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Unidade 2 - Educação e Sexualidade

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EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE
UNIDADE 2 – ETAPAS DO 
DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE 
CRIANÇAS E ADOLESCENTES E VIOLÊNCIA 
INFANTIL
Autoria: Ravelli Henrique de Souza - Revisão técnica: Mariane Paludette 
Dorneles
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Introdução
Apresentar o desenvolvimento humano na sua integralidade e
na sua organização completa faz parte das discussões tanto
para a Psicologia, que atua diretamente na compreensão dos
elementos que perpassam o desenvolvimento e nele interferem,
quanto para a Educação, ao compreender as relações
importantes que tal área precisa assimilar para que possa
elaborar suas práticas adequadas ao desenvolvimento do
indivíduo.
Entender quem é o(a) estudante, quais são suas características e como ele(ela) pode agir ou reagir em diferentes
situações pode contribuir para a discussão das propostas apresentadas pela Psicologia do Desenvolvimento.
Identificar aspectos que se relacionam especificamente ao desenvolvimento humano e que também fazem essa
interface com a Educação é algo essencial para que se tenha uma visão do todo, do ser humano como um ser
integral, ainda que as teorias façam uma divisão de pontos a serem observados no desenvolvimento ou mesmo
uma subdivisão de idades ou momentos de vida. Compreender essa integralidade é essencial!
Desse modo, perguntamos: Quais são as etapas do desenvolvimento psicossexual de crianças e de adolescentes, e
o que podemos compreender com elas? O que a Psicanálise explica sobre o despertar da sexualidade? De onde
vêm os abusos infantis e quais seus dados estatísticos? Como identificar possíveis sinais de abuso infantil na
escola por intermédio dos contos literários infantis (contos de fadas)?
Visando responder a tais questionamentos, esta unidade remete a abordagens psicanalíticas e pós-
estruturalistas com o objetivo de buscar um senso crítico e reflexivo para docentes e discentes.
Bons estudos!
2.1 Etapas do desenvolvimento psicossexual de crianças e 
adolescentes
As etapas do desenvolvimento psicossexual de crianças e adolescentes, de acordo com a teoria psicanalítica são:
oral, anal, fálica, de latência e genital, as quais serão discutidas ao longo da sessão. Porém, é preciso entender
que, de acordo com Furlani (2011), a educação sexual deve começar a partir da infância, visto que as etapas do
desenvolvimento psicossexual para diversos educadores só são aceitáveis no Ensino Fundamental (6º e 9º anos)
com base em um entendimento raso e hegemônico sobre a sexualidade, pautado em uma ideia de “iniciação
sexual”, atrasando a educação das crianças. Desse modo, a descoberta corporal e o desenvolvimento da
sexualidade devem ser conteúdos “[...] abordados com crianças nos anos finais da educação infantil (4º e 5º
anos) e nos primeiros anos do Ensino Fundamental (6º e 7º anos) ” (FURLANI, 2011, p. 68). É necessário lembrar
que essa fase de desenvolvimento indicado pode variar entre as crianças, já que elas se desenvolvem
diferentemente, dentro de suas subjetividades.
O desenvolvimento do corpo da criança, aliado ao desenvolvimento das capacidades de pensar e de
compreender, apresenta-nos crianças mais ativas, que querem brincar! Esse é o momento em que as diferenças
individuais se tornam mais claras e podem ser medidas para além das questões sexuais.
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Entre os progressos dessa fase, está a função simbólica, em que percebemos que a criança representa e reflete
mentalmente acerca das pessoas, objetos e acontecimentos. Elas também são capazes de compreender a ideia de
identidade de gênero, as relações de causa e efeito, e estão desenvolvendo competência na habilidade de
classificar e compreender o mundo a seu redor.
É interessante perceber a crescente facilidade da linguagem da criança nesse período, bem como as ideias com
que vai criando o “seu mundo”. Quanto mais aproveitam a inteligência e a memória resolvendo problemas, mais
podemos observar, medir e distinguir as diferenças individuais entre as crianças da mesma fase, porque as
identidades de gênero se manifestam de múltiplas formas. Ainda com relação à linguagem, notamos que é um
período no qual as crianças fazem muitas perguntas a respeito de “tudo” e alcançam grandes habilidades
linguísticas de maneira acelerada, em especial em relação ao sexo e à sexualidade.
Considera-se que os anos fundamentais para o desenvolvimento psicossocial encontram-se no período entre três
e seis anos, sendo que, nesse período, percebe-se que, à medida que o autoconceito progride nessas crianças,
elas aumentam seu conhecimento sobre si, desvendam de que sexos são e começam a agir de acordo com ser
menino ou menina. Também se mostram mais hábeis nas condutas e nas habilidades sociais, e têm amigos e
companheiros de jogos.
Embora o senso de identidade possa sugerir algo muito pessoal, ele tem raízes sociais. As crianças aliam a seu
autoconceito (que é a imagem que têm de si mesmas e que determina como se sentem quanto a si e dirige suas
ações), um entendimento de como são vistas pelos outros. Alertamos para o fato de que o autoconceito se
desenvolve gradativamente por toda a vida. Outro ponto importante é o desenvolvimento da autoestima.
