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0 OBJETIVO 1. DESCREVER A FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO DAS POLIPOSES. O que são: O pólipo intestinal é uma alteração causada pelo um crescimento anormal da mucosa do intestino grosso (cólon e reto). É uma das condições mais comuns que afeta o intestino, ocorrendo em 15 a 20 por cento da população. Alguns são baixos e planos, outros são altos e se assemelham a um cogumelo, podendo aparecer em qualquer parte do intestino grosso. Inicialmente são diminutos e benignos (adenoma), podendo crescer até sofrerem transformação maligna (adenocarcinoma). Por este motivo é tão importante a remoção dos pólipos, com a finalidade de prevenir o câncer. Classificação dos pólipos Podemos classificar os pólipos essencialmente quanto às suas dimensões, morfologia ou histologia. A sua classificação é relevante porque determinadas características permitem-nos prever quais os pólipos com maior potencial para progredir para carcinoma. Quanto à dimensão podem ser caracterizados: • Pólipos diminutos (ou micropólipos) se inferiores a 5 mm. Constituem cerca de 80% de todos os pólipos encontrados endoscopicamente. • Pólipos pequenos quando apresentam dimensões entre 6 a 9 mm. • Pólipos grandes se superiores a 10 mm. Em alguns tipos de pólipos e dependendo da sua histologia, a dimensão do pólipo pode ser considerado fator preditor para o risco de cancro invasivo. Morfologicamente os pólipos são classificados como pediculados, sésseis, e planos. De modo a padronizar e uniformizar a informação quanto à caracterização dos pólipos recorre-se habitualmente à classificação de Paris (imagem). As lesões IIc e III, habitualmente adenomas, apresentam uma alta incidência de cancro invasivo, independentemente das dimensões. Finalmente, quanto à histologia, os pólipos podem ser classificados como lesões da submucosa, lesões epiteliais não neoplásicos e lesões epiteliais neoplásicas: ● As lesões da submucosa, nomeadamente agregados linfoides, lipomas, leiomiomas, fibromas, tumores de estroma gastrointestinal (GISTs) ou lesões metastáticas, podem conferir uma aparência polipóide à mucosa e serem confundidos com lesões da mucosa. ● As lesões epiteliais não neoplásicas são benignas e habitualmente não são percursoras de carcinoma. As mais frequentes são os pólipos hiperplásicos: fazem parte do grupo das lesões serreadas. Outro exemplo de lesões epiteliais não neoplásicas são os pólipos inflamatórios: são na realidade pseudopólipos, ilhotas da mucosa inflamada em regeneração, circundadas por ulceração e habitualmente exsudativas na superfície, associadas na maior parte das vezes a casos de doença inflamatória intestinal ativa. Por fim os pólipos hamartomatosos: constituídos por tecido normal, que cresce de forma desorganizada e/ou aberrante, podem ocorrer esporadicamente ou como síndromes genéticos, nomeadamente o pólipo juvenil, pólipo de Peutz-Jeghers ou a síndrome de Cronkhite-Canada. ● As lesões epiteliais neoplásicas são percursoras de carcinoma. PÓLIPOS EPITELIAIS NEOPLÁSICOS As lesões neoplásicas precursoras de carcinoma são benignas, mas apresentam o potencial de evoluir para malignidade. Pode-se dividi-las essencialmente em SP4 2 “Trava ou Solta...” pólipos adenomatosos e pólipos serreados. O conceito de pólipo maligno já implica a existência de carcinoma invasor. ↳ Pólipos adenomatosos Os pólipos adenomatosos são os mais frequentes entre os pólipos neoplásicos e correspondem a cerca de 2/3 de todos os pólipos do cólon. Os fatores de risco associados ao seu aparecimento incluem: idade avançada, sedentarismo, sexo masculino e aumento do IMC/gordura abdominal. A presença de displasia confere-lhes potencial de malignidade, constituindo as lesões precursoras da maior parte dos CCR (câncer colorretal). No entanto, apenas 5% dos adenomas evolui para carcinoma por um processo que decorre de 7 a 10 anos, sendo o risco de progressão maior para os adenomas avançados. Os pólipos adenomatosos podem ser classificados em 3 subtipos, com base na arquitetura epitelial. Os adenomas tubulares: representam cerca de 80% de todos os adenomas e são caracterizados pela presença de glândulas tubulares em pelo menos 75% da sua arquitetura. Os adenomas vilosos: correspondem de 5 a 15% de todos os adenomas e apresentam glândulas com projeções vilosas em pelo menos 75% da sua arquitetura. Os adenomas túbulo-vilosos: correspondem de 5 a 15% dos adenomas e apresentam histologia mista com menos de 75% dos dois tipos de arquiteturas. Os pólipos adenomatosos surgem como resultado da displasia proliferativa epitelial, que pode variar entre displasia de baixo grau, mais frequente (70-90%), e displasia de alto grau (10-30%). A displasia de baixo grau caracteriza-se por criptas ramificadas, revestidas por células com núcleos finos e alongados, resultando num aumento do rácio núcleo: citoplasma e perda de células caliciformes. A displasia de alto grau caracteriza-se por uma arquitetura complexa, onde existe agrupamento e irregularidade glandular, assim como um padrão cribriforme e por atipía citológica, com perda da polaridade nuclear, núcleos alargados com nucléolos, mitoses atípicas e apoptoses proeminentes. A displasia de alto grau tem maior risco de evolução para carcinoma e associa-se mais frequentemente ao subtipo de adenoma com arquitetura vilosa, no entanto, todos os graus de displasia podem ser encontrados em qualquer subtipo de adenoma (incluindo dimensão e morfologia), sendo difícil de determinar ao exame macroscópico. No sentido de desenvolver marcadores de risco de progressão para CCR (câncer colorretal), criou-se o conceito de adenoma avançado. Inclui lesões com dimensões ≥ 10 mm, e/ou arquitetura histológica vilosa e/ou presença de displasia de alto grau. Representam lesões com maior risco de evolução para CCR — cerca de 2,5% aos 5 anos e 10% aos 10 anos. 60% a 80% dos casos de câncer colorretal desenvolvem-se através da via da instabilidade cromossômica, caracterizada pela acumulação de alterações moleculares durante o processo de transformação maligna: focos de criptas aberrantes — adenomas com displasia — adenocarcinoma. A alteração molecular mais precoce consiste na mutação somática do gene APC (adenomatous polyposis coli), à qual se sucedem mutações nos genes KRAS e P53, entre outros. ↳ Pólipos serreados As lesões serreadas representam um grupo heterogêneo com potencial maligno variável, sendo a arquitetura serreada ou configuração das criptas em “dentes de serra”, o elemento comum a todas as lesões. Este grupo inclui os pólipos/adenomas serreados sésseis (P/ASS), os adenomas serreados tradicionais (AST) e os pólipos hiperplásicos (PH). ● Os PH (pólipos hiperplásicos) são lesões não neoplásicas, correspondem a 80-90% das lesões serreadas, e encontram-se em mais de 50% das pessoas com idade superior a 60 anos. Localizam-se preferencialmente na sigmoide e no reto e macroscopicamente são lesões sésseis, esbranquiçadas, com um diâmetro geralmente inferior a 5 mm. A maioria dos PH’s não apresenta potencial de malignidade, no entanto, existe alguma evidência de que possam ser percursores de P/ ASS (pólipos/adenomas serreados sésseis), particularmente os de grandes dimensões ou quando localizados no cólon proximal. Desta forma existe um risco de malignização que não pode ser completamente ignorado. ● Os P/ASS (pólipos/adenomas serreados sésseis) são mais frequentes no cólon proximal, correspondem a 18 a 22% das lesões serreadas do cólon e representam entre 3% a 9% de todos os pólipos do cólon. Macroscopicamente têm geralmente mais de 5 mm, são habitualmente sésseis ou planos, macios e amarelados. Como os padrões de proliferação e diferenciação celular incluem expressão de muco,frequentemente estes pólipos estão cobertos por muco, dificultando a sua detecção. Os P/ASS não possuem displasia no estagio inicial de desenvolvimento, mas podem adquirir essa característica ao longo da progressão neoplásica, tratando-se, porém, de displasia citológica (diferente, portanto, dos adenomas convencionais) e associando- se, apenas esses, a um aumento do risco de adenocarcinoma serreado. ● Os AST podem ser encontrados em todo o cólon, mas predominam no cólon distal. Correspondem a 0,6 a 1,3% das lesões serreadas. Possuem habitualmente uma forma pediculada e dimensões superiores a 10 mm (sendo mais fáceis de detectar). Apresentam aspecto macroscópico cerebriforme. Microscopicamente (tal como os adenomas convencionais), os AST têm sempre displasia. Tanto os P/ASS com displasia citológica como os AST têm potencial de malignidade e estão associadas ao desenvolvimento de lesões metacrónicas subsequentes. Os P/ASS, devido à presença de muco que os recobre, assim como a sua natureza séssil e bordos difíceis de distinguir, exigem especial atenção relativamente à sua resseção completa. Estas lesões, efetivamente, devido à maior dificuldade em serem detectadas, ressecção incompleta ou ainda à mais rápida progressão para cancro, contribuem para uma menor eficácia do rastreio do CCR, relacionada com os carcinomas de intervalo. As lesões serreadas