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Câncer colorretal Prof. Érico de Carvalho Holanda Professor de Medicina – UNICHRISTUS Doutor em Ciências Médico-Cirúrgicas (stricto sensu) – UFC Mestre em Ciências Médico-Cirúrgicas (stricto sensu) – UFC Graduado em Medicina – UFC/Fortaleza Especialização em Coloproctologia (lato sensu) - UFC Título de Especialista em Coloproctologia - Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) Especialização em Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (lato sensu) - UNICHRISTUS Cirurgia robótica – Intuitive Surgery Fundador, ex-coordenador e atual preceptor da residência de Coloproctologia da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza Coordenador do Módulo de Coloproctologia da Especialização em Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (lato sensu) - UNICHRISTUS Orientador da liga de Gastroenterologia e Coloproctologia UNICHRISTUS 1. Epidemiologia O câncer colorretal (CCR) é a neoplasia que acomete os segmentos do intestino grosso (cólons e reto), sendo muito prevalente e, se não tratada, letal. Por outro lado, trata-se de uma doença factível de ser prevenida, se adotadas as medidas de rastreamento adequadas. Vale ressaltar que a neoplasia do ânus, diferentemente das neoplasias colorretais, tem história natural, fatores etiológicos e achados histopatológicos distintos, não sendo, portanto, abordada nesse texto. O câncer colorretal é mais incidente e prevalente em regiões com melhores condições socioeconômicas. As maiores taxas de incidência são encontradas em países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, na Austrália, na Nova Zelândia e nos países da Europa Ocidental; enquanto as menores incidências são vistas nas regiões subdesenvolvidas ou em desenvolvimento, como nos países do continente africano, da América Latina e da Ásia Central. Por outro lado, nos últimos anos, vem sendo registrado um declínio ou estabilização dos casos nos países mais desenvolvidos, ao passo que nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvido as taxas vêm aumentando. De acordo com Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2018, o CCR foi globalmente o terceiro câncer mais diagnosticado em homens e o segundo em mulheres, sendo registrado aproximadamente 1,8 milhão de casos com quase 816.000 mortes. A doença, segundo a OMS, incide substancialmente mais em homens que em mulheres. No Brasil, segundo dados publicados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima- se para 2020 que 20.540 homens e 20.470 mulheres venham a ser diagnosticados com câncer de cólon e reto no país, representando, assim, em todo o território nacional, o segundo tipo de câncer mais frequente em ambos os sexos, quando excluídos os tumores de pele não melanoma. Dados do INCA referentes à previsão de novos casos para 2020 (www.inca.gov.br) Ainda de acordo com o INCA, e seguindo uma tendência epidemiológica mundial, observam-se taxas de incidência maiores nas regiões do Sul e Sudeste do País, com melhores níveis socioeconômicos, podendo chegar nessas áreas a 33 casos por 100.000 habitantes. No Ceará, segundo a mesma fonte, a incidência será de, aproximadamente, 12 casos por 100.000 habitantes entre os homens e de 11 casos por 100.000 habitantes entre as mulheres Dados do INCA referentes à distribuição geográfica dos casos de CCR (www.inca.gov.br) 2. Classificação, fatores de risco e fatores protetores para o câncer colorretal O câncer colorretal é um problema de saúde pública, tanto por sua elevada incidência e prevalência, quanto pela necessidade de sofisticados métodos de diagnóstico e tratamento para seu manejo. Estima-se que o risco acumulado de desenvolvimento do câncer colorretal no indivíduo seja de 6% ao longo da vida. Acredita-se que fatores genéticos associados aos fatores ambientais sejam os responsáveis pela gênese do câncer colorretal. Costuma-se classificar o câncer colorretal em esporádico e genético. O câncer colorretal