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resumo de penal - parte geral

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Direito Penal I
Te�ia do Crime
Raquel Santana Santos Vargas Duplat
Bacharelanda em Direito pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb)
Disposição do Conteúdo
1. SISTEMA PRINCIPIOLÓGICO NO DIREITO PENAL
Características do Sistema Principiológico
Princípios Gerais
Outros Princípios
2. LEI PENAL NO TEMPO
3. LEI PENAL NO ESPAÇO
4. DA NORMA PENAL
Fontes
Diferença entre Lei (tipo) e Norma
Características da Lei Penal
Classificação da Norma Penal
Da Norma Penal em Branco
Da Legalidade
5. TEORIA GERAL DO CRIME
Crime
Caminhos do Crime (iter criminis)
Situações fáticas do iter criminis (desistência voluntária, arrependimento eficaz/ posterior,
crime impossível)
Elementos Subjetivos do Crime (dolo e culpa)
Outras Classificações Importantes de Crime
6. TIPICIDADE
Fato Típico
Resultado e Classificação dos Crimes
Nexo Causal e Concausas
7. ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE
Excludentes de Antijuridicidade
8. CULPABILIDADE
Dirimentes Supralegais
9. TEORIA DO ERRO PENAL
Erro de Tipo
Descriminantes Putativas
Erro de Proibição
10. CONCURSO DE PESSOAS
Teorias da Responsabilidade Penal
Sujeitos:
Autoria (Teorias sobre a Autoria)
Coautoria
Participação
Concurso de Pessoas nos Crimes Culposos
Punibilidade no Concurso de Pessoas
Participação Dolosamente Distinta
Participação Impunível
11. CIRCUNSTÂNCIAS, CONDIÇÕES E ELEMENTARES
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Características do Sistema Principiológico
O que são Princípios?
⇨ Estrutura Fundante;
⇨ Fonte;
⇨ Limites ao Poder Punitivo;
⇨ Filtro: orientação hermenêutica;
⇨ Evolução;
⇨ Limites garantidores dos Direitos Fundamentais e Liberdades.
Quais são as funções do Sistema Principiológico?
⇨ Assegurar o Sistema Penal Democrático;
⇨ Fornecer Diretrizes;
⇨ Fornecer Limites ao Sistema Penal;
⇨ Definir Parâmetros;
⇨ Orientar quanto à Interpretação/ Aplicação das Normas Penais;
⇨ Tutelar Direitos Fundamentais, Direitos Humanos e Liberdade.
Dez Princípios de Luigi Ferrajoli- Direito e Razão: Teoria do Garantismo
Penal:
1. Nulla Poena Sine Crimine- Retributividade
2. Nullum Crimen Sine Lege- Legalidade
3. Nulla Lex (poenalis) Sine Necessitate- Necessidade
4. Nulla Necessitas Sine Injuria- Lesividade
5. Nulla Injuria Sine Actione- Exterioridade
6. Nulla Actio Sine Culpa- Culpabilidade
7. Nulla Culpa Sine Judicio- Jurisdicionalidade
8. Nullum Judicium Sine Accustone- Acusatório
9. Nulla Accusatio Sine Probatione- Ônus Probatório
10. Nulla Probatio Sine Defensione- Contraditório e Defesa.
Vale ressaltar: Luigi Ferrajoli afirma que ao descumprir um Princípio,
descumpre-se na verdade, todo o Sistema Principiológico.
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Sistema Principiológico no Direito Penal
1- Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana:
Define o valor máximo a ser buscado
pelo Ordenamento Jurídico de um
Estado Democrático de Direito. O ser
humano é titular de interesses
existenciais, não só dos patrimoniais
como no Estado Liberal. (Art. 1º, III,
CF/88).
2- Princípio da Humanidade:
Baseado na proscrição das penas de
morte, perpétua, de banimento,
trabalho forçado e cruéis. Exige
vinculação equitativa entre o delito e
sua consequência jurídica. (Art. 5º,
XLVII, CF/88).
3-Princípio da Legalidade:
Só há crime existindo uma lei anterior
ao acontecimento do fato para
defini-lo. (Art. 1º, CP).
4- Princípio da Taxatividade:
A elaboração da lei penal deve ser clara
e precisa na formulação do conteúdo
do tipo legal e no estabelecimento da
sanção. Tem por objetivo promover
segurança jurídica.
5- Princípio da Especialidade:
Determina que Lei Especial prevalece
sobre Lei Geral e afasta o non bis in
idem, pois enquadra o comportamento
delituoso do sujeito em só uma norma
especial, apesar dele também estar
previsto na norma geral.
6- Princípio da Pessoalidade ou
Intranscendência:
Define que somente o autor da
infração penal pode ser apenado e
ninguém deve ser punido por fato
alheio. Estabelece que a pena tem
caráter personalíssimo. (Art. 5º, XLV,
CF/88).
7- Princípio da Individualidade:
Garante aos condenados em um
Processo Penal o direito de receber sua
pena somente após ter suas
peculiaridades e pessoalidades levadas
em consideração.
8- Princípio da Intervenção Mínima ou
Subsidiariedade:
O Estado só deve intervir através do
Direito Penal quando outros ramos do
Direito não conseguirem evitar a
conduta ilícita. O Direito Penal só deve
atuar na defesa de bens jurídicos
imprescindíveis e que não podem ser
eficazmente protegidos de forma
menos gravosa. Direito Penal como
Ultima Ratio.
9- Princípio da Fragmentariedade:
O Estado só intervém nos casos de
maior gravidade, pois deve tutelar
bens jurídicos mais importantes.
10- Princípio da Lesividade:
Exige que haja um grau determinado
de lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico tutelado. É este princípio que
impede a incriminação de uma atitude
interna como pensamentos/
sentimentos, conduta auto- lesiva,
estado ou condição existencial e
condutas reprovadas moralmente pela
sociedade, mas que não afetam bens
jurídicos.
11- Princípio da Insignificância ou
Bagatela:
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Entende que a tipicidade penal exige
um grau mínimo de lesividade ao bem
jurídico, reconhecendo a “atipicidade
do fato nas perturbações jurídicas mais
leves” (Damásio Evangelista de Jesus).
12- Princípio da Alteridade:
Proíbe que se incrimine conduta que
não ofende ou lesiona o bem jurídico
de outros.
13- Princípio da Proporcionalidade:
Define que a pena deve ser
proporcional à gravidade do fato, não
podendo ser superior à ela.
14- Princípio da Utilidade:
A sanção penal deve alcançar a eficácia
intimidatória pretendida, considera
injustificada toda sanção que não a
alcance.
15- Princípio da Irretroatividade:
A lei penal não é retroativa, ou seja,
uma lei penal vigente não deve ser
aplicada a fatos ocorridos antes da sua
vigência. (Art. 5º, XL, CF/88).
16- Princípio da Retroatividade
Benéfica:
A lei penal só pode retroagir em
benefício do réu, nunca para
prejudicá-lo (Art. 5º, XL, CF/88).
17- Princípio da Ultratividade:
Quando a lei é aplicada em período
posterior a data de fim da sua vigência
para atos praticados durante a sua
vigência.
18- Princípio da Territorialidade:
Delimita geograficamente a validade
jurídica e a aplicação de normas e leis
de um Estado. O Código Penal
Brasileiro adota a teoria da ubiquidade
(Art. 5º, §1º e 2º e Art. 6º, CP).
19- Princípio da Extraterritorialidade:
Em determinadas hipóteses a validade
das normas jurídicas podem alcançar
cidadãos localizados fora do território
do Estado soberano. (Art. 5º, §3º, Art.
7º e Art. 8º CP).
20- Princípio da Presunção da
Inocência ou da Não- Culpabilidade:
É presumir que toda pessoa acusada de
um delito é inocente até que se encerre
a comprovação da sua culpabilidade,
no trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. Estabelece
também que o ônus da prova pertence
à acusação. (Art. 5º, LVII, CF/88 e Art.
283, CPP).