apresentam características que as distinguem dos adenomas convencionais, e que as relacionam com o adenocarcinoma serreado, que contribui para cerca de 30% dos casos de adenocarcinoma. No plano molecular, as principais alterações que caracterizam a via serreada de carcinogênese colo-retal é a instabilidade de microssatélites (MSI), que pode ser alta ou de baixa instabilidade (MSI-H ou MSI-L), com fenótipo CpG Island methylator (CIMP) e mutação BRAF. Existe uma via alternativa que se origina na mutação KRAS sem associação com o CIMP, BRAF ou MSI e que está associada aos adenomas serreados tradicionais. Tem sido referido que a sequência adenoma-carcinoma que caracteriza a via serreada seja mais rápida do que a via clássica. ↳ Síndrome polipósico serreado A síndrome polipósico serreado (SPS) refere-se a uma condição pré-neoplásica, caracterizada essencialmente por pólipos hiperplásicos múltiplos, grandes e de localização pancólica. A idade de apresentação e a multiplicidade das lesões sugere uma predisposição genética. O risco de CCR é superior a 50% e podem ocorrer carcinomas múltiplos, síncronos ou metácronos. Os critérios da Organização mundial de saúde (OMS) para o diagnóstico desta síndrome requer a presença de pelo menos uma das características descritas (quadro 2). ↳ Pólipo maligno O pólipo maligno caracteriza-se pela evidência de penetração da muscularis mucosa por células malignas, sem ultrapassar a submucosa (pT1 na classificação TNM), coexistindo o potencial de metastizar para os nódulos linfáticos e subsequentemente à distância. A sua prevalência é de cerca de 0,75% a 5,6%, e a incidência continua a aumentar devido à implementação dos programas de rastreio. Existem alguns aspectos na morfologia das lesões que sugerem eventual malignidade. Incluem o tamanho, lesões deprimidas, contornos irregulares, deformidade, pedículo pequeno e imóvel e incapacidade em elevar endoscopicamente um pólipo séssil. Quando surgem estas lesões suspeitas, o recurso a técnicas de magnificação com cromoendoscopia, pode evidenciar anormalidades citoarquitecturais glandulares e avaliar a extensão à submucosa. A classificação de Kudo (Quadro 3) define a estrutura superficial da mucosa dos pólipos dividindo-a em 5 classes de padrão superficial pela técnica de magnificação endoscópica, após a aplicação do corante. A classe 5 da classificação, com uma superfície não estruturada, tem demonstrado boa correlação com o diagnóstico de malignidade, e pode oferecer informação adicional importante para o tratamento endoscópico. ↳ Síndrome de Gardner Foi relatada pela primeira vez por Eldron Gardner, em 1951, em um paciente com 69 descendentes portadores de CCR (câncer colorretal) e tumores extraintestinais. Essa variante da PAF (polipose adenomatosa familiar) distingue-se por sua associação com manifestações extraintestinais, como tumores desmoides, cistos sebáceos e epidermoides, lipomas, osteomas do crânio e da mandíbula, dentes supranumerários, pólipos gástricos e HCEPR. ↳ Síndrome de Turcot É outra variante fenotípica da PAF caracterizada por múltiplos pólipos adenomatosos e tumores do sistema nervoso central (gliobastomas supratentoriais). As características genéticas dessa síndrome ainda não são bem compreendidas. ↳ Polipose adenomatosa familiar atenuada (PAFA) Embora os critérios diagnósticos de PAFA ainda não estejam claramente definidos, utiliza-se esse termo para descrever a forma mais leve de PAF. Caracteriza- se por pólipos colorretais adenomatosos em menor quantidade (mais de 20 e menos de 100), geralmente localizados no cólon direito, com o início da doença em idade mais avançada e menor risco, em longo prazo, para manifestações extraintestinais. O diagnóstico é habitualmente feito em pacientes entre 25 e 40 anos de idade, com mais de 10 pólipos adenomatosos ou câncer colorretal, e/ou lesões do trato digestivo alto. O papel e o momento ideal para a intervenção cirúrgica ainda são controversos, pois o risco de progressão da doença para CCR é indefinido. ↳ Polipose associada ao MYH Difere das anteriormente descritas por ser transmitida de forma recessiva. Esse gene, quando mutado, promove alterações no gene APC, desencadeando essa polipose. Pode se manifestar apresentando de 15 a 100 pólipos (e algumas vezes centenas deles), lembrando o fenótipo da PAF. A idade média dos pacientes é 45 anos, e os pólipos estão preferencialmente localizados no cólon direito. Outras afecções que aparecem na PAF também podem estar presentes, além de uma maior incidência de câncer de mama nesta população. ↳ Síndrome de Lynch (SL) ou câncer colorretal hereditário não polipoide (HNPCC) Os pacientes que têm essa síndrome apresentam pólipos adenomatosos do cólon que evoluem para câncer e ou outras malignidades extracolônicas (cânceres de endométrio, ovário, estômago, intestino delgado, sistema hepatobiliar e pancreático, trato urogenital superior e cérebro). Essa á a causa mais comum de CCR hereditário. Os CCR geralmente são mais proximais, e os pacientes apresentam riscos crescentes de cânceres simultâneos ou não. Estatisticamente, o risco de câncer em pacientes portadores da síndrome de Lynch (SL) são: CCR em homens: 28 a 75%. CCR em mulheres: 24 a 52%. Endométrio: 27 a 71%. Ovário: 3 a 13%. Gástrico: 2 a 13%. Trato urinário alto: 1 a 12%. Cerebrais: 1 a 4%. Essa síndrome ocorre em razão de mutações germinativas em um dos quatro genes de reparo: MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2. Mais de 80% das mutações ocorrem nos dois primeiros. Por meio de reação imuno-histoquímica ou reação de PCR (polymerase chain reaction), realizadas no material tumoral, pode-se estabelecer se existe instabilidade de microssatélites (IMS) nesse tumor. Este é o principal indicador tecidual desta síndrome. A instabilidade é consequente à inserção e/ou à deleção de repetição que ocorrem em decorrência do reparo inadequado do DNA. Pode ser classificada em alta, estável ou baixa. Para se realizar o diagnóstico da SL, além de obter um histórico familiar detalhado, estabelecendo-se uma genealogia, foram criados alguns outros critérios. O atualmente mais utilizado é o sistema de Bethesda revisado, que sugere que pacientes com CCR devem ser testados por IMS quando um ou mais dos critérios a seguir forem identificados: CCR em pacientes com menos de 50 anos deidade. CCR e a presença de outros tumores associados à SL sejam eles concomitantes ou não, independentemente da idade. CCR com histologia de IMS-alto, em paciente com menos de 60 anos de idade. CCR diagnosticado em parentes, um ou mais, de primeiro grau, com um tumor associado à SL. É um dos cânceres diagnosticado antes dos 50 anos. CCR diagnosticado em dois ou mais parentes, de 1o ou 2o grau, com tumores associados à SL. São diagnosticados com qualquer idade. Recomenda-se, em razão do alto risco de desenvolvimento de CCR, que tais pacientes realizem uma colonoscopia a cada 1 ou 2 anos, a partir dos 20 a 25 anos de idade, com o intuito de diminuir a incidência de CCR, diminuindo também sua mortalidade ↳ Polipose juvenil (PJ) O aparecimento de inúmeros pólipos juvenis pelo trato gastrointestinal, principalmente no cólon, iniciando-se geralmente na primeira década de vida, caracteriza essa afecção, que é rara e autossômica dominante. Está relacionada com mutações germinativas no gene SMAD4 do cromossomo 18q21 e o gene BMPR1A do cromossomo 10q23. Histologicamente também são hamartomas. Utilizam-se alguns critérios clinicoendoscópicos para o diagnóstico da PJ: *no mínimo cinco pólipos juvenis no cólon/reto; *pólipos juvenis ao longo do trato gastrointestinal; *pólipos juvenis em um membro de uma família com diagnóstico prévio da doença. Os sintomas mais comuns são hematoquezia, anemia e sinais de obstrução intestinal. Alguns estudos demonstraram a possibilidade de degeneração adenomatosa dos pólipos juvenis, predispondo ao câncer (em cerca de 60%). Em adição, a PJ foi associada à malignidade do pâncreas, estômago, duodeno, trato biliar e algumas anomalias congênitas. Recomenda-se o monitoramento endoscópico desses pacientes ao final da adolescência, com intervalos trienais. ↳ Síndrome da polipose hiperplásica (SPH) Define-se essa síndrome quando se encontram pólipos hiperplásicos maiores que 1 cm de diâmetro ou em número superior (> 30) àqueles identificados na população geral. Parece que a chance de ocorrência de CCR nesses pacientes também é maior; no entanto, ainda não foram bem esclarecidos quais os mecanismos genéticos envolvidos. A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization – WHO) determina que para ser portador dessa síndrome deve-se encontrar: 1. Pelo menos cinco pólipos hiperplásicos proximais ao cólon sigmoide, sendo dois maiores que 10 mm. 2. Qualquer número de pólipos hiperplásicos presentes nos segmentos proximais ao sigmoide, em paciente com parente em primeiro grau, que seja portador dessa síndrome. 