esporádico representa 80% dos casos, tendo os fatores ambientais como principais determinantes etiológicos, tais como: idade elevada, presença de adenomas colorretais, fatores dietéticos e comportamentais. O câncer colorretal genético, por outro lado, representa aproximadamente 20% dos casos, sendo relacionado especificamente com algumas síndromes genéticas, como: polipose adenomatosa familiar (PAF), síndrome de Linch, síndrome de Turcot, síndrome de Gardner, dentre outras. O CCR pode ser prevenido através de diretrizes de rastreamento onde alguns fatores de risco são relevantes e determinantes na aplicação de desses protocolos. Porém, outros fatores, embora cientificamente envolvidos no CCR, não modificam formalmente os guias de rastreio da doença. Portanto, podemos separar os fatores de risco da seguinte maneira: fatores de alto risco que modificam os guidelines de rastreio; fatores de risco que podem modificar os guidelines de rastreio; e fatores de risco que não modificam os guidelines de rastreio. 2.1 Fatores de alto risco que modificam os guidelines de rastreamento Fatores de alto risco para o desenvolvimento do CCR costumam influenciar os protocolos e diretrizes de rastreamento da doença, comumente determinando a época de início do screening e sua periodicidade. Podemos citar os seguintes fatores de alto risco para CCR: • Idade – principal fator de risco nos casos de CCR esporádico, sendo incomum nos pacientes com menos de 40 anos. Sua incidência se inicia a partir dos 40 – 50 anos, passando a aumentar com o decorrer dos anos. Entretanto, estudos recentes apontam uma leve diminuição da incidência no grupo de indivíduos mais velhos, e um aumento na incidência no grupo de indivíduos mais novos (20 – 39 anos), tendo o maior tempo diante da televisão como um dos principais responsáveis nos jovens. • Síndromes genéticas – Diversas síndromes genéticas podem estar envolvidas na gênese com CCR, através de mutações cromossómicas. Dentre elas, destacam- se a polipose adenomatosa familiar (PAF) e a síndrome de Linch, também chamada de câncer colorretal hereditário não polipóide (HNPCC). Ambas representam até 5% do total dos casos de CCR, com o predomínio do HNPCC. • História prévia de adenocarcinoma colorretal esporádico – Pacientes com história prévia de CCR têm uma chance de até 3% de desenvolver tumores metacrônicos nos 5 primeiros anos após o tratamento. Pacientes com um parente de primeiro grau com história de CCR têm até duas vezes seu risco aumentado em relação à população geral para o desenvolvimento da doença. O risco aumenta, ainda mais, naqueles indivíduos que possuem dois parentes de 1º grau, bem como naqueles que possuem um parente de 1º grau juntamente com um, ou mais, parentes de 2º grau, com história prévia de câncer colorretal. • História prévia ou familiar de pólipo do tipo adenoma - O termo pólipo pode ser definido como qualquer elevação do epitélio da mucosa intestinal. Os pólipos podem ser classificados como neoplásicos e não neoplásicos. Os pólipos não neoplásicos são representados pelos pólipos hiperplásicos, inflamatórios e hamartomatosos, não tendo relação direta com o desenvolvimento do CCR. Os pólipos neoplásicos, por outro lado, têm relação com o desenvolvimento do CCR através da sequência adenoma-adenocarcinoma, sendo representado pelo adenoma. O adenoma é o tipo mais comum de pólipo, correspondendo a 75% deles. Os pólipos adenomatosos são compostos de células que possuem displasia em seu núcleo celular, sendo um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer colorretal. Os pólipos adenomatosos são classificados histologicamente em: tubulares, túbulo-vilosos ou vilosos; sendo o tipo viloso o mais propenso à malignidade. Outras duas características dos adenomas também consideradas de risco para o desenvolvimento do CCR seriam o seu tamanho - maior ou igual a 1 cm - e a presença de displasia de alto grau revelada no estudo histopatológico. História pessoalou familiar de