21- Princípio da Culpabilidade:
Estabelece que apenas quem agiu com
dolo ou culpa, ao cometer fato típico e
antijurídico, será penalizado. O agente
deve possuir consciência da ilicitude,
caso contrário será inimputável.
22- Princípio da Adequação Social:
O Direito Penal deve estar em
consonância com a realidade social.
Dessa maneira, condutas consideradas
adequadas por determinada sociedade,
em tese, não serão tipificadas.
23- Princípio da Secularização:
Define a separação entre Direito e
Moral. É usado quando há tentativa de
imputação de culpa ou dolo com base
em preceitos morais ou religiosos.
24- Princípio do Non bis in idem:
Define que não pode haver duas (ou
mais) punições pelo mesmo fato.
25- Princípio do Duplo Grau de
Jurisdição:
Garante a todos os cidadãos
jurisdicionados, uma reanálise de seu
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processo por uma instância superior.
(juízo ad quem)
26- Princípio da Motivação das
Decisões:
Obriga o magistrado a expor as razões
de seu convencimento pautado em
aspectos racionais. Permiteque as
partes tomem ciência dos critérios
utilizados permitindo eventual
impugnação. É uma garantia contra
julgamentos arbitrários.
Aprofundando em Sistema Principiológico
● Princípio da Consunção ou
Absorção:
É aplicável nos casos em que há uma
sucessão de condutas com existência
de um nexo de dependência. De acordo
com tal princípio o crime fim absorve o
crime meio. Por exemplo, lesão
corporal com resultado morte.
● Princípio da Proibição/ Vedação
à analogia em matéria penal
(enquanto fonte):
Admite-se somente a Lei Ordinária
enquanto fonte para a matéria penal,
devido ao Princípio da Legalidade.
Destaca-se que a proibição ocorre
quando a analogia é aplicada in malam
partem, pois cria figura criminosa por
similitude, a uma situação fática que
não se encaixa, primariamente, em
nenhum tipo incriminador.
No entanto, admite-se o uso da
analogia no Direito Processual Penal,
com o objetivo de suprir lacunas,
seguindo-se o disposto pelo Art. 3º do
Código de Processo Penal.
↳ Analogia in malam partem:
É a analogia na qual se adota lei prejudicial ao
réu, reguladora de caso semelhante.
Ex: A figura do Assistente Técnico nasceu no
Proc. Penal para contestar o laudo. Se o
assistente técnico apresentar um laudo falso
imaginaria-se que ele responderia ao crime
previsto no Art.342 do CP (falso testemunho
ou falsa perícia), mas por força do caput os
sujeitos que podem responder por esse delito
são: a testemunha, perito, contador, tradutor e
intérprete. A figura do assistente técnico não
aparece, logo ele não poderá responder pelo
referido delito, porém poderá responder por
falsidade ideológica, Art.299.
↳ Analogia in bonam partem:
É o uso da analogia em benefício do réu, pois
permite a absolvição ou aplicação de pena
mais branda a uma situação fática não prevista
expressamente em lei.
Ex: Em caso de estupro o aborto é legal desde
que haja consentimento da gestante e seja
realizado por um médico. Imagine então que
uma mulher, que reside em cidade longínqua e
que não possui médicos na região, foi
estuprada e procurou uma parteira para
realizar a manobra abortiva. A parteira
responderia pelo crime de aborto, pois não é
médica. Para que não ocorra injustiça, terá que
se aplicar a analogia in bonam partem para
beneficiar a parteira.
● Princípio da Ampla Defesa:
É o direito da parte ré de se utilizar de
todos os meios a seu dispor para
realizar a sua defesa contra todas as
acusações que sofrer, seja através de
provas ou de recursos ou de defesa
formal qualitativa.
↳ Ampla Defesa Formal: Consiste na presença
de defensor ou advogado, prazos cumpridos,
defesa elaborada.
↳ Ampla Defesa Material: Se dá pela defesa
qualitativa, com rigor formal e qualidade
técnica.
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Lei Penal no Tempo
Ao analisar o caput do Art. 2º do CP,
nota-se um instituto chamado abolitio
criminis que prevê a não-punição de
ninguém por fato que lei posterior
deixa de considerar crime e em virtude
dela também é execução e os efeitos
penais da sentença condenatória.
● Princípio da Anterioridade da
Lei Penal:
A lei penal incidente é a da época do
fato, pois “não há crime sem lei
anterior que o defina”. Dessa forma, a
lei sempre deve ser anterior ao fato.
(Art. 1º, CP)
● Princípio da Irretroativi- dade
da Lei Penal (Lex Gravior):
A lei penal não retroagirá salvo para
beneficiar o réu. Assim, uma lei
posterior mais severa que a lei anterior
não retroagirá. (Art. 5º, XL, CF/88)
● Princípio da Retroatividade
Benéfica da Lei Penal (Lex
Mitior):
Se uma lei posterior de qualquer modo
favorecer o agente, deve-se aplicá-la
aos fatos anteriores. (Art.2º, CP)
● Princípio da Ultratividade da
Lei Penal:
A um fato aplicado na vigência de uma
lei mais benéfica, posteriormente
revogada por uma lei mais prejudicial,
aplica-se a lei mais benéfica mesmo
que ultrapassada a sua vigência.
Ocorre também nos casos de leis
excepcionais e temporárias previstas
no Art. 3º do CP.
● Princípio da Atividade:
Aplica-se a lei ao tempo do fato.
↳ Lei Excepcional: período de
anormalidade.
↳ Lei Temporário: a data de vigor é
fixada (Ultratividade Gravosa).
Essas leis são auto revogáveis. Não
precisam de outra lei que as revogue.
Basta a superveniência do dia nela
previsto (lei temporária) ou o fim da
situação de anormalidade (lei
excepcional) para que deixem,
automaticamente, de produzir efeitos
jurídicos. Por esse motivo, são
classificadas como leis intermitentes.
Observações: O tempo do crime serve
para contagem de tempo de prescrição,
imputabilidade e etc. O Código Penal
Brasileiro, em seu Art. 4º, adotou a
Teoria da Atividade ou Resultado para
estabelecer o tempo do crime.
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Lei Penal no Espaço
Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo
de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime
cometido no território nacional.
(Art.5º, caput, CP)
● Princípio da Territorialidade:
Pelo princípio da territorialidade,
aplica-se a lei penal brasileira aos
crimes cometidos no território
nacional, não importando as
nacionalidades do autor do crime ou
da vítima. Eventualmente, esta regra
geral pode ser afastada por força de
tratados internacionais.
↳ Considera-se extensão do território
nacional:
- Aeronaves ou embarcações
brasileiras públicas ou a serviço
do governo, onde quer que se
encontrem.
- Aeronaves ou embarcações
brasileiras privadas, quando em
alto mar. Caso estas
ingressarem o espaço aéreo ou
mar territorial de outro país,
não mais farão parte do
território nacional
- Aeronaves ou embarcações
privadas de bandeira
estrangeira, quando ingressam
em território brasileiro. (Art.5º,
§1º, CP)
- Aplica-se, também, a lei
brasileira aos crimes cometidos
a bordo de aeronaves ou
embarcações estrangeiras de
propriedade privada,
achando-se aquelas em pouso
no território nacional ou em voo
no espaço aéreo
correspondente, e estas em
porto ou mar territorial do
Brasil. (Art.5º, §2º, CP)
↳ Observações: É mar territorial, ou
marginal, o que corre ao longo da costa,
parte integrante do território brasileiro e
que tem uma faixa de 12 milhas
marítimas de largura, medidas a partir
da baixa-mar do litoral continental e
insular brasileiro, na forma definida pela
Lei 8.617/1993. A soberania brasileira
alcança também o leito e o subsolo do
mar territorial. O conceito de território
não impede, contudo, o direito de
passagem inocente, isto é, a
prerrogativa de navios mercantes ou
militares de qualquer Estado de
transitarem livremente pelo mar
territorial, embora sujeitos ao poder de
polícia do Brasil. A plataforma
continental é estabelecida medindo 200
milhas marítimas a partir do litoral
brasileiro (ou 188 milhas, deduzidas as 12
milhas do mar territorial), como zona
econômica exclusiva.
