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Raquel Bueno 73 A Microbiologia Médica Bacillus • Família Bacillaceae: conjunto diversificado de mais de 50 gêneros que compartilham a capacidade de formar endósporos (estrutura de resistência) • Gênero clinicamente importante: Bacillus • Espécies clinicamente importantes: Bacilus anthracis, Bacillus cereus e Clostridim • Bacilus: aeróbico • Clostridium: anaeróbico • Encontradas principalmente no solo • Endósporo em posição central Bacillus cereus • Menor virulência que o anthracis • Hemolítico no ágar sangue • Causa comumente: gastroenterites, infecções oculares, sepse relacionada ao uso de cateteres intravenosos • Causa raramente: pneumonia grave • Gram-positivo, móvel e formador de endósporos Patogênese e imunidade • Gastroenterite: forma emética e forma diarreica Enterotoxina termoestável: forma emética Enterotoxina termolábil: forma diarreica Forma emética Forma diarreica Alimento Arroz Carne, vegetais Período de incubação (horas) < 6 >6 Sintomas Vômitos, náuseas cólicas abdominais Diarreia, náuseas, cólicas abdominais Duração (horas) Média: 9 Média: 24 Enterotoxina Termoestável Termolábil • Infecções oculares: Toxina necrótica: enterotoxina termolábil Toxina cereolisina: hemolisina Toxina fosfolipase C: proteína lectinase • Espécies podem colonizar a pele transitoriamente sem significado clínico • Com a presença de corpo estranho intra-vascular (ex: cateter) os microrganismos podem causar bacteremia persistente e sinais de sepse Epidemiologia • Ubiquitários • Presente em todos os ambientes • Quase todas as infecções originam-se de uma fonte ambiental (ex: solo contaminado) Doenças clínicas • Gastroenterite emética: Intoxicação causada pela ingestão da enterotoxina, não pela bactéria Enterotoxina termoestável Período mais curto • Gastroenterite diarreica: Enterotoxina termolábil Período mais longo • Infecções oculares: Normalmente ocorrem após lesões traumáticas, por intermédio de um objeto contaminado com o solo que penetra nos olhos Progressão rápida Panoftalmite Quase sempre resulta na perda completa do olho • Infecção pelo uso de cateter intravenosos • Infecções do sistema nervoso central • Endocardite • Ingestão de chá por pacientes imunocomprometidos está associada a um risco aumentado para doença invasiva causadas por cereus • Pneumonia grave: Cepa encapsulada Diagnóstico laboratorial • Maioria das gastroenterites é diagnosticada por critérios epidemiológicos • Facilmente detectadas por gram • Cultura de amostras obtidas de olhos infectados, pontos intravenosos... • Isolamento do micro-organismo nos produtos alimentares Tratamento • Gastroenterites: tratamento sintomático • Outras infecções; rápidas e progressivas Vancomicina (glicopeptídeo), clindamicina (macrolídeo), ciprofloxacina (quinolona) e gentamicina (aminoglicosídeo) Cereus é resistente a penicilina e cefalosporinas!! Bacillus anthracis • Bacilo isolado ou aos pares • Formador de esporos, imóvel, bacilo gram positivo não hemolítico • Uma cepa virulenta possui 3 componentes proteicos toxigênicos: Fator de edema (EF/ fator I) Fator letal (LF/ fator II) Antígeno protetor (PA – fator III) • Fator importante de virulência: cápsula polipeptídica proeminente que impede a fagocitose Epidemiologia • Infecta primariamente herbívoros, sendo o homem um hospedeiro acidental • Bioterrorismos • 3 vias: Inoculação (cutânea): mais comum Ingestão Inalação • Obs.: na forma inalatória não há transmissão pessoa-pessoa, pois o crescimento bacteriano se dá nos linfonodos do mediastino, mais que na árvore broncopulmonar Doenças clínicas • Antraz cutâneo: Pápula indolor→ úlcera circundada por vesículas→ escara necrótica Taxa de mortalidade sem tratamento: 20% Taxa de mortalidade com tratamento: 1% Presença de microrganismo no carbúnculo • Antraz gastrointestinal: Sintomas determinados pelo local de infecção Alta mortalidade • Inalação de antraz: Bioterrorismos Longo período de latência Sintomas iniciais inespecíficos: febre, mialgia e tosse seca Segundo estágio: febre, edema, aumento expressivo dos linfonodos do mediastino, insuficiência respiratória e sepse Diagnóstico • Micro-organismo presente em altas