade dirigida para um fim. 
O crime omissivo se configura quando o agente deixa de fazer 
aquilo que poderia e deveria fazer algo em estaria obrigado em virtude de lei. 
O Código Penal adotou a teoria normativa. Para a teoria 
normativa, a omissão é um nada, não sendo apta, portanto, a produzir qualquer 
resultado. Quem se omite nada faz, portanto, nada causa. Assim, a priori, o omitente 
não responde pelo resultado, já que não o provocou. Todavia, de modo excepcional, 
admite-se, por força da teoria normativa, que aquele que se omitiu seja responsabilizado 
pelo resultado, desde que esteja inserido em uma das hipóteses do chamado “dever 
jurídico de agir”. 
Em outras palavras, conforme a teoria normativa, para que a 
omissão tenha relevância causal (por presunção legal), há necessidade de uma norma 
(por isso teoria normativa) impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. Se 
presente o dever jurídico de agir, pode-se responsabilizar o agente que se omitiu quando 
 
 
 
deveria agir pelo resultado gerado. E esse dever de agir para impedir o resultado se 
encontra inserto no artigo 13, § 2º, do Código Penal. 
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou 
comissivos por omissão). 
2.1.2. Crimes omissivos próprios 
São os que se perfazem com a simples conduta negativa do 
sujeito, independentemente da produção de qualquer consequência posterior. 
Há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O 
verbo nuclear do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em 
o sujeito amoldar a sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em 
síntese, o agente será responsabilizado por não cumprir o dever de agir contido 
implicitamente na norma incriminadora. 
Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a 
desobediência ao dever de agir para que o delito se consume. A obrigação do agente é 
de agir e não de evitar o resultado. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão 
será irrelevante para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma 
majorante ou uma qualificadora. 
Ex: Omissão de socorro 
 
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo 
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, 
ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da 
autoridade pública: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da 
omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
 
 
 
 
 
2.1.3. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão 
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem 
simplesmente a obrigação de agir, mas a obrigação de agir para evitar um resultado, 
isto é, deve agir com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos 
crimes comissivos por omissão há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de 
resultado. 
O poder agir é um pressuposto básico de todo comportamento 
humano. Também na omissão, evidentemente, é necessário que o sujeito tenha a 
possibilidade física de agir, para que se possa afirmar que não agiu voluntariamente. 
Trata-se de uma possibilidade real e concreta do agente, no 
contexto da situação fática, considerando-se como padrão do homem médio, evitar o 
resultado penalmente relevante. Exemplo: um médico plantonistatem o dever de agir 
para impedir que determinado enfermo venha a óbito. Todavia, se um médico 
plantonista deixar de atender um paciente que falece, porque estava atendendo a outro 
enfermo em situação de emergência, à evidência, não poderá ser responsabilizado pela 
morte do paciente que aguardava atendimento. 
O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o 
agente assume a condição de garantidor. 
C
R
IM
E
S
 O
M
IS
S
IV
O
S
 
P
R
Ó
P
R
IO
S
DEVER DE AGIR
NÃO TEM O DEVER DE 
IMPEDIR O RESULTADO
NÃO RESPONDE PELO 
RESULTADO
PODE CONFIGURAR 
MAJORANTE ou
QUALIFICADORA
EX: ART. 135, 
PARÁGRAFO ÚNICO, CP
NORMA PENAL 
ESPECÍFICA
DESCREVE CONDUTA 
OMISSIVA
EX: ART. 135 CP 
ART. 244 CP
MANDAMENTAL
CRIME DE MERA 
CONDUTA
NÃO ADMITE 
TENTATIVA
 
 
 
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por 
omissão é preciso que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 
13, § 2º, do Código Penal: 
a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância 
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará 
obrigado a agir para evitar o resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de 
agir, quando lhe era possível, responderá pelo resultado gerado. 
Isso porque, se o sujeito, em virtude de sua abstenção, 
descumprindo o dever de agir, não busca evitar o resultado é considerado, pelo Direito 
Penal, como se o tivesse causado. 
É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 
e 1566, IV, ambos do Código Civil), ao dever de mútuo assistência entre os cônjuges 
(art. 1566 do Código Civil). 
Ex: Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua 
negligência, acaba morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado 
gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho 
ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. 
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado 
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a 
posição de garantidor pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre 
as partes. O importante é que o sujeito se coloque em posição de garante no sentido de 
que o resultado não ocorrerá. 
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de 
lei, mas do fato de o agente ter assumido a responsabilidade de impedi-lo. 
Ex: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente 
sua obrigação de cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre 
afogada. Nesse caso, responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. 
Se, de outro lado, desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, 
responderá por homicídio doloso. 
c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado 
 
 
 
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria 
situação de perigo para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo 
criado o risco, fica obrigado a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou 
lesão. 
Não importa que o tenha feito voluntariamente ou 
involuntariamente, dolosa ou culposamente; importa é que com sua ação ou omissão 
originou uma situação de risco ou agravou uma situação já existente. 
Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo 
que a vítima não sabe nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o 
dever jurídico de agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.2. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz estão 
previstos no artigo 15 do Código Penal, segundo o qual “O agente que, voluntariamente, 
desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde 
pelos atos já praticados”. 
2.2.1. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA 
A desistência voluntária se caracteriza por um comportamento 
negativo do agente, que, após dar início à execução do delito, adota uma postura de 
abstenção, ou seja, cessa o seu comportamento delitivo, não leva adiante a atividade 
executória, mesmo podendo prosseguir, desiste da realização típica. 
Em outras palavras, iniciada a execução, o autor do ilícito, antes 
de esgotá-la ou exauri-la, resolve, voluntariamente, não seguir adiante no 
comportamento delituoso. 
Como se vê, a desistência voluntária incide no contexto da 
tentativa imperfeita ou inacabada, antes, pois, do exaurimento dos meios executórios. 
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, com a 
intenção homicida, desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, acertando-a em 
região não letal. Podendo prosseguir, já que tinha mais cinco balas no revólver, o agente 
resolve, por vontade própria, não efetuar mais disparos, deixando a vítima sobreviver. 
Indubitável que o agente deu início à execução do delito, mas 
não consumou o homicídio por vontade própria, já que adotou uma postura de 
 