A autoestima é avaliação do nosso próprio valor. Para o desenvolvimento da autoestima, é imprescindível o
apoio social dos pais, dos professores e dos companheiros.
O desenvolvimento cognitivo que acontece durante a terceira infância permite às crianças desenvolverem
considerações mais realistas e mais elaboradas de si mesmas e de suas possibilidades de sobrevivência. À
medida que as crianças começam a se olhar como uma “preciosa” parte integrante da sociedade, ocorre o
desenvolvimento de sua autoestima, fortalecendo, também, as relações saudáveis com outras pessoas e
ampliando suas relações com o mundo externo e com pessoas para além de sua família. O mundo social passa
por grande expansão nesse momento.
2.1.1 Desenvolvimento psicossocial e sexual na adolescência
A adolescência é um período de muitas mudanças devido às alterações hormonais da puberdade. Percebemos
que o adolescente vai se transformando conforme vai aumentando sua competência em lidar com as abstrações.
Interessante como seus sentimentos se alteram a respeito de quase tudo. Entendemos que todas as extensões do
desenvolvimento vão para uma mesma direção quando os adolescentes se deparam com sua principal tarefa:
constituir uma identidade adulta.
Você quer ler?
Realize a leitura do artigo “Adolescência através dos séculos”, das autoras Teresa
Helena Schoen-Ferreira e Maria Aznar-Farias. Esse artigo busca descrever qual a
forma de tratamento concedida aos adolescentes desde a Antiguidade até os dias de
hoje com informações interessantes.
Acesse
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n2/a04v26n2.pdf
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Quando falamos em adolescência, não temos um ponto de início e fim. Utilizamos o advento da puberdade como
início da adolescência. A puberdade não é o mesmo que a adolescência, mas acontece na adolescência e é uma
“marca” orgânica.
A puberdade tem início quando a glândula pituitária, que se encontra na base do cérebro, manda uma mensagem
para as glândulas sexuais a fim de aumentar a secreção hormonal. A partir daí, começam mudanças biológicas
que irão proporcionar um crescimento acelerado tanto em altura quanto no peso, que só perdem em ritmo para
o crescimento que ocorre na primeira infância. As mudanças nas extensões e nas formas do corpo continuam até
a chegada da maturidade sexual.
Essas transformações fazem parte de um longo e complicado processo de maturação, iniciado antes mesmo do
nascimento, e suas subdivisões psicológicas continuam até a idade adulta. As mudanças físicas durante a
puberdade compreendem, nas meninas, o início da menstruação. Já nos meninos, o amadurecimento dos órgãos
reprodutivos, a produção dos espermatozoides, o desenvolvimento de pelos pubianos, a voz mais grave e o
crescimento muscular. Os adolescentes, por vezes, apresentam uma aparência descuidada, porque as mudanças
físicas ocorrem seguindo um ritmo próprio e algumas partes do corpo ficam desproporcionais poralgum tempo.
Os adolescentes, por vezes, apresentam uma aparência descuidada, porque as mudanças físicas ocorrem
seguindo um ritmo próprio e algumas partes do corpo ficam desproporcionais por algum tempo.
Os órgãos sexuais, necessários para a reprodução, são chamados de caracteres sexuais primários. Tais órgãos
(ovários, útero e vagina, nas meninas; e testículos, próstata, pênis e vesículas seminais, nos meninos) crescem e
amadurecem na puberdade.
Analisando as definições psicológicas, consideramos que o amadurecimento cognitivo acontece junto com a
possibilidade do pensamento abstrato. A maturação emocional pode estar sujeita à nossa capacidade de
independência dos pais, à descoberta da identidade, à formação de valores e de relacionamentos. É sabido que
algumas pessoas não deixam de ser adolescentes, mesmo que sua idade cronológica esteja avançada (WAGNER,
2019).
Um tema principal no decorrer da adolescência é a busca da identidade. Nessa busca, estão presentes elementos
valorativos ocupacionais e sexuais. Vamos recorrer à perspectiva teórica proposta por Eric Erickson (1972), que
apresenta a crise psicossocial desse período: a proposta é confrontar a crise de identidade versus confusão de
identidade ou de papel; daí, haveria a possibilidade de transformar-se em um adulto com um senso de
identidade apropriado e ter um papel apreciado na sociedade. Essa crise apresentada por Erickson (1972)
dificilmente se resolve por completo na adolescência; essas questões podem surgir por várias vezes durante a
vida adulta. A tão almejada identidade vai se formando à medida que resolvemos três questões importantíssimas:
qual vai ser nossa ocupação
quais valores vamos adotar para crer e viver com base neles
o desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória
A seguir, vamos conhecer as questões envolvidas com a educação.
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2.1.2 Questões envolvidas com a educação
Conforme os ensinamentos da teoria psicanalítica, todo ser humano tem alguns aspectos relacionados à neurose,
visto que todos têm seus desejos reprimidos em algumas instâncias, em determinados momentos, o que
interfere na organização da vida consciente e cotidiana, provocando, dessa forma, certo grau de desconforto.
