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1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 1 Direito Penal Professor Nidal Ahmad 1ª FASE EXAME – CURSO 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 2 Buenas meu povo da 1ª fase! O caminho para atingir o sucesso exige determinação, persistência e coragem... Começa com o querer, desejar, acreditar que é possível...começa com a disposição de vencer obstáculos e superar os desafios... Saibam conviver com o medo e a angústia...transformem esses sentimentos como fontes de motivação e de superação... Mantenham sempre o foco, a coragem e, acima de tudo, a confiança de que é possível superar esse desafio...visualizem a aprovação... Saibam que o impossível nada mais é do que um sonho que ainda não foi realizado... Nidal Ahmad @prof.nidal 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 3 1. Da aplicação da Lei Penal ............................................................................................ 4 2. Crimes omissivos, nexo de causalidade, dolo e culpa ............................................ 29 3. Arrependimento posterior, crime impossível, erro de tipo essencial ..................... 70 4. Erro de tipo acidental ............................................................................................... 80 5. Descriminantes putativas ......................................................................................... 88 6. Causas e excludentes de ilicitude: Estado de necessidade .................................. 100 7. Causas e excludentes de ilicitude: Legítima defesa, Estrito cumprimento do dever legal, Exercício regular do direito e Consentimento do ofendido .................................................................................................................... 106 8. Excludentes de culpabilidade: imputabilidade por enfermidade mental ou embriaguez completa e acidental ............................................................................ 117 9. Excludentes de culpabilidade: erro de proibição, inexigibilidade de conduta diversa (art. 22, CP) ......................................................................................... 123 10. Concurso de pessoas .............................................................................................. 129 11. Teoria da pena: regime inicial de cumprimento de pena ...................................... 139 12. Teoria da pena: penas restritivas de direitos e da pena de multa ......................... 141 13. Teoria da pena: da aplicação da pena .................................................................... 146 14. Concurso de Crimes ................................................................................................ 157 15. Da Suspensão condicional da execução da pena (SURSIS) .................................. 170 16. Parte geral: do livramento condicional ................................................................... 176 17. Parte geral: efeitos da sentença condenatória ...................................................... 182 18. Parte geral: da medida de segurança ..................................................................... 186 19. Extinção da punibilidade .......................................................................................... 191 20. Prescrição ................................................................................................................. 197 21. Prescrição da pretensão executória ...................................................................... 205 Direito Penal – parte geral Prof. Nidal Ahmad Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado para a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um complemento para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe CEISC. Atualizado em julho de 2021. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 4 1. Da aplicação da Lei Penal Prof. Nidal Ahmad @prof.nidal 1.1. Da lei penal no tempo – art. 2º do CP. Pelo princípio tempus regit actum (‘o tempo rege o ato’), a lei penal não alcança os fatos ocorridos antes ou depois de sua vigência, de forma que, em regra, a lei aplicável a um crime é aquela vigente ao tempo da execução deste crime. A regra, pois, é que a atividade da lei penal se dê no período de sua vigência; a extra-atividade, representada pela retroatividade da lei mais benéfica e pela ultratividade, configura exceção a esta regra. Exemplos dos princípios expostos: Ex1: “A” pratica um crime sob a vigência da lei X, que comina pena de reclusão de 1 a 4 anos. Por ocasião do julgamento, passa a viger a lei Y, regulando o mesmo fato e impondo a pena de 2 a 8 anos. Qual a lei a ser aplicada, a anterior, mais benéfica, ou a posterior, mais severa? Deve ser aplicada a lei X, porquanto a lei Y é mais severa, incidindo, no caso, o princípio da irretroatividade da lei mais severa. Portanto, é possível a aplicação de uma lei não obstante cessada a sua vigência, desde que mais benéfica que a lei posterior. Esse fenômeno chama-se ultratividade, que, em última análise, quer dizer que se a lei antiga for mais favorável, prevalecerá ao tempo da vigência da lei nova, mesmo estando revogada. Ex2: “B” realiza uma conduta punível sob a vigência de lei X, que comina pena de 2 a 4 anos de reclusão. Na ocasião de ser proferida a sentença, passa a vigorar a lei Y, determinando, para o mesmo comportamento, a pena de reclusão de 1 a 4 anos. Qual a lei a ser observada, a anterior, mais severa, ou a posterior, mais benigna? Aplica-se a lei mais benigna prevalece sobre a mais severa, prolongando-se além do instante de sua revogação ou retroagindo ao tempo em que não tinha vigência. É a retroatividade da lei mais benéfica. 1.1.1. Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo 1.1.1.1. Abolitio Criminis Ocorre a chamada abolitio criminis quando a lei nova deixa de considerar crime fato que anteriormente era considerado como ilícito penal. A nova lei, demonstrando não 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 5 Abolitio Criminis Fato deixa de ser crime Cessam todos os efeitos penais Permanecem os efeitos cíveis Causa de extinção da punibilidade haver mais, por parte do Estado, interesse na punição do autor de determinado fato, retroage para alcançá-lo. É decorrência da previsão do art. 5º, XL, CF, e art. 2º, do CP. A abolitio criminis, além de conduzir à extinção da punibilidade, apaga todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, no entanto, íntegros seus efeitos na esfera cível. É o que se extrai do artigo 2º do Código Penal. Assim, por exemplo, se o sujeito registrar contra si sentença condenatória transitada em julgado por fato que deixou de ser considerado crime praticar novo crime, não será considerado reincidente. Os efeitos civis, no entanto, permanecerão hígidos, sendo possível a vítima buscar a reparação de danos na esfera cível por meio da respectiva ação de execução, já que a sentença penal condenatória transitada em julgado constitui título executivo. Imaginemos que o agente tenha sido definitivamente condenado pelo crime de sedução (art. 217 do CP) em 2004, que deixou de ser crime pela Lei 11.106/2005. Se esse agente praticar um crime de furto em 2007, por exemplo, não será considerado reincidente, pois a Lei 11.106/2005 aboliu do ordenamento jurídico o crime de sedução, apagando todos os efeitos da sentença penal condenatória. No entanto, a vítima seduzida poderia buscar a reparação de danos na esfera cível. * Para todos verem: esquema 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 6 1.1.1.2. Novatio legis in mellius Além da abolitio criminis, a lei nova pode favorecer o agente de várias maneiras. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentençacondenatória transitada em julgado (CP, art. 2, parágrafo único). Assim, se a lei nova, por exemplo, reduzir a pena mínima de uma determinada infração penal ou passar a prever benefício até então inexistente, deverá retroagir para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, ainda que tenha sido proferida sentença transitada em julgado. 1.1.1.3. Novatio legis incriminadora A lei nova incrimina fatos antes considerados lícitos (novatio legis incriminadora). A novatio legis incriminadora, ao contrário da abolitio criminis, considera crime fato anteriormente não incriminado, e somente irá gerar efeitos para fatos praticados após à sua vigência, razão pela qual não retroage para alcançar fatos praticados antes da sua vigência. A Lei n. 10.224, de 15 de maio de 2001, tornou crime de assédio sexual a conduta de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, o que até então era um indiferente penal, sendo tal situação resolvida, invariavelmente, em outra área do direito, notadamente na esfera ou trabalhista. Por conferir tratamento severo, a novatio legis incriminadora, por evidente, não retroage para alcançar fatos praticados antes da sua vigência, tendo eficácia, portanto, somente em relação aos fatos praticados a partir da sua vigência. 