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CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I PROF. ROBERTO CARLOS LOURENÇO 2 BLOCO 6. DERIVABILIDADE E CONTINUIDADE Neste bloco, estudaremos a derivabilidade e continuidade de uma função em um determinado intervalo. Conhecendo a definição de função contínua e posteriormente suas propriedades, é possível identificar se uma função é contínua ou descontínua em determinado ponto. Como existem casos onde é preciso desenvolver cálculos para analisar se uma função é contínua ou descontínua em determinado ponto, é importante conhecer os seguintes teoremas: Teorema de Bolzano, Teorema de Weierstrass, Teorema do Valor Intermediário, Teorema do Valor Médio e Teorema da Função Composta. 6.1 Definição de Continuidade Partindo do significado da palavra continuidade, podemos começar lembrando que o processo contínuo é aquele que ocorre gradualmente, sem interrupção ou mudanças abruptas. Definição Matemática: uma função é contínua em um número a se: )()(lim afxf ax = → A definição dada requer três condições para a função f ser contínua em a: 1. f(a) está definida, onde a está no domínio de f; 2. )(lim xf ax→ existe; 3. )()(lim afxf ax = → Importante: Para falar em continuidade em um ponto, ele deve estar no domínio da função. Exemplos: 1. Para o gráfico de f não há buraco. 6 3 2. Observando o gráfico de uma função f, identifique quando f é descontínua. Para a = 1, a função é descontínua, pois f(1) não está definida. Para a = 5, a função é descontínua, pois )(lim 5 xf x→ não existe. Para a = 9, a função é descontínua, pois )9()(lim 9 fxf x ≠ → . 3. Onde a função f é descontínua? 2 2²)( − −− = x xxxf Resolução: Nesse caso, como f(2) não está definida, logo f é descontínua em 2. 4. Onde a função f é descontínua? = ≠= 01 0 ² 1 )( xse xse xxf 4 Resolução: Nesse caso, f(0) = 1, mas ² 1lim)(lim 00 x xf xx →→ = não existe. Logo, f é descontínua em 0. 5. Onde a função f é descontínua? = ≠ − −− = 21 2 2 2² )( xse xse x xx xf Resolução: 3)1(lim 2 )1).(2(lim 2 2²lim)(lim 2222 =+= − +− = − −− = →→→→ x x xx x xxxf xxxx )2()(lim 2 fxf x ≠ → Nesse caso, f(2) = 1, Logo, f é descontínua em 2. 6.2 Propriedades Se f e g forem contínuas em a e se c for uma constante, então as seguintes funções são contínuas, também em a: 1. f + g (soma de funções contínuas) 2. f – g (diferença de funções contínuas) 5 3. f . g (produto de funções contínuas) 4. c.f (produto da constante com a função contínua) 5. g f se g(a) ≠ 0 (quociente de funções contínuas) 6.2.1 Continuidade e derivabilidade Vamos estudar cada afirmação a seguir: I. Se f é derivável em a, então f é contínua em a. 6 A função f é contínua em todos os números reais. Sendo f derivável em R e contínua em R. II. Se f é contínua em a, então f é derivável em a. Nesse caso, f não é derivável no domínio da função, pois x não pode ser zero. Logo, f é contínua em R, mas não é derivável quando x é 0. 6.3 Teoremas 6.3.1 Teorema de Bolzano Se f é uma função contínua em [a; b], onde f(a) e f(b) têm sinais contrários, então existe (pelo menos) um ponto c de [a; b] tal que f(c) = 0. Pelo ponto de vista geométrico, temos: Para os pontos A = (a; f(a)) e B = (b; f(b)), onde f(a) e f(b) possuem sinais contrários no plano cartesiano, temos: 7 De modo que, para desenhar um possível gráfico, colocamos a ponta de um lápis em A, e traçamos uma curva até B, sem tirar a ponta do lápis do papel, sendo f contínua em [a; b], é evidente que a curva cruzará o eixo Ox em, pelo menos, um certo ponto, onde c assuma o valor de abscissa. Exemplo: A velocidade de uma partícula é dada por v(t) = 2t³ - 2t² - 1 . Mostre que existe um instante entre 1 e 2 no qual a velocidade se anula. Resolução: Como v(1) = 2. 1³ - 2. 1² - 1 = - 1, sendo v(1) < 0, agora calculando v(2) v(2) = 2. 2³ - 2. 2² - 1 = 7, sendo v(2) > 0, onde v é uma função contínua, de acordo com o Teorema de Bolzano, existe c, com 1 < c < 2, tal que v(c) = 0. 6.3.2 Teorema de Weierstrass Se f é contínua em [a; b], ela atinge um mínimo e um máximo nesse intervalo. O Teorema de Weierstrass afirma que existem pontos c e d pertencentes ao intervalo [a; b] tais que f(c) será o mínimo e f(d) será o máximo, f(c) < f(x) < f(d), para qualquer x que pertence ao intervalo [a; b]. 