Ainda segundo os pressupostos psicanalíticos, nossas relações pessoais são permeadas por influências de
energias psíquicas desconhecidas que surgem em “locais” obscuros e inatingíveis, em geral ligadas ao
inconsciente.
Portanto, os desejos e os motivos conscientes, que se julga conhecer e dominar, são apenas simulacros dos
aspectos que realmente habitam o inconsciente (WAGNER, 2019). Considerando essas questões como
verdadeiras, pode-se perceber que o relacionamento entre professor e aluno não se configura como uma
situação tão simples quanto possa parecer. Aparentemente, caracteriza-se como uma relação na qual um está ali
para transmitir certos conteúdos escolares e o outro, para aprendê-los.
À primeira vista, a relação pedagógica pode ser resumida à escolha de um bom método de ensino ou à
organização de um planejamento adequado das matérias, além de certo grau de conhecimento sobre as
competências intelectuais dos aprendizes. Contudo, a educação escolar apenas pode ser vista dessa maneira
superficialmente, conforme defende a Psicanálise, pois, em consonância com essa teoria, as questões objetivas
(por exemplo, o método, o planejamento, os conteúdos das matérias etc.) são os aspectos que menos importam
no ato complexo de educar.
De acordo com os ensinamentos psicanalíticos, a atenção deve dirigir-se para o vasto e complexo mundo da
subjetividade, que está oculto no interior de cada professor e de cada aluno, sofrendo pressões de seus desejos. O
professor, quando psicanaliticamente orientado, deve observar com atenção as atitudes conscientes de seus
alunos, assim como as suas próprias atitudes, buscando desvelar os desejos que se encontram camuflados. O
professor que concorda com esse paradigma terá a consciência de preparar uma boa aula no sentido técnico da
expressão, mas saberá que esse fato não é o suficiente. Seu olhar estará voltado para os motivos velados que
determinam suas escolhas, tanto profissionais quanto técnicas e pessoais. Desse modo, ele pode buscar a
compreensão pela motivação em relacionar-se com os alunos de maneiras diversas. O professor, portanto, deve
se reconhecer como um profissional que valoriza a livre expressão de seus alunos, sejam eles crianças ou jovens,
reconhecendo que estes estão sob os seus cuidados.
O professor conhecedor da Psicanálise sabe também que seu conhecimento está sempre envolvido pelo seu
desejo e, se os fenômenos que dizem respeito ao ensino e à aprendizagem possuem componentes do campo
intelectual, também possuem uma carga emocional que se estabelece no campo do inconsciente. Segundo
Wagner (2019), esse aspecto tem a ver:
com o universo psíquico do professor (reconhecido como detentor e transmissor dos saberes formalizados).
com o aluno (alvo desses saberes).
Prosseguimos, entendendo a relação da Psicanálise com o despertar da sexualidade.
2.2 Psicanálise e o despertar da sexualidade
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Segundo Sigmund Freud (1996), o desenvolvimento humano se baseia nos aspectos psicossexuais da pessoa e
como esta se relaciona com o mundo à sua volta e com as possibilidades de reconhecimento do mundo.
As descobertas freudianas sobre a sexualidade humana apontam alguns aspectos principais e que permeiam
toda a teoria e as discussões a respeito dos estágios de desenvolvimento descritos pela Psicanálise.
Figura 1 - Imagem de Sigmund Freud (1856 -1939), considerado o “pai da Psicanálise”, sentado em seu escritório
Fonte: Yuri Turkov, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a figura mostra o tcheco e médico neurologista, pai da Psicanálise, Sigmund Freud, em seu
escritório. A seu lado, há um divã.
Segundo Bock (2002, p. 74), os aspectos mais importantes na compreensão da concepção psicanalítica de
desenvolvimento são:
Função sexual existe desde o princípio da vida, logo após o nascimento, e não só a partir da
puberdade, como afirmavam as ideias dominantes.
Período de
desenvolvimento
da sexualidade
é longo e complexo até chegar à sexualidade adulta, quando as funções de reprodução e
de obtenção do prazer podem estar associadas tanto no homem quanto na mulher. Essa
afirmação contrariava as ideais predominantes de que o sexo estava associado,
exclusivamente, à reprodução.
Libido nas palavras de Freud, é “a energia dos instintos sexuais e só deles”.
Baseado nessas ideias, Freud (1984) propõe um reconhecimento de estágios do desenvolvimento humano
partindo das concepções por ele elaboradas e que organiza no decorrer dos períodos marcados pela
determinação de zonas erógenas ou áreas/regiões que se destacam em diferentes momentos da nossa vida nas
relações com o mundo e no estabelecimento do conhecimento sobre os aspectos que permeiam esse
desenvolvimento. Assim, ele define as seguintes fases do desenvolvimento:
a) : nesta fase, o bebê nasce e já apresenta o reflexo da sucção, construindo relações com o mundoFase oral
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a) : nesta fase, o bebê nasce e já apresenta o reflexo da sucção, construindo relações com o mundoFase oral
externo (a mãe) por meio da zona oral, ou seja, ele nasce sabendo sugar, mamar etc. Sua comunicação ainda está
voltada para o aspecto da oralidade com balbucios e o choro. Neste momento, esses atos são marcados como
reflexos e, depois, transformam-se em um ato de vontade. O bebê conhece e se relaciona com o mundo pela boca,
sentindo desconfortos que ainda não são identificados como fome, chorando e, em seguida, sendo saciado.