● Lugar do Crime:
Considera-se como lugar do crime
tanto o local da ação criminosa, quanto
o local do resultado de tal ação. Se um
deles, ou ambos, ocorrerem no
território brasileiro, o autor do crime
poderá sofrer a aplicação da lei
brasileira. O Brasil adotou a Teoria
Mista ou da Ubiquidade. (Art.6º, CP)
● Princípio da Extraterrito-
rialidade:
A lei penal pode ser aplicada aos
crimes praticados no estrangeiro. (Art.
7º, I e II e §3º, CP)
↳ Ficam sujeitos à lei brasileira,
embora cometidos no estrangeiro:
Os crimes: a) contra a vida ou a liberdade
do Presidente da República; b) contra o
patrimônio ou a fé pública da União, do
Distrito Federal, de Estado, de Território,
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de Município, de empresa pública,
sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por
quem está a seu serviço; d) de genocídio,
quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;
Ou os crimes: a) que, por tratado ou
convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro; c) praticados
em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí nãosejam julgados.
A lei brasileira aplica-se também ao crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro
fora do Brasil, se, reunidas as condições
previstas no parágrafo §3º do Art.7º, CP:
a) não foi pedida ou foi negada a
extradição; b) houve requisição do
Ministro da Justiça.
↳ Extraterritorialidade Incondiciona-
da:
Trata das hipóteses em que a lei
brasileira poderá ser aplicada ao
criminoso independentemente do
preenchimento de qualquer condição.
(Art.7º, §1º, CP).
As hipóteses são: crimes contra a vida do
Presidente da República; Contra o
Patrimônio ou a Fé Pública da
Administração Direta ou Indireta; Contra
a Administração Pública, por quem está a
seu serviço; de Genocídio, quando o
agente for brasileiro ou domiciliado no
Brasil. (Art.7º, I, CP)
O agente será julgado segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou
condenado no estrangeiro.
↳ Extraterritorialidade Condicionada:
Trata das hipóteses em que, para ser
aplicada a lei brasileira, deverão ser
preenchidos os seguintes requisitos
(Art.7º, §2º, CP):
A aplicação da lei brasileira depende do
concurso das seguintes condições: a)
entrar o agente no território nacional; b)
ser o fato punível também no país em que
foi praticado; c) estar o crime incluído
entre aqueles pelos quais a lei brasileira
autoriza a extradição; d) não ter sido o
agente absolvido no estrangeiro ou não ter
aí cumprido a pena; e) não ter sido o
agente perdoado no estrangeiro ou, por
outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável
(Art. 7º, II, CP).
↳ São condições cumuláveis:
Entrar o agente em território nacional,
Ser punível o fato também no país em
que foi praticado (dupla tipicidade);
Estar o crime incluído entre aqueles
pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição; Não ter sido o agente
absolvido ou perdoado no estrangeiro
ou não ter aí cumprido a pena; Não
estar extinta a punibilidade, segunda a
lei mais favorável.
↳ Pena Cumprida no Estrangeiro:
Se a pena é cumprida no estrangeiro e,
pelo mesmo crime, houver nova pena
idêntica imposta no Brasil, esta será
atenuada. Já se a nova pena imposta
for diversa da anterior, o tempo já
cumprido deverá ser computado para o
restante da pena. Em acordo com o
princípio constitucional do non bis in
idem, visto que ninguém pode ser
punido duas ou mais vezes pelo
mesmo crime. (Art. 8º, CP).
Observações: O Direito Penal
Internacional (Art. 7º ao 9º, CP) é
diferente do Direito Internacional
Penal, que são normas internacionais.
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Da Norma Penal
Fontes:
↳ Materiais ou de produção: única fonte é o Estado, por meio da União (Art. 22,
I, CF/88), mas lei complementar pode autorizar Estado-membro legislar sobre
matéria particular de direito penal (Art. 22, parágrafo único, CF/88).
↳ Formais ou de conhecimento: Diretas/imediatas: é a lei; Indiretas/mediatas:
costume. O costume consiste na reiteração constante e uniforme de uma regra de
conduta. Ele pode ser: segundo a lei (secundum legem); na ausência da lei (praeter
legem); contra a lei (contra legem).
A diferença entre Lei (tipo) e Norma:
Segundo Bitencourt, a Lei é a fonte da Norma Penal. A Norma, pode-se afirmar, é o
conteúdo daquela.
Tipo Penal: Art. 121, CP: “Matar Alguém”.
Norma: “Não matarás”.
Características da Lei Penal:
a) Exclusividade: somente a lei define infrações (crime e contravenções) e
comina em sanções penais (penas e medidas de segurança);
b) Imperatividade: é imposta a todos, independente da vontade de cada um;
c) Generalidade: todos devem acatamento à lei penal, mesmo os inimputáveis,
vez que são passíveis de medida de segurança; e
d) Impessoalidade: dirige-se abstratamente a fatos (futuros) e não a pessoas,
além de ser produzida para ser imposta a todos os cidadãos, indistintamente.
Classificação da Norma Penal:
a) Lei Penal Incriminadora:
define as infrações penais e
comina as sanções que lhes são
inerentes.
Preceitos:
↳ Primário (preceptum iuris):
Onde está contida a definição da
conduta criminosa.
↳ Secundário (sanctio iuris): Que
prevê a sanção penal aplicável.
b) Lei Penal Não
Incriminadora: Ou lei penal
em sentido amplo. Não tem a
finalidade de criar condutas
puníveis nem de cominar
sanções a elas relativas,
subdividindo-se em:
⇨ Permissiva (Justificante ou
Exculpante): É justificante a norma
que torna lícitas determinadas
condutas que, normalmente, estariam
sujeitas à reprimida estatal, como
ocorre, por exemplo, com a legítima
defesa (Art.25, CP). Por sua vez, é
exculpante quando a norma elimina a
culpabilidade, como é o caso da
embriaguez acidental completa (Art.
28, §1º, CP).
⇨ Explicativa ou Interpretativa:
Deve esclarecer o conteúdo da norma,
como é o caso do Art. 327, CP, que
trata do conceito de funcionário
público para fins penais.
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ito
⇨ Complementar: Tem a função de
delimitar a aplicação das lei penais
incriminadoras como ocorre com o
artigo 5º do CP, que dispõe sobre a
aplicação da lei penal no território
brasileiro.
⇨ Extensiva ou Integrativa: é
aquela utilizada para viabilizar
tipicidade de alguns fatos, como é o
caso dos artigos 14, II e 29 do CP- a
tentativa e a participação (em sentido
estrito) seriam condutas atípicas se
não fossem tais normas.
Da Norma Penal em Branco:
São normas de conteúdo incompleto, que devem ser complementadas por outra
norma (corpo, sem alma). Por exemplo: Art. 33 da Lei Federal nº 11.343/2006. Elas
podem ser:
↳ Homogênea: quando o complemento da norma é de mesma origem legislativa
da norma penal em branco.
Exemplo: Art. 237, CP e Art. 1521, CC (Ambos da Legislação Ordinária):
Art. 237. Contrair casamento,
conhecendo a existência de
impedimento que lhe cause a nulidade
absoluta:
Pena - detenção, de 3(três) meses a
1(um) ano.
Complemento da norma penal
em branco: Art.1.521, do Código Civil
(Lei Federal nº 10.406/2002)
As normas penais homogêneas podem se classificar ainda em: a) Homovitelina: a
norma complementar é do mesmo ramo do direito que a principal, ou seja, a lei
penal será complementada por outra lei penal. b) Heterovitelina: a norma
complementar é oriunda de outro ramo do direito.
↳ Heterogênea: o complemento da norma penal em branco é oriundo de fonte
diversa daquela que a editou. Por exemplo, a norma principal pode estar em Lei
Ordinária e o seu complemento em Lei Especial.