adenomas colorretais - sobretudo maiores que 1 cm, do tipo histológico viloso e apresentando displasia de alto grau - podem também aumentar o risco de desenvolvimento de CCR em até 6%. Sequência adenoma-adenocarcinoma • Doença inflamatória intestinal (retocolite ulcerativa e doença de Crohn) – Está bem documentada a relação entre retocolite ulcerativa (RCU) e CCR. Os principais fatores que influenciam são: a extensão da doença, o grau de atividade e o tempo de duração. Portanto, pacientes com pancolite, colite em atividade – ou subtratada – e com doença instalada há mais do que 8 a 10 anos terão uma chance maior de evoluir com neoplasia de cólon. RCU associada à colangite esclerosante também aumenta o risco do desenvolvimento de CCR; bem como a presença de pseudopólipos, sobretudo quando grandes e complexos. Embora menos documentada e estudada, a doença de Crohn quando acometendo o intestino grosso, também parece aumentar o risco para o CCR, sendo recomentado por muitos guidelines seu rastreio mais precoce e rigoroso. • História prévia de radioterapia abdominal – pacientes que foram submetidos à radioterapia abdominal ou pélvica na infância, ou na fase adulta, aumentam o risco para CCR. Radioterapia para neoplasia de próstata está bem associada ao desenvolvimento do CCR pela lesão actínica causada no retossigmóide. • Câncer hereditário de pulmão e ovário – observa-se uma maior incidência dos casos de CCR nos indivíduos portadores dessa síndrome que possuem o subtipo com alteração no cromossomo BRCA1. • Fibrose cística – pacientes portadores de fibrose cística revelam um risco aumentado para CCR, sendo sugerido protocolos específicos para seu rastreamento precoce. http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiEgID47LfPAhUDQ5AKHYRHAF0QjRwIBw&url=http://www.progastrojoinville.com.br/enciclopedia/cancer_de_colon_e_reto&psig=AFQjCNEEQE-PPA_vw8FA8YAmty0pXNTCAQ&ust=1475350997087747 2.2 Fatores de risco que podem modificar os guidelines de rastreamento • Raça – Estudos Norte Americanos revelam que afrodescendentes apresentam um maior risco e uma maior mortalidade (20% a mais) relacionados ao CCR. Esse perfil populacional também desenvolvem a doença numa idade mais jovem, antes dos 50 anos. • Sexo – Homens são mais afetados e apresentam maior mortalidade (25% a mais) que mulheres. Observa-se nas mulheres um acometimento da doença nos segmentos cólicos mais proximais. • Acromegalia – Alguns estudos revelam que tanto adenoma como CCR podem ser mais prevalentes em portadores de acromegalia, sobretudo aqueles que apresentem a doença não controlada. Algumas diretrizes da especialidade indicam a realização da colonoscopia de rastreio mais precoce. • Transplante renal – Transplante renal associado a um longo período de imunossupressão parece aumentar o risco para o desenvolvimento do CCR. 2.3 Fatores de risco que não modificam os guidelines de rastreamento • Obesidade – revisões sistemáticas e metanálises sugerem que o ganho de peso sejam fatores de risco para o CCR. • Diabetes melitus (DM) – metanálises revelam que o risco de câncer de cólon está aumentado em 38% e o risco de câncer de reto em 20% nos portadores de DM. O pior prognóstico pós tratamento parece ser pior nesse grupo populacional, com maior mortalidade. • Carnes vermelhas e processadas – O consumo diário de carnes vermelhas e carnes processadas parece estar relacionado com o aumento do risco de CCR. Estima-se que o consumo de 50g de carne processada e 100g de carne vermelha diariamente aumentem, respectivamente, em 16 e 12% o risco de CCR. • Álcool – O consumo de álcool é um fator de risco não só para o CCR, mas para diversas outras neoplasias em outros órgãos. O risco de CCR se eleva proporcionalmente com a quantidade e frequência de doses consumidas. Além do risco de desenvolver a doença, o consumo de álcool também se relaciona com um pior prognóstico, com maiores taxas complicações, maior tempo de internação hospitalar, aumento no custo do tratamento e maior mortalidade global. • Tabaco – O tabaco sabidamente aumenta a incidência e a mortalidade do CCR. Também está relacionado com uma maior incidência global de adenomas e do surgimento de adenomas com displasia avançada. • Uso de andrógenos – Terapia de reposição hormonal com andrógenos por longo tempo parece ter relação com risco aumentado de CCR. • Colecistectomia – Estudos revelam um risco aumentado no desenvolvimento de câncer em cólon direito. 