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Ana Bock – Psicologias: Cap. 12 - A inteligência A inteligência é a solução de um problema novo para o indivíduo, é a coordenação dos meios para atingir um certo fim, que não é acessível de maneira imediata. Enquanto o pensamento é a inteligência interiorizada e se apoiando não mais sobre a ação direta, mas sobre um simbolismo, um simbolismo na linguagem e nas imagens mentais Somos seres pensantes. Como pensamos? Como resolvemos os problemas que nos colocam? O pensamento e a inteligência se tornaram objeto de estudo e curiosidade para a ciência, principalmente para a psicologia. Os psicólogos ao procurarem respostas para explicar o que é a inteligência, se dividiram em dois grupos: a abordagem da psicologia diferencial e a abordagem dinâmica. A abordagem da psicologia diferencial A psicologia diferencial, baseando-se na tradição positivista, acredita que a tarefa da ciência é estudar aquilo que é observável e mensurável. Portanto, a inteligência, para ser estudada, deve-se tornar observável. Observamos diretamente a inteligência e podemos medi-la através dos comportamentos humanos, que são expressões da capacidade cognitiva. Assim “vemos” e medimos a inteligência das pessoas através de sua capacidade de verbalizar ideias, compreender instruções, perceber a organização espacial de um desenho, resolver problemas, adaptar-se a novas situações. A inteligência, nesta abordagem, seria um composto de habilidades e poderia ser medida por meio dos conhecidos testes psicológicos de inteligência. Os testes de inteligência Em 1904, na França, Alfred Binet criou os primeiros testes de inteligência, que tinham como objetivo verificar os progressos de crianças deficientes do ponto de vista intelectual. Binet partiu daquilo que as crianças poderiam realizar em cada idade. Vários itens ou problemas eram colocados para as crianças, e, se a maioria delas, numa certa idade, conseguisse realiza-los e a maioria das crianças de uma faixa inferior não conseguisse, esses itens eram considerados como discriminatórios, isto é, estava caracterizada a realização normal de crianças daquela idade. Ao se examinar uma criança, tornava-se possível avaliar se seu desenvolvimento intelectual acompanhava ou não o das crianças de sua idade. Os resultados de quase todos os testes de inteligência são apresentados pelo que se denominou Quociente Intelectual (Q.I). Este quociente é obtido relacionando a idade da criança com o seu desempenho no teste, ou seja, verifica-se se ela está no nível de desenvolvimento intelectual considerado normal para sua idade. Problemas dos testes de inteligência Com a utilização dos testes, alguns questionamentos surgiram: a. O termo inteligência era compreendido de diferentes maneiras pelos psicólogos construtores dos testes e os testes refletiam essas diferenças. Assim, um mesmo indivíduo, poderia ter um alto quociente intelectual aqui e um baixo ali. b. A rotulação ou classificação das crianças. A realização dos testes intitulava as crianças como sendo superdotadas, deficientes ou normais. Os pais e professores passavam a agir em função das expectativas que as classificações geravam, e a criança era induzida a corresponder às expectativas, comportando-se de acordo com o novo papel imposto. c. Os testes possuíam uma certa tendenciosidade, pois eram construídos em função de fatores valorizados pela sociedade, ou seja, fatores que os grupos dominantes apresentavam e que eram considerados como desejáveis. Falar bem, resolver problemas com facilidade, apresentar facilidade para aprender e etc. A abordagem dinâmica A abordagem clínica da personalidade, que questionou fundamentalmente a decomposição da totalidade humana em diversos aspectos ou fatores, introduziu, na psicologia, uma nova forma de interpretar os dados obtidos por meio dos testes psicológicos. Os dados obtidos nos testes deixaram de ser considerados como medidas da inteligência. Passaram a ser vistos como medidas apenas de eficiência do sujeito e as alterações dessa eficiência encaradas como sintomas de perturbações globais e não como indicadores de potencial intelectual deficiente. Assim, nesta abordagem, o termo inteligência é questionado, porque supõe uma existência distinta do organismo na sua totalidade. A inteligência existiria como algo, ou algum fator no indivíduo, que poderia ser medido e avaliado. Nesta abordagem dinâmica, a inteligência passa a ser um adjetivo, que qualifica a produção cognitiva e intelectual do homem. Por isso, nesta abordagem, os dados obtidos nos testes não são medidas da inteligência, mas medidas da eficiência intelectual do indivíduo. Cabe ressaltar ainda que os níveis baixos nos testes não implicam pouca inteligência, pois nesta abordagem o indivíduo é visto na sua globalidade. Nesta abordagem dinâmica, supõe-se que o indivíduo, quando está bem do ponto de vista da vida psíquica, conseguindo lidar adequadamente com seus conflitos, tem todas as condições para enfrentar o mundo, realizando atos “inteligentes”, ou seja, resolvendo adequadamente problemas que se apresentam, sendo criativo, verbalizando bem suas ideias etc. O homem não tem natureza, o homem tem história “Tanto o nível do Q.I, como a gravidade dos transtornos da atenção, as dificuldades no campo da abstração ou um transtorno escolar tem sentido somente no seio de uma história”. A inteligência do ser humano é diretamente atravessada pela sua história individual e coletiva. O déficit ou desenvolvimento da inteligência dependente da interação do indivíduo com o contexto em que o mesmo está inserido. Para Piaget, a cognição é a própria inteligência, e depende da troca do organismo com o meio. Se uma criança tem qualquer “defeito” na cognição, pode-se dizer que houve algum problema nessa troca, e é preciso compensar a deficiência havida na troca em uma fase adequada da criança.