3. Mais de 30 pólipos hiperplásicos ao longo do cólon. Não existem manifestações extraintestinais nessa síndrome. Recomenda-se segmento trienal nesses indivíduos assim que seu diagnóstico é suspeitado. Nos casos em que, em razão do seu tamanho ou dificuldade técnica, essas lesões não podem ser removidas endoscopicamente, deve-se oferecer a opção do tratamento cirúrgico a esses pacientes. FISIOPATOLOGIA POLIPOSE ADENOMATOSA FAMILIAR As mutações na linha germinal da proteína APC (adenomatous polyposis coli) foram descritas pela primeira vez em 1991, como causadoras de polipose adenomatosa familiar com um padrão de hereditariedade autossômico dominante. Mais tarde, em 2002, foi descoberto outro gene envolvido no processo de polipose, o gene MUTYH (homólogo mutY). As mutações bi alélicas deste gene apresentam um padrão de transmissão autossômico recessivo. O gene APC é um onco-supressor que está localizado no cromossoma 5q21- q22. Este gene é constituído por 15 exões e o exão 15 possui mais de 75% da sequência de codificação da proteína APC, correspondendo ao alvo mais comum tanto para as mutações germinativas como para as somáticas. A proteína codificada pelo gene APC é constituída por 2843 aminoácidos (310KDa) e desempenha um papel fundamental na via de sinalização Wnt. Esta proteína multifuncional possui várias isoformas, surgindo no interior das células com a capacidade de interação com numerosas moléculas diferentes. A proteína APC desempenha a sua função oncosupressora através da regulação negativa da onco-proteína β-catenina. A ativação da proteína APC leva à ubiquitinação (mecanismo de degradação proteica intracelular) e degradação da β-catenina, mantendo, deste modo, os seus níveis normais. Contudo na sua ausência ou na sua disfunção, este processo não ocorre e consequentemente há uma acumulação de β-catenina ao nível do núcleo celular que posteriormente interage com fatores que promovem a transcrição de genes que estão envolvidos em vários processos celulares, nomeadamente a entrada da célula no ciclo celular, proliferação, migração, apoptose e progressão da célula. A proteína APC também está envolvida na estabilização dos microtúbulos, contribuindo para a estabilidade cromossômica. Podemos assim concluir que a disfunção da proteína APC leva a uma segregação cromossômica deficiente e a um processo mitótico aberrante. Num estudo realizado em 2007 foram detectadas mutações no gene APC em 80% dos doentes com mais de 1000 adenomas, em 56% de doentes com 100-999 adenomas, em 10% dos doentes com 20-99 adenomas e em 5% dos doentes com 10- 19 adenomas. A transmissão da PAF é autossômica dominante, contudo 25% dos doentes apresentam uma mutação de novo, ou seja, não possuíam história familiar da doença. Uma percentagem significativa dos casos de PAF com mutações de novo surgem num contexto de mosaicismo genético, estimando-se que chegue a 1/5 dos casos. Nestas situações apenas um subgrupo de células do indivíduo possuem a mutação. Desde a identificação do gene APC já foram reportadas mais de 1100 mutações causadoras de PAF, sendo que a maior parte destas resultam numa proteína APC truncada, comprometendo deste modo a sua função. As mutações identificadas mais frequentes são: “nonsense” (28%), pequenas inserções (10%) e pequenas deleções (46%). Como foi referido anteriormente, as mutações bi- alélicas do gene MUTYH originam uma síndrome poliposa. Os doentes com esta síndrome apresentam uma grande variabilidade de manifestações clínicas, mas de um modo geral o número de pólipos adenomatosos presentes é inferior a 100. O gene MUTYH encontra-se no cromossoma 1p34.3-1p32.1 e contém 16 exões que codificam uma proteína com 535 aminoácidos. Esta proteína faz parte do sistema de reparação do DNA por excisão de bases. Este sistema é constituído por 3 proteínas (MUTYH, OGG1 e MTH1) e contribui para a proteção celular contra os efeitos mutagênicos do metabolismo aeróbico, sobretudo a oxidação da guanina que leva à formação de 8-oxoG. A ativação deste sistema previne as mutações somáticas induzidas por 8-oxoG que possui uma grande afinidade para a adenina. O MUTYH é especificamente responsável pela remoção das adeninas erradamente emparelhadas com 8-oxoG. É frequente a presença de mutações nos genes APC e KRAS em adenomas ou tumores associados a mutações MUTYH. Uma vez que os doentes com Polipose associada ao gene MUTYH podem apresentar pólipos convencionais ou pólipos serreados foi sugerida a existência de duas vias de carcinogênese distintas, uma que leva ao surgimento de adenomas convencionais, com mutações no gene APC e/ou KRAS e outra via não-APC que leva ao desenvolvimento de pólipos hiperplásicos e adenomas serreados e sésseis com mutações KRAS. Já foram detectadas mais de 80 mutações patogénicas no gene MUTYH, sendo a maior parte destas mutações “missense”. A maior parte das mutações ocorre predominantemente em dois hotspots: p.Y179C no exão 7 e p.G382D no exão 13. Estas mutações originam cerca de 70-80% dos casos ao nível da Europa. DIAGNÓSTICO Exames físico e proctológico Os exames físico e proctológico são pobresquando se investiga a possibilidade de pólipos do cólon. No entanto, nas lesões do reto e sigmoide distal, uma adequada inspeção da região perianal e o toque retal, seguidos de anorretoscopia ou sigmoidoscopia rígidas, são fundamentais para o seu diagnóstico. Exames complementares Os primeiros exames utilizados para o seu diagnóstico foram os exames radiológicos contrastados, por exemplo, o enema opaco, que ainda tem seu valor. Com o rápido desenvolvimento tecnológico, outros exames de imagem menos invasivos, como a ultrassonografa abdominal e pélvica (US), a tomografa abdominal computadorizada (TAC) e, mais recentemente, a colonografia por TC (CTC) – além da ressonância nuclear magnética (RNM) –, trouxeram mais informações que colaboram para o diagnóstico. A colonoscopia óptica, que passou a ser utilizada desde o início da década de 1970, é um dos exames mais importantes no diagnóstico dos pólipos colorretais. Sua grande vantagem em relação aos exames de imagem, anteriormente citados, é que ao mesmo tempo que se faz o diagnóstico, pode-se realizar seu tratamento. A ecoendoscopia, que é realizada com um tubo endoscópico específco ou através de probes introduzidos pelo canal de trabalho do colonoscópio, tem indicação precisa em algumas dessas lesões, por determinar, com altíssima acurácia, a camada da qual essa lesão se origina. Além disso, permite a punção ecoguiada com agulha fna (punção com agulha fna – PAF), para análise anatomopatológica desse espécime. A pesquisa de sangue oculto nas fezes tem uma baixa sensibilidade para essas lesões (20 a 25%). É mais bem indicada para o rastreamento do câncer colorretal (CCR), quando atinge sensibilidade superior a 80%, principalmente se forem utilizados os métodos mais modernos, tipo FIT (fecal immuno test), ou o do guaiaco. Pólipos adenomatosos Os pólipos adenomatosos no cólon e reto podem ser diagnosticados pela endoscopia ou radiografia com bário, mas estudos múltiplos indicam que a colonoscopia é o método mais exato para o diagnostico de pólipos de cólon e reto. Por exemplo, o National Polyp Study relatou que o clister opaco deixou de diagnosticar 52% dos pólipos maiores ou iguais a 1 cm de tamanho. A colonoscopia é, assim, o método preferível para diagnosticar os adenomas com base nesta taxa superior de exatidão e, como a técnica permite uma biópsia imediata e ressecção da maioria dos pólipos, as evidencias atuais apoiam o uso da colonoscopia como arma de rastreamento para a população com mais de 50 anos de idade. A sigmoidoscopia flexível, que é frequentemente empregada para o rastreamento de pessoas assintomáticas com risco médio de adenocarcinoma de cólon e reto, vai detectar 50% a 60% de todos os pólipos e tumores. Geralmente, os pacientes com pólipos devem ser submetidos à colonoscopia para remover a lesão e pesquisar a presença de pólipos adicionais. No entanto, a colonoscopia pode não ser adequadamente realizada nos pacientes com diverticulose avançada ou naqueles que não foram submetidos a uma cirurgia pélvica prévia. Nestas circunstancias, a radiografia com duplo contraste de bário e a sigmoidoscopia flexível podem ser alternativas aceitáveis. A colonografia por tomografia computadorizada (TC), ou colonoscopia virtual foi descrita como equivalente em acurácia à colonoscopia convencional para detecção de pólipos de 6 mm ou mais, em um grande estudo, mas outros relataram menor sensibilidade, na faixa de 55% a 66%, talvez devido a diferentes técnicas de TC (escâneres de TC de detector único versus multidetectores) e variabilidade interobservadores na leitura das imagens. Embora a colonoscopia endoscópica ainda seja o “padrão-ouro” para detecção de pólipos, a colonografia por TC pode emergir como uma ferramenta de triagem viável para certos subgrupos de pacientes na detecção de pólipos adenomatosos e câncer colorretal. PROGNÓSTICO As taxas de sobrevida são utilizadas pelos médicos como uma forma padronizada de discussão do prognóstico de um paciente. A taxa de sobrevida em 5 anos se refere à porcentagem de pacientes que vivem pelo menos 5 anos após o diagnóstico da doença. A taxa de sobrevida não prevê quanto tempo cada pessoa viverá, mas permite entender a probabilidade de sucesso