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Bases neurobiológicas da dependência 1 Bases neurobiológicas da dependência Psicotrópicos e drogas de abuso DEPENDENTE → pessoas para quem o desejo de sentir os efeitos de uma droga ultrapassa qualquer consideração pelos graves problemas físicos, sociais ou psicológicos que esta possa causar ao indivíduo ou a outros. PSICOTRÓPICO → fármaco com atuação no SNC obs.: antidepressivos não causam abstinência (não é droga de abuso), mas podem ter efeitos físicos após cessar uso devido à tolerância DROGA DE ABUSO → quando causa problemas individuais e sociais → incluem fármacos, substâncias não-medicinais e plantas; associado à busca por efeitos hedônicos (euforia, humor, sedação, alucinação) ou automedicação (valor etnofarmacológico - para o desenvolvimento de novas terapias) Bases neurobiológicas da dependência 2 Uso abusivo de substâncias "Nichos" sociais e culturais na escolha da droga - substâncias ilícitas não são maior causa de morte (opioides). Danos causados pelo uso de drogas Extensão em esferas sociais, psicológicas e físicas: Alterações físicas → cirrose, necrose septal, bronquite; associada ao "uso nocivo" - pouco uso já traz danos Sequelas neurológicas → anfetaminas, etanol; associada ao "uso nocivo" Efeitos "indiretos" → carcinogênese, tabagismo; associada ao "uso nocivo" Riscos de administração → HIV, hepatites, infecções; associada ao "uso nocivo" Susceptibilidade psiquiátria → psicose funcional - cocaína, maconha Uso criminoso → BZDs e "boa-noite cinderela" Sobredosagem e morte Tudo isso além da depenência. Bases neurobiológicas da dependência 3 Uso abusivo de drogas Associado ao uso continuado/crônico sem controle. Envolve componentes psicológicos e fisiológicos. Envolvimento intenso na obtenção/consumo (ritual). Uso escalonado e pesado (aumento do risco). Vias de recompensa e prazer Via mesolímbica dopaminérgica de reforço (prazer/hábito) - projeções da área tegmentar ventral (VTA) para núcleo accumbens, córtex pré-frontal, hipocampo, amígdala e áreas estriatais (formação de hábito). Relacionada com sexo, alimentação, hidratação (sobrevivência) - reforço positivo. O aumento da [DA] no núcleo accumbens prediz recompensa. Quanto maior o reforço (liberação de DA), maior o potencial abusivo. Em dependentes, há antecipação ao uso da droga em dependentes (liberação de DA no n. accumbens). AUMENTO DA [DA]: DIRETA → "excitação" da VTA (estimulação) - relacionado a estimulantes INDIRETA → redução da inibição tônica GABAérgica da VTA (desinibição) - relacionado a opioides, sedativos etc - neurônios da VTA são inibidos por interneurônios GABAérgicos (inibidos por opioides) Por isso que drogas diferentes podem gerar efeitos semelhantes, pois afetam a via como um todo e não só um local. Drogas de abuso "usurpam" vias fisiológicas de reforço positivo (prazer frente à realização de um comportamento) - caracterização do potencial reforçador da droga de abuso (relacionado ao potencial de dependência). Relacionado à impulsividade e "tomada de risco" (D1, D2, D3) - o quanto a droga de abuso pode estimular essa impulsividade. obs.: reforço positivo → prazer/vantagem frente a um determinado comportamento; organismo estimula a realização de tal comportamento para sentir novamente esse prazer/vantagem A administração da droga, em um contexto de "pistas", gera uma recompensa e cria um reforço positivo em busca dessa recompensa (imediata e breve; sofre tolerância). Com isso, cria-se um condionamento "positivo", em que tais "pistas" geram vontade (indução) de obter tal recompensa novamente = dependência. Antagonistas modificadores de resposta podem alterar esse ciclo e modificar a recompensa. Bases neurobiológicas da dependência 4 Dependência psicológica Necessidade de "repetir" a experiência prazerosa (fissura) Memória associativa intensa (NA/DA e LTP - potencialização de longo prazer, relacionado a memórias) Associado ao efeito imediato (prazer) e rebote ("contrabalanço") Fissura (obsessão, ânsia) e uso compulsivo (binge) Aumento da fissura = estresse (padrão de automedicação), pistas e evitar efeito rebote (aversivo) Principal causa de recaída = componente psicológico (mesmo em abstinência crônica) Tolerância aos efeitos Relação direta com a dependência física: Diminuição do efeito farmacológico da substância (cinética/dinâmica) Dessensibilidade (drogas que ativam receptores)/sensibilização (drogas antagonistas de receptores) de receptores Alteração na via de transmissão afetada (abstinência) NÃO acontece com toda droga obs.: drogas que não sofrem tolerância, mas sim dessensibilização → cocaína (curto prazo; longo prazo = aumento de dose por reforço positivo psicológico) Dependência física Componente fisiológico da síndrome de retirada (abstinência) - ao cessar o uso ou antagonizar o mecanismo geral SINTOMAS → tremor, ansiedade, sudorese, insônia, convulsão - duração variável. Menos relevante em causar recaídas do que fissura (incontrolável). Chega um ponto da dependência que a pessoa não usa para buscar prazer, mas sim para evitar sintomas de abstinência. Bases neurobiológicas da dependência 5 ex.: metadona para tratamento de heroína - sem sintomas de abstinência, mas