1.1.1.4. Novatio legis in pejus A quarta hipótese refere-se à nova lei mais severa a anterior (a nova lei de drogas, Lei n. 11.343/06, no art. 33, aumentou a pena do crime de tráfico de drogas). Incide, no caso, o princípio da irretroatividade da lei penal: "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu" (CF/88, art. 5º, XL). 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 7 * Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal no tempo. Súmula 501 do STJ sobre combinação de leis. https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� https://soundcloud.com/user-204974449/1-lex-tertia-sumula-501-stj/s-FSFzliv5ta8� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 8 1.1.2. Crime permanente e crime continuado e a lei penal mais benéfica Aplica-se a lei nova durante a atividade executória do CRIME PERMANENTE, ainda que seja prejudicial ao réu, já que a cada momento da atividade criminosa está presente a vontade do agente. Da mesma forma, em sendo o CRIME CONTINUADO uma ficção, considerando que uma série de crimes constitui um único delito para a finalidade de aplicação da pena, o agente responde pelo que praticou em qualquer fase da execução do crime continuado. Portanto, se uma lei penal nova tiver vigência durante a continuidade delitiva, deverá ser aplicada ao caso, prejudicando ou beneficiando. É o que diz a Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Assim, se, por exemplo, o agente sequestrou a vítima na vigência de uma lei, e, posteriormente, enquanto ainda estava se desenrolando o delito, com a vítima no cativeiro, sobrevém lei nova elevando a pena mínima do crime de extorsão mediante sequestro, essa lei incidirá sobre o fato, ainda que tenha conferido tratamento mais severo. 1.2. Lei Penal no tempo: lei temporária e lei excepcional; tempo e lugar do crime. 1.2.1. Leis de vigência temporária – art. 3º do CP. 1.2.1.1. Conceito De acordo com o art. 3º do CP, as leis excepcionais ou temporárias, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que as determinaram, aplicam-se aos fatos praticados durante sua vigência. São as leis autorrevogáveis. Comportam duas espécies: LEIS EXCEPCIONAIS: são feitas para durar enquanto um estado anormal ocorrer. Cessam a sua vigência ao mesmo tempo em que a situação excepcional também Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 9 terminar. Portanto, são aquelas promulgadas em caso de calamidade pública, guerras, revoluções, cataclismos, epidemias, etc. LEIS TEMPORÁRIAS: São as editadas com período determinado de duração, portanto, dotadas de autorrevogação. É feita para vigorar em um período de tempo previamente fixado pelo legislador. Traz em seu bojo a data de cessação de sua vigência. É uma lei que desde a sua entrada em vigor está marcada para morrer. 1.2.1.2. Características São autorrevogáveis Em regra, uma lei somente pode ser revogada por outra lei, posterior, que a revogue expressamente, que seja com ela incompatível ou que regule integralmente a matéria nela tratada. As leis de vigência temporária constituem exceção a esse princípio, visto que perdem sua vigência automaticamente, sem que outra lei as revogue. São ultrativas A ultratividade significa que uma lei revogada continua gerando efeitos. É o caso da lei temporária e lei excepcional, que continuarão gerando efeitos em relação aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo após de revogadas. * Para todos verem: esquema LEI TEMPORÁRIA e LEI EXCEPCIONAL Autorrevogáveis Ultratividade 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 10 * Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal no tempo. 1.2.2. Do tempo do crime – art. 4º A análise do âmbito temporal da aplicação da lei penal necessita da fixação do momento em que se considera o delito cometido. O Código Penal adotou a teoria da atividade, segundo a qual se reputa praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado. Diante disso, se, por exemplo, o agente, ao tempo da ação, contava com 17 anos, 11 meses e 25 dias, de idade, efetua disparos de arma de fogo contra a vítima, que vem a falecer 10 dias depois, devemos indagar se incidirão as normas de direito penal ou as normas relativas ao Estatuto da Criança e Adolescente. Nesse caso, considerando-se a teoria da atividade, incidirão as normas do Estatuto da Criança e Adolescente, Lei n. 8.069/90, uma vez que, ao tempo da ação, o agente era menor de 18 anos e, portanto, inimputável, não incidindo, assim, normas do Código Penal. https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 11 Em outras palavras, ficará afastada a aplicação da lei penal, podendo o agente ser submetido a medida socioeducativa. 1.2.3. Do lugar do crime – art. 6º A determinação do lugar em que o crime se considera praticado é decisiva no tocante à competência penal internacional. Surge o problema quando o crime se desenrola em lugares diferentes. A aplicação do princípio da territorialidade guarda relação com a determinação do lugar em que o crime se considera praticado, tendo relevância, ainda, no tocante à competência penal internacional. Convém, de logo, esclarecer que o tema aqui estudado não se confunde com a fixação da competência territorial, cuja determinação, via de regra, leva em conta o lugar da consumação do delito, conforme prevê o artigo 70 do Código de Processo Penal. O Código Penal adotou a teoria da ubiquidade ou mista, segundo a qual é lugar do crime tanto onde houve a conduta, quanto o local onde se deu o resultado. Nos termos da teoria da ubiquidade, mista ou da unidade, lugar do crime é aquele em que se realizou qualquer dos momentos do iter, seja da prática dos atos executórios, seja da consumação. Essa foi a teoria adotada pelo Código Penal, já que, segundo o artigo 6º “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”. A expressão “deveria produzir-se o resultado” refere-se às hipóteses de tentativa. Aplica-se a lei brasileira ao crime tentado cuja conduta tenha sido praticada forados limites territoriais (ou do território por extensão), desde que o impedimento da consumação se tenha dado no País. Assim, na hipótese de o agente, que se encontra na cidade brasileira de Santana do Livramento/RS, efetuar disparos contra a vítima que se encontra na cidade de Rivera, em solo Uruguaio, separada por uma rua do Município brasileiro, vindo este a falecer, aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios do crime foram praticados em território brasileiro, embora o resultado tenha sido produzido em país estrangeiro. Da mesma forma, se um Americano, residente na Argentina, envia uma carta- bomba a um brasileiro, que se encontra no Rio de Janeiro, vindo o engenho a explodir no momento em que a vítima abriu o pacote que a continha, resultando na sua morte, também aplica-se a lei penal brasileira, já que os atos executórios foram praticados no estrangeiro e o resultado se produziu em território brasileiro. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 12 * Para todos verem: esquema 1.3. Lei Penal no espaço: territorialidade e da extraterritorialidade da lei penal. 1.3.1. Da lei penal no espaço – art. 5º 1.3.1.1. Introdução A Lei Penal é elaborada para vigorar dentro dos limites em que o Estado exerce a sua soberania. Via de regra, pelo princípio da territorialidade, aplica-se as leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do território nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu território. Territorialidade: é a regra. Ao crime cometido no território nacional, aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, conforme art.5º e seus parágrafos. 