concentrações nos materiais clínicos (microscopia tipicamente positiva) e rápido crescimento em cultura • Cultivo: ágar sangue • Exame direto e coloração de gram • Endósporos corados com verde malaquita Tratamento • Tratamento empírico: doxiciclina (tetraciclina) ou ciprofloxacina (quinolona) combinado com antibiótico adicional (rifampicina, vancomicina, penicilina, imipenem, clindamicina, claritromicina...) • Amoxicilina para antraz cutâneo Clostridium • Bacilos gram-positivos • Anaeróbios • Formadores de endósporos • Maioria não encapsulado e móvel (exceto o perfringes) • Ubíquos no solo, água e esgotos • Parte da população microbiana normal no trato gastrointestinal Microbiota residente: difficile Microbiota exógena: • Habilidade de sobreviver em condições ambientais adversas (formação de esporos) • Rápido crescimento em ambiente nutricionalmente rico e sem oxigênio • Produção de inúmeras toxinas histolíticas, enterotoxinas e neurotoxinas Clostridium difficile • Bacilo anaeróbio grande que forma livremente esporos • Microbiota residente; surge por desequilíbrio (uso de antibióticos) • Móveis de crescimento rápido • Produz 2 toxinas: Enterotoxina (toxina A): quimiotática pra neutrófilos; aumenta a permeabilidade da parede intestinal (diarreia) Citotoxina (toxina B): destruição do esqueleto celular • A formação de esporos permite a persistência do organismo em ambiente hospitalar e a resistência aos esforços de descontaminação • Resistência a antimicrobianos como clindamicina, cefalosporinas e fluoroquinolonas, permite ao C. difficile sobrepujar as bactérias intestinais normais e instalar a doença em pacientes expostos a esses antibióticos • Coloniza o intestino de um pequeno percentual de indivíduos saudáveis • Exposição a antimicrobianos está associada a crescimento rápido de C. difficile e doença subsequente (infecção endógena) • Fonte exógena de infecção geralmente é hospitalar Doenças clínicas • Diarreia associada a antimicrobianos: diarreia aguda, em geral de 5 a 10 dias após o início do tratamento com antibióticos; pode ser breve e autolimitada ou mais prolongada • Colite pseudomembranosa: forma mais grave; diarreia abundante, cólicas abdominais e febre; placas esbranquiçadas (pseudomembranas) sobre o tecido intacto do cólon Diagnóstico • Demonstração da enterotoxina ou citotoxina em amostras de fezes + sintomas clínicos compatíveis Tratamento • Interrupção do antibiótico implicado • Casos de diarreia grave ou colite: metronidazol (imidazólico/inibe síntese proteica) ou vancomicina • Transplante fecal (evidencia que o difficile não se estabelece quando uma população saudável de bactérias entéricas está presente) Clostridium perfringens • Bacilo gram-positivo, retangular, imóvel • Esporos são raramente observados • Ubíquo • Cinco tipo (A até E): toxinas alfa, beta, épsilon e iota • Colônias de crescimento rápido • Produz muitas toxinas e enzimas que lisam células sanguíneas e destroem tecidos, acarretando doenças como sepse, hemólise massiva e mionecrose • Toxina alfa: invasão→ produzida pelos 5 tipos; lecitinase (fosfolipase C) que lisa eritrócitos, plaquetas, leucócitos e células endoteliais; hemólise; aumento da permeabilidade vascular; hemorragia • Toxina beta: hemólise →estase intestinal, perda da mucosa com formação de lesões necróticas e progressão de enterite necrosante • Toxina épsilon: formação de poros→pró-toxina; aumenta apermeabilidade vascular da parede gastrointestinal • Toxina iota: atividade necrótica e aumenta a permeabilidade vascular • Produz enterotoxinas que tem a atividade aumentada pela exposição à tripsina • Enterotoxina termolábil que se liga a receptores no epitélio do intestino delgado, resultando em perda de fluidos e íons (diarreia aquosa) • Cepas do tipo A são responsáveis pela maioria das infecções humanas Doenças clínicas • Gastroenterites: Intoxicação alimentar: rápido aparecimento de cólicas abdominais e diarreia aquosa sem febre, náuseas ou vômitos; curta duração e autolimitada Enterite necrotizante: destruição necrotizante aguda do jejuno com dor abdominal, vômitos, diarreia sanguinolenta e peritonite; toxina iota; ingestão de carne contaminada • Infecções de tecidos