 
 
abstenção, cessando a atividade executória antes de esgotar todos os meios que tinha 
à sua disposição. Trata-se, pois, de desistência voluntária. 
Da mesma forma incidiria a desistência voluntária na hipótese 
do agente que, após ingressar em residência alheia para o cometimento do furto, 
resolvesse adotar uma postura de abstenção, deixando voluntariamente o local sem 
nada subtrair. Trata-se de evidente hipótese de desistência voluntária, pois, embora 
tenha dado início à execução do furto, o agente, por vontade própria, cessou a atividade 
executória antes de esgotar sua potencialidade lesiva. 
2.2.2. ARREPENDIMENTO EFICAZ 
No arrependimento eficaz, o agente, após ter esgotado todos os 
meios à sua disposição para a consumação do delito, arrepende-se e, adotando uma 
postura ativa, impede que o resultado se produza. 
O agente esgota sua potencialidade lesiva, faz tudo que está ao 
seu alcance para consumar o delito, mas antes de alcançar o resultado inicialmente 
desejado, arrepende-se e adota um comportamento ativo para evitar a sua consumação. 
Diversamente do que ocorre na desistência voluntária, o 
arrependimento eficaz se caracteriza pelo fato de o agente, após esgotar os meios 
executórios, desenvolver uma nova atividade, a fim de evitar a consumação do delito. 
Exemplo: agente que, com a intenção homicida, após efetuar 
disparos de arma de fogo contra a vítima, utilizando todas as balas do revólver, 
arrepende-se e, adotando postura ativa, leva a vítima até o hospital, que, submetida a 
intervenção cirúrgica exitosa, acaba sobrevivendo. 
Da mesma forma, agente que, com a intenção homicida, coloca 
veneno na bebida da vítima, mas, arrependido, desenvolve nova atividade entregando-
lhe o antídoto, evitando, assim, a morte. 
O arrependimento eficaz se coaduna com o momento da 
tentativa perfeita, já que o agente esgota os meios de execução, com a ressalva, no 
entanto, que a consumação não ocorre por ato voluntário do agente. 
2.2.3. REQUISITOS 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz exigem a 
presença dos seguintes requisitos: voluntariedade e eficácia. 
 
 
 
A desistência voluntária e o arrependimento eficaz devem 
decorrer de atos voluntários, livres de coação física ou moral, ainda que não sejam 
espontâneos. 
De fato, não se afigura necessária a espontaneidade do ato de 
desistir ou se arrepender. Ou seja, não se exige que a ideia de interromper os atos 
executórios ou de se arrepender tenha se originado na mente do agente. Haverá, pois, 
desistência voluntária e arrependimento eficaz se o agente não consumou o delito 
influenciado por terceira pessoa. 
Da mesma forma, se o agente, após ingressar na residência da 
vítima, deixou de consumar o delito de furto, abstendo-se de prosseguir nos atos 
executórios por força de intensa dor decorrente de infecção dentária, haverá desistência 
voluntária, embora não espontânea. 
Não importaa natureza do motivo: pode desistir ou arrepender-
se por medo, piedade, receio de ser descoberto, decepção com a vantagem do crime, 
remorso, repugnância pela conduta, ou por qualquer outra razão. 
De acordo com a lição de Frank, a desistência é voluntária 
quando o agente pode dizer: “não quero prosseguir, embora pudesse fazê-lo”, e é 
involuntária quando tem de dizer: “não posso prosseguir, ainda que o quisesse”. 
Além disso, mostra-se necessário que a atuação do agente seja 
apta a evitar a produção do resultado, sendo, portanto, eficaz. Se, conquanto tenha 
buscado evitar a produção do resultado, o crime alcançou a consumação, o agente 
responderá pelo delito, incidindo, todavia, a atenuante genérica prevista no artigo 65, 
inciso III, alínea “b”, 1ª parte, do Código Penal. 
2.2.4. CONSEQUÊNCIA 
Nos termos da parte final do artigo 15 do Código Penal, 
verificada hipótese de desistência voluntária ou arrependimento eficaz, o agente jamais 
responderá pelo crime na modalidade tentada, já que, como visto, trata-se de causa 
excludente da tipicidade da tentativa, mas pelos atos até então praticados, se típicos. 
Nos termos da parte final do artigo 15 do Código Penal, não 
obstante a desistência voluntária e o arrependimento eficaz, o agente responde pelos 
atos já praticados. Desta forma, retiram a tipicidade dos atos somente com referência 
ao crime cuja execução o agente iniciou. É o que se denomina TENTATIVA 
QUALIFICADA. 
 
 
 
Assim, o agente que ingressa numa residência e, por ato 
voluntário, desiste de consumar a subtração, não responderá por tentativa de furto, mas 
pelos atos até então praticados, quais sejam, violação de domicílio (CP, art. 150). 
Da mesma forma, se o agente efetua, em via pública, por 
exemplo, disparos de arma de fogo contra a vítima e, por ato voluntário, desiste ou se 
arrepende, não responderá por tentativa de homicídio, mas lesão corporal leve, grave 
ou gravíssima, conforme o caso, se restaram lesões na vítima, ou disparo de arma de 
fogo, se não chegou a atingi-la (Lei 10826/2003, art. 15). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.3. ARREPENDIMENTO POSTERIOR – Art. 16 CP 
2.3.1. conceito 
Trata-se de causa obrigatória de diminuição da pena que incide 
quando o agente, responsável pelo crime praticado sem violência ou grave à pessoa, 
repara o dano provocado ou restitui a coisa, desde que de forma voluntária, até o 
recebimento da denúncia ou da queixa. 
O arrependimento posterior difere do arrependimento eficaz, 
porque o arrependimento, manifestado por meio da restituição da coisa ou reparação 
do dano, ocorre após a consumação do delito até o recebimento da denúncia ou queixa. 
Por isso, chama-se arrependimento posterior (posterior à consumação do delito). 
2.3.2. Requisitos 
Extrai-se do artigo 16 do Código Penal os requisitos para a 
incidência do arrependimento posterior: 
a) Crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa 
Nos termos do artigo 16 do Código Penal, cabe arrependimento 
posterior nos crimes praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa. 
 