↳ Invertida ou Ao Avesso: o preceito secundário necessita de complemento.
Exemplo: Crime de genocídio (Art. 1º, da Lei Federal nº 2.889/1956):
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional,
étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
membros do grupo; c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência
capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d) adotar medidas
destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência
forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido: Com as penas do Art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do Art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do Art. 270, no caso
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da letra c; Com as penas do Art. 125, no caso da letra d; Com as penas do Art. 148, no
caso da letra e;
Da Legalidade:
Base Constitucional: Art. 5º, XXXIX da CR/88, Base Legal: Art. 1º do CP.
“Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”
– nullum crimen, nulla poena sine praevia lege.
↳ Funções da Legalidade:
1) Proibir a retroatividade da lei penal. (nullum crimen, nulla poena sine praevia
lege);
2) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes (nullum crimen nulla
poena sine lege scripta);
3) Proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar
penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta);
4) Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena
sine lege certa).
↳ Legalidade formal e material:
a) Formal: É seguir oprocedimento formal para a criação de uma lei daquela
natureza;
Vigência = Legalidade Formal
b) Material: é o amoldar-se o conteúdo da lei aos direitos e às garantias
fundamentais, previstos constitucionalmente.
Validade = Legalidade Material (Compatibilidade com CF/88)
Observações: De acordo com o Art. 5º, XL, CF/88 e Art. 2º, CP, é possível a
aplicação da lei penal antes da vigência da mesma.
De acordo com o Art.62, §1º, I, “b” da CF/88, é vedada expressamente a
possibilidade de Medida Provisória sobre matéria penal.
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Teoria Geral do Crime
Considerações iniciais:
● Todo crime tem resultado jurídico, mas nem todo crime tem resultado
material;
● O nexo causal é a relação entre ação e resultado;
● A classificação do crime é competência do Ministério Público. A defesa pode
pedir a desqualificação.
Crime
O conceito analítico, dogmático ou formal analítico estabelece que o crime é
composto de substratos que dão estrutura ao delito, somados estes substratos,
tem-se a infração penal. Essa conceituação se divide em duas vertentes: a bipartida e
a tripartida.
↳ Para a Teoria Bipartida o crime é um fato típico e antijurídico, sendo a
culpabilidade responsável apenas pela dosagem da pena.
↳ Para a Teoria Tripartida o crime é composto por três substratos que resultam na
punibilidade (direito de punir do Estado), sendo que este resultado não compõe o
crime, é apenas a sua consequência jurídica. Os substratos que compõem o crime ,
segundo essa teoria, são: tipicidade (fato típico), ilicitude ou antijuridicidade e
a culpabilidade.
Explicando:
1. Fato Típico (Conduta Típica + Resultado + Nexo Causal);
2. Antijurídico ou Ilícito (Contrário ao Sistema Jurídico);
3. Culpável (Culpabilidade: imputável, potencial consciência da ilicitude,
exigibilidade de conduta diversa).
Observação: No Furto Famélico a defesa pode apresentar duas teses: antijuridicidade
e exigibilidade de conduta diversa.
Caminhos do crime - iter criminis
1º Fase: Cogitação ⇨ Não punível (Princípio da Lesividade)
2º Fase: Atos preparatórios ⇨ Não puníveis em regra, puníveis em situações
excepcionais.
3º Fase: Atos de Execução ⇨ Puníveis
4º Fase: Consumação ou Tentativa ⇨ Punível
Consumação: Se dá quando se reúne todos os elementos que compõe o conceito do
crime.
Tentativa: Se dá quando na prática de um crime, em decorrência de uma
circunstância alheia a vontade do autor, não se alcança o resultado.
↳Situações Fáticas do inter criminis:
● Desistência Voluntária ou
Arrependimento Eficaz: “O
agente que, voluntariamente,
desiste de prosseguir na
execução ou impede que o
resultado se produza, só
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responde pelos atos já
praticados” (Art. 15, CP). Ex:
Lesionar para matar, mas
desistir e prestar socorro.
A diferença entre a Desistência
Voluntária e o Crime Tentado é
que neste o que impede o
resultado é um fato alheio à
vontade do agente.
● Arrependimento Posterior:
“Nos crimes cometidos sem
violência ou grave à pessoa,
reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da
denúncia ou da queixa, por ato
voluntário do agente, a pena
será reduzida de um a dois
terços”. (Art. 16, CP). Ex: Crime
de furto.
A principal diferença do A.
Posterior para o A. Eficaz, é que
naquele o crime é consumado.
Observação: A denúncia é
competência do MP, portanto, deve ser
escrita e subscrita por um membro do
MP. Já a queixa é uma petição escrita e
subscrita por advogados (ação penal
privada). Além disso, tem-se a notitia
criminis, que consiste na ida do
cidadão comum à uma delegacia para
noticiar um crime.
● Crime Impossível: “Não se pune
a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do
objeto, é impossível
consumar-se o crime” (Art. 17,
CP).
Não é possível que se aplique o
crime de vilipêndio em
decorrência do animus.
↳ Elementos Subjetivos do Crime: Dolo ou Culpa. (Art. 18, CP)
● Dolo Direto: Quando o agente deseja o resultado. (Art. 18, I, CP)
● Dolo Eventual: Quando o agente assume o risco de produzir o resultado. (Art.
18, I, CP)
● Culpa Consciente: Quando o agente prevê o resultado, mas acredita que é
capaz de evitar o resultado (não admite o resultado).
● Culpa por Imprudência: Quando o agente age de maneira afoita ou apressada.
(Art. 18, II, CP)
● Culpa por Negligência: Quando o agente age com desatenção. (Art. 18, II, CP)
● Culpa por Imperícia: Quando o agente é incapaz ou inabilitado para realizar a
perícia. (Art. 18, II, CP)
Observação: Nos crimes culposos, o judiciário admite o perdão judicial.
↳ Outras classificações importantes de
crime:
● Crime Tentado Perfeito: Ocorre
quando o agente finaliza o
processo executório, mas a
consumação não se dá por fatos
alheios a sua vontade. Ex: O
agente atira 3x contra a vítima
que é socorrida e sobrevive.
● Crime Tentado Imperfeito:
Ocorre quando o agente inicia a
execução do crime, no entanto,
há a interrupção do processo
executório, ou seja, o agente não
pratica todos os atos da
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execução por circunstâncias
alheias a sua vontade. Ex: O
agente foi desarmado por uma
terceira pessoa.
Observação: O CP adotou, em seu Art.
14, II e Parágrafo Único, a tentativa
imperfeita como regra. E adota
excepcionalmente a tentativa perfeita
para fins de valoração da dosimetria da
pena.
● Crime Qualificado Pelo
Resultado: É quando o
legislador, após descrever uma
conduta típica, com todos os
seus elementos, acrescenta-lhe
um resultado cuja ocorrência
acarreta o agravamento da
sanção penal.
O crime qualificado pelo
resultado pode ser
integralmente doloso. Ex:
latrocínio; extorsão mediante
sequestro qualificado pela
morte. Ou integralmente
culposo. Ex: crime culposo de
incêndio qualificado pela morte
culposa.
● Crime Preterdoloso: É, também,
um crime qualificado pelo
resultado, mas exige que a ação
criminosa tenha um início
doloso e um resultado culposo.
Ex: Em uma briga, o agente
desfere um soco no rosto da
vítima que, ao cair no chão, bate
a cabeça e apesar de socorrida
adquire um coágulo e vem a
óbito.
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Tipicidade
Fato Típico, é composto por conduta (sem finalidade), resultado, nexo causal e, por
último, tipicidade.
⇒ A Conduta é definida na doutrina por meio de diversas teorias, sendo a Teoria
Finalista a que foi adotada pelo Código Penal de 1940. A teoria finalista dispõe que a
conduta é um comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim.