1.3.1.2. Território brasileiro por equiparação (embarcações e aeronaves) Nos termos do artigo 5º, § 1º, do CP, duas situações de território brasileiro por equiparação: A) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde estiverem. B) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. Nesse contexto, se, por exemplo, um Oficial da Marinha do Brasil é assassinado por um marinheiro dentro da embarcação pública brasileira, que se encontrava atracada num Tempo do crime Teoria da atividade Lugar do Crime Teoria da Ubiquidade 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 13 Território nacional extensão Embarcação ou aeronave Pública ou serviço de governo brasileiro Onde quer que estejam Privado Alto-mar Porto dos Estados Unidos, aplica-se a lei brasileira, uma vez que, para efeitos penais, consideram-se como extensão do território brasileiro as embarcações de natureza pública, onde quer que se encontrem. De outro lado, se durante um cruzeiro marítimo em embarcação privada brasileira, cruzando alto-mar, um turista resolve provocar lesão corporal em outro turista, incidirá a lei penal brasileira, uma vez que, para efeitos penais, consideram-se como extensão do território brasileiro as embarcações de natureza privada que estiverem navegando em alto-mar. Os navios estrangeiros em águas territoriais brasileiras, desde que públicos, não são considerados parte do nosso território. Em face disso, os crimes neles cometidos devem ser julgados de acordo com a lei da bandeira que ostentam. Se, entretanto, são de natureza privada, aplica-se a lei brasileira (art. 5º, § 2º). * Para todos verem: esquema 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 14 * Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal; 1.3.2. Extraterritorialidade Extraterritorialidade: é uma exceção. Mesmo que o crime seja cometido fora do Brasil, os agentes se sujeitam à lei brasileira, nas hipóteses mencionadas no art. 7º, do CP, quais sejam: EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, Nestes casos, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 15 autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. Nestes casos, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. se, reunidas as condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. + a) não foi pedida ou foi negada a 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 16 extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. * Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal; https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 17 * Para todos verem: esquema 1.4. Conflito aparente de normas 1.4.1. Conceito É o conflito que se estabelece entre duas ou mais normas aparentemente aplicáveis ao mesmo fato. Há conflito porque mais de uma norma pretende regular o fato, mas é aparente, porque apenas uma delas acaba sendo aplicada à hipótese. Extraterritorialidade Incondicionada Art. 7º, I, do CP Contra a vida ou a liberdade do Presidente da República Contra patrimonio ou a fé pública da Administração Pública Contra a Administração Pública, por quem está a seu serviço De genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil Condicionada Art. 7º, II, CP Que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou a reprimir Praticados por brasileiro Praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados Cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do brasil 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 18 1.4.2. Princípios para a solução dos conflitos aparentes de normas 1.4.2.1. Princípio da especialidade Trata-se da aplicação da regra de que a norma especial afasta a aplicação da lei geral, representado pelo brocardo “lex specialis derrogat generali”. A lei especial, ou específica, caracteriza-se por se revestir de sentido diferenciado, individualizado, que a particulariza em relação às demais normas. Dito de outro modo, a norma penal especial reúne todos os elementos típicos da lei geral, mas se revestem de outros elementos que a torna especial, que a particulariza, chamados especializantes. E, nos termos do artigo 12 do Código Penal, a norma especial prevalecesobre a lei geral. Tomemos, novamente, como exemplo o caso de uma mãe matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, logo após o parto. Há um único fato sobre o qual, aparentemente, pode incidir o crime de homicídio, previsto no artigo 121 do Código Penal, ou infanticídio, previsto no artigo 123 do Código Penal. O crime de infanticídio possui núcleo idêntico ao do crime de homicídio, ou seja, reúne todos os elementos descritos no artigo 121 do Código Penal, consistentes em “matar alguém”. Todavia, além dos elementos da norma geral, o artigo 123 do Código Penal, que tipifica o delito de infanticídio, possui elementos que o especializa e diferencia do crime de homicídio: autora ser a genitora da vítima, que deve ser seu próprio filho, nascente ou neonato; prática do delito durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal. Note-se que se estabeleceu um conflito entre as normas do artigo 121 do Código Penal e artigo 123 do Código Penal, mas que é aparente, pois será solucionado pelo princípio da especialidade, prevalecendo, no caso, a norma penal que define o crime de infanticídio, já que as elementares contidas nesse crime a tornam especial em relação à norma geral que define o homicídio. 1.4.2.2. Princípio da subsidiariedade Conceito de norma subsidiária Uma norma é considerada subsidiária à outra, quando a conduta nela prevista integra o tipo da principal, significando que a lei principal afasta a aplicação da lei secundária. Há relação de subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade que a da principal é absorvida por esta. O crime de ameaça (CP, art. 147) cabe no de constrangimento ilegal mediante ameaça (CP, art. 146), o qual, por sua vez, cabe dentro da extorsão (art. 158). O sequestro 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 19 (art. 148) no de extorsão mediante sequestro (CP, art. 159). O disparo de arma de fogo (Lei 10.826/2003, art. 15) cabe no de homicídio cometido mediante disparos de arma de fogo (CP, art. 121). Há um único fato, o qual pode ser maior do que a norma subsidiária, só se pode encaixar na primária. Espécies a) Subsidiariedade Expressa ou explícita Ocorre quando a própria lei indica ser a norma subsidiária de outra. Quando a norma, em seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de maior gravidade punitiva. A própria norma reconhece expressamente seu caráter subsidiário, admitindo incidir somente se não ficar caracterizado fato de maior gravidade. Ex. Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. b) SUBSIDIARIEDADE TÁCITA OU IMPLÍCITA A subsidiariedade tácita ou implícita ocorre quando a norma penal não ressalva, de modo expresso, a sua incidência na hipótese de outra norma de maior gravidade punitiva não ser aplicável ao caso concreto. A norma subsidiária poderá incidir ainda que o legislador não tenha expressamente previsto essa possibilidade. O crime de constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal) é tacitamente subsidiário em relação ao crime de estupro (art. 213 do Código Penal). Assim, se no caso concreto, o crime mais grave (art. 213 do Código Penal) não restar caracterizado, ou seja, não ficar demonstrado que o constrangimento não teve por finalidade violar a dignidade sexual da vítima, pode- se aventar a incidência do crime de constrangimento ilegal (art. 146 do Código Penal). 1.4.2.3. Princípio da consunção Conforme o princípio da consunção, ou da absorção, o fato mais abrangente e grave consome, absorve, o fato menos abrangente e grave que figuram como meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime. Nesse caso, a norma consuntiva prevalece sobre a norma consumida. Trata-se da hipótese de o crime meio ser absorvido pelo crime fim. O conflito aparente de normas se reflete na relação de continente e conteúdo, entre a norma mais abrangente e grave e a norma que prevê conduta que serve de meio necessário ou fase de execução de outro crime. Ou, ainda, após consumar o crime visado, praticou nova conduta prevista em tipo penal específico e menos abrangente, mas que constitui mero exaurimento do crime. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 20 Prevalece, nessa hipótese, a norma penal que define o crime mais abrangente, que absorverá a norma que prevê conduta de menor amplitude, evitando-se a incidência do bis in idem. Assim, se o agente, para matar a vítima, porta ilegalmente arma de fogo, o conflito aparente entre as normas que definem os crimes de homicídio (art. 121 do Código Penal) e porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei 10.826/2003) é solucionado pelo princípio da consunção, na medida em que o crime de homicídio absorve o crime de porte ilegal de arma de fogo, que serviu como mero meio necessário para consumação do crime mais grave. Princípio da alternatividade. Diferença entre crime progressivo e progressão criminosa. https://soundcloud.com/user-204974449/oab-anual-direito-penal-nidal/s-04EhLbXoW3q?in=user-204974449/sets/oab-anual-direito-penal-nidal-ahmad-aula-01/s-w0aJp65xtXy� https://soundcloud.com/user-204974449/oab-anual-direito-penal-1/s-MuI1PwroERE?in=user-204974449/sets/oab-anual-direito-penal-nidal-ahmad-aula-01/s-w0aJp65xtXy� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 21 * Para todos verem: mapa mental sobre Conflito aparente de normas; * Para todos verem: figura de vários livros QUESTÕES DE EXAMES ANTERIORES 1) (FGV | 2020 | XXXI Exame) André, nascido em 21/11/2001, adquiriu de Francisco, em 18/11/2019, grande quantidade de droga, com o fim de vendê-la aos convidados de seu aniversário, que seria celebrado em 24/11/2019. Imediatamente após a compra, guardou a droga no armário de seu quarto. Em 23/11/2019, a partir de uma denúncia anônima e munidos do respectivo mandado de busca e apreensão deferido judicialmente, policiais compareceram à residência de André, onde encontraram e apreenderam a droga que era por ele armazenada. De imediato, a mãe de André entrou em contato com o advogado da https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 22 família. Considerando apenas as informações expostas, na Delegacia, o advogado de André deverá esclarecer à família que André, penalmente, será considerado A) inimputável, devendo responder apenas por ato infracional análogo ao delito de tráfico, em razão de sua menoridade quando da aquisição da droga, com base na Teoria da Atividade adotada pelo Código Penal para definir o momento do crime. B) inimputável, devendo responder apenas por ato infracional análogo ao delito de tráfico, tendo em vista que o Código Penal adota a Teoria da Ubiquidade para definir o momento do crime. C) imputável, podendo responder pelo delito de tráfico de drogas, mesmo adotando o Código Penal a Teoria da Atividade para definir o momento do crime. D) imputável, podendo responder pelo delito de associação para o tráfico, que tem natureza permanente, tendo em vista que o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir o momento do crime. 