do tratamento. As taxas de sobrevida são baseadas em resultados anteriores de um grande número de pessoas que tiveram a doença, mas não se pode prever o que vai acontecer no caso específico de um paciente. Essas estatísticas podem ser confusas e podem gerar dúvidas, portanto converse com seu médico, só ele tem amplo conhecimento de seu caso e poderá dizer como esses dados se aplicam ao seu caso em particular. A taxa de sobrevida relativa compara as pessoas com um determinado tipo e estágio de câncer na população em geral. Por exemplo, se a taxa de sobrevida relativa em 5 anos para um estágio específico de câncer de cólon e de reto é de 80%, isso significa que as pessoas portadoras de câncer de cólon e de reto têm, em média, 80% de probabilidade de estarem vivas pelo menos 5 anos após o diagnóstico, comparando com as pessoas que não tem a doença. Mas, saiba que muitos desses pacientes vivem mais do que 5 anos após o diagnóstico. Os números abaixo são do banco de dados do Instituto Nacional de Câncer Americano (SEER - Surveillance, epidemiology, and end results), que rastreia as taxas de sobrevida em 5 anos para o câncer de cólon e reto. No entanto, esse banco de dados não agrupa os cânceres pelo sistema de estadiamento TNM, da AJCC e, sim como: *Localizado. Não existe sinal de disseminação da doença. *Regional. O tumor se disseminou para estruturas próximas ou linfonodos. *À distância. O tumor se disseminou para outros órgãos, como o fígado, pulmões ou linfonodos. Os dados abaixo estão baseados em pacientes diagnosticados com câncer de cólon entre 2009 e 2015. Os dados abaixo estão baseados em pacientes diagnosticados com câncer de reto entre 2009 e 2015. Observações sobre as estatísticas acima: *Estão baseadas no estágio do câncer no momento do diagnóstico. *Não levam em consideração outros fatores, como idade, estado geral de saúde e como a doença responde ao tratamento, que podem afetar o prognóstico do paciente. *Os pacientes diagnosticados atualmente com câncer de cólon ou reto podem ter um prognóstico melhor do que mostrado nos dados acima. As recentes melhorias nas técnicas de tratamento podem resultar em um prognóstico mais favorável para os pacientes que estão sendo agora diagnosticados e tratados atualmente. Pólipos adenomatosos Os pacientes submetidos à ressecção de um pólipo adenomatoso correm maior risco de desenvolvimento subsequente de adenomas e adenocarcinoma de cólon e reto. Em geral, uma colonoscopia de acompanhamento deve ser realizada após 3 anos. As colonoscopias iniciais devem ser realizadas nos pacientes com adenomas múltiplos ou grandes e sesseis removidos. Em contrapartida, o risco de neoplasia não está significativamente aumentado nos pacientes com menos de três pequenos (<1cm) adenomas tubulares removidos – para estes indivíduos, a primeira colonoscopia de acompanhamento pode ser adiada por ate 5 anos. Se a primeira colonoscopia for negativa, a segunda, de acompanhamento, pode ser adiada por 5 anos. OBJETIVO 2. DESCREVER FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, QUADRO CLÍNICO, RASTREAMENTO, DIAGNÓSTICO, ESTADIAMENTO, TRATAMENTO E PREVENÇÃO DO CA COLORRETAL: Fatores de risco Fatores de risco para o CCR são: As síndromes hereditárias; Polipose Adenomatosa Familiar (PAF), Síndrome de Lynch/Câncer colorretal hereditário não polipomatoso (HNPCC) Antecedente pessoal ou em familiares de CCR, Atividade e extensão de acometimento de doençasinflamatórias intestinais, Radiação abdominal Fibrose cística. Alguns estudos evidenciaram a relação de carnes vermelhas e processadas, dieta rica em gorduras animais, baixa ingestão de fibras, obesidade, sedentarismo, consumo de álcool e cigarro e idade igual ou acima de 50 anos como fatores de risco para CCR. Prevenção Além da prevenção e da detecção pela colonoscopia, é possível proteger o corpo contra o câncer colorretal por meio da alimentação e de hábitos cotidianos: Praticar atividade física regularmente (30 minutos todos os dias); Consumir pelo menos três porções de frutas e três porções de legumes e verduras ao dia; Consumir preferencialmente cereais integrais como arroz, pães, aveia, cevada e outros (nutricao.saude.gov.br); Beber pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água por dia; Reduzir o consumo de carnes vermelhas (máximo 500g por semana); Evitar preparar carnes, de qualquer tipo, na chapa ou na forma de fritura, grelhado ou churrasco; Evitar carnes salgadas e processadas como presunto, mortadela, bacon, linguiça, salsicha e outros embutidos e defumados; Manter o peso adequado; Não consumir bebidas alcoólicas; Não fumar Visão geral dos sinais e sintomas Pacientes com câncer colorretal (CCR) podem se apresentar de três maneiras: Pacientes com sintomas e/ou Sinais suspeitos, Indivíduos assintomáticos descobertos por triagem de rotina e na admissão de emergência com obstrução intestinal, peritonite ou, raramente, sangramento gastrointestinal agudo. O câncer colorretal, em geral, é uma doença bastante silenciosa. Embora o aumento da captação de triagem de CCR tenha levado a mais casos sendo diagnosticados em um estágio assintomático, a maioria dos CCRs é diagnosticada após o início dos sintomas, mais comumente sangramento retal, dor abdominal, anemia por deficiência de ferro e/ou uma alteração no intestino hábitos. Uma mudança nos hábitos intestinais é um sintoma de apresentação mais comum para cânceres do lado esquerdo em comparação com os cânceres do lado direito. A hematoquezia é mais provável com câncer retal do que com câncer de cólon. Epidemiologia O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que para cada ano do triênio 2020/2022, sejam diagnosticados no Brasil 41.010 novos casos de câncer colorretal (20.540 em homens e 20.470 em mulheres). Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,63 casos novos a cada 100 mil homens e 19,63 para cada 100 mil mulheres. De um modo geral, o risco de desenvolver câncer colorretal ao longo da vida é um pouco menor nas mulheres do que nos homens; cerca de 1 em 23 (4,4%) para homens e 1 em 25 (4,1%) para mulheres. Vários fatores podem afetar o risco de uma pessoa desenvolver câncer colorretal. Os principais fatores que aumentam o risco de câncer colorretal (CCR) e influenciam as recomendações de triagem são certas formas hereditárias de CCR, idade, história pessoal ou familiar de CCR esporádico (e possivelmente adenomas grandes ou avançados), doença inflamatória intestinal e história de irradiação abdominal. Os tumores malignos que acometem o cólon e o reto representam o segundo tipo de neoplasia mais prevalente no mundo, após o câncer de mama, com uma estimativa de 2,4 milhões de casos nos últimos cinco anos, ou seja, a cada ano estimam-se em 945 mil casos novos. A taxa de mortalidade por câncer colorretal vem caindo para ambos os sexos há várias décadas. Existe uma série de possíveis razões para isso. Uma delas é que os pólipos são diagnosticados durante o rastreamento e retirados antes que possam se transformar em uma doença neoplásica. O rastreamento também possibilita que a doença seja diagnosticada precocemente, quando é mais fácil de ser tratada e curada. Além disso, o tratamento do câncer colorretal evoluiu bastante nos últimos anos. Fisiopatologia do câncer colorretal . A maioria dos adenocarcinomas do cólon e reto surgem a partir de pólipos adenomatosos inicialmente benignos. No entanto, o achado histológico de focos de criptas aberrantes é considerado um evento precoce da carcinogênese colorretal. Esses focos consistem de criptas de Lieberkühn discretamente alargadas e hipercrômicas semelhantes aos adenomas diminutos que apresentam aumento da atividade proliferativa celular, displasia, detecção do antígeno carcinoembrionário por imuno-histoquímica e mutação do gene K-ras. Histologicamente o padrão observado é o adenocarcinoma tubular ou com áreas papilíferas, bem ou moderadamente diferenciado. Em 20% dos casos os túbulos das glândulas são irregulares ou não-formados. A maioria dos adenocarcinomas do cólon e do reto têm margem de invasão bem definida, do tipo expansiva. Em 25% dos casos, padrão de invasão ou crescimento infiltrativo pode ser observado (Figura 2). O carcinoma mucinoso é detectado em 15% dos casos, onde 50% ou mais do volume tumoral é constituído por muco extracelular, e composto por células “em anel de sinete”, nas quais o muco se acumula no citoplasma. É mais comum em adultos jovens do sexo masculino, associado ao adenoma viloso e doenças inflamatórias. Uma série de estudos apontam que a junção de vários eventos moleculares está implicada na gênese do carcinoma colorretal. Duas teorias estão relacionadas na fisiopatologia desses canceres. A primeira é a sequência adenoma-carcinoma que explica os casos de adenocarcinoma e a segunda é a via de instabilidade de microssatélites, relacionada com a síndrome de câncer colorretal hereditário não polipose. • Sequência adenoma-carcinoma: Essa via corresponde a 80% dos CCR esporádicos. Nós temos duas cópias do gene supressor de tumor Polipose adenomatosa coli (APC) que é um regulador negativo de uma proteina