O denominador comum de todas as teoria é o movimento humano voluntário
(dominável pela vontade). Se o comportamento praticado, ainda que tipificado, não
for precedido da vontade do seu agente, não haverá conduta e o fato típico estará
desfigurado, visto que, está ausente o seu primeiro elemento.
São causas de exclusão da conduta:
1- Caso Fortuito ou de Força Maior: de acordo com o Código Civil é fortuito ou
de força maior o caso que se dá quando uma ação gera consequências, efeitos
imprevisíveis, impossíveis de evitar ou impedir. Para Zaffaroni e Pierangeli, o “caso
fortuito” deve ser considerado como uma situação de atipicidade e não de ausência
de conduta, visto que na maioria dos casos, se apresenta uma conduta, só que esta
não pode ser considerada típica.
2- Involuntariedade: é a ausência de capacidade, por parte do agente, de dirigir
sua conduta de acordo com uma finalidade predeterminada. Os casos de
involuntariedade são: (i) estado de inconsciência completa, como sonambulismo e
hipnose; (ii) movimentos reflexos, reação automática do organismo a um estímulo
externo.
3- Coação Física Irresistível (vis absoluta): ocorre quando o agente é
impossibilitado de determinar seus movimentos físicos de acordo com a sua vontade,
por exemplo, quando um socorrista é amarrado ou segurado por uma outra pessoa
que o impede de socorrer uma vítima de disparo de arma de fogo que agoniza na sua
frente. A coação física irresistível não se confunde com a coação moral irresistível
(vis compulsiva), visto que na segunda há conduta, masnão livre.
↳ A voluntariedade do agente também é um dos elementos do fato típico, se
apresentando na forma do dolo, da culpa ou do preterdolo (explicados brevemente
acima).
Resultado e Classificação dos Crimes
⇒ Integra os elementos do fato típico também, o resultado. A conduta, sendo ela
ação ou omissão, pode gerar dois resultados: o naturalístico e o normativo.
↳ Naturalístico: não está presente em todos os delitos. Se dá com a modificação
que é perceptível aos sentidos. Por exemplo: é resultado naturalístico do crime de
furto, a subtração do objeto de propriedade da vítima.
Há crimes que não exigem um resultado naturalístico e, dessa forma, a depender da
exigência ou não de modificação do mundo exterior, as infrações penais se dividem
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em: material, formal e de mera conduta. Brevemente: (i) Crimes materiais são
aqueles em que o tipo penal descreve conduta e resultado naturalístico, sendo
indispensável este último para a sua consumação. Nele, a conduta e o resultado são
cronologicamente separados, como por exemplo, no crime de homicídio (art.121,
CP); (ii) nos crimes formais, apesar do tipo também prever conduta e resultado
naturalístico, este é dispensável para sua consumação. Com a prática da conduta
dar-se o crime consumado, o resultado naturalístico serve como exaurimento da
infração e para fins de dosimetria da pena. São exemplos os crimes de ameaça
(art.147, CP) e extorsão (art. 158, CP); (iii) os crimes de mera conduta são os que
o tipo penal descreve apenas a conduta delituosa e não menciona resultado
naturalístico. Pune-se a simples conduta, como por exemplo, no crime de violação de
domicílio (art.150, CP).
↳ Normativo:o resultado normativo está presente em todo e qualquer delito.
Divide-se em: Crime de Dano e Crime de Perigo. Brevemente: (i) é crime de dano
quando a sua consumação exige efetiva lesão ao bem jurídico tutelado, como no
homicídio; (ii) é crime de perigo quando a consumação se dá apenas com a
exposição do bem jurídico a uma situação de perigo. Por exemplo: o tráfico de drogas
(crime de perigo abstrato, visto que pode acarretar dano à saúde pública) e o crime
de expor ou abandonar recém- nascido, para ocultar desonra própria (art. 134, CP)-
crime de perigo concreto determinado, já que a conduta expõe alguém ao
perigo. Caso a exposição ao perigo seja da coletividade, chama-se crime de perigo
concreto indeterminado, já que não há vítima certa e determinada, como por
exemplo no crime de condução inabilitada de veículo automotor (art.309, CTB).
⇒O quarto elemento do fato típico é o nexo causal.
Nexo Causal e Concausas
O Nexo Causal é o vínculo entre a conduta e o resultado.
“O resultado de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe
deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido” (Art. 13, caput, CP)
Adotou-se no Brasil a Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais ou conditio
sine qua non (Von Buri) somada ao método ou teoria da eliminação hipotética dos
antecedentes causais (Thyrén)
Chama-se de Concausa as duas ou mais causas que deram origem ao resultado do
crime. (Concurso de Causas) Estas causas podem ser:
⇨ Absolutamente Independentes;
↳ Preexistentes; Concomitantes; Posteriores ou Supervenientes.
⇨ Relativamente Independentes.
↳ Preexistentes; Concomitantes; Posteriores ou Supervenientes.
Absolutamente Independentes:
↳ Preexistentes: A causa efetiva para
chegar-se ao resultado antecede o
comportamento concorrente.
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Ex: João atira em José que tinha, há
1h, tomando um veneno servido por
sua esposa e mesmo após levar o tiro e
ser socorrido, morre em decorrência
do veneno e não do tiro.
João não responde pelo resultado,
apenas pela tentativa.
↳ Concomitantes: A causa efetiva
para chegar-se ao resultado é
simultânea ao comportamento
concorrente.
Ex: João atira em José e no mesmo
instante Pedro atira em zona fatal do
corpo de José.
João não responde pelo resultado,
apenas pela tentativa.
↳ Posteriores ou Supervenientes:
A causa efetiva para chegar-se ao
resultado é posterior ao
comportamento concorrente.
Ex: João oferece veneno à José e após
alguns instantes Pedro, com uma
espada, corta a cabeça de José.
João não responde pelo resultado,
apenas pela tentativa.
Relativamente Independentes:
↳ Preexistentes: A causa efetiva para
chegar-se ao resultado antecede o
comportamento concorrente.
Ex: Antônio desfere golpe de faca
contra João, portador de hemofilia. O
ataque não seria suficiente para matar
João, porém a vítima tem dificuldade
para estancar o sangue e acaba
morrendo.
Antônio responde por homicídio
consumado
↳ Concomitantes: A causa efetiva
para chegar-se ao resultado é
simultânea ao comportamento
concorrente.
Ex: Pedro, com intenção de matar,
atira contra José, mas não atinge o
alvo. José, entretanto, tem um colapso
cardíaco pelo susto e morre. Sem o
disparo não haveria o colapso cardíaco.
Pedro responde por homicídio
consumado
(Para evitar a responsabilidade objetiva, o
Direito Penal Moderno só imputaria homicídio
consumado ao agente se ele tivesse
conhecimento quanto à condição da vítima)
↳ Posteriores ou Supervenientes:
A causa efetiva para chegar-se ao
resultado é posterior ao
comportamento concorrente. (Art. 13,
§1º, CP- adota a Teoria da Causalidade
Adequada de Von Kries)
É possível reconhecer duas hipóteses
envolvendo concausa relativamente
independente: a causa efetiva que não
por si só e a que por si só produziu o
resultado.
1º Ex (não por si só): Gabriel atira
contra Wellington que é socorrido,
mas morre no hospital graças à um
erro médico durante a cirurgia.
Gabriel responde por homicídio
consumado
O médico responde por homicídio
culposo
(A doutrina majoritária entende que o
erro médico como causa se encontra
na mesma linha de desdobramento
causal, portanto é consequência
normal, provável e previsível da ação
do agente)
2º Ex (por si só): Marcos atira contra
Henrique para matar. Henrique é
socorrido, no entanto, enquanto se
recuperava no hospital houve um
incêndio que resultou na sua morte.
Marcos não responde pelo resultado.
(Não existe um nexo normal
prendendo o atuar do atirador ao
resultado morte por queimaduras,
portanto, o resultado é uma
consequência anormal, improvável e
imprevisível da ação do agente).
