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DIREITO CIVIL
ITEM 1.A: Da aplicação da lei no tempo e no espaço. Das fontes do direito.
Obras consultadas: BENJAMIN, Antonio Hermann. MARQUES, Cláudia Lima. BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do consumidor. São Paulo: RT, 2008; FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed. Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 2. Ed. Rev. São Paulo: Saraiva, 2008; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (DL 4.657/42).
Fontes do Direito
i) fontes históricas; 
ii) fontes formais; 
iii) fontes não formais; 
iv) fontes diretas (imediatas); 
v) fontes indiretas (mediatas) 
(para detalhes, ver texto ao fim do tópico).
Classificação das leis
(i) cogentes ou dispositivas (segundo a imperatividade); 
(ii) mais do que perfeitas (dupla sanção: nulidade absoluta ou relativa + sanção ao infrator), perfeitas (anulação ou nulidade), menos que perfeitas (sanção sem anulação) e imperfeitas (ausência de sanção), quanto ao autorizamento; 
(iii) substantivas ou adjetivas, quanto à natureza; 
(iv) constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas (art. 68, CRFB), quanto à hierarquia.
Revogação
(i) ab-rogação (integral) e derrogação (parcial) e (ii) tácita e expressa
Integração
Analogia: (i) Analogia pela lei, analogia pelo direito
Costume: (i) Uso e Convicção Jurídica
Princípios Gerais de direito: 
Leis no Tempo
Graus de retroatividade (conforme Mendes)
Retroatividade máxima – Lei nova ataca fatos (atos, coisa julgada) já consumados, inadmissível em nosso ordenamento.
Retroatividade média – Lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos ocorridos antes da vigência da nova lei. Exemplo: Hipotética lei que limitasse a taxa de juros e fosse aplicada aos juros vencidos (antes da vigência da nova lei) e não pagos.
Retroatividade mínima – Lei nova atinge apenas os efeitos dos atos anteriores produzidos após a data de sua vigência.
Ato Jurídico Perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetivou.
Direito Adquirido: Para Gilmar Mendes possui caráter constitucional, tendo a Lei de introdução apenas trazido definições. Consideram-se direitos adquiridos aqueles que a) seu titular ou alguém por ele possam exercer; b) aqueles cujo começo do exercício tenham termo pré-fixo; e c) aqueles cujo começo do exercício tenham condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem.
Coisa Julgada: caso julgado do qual já não caiba recurso
Lei de Introdução e leis no espaço
Art. 7º LINDB – Aplica-se a lei do país de domicílio da pessoa nos casos de a) começo e fim da personalidade; b) nome; c) capacidade e d) direitos de família.
Art. 8º LINDB – Lei do lugar da coisa – Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplica-se a lei do país em que estiverem situados. Aos bens em trânsito, aplica-se a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens móveis que ele trouxer ou lhe destinarem a outros lugares.
Art. 9º LINDB – Nas relações obrigacionais, observa a lei do país em que se constituírem, sendo que a obrigação resultante de contrato reputa-se constituída no lugar que residir o proponente. (Atenção - Para o Código Civil o contrato é celebrado no lugar em que foi proposto – Art. 436)
Art. 10 LINDB – Sucessão – Regra – Aplica-se a lei do país em que era domiciliado o de cujus. No caso de sucessão de bens estrangeiros situados no país, será observada a lei brasileira, em benefício do cônjuge e filhos brasileiros, salvo se a lei pessoal do estrangeiro for mais favorável, hipótese na qual será aplicada pela autoridade judiciária brasileira, por força do art. 12 da LINDB. A capacidade para suceder é regulada pelo domicílio do herdeiro ou legatário.
 
Art. 17 LINDB – Requisitos para eficácia de: leis, atos e sentenças de outros países no Brasil - a)Soberania Nacional, b) Ordem Pública; c) Bons costumes.
As classificações acerca das fontes observam (i) fontes históricas, mais relacionadas à investigação sobre a origem de determinado instituto, auxiliares para sua melhor compreensão, mas insuficientes para uma efetiva aplicação; (ii) fontes formais do direito, que segundo nosso ordenamento jurídico (por força do artigo 5º, II, da CRFB, 4º da LICC e do artigo 126 do CPC) são a lei, a analogia, o costume e os princípios gerais de direito; e (iii) fontes não formais, que abarcam a jurisprudência e a doutrina. 
Outra forma de classificação da literatura jurídica acerca das fontes do direito as entende como (i) fontes diretas (imediatas), como leis e costume, por gerarem por si só a norma; e (ii) fontes indiretas (mediatas), que são a doutrina e a jurisprudência, por contribuírem para a elaboração e interpretação da norma. 
Dentre as fontes, tem-se o primado da lei, por força constitucional (art. 5º, II). Dentre as características da lei se destacam (i) generalidade, destinada a todos e prevendo situações genéricas, para concretização no caso concreto; (ii) imperatividade, a imposição de um mandamento exigível externamente, que deve ser cumprido, podendo ser cobrado seu cumprimento por outro, por meio do próprio direito, o que conduz à característica (iii), o autorizamento, para que o lesado exija o cumprimento ou a reparação pelo dano causado; (iv) permanência, que se relaciona com a própria idéia de generalidade, na medida em que a lei não se exaure na sua própria aplicação, permanecendo vigente e aplicável a outras situações semelhantes enquanto não for revogada; e, por fim, (v) a emanação por autoridade competente, de acordo com as constitucionais previstas e com as conseqüentes disposições relativas ao processo legislativo, a exemplo da iniciativa de proposição.
A literatura jurídica classifica as leis de acordo com sua (i) imperatividade; (ii) autorizamento e (iii) natureza.
Quanto à imperatividade, podem ser (i) cogentes (de ordem pública), em que as condutas são exigíveis de forma absoluta, mitigando, restringindo a esfera de autonomia privada do cidadão, que não pode derrogá-las de acordo com sua manifestação de vontade. Destacam-se, nesse sentido, as disposições relativas a direito de família, a exemplo das exigências relativas à adoção. Podem também as leis serem (ii) dispositivas, em que há a abertura para uma manifestação de vontade mais ampla, que se destaca de maneira mais forte no âmbito contratual e empresarial, bem como no cumprimento de obrigações, a exemplo do art. 327 (estipulação do local do pagamento).
Quanto ao autorizamento, podem ser (i) mais do que perfeitas, ao autorizarem a aplicação de duas sanções em esferas jurídicas diferentes, a exemplo do devedor de alimentos (prisão e pagamento das prestações vencidas) e também em leis mais afeitas ao âmbito público, tal como as diferentes sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa (suspensão de direitos políticos, multa); (ii) perfeitas, impondo a nulidade do ato, tal qual aquele praticado por absolutamente incapaz; (iii) menos que perfeitas, impondo sanção no caso de descumprimento mas sem acarretar a nulidade do ato, como previsto no art. 1523, do CC; e (iv) imperfeitas, que não acarretam sanções, a exemplo do exigimento de dívidas prescritas.
Quanto à natureza pode ser (i) substantivas, relacionadas ao direito material, a exemplo das disposições do código civil, ou (ii) adjetiva, relacionadas ao processo de exigências da realização dos direitos.
Quanto à hierarquia, podem ser (i) constitucionais; (ii) leis complementares; (iii) leis ordinárias; (iv) leis delegadas. Decreto não é lei, mas ato normativo do poder executivo, que deve se limitar a especificar, regulamentar disposições já previstas legalmente (salvo no caso de decretos autônomos, possibilitados unicamente nos casos previstos 84, VI, alíneas “a” e “b” da Constituição da República).
A simples votação do texto legal e sua posterior sanção peloPresidente da República não inicia o período de vigência da lei. O marco inicial se dá com sua publicação, passando a vigorar efetivamente apenas 45 dias após esse ato, salvo se a própria lei estipular em sentido diverso (art. 1º LICC). Esse prazo de 45 dias é a chamada vacatio legis. Nos casos de leis brasileiras admitidas no exterior, sua obrigatoriedade se inicia três meses após sua publicação. 
