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Resumo BENS

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Teoria Geral do Direito Privado II1
DOS BENS
Livro II do CC - Art. 79 ao Art. 103
DEFINIÇÃO
Bem ≠ Coisa ≠ Objeto da relação jurídica.
Os bens não se limitam àqueles tidos como “coisas”. Nesse sentido, “coisa” é uma espécie de
bens jurídicos (lato sensu).
Coisa: bem material/tangível/corpóreo.
OBS: nem tudo que é corpóreo é coisa, uma vez que o corpo humano, apesar de sua
materialidade, não é tido como bem. O ser humano é sujeito de direitos e não objeto da
relação jurídica. Assim, visto que não é possível separar a pessoa humana, dotada do
requisito da personalidade, de seu próprio corpo, o corpo humano não é coisa.
Bens Jurídicos: realidade em relação ao qual os sujeitos podem ser titulares de direitos. A
essa realidade deve ser possível atribuir valor econômico. Ou seja, aos bens há
1. Possibilidade de apropriação;
2. Possibilidade de atribuição de valor econômico.
São bens jurídicos os de natureza patrimonial. Podem existir:
1. Bens materiais/tangíveis/corpóreos (coisa - Ex.: celular, apartamento, cadeira)
2. Bens imateriais/intangíveis/incorpóreos (Ex.: direito autoral, patentes, marcas, bens
jurídicos da personalidade).
Objeto da relação jurídica: aquilo que é possível atribuir um valor econômico. Valor
econômico pode ser:
1 Resumo feito pelos monitores de Teoria Geral do Direito Privado 2 da Faculdade de Direito da
UFMG. 2021.2 - Aline da Rocha Reis, Aline Gabrielle Marques Oliveira Fontes, Gabriela Lopes Pinto
e João Vitor Guimarães Lanza Pires.
1. Direto - ex.: celular - você sabe o valor dele, apreciação objetiva do valor para
esse bem.
2. Indireto - ex.: Os direitos da personalidade possuem valor econômico
extrapatrimonial, isso porque não é possível você mensurar a priori quanto
vale a sua honra, imagem, vida, por exemplo. Mas você consegue cobrar pelo
uso da sua imagem, dispondo temporariamente do seu direito da
personalidade.
OBS de TGDP 1: Os valores para os bens jurídicos dos direitos da personalidade
(indenização) são compensatórios. Os direitos da personalidade são de natureza não
patrimonial, portanto, não são considerados bens.
Ambas realidades de valor econômico - de valor direto e indireto - podem ser objeto de
negócios jurídicos.
Ex.: vender o celular (direto) e vender sua imagem para um comercial (valor
econômico indireto = parte onerosa do meu direito à imagem).
Por fim, depreende-se que os bens são objetos da relação jurídica. Contudo, nãoo são eles
os únicos objetos da relação jurídica. Existem, também, direitos da personalidade, que não
possuem natureza patrimonial, e são objetos de relação jurídica.
DAS DIFERENTES CLASSES DE BENS
1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS (Art. 79 a 91) - considerar o bem
individualmente, ele com ele mesmo.
a. Bens Imóveis x Bens Móveis (critério da mobilidade)
*bens imóveis: são aqueles que não podem ser transportados de um lugar para outro sem
alteração de sua substância ou utilidade. Ex: o solo e tudo aquilo incorporado a ele, seja por
sua própria natureza (ex: jazidas minerais, árvores, plantações = Bens Imóveis por
Incorporação Natural), seja aquilo incorporado ao solo artificialmente pela ação humana (ex:
edificações = Bens Imóveis por Incorporação Artificial).
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade,
forem removidas para outro local (Ex.: estátua retirada de uma praça e colocada em
outra).
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título
translativo no Registro de Imóveis.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
*bens móveis: são aqueles que podem ser transportados de um lugar para outro sem alteração
de sua substância ou utilidade. OBS: móveis por sua própria natureza são aqueles suscetíveis
de movimento próprio (semoventes – ex: animais).
OBS: bens móveis por antecipação: são os bens que, embora incorporados ao solo, são
destinados a serem destacados e convertidos em móveis, como é o caso, por exemplo, das
árvores destinadas ao corte.
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por
força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes
da tradição.
Bens Semoventes/Bens Móveis por Mobilidade Própria - bens que conseguem se
deslocar de um lugar para outro por eles mesmo (Ex.: animais)
Bens Móveis por Movimento Alheio - bens que se movem devido a atuação de um
terceiro.
DICA: analisar o contexto em que o bem está inserido para avaliar se um bem é móvel ou
imóvel. Ex.: azulejo que faz parte da estrutura de um prédio = bem imóvel e azulejo
disponível para venda em uma loja de construção = bem móvel.
b. Bens Fungíveis x Bens Infungíveis (critério da fungibilidade)
*bens fungíveis: são os bens móveis que podem ser substituídos por outros de mesma
espécie, qualidade e quantidade, sem alteração do valor do negócio.