multifuncional, componente da via de sinalização, chamado b-catenina. Algumas pessoas já nascem com uma cópia do gene APC mutada ou inativada. No entanto, os adenomas só se desenvolvem quando há a mutação ou ativação das duas cópias do gene. A fisiopatologia do CCR se inicia quando ocorre uma mutação da APC, fazendo com ele perca a sua função. Normalmente esse gene promove a degradação da b- catenina, entretanto, como o APC está inativo, ocorre acumulo da b-catenina. Esse componente da via de sinalização, em grande quantidade se transloca para o núcleo celular e ativa a transcrição de genes, como os que codificam Myc e Ciclina, responsáveis pela proliferação celular. Esse processo pode ser acompanhado por mutações adicionais, como mutações de ativação do gene KRAS, que também promovem o crescimento celular e evita a sua apoptose; mutações que codificam os genes SMAD2 e SMAD4, efetores da sinalização do fator TGF-ẞ que está envolvido na inibição do ciclo celular e em outros genes como DCC e caderina-E. Mutações de TP53 também ocorrem em fases tardias da progressão do tumor, ele é um gene supressor de tumor que está mutado em 70- 80% dos cânceres do cólon. Em suma, fatores que levam a mutação em genes que regulam a proliferação celular estão alterados, fazendo surgir os adenomas com displasias celulares. • Via de instabilidade de microssatélites: Essa via está associada ao aparecimento do câncer colorretal hereditário não polipose. Em pacientes que tem perdas de genes relacionados ao reparo do DNA, existem mutações que se acumulam em repetições microssatélites, uma condição chamada de instabilidade microssatélite. Essas mutações geram irregularidades em genes envolvidos na regulação do crescimento celular, como TGF-ẞ tipo II e a proteína pró apoptótica BAX. Mutações no oncogene BRAF e silenciamento de alguns genes devido à hipermetilação da ilha CpG também são comuns. Assim, ocorre o crescimento celular descontrolado e a sobrevivência de célulasgeneticamente anormais. Manifestações clinicas Os adenocarcinomas colorretal podem permanecer clinicamente silenciosos durante anos. Os principais sintomas sugestivos de câncer são sangramento retal, dor e mudança de hábitos intestinais (constipação ou diarreia). Os sintomas variam segundo a localização da lesão. As neoplasias de colón proximal, no qual o conteúdo intestinal é relativamente liquido, em geral não causam dor abdominal nem mudanças de hábitos intestinais características das lesões obstrutivas. Essas lesões frequentemente apresentam ulceração e provocam perda de sangue crônica, os pacientes tem queixas de cansaço, palpitações. O exame físico revela fezes positivas para sangue oculto e os exames laboratoriais demonstram uma anemia hipocrômica, microcítica característica da deficiência de ferro. Assim, a presença de anemia ferropriva inexplicável em um homem adulto ou mulher pós menopausa deve investigar para CA colorretal. Já os tumores no cólon distal podem apresentar sangramentos, mas frequentemente causam constrição da parede intestinal e podem se manifestar com cólicas abdominais, obstrução intestinal e até mesmo perfuração. Os tumores da região retosigmoide podem se manifestar com hematoquexia, tenesmo e estreitamento do calibre das fezes, O diagnóstico diferencial para sangramento retal deve incluir hemorroideas, angiodisplasia, diverticulose e outros tumores benignos ou malignos. Diagnóstico A anamnese cuidadosa é fundamental. Deve-se suspeitar de carcinoma colorretal em todo paciente (especialmente idoso) que desenvolva sangramento retal, dor abdominal, modificação dos hábitos intestinais, emagrecimento e anemia ferropriva. O exame físico deve ser minucioso em especial a avaliação de mucosas, linfonodos e abdome. O toque retal permite o diagnóstico do câncer de reto distal e pode ser o primeiro indicio da doença. Em relação aos exames laboratoriais, solicita-se hemograma, glicemia, proteínas totais nos quais podem evidenciar alterações como anemia, diabetes, disfunção renal/hepática, desnutrição ou coagulopatias permitindo que sejam corrigidas antes do pré-operatório. Pede-se também a análise de um marcador tumoral: o antígeno carcinoembriogênico (CEA), que embora seja pouco sensível e especifico, não tendo valor diagnóstico, deve ser solicitado no pré-operatório, uma vez que seus níveis tem utilidade prognóstica, pois níveis elevados inicialmente podem indicar doença avançada. Na pratica, só utiliza o CEA em pacientes já diagnosticados para CA colorretal, como marcador prognóstico antes da cirurgia e para o controle da cura pós-operatória. A colonoscopia é o teste diagnóstico mais versátil em indivíduos sintomáticos. A colonografia por tomografia computadorizada (TC) fornece uma alternativa similarmente sensível e menos invasiva à colonoscopia em pacientes que apresentam sintomas sugestivos de CCR. No entanto, visto que a colonoscopia permite a remoção / biópsia da lesão e de quaisquer cânceres ou pólipos sincrônicos observados durante o mesmo procedimento, a colonoscopia continua sendo o padrão ouro para investigação de sintomas sugestivos de CCR. Uma vez que o diagnóstico é estabelecido, a extensão local e distante da disseminação da doença é determinada para fornecer uma estrutura para a discussão da terapia e do prognóstico. Um outro tipo de exame que pode ser realizado para diagnóstico é o enema opaco. O enema opaco é um exame de diagnóstico que utiliza raio-X e contrasta, normalmente sulfato de bário, para estudar a forma e a função do intestino grosso e reto e, assim, detectar possíveis alterações. O exame enema opaco pode ser feito tanto em adultos como crianças e pode ser dividido em enema opaco simples, quando se utiliza apenas um contraste, e em enema opaco com duplo contraste, quando é usado mais que um tipo de contraste. O exame enema opaco dura cerca de 40 minutos e é realizado sem anestesia, o que pode fazer com que a pessoa sinta dores e desconforto durante o exame. Por isso, alguns médicos preferem solicitar uma colonoscopia porque ela também serve para avaliar o intestino grosso, sendo mais segura e confortável para o paciente. Prognóstico A sobrevida aproximada em 5 anos do CRC, incluindo todos os estadiamentos, é de 65% nos Estados Unidos, ela é inversamente proporcional ao estadiamento da doença. A sobrevida aproximada em 5 anos dos pacientes Estádio I é de 95%, Estádio II 87% a 65%, Estádio III de 60% e Estádio IV de 10%.37A localização do tumor primário se apresenta como fator prognóstico no desfecho clínico.29,38 Define-se por câncer de cólon direito (CCD) aqueles tumores localizados até metade a 2/3 proximais do cólon transverso e o câncer de cólon esquerdo (CCE) os localizados no terço distal do cólon transverso, cólon descendente, sigmoide e junção retossigmoide. Tratamento O tratamento do câncer colorretal depende do tamanho, localização, extensão do tumor e saúde geral do paciente. Atualmente existem várias modalidades terapêuticas para tratamento do câncer colorretal como cirurgia (curativa ou paliativa), quimioterapia, e radioterapia, que podem ser usadas isoladas ou associadas. A cirurgia consiste na retirada do tumor juntamente com a parte do cólon ou reto e os lifonodos adjacentes. A maioria dos casos consegue-se interligar novamente as porções sadias do cólon ou reto. Em todos os tumores da porção baixa do reto muitas vezes e necessário a realização de uma colostomia temporária ou permanente. As principais cirurgias realizadas no tratamento do câncer colorretal são a amputação abdominoperineal do reto (Miles), retossigmoidectomia ou ressecção anterior do reto, ressecção local por via transanal, por acesso trans- sacral (Kraske) ou inter-esfinctérico (York-Mason), e as ressecções ampliadas. Outro procedimento cirúrgico importante no tratamento do câncer colorretal é a colostomia, um procedimento de exteriorização do cólon na parede abdominal, criando um novo trajeto para saída do material fecal. Após a realização da colostomia, o paciente utiliza uma bolsa especial para a coleta do material fecal. Alguns pacientes necessitam de colostomia temporária para permitir a cicatrização da anastomose após a realização da cirurgia, sendo que 10% a 20% dos pacientes com câncer colorretal necessitam de colostomia permanente. O tratamento cirúrgico considera-se curativo quando este promove a remoção completa do tumor primário, órgãos e estruturas localmente comprometidas com metástases identificadas. É então considerado paliativo quando tem por finalidade aliviar e reduzir os sintomas em pacientes que não tenham condições de cura por ressecção (metástases irressecáveis à distância ou localmente disseminadas e invasão de estruturas vitais). Quanto à via de acesso, a literatura demonstra que a via laparoscópica (VLP) possui benefícios como: menor taxa de complicações da ferida, menor índice de íleo pós-operatório, menor perda sanguínea no intraoperatório e menor tempo de internação hospitalar. Vantagens estas relacionadas à menor resposta inflamatória que na via convencional, aberta. O acesso VLP não aumenta recidiva ou diminui sobrevida dos doentes. No entanto, a