Diálogo das Fontes. Para o diálogo de fontes (que em determinadas situações afasta a regra da LINDB acerca da relação entre lei geral e lei especial), mais importante do que saber qual lei se aplica em face de critérios de generalidade/especialidade, é questionar: qual dispositivo normativo é mais apto a permitir a maior efetivação de mandamentos constitucionais, em especial direitos fundamentais? Essa proposta de interpretação só é possível de ser compreendida a partir do processo de constitucionalização do direito civil ocorrido em nosso ordenamento, em diálogo com a afirmação da dimensão objetiva dos direitos fundamentais, entendida por Gilmar Mendes nos seguintes termos: A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da ordem constitucional (...) Esse fenômeno faz com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos. É a partir desse pano de fundo que se tem a consideração e aplicação (bem como sua negativa) do diálogo de fontes em manifestações do Superior Tribunal de Justiça, como se verifica na análise mais detida das decisões dos paradigmáticos Recurso Especiais n. 1.147.138 (Guarda compartilhada entre avó e tio) e n. 489.985 (Direito do Consumidor, indústria tabagista e prescrição). O diálogo das fontes se insere no contexto de constitucionalização do Direito Civil, que parte de uma leitura apta a dialogar com a complexidade da contemporaneidade e é entendida por Paulo Luiz Netto Lôbo como o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. É um fenômeno verificado na tradição brasileira no contexto pós Constituição de 1988, calcado na afirmação da força normativa da Constituição, com o intuito de promover a superação de tentativas hermenêuticas “invertidas”, que procuram entender a Constituição e seus princípios a partir de regras presentes na legislação civil, que procuram conceder uma leitura reducionista de direitos e garantias fundamentais previstos constitucionalmente a interpretações restritivas baseadas em dispositivos do Código Civil, ignorando, dessa forma, o papel dos princípios constitucionais6 e dos direitos fundamentais no ordenamento. A afirmação da constitucionalização do direito civil não ocorre por simples escolha ou modismo, mas é fruto da adequação da interpretação jurídica ao paradigma do Estado Democrático de Direito previsto pela Constituição da República, paradigma esse que concede importante dimensão aos princípios constitucionais e direitos fundamentais dentro do ordenamento e na sua relação com os diversos ramos do direito, superando, dessa forma, leituras tradicionalistas (e paradigmaticamente defasadas) que defendiam a ideia de desnecessidade de adequação do ramo civilista aos princípios presentes na Constituição. É necessário delimitar alguns pontos que caracterizam a constitucionalização do Direito Civil e a substancial mudança de atitude que promove, segundo a qual “deve o jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e não a Constituição, segundo o Código, como ocorria com frequência (e ainda ocorre)”. A Constitucionalização não fica adstrita à inserção no texto constitucional de disposições pertinentes a diversos ramos de direito, estando relacionada, em verdade, à submissão do direito positivo aos fundamentos de validade, aos princípios e disposições estabelecidos pela Constituição. Nos dizeres de Paulo Luiz Netto Lôbo: Pode afirmar-se que a constitucionalização é o processo de elevação ao plano constitucional dos princípios fundamentais do direito civil, que passam a condicionar a observância pelos cidadãos, e a aplicação pelos tribunais, da legislação infraconstitucional. Rompe-se, dessa forma, com a interpretação que procura isolar, fechar o Direito Civil à observância de determinações constitucionais, e o reflexo que ela carrega de uma percepção rígida da dicotomia público e privado, em que aquele é reduzido ao Estatal, enquanto esse se resume a um egoísmo, à centralização na individualidade. Esse posicionamento, não mais sustentável no atual paradigma, transparece ainda em manuais consagrados utilizados à exaustão pela graduação, a exemplo de Francisco Amaral: A importância do Direito civil manifesta-se em diversos aspectos. Em primeiro lugar, constitui a base do ordenamento jurídico de todas as sociedades. (...) É no Direito Civil que a técnica jurídica, conjunto de processos que se utilizam na determinação do direito, mais se desenvolveu, continuando a ser a espinha dorsal da ciência jurídica. O próprio Estado, no exercício de sua atividade econômica, a ele se submete. Em sentido semelhante, afirma Monteiro, transparecendo paradoxos e contradições gerados por uma leitura rígida da dicotomia, que conduz a interpretações que entendam haver uma hierarquização confusa ou uma preponderância entre público e privado: O direito objetivo subdivide-se em direito público e direito privado, distinção já formulada pelos romanos. Toda regra de direito enquadra-se forçosamente num ou noutro ramo do direito. Direito Público é o destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade (publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat). Diz respeito à comunidade, estruturando-lhe organização, serviços, tutela dos direitos individuais e repressão dos delitos. (...) Direito privado, por seu turno, é o conjunto de preceitos reguladores das relações dos indivíduos entre si (privatum, quod ad singulorum utilitatem). Subdivide-se em direito civil e direito comercial, disciplinando este a atividade das pessoas comerciantes e aquele, a dos particulares em geral. (...). Sempre que houver dúvida sobre se determinada regra é ou não de ordem pública, deve considerar-se como sendo de interesse privado. Essa segmentação na interpretação que não considera a interpenetração entre público e privado por força da efetivação de direitos fundamentais é incompatível com a constitucionalização do direito civil na qual está inserido nosso ordenamento. Como bem atenta Perlingieri: A interpretação ou é sistemática (a trezentos e sessenta graus) ou não é interpretação. Os chamados sistemas parciais são, no mais das vezes, o resultado de uma primeira, provisória, abordagem, diante da qual o intérprete não pode se ater, especialmente na presença de valores fundamentais destinados a funcionalizar cada “instituto” e à luz dos quais é mister exprimir valorações de validade e legitimidade. O professor italiano prossegue na reflexão sobre o impacto da constitucionalização no arcabouço interpretativo, demonstrando a ocorrência da própria resignificação da idéia de legalidade: A legalidade, portanto, não é somente o respeito da lei, mas, sobretudo no sistema constitucional, é a exigência da reconstrução dos nexos entre múltiplas fontes operantes no mesmo território, fontes legitimadas pela Constituição e que encontram composição na sua unidade axiológica. Isto significa que cada forma de poder que se exprima por meio de regras ou princípios – e portanto, também cada espécie de poder normativo lato sensu “privado” – não poderá ser exercido senão dentro da unidade construída pela Constituição e mantida por um método hermenêutico que dela se faça instrumento consciente: unidade não dogmática, mas jurídica; não totalitária, mas democrática; não absoluta, mas mediada por relações de preferência e compatibilidade entre os direitos fundamentais. Interpretar configura-se então como uma afirmação de direitosfundamentais, o que mais do que permitir, impõe a necessidade do chamado diálogo das fontes em face de conflito de normas, afastando, quando necessário e com objetivo de concretização de direitos fundamentais, a dicotomia generalidade/especialidade. Nos dizeres de Perlingieri, “ela [interpretação constitucional da legislação ordinária], partindo da exigência de realizar a legalidade constitucional, adapta os próprios instrumentos hermenêuticos à exigência primária de realizado dos valores fundamentais”. É necessário observar, contudo, que Perlingieri não utiliza expressamente a nomenclatura “diálogo das fontes”, trabalhada no ordenamento pátrio em especial por Cláudia Lima Marques, a partir da construção teórica do Professor holandês Erik Jayme. Ocorre que a noção de hermenêutica advinda da constitucionalização do direito civil trabalhada por Perlingieri encontra simetria no entendimento de Jayme, que procura na Constituição a resposta para antinomias modernas e a complexidade de sistemas legais descodificados. Por essa razão, adota-se nesse artigo a nomenclatura desenvolvida por Jayme e trabalhada por Cláudia Lima Marques, mas exercendo um diálogo quanto a sua fundamentação nas ideias de Perlingieri, em virtude de sua similitude calcada na efetivação de direitos fundamentais e em sua maior consolidação na tradição jurídica pátria.
ITEM 1.B: Das obrigações quanto às sua modalidades.
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 2. 6. Ed. Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 2. Direito de Família. 13. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica: Arts. 233-285 do Código Civil.
1. Modalidades de Obrigação
A – Classificação quanto ao objeto
i) Obrigação de dar e de restituir.
Obrigação de dar coisa certa (arts. 233-242): Conceito: Prestação de coisa, que consiste na entrega de um ou mais bens ao credor, seja pela transmissão da posse (locação), da propriedade (compra e venda) ou por restituição (depósito). Coisa certa é aquela perfeitamente identificada e individualizada em suas características
Teoria dos riscos: Quem responde pela perda ou deterioração do bem? Regra: Os riscos correm por conta do proprietário atual (res perito domino), usualmente o devedor.
Perda da coisa (art. 234): Perda sem culpa do devedor antes da tradição ou pendente condição suspensiva (Retorno ao status quo ante - resolução do negócio jurídico - Ex.: Entrega do carro para o dia 15, sendo ele furtado dia 14. Resolve-se a obrigação). Perda por culpa do devedor: Responde o devedor pelo equivalente mais perdas e danos. Ex.: Devedor alcoolizado se envolve em colisão com o carro objeto da prestação. Deverá restituir o valor pago e arcar com eventual indenização para satisfazer a frustração das legitimas expectativas do credor.
Deterioração: Não há perda do objeto, mas diminuição de suas qualidades essenciais ou valor econômico
Deterioração sem culpa do devedor (Art. 235). 	Credor resolve a obrigação; ou 	Aceita a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu
Deterioração com culpa do devedor (Art. 236). 	Credor exige o equivalente, mais perdas e danos.Credor aceita a coisa no estado em que se encontra, mais perdas e danos. Teoria do Adimplemento Substancial implica, em nome da boa-fé objetiva, na limitação da possibilidade de escolha pelo devedor. E se o devedor estiver em mora quando da perda/deterioração da coisa? (art. 399) Responsabilidade objetiva do devedor. Afastável apenas se demonstrar que o fato ocorreria independentemente da mora (exemplo da hecatombe) ou se impossível imputar culpa (responsabilidade). Esclarecendo termos:
Responsabilidade civil objetiva comum: Não se discute culpa, exigindo-se que o dano seja resultante da ação ou omissão do responsável ou de pessoas a ele ligadas ou, ainda, de fato de coisas de que seja detentor.
Responsabilidade civil objetiva extremada: Não se discute culpa, também não se discute se os danos foram causados pelo responsável/pessoa ligada/fato da coisa. Gera-se a responsabilidade pelos danos simplesmente acontecidos durante a atividade que a pessoa responsável desenvolve.
Princípio da equivalência (Art. 237). O devedor deve suportar o prejuízo pela perda antes da tradição, contudo, ele também percebe os lucros que eventualmente venham a ser gerados nesse período.Havendo melhoramentos e acréscimos à coisa, pode o devedor exigir aumento no preço; se o credor não anuir, pode o devedor resolver a obrigação.
Melhoramento ou acréscimo da coisa sem atuação do devedor beneficia o credor sem necessidade de indenização (art. 241), caso contrário, equiparam-se às benfeitorias (art. 242)
Frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os frutos pendentes.
