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Alelismo Múltiplo A partir dos trabalhos de Mendel que identi�cou a dominância completa, outros modos de interação foram descobertos, representando cada um deles um tipo diferente de interação entre alelos. Alelismo múltiplo pode ser de�nido quando três ou mais alelos de um mesmo gene estão presentes em um dado locus gênico. O sistema de grupos sanguíneos ABO em humanos é um exemplo de alienismo múltiplo. Ele foi descoberto por Karl Landsteiner no início dos anos de 1900. O locus ABO está localizado no braço longo (q) do cromossomo 9 e possui 3 alelos. Sistema Sanguíneo ABO I O sistema sanguíneo ABO é expressado em muitos tecidos e tipos celulares humanos, sendo a sua principal importância médica a expressão nos eritrócitos nas hemácias do tecido sanguíneo. Os principais alelos desses locus são A, B e O, cada um deles apresenta variantes. Os alelos A e B codi�cam para uma enzima com atividade glicosiltransferase, que transferem um resíduo especí�co de açúcar para o substrato H que é uma glicoproteína da superfície celular, dependendo do açúcar ligado à substância H, ela é convertida em antígeno A ou B. Observação Para prosseguir, é preciso falar de outro locus independente, ou seja, localizado em outro cromossomo, que codi�ca justamente para a enzima responsável pela formação do antígeno H. A substância H ou antígeno H da superfície das hemácias é um carboidrato produzido pela enzima -2-L-fucosiltransferaseα codi�cada no locus FUT1 do cromossomo 19, geneticamente independente do locus ABO. Essa enzima adiciona um açúcar que é uma fucose, formando o antígeno H na superfície das hemácias. Os alelos A e B do locus ABO do cromossomo 9, também produzem transferases. O alelo A codi�ca a enzima α -N-acetilgalactosaminiltransferase que adiciona o monossacarídeo N-acetilgalactosamina ao antígeno H, formando o antígeno A na superfície celular. Já o alelo B codi�ca α -D-galactosiltransferase que transporta uma galactose ao antígeno H, formando o antígeno B. Essas duas enzimas codi�cadas pelo alelo A e pelo alelo B são similares e a sua especi�cidade depende do aminoácido próximo ao sítio de ligação com o respectivo açúcar. O que caracteriza o tipo sanguíneo O, por vezes chamado de zero, é o fato de não possuir transferases, mas ele apresenta o antígeno H na superfície das hemácias, logo, para a formação do sistema sanguíneo ABO é importante a presença do antígeno H na superfície das hemácias. Sistema Sanguíneo ABO II Outro nome para antígeno é aglutinogênio ou que desencadeia aglutinação e para anticorpo, aglutinina, ou seja, que aglutina com antígeno. Os tipos sanguíneos A e B são caracterizados pela presença dos respectivos antígenos na superfície das hemácias. Assim, temos tipo sanguíneo A, presença do antígeno A ligado à substância H na superfície das hemácias, tipo sanguíneo B tem um antígeno B, o AB tem os dois tipos de antígenos e em relação ao O, não há antígenos A e B, ou seja, não produz antígenos, no entanto tem a substância H. Quanto aos anticorpos circulantes: O indivíduo que há tipo sanguíneo A, terá anticorpos circulantes anti- B de, do mesmo modo o indivíduo do tipo sanguíneo B vai ter anticorpos circulantes anti-A, o AB que contém os dois tipos de antígenos na superfície, não terá nenhum anticorpos circulantes e o O, por não ter nenhum tipo de antígeno, terá os dois tipos de anticorpos. Sistema Sanguíneo ABO em Humanos Para determinar o sistema sanguíneo ABO em humanos, o fenótipo é detectado, misturando uma amostra de sangue com soro anti-A e anti-B ou anticorpo anti- A e anti- B. Se o antígeno