Porém, todos esses acontecimentos são realizados sem o bebê pensar que pode ser intencional, pois para ele são
fatores reflexos e atos naturais. Quando a criança está mamando, seus lábios, sua língua e toda a região em torno
da boca estão em ação, causando o alívio do desprazer (desconforto), gerando o prazer, a sensação boa de
saciedade, mesmo que não se possa referir ao prazer relacionado ao ato sexual. Essa fase começa no nascimentoe se prolonga até por volta dos dois anos. Nesse momento, tudo o que a criança pega vai para a boca, pois, para
conhecer aquele objeto, ela precisa senti-lo e isso é feito pela boca. Para ela, é prazeroso sentir o gosto, o cheiro,
a textura; a criança vai ampliando sua participação no meio ambiente, passando a querer explorá-lo.
Figura 2 - Representação da fase oral
Fonte: SDI Productions, iStock, 2020.
#PraCegoVer: a figura mostra um bebê sendo amamentado, representando a fase oral freudiana.
b) : nesta fase, realiza-se o aprendizado do controle do xixi e das fezes, assim o processo de retirada daFase anal
fralda e a ida ao banheiro se transforma em uma fase trabalhosa para os cuidadores, já que se aconselha a
respeitar o ritmo de cada criança. Atualmente, existem creches e escolinhas que não aceitam crianças que ainda
usam fraldas e tal situação pressiona os pais a anteciparem o processo e ensinar as crianças esse
comportamento. O treino ao banheiro, para a criança, significa muito mais do que o simples aprendizado do
controle sobre o próprio corpo. Conseguir segurar, reter e soltar sua urina e suas fezes, onde a sociedade diz que
é para ser feito, é uma conquista para as crianças. Na verdade, para elas o primeiro produto estritamente seu é o
bolo fecal e como, no pensamento delas, o xixi escorre pelas mãos, o outro é diferente e pode ser manuseado,
transformado, dado de presente (representação infantil da diferença entre o xixi e cocô, conforme a teoria
psicanalítica). Teoricamente, a criança vai dar de presente seu primeiro produto para o seu objeto de amor que é
a mãe. A criança nesta idade ainda não tem noção de que se trata de excrementos e de que não servem ao
organismo, por isso são colocados para fora do corpo, pois, para ela, é seu produto e a reação das pessoas que a
rodeiam é de fundamental importância para que seja capaz de ter uma boa estima por si mesma ou não. Se as
pessoas ensinarem que é sujo, “caca”, porcaria, feio, têm de avisar para ir lá onde é o lugar certo para fazer isso.
Dessa forma, a criança aprende a fazer, mas ela vai sentir a rejeição de seu produto, podendo sentir-se
igualmente rejeitada. Isso interfere nas outras fases e, segundo Freud, o que se vive e a forma como se interpreta
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igualmente rejeitada. Isso interfere nas outras fases e, segundo Freud, o que se vive e a forma como se interpreta
a infância define muitos aspectos na vida adulta, pois, para esse autor, a infância é a fase mais importante na
formação da personalidade. Neste momento, aconselha-se que as pessoas que estão em torno da criança possam
trabalhar com argila, com massa de modelar ou com produtos que serão aceitos socialmente, para que essa
criança possa exercitar seu poder de produção e controle dos objetos.
Figura 3 - Representação da fase anal
Fonte: Anna Grant, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra um bebê, de aproximadamente 8 meses, sentado em um penico, representando
a fase anal freudiana.