Diferença entre dar e restituir: A restituição envolve situação de posse, devolução de bem que jamais entrou na esfera de propriedade do devedor da restituição. Usualmente presente em contratos de locação, comodato, depósito. A responsabilidade pela perda, em regra, é do credor. Exceção ao res perito domino? Não, pois o domínio aqui se encontra com o credor, que jamais foi despojado da propriedade do bem. Dessa forma, se a perda se der sem culpa do devedor, atingirá o patrimônio do credor. E se a perda se der por culpa do devedor? (Art. 239) Devedor não é proprietário, mas pelo fato de ter contribuído para a perda ou deterioração, responderá pelo equivalente mais perdas e danos. Exceção ao perito res domino
E se tratar-se de deterioração? (art. 240). Sem culpa do devedor - Credor recebe a coisa no estado em que estiver, sem direito à indenização. Com culpa do devedor - Aplica-se a sistemática do artigo 239 (devedor responde pelo equivalente mais perdas e danos)
ii) Obrigação de dar coisa incerta
Na obrigação de dar coisa incerta (obrigação genérica) tem-se a indeterminação do objeto quando da celebração do negócio jurídico, sendo ele, contudo, determinável posteriormente. A causa é definida ao menos pelo gênero e quantidade (art. 243). Usualmente a doutrina majoritária sustenta que a obrigação de dar coisa incerta envolveria necessariamente bem fungível. Abordagem mais contemporânea critica tal entendimento, afirmando que na maioria dos casos haveria fungibilidade do objeto da prestação da obrigação, mas que isso não seria um requisito. O exemplo para ilustrar tal situação (obrigação de dar coisa incerta relacionada à bem infungível) é usualmente relacionado a obrigação de dar obra de determinada série/coleção de determinado escultor, sem que ela seja previamente definida quando da celebração do negócio jurídico.
Distinções. Coisa incerta x coisa futura - Objeto determinado, mas ainda não existente. Coisa incerta x obrigação alternativa - Obrigação alternativa (Classificação das obrigações baseada em seus elementos – Há aqui diferentes objetos, já previamente definidos, que serão escolhidos de maneira independente entre si) diferente de Coisa incerta (Haverá a invidualização da coisa, existindo, desde a celebração, a sua definição quanto ao gênero e quantidade). 
A questão da escolha: Escolha pertence em regra ao devedor, salvo disposição em contrário. E se não exercer? Reversão para a outra parte (art. 849). Qual o parâmetro de escolha? Patamar médio, não podendo ser dada a pior variação dentro do gênero nem o devedor obrigado a prestar a melhor variação (art. 244). A partir do momento em que se individualiza a coisa e cientifica-se o credor, aplicam-se as disposições da obrigação de dar coisa certa (art. 245). Antes de feita a escolha, não pode o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246), como consequência da própria alocação de risco decorrente da idéia de res perit domino.
iii) Obrigações de Fazer
Conceito e características - Prestação de um fato, consistente na realização de uma atividade pessoal ou serviço, pelo devedor ou por um terceiro. Relevância não reside no eventual bem que possa resultar da conduta do devedor, mas na condutaem si. Por que diferenciar? Reflexos na tutela – 461 CPC x 461-A CPC. A questão do FGTS: Polêmica quanto à questão de obrigação de dar (pecúnia) ou de fazer (promover o recolhimento), CJF entende pela obrigação de dar.
Classificações das obrigações de fazer: Obrigações duradouras e instantâneas – Duradouras: A execução protrai-se no tempo, de modo continuado (pintura de parede) ou de modo periódico, mediante trato sucessivo (prestação de serviço continuado). Instantâneas: Aperfeiçoam-se em um único momento (registro de imóvel). E daí? Relevante para a possibilidade de aplicação da teoria da imprevisibilidade/onerosidade excessiva (Arts. 317 e 478 CC e art. 6, V, CDC). Fungíveis e infungíveis.
Impossibilidade de prestação do fato (art. 248). Impossibilidade inicial (nulidade) e impossibilidade superveniente. Culpa do devedor – perdas e danos/Sem culpa do devedor – Resolve-se a obrigação.
Fato executável por terceiro (art. 249). Não se trata aqui, evidentemente, de obrigação intuitu personae. Sendo o fato exequível por terceiro, pode o credor mandar executá-lo às custas do devedor, no caso de recusa ou mora deste, sem que se afaste a possibilidade de indenização. Em caso de urgência, credor pode mandar executar a obrigação de fazer, independentemente de autorização judicial, para depois pleitear ressarcimento (art. 249, parágrafo único). Tem-se então a concretização da noção de autoexecutoriedade, reflexo do princípio da operabilidade e a conversibilidade de obrigação de fazer em obrigação de dar o valor correspondente.
iv) Obrigações de não fazer
Conceito e características: Abstenção, permissão ou tolerância, impedindo que o devedor pratique determinado ato que, normalmente, não lhe seria vedado. Diferentemente da obrigação de fazer, a obrigação de não fazer será sempre intuitu personae, não podendo ser realizada por terceiros. Exemplo: Limitação à edificação estipulado contratualmente.
Impossibilidade de cumprimento (art. 250) - Extinção da obrigação. Requisitos: Ausência de culpa do devedor; Impossibilidade de se abster da prática do ato. Exemplo: Sujeição do devedor a interesses públicos prevalecentes – Obrigar-se a não alienar determinado imóvel, que vem a ser objeto de desapropriação por interesse público. 
Classificação das obrigações de não fazer. Obrigações negativas instantâneas x permanentes
Obrigações negativas instantâneas - Também chamadas de transeuntes, são aquelas que, quando descumpridas uma única vez, são irreversíveis, gerando inadimplemento absoluto, na medida em que é impossível retornar ao estado originário. Ex.: Obrigação de não divulgar segredo industrial de empresa.
Obrigações negativas permanentes - Também chamadas de contínuas, admitem a possibilidade de purgação da mora através da recomposição do estado originário, como a despoluição de rio ou a instalação de aparelhos não poluentes por empresa que descumpriu obrigação de não poluir assumida em TAC, por exemplo. E daí? Aplicabilidade do art. 251 possível apenas em relação às obrigações negativas permanentes. E o que prevê o art. 251? Prevê que a prática do ato vedado permite: a) Credor exigir que o devedor desfaça o ato; b) desfazer às custas do devedor; c)Eventuais perdas e danos. Em caso de urgência Credor pode desfazer ou mandar desfazer sem autorização judicial, havendo ressarcimento pelo devedor.
B – Classificação quanto aos elementos
i)Obrigações plurais quanto ao objeto – aspectos gerais
Possuem multiplicidade de objetos e subdividem-se em: i) Obrigações cumulativas; ii) Obrigações facultativas; e iii) Obrigações alternativas.
ii) Obrigação alternativa
Característica: Pluralidade de prestações, mas só uma delas será satisfeita, exonerando o devedor. Exemplo: A pagará dívida a B, mediante a entrega de R$ 200.000 ou a transferência de um apartamento nesse valor. As prestações podem se apresentar de maneira disjuntiva, ou seja, podem concorrer obrigações de dar com obrigações de fazer/não fazer. Mas não se parece com obrigação de dar coisa incerta? Sim, mas são distintas. Na de dar coisa incerta há prestação simples, na alternativa há pluralidade de prestações. Especificação do objeto mediato da prestação quando da celebração. Ocorrência da concentração quando do pagamento: Momento de determinação do objeto a ser prestado, transformando a obrigação plural em obrigação simples. Concentração cabe ao devedor, salvo disposição em contrário (Art. 252, caput) Vedação ao fracionamento do recebimento (parte em uma prestação, parte em outra).
Balanceamento da concentração nas prestações periódicas. Possibilidade de a cada período, prestar-se nova concentração (art. 252, §2º). Ou seja, escolho a cada mês qual dos objetos mediatos serão entregues. E se houver pluralidade de optantes quanto à concentração? Deve haver acordo entre eles. Caso contrário, caberá ao juiz decidir (art. 252, §3º). Terceiro pode escolher? Havendo acordo entre as partes, pode um terceiro escolher; no caso de não poder ou não querer exercer a prerrogativa, caberá ao juiz (252, § 4º). E se o devedor for inerte em sua escolha? Procedimento do art. 571 do CPC, quando da execução, que permite a inversão da opção ao credor, em caso de manutenção da inércia do devedor após prazo de 10 dias. 
Inexequibilidade das prestações Inexequibilidade de uma das prestações, quando cabível ao devedor a concentração (art. 253). Subsiste o débito quanto à outra prestação. Irrelevante se houve ou não culpa do devedor, o tratamento jurídico dispensado é o mesmo. Inexequibilidade de ambas, sem culpa do devedor, quando a ele couber a concentração (art. 256), torna-se extinta a obrigação. Inexequibilidade de ambas, por culpa do devedor, quando a concentração couber a este (art. 254), devedor obrigado a pagar o valor da que se perdeu por último, mais perdas e danos. Inexequibilidade de uma das prestações com culpa do devedor, quando a concentração couber ao credor (art. 255), credor exige a prestação que subsistiu; ou credor exige o valor da prestação que pereceu acrescido de perdas e danos. Inexequibilidade de ambas, por culpa do devedor, quando a concentração couber ao credor (art. 255), credor pode reclamar o valor de qualquer uma das duas, mais perdas e danos.
ii) Obrigações facultativas
Também conhecida por outra nomenclatura mais apropriada: obrigações com faculdade alternativa de cumprimento OU obrigação com faculdade de substituição. Não há referência expressa no CC a tal modalidade.