cirurgia VLP não é indicada em doenças localmente avançadas (T4b), em casos de obstrução ou perfuração e em caso de inexperiência do cirurgião em cirurgia laparoscópica colorretal; sendo indicado o acesso convencional, a via aberta. Cerca de 10% das lesões de CC são localmente avançadas e estão aderidas a órgãos adjacentes por invasão direta ou por reação desmoplásica. O tratamento curativo dessas lesões é a ressecção em bloco. Ressecção realizada em plano incorreto está associada à maior recidiva local, pois em 34- 84% das aderências locais,podemos identificar células malignas. A ressecção cirúrgica deve garantir uma margem livre de infiltração neoplásica (idealmente de 5cm da margem proximal e distal para tumores do cólon e 2cm para tumores retais) e a retirada de no mínimo 12 linfonodos. Além disso, deve-se evitar a manipulação tumoral durante e ressecção e fazer as ligaduras vasculares no início da cirurgia. A quimioterapia é um tratamento adjuvante com pequeno efeito sobre a sobrevida, mas que reduz o risco de recidiva do tumor. O tratamento dos pacientes é feito à base de 5-fluorouracil e ácido folínico durante seis meses, sendo administrado durante cinco dias consecutivos, com intervalos de 21 dias, totalizando seis ciclos do tratamento. Os efeitos adversos mais comuns são alterações gastrointestinais e alterações hematológicas. A radioterapia envolve o uso de raios-x de alta energia para destruir as células cancerosas. Tanto a radioterapia como a quimioterapia pode ser usada antes da operação (terapia neoadjuvante) para redução da massa tumoral e assim facilitar a retirada cirúrgica do tumor; ou após a cirurgia (terapia adjuvante), para destruir células cancerosas que tenham permanecido na área tratada. No estádio I pode-se realizar ressecção local em casos T1 sem fatores de risco para metástase linfonodal e, nos casos T2, a ressecção cirúrgica oncológica. Nos estádios II e III, o tratamento é feito por meio da cirurgia seguindo os princípios oncológicos: a ressecção completa do tumor com margens livres, ligadura de pedículos vasculares na sua origem e a linfadenectomia mesentérica regional. A terapia adjuvante (após a cirurgia), a quimioterapia, é indicada no estádio III da doença, no estádio II é realizada apenas em casos selecionados. O tratamento para o Estádio IV tem como padrão a quimioterapia e os agentes biológicos. Neste último grupo, as análises genéticas tumorais têm ganhado importante papel. Seguimento pós-operatório A recidiva do câncer de cólon ocorre em 85% nos 3 primeiros anos após a ressecção do tumor primário e em 95% nos primeiros 5 anos. Por isso pacientes estádios II e III são seguidos por até 5 anos. O seguimento é realizado com exame físico, dosagem de CEA, tomografia de tórax, abdome e pelve e a colonoscopia. Avaliação da resposta terapêutica A avaliação da resposta ao tratamento antineoplásico sistêmico deve ser feita pelos critérios RECIST, sempre que aplicáveis: RC (resposta completa) = desaparecimento das lesões-alvo; RP (resposta parcial) = redução de pelo menos 30% na soma do maior diâmetro das lesões- alvo; PD (progressão de doença) = aumento de 20% ou mais na soma do maior diâmetro das lesões alvo; DE (doença estável) = pequenas alterações que não cumprem os critérios acima. Rastreamento O rastreio do CCR pode ser realizado através de exames de amostra fecais, exames endoscópicos (retossimoidoscopia flexível ou colonoscopia) e de imagem (colonografia virtual com reconstrução em 3D); As principais modalidades de rastreio é a colonoscopia a cada 10 anos se a primeira for negativa, realiza a colografia por TC a cada 5 anos naqueles que não farão colonoscopia ou teste de sangue oculto nas fezes anualmente. O rastreamento do CCR visa a detecção desse do tumor em estágios iniciais ou a identificação de lesões pré- cancerosas em pessoas assintomáticas. Segundo a Associação Americana de Gastroenterologia, o rastreamento está indicado para pessoas de risco médio (pessoas sem histórico familiar de alto risco de neoplasia colorretal) a partir dos 50 anos, sendo que se pode interromper a triagem quando a expectativa de vida for menor que 10 anos. Em pacientes de alto risco para CCR (história familiar de CCR em parentes de primeiro grau, história pessoal de CCR ou pólipo maior que 1 cm ou múltiplos pólipos de qualquer tamanho e portadores de doença inflamatória), deverão iniciar a triagem aos 40 anos ou 10 anos antes do diagnóstico do CCR no parente de primeiro grau. Estadiamento O estadiamento do câncer de cólon inclui exame físico completo com exame proctológico. Os exames de estadiamento permitem a detecção precisa e a avaliação de metástases, as quais podem exigir mudança de conduta além de permitir melhor planejamento cirúrgico. Entre os exames, temos: Tomografia Computadorizada de Abdome (para investigação de metástases intra- abdominais e pélvicas) Rx de Tórax (para investigação de metástases pulmonares) Tomografia Computadorizada de Tórax (para investigação de metástases pulmonares) Colonoscopia convencional/virtual Enema opaco Laparoscopia (muitas vezes utilizada como paliativo) Em 1940, Dukes demonstrou uma relação direta entre a extensão local do tumor e a incidência de metástases linfonodais. Mas, em 1954, Astler e Coller modificaram esse sistema de estadiamento clínico-patológico, ficando ele dividido em 4 classes: A: corresponde ao tumor limitado à parede intestinal; B: propagação do tumor além da parede do intestino envolvendo serosa e/ou gordura adjacente e sem envolvimento linfonodal; C: lesões com acometimento linfonodal (C1 quando linfonodos locais, C2 quando linfonodos apicais); D: presença de metástase a distância Em recentes estudos, pesquisadores chegaram à conclusão que enquanto a classificação possibilita informações prognósticas bastante confiáveis para os graus A e D, são pouco úteis para os estágios intermediários B e C. Além disto, esta classificação não pode ser aplicada até que seja realizada a ressecção completa da lesão neoplásica, incluindo uma adequada linfadenectomia. Atualmente, o estadiamento é realizado de acordo com orientações da American Joint Committee on Cancer (AJCC): Classificação TNM. Essa classificação utiliza três critérios para avaliar o estágio do câncer: T: Indica o tamanho do tumor primário e até onde se disseminou na parede do cólon ou do reto. Essas camadas incluem o revestimento interno (mucosa), o tecido fibroso (submucosa), a camada muscular espessa (muscularis propria) e as camadas finas e mais externas do tecido conectivo (subserosa e serosa). N: Descreve se existe disseminação da doença para os linfonodos regionais próximos. M: Indica se existe presença de metástase em outras partes do corpo, como fígado ou pulmões. Números ou letras após o T, N e M fornecem mais detalhes sobre cada um desses fatores. Números mais altos significam que a doença está mais avançada. Depois que as categorias T, N e M são determinadas, essas informações são combinadas em um processo denominado estadiamento geral. Observando atentamente, é possível perceber que o estágio A e D de Dukes equivalem, respectivamente, aos estágios T1 e M1 da classificação TNM. Principais sítios metastáticos Metástases à distância mais frequentemente ocorrem no fígado, pulmões e peritônio, podendo causar sintomas de dor abdominal em quadrante superior do abdome, distensão e/ou aumento do volume abdominal, tosse e dispneia. Mais raramente se observam metástases em ossos e sistema nervoso central. Devido à drenagem venosa e linfática diferir entre os segmentos colônicos, há uma maior proporção de pacientes com metástases pulmonares em pacientes com tumores primários do reto distal (drenagem via veia cava inferior) do que nos demais segmentos, em que predominam metástases hepáticas (drenagem pelo sistema porta). Existem várias vias para a disseminação do câncer, como via linfática, hematogênica, por contiguidade e por continuidade. Sendo assim, o CCR pode infiltrar a camada submucosa do cólon e invadir a cadeia linfática intramural. Também é possível a infiltração de outras camadas da parede intestinal, atingindo por contiguidade, estruturas vizinhas, como vasoscolônicos. Caso o câncer chegue a veia porta, essa estrutura pode con-duzir células neoplásicas para o fígado, onde desenvolverá metástases hepáticas. Através das veias lombares e vertebrais, ocorre a propagação de células tumorais para os pulmões e cérebro, fazendo focos metastáticos nesses locais. Enquanto isso, o câncer retal é disseminado pelas veias hipogástricas. A disseminação mais frequente dos CCR é por meio do comprometimento linfonodal (disseminação linfática). Por conta disso, nos procedimentos cirúrgicos, é necessária a remoção dos linfonodos comprometidos. Além disso, células neoplásicas podem se “soltar” da luz intestinal e se implantar na cavidade peritoneal, formando a carcinomatose abdominal generalizada. OBJETIVO 3. DISCUTIR AS POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO, COMO MUCOSITE, NEUTROPENIA FEBRIL E SÍNDROME DA LISE TUMORAL. Síndrome de lise tumoral A síndrome de lise tumoral ocorre por causa