 
 
Não se restringe aos crimes contra o patrimônio, podendo ser 
aplicado a qualquer delito compatível com a reparação do dano decorrente da conduta 
do agente. Por isso, entende-se, por exemplo, possível a aplicação do arrependimento 
posterior no peculato doloso (CP, art. 312). 
b) Reparação do dano ou restituição da coisa 
A reparação do dano ou restituição da coisa deve ser voluntária, 
pessoal e integral. 
Exige a lei que seja voluntária, exercida sem coação física ou 
moral. 
Não se exige seja necessariamente espontânea, no sentido de 
que tenha a iniciativa tenha surgido na mente do agente, incidindo o arrependimento 
posterior ainda que a reparação ou restituição tenha sido decorrente de conselho ou 
sugestão de terceiro, uma vez que o ato, embora não espontâneo, foi voluntário. 
O arrependimento posterior deve ser pessoal, ou seja, deve 
partir do próprio agente acusado da prática delituosa. Excepcionalmente admite-se a 
reparação do dano ou restituição da coisa por interposta pessoa, desde que 
comprovada a impossibilidade de ser realizada pessoalmente pelo autor do crime, a fim 
de ser preservado o caráter de voluntariedade do ato. 
Diante disso, entende-se possível o arrependimento posterior 
por terceira pessoa, representando o acusado do crime, quando, por exemplo, o agente 
se encontrar preso ou internado em hospital, impossibilitado, portanto, de realizar a 
reparação do dano ou restituir a coisa. 
Assim, se a mãe do autor de um furto resolve, por sua conta, 
sem a anuência do filho, devolver a coisa subtraída, não há falar em redução da pena 
pelo arrependimento posterior, já que ausente a voluntariedade do agente. Se o filho, 
entretanto, estiver hospitalizado, por alguma razão, poderá valer-se de terceiro para 
proceder à reparação do dano ou restituição da coisa. 
c) Até o recebimento da denúncia ou queixa 
A reparação do dano ou restituição da coisa deve ser realizada 
até o recebimento da denúncia ou queixa, independentemente do momento do 
oferecimento da peça acusatória. 
 
 
 
Se a reparação do dano ou restituição da coisa ocorrer após o 
recebimento da denúncia ou da queixa, mas até sentença, aplica-se a atenuante 
genérica prevista no artigo 65, III, “b”, do Código Penal. 
Assim, se o agente subtraiu uma TV do seu local de trabalho e, 
ao chegar em casa com a coisa subtraída, é convencido pela esposa a devolvê-la, o 
que efetivamente vem a fazer no dia seguinte, mesmo quando o fato já havia sido 
registrado na delegacia, haverá arrependimento posterior, com reflexo na dosimetria da 
pena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.4. CRIME IMPOSSÍVEL 
2.4.1. Introdução 
O instituto do crime impossível está previsto no artigo 17 do 
Código Penal. Trata-se de hipótese de tentativa não punível, verificando-se quando o 
agente, por ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto sobre o 
que recaiu sua conduta, jamais alcançará a consumação do delito. 
2.4.2. Espécies de crime impossível 
Conforme se extrai do artigo 17 do Código Penal, há duas 
espécies de crime impossível: crime impossível pela ineficácia absoluta do meio e crime 
impossível por impropriedade absoluta do objeto. 
a) Crime impossível por ineficácia absoluta do meio 
O crime impossível por ineficácia absoluta do meio guarda 
relação com o meio de execução ou instrumento utilizado pelo agente, que, por sua 
natureza, será incapaz de produzir qualquer resultado, ou seja, jamais alcançará a 
consumação do delito. 
 
 
 
É o caso do agente que, pretendendo matar a vítima, usa como 
meio executório arma completamente defeituosa, que jamais efetuaria qualquer disparo. 
Há ineficácia relativa do meio quando, não obstante eficaz à 
produção do resultado, este não ocorre por circunstâncias acidentais. É o caso do 
agente que pretende desfechar um tiro de revólver contra a vítima, mas a arma nega 
fogo, embora seja apta a efetuar disparos. 
O açúcar é uma substância incapaz de produzir a morte de uma 
pessoa normal, mas eficaz para produzir a morte de um diabético. Se deu início à 
execução do delito de homicídio, ministrando açúcar a um diabético, mas não consuma 
por circunstâncias alheias à sua vontade, o agente responderá pela tentativa de 
homicídio. 
b) Crime impossível por impropriedade absoluta do objeto 
O crime impossível pela impropriedade absoluta do objeto 
guarda relação com o objeto material, compreendendo a pessoa ou coisa sobre o qual 
recai a conduta do agente. 
O objeto será absolutamente impróprio quando inexistente ao 
tempo da conduta do agente ou, ainda, pelas circunstâncias em que se encontra, 
afigura-se impossível a produção do resultado visado pelo agente. 
Tomemos como exemplo a conduta do agente, que pretendendo 
matar a vítima, desferevários disparos de arma de fogo contra o seu corpo, verificando-
se, após, que, ao receber os disparos, já se encontrava morta, em decorrência de ter 
sofrido, momentos antes, fulminante ataque cardíaco. Evidente, nesse caso, a 
impropriedade absoluta do objeto, diante da impossibilidade de ceifar a vida de pessoa 
que já estava morta. 
Da mesma forma, caracteriza crime impossível pela 
impropriedade absoluta do objeto a conduta da mulher que ingere substância abortiva, 
demonstrando-se, após, que jamais estivera grávida. Trata-se de fato atípico, pois não 
há objeto material a ser atingido (feto com vida intrauterina), não sendo possível, pois, 
punir a mulher nem mesmo a título de tentativa de aborto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.6. ERRO DE TIPO 
2.6.1. Conceito 
Nos termos do artigo 20, “caput”, do Código Penal, caracteriza-
se pelo erro sobre o elemento constitutivo do tipo penal. 
Antes de mais nada, mostra-se importante compreender o que 
significa a expressão elemento constitutivo do tipo penal. A figura típica (ou tipo legal) é 
composta de elementos específicos ou elementares. Cada expressão que compõe uma 
figura típica é um elemento que constitui o modelo legal de conduta proibida. 
Exemplo: O crime de homicídio (CP, art. 121) é composto pelos 
elementos “matar” “alguém”. “Matar” é um elemento constitutivo do tipo que define o 
crime de homicídio. “alguém” é também um elemento constitutivo do tipo que define o 
crime de homicídio. 
O erro de tipo é o erro que recai sobre um dos elementos 
constitutivos do tipo penal. Há uma falsa percepção da realidade que cerca o agente. O 
agente desenvolve uma conduta sem saber que está praticando um fato típico. Não 
sabe, em função do erro, que está praticando uma conduta típica. 
Exemplo: Durante uma caçada, o agente percebe que há 
movimentação atrás de arbustos. Supondo ser um animal, atira em direção ao alvo, e, 
quando vai se certificar do produto da caça, verifica que, na realidade, atingiu uma 
pessoa, que estava escondido atrás dos arbustos. A realidade do caçador era a de que 
estava atirando contra um animal. Todavia, trata-se de uma falsa percepção da 
realidade, já que acabou atingindo uma pessoa humana. O agente errou sobre o 
elemento constitutivo “alguém”. Desenvolveu uma conduta sem saber, por conta do erro, 
que estava praticando um fato típico. 
O erro de tipo pode ser essencial ou acidental. 
O erro de tipo essencial é aquele que repercute na própria 
tipificação da conduta do agente, pois, se não tivesse a falsa percepção da realidade, o 
agente não teria praticado o fato típico, ou, pelo menos, não nas circunstâncias que 
envolveram o contexto fático. 
O erro de tipo acidental recai sobre elementos secundários, 
irrelevantes, para a caracterização da conduta típica. Não impede o sujeito de 
compreender o caráter ilícito de seu comportamento. Ainda que não tivesse incorrido 
em erro, a conduta típica estaria caracterizada. 
 