8 6.3.3 Teorema do Valor Intermediário Suponha que f seja contínua em um intervalo fechado [a; b] e seja n um número qualquer entre f(a) e f(b). Então, existe um número c em ]a; b[ tal que f(c) = n. Observe a ilustração: Como uma função contínua não possui nenhum buraco e nem quebras, é fácil compreender que o Teorema do Valor Intermediário é verdadeiro. Uma das aplicações do Teorema do Valor Intermediário é a localização das raízes de equações. Exemplo: Para a equação 4x³ - 6x² + 3x – 2 = 0, existe uma raiz entre 1 e 2? Resolução: f(x) = 4x³ - 6x² + 3x – 2 f(1) = 4. 1³ - 6. 1² + 3. 1 – 2 = -1, onde f(1) < 0 f(2) = 4.2³ - 6.2² + 3.2 – 2 = 12, onde f(2) > 0 Para n = 0 que está entre f(1) e f(2), pelo Teorema do Valor Intermediário existe c, onde 1 < c < 2, que determina f(c) = n = 0. 9 Logo, a equação 4x³ - 6x² + 3x – 2 = 0 possui, pelo menos, uma raiz c no intervalo ]1; 2[. 6.3.4 Teorema do Valor Médio Se f é uma função contínua em [a; b] e derivável em [a; b], então existe c de ]a; b[ tal que: ab abfcf − − = )()()(' . Pela ilustração gráfica, temos que t é uma reta tangente ao gráfico de f, paralela à reta AB. Temos pela interpretação geométrica da derivada, que a inclinação da reta t é f’(c), a qual, por serem t e AB paralelas, é igual à inclinação de AB, ou seja: f’(c) = inclinação da reta t = inclinação da reta AB = ab afbf − − )()( . Em representação geométrica, se f é uma função contínua em [a; b], seu gráfico deve ser uma curva contínua nesse intervalo, e se ela for derivável em ]a; b[, seu gráfico deve ser uma curva suave nesse outro. Exemplo: A função horária de um movimento é dada por s(t) = t³ - 3t² + 1. Em quais instantes do intervalo de tempo [0; 1] a velocidade média nesse intervalo é atingida pela velocidade escalar? 10 Resolução: Sendo a função velocidade a derivada da função horária, temos: v(t) = s’(t) = 3t² - 6t Pelo Teorema do Valor Médio, temos: 01 )0()1()(' − − = ssts Desenvolvemos: 026²3 26²3 01 1)1(6²3 =+−⇔ −=−⇔ − −− =− tt tttt Resolvemos a equação, encontramos 3 31+=t e 3 31−=t , como o valor para t precisa pertencer ao intervalo [0; 1], o único valor no qual t pode assumir é 3 31−=t . Portanto, para 3 31−=t a velocidade média no intervalo [0; 1] atinge a velocidade escalar. 6.3.5 Teorema da Função Composta Se g for contínua em a e f em g(a), então a função composta f o g dada por (f o g)(x) = f(g(x)) é contínua em a. Demonstração desse Teorema pode ser dada da seguinte maneira: Uma vez que g é contínua em a, temos )()(lim agxg ax = → Sendo f contínua em b = g(a), podemos indicar pela definição de função contínua que: ))(())((lim agfxgf ax = → Onde h(x) = f(g(x)) é contínua em a, isto é, f o g é contínua em a. Exemplo: Verifique se a função h(x) = sen(x²) é contínua em R. 11 Resolução: Para h(x) = sen(x²), temos que g(x) = x² e f(x) = sen x. Por ser g(x) = x², não existenenhum valor real que torna g descontínua, ou seja, g é contínua em R. ²²lim)()(lim axagxg axax =⇒= →→ Para f(x) = sen x, o caso não é diferente de g, pois para qualquer valor atribuído para x existe sen x. Onde g(a) = a², temos h(x) = sen(x²) h(a) = sen(a²) )())(lim ahxh ax = → Portanto, a função h é contínua em R. Conclusão Neste bloco, estudamos a definição de continuidade, onde foi possível identificar quando uma função é contínua ou descontínua em determinado intervalo I. Conhecemos as propriedades, como soma de funções contínuas, diferença de funções contínuas, produto de funções contínuas, produto de constante com função contínua e quociente de funções contínuas. Conhecemos os teoremas: Teorema de Bolzano, Teorema de Weierstrass, Teorema do Valor Intermediário, Teorema do Valor Médio e Teorema da Função Composta. E concluímos com uma aula interativa para ser possível resolver uma situação-problema com o uso dos conceitos estudados. Referências BOULOS, P. Cálculo diferencial e integral. São Paulo: Makron Books, 1999. v. 1. IEZZI, G.; DOLCE, O.; TEIXEIRA, J. C.; MACHADO, N. J.; GOULART, M. C.; CASTRO, L. R. S.; MACHADO, A. S. Matemática. São Paulo: Atual, 1995. LEITHOLD, L. O cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro de Carvalho Patarra. 3. ed. São Paulo: Harbra, 1994. STEWART, J. Cálculo. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. v 1.
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