Conceito - Obrigação que possui um único objeto, na qual o devedor tem a faculdade de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa, já delimitada anteriormente de maneira subsidiária. Exemplo: A obriga-se a entregar a B um carro usado, prevendo-se ao devedor a faculdade de substituir a prestação principal por uma moto usada de valor similar. E daí, quais os efeitos práticos? Há na verdade uma pluralidade de objetos da prestação, subordinados ao exercício de direito potestativo pelo devedor. Tem-se ao fim obrigação simples quanto à prestação, calcada na obrigação principal pactuada, não havendo vínculo com a faculdade concedida ao devedor. Como assim? Se no exemplo mencionado do veículo tem-se o perecimento do automóvel sem culpa do devedor, aplica-se a disposição pertinente à obrigação de dar coisa certa (no caso, resolução da obrigação), não sendo possível ao credor exigir a moto, que integrava a simples faculdade de escolha do devedor.
iii) Obrigações Cumulativas
Ausência de expressa regulamentação pelo Código Civil. Consiste em duas ou mais prestações exigíveis cumulativamente. Descumprimento de uma das prestações resulta em inadimplemento total. Faculdade de recusa de recebimento parcial (apenas uma das prestações). Necessidade de distinção entre obrigações cumulativas e obrigações distintas reunidas no mesmo instrumento jurídico. Exemplo: 1)Contrato marceneiro para fazer mobília embutida de determinado escritório, o que inclui estantes, mesa de trabalho e mesa de reunião acoplada. 2) Em determinada loja de móveis, adquiro uma mesa de trabalho, estantes e uma mesa dereunião para posterior entrega e montagem.
iv) Obrigações fracionárias
Obrigações fracionárias e pluralidade subjetiva. Há uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma fração do crédito. As obrigações fracionárias, idealmente, podem ser decompostas em tantos quantos os credores ou devedores. Não há um crédito coletivo, no prisma passivo há tantas obrigações quanto devedores, dividindo-se o cumprimento da prestação entre eles. Pressupõe a divisibilidade da prestação. Cada credor não pode exigir mais do que sua parte, cada devedor não está obrigado senão à fração que lhe compete. As obrigações de cada um dos sujeitos de cada pólo são autônomas. Como a solidariedade deve ser expressa, presume-se que obrigações que tenham pluralidade de credores/devedores serão obrigações fracionárias (Art. 257). Exemplo: Três amigos compromente-se, ao adquirir conjuntamente um veículo, a pagar o seu valor, de R$ 30.0000. Não havendo estipulação em contrário, ter-se-á a responsabilização de cada um por R$ 10.000.
v) Obrigações divisíveis e indivisíveis
Conceitos: A divisibilidade/indivisibilidade está relacionada ao objeto da prestação, diferentemente das obrigações solidárias, relacionadas aos sujeitos. Quando há obrigação indivisível? (art. 258) Quando a obrigação tem por objeto coisa ou fato não suscetível de divisão por natureza; motivo de ordem econômica; ou razão determinante do negócio jurídico. E se houver pluralidade subjetiva? Relevância da classificação: como fazer para vários entregarem/receberem uma coisa só, que não pode ser dividida? Principal ponto de confusões entre obrigações indivisíveis e obrigações solidárias. Pluralidade de devedores (art. 259): Havendo dois ou mais devedores, na obrigação indivisível, cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor que pagar a dívida sub-roga-se no direito do credor, em relação aos demais coobrigados (art. 259, parágrafo único). Pluralidade de credores (art. 260): Cada um dos credores pode exigir a dívida inteira, porém, o devedor desonera-se se i)pagar a todos conjuntamente; ou ii) pagar a um, recebendo deste caução de ratificação dos demais credores. O que é essa caução de ratificação? Documento no qual se insere a garantia de aprovação da quitação unilateral por parte dos outros credores (instrumento escrito, datado e assinado pelos demais credores). Se só um dos credores receber a prestação por inteiro, poderão os demais dele exigir em dinheiro a parte que lhes caiba no total. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação NÃO fica extinta em face dos outros credores, que deverão, contudo, descontar a cota do credor remitente quanto ao valor que vierem cobrar do devedor (art. 262). O mesmo se aplica à transação, novação, compensação ou confusão.
Perda do objeto (art. 263): A obrigação indivisível que se resolver em perdas em danos (situação de inadimplemento) perde tal qualidade. Se houver culpa de todos os devedores, responderão todos por igual; no caso de culpa exclusiva de um devedor, exoneram-se os demais quanto à indenização, respondendo, contudo, por suas cotas.
vi) Obrigações Solidárias
Conceitos e características: Solidariedade não se presume, devendo ser expressamente prevista, por lei ou por vontade das partes (art. 265). Quando há solidariedade? Pluralidade subjetiva, unidade objetiva. Quando na mesma obrigação concorre mais de um credor/devedor, cada um com direito/obrigado em relação à totalidade da dívida (art. 264). Pode haver cisão das características dos devedores, podendo ser igualmente coobrigados/cocredores em relação a uma obrigação, mas terem cláusulas distintas a reger sua situação. Como assim? A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos codevedores e para outro ser condicional ou a prazo, ou pagável em lugar diferente (art. 266)
Entendendo alguns aspectos diferenciadores - Solidariedade se manifesta nas relações “externas”, mantendo-se a fracionaridade nas relações “internas”. Como assim? Aqui está a se designar de “externa” a relação entre credor/devedor e “interna” a relação credor/credor ou devedor/devedor. O credor pode cobrar a dívida toda de um dos devedores, esse terá direito de regresso contra os demais devedores dentro da proporcionalidade da cota que couber a cada. O pagamento (integral) realizado por qualquer devedor ou recebido por qualquer credor extingue a obrigação. Diferentemente das obrigações indivisíveis, que devem ser pagas a todos os credores ou, eventualmente, a um dos credores, desde que haja a caução de ratificação dos outros credores.
Solidariedade ativa. Pluralidade de credores. Pontos diferenciadores: a) No caso de conversão da prestação em perdas e danos (inadimplemento), subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade (art. 271); b) Distinção em relação às obrigações indivisíveis, que perdem essa característica no caso de conversão em perdas e danos. Distinção decorrente do foco na dicotomia objeto/sujeitos; c) O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago; d) Distinção em relação às obrigações indivisíveis - Possibilidade de pagamento parcial a um dos credores.
Prevenção Judicial (art. 268): Regra que mitiga a amplitude de desoneração do devedor. Até o momento em que vier a ser demandado judicialmente, poderá pagar para qualquer credor; a partir do momento em que é acionado, só será desonerado com o pagamento àquele que o acionou.
Remissão pelo credor: Possível por qualquer um dos cocredores, devendo, contudo arcar com a parte cabível aos demais cocredores (art. 272). Exemplo: A, B e C são credores de D, em dívida no valor de R$ 120.00. A decide, unilateralmente, remir a dívida de D. A remissão é válida, mas A será responsabilizado pelo pagamento de R$ 40.000 para B e do mesmo valor para C, haja vista a integralidade da remissão.
Oponibilidade de exceções pessoais: Devedor não pode opor as demais cocredores as exceções pessoais oponíveis a um dos credores (art. 273). Exemplo: A não pode anular um débito com o credor B em virtude de coação do cocredor C. 
Julgamento contrário: Julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a não ser que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274). 
Direito sucessório: Direito dos sucessores será proporcional a seu quinhão, salvo no caso de tratar-se de obrigação indivisível (art. 270)
Solidariedade passiva. Presente quando há pluralidade de devedores, cada um deles obrigados ao pagamento da integralidade da dívida. Na solidariedade passiva o credor pode exigir de qualquer dos codevedores o pagamento parcial ou integral da dívida; sendo o pagamento parcial, todos os demais codevedores continuam obrigados solidariamente pelo resto (art. 275). A propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos codevedores não importa em renúncia da solidariedade (art. 275, parágrafo único). O que isso significa? Que não há litisconsórcio necessário no caso de solidariedade passiva, sendo possível, contudo, a utilização do chamamento ao processo.
Pagamento/remissão parcial que favorece um dos devedores não se estende aos demais, devendo, contudo, o montante ser abatido da dívida dos demais (art. 277). Exemplo: A é credor solidário de B, C e D, da quantia de R$ 90.000. Poderia cobrar a integralidade da dívida de qualquer um dos três, mas perdoou a dívida de B, que seria equivalente a R$ 30.000. Logo, poderá cobrar a integralidade de C ou D, observando-se o limite de R$ 60.000, haja vista o abatimento da cota perdoada de B.
Renúncia à solidariedade (art. 282) x Remissão da dívida: Solidariedade é garantia do devedor; renunciar à solidariedade em face de um ou de todos os devedores significa apenas retirá-lo da obrigação de pagamento da integralidade da dívida, permanecendo responsável pelo pagamento da parcela a ele correspondente
Efeitos da insolvência: Insolvência ≠ Inadimplemento. Responsabilização do exonerado. Aquele que foi exonerado da solidariedadecontinuará vinculado a obrigação no caso de insolvência de algum dos coobrigados, devendo contribuir com os demais coobrigados em relação à cota do aludido insolvente (Art. 284). Cota do insolvente divide-se por todos os demais coobrigados, no caso de pagamento integral da dívida por um dos codevedores (Art. 283)
Sucessão, herdeiros e solidariedade passiva (art. 276) - Cada herdeiro responderá apenas pela proporcionalidade do seu quinhão (saldo no caso de obrigação indivisível), sendo considerados, em conjunto, como um só devedor em relação aos demais devedores solidários
Vedação à onerosidade não consentida (art. 278) - Qualquer cláusula onerosa entre credor e um dos codevedores não pode agravar a posição dos demais sem seu consentimento
Impossibilidade da prestação (art. 279) - Impossibilitada por culpa de um dos devedores, a todos incumbe o equivalente, mas só ao culpado cabem as perdas e danos.