 
 
O erro de tipo essencial se subdivide em: invencível ou vencível. 
2.6.2. Espécies de erro de tipo essencial 
a) Invencível, inevitável, escusável 
É aquele erro em que qualquer pessoa, nas mesmas 
circunstâncias, incorreria. É o erro inevitável, desculpável ou escusável, que não poderia 
ser evitado, mesmo por uma pessoa cautelosa e prudente. 
Tomemos como exemplo a conduta de uma estudante que deixa 
seu celular carregando na tomada da sala de aula e sai para comprar café na cantina 
do local. Quando retorna, retira um celular da tomada, que, na verdade, não era o seu 
aparelho, mas de sua colega, que havia colocado um celular idêntico para carregar em 
substituição ao da estudante. Nesse caso, há evidente erro de tipo, pois a estudante, 
por conta da falsa percepção da realidade (supôs ser seu o celular, já que idêntico), 
errou em relação ao elemento “alheio” do tipo que define o crime de furto. E, trata-se de 
erro de tipo invencível, porque qualquer pessoa, nas circunstâncias, consideraria que 
era o seu telefone celular que estava carregando na tomada onde havia deixado. 
Outro exemplo: Agente que se embrenha em mata fechada, 
distante de qualquer centro urbano, com rara circulação de pessoas. Em dado momento, 
visualiza algo se movimentando atrás da intensa vegetação. Supondo ser um animal, 
efetua um disparo. Ao verificar o produto da caça, verifica, para sua surpresa, que não 
matou um animal, mas uma pessoa, que, por infeliz coincidência, também caçava no 
local. Trata-se de erro de tipo, pois o caçador, por conta da falsa percepção da realidade 
(supôs ser um animal), errou em relação ao elemento “alguém” do tipo que define o 
crime de homicídio. E, trata-se de erro de tipo invencível, porque qualquer pessoa, nas 
circunstâncias, consideraria que a movimentação atrás da vegetação seria a de um 
animal, não sendo possível supor, nem mesmo para uma pessoa mais cautelosa e 
diligente, que, na verdade, tratava-se de uma pessoa. 
O erro de tipo essencial invencível exclui o dolo e a culpa, pois 
o sujeito não age dolosa ou culposamente. 
b) Vencível, evitável ou inescusável 
É aquele erro em que uma pessoa mais cautelosa e prudente, 
nas mesmas circunstâncias, não incorreria. É o erro evitável, indesculpável ou 
inescusável, que uma pessoa cautelosa e prudente teria evitado. 
Tomemos como padrão o exemplo anterior. Imaginemos que 
outra estudante, menos cautelosa e prudente, tivesse deixado seu celular carregando 
 
 
 
na tomada da sala de aula e sai para comprar café na cantina do local. Quando retorna, 
retira um celular da tomada, que, na verdade, não era o seu aparelho, mas de sua 
colega, que havia colocado para carregar em substituição ao da estudante. Todavia, 
não obstante e troca dos aparelhos, o celular da colega, embora parecido, era de outro 
modelo e marca, diferenças que uma pessoa mais prudente teria percebido. Nesse 
caso, há evidente erro de tipo, pois a estudante, por conta da falsa percepção da 
realidade (supôs ser seu o celular), errou em relação ao elemento “alheio” do tipo que 
define o crime de furto. No entanto, nesse caso, trata-se erro de tipo vencível, porque 
uma pessoa mais diligente teria, nas circunstâncias, percebido que não era seu o 
aparelho celular que se apossou. 
Outro exemplo: Suponha-se que o agente vá caçar em mata 
próxima a zona urbana, onde costumam passar pessoas, e efetua um disparo de arma 
de fogo contra um vulto pensando ser um animal, atingindo, na verdade, uma pessoa 
que passava pelo local, matando-a. Trata-se de erro de tipo, pois o caçador, por conta 
da falsa percepção da realidade (supôs ser um animal), errou em relação ao elemento 
“alguém” do tipo que define o crime de homicídio. E, nesse caso, trata-se de erro de tipo 
vencível, porque qualquer pessoa, nas circunstâncias, uma pessoa mais cautelosa e 
prudente se certificaria para ter certeza de que a movimentação atrás da vegetação 
seria a de um animal, e não de uma pessoa. 
O erro de tipo essencial vencível exclui o dolo, mas não a culpa, 
desde que previsto em lei o crime culposo. 
2.6.3. Efeitos do erro de tipo essencial 
O erro de tipo invencível, inevitável ou escusável exclui o 
dolo e a culpa. Isso porque o agente não age com dolo ou culposa, razão pela qual não 
será responsabilizado criminalmente, já que se trata de fato atípico. Vale lembrar que o 
dolo e a culpa, segundo a concepção finalista da ação, integram a conduta. Em sendo 
a conduta elemento do fato típico, a ausência de dolo ou culpa, leva à atipicidade da 
conduta. 
Logo, nos exemplos relacionados ao erro de tipo invencível, a 
estudante e o caçador não seriam responsabilizados criminalmente, diante da ausência 
de dolo e culpa. 
O erro vencível, evitável ou inescusável, recaindo sobre 
elementar, exclui o dolo, pois todo erro essencial exclui, mas não a culpa. Se o erro 
 