c) : o processo de erotização, nesta fase, será dirigido aos genitais. Surgem os primeiros sinais deFase fálica
masturbação na criança (ainda com aspectos diferenciados dos aspectos adultos) e o interesse sobre as
diferenças de gênero são mais claros. Na concepção infantil, quem tem “pipi” é menino e quem não tem perdeu
ou foi arrancado. Assim, a criança passa a ter fantasias inconscientes de castração, sobretudo a menina, que
imagina que fez algo de errado e foi punida por essa ação que ela fantasia sobre o que é. O termo , parafalo
Freud, significa pênis (pelo formato “fálico” de origem ancestral). Essa fase é responsável pela formação e pelo
fortalecimento do superego, especialmente porque, por meio das interdições, do que a sociedade define como
correto, a criança conhece e aprende a lidar com as normas morais. Outro aspecto importante neste momento é
o Complexo de Édipo (referência feita por Freud ao mito de Édipo Rei – retomado da tragédia grega de mesmo
nome). Existem diversas versões diferentes dessa história, mas o importante é compreender os motivos que
levam Freud a referir-se a esse mito. Segundo Freud, desde o início de sua vida o bebê é da mãe e a mãe é dele
(como sentimento de posse existente na relação) e, com o passar do tempo, outras pessoas começam a fazer
parte dessa relação, principalmente o pai, que divide a atenção da mãe com a criança, sendo que esta última
busca, inconscientemente, manter a mãe para ela, procurando formas para que o pai desapareça. O pai assume,
então, o papel de rival da criança nessa relação triangular. Nesse momento, as crianças buscam identificar-se
com o pai ou com a mãe estabelecendo uma proximidade para que possam “copiar seus atos” e conquistar o
outro. Freud foi o primeiro a afirmar cientificamente a existência da sexualidade infantil, o que lhe causou
muitos problemas profissionais. Portanto, de acordo com ele, vive-se na constituição da personalidade, o que
chamou de relações edípicas, transferidas para as relações adultas e que marcam a vida amorosa de cada um. Na
escola e na relação com o professor, segundo ele, esse conhecimento pode auxiliar a compreender e a criar um
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escola e na relação com o professor, segundo ele, esse conhecimento pode auxiliar a compreender e a criar um
clima que propicie a inclusão, pois, caso contrário, a repetição dos sentimentos pode gerar problemas e conflitos
emocionais.
Figura 4 - Representação da fase fálica
Fonte: Prostock-studio, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra um close de um homem com as mãos na virilha, à frente de sua genitália,
representando a fase fálica freudiana.
d) : esta fase (que alguns estudiosos não apresentam como uma fase estudada por Freud)Fase de latência
refere-se a um momento no qual a sexualidade fica latente/dormente (inclusive para que a criança possa
elaborar intimamente as questões do período anterior). Para isso, sabe-se que a sexualidade se estabelece de
maneira mais lenta e camuflada. Acontece o que se chama de sublimação, ou seja, a criança passa a atualizar seus
sentimentos e seus desejos de uma maneira voltada para a possibilidade de realização. Assim, ela passa a fazer
coisas e a ter desejos socialmente aceitos. Dessa forma, ela geralmente canaliza suas emoções para aspectos
cognitivos e intelectualizados e, por isso, existe um grande avanço na vida escolar e um interesse pelas
atividades da escola. O mundo escolar assume uma dimensão de força e importância na vida da criança que antes
não poderia ter.
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Figura 5 - Representação da fase de latência
Fonte: Monkey Business Images, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra um garoto de aproximadamente 4 anos, na escola, dedicando-se às tarefas
educativas, representando a fase de latência freudiana.
e) : nesta fase, a referência de erotização já está no outro, na procura de parceiros e no ato sexual.Fase genital
Surge a busca da identidade sexual por meio de um processo de amadurecimento, facilitando, inclusive, as
escolhas profissionais em direção à realização pessoal. Para Freud, essa fase será consequência das vivências
anteriores e da maneira como a pessoa “elabora” todas as suas experiências. A adolescência é uma fase
importante para o ser humano, um momento no qual se colocam à prova todos os fatores e as aprendizagens que
foram adquiridos em momentos anteriores. É o momento de questionamento das autoridades, das normas, de
querer viver a vida intensamente e de experimentar situações novas. Nesse momento, a palavra-chave é o
questionamento a respeito de tudo o que se adquiriu com o passar do tempo e, na verdade, os adolescentes estão
perdidos tentando se encontrar e se identificar. Por isso, muitas vezes aproximam-se de amigos, de professores
ou de outras pessoas que apresentam características consideradas interessantes.
Figura 6 - Representação da fase genital, em que o ato sexual acontece
Fonte: Simona Pilolla 2, Shutterstock, 2020.
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Fonte: Simona Pilolla 2, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra os pés de um casal, coberto por uma mantacolorida, em ato sexual,
representando a fase genital freudiana.
Suas dúvidas e suas angústias apresentam-se diante deles e, como forma de se defender, utilizam o próprio medo
e a insegurança que sentem para atacar ou afastar-se de situações aparentemente estáveis. Os estudantes dessa
fase precisam ser compreendidos como tal e precisam ser entendidos como seres humanos que buscam
referências, mais do que ataques.
2.3 Abusos infantis e dados estáticos
A naturalização cultural assentada pela ordem do poder demonstra que a atividade doméstica é
preponderantemente exercida pelo gênero feminino, enquanto o trabalho público fica para o gênero oposto. A
separação social por gênero também se evidencia no processo de ensino e aprendizagem desses serviços, pois é
passado de geração em geração, de mulher para mulher, de mulher para moça, de mulher para criança, de moça
para criança, de criança para criança, a ponto de efetivar a domesticação feminina das próprias mulheres. Ainda
nessa lógica de desagregação social, institui-se a exclusão cultural de pessoas da cor negra ou parda em situação
de pobreza, perpetuando a ideia de racismo.