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Ilicitude ou Antijuridicidade
Consiste na análise da conduta que gerou um resultado com ajuste a um tipo penal e
se essa violação típica é ou não permitida pelo nosso ordenamento jurídico; se
permitida, não há ilicitude; se não permitida, há ilicitude.
Há quatro teorias que discutem a relação entre tipicidade e ilicitude. São: (a) Teoria
da autonomia ou absoluta independência; (b) Teoria da indiciariedade ou
da “ratio cognoscendi”; c) Teoria da absoluta dependência ou da “ratio
essendi”; (d) Teoria dos elementos negativos do tipo. A doutrina majoritária
brasileira adotou a Teoria da indiciariedade ou da “ratio cognoscendi”, que
estabelece uma presunção relativa de que o fato típico também é ilícito. Dessa forma,
não há uma absoluta independência entre esses dois substratos, mas uma relativa
dependência. O fato típico desperta indícios de ilicitude, apesar de permanecer
íntegro quando excluída a antijuridicidade do comportamento. Exclui-se a ilicitude,
no entanto, o fato permanece típico.
Verificando que há hipóteses de exclusão da ilicitude ou antijuridicidade,
exploraremos-as a seguir. As causas que excluem a ilicitude são prevista,
principalmente, no Art.23 do Código Penal, são elas:
Excludentes de Antijuridicidade ou Ilicitude
● Estado de Necessidade:
Exclui-se a ilicitude quando o
agente pratica o fato para salvar
de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem
podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias
não era razoável exigir-se.
Não pode alegar estado de
necessidade quem tinha o dever
legal de enfrentar o perigo;e
embora seja razoável exigir-se o
sacrifício do direito ameaçado, a
pena poderá ser reduzida de 1 à
⅔.
Ex: Um pai furta alimentos em
um mercado para alimentar sua
família faminta, pois não tem
condições de prover o sustento.
(Art. 24, CP)
● Legítima Defesa: Exclui-se a
ilicitude quando o agente,
usando moderadamente, dos
meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de
outrem.
Considera-se em legítima defesa
o agente de segurança pública
que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida
refém durante a prática de
crimes.
Ex: A vítima, para se proteger
de um agente que a ameaça
com uma arma, saca sua arma e
dispara um tiro para repelir tal
ameaça. (Art. 25, CP)
● Estrito Cumprimento do Dever
Legal ou Exercício Regular do
Direito: Está em cumprimento
do dever legal o agente que
cumpre o seu dever proveniente
da lei e não responderá pelos
atos praticados, ainda que
constituam ilícito penal,
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obedecendo aos seguintes
requisitos: existência prévia de
um dever legal, cumprimento
estrito da ordem (não podendo
se exceder) e a execução do ato
por um agente público, e
excepcionalmente, particular.
Ex: Prisão em flagrante
realizada por policial ou oficial
de justiça cumprindo mandado
de penhora.
Está em exercício regular do
direito aquele que exerce um
direito garantido por lei e,
portanto, não comete ato ilícito,
obedecendo aos seguintes
requisitos: existência de um
direito previsto no ordenamento
jurídico, conduta regular (do
contrário haverá abuso de
direito/ excesso) e
conhecimento por parte do
agente da situação em que se
encontra.
Ex: intervenção médica
cirúrgica que teve anuência do
paciente, mas que este veio a
falecer. (Art. 23, III, CP).
↳ Excesso Punível: O agente, em
qualquer das hipóteses acima
elencadas, responderá pelo excesso
doloso ou culposo. (Art. 23, Parágrafo
único). @r
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Culpabilidade
● Imputabilidade: Maiores de 18 anos, capazes mentalidade.
● Exigibilidade de conduta diversa: Ser possível no caso concreto uma conduta
conforme a lei.
● Potencial Consciência da Ilicitude.
O terceiro e último substrato do crime é a Culpabilidade. Conceitua-se a
culpabilidade como o juízo de reprovação que recai na conduta típica e ilícita que o
agente se propõe a realizar. Trata-se de um juízo relativo à necessidade de aplicação
da sanção penal.
São três elementos que compõem a culpabilidade:
1- Imputabilidade: é a capacidade de imputação, ou seja, possibilidade de se
atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de uma infração penal.
Considera-se inimputável aquele que não possui capacidade de imputação penal.
Dois requisitos são avaliados para que haja imputabilidade: o intelectivo,
consistência na higidez psíquica que permita ao agente ter consciência do caráter do
caráter ilícito do fato; e o volitivo, em que o agente domina sua vontade, ou seja,
exerce controle sobre a disposição surgida com o entendimento do caráter ilícito do
fato, e se determina de acordo com este entendimento. Essa previsão aparece no
Art.26 do CP, que diz:
“É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento”.
Nos casos em que se provar a inimputabilidade do agente, conforme os critério
mencionados anteriormente, o juiz deverá absolver, nos termos do art. 386, inciso VI
do CPP, aplicando uma medida de segurança, trata-se da espécie de absolvição
imprópria.
O Parágrafo único do art. 26 do CP diz que:
“A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.
Por fim, a outra possibilidade de inimputabilidade é a questão da maioridade penal.
Tanto o art. 228 da Constituição Federal de 1988 quanto o art. 27 do CP estabelece
que os menores de 18 anos são inimputáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas pela legislação especial, qual seja a Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança
e do Adolescente.
2- Potencial Consciência da Ilicitude do Fato: representa a possibilidade que
tem o agente imputável de compreender a reprovabilidade da sua conduta.
Existe a causa excludente (dirimente) da potencial consciência da ilicitude, que é o
erro de proibição. Positivado no Art. 21 do CP:
“O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se
inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
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https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643765/artigo-386-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643530/inciso-vi-do-artigo-386-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1028351/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637136/par%C3%A1grafo-1-artigo-26-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637167/artigo-26-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643881/artigo-228-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10637112/artigo-27-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a
consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter
ou atingir essa consciência”.
3- Exigibilidade de Conduta Diversa: Exige-se que nas circunstâncias do fato, o
autor tivesse a possibilidade de atuar de acordo com o ordenamento jurídico.
Existem duas hipóteses legais de exclusão (dirimentes) desse elemento que compõe a
culpabilidade. São elas:
↳ Coação irresistível, prevista no Art.22 do CP:
“Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a
ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor
da coação ou da ordem”.
A coação irresistível possui dois requisitos: (i) coação moral; (ii) irresistibilidade da
coação.
↳ Obediência hierárquica, prevista na segunda parte do mesmo artigo supra-citado.
São requisitos da obediência hierárquicas: (i) ordem de superior hierárquico; (ii)
ordem não seja manifestamente (claramente) ilegal; (iii) estrita observância da
ordem.
Há também, dirimentes supralegais. São elas:
Dirimentes Supralegais:
1) Cláusula de consciência: Nos termos da cláusula de consciência, estará
isento de pena aquele que, por motivos de consciência ou crença, praticar
algum fato previsto como crime, desde que não viole direitos fundamentais
individuais. A doutrina costuma amparar a cláusula de consciência na
liberdade de crença e de consciência assegurada constitucionalmente nos
termos do artigo 5º, VI da CF/88. Exemplo: cita-se o caso do pai, testemunha
de Jeová, que não permite a transfusão de sangue no filho.
2) Desobediência civil: representa atos de insubordinação que têm por
finalidade transformar a ordem civil estabelecida, demonstrando sua injustiça
e necessidade de mudança. Exige-se para reconhecimento desta dirimente:
(A) que a desobediência esteja fundada na proteçãode direitos fundamentais;
(B) que o dano causado não seja relevante. Exemplo: ocupação de prédios
públicos; manifestações ocorridas na Copa do Mundo de 2018, em que
algumas pessoas invadiram o campo para protestar contra o presidente russo
e contra a falta de liberdade de expressão.
Vale ressaltar que, as dirimentes supralegais devem ser invocadas com parcimônia,
apenas em casos excepcionalíssimos, em que se demonstre cabalmente que em
determinada situação não havia possibilidade de evitar a prática do ato ilícito.