2.4 Fatores protetores • Atividade física • Dieta rica em fibras, vegetais e frutas; e pobre e gorduras • Ácido fólico • Vitamina D • Vitamina B6 • Suplemento de cálcio • Consumo de alho • Consumo de peixe e ômega 3 • Dieta rica em magnésio • Consumo de café • DAINE • Terapia de reposição hormonal 3. Rastreamento para o câncer colorretal (screening) Rastreamento ou screening em saúde é a prática médica, através de exame clínico ou complementar, que tem como objetivo investigar uma população assintomática visando surpreender presuntivamente determinada doença ainda não diagnosticada. Várias forças tarefas para o rastreamento do câncer colorretal foram publicadas nos últimos anos por distintas sociedades médicas ao redor do mundo. De uma maneira geral, existe uma convergência de informações e condutas publicadas em seus protocolos, porém com algumas variações observadas entre elas, no que tange à idade de início da investigação, indicações clínicas específicas e variedade de exames empregados. Nesse texto, por sua vez, teremos como base as orientações propostas pelas últimas diretrizes revisadas pela Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal (ASCRS) e pela Sociedade Americana de Cancerologia (ACS). O rastreamento do CCR está bem estabelecido e demonstrado pela ciência. O screening se justifica pela elevada incidência e prevalência da doença, e pela já conhecida progressão adenoma-adenocarcinoma que demonstra a probabilidade dos adenomas, em até 20% dos casos, evoluírem patologicamente para adenocarcinoma ao longo de, aproximadamente, 10 anos. Outra evidência se observa pela diminuição da incidência e dos índices de mortalidade por CCR após o aumento dos métodos de rastreio que permitem a busca e remoção dos adenomas intestinais, presentes em até 20-30% dos indivíduos, a partir dos 45 anos. Na avaliação clínica de rastreio, devem ser questionados os seguintes aspectos: história pessoal ou familiar de CCR ou adenoma; grau de parentesco, número de parentes e data de início da doença nos familiares; história familiar de síndromes genéticas; história pessoal de radioterapia abdominal prévia ou doença inflamatória intestinal. O rastreamento do CCR se inicia com a estratificação da população quanto ao risco de desenvolver a doença. Os indivíduos, portanto, são divididos e classificados em três grupos: baixo risco; moderado risco e alto risco. Pacientes de baixo risco seriam aqueles com idade menor que 45 anos, sem demais fatores de risco elevado para CCR; já os paciente com risco moderado corresponderiam aos com idade superior a 45 anos (ACS), também sem fatores de risco significativos; e os paciente de alto risco, por sua vez, seriam representados pelos indivíduos com elevado risco para o CCR, como: portadores de síndromes genéticas; história pessoal ou familiar de adenoma ou adenocarcinoma colorretal; portadores de doença inflamatória intestinal (RCU ou doença de Crohn); história prévia de radioterapia abdominal; e história de câncer hereditário de pulmão ou ovário. Pacientes de risco baixo normalmente não são eleitos para investigação de rastreio. O screening começa a ser recomendado para a população de médio risco, segundo a ACS, a partir dos 45 anos. População de alto risco, por sua vez, deveráser investigada com mais critério, seguindo protocolos específicos pré-estabelecidos, independentemente da idade. Os exames comumente utilizados para a realização do rastreamento contam com métodos endoscópicos, radiológicos de imagem e de