2) (FGV | 2019 | XXIX Exame) Em 05/10/2018, Lúcio, com o intuito de obter dinheiro para adquirir uma moto em comemoração ao seu aniversário de 18 anos, que aconteceria em 09/10/2018, sequestra Danilo, com a ajuda de um amigo ainda não identificado. No mesmo dia, a dupla entra em contato com a família da vítima, exigindo o pagamento da quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para sua liberação. Duas semanas após a restrição da liberdade da vítima, período durante o qual os autores permaneceram em constante contatocom a família da vítima exigindo o pagamento do resgate, a polícia encontrou o local do cativeiro e conseguiu libertar Danilo, encaminhando, de imediato, Lúcio à Delegacia. Em sede policial, Lúcio entra em contato com o advogado da família. Considerando os fatos narrados, o(a) advogado(a) de Lúcio, em entrevista pessoal e reservada, deverá esclarecer que sua conduta A) não permite que seja oferecida denúncia pelo Ministério Público, pois o Código Penal adota a Teoria da Ação para definição do tempo do crime, sendo Lúcio inimputável para fins penais. https://www.youtube.com/watch?v=1guFX2xlYsc&feature=youtu.be� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 23 B) não permite que seja oferecida denúncia pelo órgão ministerial, pois o Código Penal adota a Teoria do Resultado para definir o tempo do crime, e, sendo este de natureza formal, sua consumação se deu em 05/10/2018. C) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma consumada. D) configura fato típico, ilícito e culpável, podendo Lúcio ser responsabilizado, na condição de imputável, pelo crime de extorsão mediante sequestro qualificado na forma tentada, já que o crime não se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, pois não houve obtenção da vantagem indevida. 3) (FGV | 2019 | XXIX Exame) Inconformado com o comportamento de seu vizinho, que insistia em importunar sua filha de 15 anos, Mário resolve dar-lhe uma “lição” e desfere dois socos no rosto do importunador, nesse momento com o escopo de nele causar diversas lesões. Durante o ato, entendendo que o vizinho ainda não havia sofrido na mesma intensidade do constrangimento de sua filha, decide matá-lo com uma barra de ferro, o que vem efetivamente a acontecer. Descobertos os fatos, o Ministério Público oferece denúncia em face de Mário, imputando-lhe a prática dos crimes de lesão corporal dolosa e homicídio, em concurso material. Durante toda a instrução, Mário confirma os fatos descritos na denúncia. Considerando apenas as informações narradas e confirmada a veracidade dos fatos expostos, o(a) advogado(a) de Mário, sob o ponto de vista técnico, deverá buscar o reconhecimento de que Mário pode ser responsabilizado A) apenas pelo crime de homicídio, por força do princípio da consunção, tendo ocorrido a chamada progressão criminosa. B) apenas pelo crime de homicídio, por força do princípio da alternatividade, sendo aplicada a regra do crime progressivo. C) apenas pelo crime de homicídio, com base no princípio da especialidade. D) pelos crimes de lesão corporal e homicídio, em concurso formal. https://www.youtube.com/watch?v=8Lhj5ow1dNU&feature=youtu.be� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 24 4) (FGV | 2019 | XXVIII Exame) Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 10/01/2017, por decisão transitada em julgado, em 05/03/2018, à pena base de 4 anos de reclusão, majorada em 1/3 em razão do emprego de arma branca, totalizando 5 anos e 4 meses de pena privativa de liberdade, além de multa. Após ter sido iniciado o cumprimento definitivo da pena por Sílvio, foi editada, em 23/04/2018, a Lei nº 13.654/18, que excluiu a causa de aumento pelo emprego de arma branca no crime de roubo. Ao tomar conhecimento da edição da nova lei, a família de Sílvio procura um(a) advogado(a). Considerando as informações expostas, o(a) advogado(a) de Sílvio: A) não poderá buscar alteração da sentença, tendo em vista que houve trânsito em julgado da sentença penal condenatória. B) poderá requerer ao juízo da execução penal o afastamento da causa de aumento e, consequentemente, a redução da sanção penal imposta. C) deverá buscar a redução da pena aplicada, com afastamento da causa de aumento do emprego da arma branca, por meio de revisão criminal. D) deverá buscar a anulação da sentença condenatória, pugnando pela realização de novo julgamento com base na inovação legislativa. 5) (FGV | 2018 | XXVII Exame) No dia 05/03/2015, Vinícius, 71 anos, insatisfeito e com ciúmes em relação à forma de dançar de sua esposa, Clara, 30 anos mais nova, efetua disparos de arma de fogo contra ela, com a intenção de matar. Arrependido, após acertar dois disparos no peito da esposa, Vinícius a leva para o hospital, onde ela ficou em coma por uma semana. No dia 12/03/2015, porém, Clara veio a falecer, em razão das lesões causadas pelos disparos da arma de fogo. Ao tomar conhecimento dos fatos, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Vinícius, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 121, § 2º, inciso VI, do Código Penal, uma vez que, em 09/03/2015, foi publicada a Lei nº 13.104, que previu a qualificadora antes mencionada, pelo fato de o crime ter sido praticado contra a mulher por razão de ser ela do gênero feminino. Durante a instrução da 1ª fase do procedimento do Tribunal do Júri, antes da pronúncia, todos os fatos são confirmados, pugnando o Ministério Público pela pronúncia nos termos da denúncia. Em seguida, os autos são encaminhados ao(a) advogado(a) de Vinícius para manifestação. Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Vinicius poderá, no momento da manifestação para a qual foi intimado, pugnar pelo imediato A) reconhecimento do arrependimento eficaz. B) afastamento da qualificadora do homicídio. C) reconhecimento da desistência voluntária. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 25 D) reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa. 6) (FGV | 2018 | XXVI Exame) Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado crime, e se encontrava em cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João respondia a uma ação penal pela prática de crime idêntico ao cometido por Jorge. Durante o cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo por João, foi publicada e entrou em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas dos dois como criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência da lei nova, João e Jorge o procuram, como advogado, para a adoção das medidas cabíveis. Com base nas informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você deverá esclarecer que A) não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória já ter transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado primário e de bons antecedentes. B) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos civis e penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência ou maus antecedentes. C) poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos penais da condenação de Jorge, mas não os extrapenais. D) não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram praticados anteriormente à edição da lei. 7) (FGV | 2018 | XXV Exame) Francisco, brasileiro, é funcionário do Banco do Brasil, sociedade de economia mista, e trabalha na agência de Lisboa, em Portugal. Passando por dificuldades financeiras, acaba desviando dinheiro do banco para uma conta particular, sendo o fato descoberto e julgado em Portugal. Francisco é condenado pela infração praticada. Extinta a pena, ele retorna ao seu país de origem e é surpreendido ao ser citado, em processo no Brasil, para responder pelo mesmo fato, razão pela qual procura https://www.youtube.com/watch?v=h9FNCfcf4Ss&feature=youtu.be� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 26 seu advogado. Considerando as informações narradas, o advogado de Francisco deverá informar que, de acordo com o previsto no Código Penal, A) ele não poderá responder no Brasil pelo mesmo fato, por já ter sido julgado e condenado em Portugal. B) ele somente poderia ser julgado no Brasil por aquele mesmo fato, caso tivesse sido absolvido em Portugal. C) elepode ser julgado também no Brasil por aquele fato, sendo totalmente indiferente a condenação sofrida em Portugal. D) ele poderá ser julgado também no Brasil por aquele fato, mas a pena cumprida em Portugal atenua ou será computada naquela imposta no Brasil, em caso de nova condenação. 