está presente na superfície das células, vai reagir com um anticorpo correspondente. Na imagem, por exemplo, temos o tipo sanguíneo A que vai reagir com anticorpo anti- A e provocar a aglutinação das hemácias, separando-as do plasma, o que forma os grumos presentes; se o indivíduo não tem antígenos B e adiciona-se, sobre a mesma gota de sangue dele, o anticorpo anti- B, não há aglutinação no sangue. O tipo sanguíneo B, vai reagir justamente com o anticorpo anti- B, havendo a reação antígeno x anticorpo com a aglutinação das hemácias. O AB vai reagir com os dois tipos de anticorpos, então duas gotas de sangue do mesmo indivíduo vão reagir tanto com o anticorpo anti- A quanto com anti-B. Já o O como não antígenos na superfície das hemácias, não haverá reação de aglutinação com nenhum dos dois tipos de anticorpos utilizados. Assim, em relação ao sistema sanguíneo ABO, podemos ter quatro fenótipos, ou seja, quatro tipos sanguíneos: A, B, AB ou O (com relação aos tipos de antígenos carreados ou ausência de antígeno). Esses quatro fenótipos são resultado de seis genótipos diferentes: Nota: I = iso-aglutinogênios, ou seja, o antígeno capaz de provocar reação de aglutinação. Observe, / tem antígeno A e fenótipo (tipo𝐼𝐴 𝐼𝐴 sanguíneo) A, mas o indivíduo também pode ser um heterozigoto, / , ou seja, no𝐼𝐴 𝐼𝑂 cromossomo ele carreia o alelo A e no outro o alelo O, nesse caso, ele vai ser também A, reagindo com anticorpo anti- A. O indivíduo do tipo sanguíneo B, carreia antígenos B na superfície da hemácia. Isso vai ocorrer tanto no homozigoto para B ( 𝐼𝐵 / ) quanto no heterozigoto B com O (𝐼𝐵 𝐼𝐵 / ).𝐼𝑂 Entretanto, se um cromossomo carreia o alelo A e o B ( / ) ele tem os dois tipos𝐼𝐴 𝐼𝐵 de antígenos e o tipo sanguíneo AB; só um genótipo para AB, assim como, só um genótipo para O se ele for homozigoto ( 𝐼𝑂 / ).𝐼𝑂 Note que A e B são dominantes em relação a O, mas codominantes um ao outro, ou seja, tanto A quanto B, produzem produtos gênicos distintos e detectáveis e O é recessivo aos demais. ↪ O tipo sanguíneo A possui antígeno (ag) A nas hemácias e anticorpo (ac) anti- B no plasma. ↪ O tipo sanguíneo B possui antígeno (ag) B nas hemácias e anticorpo (ac) anti- A no plasma. ↪ O tipo sanguíneo AB possui antígeno (ag) A e B nas hemácias e não possui anticorpo (ac) no plasma. ↪ O tipo sanguíneo O não possui antígeno (ag) nas hemácias e possui anticorpo (ac) anti- A e anti- B no plasma. Importância Médica Em relação à importância médica está relacionado às transfusões sanguíneas e, nesse caso, o sangue doado não pode conter aglutinogênios (ag) ou antígenos que encontrem no receptor anticorpos (ac) circulantes contrários ao seu. Nota: Lembrem-se que as hemácias que aglutinam são as do sangue doado quando tem antígenos estranhos aos encontrados no sangue do receptor. Compatibilidade A compatibilidade do sistema sanguíneo ABO em humano indica que: ↪ A doa para A e AB e recebe de A e de O. ↪ B doa para B e AB e recebe de B e de O. ↪ AB doa só para AB e recebe de todos. ↪ O doa para todos e só recebe de O. O Antígeno H Voltando ao antígeno H codi�cado pelo gene H localizado no par cromossômico 19. O alelo dominante, pelo menos um alelo dominante nesse locus, permite a expressão da substância H, no caso, pelos genótipos homozigoto dominante (HH) e heterozigoto (Hh), esses genótipos são observados na maioria dos indivíduos. O genótipo homozigoto recessivo (hh) também chamado de H nulo é extremamente raro, onde não há produção da enzima α -2-L-fucosiltransferase necessária à transferência da fucose para a formação da estrutura H. Esse genótipo homozigoto recessivo, gera o fenótipo