pesquisa fecal. Dentre eles, destacam-se: colonoscopia endoscópica (COL); retossigmoidoscopia endoscópica (SIG); colonoscopia virtual ou colonografia – CTC (tomografia de abdome total multislice com preparo intestinal e preparo retrógrado); enema opaco com duplo contraste; pesquisa de sangue oculto nas fezes com método guaiaco (gFOBT); pesquisa de sangue oculto nas fezes por imunoquímica (FIT) e pesquisa de DNA fecal (FIT-DNA). Dentre os exames citados, a colonoscopia endoscópica aparece como o método mais sensível para o diagnóstico tanto da lesão adenomatosa como do câncer colorretal. Tem a vantagem ainda de possibilitar a biopsia das lesões ou mesmo da remoção dos adenomas, impedindo sua evolução para o adenocarcinoma. Sensibilidade na detecção de adenomas ou CCR comparando alguns exames diagnósticos de rastreio De acordo com a diretriz atual da ASCRS (www.fascrs.org), podemos recomendar à população de médio risco os exames e a periodicidade de repetição conforme a tabela abaixo. As diretrizes especializadas quanto à aplicação de exames de rastreio na população de alto risco, e sua periodicidade, fogem do escopo desse texto direcionado, sobretudo, aos acadêmicos de medicina. Risco da população Exames Repetição Médio risco (>45 anos) Colonoscopia (COL) 10/10 anos Retossigmoidoscopia (SIG) 5/5 anos Pesquisa de sangue oculto nas fezes (gFOBT) Anualmente SIG + gFOBT 5/5 anos colonografia (CTC) ou Enema opaco com duplo contraste 5/5 anos www.fascrs.org 4. Apresentação clínica do câncer colorretal As manifestações sintomáticas do CCR são variáveis, podendo o paciente apresentar três formas clínicas distintas no momento do diagnóstico: assintomático, geralmente quando diagnosticado pelos exames de rastreio; sintomático com queixas suspeitas relacionadas à doença; ou ser diagnosticado na urgência com sintomas de abdome agudo, decorrentes de complicações do tumor, como obstrução, perfuração ou sangramento. Os pacientes em 70 a 90% dos casos se apresentam sintomáticos no momento do diagnóstico. Nos casos em que o paciente abre o quadro com sintomas de urgência, o abdome agudo obstrutivo costuma ser a manifestação mais frequente. Acredita-se que os pacientes diagnosticados com sintomas tenham uma doença mais avançada e um pior prognóstico, sobretudo nos pacientes com quadro de obstrução ou perfuração. Os principais sintomas relacionados ao CCR podem ser vistos na tabela abaixo com suas respectivas taxas de apresentação clínica. Trabalhos falharam em demonstrar a sensibilidade de algum sinal ou sintoma específico para diagnóstico do CRC, exceto pela presença de massa palpável que sugere fortemente a doença. Por outro lado, quanto maior o número de sintomas presentes no momento do diagnóstico, pior é a sobrevida dos pacientes com tumor de cólon. Sintomas Frequência Alteração do hábito intestinal 74% Sangramento retal (hematoquezia) 51% Alteração do hábito + sangramento 71% Massa retal 24,5% Massa abdominal 12,5% Síndrome anêmica 9,6% Sintoma de abdome agudo 5-10% Estima-se que 60% dos tumores colorretais estejam localizados além da flexura esplênica, sobretudo nos segmentos retossigmoideanos. Os sintomas, por sua vez, podem variar e estar relacionados com a localização anatômica do tumor. 4.1 Tumores de cólon proximal (Cólon ascendente e ceco) Devido ao calibre aumentado desses segmentos intestinais, as lesões costumam crescer como massas vegetantes ou polipoides, não sendo característicos os sintomas de obstrução intestinal. Por outro lado, costumam predominar sintomas mais sistêmicos, como: síndrome anêmica, consumpção, adinamia ou episódios de diarreia. 4.2 Tumores de cólon distal (Cólon descendente e sigmoide) Devido ao seu menor calibre, os tumores dessa região podem cursar com sintomas obstrutivos, apresentando alteração do hábito intestinal, como: constipação - alternada ou não com diarreia -, dores/cólicas abdominais e hematoquezia. 