Segundo Arruda (apud SCHWARTZMAN 2007, p. 201) 90% das crianças e adolescentes em atividade econômica
são do sexo feminino e 62% são negras ou pardas mostrando que 32% das meninas em ocupação doméstica não
possuem acesso à escola. Mesmo que o racismo se sobreponha a essa perspectiva de gênero, não podemos deixar
de colocar em questão que “[...] quase meio milhão de meninas brasileiras com menos de 17 anos estão
trabalhando em casa de terceiros e mais da metade recebe menos que o salário mínimo e não têm direito às
férias”. (ARRUDA, 2007, p. 201). Ainda vale ressaltar que mais de 80% das trabalhadoras domésticas possui pais
em situação social de pobreza, mesmo que tenham começado a trabalhar desde aproximadamente os 14 anos,
uma vez que tal situação não as permite fluir para a mudança de classe social.
Figura 7 - Representação de abuso infantil
Fonte: Photographee.eu, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra uma menina ferida, com mão na boca e lágrima no rosto, e, por trás dela, mãos e
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#PraCegoVer: a imagem mostra uma menina ferida, com mão na boca e lágrima no rosto, e, por trás dela, mãos e
corpo de um adulto, representando o abuso infantil.
Em concordância com Arruda (2007), a naturalização da coisificação de crianças e adolescentes, principalmente
meninas, demonstra uma herança cultural que persiste em mascarar a exploração do trabalho infantil em
favores domésticos em que o poder, de forma sutil, priva o direito das crianças de serem crianças, de terem
acesso à escola, socializarem-se, brincarem para que tenham um crescimento saudável sem danos sociais e
comportamentais, pois essas são algumas das garantias básicas de cidadania estabelecidas pela ordem estatal.
Simões, Mota e Loureiro (2007) alegam que essa obliquidade nas diversas culturas pode gerar a hostilidade das
madrastas e padrastos, relativamente frequente com as crianças, causando uma relação negativa, enraizada na
tradição cultural humana entre crianças e seus pais, e irmãos não biológicos. Vale salientar que, no Brasil, o
maior índice de abuso/violência infantil é cometido dentro de casa por algum membro da família do sexo
masculino. “A razão pela qual os registros evidenciam o sexo masculino como principal agressor pode dever-se
também a mecanismos psicológicos e a fatores sociais/culturais” (SIMÕES; MOTA; LOUREIRO, 2007, p. 129). Não
podemos deixar de salientar que o mesmo sexo que agride é o detentor do poder familiar instalado pelo discurso
vigente da sociedade disciplinar que naturaliza as relações de poder com o propósito de inculcar regras e
disciplinamentos.
Corso e Corso (2006), ao investigarem sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor de Sigmund
Freud, mostram-nos que nem sempre o amor e o desejo andam juntos; logo, existem divergências ao lidar com
cada um e que certas características do modo de amar são encontradas de maneiras obsessivas, muito
recorrentes em nossa sociedade. 
Você quer ver?
Vídeo: Papo Saúde – violência de gênero
No vídeo a seguir, o apresentador busca relatar um papo saúde em relação à violência
de gênero que é sutil, que envolve violência doméstica, física, psicológica e de caráter
machista (mansplaining). Desse modo, o vídeo demonstra que, além da violência
física, a violência de gênero também ocorre no campo do simbólico.
Acesse
https://www.youtube.com/watch?v=_TljnIZMVZE&ab_channel=TelessaudeSC
- -13
O que resulta nesses sentimentos é o fato de que algumas pessoas confundem e relacionam o amor puro, visto de
modo espiritual, com o amor carnal, visto de modo sexual, considerado algo sujo (TORRES, 2013). A partir dessa
concepção, os homens, desde os primórdios, costumam a dividir as mulheres em santas e degradadas.
Agora, vamos ver a relação entre a violência infantil e os contos de fadas. Acompanhe!
2.4 Violência infantil e os contos de fadas
É preciso esclarecer, de maneira plural, que as subjetividades humanas não são envoltas por determinismos
biológicos repassados pelos meios manuais, digitais e de comunicação, tendo em vista que esses meios, inclusive
os contos literários, proporcionam a proliferação da violência nos corpos dos sujeitos em uma relação binária
proposta pelo patriarcado. Cabe, então, ao discurso transversalmente à linguagem, expandir as relações sociais
referentes ao plural, à diversidade e aos direitos humanos igualitários.
Ao tratar sobre os padrões patriarcais e disciplinadores do século 19, há exemplos de ser menina e menino;
príncipe e princesa; e os contos de fadas potencializam as marcas delimitadas por uma série de normas, valores
e padrões de comportamento que modelam as personagens para atender às exigências sociais da época. A
linguagem textual dos contos traz personagens emblemáticos ligados a elementos simbólicos que representam
várias questões relacionadas aos ideais de gênero e sexualidade, envolvendo, nesse contexto, a violência infantil,
a padronização do amor romântico, a perpetuação de masculinidades e feminilidades normativas, os conflitos
sexuais de maturação e familiares, os desafetos interpessoais consoantes à maldade humana, a relação de luta
entre o que é considerado “bem” versus o “mal” e, essencialmente, as condições para encontrar o amor eterno
para sermos “felizes para sempre” (FILHA, 2011).