Juros de mora (art. 280) - Todos os codevedores respondem pelos juros de mora, mas só o culpado responderá por eventual obrigação acrescida.
Oposição de exceções pessoais (art. 281) - As exceções pessoais de um codevedor não se estendem a outro.
ITEM 1.C: Da inseminação artificial. Da alteração de sexo. Da pesquisa científica em seres humanos.
Obras consultadas: FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Vol. 6. 4. Ed. Rev. Ampl. Salvador: Juspodivm. 2012; LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil. Vol. 6. Direito de Família. 2. Ed. Sâo Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica.
Arts. 11-21 / 1597 CC / art. 199, §4º, CRFB
Da inseminação artificial
Pode-se falar em sua divisão entre inseminação artificial com concepção in vivo, feita no próprio corpo da mulher, ou em proveta, realizada fora do corpo, ocorrendo posteriormente sua implantação no útero.
O embrião fecundado fora do corpo humano e não implantando possui o status de coisa, de objeto, não podendo se falar de existência de sujeito de direito, nem mesmo como nascituro (esse só passaria a existir a partir da implantação em ambiente uterino), muito menos como portador de personalidade jurídica, conforme decidido pelo STF na ADI 3510, com especial ênfase no voto da Min. Ellen Gracie.
A inseminação artificial se insere nas hipóteses de presunção de paternidade (presume-se como pai o marido da mãe) previstas no art. 1597, tratando-se, segundo Paulo Lobo, nos casos específicos da fecundação artificial, de presunção jure et de jure.
Fecundação artificial homóloga é aquela em que há a utilização de gametas do próprio casal que pretende ter o filho. Havendo a utilização desse material, com a anuência do casal, presume-se a paternidade, mesmo que falecido o marido.
Embriões excedentes – O processo de fertilização em proveta acarreta a produção de óvulos fecundados, mas não utilizados no procedimento de inseminação artificial, que restam congelados. Sendo tal óvulo implantado no útero materno e vindo a nascer, será considerado para todos os efeitos filho do marido, mesmo que esse implante se dê posteriormente ao óbito do doador.
Inseminação artificial heteróloga – Cônjuges utilizam gametas de um terceiro (doador), que apesar de possuir vínculo genético com o nascituro, não será considerado juridicamente pai do nascituro (distinção genitor x pai), presumindo-se o marido como pai, desde que tenha concordado expressamente com o procedimento.
Barriga de aluguel – Impropriedade terminológica, na medida em que é vedada comercialização do corpo humano. Permite-se, contudo, a cessão do útero, nos limites da Resolução n. 1.957, de 15 de dezembro de 2010. Em seu artigo VII, e alíneas, assim dispõe: VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA DO ÚTERO) As clínicas, centros ou serviços de reprodução humana podem usar técnicas de RA para criarem a situação identificada como gestação de substituição, desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética. 1 - As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família da doadora genética, num parentesco até o segundo grau, sendo os demais casos sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina. 2 - A doação temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
Da alteração de sexo
O conhecimento médico identifica o transexualismo como desvio psicológico. A classificação internacional de doenças e doenças mentais (CID 10 e DSM IV) entende que o transexual é aquele que possui vontade de viver e ser aceito como membro do sexo oposto, acompanhado, usualmente, da vontade de transformar seu corpo. Em âmbito nacional a Resolução nº 1.652/2002 do Conselho Federal de Medicina detalha essa visão e entende o transexual como portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à automutilação e ou auto-extermínio devendo observar os seguintes critérios para sua caracterização: (i) desconforto com o sexo anatômico natural; (ii) desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; (iii) permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; (iv) ausência de outros transtornos mentais.
Essa concepção é a que norteia a jurisprudência consolidada, no sentido de condicionar a alteração do registro de nascimento na hipótese de realização da cirurgia de transgenitalização, conforme exposto no REsp 737.993 : A questão posta no REsp cinge-se à discussão sobre a possibilidade de retificar registro civil no que concerne a prenome e a sexo, tendo em vista a realização de cirurgia de transgenitalização. A Turma entendeu que, no caso, o transexual operado, conforme laudo médico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo feminino, portando-se e vestindo-se como tal, fica exposto a situações vexatórias ao ser chamado em público pelo nome masculino, visto que a intervenção cirúrgica, por si só, não é capaz de evitar constrangimentos. Assim, acentuou que a interpretação conjugada dos arts. 55 e 58 da Lei de Registros Públicos confere amparo legal para que o recorrente obtenha autorização judicial a fim de alterar seu prenome, substituindo-o pelo apelido público e notório pelo qual é conhecido no meio em que vive, ou seja, o pretendido nome feminino. Ressaltou-se que não entender juridicamente possível o pedido formulado na exordial, como fez o Tribunal a quo, significa postergar o exercício do direito à identidade pessoal e subtrair do indivíduo a prerrogativa de adequar o registro do sexo à sua nova condição física, impedindo, assim, a sua integração na sociedade. Afirmou-se que se deter o julgador a uma codificação generalista, padronizada, implica retirar-lhe a possibilidade de dirimir a controvérsia de forma satisfatória e justa, condicionando-a a uma atuação judicante que não se apresenta como correta para promover a solução do caso concreto, quando indubitável que, mesmo inexistente um expresso preceito legal sobre ele, há que suprir as lacunas por meio dos processos deintegração normativa, pois, atuando o juiz supplendi causa, deve adotar a decisão que melhor se coadune com valores maiores do ordenamento jurídico, tais como a dignidade das pessoas. Nesse contexto, tendo em vista os direitos e garantias fundamentais expressos da Constituição de1988, especialmente os princípios da personalidade e da dignidade da pessoa humana, e levando-se em consideração o disposto nos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, decidiu-se autorizar a mudança de sexo de masculino para feminino, que consta do registro de nascimento, adequando-se documentos, logo facilitando a inserção social e profissional. Destacou-se que os documentos públicos devem ser fiéis aos fatos da vida, além do que deve haver segurança nos registros públicos. Dessa forma, no livro cartorário, à margem do registro das retificações deprenome e de sexo do requerente, deve ficar averbado que as modificações feitasdecorreram desentença judicial em ação de retificação de registro civil. Todavia, tal averbação deve constar apenas do livro de registros, não devendo constar, nas certidões do registro público competente, nenhuma referência de que a aludida alteração é oriunda de decisão judicial, tampouco de que ocorreu por motivo de cirurgia de mudança de sexo, evitando, assim, a exposição do recorrente a situações constrangedoras e discriminatórias.
Esse entendimento, contudo, vem sendo questionado, a fim de permitir a ampliação das hipóteses de retificação do registro, a partir da idéia de nome social, que consiste na alteração do registro independentemente da realização de cirurgia de transgenitalização.
Conforme informado no sítio do MPF (http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_constitucional/pgr-propoe-adi-para-que-transexuais-tenham-direito-a-mudar-nome-e-sexo-no-registro-civil), Deborah Duprat propôs ao Supremo Tribunal Federal ação direta de inconstitucionalidade (ADI 4275) para que seja dada interpretação conforme a Constituição ao art. 58 da Lei 6.015/73, na redação dada pela Lei 9.708/98, e se reconheça o direito dos transexuais a substituírem o prenome e sexo no registro civil, independentemente da realização de cirurgia de transgenitalização. Ela diz que “impor a uma pessoa a manutenção de um nome em descompasso com a sua identidade é, a um só tempo, atentatório à sua dignidade e comprometedor de sua interlocução com terceiros, nos espaços públicos e privados”. Segundo Deborah Duprat o não reconhecimento do direito dos transexuais à troca de prenome e sexo correspondente à sua identidade de gênero viola preceitos fundamentais da Constituição como os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), da vedação à discriminação odiosa (art. 3º, inciso IV), da igualdade (art. 5º, caput), da liberdade e da privacidade (art. 5º, caput, e inciso X).
Da pesquisa científica em seres humanos
A temática de pesquisa científica em seres humanas perpassa o ramo do biodireito, sendo vedada a comercialização que envolva transplantes, conforme disposto pelo art. 199, § 4º, da CRFB. É possível, como direito da personalidade, dispor sobre o próprio corpo para fins de pesquisa após a morte (art. 13 do Código Civil). A lei de biossegurança (Lei n. 11.105/2005) regulamentou aspectos pertinentes a pesquisas com células tronco embrionárias, vedando expressamente em seu artigo 6º, dentre outras: a clonagem humana e técnicas de engenharia genética em zigotos e embriões. 
A utilização de células tronco embrionárias de embriões excedentes em pesquisas e estudos científicos é permitido pelo artigo 5º da aludida lei, desde que i) sejam embriões inviáveis; ou ii) – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.
Tal previsão legal foi objeto da ADI nº 3510 (Rel. Min. Ayres Britto), na qual o STF entendeu pela improcedência da alegação de inconstitucionalidade. Os votos do Ministro Relator e da Ministra Ellen Gracie ressaltaram o fato de que o embrião não implantado em útero não teria status de pessoa, afastando, de certa forma, a teoria concepcionista acerca da personalidade jurídica.
ITEM 2.A: Hermenêutica jurídica.