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
*bens infungíveis: são os bens móveis e imóveis que não são passíveis de substituição por
outro de mesma espécie, qualidade e quantidade; suas características são muito individuais.
OBS.: locação (arts. 565 a 578, CC) é contrato que tem por objeto bem infungível.
OBS.: o bem pode ser infungível por natureza ou por convenção. No primeiro caso, a
característica está presente devido à própria natureza do bem; já no segundo caso, a
infungibilidade é determinada por uma convenção entre as partes de um contrato.
c. Bens Consumíveis x Bens Inconsumíveis
*bens consumíveis: são os bens móveis cuja utilização importa em destruição imediata de
sua substância ou destinados a serem alienados (venda). Nesse caso, preocupa-se com a
durabilidade do bem e com o contexto em que ele se insere no comércio. EX.: alimentos,
combustíveis, livro em uma livraria.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
d. Bens Divisíveis x Bens Indivisíveis (critério utilitarista)
*bens divisíveis: são os bens que, pela própria natureza, podem ser divididos sem perda de
suas características principais e redução de valor.
Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por
determinação da lei ou por vontade das partes.
*bens indivisíveis: são os bens cuja divisão não é possível devido à sua natureza.
OBS.: É possível que se torne divisível por meio de uma ficção jurídica, quando acordado
entre as partes. Nesse contexto, tem-se que as partes que receberão o bem serão
coproprietárias deste, por meio de uma relação de condomínio; uma vez que o bem não é
divisível, cada pessoa será proprietária de uma fração ideal deste. No momento da entrega do
bem, existe duas possibilidades - entregar apenas para uma das pessoas, mas com a anuência
das outras ou realizar o pagamento para todas.
OBS.: A divisão em divisível/indivisível apenas faz sentido em um cenário em que haja mais
de uma pessoa na parte contrária do negócio jurídico (ex: venda de casa para cinco irmãos).
e. Bens Singulares x Bens Coletivos
*bens singulares: são os bens que, mesmo reunidos, são considerados separadamente.
Art. 89. Sãosingulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
independentemente dos demais.
*bens coletivos: são os bens que, pertencentes a uma única pessoa, são considerados em sua
pluralidade; o interesse é na universalidade de coisas. EX.: bens da pessoa jurídica falida,
rebanho, safra, bens da pessoa falecida.
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma
pessoa, dotadas de valor econômico.
OBS.: denomina-se espólio o conjunto de bens, direitos e obrigações de pessoa falecida.
2. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS (Art. 92 ao 97 do CC) -
considerar o bem comparado com outro bem.
a. Bens Principais
*bens principais: existem por conta própria. Naquele contexto, tem uma existência
autônoma/importante (Ex.: sala).
b. Bens Acessórios
*bens acessórios: existe em razão do principal. Naquele contexto, ele depende do principal.
(Ex.: porta no contexto de determinado bem imóvel)
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.
Categorias de bens acessórios:
I. Parte Integrante: bens que compõem a estrutura do bem principal (Ex.:
porta, janela, parede, piso).
A. Doutrina: a parte integrante sempre vai seguir o destino do bem
principal (Ex.: vendi a sala, mas também vendi a porta, a janela, a
parede etc.)
II. Pertenças (Art. 93) São pertenças os bens que, não constituindo partes
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao
aformoseamento de outro.
A. As pertenças existem para 1. melhorar a utilidade ou 2. embelezar o
bem principal (Ex.: cortina, luminária).
B. (Art. 94) Em regra, não seguem o bem principal e possuem uma
autonomia (Ex.: você vende a sala mas não vende, necessariamente, a
luminária). Entretanto, se for da vontade das partes, se determinado em
lei ou se as circunstâncias do caso determinarem que a pertença vai
acompanhar o principal, assim será. (Ex.: o contrato de compra e venda
determina que eu vou vender a sala junto com a luminária).
III. Benfeitorias (Art. 96 e 97): obras realizadas no bem principal para
melhorá-lo. A obra deve ser feita por meio da intervenção do proprietário,
possuidor ou detentor.
Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado
valor.
§ 2º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se
deteriore.
Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos
sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
Tipos de Benfeitorias:
i) necessária: é aquela realizada para conservar o bem, impedindo que ele se
deteriore ou pereça (art. 96, § 3º) – direito de reembolso e de retenção, mesmo
sem ter sido combinado com o locatário. (Ex.: pintura em uma parede mofada)
ii) útil: é aquela realizada para otimizar o uso do bem. Ex.: reformei o teto
para ficar mais quente ao longo do ano. (art. 96, § 2º) – direito de reembolso e
retenção. (tratamento do CC é dif do tratamento das Leis de Locações
Urbanas)
iii) voluptuária: é aquela realizada só para embelezar, que não otimiza o uso
habitual do bem, ainda que o torne mais agradável e aumente-lhe o valor (art.