Dessa maneira, é possível afirmar que os contos foram estruturados para se ratificarem no meio social,
difundindo suas ideias, seus valores e seus padrões comportamentais. As representações de homens e mulheres
impostas são mais do que claras, de forma a enaltecerem estereótipos relacionados ao preconceito estético,
social, sexual e de gênero (TORRES, 2013). Consolida-se, desse modo, as ideias de violência e de dominação
propostas por Bourdieu (2002), o que acarreta na submissão e na fragilidade feminina deixando parecer que tais
atributos são características naturais, mas que, na verdade, são construções sociais impostas pelo discurso
patriarcal que se proliferam por todo o campo social, inclusive o campo político no qual as leis representam a
legitimação das desigualdades sociais.
Em suas relações sociais, as identidades de gênero são permeadas por diferentes discursos, símbolos,
representações e práticas, uma vez que os sujeitos vão se construindo como masculinos ou femininos,
arranjando e desarranjando seus lugares sociais (LOURO, 2003). Assim, as instituições sociais, como escola e
Você sabia?
Conta-se que Freud, certa vez, ao terminar uma conferência, teria sido procurado por
uma senhora que indagou sobre a melhor forma de educar seus filhos. O mestre de
Viena teria respondido que ela poderia fazer como bem entendesse, pois, de qualquer
maneira, não iria impedir as fantasias sexuais de suas crianças. As palavras de Freud
sobre o processo educativo e o desejo de saber são sempre voltadas para o
questionamento da possibilidade de execução e de efetividade; ele não desacreditavada Educação, mas questionava a sua capacidade de emancipação e de formação como
era pensada.
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arranjando e desarranjando seus lugares sociais (LOURO, 2003). Assim, as instituições sociais, como escola e
família, podem ser consideradas os principais preconizadores da construção e da reprodução de conceitos e de
valores estereotipados acerca das questões sobre violência de gênero.
Pelos limiares da história social, é fatídico afirmar que o surgimento dos contos literários não possui uma data
ou um local específicos, pois as histórias fazem parte da cultura oral e se originaram ao mesmo tempo em
lugares e em culturas diferentes. Alguns estudiosos arriscam dizer que foram criadas pela cultura celta em
tempos antigos, mas, independentemente da origem, os contos são postulados pelo discurso do medo, a fim de
impor uma conduta moral relacionada ao comportamento de acordo com época histórica e social.
Habitualmente, os contos literários são classificados como contos de fadas, construídos em um mundo de magia
e desenvolvidos a partir de um conflito existencial. Já os contos maravilhosos focam nos problemas sociais e no
cotidiano da magia. Entretanto, ambos pertencem ao mundo do maravilhoso, das fadas/princesas, apresentando
poucas diferenças entre si.
Figura 8 - Representação do conto infantil Chapeuzinho Vermelho>/i>, em que a menina personagem é 
perseguida por um lobo caracterizado como malvado
Fonte: Ermolaev Alexander, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: a imagem mostra a personagem Chapeuzinho Vermelho caminhando na floresta e observada pelo
Lobo Mau.
Os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm (GRIMM, 2018), ao estudar o contexto de sua nação, a Alemanha no final do
século 18, coletavam dados sobre histórias populares contadas por camponeses e perpassavam entre amigos. As
narrativas desses contos escritos por eles foram estruturadas a partir desse contexto com interesse na formação
do ser humano a datar da infância. Com base nas histórias infantis de Grimm (2018), a violência de gênero está
presente nos contos literários que, quase sempre, são utilizados nos espaços formativos voltados à educação de
crianças pequenas (0 a 5 anos) e também nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
A primeira versão transcrita dos contos pelos irmãos Grimm apresentava bruscas lacunas e um forte conteúdo
erótico. Ambos, prontamente, ao perceberem a indignação social, lançaram a segunda versão, que se estende até
os tempos contemporâneos, aperfeiçoada com traços estéticos mais delimitados e inculcada em uma moral
cristã, a fim de resolver os conflitos internos das crianças por meio do medo e do castigo (BATISTA, 2017).
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Ao destinar os contos para o público infantil, os irmãos Grimm, em suas readaptações, encurtaram suas
narrativas para que pudessem ser contados popularmente pela oralidade. Segundo Gonçalves (2017), nesses
contos as personagens protagonistas têm características excêntricas, vinculadas à superação de conflitos
interiores e obstáculos sociais com a finalidade de “chegar ao pódio”, resultando no “felizes para sempre”, ao
lado da personagem caracterizada como herói (o homem). Com frequência, os padrões comportamentais
definidos pela sociedade associavam a figura feminina ao sexo frágil, totalmente dependente da figura masculina
(CANAZART; SOUZA, 2017, p. 7).
Os contos foram passados de geração a geração e tornaram-se atemporais com personagens eternamente
individualizados. Os papéis sociais e de violência de gênero atribuídos nesses contos sistematizam as condutas
femininas e masculinas com a intenção de repassar esses valores tradicionalmente patriarcais para que se
resguardem durante séculos, eras. “Enredos que ‘ensinam’ crianças e instruem leitores e ouvintes, formando a
sua forma de ver, entender e se reproduzir na sociedade” (PEREIRA, et al., 2018, p. 344).