Bombaim, ou seja, indivíduos que não tem a substância H. Nota: Bombaim, pois foi descrito pela primeira vez em uma mulher na cidade de Bombaim, na Índia. As hemácias desses indivíduos com fenótipo Bombaim não reagem com soros anti-A nem anti-B, sendo tecnicamente O e também não reagem com soro anti- H, uma vez que não têm o antígeno H na superfície das hemácias, e nisso eles são diferentes dos indivíduos do tipo sanguíneo O. O plasma desses indivíduos contém os três anticorpos. No locus ABO (independente do locus H), porém, eles podem ter os genes A e/ou B, sendo possível transmiti-los aos descendentes que, se forem H_ homozigoto ou heterozigoto, produzirão a enzima α -2-L-fucosiltransferase e terão os antígenos A e/ou B na superfície das hemácias. Os indivíduos Bombay- outra maneira dese escrever o nome dessa cidade e também para se referir ao fenótipo- são incompatíveis com todos os grupos ABO e só apresentam compatibilidade com sangue de indivíduos Bombay, ou seja, homozigotos recessivos (hh). Classi�cação do Sistema Sanguíneo A classi�cação do sistema sanguíneo ABO em humanos pode ser direta e reversa: A classi�cação direta é quando se utiliza o anti- soro (anti-A e anti- B) sobre o sangue total do indivíduo que vai reagir com antígenos, então é para detectar antígenos. A classi�cação reversa utiliza-se os antígenos conhecidos (A e B) sobre o sangue total do indivíduo para detectar anticorpos, relacionados ao sistema ABO, no soro e/ou plasma de um indivíduo. Na tabela temos o resultado da classi�cação direta: os indivíduos que tenham antígeno A nas hemácias vão reagir com anti- soro anti- A, assim como, os indivíduos que são AB; já os que têm antígeno B reagem com o anti AB e com B, mas não reagem com a o anti A. O anti- A e anti- B, ou seja, os que têm dois tipos de antígeno, reagem com dois anticorpos separadamente e também com anti- soro AB. O tipo O, como não tem antígenos circulantes, não vai reagir com nenhum anti- soro. E o resultado da classi�cação reversa, onde determina o anticorpo “natural”, ou seja, o anticorpo circulante: no tipo sanguíneo A que tem hemácias com antígeno A e anticorpo anti- B circulante vai reagir se colocarmos sobre esse sangue antígeno B; do mesmo modo, os indivíduos que têm antígenos B nas hemácias, terão anticorpo circulante anti- A. Já o tipo sanguíneo AB, com os dois tipos de antígenos, não têm anticorpos circulantes, então independe dos antígenos acrescentados sobre o sangue total, não haverá reação; pelo contrário o O, sem antígenos, tem os dois tipos de anticorpos circulantes, havendo reação tanto com antígeno A quanto com B. Epistasia Recessiva Interação Entre Não- Alelos Em relação ao locus ABO do par cromossômico 9, que determina o sistema sanguíneo ABO, e o locus FUT1 do par cromossômico 19, que determina a presença da substância H na superfície das hemácias, cada um deles está sob o controle de genes em locis diferentes e independentes, ou seja, localizados em diferentes cromossomos, não podemos falar de interação entre alelos, mas esses dois genes interagem cada qual com os seus alelos para que ocorra o estabelecimento do sistema sanguíneo ABO em humanos, esse modo de interação é dita Epistasia Recessiva, pois a presença de ambos os alelos recessivos no locus FUT1 impede ou mascara a expressão dos alelos do locus ABO- como sabemos, na ausência da substância H, o indivíduo será tecnicamente O, pois não há possibilidade de ligação dos açúcares N-acetilgalactosamina para formar o antígeno A e nem da D-galactose para formar o antígeno B. Assim, esse é um exemplo de Epistasia Recessiva em humanos. Locus Secretor