4.3 Reto Há predomínio de hematoquezia persistente ou intermitente, além de constipação, dor retal, fezes “em fita”, tenesmo e eliminação de muco. 5. Avaliação diagnóstica, avaliação pré-operatória e diagnóstico diferencial 5.1 Avaliação diagnóstica Após a suspeição dos sintomas de CCR, o seu diagnóstico deve ser confirmado. A confirmação pode ser realizada através do método endoscópico que permite a visão direta da lesão e a realização de biopsia, proporcionando a documentação histopatológica. Portanto, o próximo passo na sequência da avaliação diagnóstica seria o estudo por colonoscopia endoscópica de toda anatomia intraluminal do reto e dos cólons , que também teria a finalidade de afastar lesões sincrônicas (duas ou mais lesões simultâneas presentes em segmentos distintos do intestino grosso e diagnosticadas em menos de 6 meses), presentes em 3 a 5% dos casos de CCR. Biopsia por colonoscopia de lesão neoplásica colorretal A colonoscopia endoscópica é considerada, portanto, o exame padrão-ouro para detecção e prevenção do CCR. Outra vantagem do método é possibilitar a tatuagem endoscópica do tumor, através da infiltração de corante estéril na mucosa próxima à lesão com a finalidade de realçar a serosa, possibilitando a localização anatômica durante a abordagem cirúrgica. Embora o método tenha uma boa sensibilidade (94,7%), pode, entretanto, falhar em até 6% dos diagnósticos, sobretudo em tumores localizados nos segmentos proximais. Outras limitações do método referem-se aos riscos relacionados à perfuração mecânica, à sedação anestésica, aos efeitos deletério do preparo intestinal e à impossibilidade de conclusão do procedimento - por dificuldade técnica, insuficiência no preparo dos cólons ou limitação da doença. Confecção de tatuagem endoscópica Localização da tatuagem no intraoperatório Alguns exames radiológicos de imagem contrastados também podem sugerir fortemente a presença do CCR, também podendo ser utilizados em seu diagnóstico. Dos métodos, destacam-se: a colonografia e o enema opaco com duplo contraste. O segundo método citado compreende um exame radiológico em que o paciente é submetido ao preparo dos cólons e à injeção transanal de contraste com bário (ou iodo) e ar (duplo contraste). O exame permite a avaliação anatômica do intestino grosso, podendo surpreender alterações estruturais como neoplasias, doença diverticular ou megacólon. Muito utilizado no passado, acabou sendo paulatinamente substituído pelos exames endoscópicos e radiológicos mais sofisticado, mas ainda utilizado em algumas situações excepcionais. Lesão neoplásica estenosante em enema opaco com duplo contraste (“mordida da maçã”) A Colonografia ou colonoscopia virtual é um exame tomográfico em que o paciente é submetido previamente a um preparo intestinal, além da aplicação retal de uma solução contrastada. Nesse exame, um softer consegue montar tridimensionalmente a anatomia colorretal, permitindo a identificação de alterações na morfologia intestinal que possam sugerir lesões neoplásicas. Imagem de lesão polipóide por colonografia (A) e colonoscopia endoscópica (B) A colonografia possui uma boa sensibilidade para detecção de CCR, de aproximadamente 90%. Ela tem ainda a vantagem de ser menos invasiva e não necessitar de sedação anestésica, sendo indicada, principalmente, nos casos em que a colonoscopia foi incompleta e nos pacientes mais debilitados clinicamente, como nos portadores de comorbidades ou nos idosos. Por outro lado, apresenta algumas limitações, como: falhana identificação de lesões menores que 1 cm; não permite a coleta de biopsias, nem a ressecção de pólipos; pode haver complicações decorrentes do preparo intestinal; não avalia as características inflamatórias da mucosa; pode apresentar resultado falso-positivo decorrente de artefatos produzidos por resíduo fecal; além de ter um custo elevado, sendo muitas vezes inacessível (atualmente apenas um serviço realiza esse procedimento em Fortaleza!). 