moles: Celulite: edema e eritema localizados com formação de gás nos tecidos moles; geralmente sem dor; exsudato serossanguinolento Miosite supurativa: acúmulo de pus nos músculos lisos, sem necrose muscular ou sintomas sistêmicos Mionecrose: destruição do tecido muscular rápida e dolorosa; disseminação sistêmica com alta mortalidade; gangrena gasosa Diagnóstico • Observado em amostras de tecidos corados pelo método Gram • Cresce rapidamente em cultura Tratamento • Desbridamento cirúrgico e alta dose de penicilina • Intoxicação alimentar: reidratação oral, fluidos, eletrólitos; não é recomendada terapia com antibiótico, uma vez que a doença é autolimitada Clostridium tetani • Formador de endósporos terminais • Móvel • Difícil de cultivar por ser extremamente sensível ao oxigênio • Quando é detectado em meio sólido, se apresenta como um filme sobre a superfície do ágar • Proteolítica • Incapaz de fermentar carboidratos • Duas toxinas: Tetanolisina: hemolisina sensível ao oxigênio Tetanoespasmina: neurotoxina termolábil codificada por plasmídeos; responsável pelas manifestações clínicas do tétano; bloqueia o GABA; paralisia espástica • Ubíquo • Tétano é irreversível Doenças clínicas • Tétano generalizado: espasmo muscular generalizado, sorriso sardônico e postura arqueada • Tétano localizado: espasmo muscular restrito à área da infecção primária • Tétano cefálico: subtipo do tétano localizado • Tétano neonatal: infecção neonatal envolvendo primariamente o cordão umbilical; taxa de mortalidade muito elevada Diagnóstico • Apresentação clínica Tratamento • Desbridamento da ferida primária • Penicilina ou metronidazol • Imunização passiva • Vacinação (dtp) Clostridium botulinum • Bactéria fastidiosa (exigências nutritivas muito complicadas) • Sete toxinas botulínicas (A a G): inativam proteínas que regulam a liberação de acetilcolina • Doença humana está relacionada a tipo A, B, E e F • Impede a liberação de acetilcolina • Paralisia flácida • Esporos muito encontrados no solo • Dose letal é muito baixa Doenças clínicas • Botulismo clássico/alimentar: inicialmente visão turva, boca seca, constipação intestinal e dor abdominal; progressão para fraqueza descendente da musculatura periférica com paralisia flácida • Botulismo infantil: inicialmente com sintomas inespecíficos (constipação, choro fraco, atraso no crescimento) que progridem para paralisia flácida e parada respiratória • Botulismo de feridas: quadro clínico semelhante ao da doença de origem alimentar, com período de incubação mais longo e sintomas gastrointestinais mais brandos • Botulismo por inalação: rápido início de sintomas e alta mortalidade Diagnóstico • Alimentar: toxina no alimento, no soro, nas fezes ou no líquido gástrico • Infantil: detecção da toxina • Feridas: detecção da toxina Tratamento • Suporte ventilatório • Lavagem gástrica • Metronidazol ou penicilina • Antitoxina botulínica trivalente • Obs.: crianças com menos de 1 ano não devem ingerir mel Listeria monocytogenes • Beta-hemolítico • Oportunista • Capacidade de crescer a 4º, na presença de sal e em uma ampla faixa de pH • Fatores de virulência: Internalinas: adesão celular Listeriolisina O Fosfolipase C Proteína de mobilidade intracelular Doenças clínicas • Doença neonatal De início precoce ou de início tardio • Bacteremia • Meningite em adulto • Infecções em grávidas • Doença em adultos saudáveis Tratamento • Penicilina ou ampicilina isolada ou com gentamicina (aminoglicosídio) Corynebacterium diphtheriae • Transmissão pelo ar e muito resistente ao ressecamento • Toxina diftérica Doenças clínicas • Difteria Dor de garganta e febre, seguidas de indisposição e edema do pescoço • Pseudomembrana diftérica: bloqueia a passagem de ar para os pulmões • Difteria respiratória • Difteria cutânea Ulcerações de cura lenta Recobertas por uma membrana cinzenta Infecção em ferimentos ou lesão Tratamento • Antibióticos + antitoxina diftérica • Penicilina ou eritromicina (macrolídeo) Referência MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; PFALLER, Michael A.. Microbiologia Médica. 8 ed. Rio De Janeiro: Editora Elsevier Ltda, 2017. .
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