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Incontinência Fecal • É a perda do autocontrole intestinal, caracterizado por episódios recorrentes de passagem invonluntária de conteúdo fecal (flatos, fezes liquidas ou sólidas) por pelo menos 1 mês, suficiente para causar problema social ou higiênico. • 2-18% dos idosos que vivem em comunidade e 30-40% dos institucionalizados, mais frequente nos portadores de demência pós-AVC, lesão medular, esclerose mútipla e DM. • A incontinência dupla (urinária e fecal) é 12x mais comum do que só a incontinência fecal isolada, sendo a 2a causa de institucionalização de idosos. • As principais complicações são infecção urinária de repetição, úlcera de pressão e aumento da mortalidade. • Duração, frequência, medicamentos em uso, dieta, ingestão de líquidos, cirurgias abdominais, história obstétrica, fatores precipitantes e sintomas associados (tenesmo, dor abdominal e presença de sangue ou muco nas fezes), devem ser rotineiramente investigados, assim como exame físico completo, incluindo toque retal e exame do estado mental. Fisiopatologia Classificação • A continência fecal depende da relação entre as estruturas anorretais e características das fezes, integradas com a função cognitiva, humor e mobilidade. • Idosos com demência, depressão grave e instabilidade postural\imobilidade presentam maior risco. • Da mesma forma, presença de maior volume de fezes com menos consistência ou transito intestinal rápido dificulta o controle esfincteriano. 1. Incontinência fecal funcional: • Acomete pacientes sem comprometimento direto das estruturas anorretais controladoras da evacuação. • Relacionada a incapacidade de atingir o banheiro a tempo de evitar perda de fezes, seja por limitações físicas, transtornos psíquicos, déficit cognitivo, regressão, hostilidade ou limitações ambientais. • Usualmente, a evacuação segue-se a um reflexo gastrocólico pós-prandial. 2. Incontinência fecal secundária: • Secundária a doenças orgânicas do cólon ou reto, como doenças intestinais inflamatórias, síndromes mal- absortivas (intolerância a lactose, uso excessivo de laxativos, dorgas), tumores hipersecretores, proctocolectomias com anastomose íleo-anal. • Frequente nos pcts em dieta enteral (hiperosmolaridade), caracteriza-se pela presença de urgência evacuatória. O tratamento é direcionado a doença de base. 3. Incontinência fecal sobrefluxo: • Causa mais frequente em idosos frágeis. • Refere-se a incontinência fecal associada a presença de constipação intestinal crônica e impactação fecal (fecaloma), particularmente em idosos com incapacidade cognitiva e imobilidade. • Caracteriza-se pela sensação de desconforto pélvico constante e eliminação de fezes semilíquidas várias vezes ao dia (diarreia paradoxal ou pseudodiarréia). • O fecaloma provoca incontinência por vários mecanismos: - Irritação da mucosa retal levando a produção de muco e fluido, que ultrapassa a massa impactante - Distensão do reservatório anorretal, com deslocamento ou retificação do ângulo anorretal (<110 o) - Inibição do tônus do esfíncter anal interno - Com o tempo, ocorre comprometimento da sensação do enchimento retal. • O toque retal é essencial ao diagnóstico, no entanto, a ausência de fecaloma ao toque não exclui o diagnóstico, pois pode estar localizado em porção mais alta, nesses casos é indicado radiografia de abdome. 4. Incontinência fecal reto-esfincteriana: • Causada por lesões neuromusculares isoladas ou múltiplas das estruturas sensitivo-motores responsáveis pela continência fecal, musculatura puborretal, esfíncter anal externo, esfíncter anal interno e mucosa retal (sensibilidade retal). • Deve ser considerada após exclusão de causas anteriores. • A lesão pode ser central, periférica (nervo pudendo) ou muscular (musculatura esfincteriana). • As causas mais comuns são trauma ou cirurgia anorretal (esfincterotomia, episiotomoa, hemorroidectomia, fistulotomais, trauma obstétrico, trabalho de parto prolongado, multiparidade), exclerodermia, DM, fratura pélvica, neuropatia periférica, espinha bífida, prolapso retal, lesões medulares e idiopática. Diagnostico • Deve incluir avaliação multidimensional do idoso e exame físico rigoroso da região anorretal. Alguns achados com importância diagnóstica: - Cicatrizes anorretais: sugere lesão direta (cirurgia ou trauma) do esfíncter anal, interno ou externo. - Prurido anal, maceração, eritema: complicações locais da perda fecal, que podem agravar a incontinência. - Prolapso retal, retocele: demonstrados com manobra de Valsava. • Exames endoscópicos: Na presença de massas ou evidencias de doenças inflamatórias intestinais (alteração do habito intestinal, diarreia, sangue, pus, muco), a retossigmoidoscopia pode definir o diagnóstico. - Em alguns casos é indicado colonoscopia completa. • USG endoanal ou RM: avaliação do esfincter anal externo e interno. • Manometria anorretal: avaliação do tônus da musculatura esfincteriana anorretal, sensibilidade retal e reflexos. • Eletromiografia anorretal: avaliação de neuropatia do nervo pudendo e avaliação esfincteriana. • Toque retal: Deverá ser feito em toda consulta geriátrica, pela sua simplicidade, rapidez, ausência de complicações e baixo custo. É indispensável explicar toda a sistemática do exame, justificando sua importância. • Exame: Iniciar com inspeção da região ano-sacrococcígea. - Afastar os glúteos para visualizar a região anorretal. - Massagear introito retal para relaxar o esfíncter. Introduzir o dedo indicador delicadamente e fazer movimentos rotatórios em todo o canal anal, palpando-o. - Retirar o dedo e inspecionar a luva para detectar presença de sangue, pus ou muco. Tratamento → Treinamento de hábito: condicionamento do paciente para evacuar em determinados horários, preferencialmente após as refeições. Indicado para idosos com incapacidade cognitiva. → Higienização anal, cuidados com a pele e uso de fraldas se necessário. → Dieta: evitar lactose na presença de intolerância. → Fibras: produtos derivados do psyllium ou análogos sintéticos podem aumentar a consistência das fezes, facilitando o controle. → Na presença de diarreia ou fezes liquidas, esta indicado uso de drogas antidiarreicas, como a loperamida (aumenta o tônus do esfíncter anal interno) ou difenoxilato. Outros: Codeina, atropina, colestiramina. → Constipação e incontinência por sobrefluxo: uso de drogas laxativas ou clister ou extração manual do fecaloma. → Tratamento da doença inflamatória intestinal → Biofeedback: condicionamento neuromuscular semelhante as técnicas utilizadas para incontinência urinária. → Plugs anais: uso de tampões anorretais. → Cirurgia: raramente indicada (esfincteroplastia, cirurgia para correção do prolapso retal e hemorroidário, cirurgia para construção de neoesfincter, inserção de esfíncter anal artificial, graculplastia, colostomia.