8) (FGV | 2016 | XIX Exame) Em razão do aumento do número de crimes de dano qualificado contra o patrimônio da União (pena: detenção de 6 meses a 3 anos e multa), foi editada uma lei que passou a prever que, entre 20 de agosto de 2015 e 31 de dezembro de 2015, tal delito (Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal) passaria a ter pena de 2 a 5 anos de detenção. João, em 20 de dezembro de 2015, destrói dolosamente um bem de propriedade da União, razão pela qual foi denunciado, em 8 de janeiro de 2016, como incurso nas sanções do Art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal. Considerando a hipótese narrada, no momento do julgamento, em março de 2016, deverá ser considerada, em caso de condenação, a pena de A) 6 meses a 3 anos de detenção, pois a Constituição prevê o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu. B) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei temporária tem ultratividade gravosa. C) 6 meses a 3 anos de detenção, pois aplica-se o princípio do tempus regit actum (tempo rege o ato). D) 2 a 5 anos de detenção, pois a lei excepcional tem ultratividade gravosa. 9) (FGV | 2015 | XVII Exame) John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido barco, que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de São Paulo. Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira A) não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo José ser processado de acordo com a lei estadunidense. B) é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava atracada em território nacional. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 27 C) é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em território estrangeiro, foi praticado por brasileiro. D) não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena, é competência do Tribunal Penal Internacional processar e julgar os crimes praticados em embarcação estrangeira atracada em território de país diverso. 10) (FGV | 2014 | XIII Exame) Considere que determinado agente tenha em depósito, durante o período de um ano, 300 kg de cocaína. Considere também que, durante o referido período, tenha entrado em vigor uma nova lei elevando a pena relativa ao crime de tráfico de entorpecentes. Sobre o caso sugerido, levando em conta o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, assinale a afirmativa correta. A) Deve ser aplicada a lei mais benéfica ao agente, qual seja, aquela que já estava em vigor quando o agente passou a ter a droga em depósito. B) Deve ser aplicada a lei mais severa, qual seja, aquela que passou a vigorar durante o período em que o agente ainda estava com a droga em depósito. C) As duas leis podem ser aplicadas, pois ao magistrado é permitido fazer a combinação das leis sempre que essa atitude puder beneficiar o réu. D) O magistrado poderá aplicar o critério do caso concreto, perguntando ao réu qual lei ele pretende que lhe seja aplicada por ser, no seu caso, mais benéfica. 11) (FGV | 2020 | XXXI Exame) Maria, em uma loja de departamento, apresentou roupas no valor de R$ 1.200 (mil e duzentos reais) ao caixa, buscando efetuar o pagamento por meio de um cheque de terceira pessoa, inclusive assinando como se fosse a titular da conta. Na ocasião, não foi exigido qualquer documento de identidade. Todavia, o caixa da loja desconfiou do seu nervosismo no preenchimento do cheque, apesar da assinatura perfeita, e consultou o banco sacado, constatando que aquele documento constava como furtado. Assim, Maria foi presa em flagrante naquele momento e, posteriormente, denunciada pelos crimes de estelionato e falsificação de documento público, em concurso material. Confirmados os fatos, o advogado de Maria, no momento das alegações finais, sob o ponto de vista técnico, deverá buscar o reconhecimento A) do concurso formal entre os crimes de estelionato consumado e falsificação de documento público. B) do concurso formal entre os crimes de estelionato tentado e falsificação de documento particular. C) de crime único de estelionato, na forma consumada, afastando-se o concurso de crimes. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 28 D) de crime único de estelionato, na forma tentada, afastando-se o concurso de crimes. GABARITO DAS QUESTÕES 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 C C A B B C D B B B D https://www.youtube.com/watch?v=0rRnaMzMcng&feature=youtu.be� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 29 2. Crimes omissivos, nexo de causalidade, dolo e culpa Prof. Nidal Ahmad @prof.nidal 2.1. Conduta e crimes omissivos 2.1.1. Conduta 2.1.1.1. Introdução Para a caracterização da conduta, sob qualquer aspecto, é indispensável a existência do binômio vontade e consciência. Se o agente age sem vontade dirigida a uma finalidade ou sem consciência, não haverá conduta punível. Não havendo conduta punível, não há fato típico e, por conseguinte, não haverá crime. 2.1.1.2. Ausência de conduta A doutrina costuma apontar algumas causas de exclusão da conduta, dentre elas destacam-se as seguintes: a) Coação física irresistível (“vis absoluta”) Ocorre quando o sujeito pratica o movimento em consequência de força corporal exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age voluntariamente. Neste caso, o agente é mero instrumento realizador da vontade do coator. A força física que recai sobre o agente pode partir da ação de uma terceira pessoa, que seria a figura do coator. Imaginemos que uma pessoa empurra outra contra objetos ou até mesmo contra outras pessoas. Nessa hipótese, a pessoa empurrada fisicamente danificar objetos ou lesionar pessoas não será responsabilizada por eventual crime de dano (CP, art. 163) ou lesão corporal (CP, art. 129), pois agiu sem vontade e, portanto, sem dolo ou culpa. Em síntese, na coação física irresistível, não há vontade; não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato típico. Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado pelo fisicamente coagido é atípico. Não responderá por nenhum crime. Diversa é a situação, contudo, quando se tratar de coação moral. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 30 Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação, feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato criminoso. O coagido poderá optar. No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, em face da inexigibilidade de conduta diversa. Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não há falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do Código Penal (causa de exclusão da culpabilidade). * Para todos verem: esquema b) Movimentos reflexos Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras, secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano. Nestes casos, o estímulo exterior é recebido pelos centros sensores, que o transmitem diretamente aos centros motores, sem intervenção da vontade, como ocorre, Em síntese: Coação física irresistível: causa de exclusão da tipicidade Coação moral irresistível: causa de exclusão da culpabilidade Coação moral resistível: atenuante (art. 65, III, “c”, CP) COAÇÃO FÍSICA IRRESISTÍVEL Sujeito é forçado fisicamente a praticar o fato típico CAUSA DE EXCLUSÃO DA TIPICIDADE COAÇÃO MORALIRRESISTÍVEL Sujeito é ameaçado ou intimidado a praticar o fato típico CAUSA DE EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE COAÇÃO MORAL RESISTÍVEL Sujeito é ameaçado ou intimidado a praticar o fato típico, mas poderia resistir ATENUANTE (ART. 65, III, "C", CP) 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 31 por exemplo, em um ataque epilético, tosse ou espirro. De fato, os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras. Não havendo vontade, não há conduta punível, sendo, portanto, o fato atípico. Imaginemos a hipótese do condutor de veículo automotor que não conseguiu controlar um espirro e, por frações de segundos, desviou a direção, chocando-se em outro veículo, causando lesão corporal culposa no seu ocupante. Assim, se demonstrado que perdeu o controle do seu veículo exclusivamente porque não conseguiu controlar o espirro e, por ato reflexo, desviou a direção, provocando a colisão e as lesões corporais no outro condutor, o agente não será responsabilizado pelo crime de lesão corporal culposa na condução de veículo automotor (Lei 9503/97, art. 303), uma vez que agiu sem vontade, não havendo conduta punível, sendo, portanto, o fato atípico. c) Estados de inconsciência Consciência “é o resultado da atividade das funções mentais. Não se trata de uma faculdade do psiquismo humano, mas do resultado do funcionamento de todas elas”. Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há estado de inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação. 2.1.2. Dos crimes omissivos e relevância da omissão 2.1.2.1. Considerações gerais A conduta humana não se revela apenas a partir de um movimento corpóreo, traduzido por uma ação. De fato, ao lado da ação, a conduta omissiva constitui uma forma independente de conduta humana, suscetível de ser regida pela vontade dirigida para um fim. O crime omissivo se configura quando o agente deixa de fazer aquilo que poderia e deveria fazer algo em estaria obrigado em virtude de lei. O Código Penal adotou a teoria normativa. Para a teoria normativa, a omissão é um nada, não sendo apta, portanto, a produzir qualquer resultado. Quem se omite nada faz, portanto, nada causa. Assim, a priori, o omitente não responde pelo resultado, já que não o provocou. Todavia, de modo excepcional, admite-se, por força da teoria normativa, que aquele que se omitiu seja responsabilizado pelo resultado, desde que esteja inserido em uma das hipóteses do chamado “dever jurídico de agir”. A doutrina tem catalogado como exemplos de estados de inconsciência a hipnose, o sonambulismo a narcolepsia. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 32 Em outras palavras, conforme a teoria normativa, para que a omissão tenha relevância causal (por presunção legal), há necessidade de uma norma (por isso teoria normativa) impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir. Se presente o dever jurídico de agir, pode-se responsabilizar o agente que se omitiu quando deveria agir pelo resultado gerado. E esse dever de agir para impedir o resultado se encontra inserto no artigo 13, § 2º, do Código Penal. Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão). 2.1.2.2. Crimes omissivos próprios São os que se perfazem com a simples conduta negativa do sujeito, independentemente da produção de qualquer consequência posterior. Há um tipo penal específico descrevendo a conduta omissiva. O verbo nuclear do tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito amoldar a sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente será responsabilizado por não cumprir o dever de agir contido implicitamente na norma incriminadora. Nos crimes omissivos próprios basta a abstenção, é suficiente a desobediência ao dever de agir para que o delito se consume. A obrigação do agente é de agir e não de evitar o resultado. O resultado que eventualmente surgir dessa omissão será irrelevante para a consumação do crime, podendo apenas configurar uma majorante ou uma qualificadora. * Para todos verem: esquema Ex: Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 33 2.1.2.3. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de agir, mas a obrigação de agir para evitar um resultado, isto é, deve agir com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado. O poder agir é um pressuposto básico de todo comportamento humano. Também na omissão, evidentemente, é necessário que o sujeito tenha a possibilidade física de agir, para que se possa afirmar que não agiu voluntariamente. Trata-se de uma possibilidade real e concreta do agente, no contexto da situação fática, considerando-se como padrão do homem médio, evitar o resultado penalmente relevante. Exemplo: um médico plantonista tem o dever de agir para impedir que determinado enfermo venha a óbito. Todavia, se um médico plantonista deixar de atender um paciente que falece, porque estava atendendo a outro enfermo em situação de emergência, à evidência, não poderá ser responsabilizado pela morte do paciente que aguardava atendimento. O Código Penal regulou expressamente as hipóteses em que o agente assume a condição de garantidor. De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 13, § 2º, do Código Penal: a) Ter por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar o resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível, responderá pelo resultado gerado. C R IM ES O M IS SI V O S P R Ó P R IO S DEVER DE AGIR NÃO TEM O DEVER DE IMPEDIR O RESULTADO NÃO RESPONDE PELO RESULTADO PODE CONFIGURAR MAJORANTE ou QUALIFICADORA EX: ART. 135, PARÁGRAFO ÚNICO, CP NORMA PENAL ESPECÍFICA DESCREVE CONDUTA OMISSIVA EX: ART. 135 CP ART. 244 CP MANDAMENTAL CRIME DE MERA CONDUTA NÃO ADMITE TENTATIVA 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 34 Isso porque, se o sujeito, em virtude de sua abstenção, descumprindo o dever de agir, não busca evitar o resultado é considerado, pelo Direito Penal, como se o tivesse causado. É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 e 1566, IV, ambos do Código Civil), ao dever de mútuo assistência entre os cônjuges (art. 1566 do Código Civil). Ex: Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é que o sujeito se coloque em posição de garante no sentido de que o resultado não ocorrerá. Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o agente ter assumido a responsabilidade de impedi-lo. Ex: babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamentesua obrigação de cuidar da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso, responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso. c) Com o comportamento anterior, criar o risco da ocorrência do resultado Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão. Não importa que o tenha feito voluntariamente ou involuntariamente, dolosa ou culposamente; importa é que com sua ação ou omissão originou uma situação de risco ou agravou uma situação já existente. Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico de agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 35 * Para todos verem: esquema * Para todos verem: mapa mental sobre Lei Penal no tempo. Crimes omissivos impróprios (art. 13, §2º, CP) Dever de agir + Evitar o resultado Lei Assumiu responsabilidade Criou o riscoResponde pelo resultado https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 36 2.2. Nexo de causalidade 2.2.1. Relação de causalidade 2.2.1.1. Conceito A relação de causalidade é o vínculo estabelecido entre a conduta do agente e o resultado por ele produzido. Se entre a conduta desenvolvida e o resultado não há relação de causa e efeito, não será possível atribuir ao agente o resultado gerado. Prevalece na doutrina que o vínculo que liga a conduta do agente ao resultado guarda relação com a causalidade física. Ou seja, a expressão “resultado” inserida no artigo 13 do Código Penal alcança apenas os crimes materiais, cujo resultado é naturalístico, que produzem a modificação no mundo externo. Nos crimes formais (que não exigem a produção do resultado para sua consumação) e de mera conduta (crimes sem resultado) não se mostra necessário o estudo da relação de causalidade, pois tais crimes se consumam com a realização da conduta do agente. 2.2.1.2. Espécies de causas Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo ou liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime. Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-se de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade. Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o resultado. É a chamada concausa. Esta “concausa” pode ser absolutamente independente ou relativamente independente, dependendo se teve ou não origem na conduta do agente. 2.2.1.2.1. Causas absolutamente independentes São aquelas que não têm origem na conduta do agente. A expressão “absolutamente” serve para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São causas que não se inserem na linha do desdobramento natural da conduta do agente, ou seja, causas inusitadas, desvinculadas da ação do agente, surgindo de fonte distinta. Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta. Há, na verdade, uma quebra do nexo causal. São três as espécies de causas absolutamente independentes. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 37 a) Preexistentes Trata-se de causa que existia antes da conduta do agente e produzem o resultado independentemente da sua atuação. Ou seja, com ou sem a ação do agente o resultado ocorreria do mesmo modo. Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o resultado morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado o disparo o resultado ainda assim se produziria). É preexistente porque essa outra causa (veneno) já existia antes da ação do agente. b) Concomitantes São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que a ação é realizada. Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou o resultado morte foi outra causa (o ataque cardíaco). O ataque cardíaco se trata de causa independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado desferido o golpe o resultado ainda assim se produziria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) ocorreu exatamente no momento da ação do agente. c) Supervenientes São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta desenvolvida pelo agente. Ex: O agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no entanto, vem a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, mas porque antes ingerira veneno com a intenção de suicidar. Ex: “A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a falecer exclusivamente por força de um ataque cardíaco. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 38 Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o resultado morte foi outra causa (desabamento ou incêndio). O desabamento ou incêndio trata-se de causas independente da conduta do agente (porque por si só produziram o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o resultado ainda assim se produziria). É superveniente porque essa outra causa (desabamento ou incêndio) ocorreu depois da conduta do agente. Quando a causa é absolutamente independente da conduta do sujeito, o problema é resolvido pelo caput do art. 13: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou seja, o agente responde somente por aquilo que deu causa. Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o dolo era de matar, o agente responderia por tentativa de homicídio. 2.2.1.2.2. Causas relativamente independentes Causas relativamente independentes são aquelas que tiveram origem na conduta do agente. Ou seja, essas causas somente surgiram porque o agente desenvolveu uma conduta. Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando dentro da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas relativamente independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente. Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, que, ao final, conduzem ao resultado lesivo. Ex: “A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes do veneno produzir efeitos, há um desabamento ou incêndio na casa da vítima, que morre exclusivamente por conta dos escombros que caíram sobre sua cabeça ou queimada pelo fogo. CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 39 Também são três as espécies de causas relativamente independentes. a) Preexistentes A causa que efetivamente gerou o resultado já existia ao tempo da conduta do agente, que concorreu para a sua produção. Nesse caso, há a conduta do agente (golpe defaca), mas o que desencadeou efetivamente o resultado morte foi outra causa (hemofilia). Essa outra causa é independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não ocorreria). É preexistente porque essa outra causa (hemofilia) já existia ao tempo da ação do agente. Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. Isso, porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente exige que ele tenha conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou que, pelo menos, que lhe fosse previsível (indicativo de culpa). Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não lhe era previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo delito de tentativa de homicídio (se agiu com a intenção de matar). Da mesma forma, se pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão da hemofilia, desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemorragia, o agente somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal. b) Concomitantes A causa que efetivamente produziu o resultado surge no exato momento da conduta do agente. Ex: “A”, com a intenção de matar, desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado fisiológico. No caso, o golpe isoladamente seria insuficiente para produzir o resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de forma independente, produzindo por si só o resultado. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 40 Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra causa é independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não ocorreria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) já existia ao tempo da ação do agente. Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha concorrido para ele com dolo ou culpa. c) Supervenientes A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta praticada pelo agente. Nesse caso, há a conduta do agente (golpe de faca), mas o que desencadeou efetivamente o resultado morte foi outra causa (traumatismo decorrente do acidente). Essa outra causa é independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada, a vítima não estaria na ambulância e, portanto, não teria falecido por conta do acidente). É superveniente porque essa outra causa (traumatismo pelo acidente) surgiu depois da conduta do agente. Ex: considera-se o ataque à vítima, por meio de faca, que, no exato momento da agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a soma desses fatores (causas) produziu a morte, já que a agressão e o ataque cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o resultado morte. Ex. O agente desfere um golpe de faca contra a vítima, com a intenção de matá-la. Ferida, a vítima é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por esse motivo, a falecer. A causa é independente, porque a morte foi provocada pelo acidente e não pela facada, mas essa independência é relativa, já que, se não fosse o ataque, a vítima não estaria na ambulância acidentada e não morreria. Tendo atuado posteriormente à conduta, denomina-se causa superveniente. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 41 * Para todos verem: mapa mental, Na hipótese das causas supervenientes, embora exista nexo físico-naturalístico, a lei, por expressa disposição do art. 13, § 1º, CP, que excepcionou a regra geral, exclui a imputação do resultado ao agente, devendo, no entanto, responder pelos atos anteriormente efetivamente praticados. Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos anteriores, que, no caso, foi tentativa de homicídio. CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá pelos atos anteriores praticados, no caso, lesão corporal (leve, grave ou gravíssima). https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 42 2.3. Dolo e culpa 2.3.1. Crime Doloso 2.3.1.1. Introdução Conforme dispõe o artigo 18, I, do Código Penal, o crime será doloso “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Essa previsão legal equipara dolo direto e dolo eventual. O conceito de dolo, à evidência, é muito mais abrangente e complexo do que aquele atribui pela lei penal. Com o sistema finalista, o dolo passou a integrar a conduta, elemento do fato típico. Trata-se de um elemento psicológico introduzido no tipo penal, característico do crime doloso. Nesse sentido, no crime doloso, o agente desenvolve uma conduta com vontade e consciência dirigida a produzir determinado resultado. É a vontade e consciência voltadas a realizar a conduta descrita no tipo penal incriminador. É, em síntese, a consciência e vontade de realizar o tipo objetivo 2.3.1.2. Teorias do dolo Há três teorias a respeito do dolo: a) Teoria da representação Para essa teoria, o dolo se caracteriza pela mera previsão do resultado. É suficiente que o resultado seja previsto pelo sujeito. Não é necessária a presença do elemento volitivo, sendo irrelevante, pois, se o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Basta, para essa teoria, a representação ou previsão da produção de determinado resultado. Teoria da equivalência dos antecedentes causais. https://soundcloud.com/user-204974449/1-teoria-da-equivalencia-dos/s-ReA3pRsc6lH?in=user-204974449/sets/oab-anual-1/s-8me6wDfJ3LH� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 43 Essa teoria não é aplicada no nosso ordenamento jurídico, uma vez que a mera representação não permite concluir que o agente tenha, ao menos, assumido o risco na produção do resultado. Além disso, embora previsível a produção de determinado agente, pode ocorrer de o agente confiar que ele não se produzirá ou que terá habilidade suficiente para evitar a sua produção. Note-se, pois, que essa teoria confunde dolo com culpa consciente, não sendo, pois, aplicada. b) Teoria da vontade O dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Para essa teoria, além da representação do resultado, deve o agente agir com vontade na sua produção. Assim, o agente deve prever o resultado (consciência) e querer produzi-lo (vontade). É a teoria adotada no dolo direto, nos termos do artigo 18, inciso I (1ª parte), do Código Penal. c) Teoria do Assentimento (ou Consentimento) Essa teoria complementa a teoria da vontade, introduzindo no conceito de dolo a concepção da assunção do risco na produção do resultado. Para essa teoria, dolo é o assentimento do resultado, acrescido da aceitação do risco de produzi-lo. Ou seja, há a previsão do resultado e, embora não o deseje diretamente, o agente assume o risco de produzi-lo, sendo, ainda, indiferente às consequências decorrentes da sua conduta. É a teoria que retrata o dolo eventual, nos termos do artigo 18, inciso I (2ª parte), do Código Penal. 