Obras consultadas: A. Castanheira Neves. Digesta. Vol. 2. Coimbra 1995; Norberto Bobbio. Teoria do Ordenamento Jurídico. 7 ed. Brasília. UNB; José de Oliveira Ascensão. Introdução à ciência do Direito. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar; Rubens Limongi França. Instituições de direito civil, 4 ed. São Paulo: Saraiva, 1996; Maria Helena Diniz. As lacunas no direito. 7 ed. Saraiva, 2002; Miguel Reale. Lições preliminares do Direito. 21 ed. São Paulo: Saraiva. 1994; Flávio Tartuce. Manual de Direito Civil. Saraiva: Método. 2011; Friedrich Savigny. Metodologia Jurídica. Edicamp. 2004; Carlos Maximiliano. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1994. Aproveitados os trabalhos dos candidatos aos 24º e 25º concursos do MPF.
1. Noções Gerais.
A hermenêutica jurídica está relacionada à aplicação do direito, aos processos de interpretação, às técnicas a serem aplicadas. Para se aplicar o direito a um caso concreto faz-se necessário interpretá-lo.
O nomen hermenêutica remonta a Hermes, deus grego correspondente a mercúrio entre os romanos. Era Hermes reputado o encarregado de fazer o intercâmbio das mensagens entre Zeus e os homens. Para as enviar, devia primeiramente as interpretar, donde o uso do termo hermenêutica para designar a teoria da interpretação.
Observação importante: Hermenêutica não é sinônimo de interpretação. A hermenêutica pode ser considerada a arte ou ciência responsável pela elaboração da metodologia de interpretação de lei, estabelecendo metodologia, princípios e conceitos para o ato de interpretar. A interpretação é objeto desta ciência e se destina ao âmbito prática de aplicação da norma jurídica ao caso concreto. Ou seja, a interpretação é o próprio objeto da ciência da hermenêutica, enquanto os fatos e as normas, para Kelsen (e valores, inclusive, para Reale) serão objetos da interpretação. Hermenêutica => Interpretação => Aplicação do Direito ao fato.
Basicamente, hermenêutica possui as seguintes tarefas:
a)	INTERPRETAR AS NORMAS
b)	VERIFICAR A EXISTÊNCIA DE LACUNAS JURÍDICAS, E INDICAR OS INSTRUMENTOS INTEGRADORES
c)	AFASTAR CONTRADIÇÕES OU ANTINOMINAS JURÍDICAS, INDICANDO OS CRITÉRIOS IDÔNEOS PARA SOLUCIONÁ-LA
2. Interpretação das normas
Interpretar é descobrir o sentido da norma, determinar o seu conteúdo e delimitar o seu exato alcance. 
A acepção mais correta para interpretação é a da CONSTRUCTION, usada pelos ingleses e norte-americanos. Pela construction se busca a solução associando o direito e o caso, examinados em conjunto, buscando a solução justa.
No início do século XIX, com o racionalismo jurídico, acreditava-se que a interpretação não seria necessária porque os Códigos previam todos os conflitos. (Sistema Fechado)
O Código da Baviera, na esteira do Código francês, estabelecia que o juiz não podia interpretar. Era a consagração do preceito in claris cessat interpretatio.
Hoje, entende-se que toda norma deve ser interpretada. Há a necessidade de estabelecer o significado e o alcance da lei, seja ela clara ou obscura. O que varia é a dificuldade da interpretação.
O novo Código Civil estabelece um sistema aberto, nos termos preconizado por Canaris, em que não se tem pretensão de completude e total harmonia, mas métodos de superação de lacunas, quebras, etc. Nesse sistema, se faz presente diversos conceitos vagos (conceitos jurídico indeterminados e cláusulas gerais), tal como se percebe do CC/02. 1
NO QUE PERTINE ÀS FONTES, A INTERPRETAÇÃO PODERÁ SER: 
a) jurisprudencial ou judicial, é aquela fixada pelos tribunais; 
b) doutrinária ou doutrinal, realizada pelos cientistas do Direito, pelos estudiosos; 
c) autêntica (autus, própria) ou literal, realizada pelo próprio legislador, através de outro ato normativo, como no ex. da edição de uma lei interpretando outra norma já editada;
d) administrativa  quando realizada pela administração pública no exercício de seu mister de concretizar no mundo as disposições abstratas da lei. 
e) leiga, realizada por qualquer pessoa do povo.
QUANTO AOS MEIOS, A INTERPRETAÇÃO PODERÁ SER: 
a) gramatical ou literal, realizada através das regras de lingüística, analisando o texto normativo pelas regras gramaticais, buscando o seu sentido filológico (é o mais pobre dos métodos interpretativos, sendo, não raro, repelido até mesmo pela lei); 
b) lógica, utiliza-se a boa lógica, assim a apofântica como a material e a lógica do razoável, para melhor adequar a norma ao caso concreto.
c) histórica, com a averiguação da origem do texto a ser interpretado, desde os projetos de lei e votações; 
d) sociológica, também dita teleológica, quando se procura adaptar a lei às exigências atuais e concretas da sociedade; 
e) sistemática, queé a interpretação partindo da ideia de que a lei não existe isoladamente, devendo ser alcançado o seu sentido em consonância com as demais normas que inspiram aquele ramo do direito.
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei 4657/52, art. 5º) determina que em toda atividade interpretativa sejam considerados os fins sociais visados pela lei, optando nitidamente pela afirmação de uma finalidade social do direito, revelando que o legislador considera primordial valores sociais sobre os individuais.
QUANTO AO RESULTADO DA ATIVIDADE INTERPRETATIVA PODERÁ SER: 
1) Interpretação declarativa ou estrita – é aquela que conclui que a fórmula verbal da norma coincide com a mens legis. 
 2) Interpretação ab-rogante – é a interpretação que leva à conclusão de que a norma foi revogada. Não é o intérprete que a revoga, ele apenas reconhece a revogação.
 3) Interpretação retificadora (corretiva) – ocorre ante a existência de erro material. Tem-se que adaptar a norma para que a interpretação não leve a um absurdo.
 4) Interpretação restritiva – nela, constata-se que o legislador se utilizou de uma fórmula ampla em demasia para traduzir a mens legis. Então, o intérprete restringe o significado dos termos usados e chega à conclusão que a lei disse mais do que queria (plus dixit quam voluit).
 5) Interpretação extensiva – ao contrário do que se passa na interpretação restritiva, entende-se que o sentido da lei foi insuficientemente traduzido pelo envoltório verbal. A lei minus dixit quam voluit.
METODOLOGIAS (ESCOLAS) INTERPRETATIVAS 
Também aqui diverge a doutrina quanto a quais e quantas são. Existem basicamente duas gamas de metodologias, as correspondentes às escolas tradicionais e as chamadas modernas escolas de interpretação.
1) Escolas tradicionais – as escolas tradicionais se valiam preponderantemente ou exclusivamente de um dos processos interpretativos já analisados.
 2) Escolas modernas:
 Escola da evolução histórica – tem em Raymond Saleilles seu principal teórico. Apregoa que a interpretação deve ser evolutiva, variando no tempo e no espaço. A norma jurídica estaria sempre evoluindo, adaptando-se à sociedade, à ética e a seus valores. Em suma, a lei deve se adaptar ao momento histórico.
 Escola da livre investigação – seu mais conhecido defensor foi François Gény. Deve-se aplicar a lei no exato sentido que lhe deu o legislador. Predica-se a busca da mens legislatoris. A denominação da escola não é boa, pois dá a entender que defendia exatamente o contrário do que pensavam seus criadores.
 Escola do direito livre – criada por Von Kirchmann, mas aperfeiçoada por Kantorowicz. Por ela, o juiz poderia até julgar contra a lei. Existiria liberdade para se julgar conforme suas próprias convicções de justiça. Ainda tem sua função por conta do ressurgimento do direito alternativo.
 Escola da teoria pura do direito – criada por Hans Kelsen. Basicamente, consiste em vislumbrar a lei como um marco de possibilidades, uma moldura, na qual cabem sempre ao menos duas soluções interpretativas. A escolha por uma das opções seria preocupação da política jurídica, não da ciência do direito. Assim, a relação entre justiça e ciência do direito terminaria por ser meramente acidental, não essencial.
Escola da teoria egológica do direito – partindo de filosofias existencialistas, o jurista argentino Carlos Cossio desenvolveu a chamada teoria egológica do direito. No que toca à interpretação, defendia que se interpretam não as leis, mas os fatos através de conceitos, que são as normas. Seria impossível interpretar as normas sem os fatos.
 
3. Integração das normas
Tem guarida entre nós a vedação ao non liquet (127 CPC, 7º CDC, 8º CLT, 107 CTN); ou seja, provocado o Estado-juiz (através do exercício do d. de ação), não poderá o magistrado eximir-se de proferir decisão, alegando ausência de norma jurídica. A própria lei (LINDB 4º), partindo da real possibilidade de omissão normativa, indica os meios pelos quais serão supridas as lacunas.
DINIZ (2002, p. 95) traz a seguinte classificação de lacunas: 1) lacuna normativa: não absolutamente qualquer norma para o caso; 2) lacuna ontológica: presença de normas, sem eficácia social; 3) lacuna axiológica: presença de norma para o caso, mas insatisfatória; 4) lacuna de conflito ou antinomia: conflito entre duas normas.
Os métodos de integração estão contemplados na LINDB art. 4º, q estabelece uma ordem preferencial e taxativa. Assim, são mecanismos de integração: a) a analogia; b) os costumes; c) os princípios gerais do direito.