5.2 Avaliação pré-operatória A avaliação pré-operatória consiste na avaliação de risco cirúrgico e no estadiamento pré-operatório da doença. O risco cirúrgico poderá ser investigado por anestesista da equipe ou por cardiologista. Quanto ao estadiamento pré-operatório, costuma-se solicitar os respectivos exames: a) Exames laboratoriais (hemograma, testes de função renal, eletrólitos, glicemia, coagulograma) e aferição do antígeno carcinogênico embrionário (CEA). O CEA não é utilizado como exame de screening devido à sua baixa sensibilidade e A B especificidade, muito embora valores acima de 5ng/mL possam estar relacionados com um pior prognóstico. Seu real papel será no seguimento do paciente, cujo aumento poderá sugerir a recidiva da doença. Vale ressaltar que fumantes, bem como portadores de outras doenças neoplásicas ou condições benignas (pancreatite, dentre outras) também poderão cursar com aumento dos níveis de CEA; b) Avaliação de todo o intestino grosso por colonoscopia ou outro método radiológico de imagem. Nos casos quando não se consegue o estudo completo dos cólons antes do procedimento cirúrgico, uma colonoscopia deverá ser programada 6 meses após a operação; c) Avaliação quanto à metástase pulmonar com radiografia simples de tórax ou TC de tórax com contraste; d) Avaliação abdominal e pélvica com TC com contraste à procura de metástase hepática ou peritoneal, invasão locorregional, comprometimento de órgãos adjacentes e avaliação de linfadenopatia; 5.3 Diagnóstico diferencial Os principais diagnósticos diferenciais que também possam cursar com sintomas parecidos aos do CCR são: doenças orificiais, doença diverticular, doença inflamatória intestinal, outras neoplasias abdominais com efeito de massa, dentre outras. 6. Classificação e estadiamento pós operatório Classificação TNM1 ESTÁDIO DEFINIÇÃO TUMOR (T) T1 Tumor restrito à submucosa T2 Tumor restrito à muscular própria T3 Tumor invadindo à subserosa e gordura pericólica ou perirretal T4 Tumor invadindo outros órgãos ou estruturas adjacentes e/ou perfurando vísceras peritoneais LINFONODO (N) N0 Linfonodos regionais não acometidos N1 Acometimento de até 3 linfonodos regionais N2 Acometimento de 4 ou mais linfonodos regionais METÁSTASE (M) M0 Ausência de metástases à distância M1 Presença de metástases à distância 7. Tratamento do câncer de cólon/reto superior e reto extraperitoneal De uma maneira geral, o tratamento das neoplasias colorretais é cirúrgico, complementado ou não por esquemas de radioterapia e quimioterapia a depender da localização e do estadiamento da doença. Exceção se faz nos pacientes em estágio avançado no momento do diagnóstico (estágio IV), com metástase a distância - predominantemente em fígado e pulmão -, cuja prioridade inicial será tratar a doença oncológica sistêmica pela quimioterapia. A abordagem operatória oncológica do câncer colorretal tem como principal objetivo a ressecção do segmento intestinal acometido pela lesão, proporcionando um espécime cirúrgico com margens de segurança livres da doença, associada à remoção das cadeias linfáticas que drenam aquele segmento operado, num número mínimo de 15 linfonodos. As abordagens operatórias pelas vias laparotômica ou laparoscópica poderão ser realizadas, sendo a última menos invasiva e trazendo uma menor resposta inflamatória ao trauma cirúrgico. 7.1 Tratamento do câncer de cólon e reto superior O tratamento da neoplasia de intestino grosso intraperitoneal, cólon e reto superior (1/3 superior), inicialmente será cirúrgico. Esse tratamento também poderá ser complementado por esquema adjuvante de quimioterapia a depender do estágio da doença após avaliação patológica do espécime cirúrgico. O tipo de operação será direcionado para o segmento intestinal acometido pela doença: LOCALIZAÇÃO DO TUMOR TÉCNICA CIRÚRGICA Cólon direito e ceco - Hemicolectomia direita Cólon transverso - Hemicolectomia direita ou esquerda, estendidas - dependendo da maior proximidade do tumor à flexura direita ou esquerda do cólon Cólon esquerdo - Hemicolectomia esquerda Cólon