da morte rápida das células neoplásicas com liberação de componentes intracelulares na corrente sanguínea. Ocorre principalmente em leucemias e linfomas, mas pode também ocorrer em outras neoplasias hematológicas e, com menos frequência, após o tratamento de tumores sólidos. Os critérios para o diagnóstico da síndrome de lise tumoral são Lesão renal aguda Hipocalcemia [cálcio < 7 mg/dL (< 1,75 mmol/L)] Hiperuricemia [ácido úrico > 8 mg/dL (> 0,48 mmol/L)] Hiperfosfatemia (fósforo > 6,5 mg/dL [> 2 mmol/L]) Hiperpotassemia [potássio > 6 mEq/L (> 6 mmol/L)] Podem ocorrer convulsões e arritmias cardíacas. Muitas vezes, é possível antecipar o desenvolvimento da síndrome de lise tumoral e administrar grandes volumes de líquidos e alopurinol ou rasburicase antes de iniciar a quimioterapia e, às vezes, imunoterapia (como anticorpos monoclonais biespecíficos ou células T-CAR) para proteger os rins das lesões por ácido úrico. As vacinas com células T utilizadas para tratar as leucemias de células B podem precipitar um quadro potencialmente fatal de lise tumoral com liberação de citocinas dias ou semanas após a administração da vacina. Neutropenia febril Diminuição da concentração de granulócitos é comum em pacientes com câncer. A diminuição dos granulócitos resulta de um efeito direto do câncer (especialmente cânceres de sangue e de medula óssea como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo) e dos efeitos da terapia contra o câncer, sobretudo quimioterápicos convencionais. Para pacientes com neutropenia, jovem, até uma pequena infecção pode rapidamente se tornar grave. Converse com o médico se apresentar qualquer sinal de infecção como: Febre. Arrepios ou transpiração. Dor de garganta ou úlceras na boca. Dor abdominal. Diarreia Feridas ao redor do ânus. Dor ou ardor ao urinar. Tosse ou dificuldade respiratória. Vermelhidão, inchaço ou dor, especialmente em torno de um corte, ferida, ou do cateter. Corrimento anormal ou coceira vaginal Concentração de granulócitos < 500/microL (0,5 × 109/L) aumenta significativamente o risco de infecções. Medidas para proteção contra infecções, incluindo lavar as mãos e isolamento protetor, são importantes. Antibióticos orais não absorvíveis são, às vezes, administrados de maneira profilática. Quando antecipa-se um intervalo prolongado de baixo nível de granulócitos, antifúngicos profiláticos e antivirais são às vezes administrados, incluindo fármacos para prevenir Pneumocystis jirovecii. Febre> 38° C em duas ou mais ocasiões em um paciente neutropênico é uma emergência médica. Deve-se fazer avaliação extensa a procura de potenciais fontes de infecção e também hemoculturas. Tipicamente, administram-se antibióticos sistêmicos de amplo espectro antes de os resultados da cultura serem conhecidos e a terapia ser modificada conforme necessário. Frequentemente, administram-se fármacos antifúngicos sistêmicos e, às vezes, fármacos antivirais, a pacientes com febre persistente não responsiva a antibióticos. A avaliação deve incluir raios-X torácicos imediatos e culturas de sangue, escarro, urina, fezes e quaisquer lesões cutâneas suspeitas. O exame é feito nos possíveis locais de abscessos (pele, orelhas, seios da face e região perianal), pele e mucosa em busca de lesões herpéticas, na retina para detecção de lesões vasculares sugestivas de êmbolos infecciosos e nos locais de inserção de cateteres. Deve-se evitar o toque retal e o uso de termômetro retal. Avaliações adicionais devem ser guiadas pelos achados clínicos. Os pacientes neutropênicos febris devem receber antibióticos de espectro global escolhidos com base no organismo mais provável. Os regimes típicos incluem 2 g, intravenosa, de cefepima ou de ceftazidima, intravenosa, a cada 8 h imediatamente após obtidas as culturas. Se houver infiltração pulmonar difusa, o escarro deve ser testado para P. jirovecii e, se positivo, a terapia apropriada deve ser iniciada. Se a febre melhorar em 72 h após o início dos antibióticos empíricos, estes serão mantidos até a contagem de neutrófilos estar > 500/microL. Se a febre persistir, deve-se acrescentar antifúngicos. É feita reavaliação em busca de infecção, muitas vezes incluindo TC do tórax e abdome. Pode-se aumentar as concentrações de granulócitos administrando fatores de crescimento mieloide molecularmente clonados como fatores estimuladores de colônias de granulócitos (G) ou granlócitos/macrófagos (GM). Há diretrizes disponíveis para o uso apropriado desses fármacos. Para alguns pacientes com neutropenia pela quimioterapia, especialmente após altas doses de quimioterapia, pode-se iniciar o tratamento com fator estimulador de colônias granulocíticas (G-CSF) ou o fator estimulador de colônias granulocíticas- macrofágicas (GM-CSF) para encurtar a duração da neutropenia. Uma dose de 5 mcg/kg de G-CSF, subcutânea, uma vez ao dia, por 14 dias, e formas de ação mais longas (p. ex., pegfilgrastim, 6 mg, por via subcutânea, dose única, uma vez por ciclo de quimioterapia) podem ser usadas para acelerar a https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/hematologia-e-oncologia/imunologia-do-tumor/imunoterapia-para-c%C3%A2ncer#v978236_pt recuperação dos leucócitos. Esses fármacos não devem ser administrados nas primeiras 24 h após a quimioterapia e, para o pegfilgrastim, deve haver um intervalo de pelo menos 14 dias até o próximo ciclo de quimioterapia previsto. Esses fármacos são administrados no início da febre ou da sepse ou, nos pacientes de alto risco afebris, quando a contagem de neutrófilos cair para < 500/microL. Muitos centros usam tratamento ambulatorial com C- CSF para pacientes selecionados de baixo risco com febre e neutropenia. Os candidatos não devem ter hipotensão, estado mental alterado, desconforto respiratório, dor intratável, ou doença comórbida séria, como diabetes, doença cardíaca ou hipercalcemia. O regime nesses casos requer acompanhamento diário e envolve com frequência serviços de enfermagem de visitas domiciliares e infusão de antibióticos em domicílio. Alguns regimes envolvem antibióticos orais, como 750 mg de ciprofloxacino por via oral duas vezes ao dia, mais 875 mg de amoxicilina-clavulanato por via oral, duas vezes ao dia, ou 500 mg por via oral, 3 vezes ao dia. Se não houver programa institucional definido para acompanhamento e o tratamento da febre neutropênica não estiver disponível em um centro ambulatorial, então a hospitalização será necessária. Mucosite A mucosite devido à radioterapia pode causar dor e impedir a ingestão oral suficiente, provocando má nutrição e perda ponderal. Enxaguar com analgésicos e anestésicos tópicos (lidocaína viscosa a 2%, 5 a 10 mL a cada 2 h ou outras misturas comercialmente disponíveis) antes das refeições, uma dieta branda sem alimentoou sucos cítricos e evitar temperaturas extremas pode permitir que o paciente se alimente e mantenha o peso. Se não, um tubo alimentar pode ser útil se o intestino delgado estiver funcional. Para mucosite grave e diarreia, ou um intestino com funcionamento anormal, a alimentação parenteral pode ser necessária. OBJETIVO 4. DISCUTIR ACERCA DAS IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS DE ADAPTAÇÃO À COLOSTOMIA. A palavra ostomia / estoma, refere-se a uma abertura feita cirurgicamente no abdômen, onde se exterioriza parte dos intestinos, através de um orifício. A proposta desta cirurgia é o desvio do conteúdo do intestino (gases e fezes) para uma bolsa externa. Esse desvio pode ser temporário ou definitivo, e a consistência das fezes varia de acordo com a porção do intestino onde a cirurgia for realizada. Sabe-se que este procedimento não é isento de complicações, mesmo quando utilizada técnica cirúrgica adequada. Segundo o Departamento de Psiquiatria Unifesp/epm (2000), o paciente submetido a este tipo de intervenção cirúrgica, a ostomia, enfrenta várias modificações no seu dia-a-dia, as quais ocorrem não só no nível fisiológico, mas também no nível psicológico, emocional e social. Isto está intimamente relacionado ao sofrimento, a dor, a deteriorização, incertezas quanto ao futuro, mitos relacionados a ele, medo da rejeição, entre outros. O acompanhamento psicológico destes pacientes ostomizados é fundamental, pois este terá que lidar com as transformações resultantes da ostomia, causadora de grande impacto, desde a perda de um órgão altamente valorizado até a consequente privação do controle fecal e de eliminação de gases. O paciente submetido a esse tipo de procedimento, tão agressivo, que altera tanto sua fisiologia gastrintestinal, quanto sua autoestima, imagem corporal, sexualidade, além de milhares de outras modificações em sua vida, tem constituído um desafio para que os cuidadores da equipe multidisciplinar que o atendem. Em uma unidade de internação hospitalar se faz necessário a realização do auto cuidado, envolvendo paciente, família e médico, visando a reabilitação (adaptação), e para tal, a atuação do psicólogo hospitalar se faz de grande valor, na interação comunicacional desta tríade, na compreensão e esclarecimento dos substratos psicológicos existentes, e, no auxílio da utilização