 
 
poderia ter sido evitado com empregode diligência mínima, pode-se responsabilizar o 
agente pelo crime culposo, desde que previsto em lei nessa modalidade. 
Assim, se o fato for punido sob a forma culposa, o agente 
responderá por crime culposo. Quando o tipo, entretanto, não admitir essa modalidade, 
a consequência será inexoravelmente a exclusão do crime, já que configurará fato 
atípico. 
No exemplo do caçador que praticava a caça em mata próxima 
à zona urbana, onde havia circulação de pessoas, o agente responderá pelo crime de 
homicídio culposo, já que se trata de erro de tipo vencível. 
De outro lado, no exemplo da jovem estudante que não 
empregou a necessária diligência para identificar se o celular que se apossou era seu 
ou não, restará afastado o dolo, devendo ela responder pelo crime na modalidade 
culposa, já que se trata de erro de tipo vencível. Todavia, como não existe furto na 
modalidade culposa, haverá exclusão do crime, já que o fato é atípico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.7. ERRO SOBRE PESSOA 
O erro sobre pessoa incide quando o agente desenvolve conduta 
voltada a atingir a pessoa pretendida, mas, confundindo-se em relação à sua identidade, 
pratica o delito contra pessoa diversa. 
 
 
 
 
 
 
 
Conforme se extrai do artigo 20, § 3º, do Código Penal, no 
contexto de erro quanto à pessoa, o agente não será isento de pena, recebendo 
tratamento penal consideram-se as condições ou qualidades da vítima pretendida. 
Assim, se, por exemplo, o agente pretendendo matar o próprio 
pai, verificando-se a aproximação de uma pessoa e, supondo ser a vítima pretendida, 
atira e atinge pessoa diversa. Nesse caso, responderá pelo crime de homicídio, com a 
incidência da agravante de ter praticado crime contra ascendente, prevista no artigo 61, 
II, “e”, 1ª parte, do Código Penal. 
Da mesma forma, se uma mãe, sob o efeito do estado puerperal, 
logo após o parto, durante a madrugada, vai até o berçário onde acredita encontrar-se 
seu filho recém-nascido e o sufoca até a morte, retornando ao local de origem sem ser 
notada, verificando-se, após, que, na verdade, a criança morta não era o seu filho, que 
se encontrava no berçário ao lado, tendo ela se equivocado, portanto, quanto à vítima 
desejada, responderá pelo crime de infanticídio (CP, art. 123), pois, embora tenha 
atingido bebê diverso, é como se tivesse matado a vítima pretendida, seu filho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.8. ERRO NA EXECUÇÃO (ABERRATIO ICTUS) 
2.8.1. Conceito 
Erro na execução ou aberratio ictus significa aberração no 
ataque ou desvio do golpe. 
 
 
 
 
 
 
 
Ocorre erro na execução quando o agente, pretendendo atingir 
uma pessoa, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, acaba atingindo 
pessoa diversa. A relação é de pessoa x pessoa e não crime x crime. 
O agente não erra quanto à identidade da pessoa, mas quanto 
aos meios no uso dos meios de execução do delito. Com efeito, visualiza como certa a 
vítima pretendida, mas, por erro na pontaria, por exemplo, acaba atingindo pessoa 
diversa. 
A aberratio ictus pode ocorrer quando, por acidente, o agente, 
ao invés de atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. Suponhamos, nesse 
caso, que o agente pretende matar Wilson, deixando na sua mesa de trabalho uma 
xícara de café contendo veneno. Todavia, quem toma o café é Pedro, que acaba 
falecendo. 
Pode ocorrer também quando, por erro nos meios de 
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa pretendida, atinge pessoa diversa. 
Exemplo: Agente pretendendo matar Wilson, visualiza a vítima, tendo-a como certa, faz 
a mira e efetua o disparo, mas, no entanto, erra o alvo pretendido, atingindo pessoa 
diversa, que se encontrava próxima ao local. 
2.8.2. Espécies 
Há duas espécies de aberratio ictus: a) aberratio ictus com 
unidade simples; b) aberratio ictus com resultado duplo. 
a) Aberratio ictus com unidade simples ou com resultado único 
Ocorre a aberratio ictus com resultado único quando em face de 
erro na execução somente a pessoa diversa da pretendida é atingida, resultando lesão 
corporal ou morte. 
A consequência jurídica da conduta do agente se encontra 
retratada no artigo 73, 1ª parte do Código Penal, que faz expressa remissão ao artigo 
20, § 3º, do Código Penal. Ou seja, na hipótese de erro na execução, deve-se observar 
o disposto no artigo 20, § 3º, do Código Penal, segundo o qual, embora tenha atingido 
pessoa diversa, o agente deve receber tratamento penal considerando-se as condições 
ou qualidades da pessoa pretendida (vítima virtual), desprezando-se as condições 
pessoais da vítima efetivamente atingida. 
Exemplo: Agente efetua disparos em direção à vítima pretendida 
(vítima virtual), mas por erro na pontaria, acaba atingindo somente pessoa diversa, vindo 
 