96, § 1º) - não há direito de reembolso. Se feita, e o proprietário não quiser,
você pode desfazer/retirar/levantar a obra feita desde que não haja prejuízo ao
bem principal.
Ex.: uma pessoa é proprietária de um apartamento e o aluga, dando a posse para a outra
pessoa. A pessoa que aluga faz uma reforma, melhorando o apartamento. A pessoa tem
direito a reembolso? Resp.: Depende da natureza da benfeitoria feita.
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas,
a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o
direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias
necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem
o de levantar as voluptuárias.
OBS; ônus da prova é de quem fez a obra. Quem fez a obra é que deve provar que ela é útil
ou necessária caso queira um reembolso.
IV. Frutos: utilidades/riquezas produzidas pela coisa principal, sem diminuição
de sua substância.
A. Frutos naturais: riqueza produzida é natural (Ex.: os filhotes de
animais, frutos de árvore.)
B. Frutos Civis.: riqueza produzida que não é natural Ex.: aluguel de
apartamento e a pessoa para quem eu aluguei ganha dinheiro em cima
do meu apartamento.
V. Produtos: utilidades produzidas pela coisa principal, com diminuição de sua
substância. (Ex.: o petróleo de uma jazida, as pedras de uma pedreira)
OBS: Os frutos e produtos podem ser objetos de negócios jurídicos, mesmo que ainda não
separados do bem principal (art. 95) Ex.: você pode vender um filhote de cachorro, sem
vender a cadela.
3. BENS CONSIDERADOS EM RELAÇÃO AOS SUJEITOS (Arts. 98 a 103 do
CC) - definidos em relação aos seus titulares.
*bens públicos: (Art. 98) de domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno. (Ex.: rios, estradas, ruas, edifícios dos governos - UFMG, fórum-
patrimônios históricos e artísticos, dominicais – patrimônio das pessoas jurídicas de direito
público.)
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual
for a pessoa a que pertencerem.
OBS: Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno (Art. 41 do CC):- criadas por lei, regidas
pelo direito administrativo, para realizar algumas atividades da administração pública.
1. União, Estados, Municípios e DF (Adm. Pública Direta)
2. Autarquias, Associações Públicas (Adm. Pública Indireta)
Espécies de bens públicos:
a) uso comum do povo (art. 99, I): aqueles destinados à utilização do povo em
geral. O Estado pode cobrar pelo uso ou não, impedir o acesso temporariamente
ou não. Entretanto, é preciso justificar tais medidas..
b) uso especial (art. 99, II): aqueles destinados ao funcionamento do serviço ou
estabelecimento público. (Ex.: prédio de Direito da UFMG, prédio do TJ, Fórum)
c) dominicais (art. 99, III): aqueles que constituem o patrimônio disponível da
Administração Pública. O estado pode dar o destino que ele achar melhor, ela
pode doar, vender, locar etc, desde que justificando que a ação corresponde ao
melhor interesse da população. (Ex. títulos da dívida pública, terras devolutas,
bens apreendidos pelos criminosos)
Características dos bens públicos:
a) são inalienáveis (não podem ser vendidos ou cedidos), com exceção dos
bens dominicais (art. 100-101)
b) não estão sujeitos a usucapião – 15 anos passa de utilidade para outrem
(art. 102).
c) o uso pode ser gratuito ou oneroso (pagar), conforme autorização legal
(art. 103)
*bens particulares: tudo que não é bem público.
RELAÇÕES COM OS BENS
Propriedade: direito mais amplo em relação ao bem (você pode vender, hipotecar, usar, etc)
Posse: você não é proprietário, mas você tem direito ao uso, gozo e fruição.
Detenção/Domínio: você usa mais rapidamente o bem, posse mais pontual (Ex.: motorista
que dirige um carro que não é dele). Você tem acesso ao bem sob a orientação de uma outra
pessoa.
Ex.: Você usualmente dirige um carro que está registrado no nome da sua mãe (ela é a
proprietária do bem, mas você é que tem a posse/domínio) e acaba sendo autuado por excesso
de velocidade. A multa vai para a carteira da proprietária do veículo (suamãe) e não para
você. Assim, mesmo que sua mãe não tenha cometido a infração e não estivesse com a posse
do veículo, a pontuação vai para a carteira dela, pois ela é a proprietária. (Art. 257, §2° do
CTB). Entretanto, é possível que sua mãe transfira os pontos para você (Art. 257, §10° do
CTB).

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