sigmóide - Retossigmoidectomia abdominal Reto superior e alguns tumores de reto médio (intraperitoneal) - Ressecção anterior baixa (cirurgia de abaixamento) 7.2 Tratamento do câncer de reto extraperitoneal Os pacientes com tumores de reto extraperitoneal (reto médio e inferiores), localizados abaixo da reflexão peritoneal, serão identificados ao toque retal no exame físico ou visualizados abaixo da segunda valva de Houston no exame endoscópico. Por estarem fora da cavidade abdominal, poderão se comportar de maneira distinta dos tumores colorretais intracavitários, podendo, por exemplo, apresentar metástase para linfonodos pélvicos e uma maior frequência de recidiva regional. Tumores de reto extraperitoneal localizados abaixo da segunda valva (seta azul) Após o diagnóstico pelo exame endoscópico com biopsia para confirmação histopatológica, o próximo passo será o estadiamento quanto ao grau de invasão da parede retal e quanto à presença de linfonodos perirretais suspeitos, pelos métodos de ultrassonografia anorretal endoscópica (USAR) ou pela ressonância magnética. Os métodos se assemelham quanto à sensibilidade no diagnóstico e estadiamento. Lesão neoplásica (seta azul) e linfonodo suspeito de metástase (seta vermelha) vistos por USAR Após o estadiamento, os tumores com infiltração mucosa e sem linfonodos suspeitos (T1), serão encaminhados diretamente para cirurgia de ressecção local, podendo ser realizada por via transanal tanto por visão direta como por equipamentos endoscópicos cirúrgicos desenvolvidos para tal fim. Ressecção transanal utilizando equipamento especializado (TAMIS) Por outro lado, os pacientes que tenham o tumor invadindo além da mucosa, e/ou com linfonodo metastático suspeito, deverão ser eleitos inicialmente para o tratamento de neoadjuvância com radio e quimioterapia, seguida de ressecção cirúrgica após, aproximadamente, 60 dias da sua conclusão. A neoadjuvância consiste no esquema terapêutico com realização de radioterapia associado à quimioterapia, em protocolos pré-estabelecidos por equipe multidisciplinar composta por cirurgião, quimioterapêuta e radioterapêuta, antes da intervenção cirúrgica. Essa conduta mostrou-se eficaz em reduzir o tamanho da lesão, em diminuir as taxas de recidiva pélvica e em aumentar a sobrevida dos pacientes. Após realização da neoadjuvância, os tumores de reto extraperitoneal poderão ser tratados cirurgicamente de duas formas: ressecção anterior baixa (RAB) ou cirurgia de amputação abdomino-peritoneal (cirurgia de Miles). A RAB consiste na ressecção do reto e cólon sigmoide seguida da confecção de anastomose baixa ou ultrabaixa, daí o termo também aplicado para esse procedimento: cirurgia de abaixamento. A cirurgia de Miles será indicada naqueles pacientes com acometimento e infiltração do canal anal pela doença neoplásica, sendo ressecado, além do reto e cólon sigmoide, o canal anal seguido do fechamento do períneo e da confecção de estoma terminal definitivo. Pertinente ainda ressaltar que as cirurgiasdos tumores de reto médio e baixo - RAB ou cirurgia de Miles - deverão tecnicamente promover a excisão total e inviolável da fáscia mesorretal, removendo toda gordura perirretal contendo a cadeia linfática regional, o que confere melhores resultados cirúrgicos e maior sobrevida livre da doença. Opções de procedimentos cirúrgicos realizados no tratamento dos tumores de reto: LOCALIZAÇÃO DO TUMOR TÉCNICA CIRÚRGICA Reto inferior e alguns tumores do reto médio - Ressecção local - Ressecção anterior baixa (cirurgia de abaixamento - RAB) - Amputação abdomino-perineal do reto (cirurgia de Miles) 8. Prognóstico A sobrevida em 5 anos nas neoplasias colorretais correlaciona-se com a extensão do tumor, correspondendo à sua penetração na parede da alça intestinal. De acordo com a classificação de Dukes: A (restrito à parede intestinal): 81%. B (além da parede intestinal): 62%. C (comprometimento linfonodal): 35%.
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