dentro dos níveis de normalidade Farmacocinética impacta na magnitude e duração → quando menor o tempo de meia-vida (e mais rápida a eliminação) e mais rápida a ação, pior será a abstinência "Contrarregulação" do organismo à presença da droga → adaptação de receptores e plasticidade sináptica (altera a excitabilidade neuronal - inibitório/excitatório = alterações a longo prazo) - indivíduo que usou uma vez tem mais probabilidade de usar novamente Tolerância, dependência e abstinência Cocaína e anfetaminas USO AGUDO → excitação por aumento da [monoaminas]; por conta do aumento da concentração de monoaminas, como a DA, há o mecanismo contrarregulatório de diminuição da liberação de DA USO CRÔNICO → menor produção de DA, redução de receptores pós-sinápticos e aumento de transportadores de DA (recaptadores) ABSTINÊNCIA → falta de DA Álcool USO AGUDO → ativação de receptores GABAérgicos e inibição de receptores NMDA de glutamato USO CRÔNICO → redução de receptores GABA (principalmente, os mais sensíveis - ficam expostos os menos sensíveis) e aumento de receptores NMDA (ficam os mais sensíveis - maior condutância de Ca2+) = maiores doses para o mesmo efeito ABSTINÊNCIA → muitos receptores NMDA geram aumento da excitabilidade, ansiedade e convulsões Bases neurobiológicas da dependência 6 Opioides USO AGUDO → hiperpolarização, diminuição de liberação de neurotransmissores (GABA) euforia USO CRÔNICO → fosforilação e degradação de receptores, diminuição de transdução de sinais, aumento da liberação de neurotransmissores e sintomas de abstinência; ABSTINÊNCIA → disforia, diarreia, lacrimejamento, dilatação pupilar Dependência física Retirada da droga ou uso de antagonistas, em contextos de "pistas" associadas à descontinuação da droga, gera um reforço negativo (ação para parar o estímulo negativo = uso da droga) e síndrome de abstinência (tarde e longa, sofre sensibilização). Com isso, cria-se um condicionamento "negativo", em que tais "pistas" trazem memórias e sentimentos associados à síndrome de abstinência e, logo, há comportamentos para evitá-la. Agonistas e controle sintomático são utilizados para síndrome de abstinência. Bases neurobiológicas da dependência 7 Potencial abusivo de substâncias Farmacocinética influencia o potencial abusivo. 1. Efeitos rápidos ("zumbido") com chegada no SNC - crack e heroína 2. Efeitos tardios/prolongados prazerosos ("onda") Podem ter efeitos rápidos e/ou tardios. Relacionada com: Facilidade de uso (oral, aspirado, inalado) e custo Biodisponilidade e intensidade de efeito (inalado ou iv) - relacionada ao abuso O mecanismo de ação influencia o potencial abusivo → como a droga modula as vias de recompensa (direta ou indiretamente) Opioides → indireto → alta dependência/abuso Barbitúricos→ dependência/abuso Álcool → dependência/abuso BZD → "moderado" Psicoestimulantes → direto → alta dependência/abuso Alucinógenos → pouca dependência/abuso Bases neurobiológicas da dependência 8 Fatores que afetam o uso de drogas Droga X genética (50%) X ambiente. Risco de abuso Risco de dependência Bases neurobiológicas da dependência 9 A espiral da dependência e mudança motivational → no início, há maior reforço positivo (busca de recompensa), mas com o tempo, há maior reforço negativo (evitar efeitos aversivos). FISSURA → relacionado com compulsão (e impulsividade) e antecipação e fissura (córtex pré-frontal, hipocampo, amígdala, ínsula). COMPULSÃO → via dopaminérgicas ABSTINÊNCIA → sistema límbico (amígdala) Relação direta ou indireta entre fissura, compulsão, abstiência, efeitos físicos e psicológicos. Bases neurobiológicas da dependência 10 A espiral da dependência consiste na uso de maiores quantidades, o que gera preocupações quanto ao uso, efeitos e obtenção da droga, o que aumenta o desejo da droga, gera compulsões, reforço negativo, comprometimento da vida social ocupacional etc e dependência. Recaídas Relacionada à memória. O uso de drogas gera memórias e aprendizado relacionado ao prazer e à recompensa. Uso de drogas: VTA —DA→ n. accumbens = liberação de DA facilita a formação de memórias e leva à formação de mais receptores NMDA. Uso descontrolado: VTA —DA DA DA DA→ n. accumbens e mais ativação de NMDAr, o que aumenta ainda mais os receptores NMDA. Com o aumento de receptores e sinapses, só a antecipação já gera estímulos positivos. Recaída: o número de receptores continua sendo maior, mesmo após cessação do uso da droga. Logo, em momentos de estresse, "pistas" (alta liberação de DA e glutamato), a excitação hiperativa a via e traz fissura. Se a pessoa usar na recaída, a liberação de DA é muito grande, o que ativa intensamente a via e aumenta as chances de recaídas. Tratamento e manejo BZD, antagonistas beta-adrenérgicos, substituintes (como a metadona, adesivos de nicotina), diminução de reforço positivo (naltrexona), aumento de reforço negativo (dissulfiram), redução de consumo (bupropiona, topiramato). Bases neurobiológicas da dependência 11 Impacto da dependência Crack como droga ilícita de maior impacto no Brasil. A desinformação à serviço das drogas lícitas podem fomentar o uso indiscriminado. Acidentes, internações, intoxicações.
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