2.3.1.3. Algumas espécies de dolo a) Dolo direto e dolo indireto Dolo direto, também chamado dolo determinado,intencional, imediato ou incondicionado, é aquele que se caracteriza pela vontade do agente estar dirigida especificamente à produção do resultado típico, abrangendo os meios utilizados para tanto. No dolo direto o agente quer o resultado por ele anteriormente representado. Tomemos como exemplo o agente que, pretendendo subtrair coisa alheia móvel, mediante emprego de grave ameaça, anuncia o assalto e desapossa a vítima dos bens que estavam em seu poder. Nesse caso, a vontade do agente é dirigida a produzir o resultado decorrente do crime de roubo (CP, art. 157). Da mesma forma, se o agente desfere golpes de faca na vítima com a intenção de matá-la, desenvolve sua conduta com o dolo direto de praticar o crime de homicídio (CP, art. 121). 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 44 No dolo indireto ou indeterminado, o agente não tem a vontade dirigida a um resultado determinado. Subdivide-se em dolo alternativo e dolo eventual. Dolo alternativo é aquele em que o agente dirige sua conduta com a intenção de provocar qualquer dos resultados possíveis. Assim, se o agente desferir disparos de arma de fogo contra o seu desafeto, com a intenção de matar ou lesionar, responderá por homicídio, se o resultar na morte da vítima. Agora, o dolo alternativo se revela mais intenso quando não resultar morte da vítima, mas apenas lesões corporais. Nesse caso, poderia surgir a dúvida sobre o enquadramento típico da conduta do agente, se responderia por tentativa de homicídio ou lesão corporal. E, no caso de dolo alternativo, o agente sempre responderá pelo resultado mais grave. No exemplo dado, responderá por tentativa de homicídio. Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é, admite e aceita o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente não quer o resultado (se desejasse, seria dolo direto), mas, mesmo prevendo a realização do resultado, segue em diante na sua conduta assumindo o risco de produzi-lo. Em relação ao dolo eventual, adota-se a teoria do consentimento ou assentimento, inserta na expressão “assumiu o risco de produzi-lo”, encartada no artigo 18, I, do Código Penal. Tomemos como exemplo a conduta do agente que pretende atirar contra o seu desafeto, que se encontra conversando com outra pessoa. O agente prevê que também pode atingir a outra pessoa, mas segue em diante na sua conduta, assumindo o risco de errar o disparo contra o seu desafeto e atingir a outra pessoa, sendo-lhe indiferente quanto ao resultado que possa a vir ser produzido em relação ao terceiro. Se efetuar disparos matando o seu desafeto e também a outra pessoa, o agente responderá por dois crimes de homicídio: o primeiro, a título de dolo direto; o segundo, a título de dolo eventual. b) Dolo geral (erro sucessivo) Dolo geral é aquele em que o agente desenvolve uma conduta voltada a uma determinada finalidade e, acreditando ter alcançado o seu intento, realiza, na sequência, outra conduta que efetivamente produz o resultado desejado. O dolo geral incide naquele grupo de casos em que há acontecimentos em dois atos. O sujeito acredita ter produzido o resultado na primeira parte da ação, quando, na realidade, o resultado foi realizado somente com a segunda parte da ação. Exemplo: Genro, não suportando mais a sogra, delibera por matá-la. Para tanto, coloca veneno na sua bebida. Supondo ter matado a sogra, o genro, para se livrar do corpo e, portanto, ocultar o cadáver, joga a vítima no rio. Alguns dias depois, o corpo da vítima é localizado e, após ser submetido à exame necroscópico, verifica-se que, na 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 45 realidade, a morte ocorreu não pelo veneno, mas por força de asfixia provocada por afogamento. Nota-se que há um erro no nexo causal, pois o agente supôs ter matado a vítima por força do emprego de veneno, quando, na realidade, acabou causando-lhe a morte por afogamento. No momento em que imaginava estar simplesmente ocultando o cadáver, atingia a consumação. Em outras palavras, no momento em que ministrou o veneno, o agente tinha o dolo de matar, agindo, ainda, com consciência e vontade em relação aos elementos do tipo objetivo que define o crime de homicídio (CP, art. 121). Trata-se de dolo geral, que abrange toda a conduta desenvolvida pelo agente até a consumação, até porque a conduta delitiva pode ser desenvolvida em vários atos ligados por planejamento delitivo único. Assim, havendo plano delitivo único, os vários atos sucessivamente praticados compõem uma única conduta. Assim, se há única conduta composta por vários atos, basta que o dolo exista no momento da realização da conduta, não sendo necessário que persista até o último ato. Logo, no nosso exemplo, o genro deverá ser responsabilizado por homicídio doloso consumado, desprezando-se o erro incidente sobre o nexo causal, uma vez que a conduta desenvolvida pelo agente, ainda que dividida em dois atos, está abrangida pelo dolo geral, que acompanhava sua ação durante todo ato executório até alcançar o resultado desejado. c) Dolo de primeiro grau e dolo de segundo grau A primeira parte do artigo 18, inciso I, do Código Penal, em que o agente quis o resultado abrange o dolo direto de primeiro grau e de segundo grau. No dolo de primeiro grau, o agente desenvolve conduta com vontade e consciência de atingir determinado resultado. O dolo do agente é voltado a atingir um único bem jurídico, produzindo, pois, único resultado. Em síntese, no dolo direto de 1º grau, o resultado obtido era o objetivo principal da conduta. Exemplo: agente que sai ao encalço e mata a vítima pretendida. No dolo de segundo grau ou de consequências necessárias, o agente desenvolve conduta com vontade e consciência dirigida a produzir determinada resultado. Todavia, os meios empregados para alcançar o resultado desejado inexoravelmente produziram consequências necessárias, de efeitos colaterais de verificação certa. Em outras palavras, o dolo do agente, num primeiro momento, não está relacionado aos efeitos colaterais decorrentes da sua conduta, mas age consciente de que ocorreram, caso se produza o resultado originariamente pretendido. 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 46 Imaginemos que o agente toma conhecimento que seu desafeto irá realizar uma viajem de carro com mais três amigos. Com a intenção de matar a vítima determinada, instala uma bomba no veículo, que, dada a potência da explosão, provoca a morte de todos os ocupantes do veículo. No caso, ainda que o agente pretendesse matar somente o seu desafeto, agiu consciente que sua conduta provocaria necessariamente a morte dos demais passageiros do veículo. Tem-se, em relação aos demais passageiros, o dolo direto de 2º grau ou dolo de consequências necessárias. * Para todos verem: mapa mental. Dolo geral. https://soundcloud.com/user-204974449/2-dolo-geral/s-3rcQeDusuNK?in=user-204974449/sets/oab-anual-1/s-8me6wDfJ3LH� https://ceisc.com.br/LINK_PODCAST_AQUI� 1ª Fase | XXXIV Exame de Ordem Direito Penal 47 2.3.2. Teoria do crime culposo 2.3.2.1. Introdução É a conduta humana voluntária desenvolvida sem observar o dever de cuidado objetivo, que, por imprudência, negligência ou imperícia, produz um resultado involuntário, objetivamente previsível, que poderia ter sido evitado. No sistema finalista, a culpa passou a integrar o elemento normativo da conduta, uma vez que, para verificar sua incidência, deve-se realizar juízo de valor, levando-se em conta o caso concreto. Os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos, limitando-se a descrever “se o crime é culposo, a pena será de ...”, sem especificar minuciosamente a conduta delitiva. A culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo, dada a absoluta impossibilidade de o legislador prever e descrever todas as formas de realização da conduta culposa. Com efeito,
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