de estratégias de enfrentamento mais adequadas a cada um dos pacientes e familiares. A colostomia obriga o paciente a realizar grandes transformações pessoais. Apesar de manter sua condição encoberta sob as roupas, rompe com os seus esquemas anteriores e pode levar o paciente a sentir- se diferente dos outros indivíduos do grupo. O impacto da presença da ostomia determina uma alteração da imagem corporal que possibilita o aparecimento de diversas reações à sua realidade, além da perda vivenciada pelo paciente, durante o ato cirúrgico. É aqui que as estratégias de enfrentamento pessoal vão ser de importância fundamental para a recuperação de possíveis danos psicológicos. Para a United Ostomy Association (2004), a adaptação à condição de portador do estoma e da bolsa coletora é um processo longo e contínuo, e está relacionado à doença de base, ao grau de incapacidade, dos valores, e ao tipo de personalidade individual do paciente. O uso da bolsa coletora pode representar a mutilação sofrida, e relacionar-se diretamente com a perda da capacidade produtiva do paciente, assim como significa uma denunciadora de sua falta de controle sobre as eliminações fisiológicas, sobre seu corpo, beleza física e saúde. Estar ostomizado implica não só no uso desta bolsa, mas numa nova imagem corporal que precisa ser reconstruída. Este é um processo ao mesmo tempo subjetivo, coletivo/social, e de profundas reflexões sobre a convivência com uma ostomia. Muitas vezes, o paciente incorpora o estigma social, tendo dificuldades na própria aceitação e no processo de adaptação, pois se depara com uma nova condição. Segundo o Departamento de Psiquiatria Unifesp/epm (2000), o paciente necessita de um tempo interno para viver o seu momento de luto, ou seja, rever os seus conceitos, contrapor suas perdas e encontrar forças para aceitar e trabalhar suas novas possibilidades após o uso da bolsa de colostomia. Superando então o choque inicial e depois de um período de adaptação, a maioria dos colostomizados / ileostomizados pode levar uma vida normal, devendo sempre respeitar alguns pontos fundamentais de higiene, e utilizando materiais adequados para conseguir a segurança que necessita. A resolução das dificuldades depende dos recursos internos (mecanismos de defesa do ego) e do suporte social fornecido principalmente pela família, pelos profissionais e pela estrutura de atendimento oferecido ao sujeito. Há pacientes ostomizado que manifestam nítida rejeição de si mesmo, algumas vezes como defesa antecipada da rejeição que pressupões irá sofrer pelos que o circundam. Os intensos medos não elaborados podem conduzir a diferentes transtornos de ansiedade, com necessidade de imediato diagnóstico e encaminhamento para tratamentos psicoterápico e psiquiátrico, para minimização de possível sofrimento. Sentimentos de incapacidade e desprestígio podem afetar suas relações sociais, afastando-o de seu círculo de amizades e familiares, produzindo um ensimesmamento (Doença articular decorrente do excesso de ácido úrico) perigoso, dado o risco de evolução para um Transtorno de Humor, principalmente depressão. Além disto, o Transtorno de Humor decorrente poderá comprometer acirradamente suas atividades laborativas e recreativas, além de provocar dificuldades na atividade sexual e social. O Departamento de Psiquiatria Unifesp/epm (2000), alerta para o fato de que podem ocorrer alterações na vida sexual do paciente, resultado da diminuição ou perda da libido e por vezes impotência, relacionadas com a alteração da imagem do corpo e a consequente diminuição da autoestima, bem como a preocupação relacionada com a eliminação de odores e fezes durante a relação sexual. O abalo em sua autoestima e em seu autoconceito, resultantes da alteração da sua imagem corporal, são esperados, assim como a perda do status social devido ao isolamento inicial imposto pelo próprio paciente ostomizado. Pode surgir também sentimento de inutilidade, pois é comum encontrar pacientes que, em um primeiro momento, nutrem a fantasia de que perderão sua capacidade produtiva, levando-os a exteriorizar sentimentos como desgosto, ódio, repulsa e medo, podendo levá-los à importante alteração sócio familiares. A imagem corporal está intimamente ligada à autoestima, autoimagem, auto conceito, conceito corporal e esquema corporal, componentes importantes de sua identidade. Desta forma, o paciente ostomizado pode apresentar comportamentos de alienação do seu corpo por sentir- se diferente após a cirurgia, provocando um menor respeito e confiança por si próprio. Não é incomum o choque provocado pela 1ª observação de sua condição após a cirurgia, causando-lhe, muitas vezes um desgosto assustador. O significado de ter um corpo alterado, desviado dos padrões sociais vigentes na dimensão intrapsíquica do paciente ostomizado, afeta sua imagem corporal. Uma vez que a imagem corporal é um dos componentes fundamentais da identificação, particularmente quando alterado em consequência da mutilação do corpo (ostomia), faz com que o paciente ostomizado se depare com a representação do corpo ideal, ancorado nos conceitos de beleza, harmonia e saúde, podendo provocar estranheza a si próprio. É através da imagem corporal que o indivíduo mantém um equilíbrio interno enquanto interage com o mundo, e sua modificação pode influenciar suas habilidades laborativas e seu desempenhosocial. A Associação Gaúcha de Ostomizados (2006), alerta para o fato de que a autoimagem atual deste paciente não combina com aquela construída ao longo dos anos, que é o sustentáculo da identidade pressuposta e representada. Para Simonetti (2006), o poder de fazer o paciente mudar de atitude, não cabe a nenhum profissional e sim a ele próprio, de acordo com o tempo necessário (individual) para se recuperar, mobilizando assim outras medidas. O mecanismo de defesa da negação pode ser mais frequente logo no início, após o choque da confecção de uma ostomia, ou como reação à gravidade do seu estado clínico. Desta forma o paciente pode recusar-se a falar sobre a ostomia e apresentar tendências ao isolamento. Estas atitudes podem ser consideradas válidas, de início, como a defesa psicológica possível para este paciente, mas precisa de observação atenta do psicólogo em sua evolução, dado a necessidade de substituição deste tipo de defesa por outra mais adaptativa, que lhe permita se deparar com a situação atual, e que lhe possibilite caminhar com todo o processo de tratamento e recuperação. A revolta, a raiva racional ou não, devem ser toleradas e não menosprezadas, para que o paciente ostomizado possa lidar com alguns sentimentos reprimidos. Ele poderá manifestar comportamentos como o de reclamar, criticar seu atendimento, solicitar atenção contínua, entre outros. Em muitas ocasiões o paciente precisa ser respeitado e compreendido em suas explosões temperamentais, por mais que isto seja difícil, tanto para a equipe de saúde, quanto para sua família. Mas tal tolerância pode significar um importante passo para a elaboração de sua condição de ostomizado. O reconhecimento de seus sentimentos frente a tal situação geralmente o auxilia a superar esta fase. Entretanto, um paciente com este comportamento, ao invés de caminhar para uma recuperação psicológica, pode desencadear um processo violento patológico. A atenção do profissional da psicologia precisa estar voltada para este processo de elaboração, no sentido de perceber se é um caminho saudável ou não para a resolução do luto por tantas perdas sofridas em tal situação. O luto é uma reação normal e esperada em resposta a um rompimento de vínculo. Tem como função proporcionar a reconstituição de recursos da pessoa e viabilizar um processo de adaptação às mudanças ocorridas em consequência das perdas. O processo do luto é determinado por fatores internos, e depende da estrutura psíquica do paciente, das crenças culturais e religiosas, e do tipo de apoio recebido. O luto pode ser entendido por partes como o entorpecimento (choque e descrença), anseio e protesto (agitação, fortes emoções), desespero (apatia e depressão) e recuperação, restituição (possibilidade de reinvestir energias). O paciente ostomizado encontra-se em um momento extremamente delicado, podendo torná-lo mais fragilizado, fazendo-o necessitar de acolhimento, paciência e atenção. Todas estas posturas podem interferir positivamente em sua melhora, dado que cada indivíduo tem seu ritmo próprio para lidar com o luto. Ele necessita de tempo interno para viver este difícil momento de luto, ou seja, rever seus conceitos, contrapor as suas perdas (esfíncteres) e encontrar forças para aceitar e trabalhar as suas possibilidades após a ostomia. De acordo com Simonetti (2006), a depressão diante da doença é uma reação esperada; cabe ao profissional facilitar para que o paciente passe por esta fase difícil o mais rápido possível. Deve-se considerar a possibilidade de tratamento psiquiátrico, com o uso de antidepressivos e outros, caso a depressão e ansiedade se tornem muito profundas, ou muito prolongadas e intensas.
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