 
 
a matá-la. Nesse caso, responderá pelo delito de homicídio doloso, como se tivesse 
matado a vítima pretendida. 
É também o caso do agente que, pretendendo matar o seu pai, 
efetua disparo de arma de fogo, mas, por erro na pontaria, acaba atingindo pessoa 
diversa, que se encontrava próximo ao seu genitor. Nesse caso, teríamos, em tese, 
tentativa de homicídio em relação ao pai, e homicídio culposo em relação à pessoa 
diversa. 
Todavia, nos termos do artigo 20, § 3º, do Código Penal, deve-
se considerar as condições ou qualidades da vítima pretendida. Assim, no caso, embora 
tenha atingido de forma letal pessoa diversa, o agente responde como se tivesse 
atingido a pessoa pretendida, ou seja, como se tivesse matado o próprio pai. Logo, 
responderá pelo crime de homicídio doloso consumado, com a incidência da agravante 
de ter praticado crime contra ascendente, prevista no artigo 61, II, “e”, 1ª figura, do 
Código Penal. 
b) Aberratio ictus com unidade complexa ou com resultado duplo 
A aberratio ictus com resultado duplo ocorre quando o agente, 
além de atingir a vítima pretendida, atinge também pessoa diversa. 
Nesse caso, com uma única ação, o agente produz mais de um 
resultado: atinge a pessoa pretendida, e também pessoa diversa. Por essa razão, o 
artigo 73, 2ª parte, do Código Penal faz expressa remissão ao artigo 70 do Código Penal, 
devendo ser aplicada a regra do concurso formal de crimes. 
Exemplo: Pretendendo matar Wilson, o agente efetua um 
disparo, que, além de atingir Wilson, atinge também Pedro, que se encontrava atrás da 
vítima pretendida. Por conta da potência da arma utilizada, o disparo efetuado causou 
a morte da pessoa pretendida e também da pessoa diversa. Em tese, teríamos 
homicídio doloso em relação à vítima pretendida e homicídio culposo em relação à 
pessoa diversa. 
Nesse caso, nos termos do que dispõe o artigo 73, 2ª parte, do 
Código Penal, deve-se aplicar a regra do artigo 70 do Código Penal, segundo o qual, se 
o agente com uma única ação praticar dois ou mais crimes, deve-se considerar a pena 
do crime mais grave, aumentando-a de 1/6 (um sexto) até a ½ (metade). 
Convém mencionar que, se houver dolo eventual em relação à 
vítima efetiva e dolo direto em relação à vítima visada, não há falar propriamente em 
 
 
 
erro na execução, incidindo, no caso, inclusive, hipótese de concurso formal imperfeito, 
aplicando-se o sistema do cúmulo material (soma das penas). 
Assim, se o agente mira em direção à vítima visada (A), 
visualizando a possibilidade de também atingir pessoa diversa (vítima B), assumindo o 
risco e aceitando o resultado, atingindo-a e causando-lhe a morte, teremos tentativa de 
homicídio, na modalidade dolo direto em relação à vítima A, e homicídio doloso, na 
modalidade dolo eventual, em relação à vítima B, em concurso formal imperfeito (as 
penas serão somadas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2.9. RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO 
2.9.1. Conceito 
A aberratio criminis também resulta de acidente ou erro na 
execução do crime, mas em contexto distinto da aberratio ictus. 
Na aberratio criminis, o agente pretende ofender um 
determinadobem jurídico, mas, por acidente ou erro na execução, acaba produzindo 
resultado diverso do pretendido. Na verdade, o agente pretendia praticar um crime, mas 
acaba praticando crime diverso do pretendido. 
Por essa razão, diz-se que na aberratio criminis há desvio do 
crime. 
Enquanto na aberratio ictus, a relação é entre pessoa x pessoa, 
ou seja, o agente, pretendendo atingir uma pessoa, acaba ofendendo pessoa diversa, 
 
 
 
 
 
 
 
na aberratio criminis, o agente quer atingir uma pessoa e ofende outra (ou ambas). Na 
aberratio criminis, o agente quer atingir um bem jurídico e ofende outro bem jurídico, 
produzindo resultado diverso do pretendido. 
Exemplo: O agente, pretendo praticar o crime de dano (CP, art. 
163), atira uma pedra contra um carro. Todavia, por erro na pontaria, a pedra acabou 
atingindo uma pessoa que se encontrava próxima ao local. Note-se que o agente 
pretendia produzir um resultado (dano no veículo), mas acabou produzindo um resultado 
diverso do pretendido (lesão corporal). 
2.9.2. Espécies 
Há duas espécies de aberratio criminis: a) aberratio criminis com 
unidade simples; b) aberratio criminis com resultado duplo. 
a) Com unidade simples ou resultado único: 
Na aberratio criminis com unidade simples, o agente somente 
atinge o bem jurídico diverso do pretendido. Ou seja, o agente quer atingir uma coisa e 
atinge uma pessoa. 
Nesse caso, o agente responde pelo resultado produzido a título 
de culpa, se o fato é previsto como crime culposo. 
Assim, se o agente, pretendendo atingir o veículo do desafeto, 
com o intuito de praticar o crime dano, por erro na execução, não atingir o objeto, mas 
somente uma pessoa que se encontrava próxima ao local, responderá por lesão 
corporal culposa (CP, art. 129, § 6º), se resultar lesão corporal; ou por homicídio culposo 
(CP, art. 121, § 3º, do CP), se resultar morte. 
b) Com unidade complexa ou resultado duplo: 
Na aberratio criminis com resultado duplo, o agente, além de 
praticar o crime pretendido, também acaba produzindo um resultado diverso do 
pretendido. Ou seja, com uma ação ou omissão, acaba provocando dois resultados. 
Nesse caso, como expressamente prevê a parte final do artigo 
74 do Código Penal, aplica-se a regra do concurso formal de crimes (CP, art. 70), 
considerando-se a pena do crime mais grave aumentada de 1/6 até metade, de acordo 
com o número de resultados diversos produzidos. 
Imaginemos que certo dia, o agente, com raiva do vizinho, 
resolva quebrar a janela da residência deste. Para tanto, espera chegar a hora 
adequada e, supondo não haver ninguém na residência, o agente arremessa com força, 
 