A analogia é o procedimento lógico de constatação, por comparação, das semelhanças entre diferentes casos concretos, chegando a juízo de valor. É o processo de aplicação a uma hipótese não prevista em lei de disposição concernente a um caso semelhante.
Analogia legis (se utiliza de uma regra específica); analogia juris (se utiliza de todo o sistema jurídico).
Não há de se confundir a analogia com a interpretação extensiva, uma vez que nesta se aplica a norma a situações compreendidas implicitamente em seu conteúdo, o que não ocorre na analogia.
 De acordo com ASCENSÃO (2005, p. 432), “as normas de exceção ou normas excepcionais não admitem analogia ou interpretação”. Normalmente, serão normas de exceção aquelas que representam restrição da autonomia privada (ex: o art. 496 exige autorização de venda entre mais e filhos. Essa norma não pode receber interpretação extensiva para aplicar à hipoteca.)
Costume, por sua vez, é a conduta reiterada a partir da falsa impressão de existir norma jurídica a respeito da matéria. Os dois elementos caracterizadores do costume são o objetivo (prática reiterada) e o subjetivo ou psicológico (a convicção de estar seguindo uma norma jurídica).
O sistema jurídico reconhece o costume secundum legem (há referência ao costume da própria norma (art. 13 e 187 do CC/02), assim, a própria norma jurídica é que é aplica) e o costume praeter legem (o costume aqui é norma de correção do sistema, pois a lei é omissa. ex: cheque pós-datado), inadmitindo o costume contra legem (o costume é contrário ao direito).
FRANÇA (1996, p. 18) apresenta 5 requisitos para que o costume possa ser considerado fonte: 1) continuidade; 2) uniformidade; 3) diuturnidade; 4) moralidade; 5) obrigatoriedade.
Além dos métodos de integração previstos na LINDB, o CPC 127 resolveu contemplar hipótese de integração, somente aplicável em seu âmbito de incidência, que é a equidade, que só poderá ser utilizada se e quando a lei permitir. A equidade é a aplicação do direito como justo, benévolo, a partir do sentimento de justiça. Pretende-se que na aplicação da lei o juiz a aplique da maneira que mais se ajuste ao sentimento de justiça do caso sob exame.
Também o CDC autoriza o uso da equidade (7º e 51 IV), e a CLT em sede trabalhista (8º).
 EQUIDADE - somente pode ser usa SE e QUANDO A LEI PERMITIR expressamente 
A equidade pode ser legal (a aplicação está no próprio texto legal. Ex: art. 1583, § 2º, do CC/02) e judicial (presente quando a lei determina que o magistrado deve decidir por equidade no caso).
Por fim, em relação aos princípios gerais do direito, REALE (1994, p. 299) afirma que são “verdades fundantes de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis”. São exemplos: o naeminem laedere, vedação de enriquecimento sem causa, boa fé, etc.
4. Antinomias
Conforme TARTUCE (2011, p. 36), “a antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão).”
Em caso de antinomias, Bobbio ensina que há basicamente 3 critérios de solução: 1) cronológico (prevalecendo norma posterior); 2) especialidade (prevalecendo a normas mais específica para o caso); 3) hierárquico (norma superior prevalece).
TARTUCE (2011, p. 37) traz as seguintesclassificações de antinomias: 1) de 1 grau (envolve apenas um dos critérios supra mencionados) e 2 grau (mais de dois critérios são envolvidos); 2) aparente (pode ser resolvida de acordo com os critérios) e real (não pode ser resolvida com tais critérios).
Bobbio defende que deve prevalecer o critério hierárquico, enquanto Maria Helena Diniz afirma que não há prevalência em abstrato de qualquer deles, de forma que o caso específico sob análise deve direcionar (Tartuce, p. 38).
ITEM: 2.b. Dos contratos em geral. Função Social e função econômica. Novos princípios do direito dos contratos
Obras consultadas: TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2011. Anotações Aulas (diversos).
2.b. Dos contratos em geral. Função social e função econômica. Novos princípios do direito dos contratos.
Conceito clássico: Contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial. Elementos: 1) Alteridade[footnoteRef:1]: ao menos duas pessoas; 2) Composição de interesses contrapostos: distinguir do Convênio; 3) Patrimonialidade[footnoteRef:2]. [1: 	 Autocontrato: O art. 117 do CC prevê a possibilidade de o mandatário, desde que autorizado para tanto, celebrar contrato consigo mesmo. Entretanto, a alteridade remanesce, eis que continua sendo necessária a presença de, no mínimo, duas pessoas para seu aperfeiçoamento (ex. mandatário vende bem do mandante para si mesmo).] [2: 	 Parte da doutrina afasta esse elemento fundada num conceito pós-moderno de contrato (despatrimonialização do Direito Civil).] 
Classificação: 1º) a) Unilateral (apenas uma das partes assume deveres perante a outra); b) Bilateral (direitos e deveres recíprocos); c) Plurilateral. 2º) a) Oneroso (mútua vantagem); b) Gratuito. 3º) a) Consensual (aperfeiçoa-se com simples manifestação de vontade); b) Real (depende da tradição). 4º) a) Comutativo (prestações conhecidas ou estimadas); b) Aleatório (sorte ou álea). 5º) a) Típico[footnoteRef:3] (tratamento legal mínimo); b) Atípico. 6º) a) Adesão[footnoteRef:4] (estipulante determina o conteúdo negocial, cabendo à outra parte aceitá-lo ou não); b) Paritário (conteúdo discutido por ambas as partes). 7º) a) Formal / informal: Exigência, ou não, de forma legal; b) Solene / não solene: Exigência ou não de solenidade pública (ex.: escritura pública nos contratos de compra e venda de imóveis de valor superior a 30 S.M.). [3: 	 Conceitos de contrato típico/atípico não se confundem com os de nominado/inominado. ] [4: 	 Não confundir com contrato-tipo ou formulário, que é apenas um modelo de contrato a ser preenchido.] 
Princípios: 1) Autonomia privada: Permite ao indivíduo a autorregulamentação de seus interesses. A liberdade de contratar, em regra, é ilimitada, salvo exceções (ex. art. 497 do CC). A liberdade contratual (conteúdo), no entanto, é limitada pela função social e pela ordem pública. 2) Função econômica: A função mais destacada dos contratos é a econômica: circulação de riqueza (e do patrimônio). 3) Função social: Preceito de ordem pública, fundada na solidariedade, que permite a relativização da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servada), pelo juiz (atividade integrativa). Dupla eficácia: 3.1 Eficácia interna: a) Proteção dos vulneráveis; b) Vedação à onerosidade excessiva; c) Proteção à dignidade humana; c) Nulidade das cláusulas abusivas; d) Tendência à conservação contratual. 3.2 Eficácia externa: a) Proteção dos direitos difusos e coletivos (ex. função socioambiental); b) Eficácia do contrato perante terceiros. Doutrina do terceiro cúmplice (STJ 2aT. INFO 376) (interferência ilícita do terceiro em negócios jurídicos alheios), a proteção do terceiro diante dos contratos que lhe são prejudiciais e a tutela externa do crédito (apesar do direito de crédito se referir, em regra, apenas aos contratantes, haverá, em relação ao restante da sociedade, um dever de abstenção de modo a não obstaulizar o cumprimento da obrigação) perfazem mitigações ao Princípio da Relatividade dos Contratos (em todos os casos, sobressaem a boa fé objetiva e a função social dos contratos) 4) Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (res inter alios): Em regra, os atos dos contratantes não aproveitam nem prejudicam a terceiros (comporta exceções).
Boa-fé subjetiva: Concepção psicológica da boa-fé. É fonte de interpretação de atos e negócios jurídicos (arts. 112 e 113 do CC).
Boa-fé objetiva (comportamento ético): é cláusula geral, que está relacionada aos chamados deveres anexos ou laterais, quais sejam: a) dever de cuidado em relação à outra parte; b) dever de respeito; c) dever de informação; d) proteção da confiança; e) lealdade e probidade; f) dever de colaboração; g) razoabilidade. Funções da boa-fé: a) Interpretativa; b) Controle: a violação da boa-fé objetiva constitui abuso de direito; c) Integração: a boa-fé deve ser observada até na fase pré-contratual[footnoteRef:5]. Corolários: 1) Supressio (Verwirkung): Renúncia tácita de direito ou posição jurídica, pelo seu não exercício com o tempo (ex. local do pagamento – art. 330 do CC). 2) Surrectio (Erwirkung): É a correlativa aquisição de direito ou posição jurídica, em razão da supressio da contraparte. 3) Tu quoque: Um contratante se vale de um ato lícito em face da contraparte, após a prática de um ato ilícito (ex. o contratante alega exceptio non adimpleti contractus[footnoteRef:6] tendo dado causa ao inadimplemento da outra parte). 4) Venire contra factum proprium: Pressupõe dois comportamentos isoladamente lícitos; a ilicitude do segundo somente existe por ser contraditório em relação ao primeiro comportamento, em prejuízo da confiança e lealdade. 5) Duty to mitigate the loss: O credor deve evitar o agravamento do próprio prejuízo[footnoteRef:7]. 6) Adimplemento substancial (substantial performance): Se o contrato foi substancialmente cumprido ou se o inadimplemento foi mínimo, mostra-se abusivo o requerimento de rescisão contratual. [5: 	 Lembre-se do “caso dos tomates”: agricultores X CICA (cf. google).] [6: 	 A cláusula solve et repete consiste na renúncia à exceção de contrato não cumprido.] [7: 	 Ex. clássico: credor de astreintes não as executa visando obter maiores ganhos (enriquecimento ilícito). Juiz pode reduzi-las (STJ, AgRg no Ag. 1.075.142/RJ). ] 
ITEM 2.C: Da posse e da propriedade. Aquisição, efeitos, perda e limitações constitucionais.