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Teoria do Erro Penal
↳ O Erro de Tipo ou Erro Sobre Elementos do Tipo é, segundo o Código
Penal, em seu Art. 20:7
“O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime” que “exclui o dolo,
mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”.
No Erro de Tipo, o agente ignora ou tem conhecimento equivocado da realidade. É a
ignorância ou o erro que recai sobre as elementares, circunstâncias ou quaisquer
dados que se agregam a determinada figura típica.
Ex. 1: A mulher que sai às pressas da sala de aula e, por engano, leva a bolsa de sua
colega, muito parecida com a sua;
Ex. 2: O caçador que atira e mata o seu colega de caça, depois que este, sem avisar, se
disfarça de urso para pregar-lhe uma peça.
⇨Espécies de Erro de Tipo:
↳ Erro de tipo essencial: a) evitável b) inevitável;
↳ Erro de tipo acidental: a) sobre o objeto b) sobre a pessoa c)
na execução d) resultado diverso do pretendido e) sobre o nexo
causal.
● Erro de Tipo Essencial Inevitável:
Configura o erro imprevisível, excluindo o dolo (por não existir consciência) e culpa
(por ausência de previsibilidade).
● Erro de Tipo Essencial Evitável:
É o erro previsível, só excluindo o dolo (por não existir consciência), mas punindo a
culpa, pois o agente poderia conhecer o perigo.
Observação: só se pune a culpa nos crimes que têm essa modalidade em sua previsão
legal.
Usa-se a figura do “homem médio” para aferir a (in)evitabilidade do erro. A
previsibilidade deve ser avaliada tão-somente pelo enfoque objetivo, no qual
considera-se o fato e não o autor. Flávio Monteiro de Barros diz:
“Erro invencível ou escusável é o que não emana da culpa do agente. Ainda que
empregasse a atenção do “homem médio”, o erro ter-se-ia verificado. Erro
vencível ou inescusável é o que emana da culpa do agente. Para evitá-lo bastaria
a atenção normal do “homem médio”.
Uma corrente mais moderna, trabalha com admitir que se avalie as circunstâncias do
caso concreto, pois entende que o grau de instrução, idade do agente, momento e
local do crime podem interferir na previsibilidade do agente.
● Erro de Tipo Acidental:
É acidental o erro que recai sobre dados secundários do tipo. A intenção criminosa é
manifesta, incidindo naturalmente a responsabilidade penal.
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↳ Erro de tipo acidental sobre objeto:
É uma subespécie discutida apenas
pela doutrina. Ocorre quando o agente
confunde o objeto visado, atingido
outro que não o desejado.
Ex: a pessoa ingressa numa joalheria
para subtrair um relógio de ouro, mas
acaba furtando um relógio dourado.
A consequência é a punição do agente
pela conduta praticada, respondendo
pelo delito considerando-se o objeto
efetivamente atingido. Dessa forma, o
erro sobre o objeto não exclui o dolo,
nem a culpa, não isenta o agente de
pena e considera na punição o objeto
diverso do pretendido.
↳ Erro de tipo acidental quanto à
pessoa:
Essa sim é uma subespécie prevista
pelo Código Penal em seu Art. 20, §3º:
“O erro quanto à pessoa contra a
qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se
consideram, neste caso, as
condições ou qualidades da
vítima, senão as da pessoa
contra quem o agente queria
praticar o crime”.
O erro quanto à pessoa implica na
existência de duas vítimas: uma real
-pessoa realmente atingida- e uma
virtual- pessoa que se pretendia
atingir. O agente as confunde.
Ex: A pessoa quer matar seu próprio
pai, porém confunde o seu tio, que
acaba de adentrar o recinto em que
estava, com o seu pai e mata-o.
A consequência é a punição do agente
por parricídio, mesmo que seu pai
continue vivo. O erro quanto à pessoa
não exclui o dolo, nem a culpa e não
isenta o agente de pena. Contudo, na
sua punição devem ser consideradas as
qualidades e condições pessoais da
vítima virtual (pretendida), visto que o
CP adotou a Teoria da Equivalência e
não a Teoria da Concretização.
↳ Erro de tipo acidental na execução:
Também conhecido como aberratio
ictus, o erro na execução está previsto
no Art. 73 do CP e diz:
“Quando, por acidente ou erro no
uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a
pessoa que pretendia ofender,
atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime
contra aquela, atendendo-se ao
disposto no §3º do art. 20 deste
Código. No caso de ser também
atingida a pessoa que o agente
pretendia ofender, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código”.
Trata-se, portanto, de um acidente ou
erro no uso dos meios de execução e,
por consequência, o agente acaba
atingindo pessoa diversa da
pretendida, embora corretamente
representada (não há engano quanto à
pessoa).
Ex: o agente mira o seu pai, mas por
falta de habilidade no uso da arma,
acaba atingindo um vizinho que
passava do outro lado da rua.
Há duas possíveis consequências:
1) Se o agente atingir somente a
pessoa diversa da pretendida
(aberratio ictus de resultado
único), será punido pelo crime,
considerando-se, contudo, as
condições e qualidades da
vítima desejada e não da vítima
efetivamente atingida.
2) Se o agente atingir também a
pessoa diversa da pretendida
(aberratio ictus com unidade
complexa ou resultado duplo),
será punido pelos dois crimes,
em concurso formal de crimes.
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Em qualquer situação, o erro na
execução não exclui o dolo, não exclui
a culpa e não gera isenção da pena.
↳ Erro de tipo acidental por resultado
diverso do pretendido:
Também chamado de aberratio
criminis ou aberratio delicti. É a
situação em que o agente, também por
acidente ou erro no uso dos meios de
execução, atinge bem jurídico distinto
daquele que pretendia atingir.
Conforme o Código Penal, em seu Art.
74:
“Fora dos casos do artigo anterior
[artigo 73, erro na execução],
quando, por acidente ou erro na
execução do crime, sobrevém
resultado diverso do pretendido, o
agente responde por culpa, se o
fato é previsto como crime
culposo; se ocorre também o
resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código”.
Ex: o agente quer danificar o carro de
seu desafeto, mas por erro na
execução, atinge e mata o motorista.
Queria praticar dano, mas acaba
produzindo morte.
A consequência não será a isenção da
pena, mas sim, que o indivíduo
responda pelo resultado diverso do
pretendido, só que a título de culpa
(havendo previsão legal). Contudo, se
o agente atingir também o resultado
pretendido, responderá pelos dois
crimes, em concurso formal de delitos.
A regra do Art. 74 será afastada
quando o resultado obtido for menos
grave do que o pretendido. Admite-se,
no entanto, a tentativa.
↳ Erro de tipo acidental sobre o nexo
causal:
É, também, uma subespécie estudada
apenas pela doutrina. Se dá quando o
resultado desejado se produz, mas de
maneira/forma diversa da pretendida
pelo agente. Divide-se em dois tipos:
Erro sobre o nexo causal em
sentido estrito: É quando o agente,
mediante um só ato, provoca o
resultado visado, porém com outro
nexo de causalidade. Ex: Pedro
empurra João de um penhasco para
que ele morra afogado, porém, em
razão da queda, João bate a cabeça em
uma pedra e morre por traumatismo
craniano.
Dolo geral ou aberratio causae: É
quando o agente, mediante conduta
desenvolvida em pluralidade de atos,
provoca o resultado pretendido, porém
com outro nexo. Ex: Maria atira em
Rita (primeiro ato) e, imaginando que
Rita está morta, joga seu corpo no mar,
vindo Rita a falecer por afogamento.
A consequência que prevalece, é apunição do agente por um só crime
(princípio unitário), desejando desde o
início, a título de dolo,
considerando-se, aliás, o nexo ocorrido
e não o pretendido.
↳ As Descriminantes Putativas (que figura como Erro) ocorrem quando o
agente, equivocado, supõe, nas circunstâncias, que existe um descriminante, ou que
age nos limites de uma, ou , ainda, também iludido, supõe presentes os pressupostos
fáticos da justificante.