 
 
na direção da casa do vizinho, um enorme tijolo, que, além de quebrar a vidraça, atinge 
também sua nuca. O vizinho falece instantaneamente. Nesse caso, o agente deverá 
responder por homicídio culposo em concurso formal com o crime de dano (art. 121, § 
3º, e art. 163, na forma do art. 70, todos do Código Penal), considerando-se a pena 
aplicada para o crime de homicídio culposo, já que mais grave, aumentada de 1/6. 
Cumpre ressaltar, por pertinente, que, se o resultado previsto 
como crime culposo for menos grave ou se o crime não prever modalidade culposa, não 
aplica o disposto no artigo 74 do Código Penal. Assim, se o agente efetua disparos de 
arma para matar a vítima, mas não o acerta e quebra a vidraça de uma casa ou acerta 
um carro, deve-se desprezar a hipótese do artigo 74 do Código Penal, responderá por 
tentativa de homicídio. Primeiro, porque o crime de tentativa de homicídio é mais grave 
do que o delito de dano; segundo, porque não há previsão legal de dano culposo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
QUESTÕES DAS PROVAS ANTERIORES AULA 02 
9) (XXX EXAME) Mário trabalhava como jardineiro na casa de uma família rica, sendo 
tratado por todos como um funcionário exemplar, com livre acesso a toda a residência, 
em razão da confiança estabelecida. Certo dia, enfrentando dificuldades financeiras, 
Mário resolveu utilizar o cartão bancário de seu patrão, Joaquim, e, tendo conhecimento 
da respectiva senha, promoveu o saque da quantia de R$ 1.000,00 (mil reais). Joaquim, 
ao ser comunicado pelo sistema eletrônico do banco sobre o saque feito em sua conta, 
efetuou o bloqueio do cartão e encerrou sua conta. Sem saber que o cartão se 
encontrava bloqueado e a conta encerrada, Mário tentou novo saque no dia seguinte, 
não obtendo êxito. De posse das filmagens das câmeras de segurança do banco, Mário 
foi identificado como o autor dos fatos, tendo admitido a prática delitiva. Preocupado 
com as consequências jurídicas de seus atos, Mário procurou você, como advogado(a), 
para esclarecimentos em relação à tipificação de sua conduta. Considerando as 
informações expostas, sob o ponto de vista técnico, você, como advogado(a) de Mário, 
deverá esclarecer que sua conduta configura 
A) os crimes de furto simples consumado e de furto simples tentado, na forma 
continuada. 
B) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto 
qualificado pelo abuso de confiança tentado, na forma continuada. 
C) um crime de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado, apenas. 
 
 
 
D) os crimes de furto qualificado pelo abuso de confiança consumado e de furto 
qualificado pelo abuso de confiança tentado, em concurso material. 
 
10) (XXX EXAME) Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o parto, 
ela, sob influência do estado puerperal, comparece ao berçário da maternidade, no 
intuito de matar Davi. No entanto, pensando tratar-se de seu filho, ela, com uma corda, 
asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal Marta e Rogério, causando-lhe a morte. 
Descobertos os fatos, Regina é denunciada pelo crime de homicídio qualificado pela 
asfixia com causa de aumento de pena pela idade da vítima. Diante dos fatos acima 
narrados, o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do 
procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer 
A) o afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de homicídio 
simples com causa de aumento, diante do erro de tipo. 
B) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não 
podendo ser reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser 
descendente da agente. 
C) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio 
ictus), podendo ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que 
são consideradas as características de quem se pretendia atingir. 
D) a desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, 
podendo ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são 
consideradas as características de quem se pretendia atingir. 
 
11) (XXIX EXAME) Durante a madrugada, Lucas ingressou em uma residência e 
subtraiu um computador. Quando se preparava para sair da residência, ainda dentro da 
casa, foi surpreendido pela chegada do proprietário. Assustado, ele o empurrou e 
conseguiu fugir com a coisa subtraída. Na manhã seguinte, arrependeu-se e resolveu 
devolver a coisa subtraída ao legítimo dono, o que efetivamente veio a ocorrer. O 
proprietário, revoltado com a conduta anterior de Lucas, compareceu em sede policial e 
narrou o ocorrido. Intimado pelo Delegado para comparecer em sede policial, Lucas, 
preocupado com uma possível responsabilização penal, procura o advogado da família 
e solicita esclarecimentos sobre a sua situação jurídica, reiterando que já no dia seguinte 
devolvera o bem subtraído. Na ocasião da assistência jurídica, o(a) advogado(a) deverá 
informar a Lucas que poderá ser reconhecido(a) 
A) a desistência voluntária, havendo exclusão da tipicidade de sua conduta. 
B) o arrependimento eficaz, respondendo o agente apenas pelos atos até então 
praticados. 
 
 
 
C) o arrependimentoposterior, não sendo afastada a tipicidade da conduta, mas 
gerando aplicação de causa de diminuição de pena. 
D) a atenuante da reparação do dano, apenas, não sendo, porém, afastada a tipicidade 
da conduta. 
 
12) (XXVIII EXAME) David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina 
do clube. Enquanto a filha brincava na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, 
solicitando, então, que sua amiga Carla, que estava no local, ficasse atenta para que 
nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu a cuidar da filha de David. 
Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva-vidas da piscina. Carla, que sempre 
fora apaixonada por Vitor, começou a conversar com ele e ambos ficam de costas para 
a piscina, não atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com 
o filtro da piscina e acaba sofrendo uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo 
suficiente para causar seu afogamento. David vê quando o ato acontece através de 
pequena janela no banheiro do local, mas o fecho da porta fica emperrado e ele não 
consegue sair. Vitor e Carla não veem o ato de afogamento da criança porque estavam 
de costas para a piscina conversando. Diante do resultado morte, David, Carla e Vitor 
ficam preocupados com sua responsabilização penal e procuram um advogado, 
esclarecendo que nenhum deles adotou comportamento positivo para gerar o resultado. 
Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que: 
A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar 
e possuíam obrigação de agir na situação. 
B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever 
legal de agir por ser pai da criança. 
C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio culposo, já que os três tinham o 
dever de agir. 
D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro. 
 