Os folcloristas, na época medieval, que repassavam esses contos acreditavam que as lições dos contos de fadas
ditavam comportamentos corretos para que as crianças, quando jovens, soubessem como ter sucesso na vida. O
intermédio era a religião ou a educação moral (ANDRADE, 2015).
A linguagem nos contos é simples, por se tratar de narrativas populares nas tradições, e também poética, por
conta das revisões literárias com o propósito de causar prazer aos leitores. Essa linguagem foi estruturada para
que o prazer da leitura ou de se ouvir os contos simplificasse a recepção da mensagem moral e útil que agrada os
interlocutores de maneira sutil e divertida, sendo um processo harmonizado pela leitura e oralidade que ainda
em tempos contemporâneos ridiculariza as mulheres dos contos de fadas e do mundo real (MORAES, 2011).
Por fim, é possível afirmar que, na educação para a infância, podemos identificar múltiplas formas de abusos
infantis, não só pela leitura e crítica aos contos de fadas, mas também pelas brincadeiras cantadas, desenhos
infantis, jogos populares, passeios em lugares específicos, comportamento da criança e, principalmente, com
aulas, cursos e/ou oficinas sobre educação sexual e violência.
Considerando a presença fundamental dos contos de fadas na vida cotidiana e pedagógica de crianças de 0 a 10
anos (educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental), entendemos que os contos empregam diferentes
tipos de discursos a fim de estruturar e reproduzir uma sociedade regularizadora, sob os interesses do Estado e
daqueles que detêm maior poder, com o intuito de rebaixar e regular as subjetividades humanas preponderando
a violência de gênero. Os discursos nada mais são do que práticas discursivas que se estabelecem nos sujeitos,
Vamos Praticar!
Analise o caso de Maria, uma menina de 8 anos matriculada na educação infantil, a
qual quase foi morta por conta de um doce que aceitou de dois homens que estavam
passando em frente à escola da menina e a ofereceram. Maria ia para a escola sozinha,
pois ficava apenas a dois quarteirões de sua casa; então, sua família não via
problemas. O doce que Maria aceitou estava envenenado e a menina sofreu sintomas
graves de aceleramento cardíaco até que seus colegas viram, chamaram a diretora,
que ligou para emergência, e assim conseguiram fazer o resgate e salvar a garota de
uma possível morte. Com base nisso, como você, parte integrante do ambiente
educacional, e após a leitura da sessão 2.4, apresentada nesta unidade, lidaria com o
caso em relação à criança, à família e ao processo de ensino e aprendizagem?
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a violência de gênero. Os discursos nada mais são do que práticas discursivas que se estabelecem nos sujeitos,
nos objetos e nos diversos domínios de poder por meio de uma rede de regularidades e subjetividades. Entre
eles, há vários discursos, por exemplo:
o estrutural
o político
o institucional
o pedagógico
o religioso
o narcisista
o referente ao capital
o científico
o midiático
Ainda que apresentados e definidos em instâncias diferentes, todos esses discursos são de poder.
Nesse sentido, o fim desta unidade buscou evidenciar as questões de poder e violência postas nos contos
literários para crianças que, de modo geral, consistem nas categorias aqui discutidas. Afirmamos, de acordo com
Furlani (2006), que a violência contra a criança, a mulher e a comunidade LGBTQI+ tem violado os direitos
humanos e, consequentemente, provocado marcas agressivas nos corpos, seja por abuso, agressão física,
espancamento, torturas, seja até mesmo por formas sociais e educativas de padronização do sujeito (SILVA,
2010). Sobre isso, entendemos que a discussão é relevante e atual, sendo essencial a luta por direitos humanos
igualitários a partir do relato de si e do reconhecimento do outro.
Conclusão
Compreender o desenvolvimento como um processo e suas etapas nos auxilia muito no trabalho docente e na
atuação como pedagogos. Da mesma forma, reconhecer os pressupostos das teorias psicossociais acerca do
desenvolvimento e da violência infantil também contribui para a ampliação dos elementos que podem ser por
nós utilizados para a compreensão do desenvolvimento humano relacionado às identidadesde gênero plurais e
subjetivas.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Compreender as etapas do desenvolvimento psicossexual de crianças e adolescentes.
• Entender o que a Psicanálise explica sobre o despertar da sexualidade.
•
•
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• Entender o que a Psicanálise explica sobre o despertar da sexualidade.
• Refletir sobre dados estáticos de abusos infantis.
• Identificar de onde vêm os abusos infantis e como romper com eles.
Referências
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	Introdução
	2.1 Etapas do desenvolvimento psicossexual de crianças e adolescentes
	2.1.1 Desenvolvimento psicossocial e sexual na adolescência
	Você quer ler?
	2.1.2 Questões envolvidas com a educação
	2.2 Psicanálise e o despertar da sexualidade
	2.3 Abusos infantis e dados estáticos
	Você quer ver?
	Você sabia?
	2.4 Violência infantil e os contos de fadas
	Vamos Praticar!
	Conclusão
	Referências

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