Obras consultadas: Carlos Roberto Gonçalves. Direito civil brasileiro. Volume 5. 6ª Ed., 2011, Editora Saraiva; Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil. Volume 5. 6ª Ed., 2006, Editora Atlas; Flávio Tartuce. Manual de direito civil. Volume único. 1ª edição, 2011, Editora Método; Elpídio Donizetti. Um consolo para o abandonado: usucapião do lar desfeito. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 3029, 17 out. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/20227>. Acesso em: 31 maio 2012.
Legislação consultada: Constituição Federal: artigos 5º, 170, 183; Código Civil: artigos 1.196 a 1.276; Código de Processo Civil: 924..
POSSE: é um estado de fato protegido legalmente. Sem embargo dos diferentes entendimentos, em todas as escolas está sempre em foco a ideia de uma situação de fato, em que uma pessoa, independentemente de ser ou de não ser proprietária, exerce sobre uma coisa poderes ostensivos, conservando-a e defendendo-a. É assim que procede o dono em relação ao que é seu; é assim que faz o que tem apenas a fruição juridicamente cedida por outrem (locatário, comodatário, usufrutuário). Em toda posse há, pois, uma coisa e uma vontade, traduzindo a relação de fruição.
A posse é a relação pessoa-coisa fundada na vontade do possuidor; enquanto a propriedade liga a pessoa à coisa através da vontade objetiva da lei; posse é o poder de fato sobre a coisa; enquanto a propriedade é o poder de direito.
Quando deriva da propriedade, ou seja, com fundamento no direito real de domínio, temos o chamado direito à posse, que é o do portador de título devidamente transcrito(registrado), ou titular de outros direitos reais. Quando o direito é fundado no título de domínio que também gera a posse, chama-se jus possidendi.
Por outro lado, quando deriva a posse de forma autônoma, isolada, independente da existência de um título, o direito gerado é chamado de jus possessionis, sendo o direito fundado no fato da posse, que é protegido contra terceiros ou do próprio proprietário. 
Natureza jurídica: Uns afirmam tratar-se de direito real, fundamentando-se na teoria de Ihering (adotada, com mitigações, pelo CC, art. 1.196), para quem apenas o corpus (detenção física), compreendido como conduta de dono, é elemento da posse. O animus (a intenção de ser dono) está integrado no conceito de corpus. 
Outros, de direito pessoal, assentando-se na teoria subjetiva de Savigny, a qual exige, além do corpus, o animus. Para Savigny, a posse é o poder de dispor fisicamente da coisa, com o ânimo de considerá-la sua e defendê-la contra a intervenção de outrem.
Em que pese nosso sistema normativo ter seguido a teoria objetiva, em várias oportunidades adotou a teoria subjetiva ou a teoria de Savigny, como, por exemplo, o usucapião que exige o animus dominis de proprietário para pleiteá-lo.
Há, ainda, os que entendem ser um mero estado de fato; ou, de que se trata de uma posição de direito; não uma categoria, apenas uma posição. Clóvis Bevilacqua afirmara tratar-se de um direito especial “sui generis”. Não é um direito, dizia ele, negando o caráter de direito. Mas, por merecer tutela jurídica, pode ser visto como um direito especial, concluía.
Sílvio de Salvo Venosa afirma que embora a doutrina tradicional enuncie ser a posse relação de fato entre a pessoa e a coisa, o mais acertado é afirmar que se trata de um estado de aparência juridicamente relevante, ou seja, um estado de fato protegido pelo direito. Se o direito protege a posse como tal, conclui, desaparece a razão prática que tanto incomoda os doutrinadores em qualificar a posse como simples fato ou como direito.
Posse e detenção: coube ao legislador dizer em que casos o exercício de fato sobre uma coisa configura-se ou não detenção. Se não disser, será posse. A posse gera efeitos jurídicos; a detenção, não. O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem, como por exemplo, os caseiros que apenas zelam pela propriedade em nome do dono (fâmulos da posse). Também não se pode falar em posse de bens públicos. Se há tolerância do Poder Público, o uso do bem não passa de mera detenção consentida.
Atos de mera permissão ou tolerância: Não configura posse legítima, mas sim precária. 
Carlos Roberto Gonçalves aduz que nem todo estado de fato, relativamente à coisa ou à sua utilização, é juridicamente posse. Às vezes é. Outras, não passam de mera detenção, que muito se assemelha à posse, mas que dela difere tanto na essência como nos efeitos.
	
Composse: Em regra, a posse é exclusiva de uma pessoa. Duas ou mais não podem possuir simultaneamente e por inteiro a mesma coisa. Contudo, há mitigações que excepcionam a regra. A lei admite essa simultaneidade quando a coisa possuída por mais de uma pessoa está, ainda, indivisa. Neste caso, ocorrendo o estado de comunhão, faz-se surgir a figura da composse.
Tem-se a composse quando dois ou mais possuidores exercerem posse sobre coisa indivisa. Possuem-na em comum por ser indivisa ou quando estão no gozo do mesmo direito, como, por exemplo, com os co-herdeiros antes da partilha.
Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédios que se fizerem necessários, tal como acontece no condomínio (CC, art. 1.314). 
Não se deve confundir composse com concorrência ou sobreposição de posses. Na composse, há vários possuidores exercendo o poder de fato, concomitantemente, sobre o mesmo bem. Na concorrência de posses, com o desdobramento destas em direta e indireta, dá-se o fenômeno da existência de posses de natureza diversa sobre a mesma coisa, tendo cada possuidor o exercício limitado ao âmbito específico da sua.
Também não se pode confundir acessio possessionis com sucessão de posse. “Acessio possessionis” é a soma de posses anteriores para, por exemplo, configurar o lapso temporal para a usucapião. Sucessão possessória é a transmissão de posse que era do falecido para os seus sucessores.
	
Objeto da posse: Pela sistemática legal existe a posse de coisas, em que o possuidor atua como se proprietário fosse, a posse de direito reais limitados quando exteriorizáveis, em que o possuidor exerce atos que exteriorizam um direito real limitado e, também, a posse de direitos obrigacionais que implicam o exercício de poderes sobre uma coisa. Do exposto, temos que não há, portanto, posse de direitos pessoais, eis que toda a posse é de coisas (Gonçalves).
Reconhece-se a posse do locatário, comodatário, depositário e outros, não em virtude do direito obrigacional, mas com fundamento nos atos que os respectivos titulares praticam sobre a coisa. Eles têm uma posse de coisa e não de direitos. A sua posse é oriunda de um fato material e não de um contrato. 
Não podem ser objeto de posse os bens não passíveis de apropriação. Em princípio, a posse somente é possível nos casos em que possa existir propriedade, compreendendo, repita-se, em primeira análise, os bens materiais (propriedade e seus desmembramentos).
	
Imutabilidade do caráter da posse: a imutabilidade do caráter da posse, somente prevalecerá até prova em contrário. Uma posse, considerada como injusta, somente tornar-se-á justa, depois de provar este estado. Enquanto não houver prova em contrário que justifique a mudança primitiva do caráter da posse, a originária perdurará. A regra do artigo 1.203 do CC parece colidir com a do artigo 1.208 do mesmo diploma. No entanto, é aparente, pois o art. 1.203 traz presunção “juris tantum”, no sentido de que a posse guarda o caráter de sua aquisição. Assim, se a aquisição foi violenta, clandestina ou precária, essa característica se prende à posse e a acompanha nas mãos dos sucessores do adquirente. Todavia, se o adquirente a título violento ou clandestino, provar que a violência ou a clandestinidade cessaram há mais de ano e dia, sua situação de possuidor é reconhecida e só será vencido no juízo petitório. Se, entretanto, o vício que macula a posse for o da precariedade, o mesmo se apegará à posse, enquanto ela durar, perseguindo-a perpetuamente. O artigo 1.207 deve ser visto em consonância com o artigo 1.203 do mesmo diploma civil. O sucessor a título universal, não pode alterar a natureza de sua posse. Se o autor da herança transmite ao herdeiro posse injusta, esta continuará necessariamente o vício. O sucessor singular tem a prerrogativa de escolher unir sua posse à do antecessor ou não. Esse aspecto ganha importância no usucapião. Se o sucessor recebe posse injusta, ser-lhe-á conveniente iniciar e defender a existência de novo período possessório para livrar-se da mácula da posse anterior.
Posse direta e indireta: Como a posse pressupõe a existência de poder fático, e não necessariamente o seu exercício, que é uma forma de exteriorização deste poder, classifica-se em dois grupos: posse absoluta (própria) e posse relativa (imprópria). As duas espécies estão combinadas com o tipo de manifestação de poder, ou seja, mediata (indireta) e imediata (direta). Isso significa classificar quanto ao tipo de graduação de poder, que poderá ser absoluta (direta) ou relativa (indireta). 
Posse indireta é aquela em que seu titular, ou seja, o proprietário está no seu exercício mediato, porque o exercício imediato, direto, foi transferido a outro, denominado possuidor direto. 
Na posse direta ou imediata o possuidor tem a detenção objetiva da coisa (contato direto), o que difere da mediata, indireta ou permanente (resultante de obrigação ou direito), que somente a possui subjetivamente. Uma não anula a outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são jurídicas, não autônomas. Ambos (possuidor direto e indireto) podem invocar a proteção possessória

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