13) (XXI EXAME) Carlos presta serviço informal como salva-vidas de um clube, não 
sendo regularmente contratado, apesar de receber uma gorjeta para observar os sócios 
do clube na piscina, durante toda a semana. Em seu horário de “serviço”, com várias 
crianças brincando na piscina, fica observando a beleza física da mãe de uma das 
crianças e, ao mesmo tempo, falando no celular com um amigo, acabando por ficar de 
 
 
 
costas para a piscina. Nesse momento, uma criança vem a falecer por afogamento, fato 
que não foi notado por Carlos. Sobre a conduta de Carlos, diante da situação narrada, 
assinale a afirmativa correta. 
A) Não praticou crime, tendo em vista que, apesar de garantidor, não podia agir, já que 
concretamente não viu a criança se afogando. 
B) Deve responder pelo crime de homicídio culposo, diante de sua omissão culposa, 
violando o dever de garantidor. 
C) Deve responder pelo crime de homicídio doloso, em razão de sua omissão dolosa, 
violando o dever de garantidor. 
D) Responde apenas pela omissão de socorro, mas não pelo resultado morte, já que 
não havia contrato regular que o obrigasse a agir como garantido 
 
14) (XIX EXAME) Durante uma discussão, Theodoro, inimigo declarado de Valentim, 
seu cunhado, golpeou a barriga de seu rival com uma faca, com intenção de matá-lo. 
Ocorre que, após o primeiro golpe, pensando em seus sobrinhos, Theodoro percebeu a 
incorreção de seus atos e optou por não mais continuar golpeando Valentim, apesar de 
saber que aquela única facada não seria suficiente para matá-lo. Neste caso, Theodoro 
A) não responderá por crime algum, diante de seu arrependimento. 
B) responderá pelo crime de lesão corporal, em virtude de sua desistência voluntária. 
C) responderá pelo crime de lesão corporal, em virtude de seu arrependimento eficaz. 
D) responderá por tentativa de homicídio. 
 
15) (XXIV EXAME) Decidido a praticar crime de furto na residência de um vizinho, João 
procura o chaveiro Pablo e informa do seu desejo, pedindo que fizesse uma chave que 
possibilitasse o ingresso na residência, no que foi atendido. No dia do fato, considerando 
que a porta já estava aberta, João ingressa na residência sem utilizar a chave que lhe 
fora entregue por Pablo, e subtrai uma TV. Chegando em casa, narra o fato para sua 
esposa, que o convence a devolver o aparelho subtraído. No dia seguinte, João atende 
à sugestão da esposa e devolve o bem para a vítima, narrando todo o ocorrido ao 
lesado, que, por sua vez, comparece à delegacia e promove o registro próprio. 
Considerando o fato narrado, na condição de advogado(a), sob o ponto de vista técnico, 
deverá ser esclarecido aos familiares de Pablo e João que: 
 
 
 
A) nenhum deles responderá pelo crime, tendo em vista que houve arrependimento 
eficaz por parte de João e, como causa de excludente da tipicidade, estende-se a Pablo. 
B) ambos deverão responder pelo crime de furto qualificado, aplicando-se a redução de 
pena apenas a João, em razão do arrependimento posterior. 
C) ambos deverão responder pelo crime de furto qualificado, aplicando-se a redução de 
pena para os dois, em razão do arrependimento posterior, tendo em vista que se trata 
de circunstância objetiva. 
D) João deverá responder pelo crime de furto simples, com causa de diminuição do 
arrependimento posterior, enquanto Pablo não responderá pelo crime contra o 
patrimônio. 
 
16) ( XXII EXAME) Acreditando estar grávida, Pâmela, 18 anos, desesperada porque 
ainda morava com os pais e eles sequer a deixavam namorar, utilizando um instrumento 
próprio, procura eliminar o feto sozinha no banheiro de sua casa, vindo a sofrer, em 
razão de tal comportamento, lesão corporal de natureza grave. Encaminhada ao hospital 
para atendimento médico, fica constatado que, na verdade, ela não se achava e nunca 
esteve grávida. O Hospital, todavia, é obrigado a noticiar o fato à autoridade policial, 
tendo em vista que a jovem de 18 anos chegou ao local em situação suspeita, lesionada. 
Diante disso, foi instaurado procedimento administrativo investigatório próprio e, com o 
recebimento dos autos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Pâmela pela 
prática do crime de “aborto provocado pela gestante”, qualificado pelo resultado de lesão 
corporal grave, nos termos dos Art. 124 c/c o Art. 127, ambos do Código Penal. Diante 
da situação narrada, assinale a opção que apresenta a alegação do advogado de 
Pâmela. 
A) A atipicidade de sua conduta. 
B) O afastamento da qualificadora, tendo em vista que esta somente pode ser aplicada 
aos crimes de aborto provocado por terceiro, com ou sem consentimento da gestante, 
mas não para o delito de autoaborto de Pâmela. 
C) A desclassificação para o crime de lesão corporal grave, afastando a condenação 
pelo aborto. 
D) O reconhecimento da tentativa do crime de aborto qualificado pelo resultado. 
 
 
 
 
17) (XXII EXAME) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com 
cápsulas que acredita ser de remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, 
continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro lado, José transporta em 
seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia ter 
pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram 
abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do 
crime de tráfico de entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o 
advogado de Tony e José deverá alegar em favor dos clientes, respectivamente, a 
ocorrência de 
A) erro de tipo, nos dois casos. 
B) erro de proibição, nos dois casos. 
C) erro de tipo e erro de proibição. 
D) erro de proibição e erro de tipo. 
 
18) (XX EXAME) Wellington pretendia matar Ronaldo, camisa 10 e melhor jogador de 
futebol do time Bola Cheia, seu adversário no campeonato do bairro. No dia de um jogo 
do Bola Cheia, Wellington vê, de costas, um jogador com a camisa 10 do time rival. 
Acreditando ser Ronaldo, efetua diversos

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