O terceiro gene que afeta a expressão do sistema sanguíneo do tipo ABO é encontrado no locus secretor (FUT2) que está localizado no cromossomo 19, próximo ao gene FUT1. Em 80% das pessoas os antígenos A e B estão presentes em várias secreções do corpo, além da membrana das células vermelhas. A habilidade de secretar esses antígenos em �uídos como a saliva, suco gástrico, sêmen e �uidos vaginais está sob in�uência de um alelo dominante (Se_); a minoria que não secreta os antígenos, no caso, homozigotos recessivos (se/se), carecem da enzima fucosiltransferase que normalmente modi�ca a substância H, tornando solúvel em água. Os não secretores produzem os antígenos especi�cados pelo locus ABO sabe, mas não os secretam. A secreção tem um grande signi�cado na análise forense. Sistema Rh Fator Rh O locus Rh está localizado no braço longo do cromossomo 1 em humanos. Ele contém os genes RHD e RHCE, sendo três genes ligados. Esses genes são estruturalmente homólogos e resultam de uma duplicação de um gene ancestral comum. Os genes RHD e RHCE codi�cam uma proteína transmembrana com 400 resíduos de aminoácidos que atravessam a membrana da hemácia doze vezes. A proteína RhD só difere da forma comum da proteína RhCE em 35 aminoácidos. O grupo sanguíneo Rh é um dos mais complexos grupos sanguíneos conhecidos em humanos. De grande importância em obstetrícia, ele é o causador da Eritroblastose Fetal ou doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN). Em 1940, Landsteiner e Weiner descreveram um anticorpo produzido no soro de coelhos e cobaias pela imunização com hemácias de macaco Rhesus. Esse anticorpo foi denominado anti- Rh. Nota: Mais de 85% da população apresenta antígeno Rh nas suas hemácias e são Rh positivo ( ).𝑅ℎ+ A nomenclatura em relação aos alelos presentes nesses três locis C, D e E: Tendo pelo menos um alelo D dominante, o indivíduo é Rh positivo ( ), tendo alelo d𝑅ℎ+ recessivo o indivíduo é Rh negativo ( ),𝑅ℎ− independente dos alelos que ele carreia nos demais locis, ou seja, é o alelo D ou locus D que vai determinar a presença ou ausência de antígenos na superfície das hemácias. Essa presença ou ausência do antígeno Rh na superfície das hemácias recebeu grande atenção devido a ocorrência da Eritroblastose Fetal ou doença Hemolítica do recém-nascido, também denominada doença Hemolítica Perinatal (DHPN), uma espécie de anemia. Os anticorpos do tipo IgG, de baixo peso molecular, uma vez produzidos podem atravessar a barreira placentária e destruir as hemácias do feto caso ele seja Rh positivo- com antígenos na superfície das hemácias- e a mãe Rh negativo. De que forma isso ocorre? Isso ocorre em fetos Rh positivo sendo a mãe Rh negativo e o pai Rh positivo, no caso o pai pode ser homozigoto dominante ou heterozigoto, a mãe obrigatoriamente homozigota recessiva e o feto, heterozigoto. Na primeira gestação, no momento do parto, o sangue do feto entra em contato com a corrente circulatória da mãe, assim, ela produz anticorpos anti Rh positivo. Em uma segunda gestação, se o feto também for Rh positivo, os anticorpos IgG atravessam a barreira placentária, e destroem as hemácias do segundo feto, provocando a doença hemolítica. Para que isso não ocorra é necessário administrar a imunoglobulina (anti- soro) anti-D imediatamente após o primeiro parto, em caso de mães incompatíveis com �lhos Rh positivo, para evitar que a mãe seja sensibilizada e produza anticorpos anti- Rh. Nota: É importante administrar imunoglobulina antes de até 72 horas após o parto, pois é o momento em que a mulher é sensibilizada.
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