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Existem duas formas de se obter uma descriminante putativa:
1) O agente supõe agir conforme uma justificante em razão de erro quanto à sua
existência ou seus limites. Apesar de conhecer a situação de fato, ignora a
ilicitude do comportamento. Ex: “A” dá um soco em “B” que se ver autorizado
a revidar com um tiro. “A” sabe da situação fática, mas ignora a ilicitude da
sua reação (ultrapassando os requisitos constitutivos da legítima defesa).
Este erro deve ser equiparado ao Erro de Proibição, sofrendo os consectários
previstos no art.21 do CP (se inevitável o erro, exclui a culpabilidade; se evitável,
diminui a pena).
2) Prevista no Art. 21, §1º do CP. O agente engana-se quanto aos pressupostos
fáticos do evento. Supõe estar diante de uma situação de fato que, na
realidade, não existe. Ex: Pedro encontra seu desafeto em uma rua escura e ao
vê-lo colocando a mão no bolso, supõe que o seu desafeto pegará uma arma
para atirar contra ele. Pedro se adianta e atira contra o seu desafeto
matando-o, mas ao se aproximar, percebe que no bolso dele havia, na verdade,
um celular.
De acordo com a Exposição de Motivos do Código Penal, entende-se que o equívoco
do agente no caso anterior, deve ser tratado como de mesma natureza do Erro de
Tipo (visto que o legislador adotou a Teoria Limitada da Culpabilidade). Se
inevitável, além do dolo, exclui a culpa, isentando o agente de pena; se evitável,
exclui o dolo, mas não isenta o agente de pena, subsistindo o crime culposo quando
previsto em lei (culpa imprópria). Além disso, topograficamente, a Descriminante
Putativa se encontra no §1º do Art.20, CP e não no Art. 21, que trata de erro de
proibição, mostrando a opção do legislador no tratamento da matéria.
↳ O Erro de Proibição é a causa excludente da potencial consciência da
ilicitude. Previsto no Art.21 do CP;
“O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato,
se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a
um terço.
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se
omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência”.
Não nos é dado desconhecer a lei, contudo, o erro de proibição pode ocorrer quando
o agente se equivoca quanto à reprovabilidade da sua conduta. O erro pode ser
escusável ou inescusável, e é dessa forma que se avalia a possibilidade do
afastamento da culpabilidade.
● Escusável:
É quando o agente atua ou se omite sem ter consciência da ilicitude do fato em
situação na qual não é possível lhe exigir que tenha esta consciência.
● Inescusável:
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De acordo com o Código Penal, “se o agente atua ou se omite sem a consciência da
ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa
consciência” (Art.21, parágrafo único).
No caso do erro escusável, afasta-se a culpabilidade, ao passo que o erro inescusável
acarreta apenas a diminuição da pena (de um sexto a um terço). Para aferir se o erro
foi escusável ou inescusável são consideradas as características do agente, tais como
idade, grau de instrução, local em que vive e os elementos culturais que permeiam o
meio no qual sua personalidade foi formada, e não o critério inerente ao homem
médio.
São dois os tipos de erro de proibição:
↳ Erro de proibição direto:
Ocorre quando o agente se equivoca quanto ao conteúdo de uma norma proibitiva,
ou porque ignora a existência do tipo incriminador, ou porque não conhece
completamente o seu conteúdo, ou porque não entende o seu âmbito de incidência.
Ex: um turista estrangeiro, habituado a consumir maconha no seu país, acredita que
pode fazê-lo no Brasil.
↳ Erro de proibição indireto:
Ou Descriminante Putativa por Erro de Proibição. Ocorre quando o agente sabe que
a conduta é típica, mas supõe presente uma norma permissiva, ora supondo uma
excludente de ilicitude, ora supondo estar agindo nos limites da descriminante. Ex:
“A”, traído por sua mulher, acredita estar autorizado a matá-la para defender sua
honra ferida.
O erro de tipo recai sobre os elementos normativos do tipo, enquanto o erro de
proibição recai sobre os elementos normativos da ilicitude.
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Concurso de Pessoas
O concurso de pessoas acontece quando há a reunião de vários agentes
concorrendo (de forma relevante) para a realização do mesmo evento, agindo todos
com o mesmo propósito. Essa cooperação pode ocorrer em várias fases do iter
criminis e em intensidades diferentes e é valorada de acordo com a contribuição de
cada um dos agentes para o sucesso do crime.
São necessários quatro requisitos para caracterizar o concurso de pessoas: (i) a
pluralidade de agentes e de condutas, diversos agentes que empreendem
condutas relevantes. É possível que alguns agentes ingressem o núcleo do tipo,
enquanto outros cumpram funções paralelas, auxiliando os primeiros; (ii)
relevância causal das condutas, a pluralidade de condutas é importante, mas
deve ser acompanhada de relevância causal, ou seja, deve imprescindivelmente ter
relação com o resultado do crime; (iii) liame subjetivo entre os agentes, todos os
agentes devem estar conscientes que estão atuando para a prática da mesma
infração; (iv) identidade de infração penal, todos os concorrentes devem
contribuir para o mesmo evento.
Sobre a responsabilidade penal
de cada um dos agentes, existem
três teorias:
1- Teoria monista/ unitária/
igualitária: de acordo com essa
teoria, não se faz distinção entre os
sujeitos. Todos são responsáveis pela
produção do resultado, em concepção
derivada da equivalência das condições
(todos os que concorrem para o crime
respondem pelo seu resultado). Essa
teoria é criticada pela dificuldade em
estabelecer materialmente a
equivalência das condições, ignorando
também, as próprias exceções
previstas na lei, que estabelecem penas
maiores ou menores de acordo com a
função efetivamente desempenhada
por cada um dos agentes.
Esta foi a teoria adotada pelo Código
Penal brasileiro, que estabeleceu a
existência de apenas um crime e a
responsabilidade de todos os que
concorrem para a sua prática. Apesar
disso, o Art.29 do CP faz uma ressalva
no sentido de que todos incidem nas
penas cominadas ao crime “na medida
de sua culpabilidade”. Ao estabelecer
excessões, o CP se aproxima da teoria
dualista (que será abordada a seguir),
ao passo que, prevê a teoria pluralista
em crimes como o dos Arts. 124 e 126,
o crime de aborto praticado por
terceiro com consentimento da
gestante.
2- Teoria pluralista: nessa teoria, a
cada um dos agentes se atribui
conduta, elemento psicológico e
resultados específicos, razão pela qual
há delitos autônomos cominados
individualmente.
3- Teoria dualista: segundo a teoria
dualista, tem-se um crime para os
executores do núcleo do tipo (autores)
e outro aos que não o realizam, mas de
qualquer modo concorrem para a sua
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execução (partícipes). Essa teoria
também é alvo de críticas, pois o crime
se resume a apenas um fato e, muitas
vezes, a atuação do executor é menos
relevante do que a desempenhada pelo
partícipe, como ocorre no homicídio
praticado por mandato.
Sobre os sujeitos tem-se:
↳ Autoria- várias teorias tentam definir o conceito de autoria, elas são reunidas em
dois grupos: unitárias (não diferenciam autor e partícipe) e diferenciadoras
(diferenciam autor e partícipe).
Teoria subjetiva/ unitária: não
diferencia autor e partícipe, considera
autor todo aquele que contribui para a
produçãodo resultado.
Teoria extensiva: também não faz a
diferenciação, mas permite o
estabelecimento de diferentes graus de
autoria, com previsão de causas de
diminuição da pena conforme a
relevância de sua participação.
Teoria objetiva ou dualista:
estabelece distinção entre autor e
partícipe. Subdivide-se em duas: (i)
objetivo-formal: autor é quem realiza a
ação nuclear do tipo e partícipe é quem
concorre de qualquer forma para o
crime; (ii) objetivo-material: autor é
quem contribui de forma mais efetiva
para a ocorrência do resultado, não
necessariamente praticando a ação
nuclear do tipo. Partícipe, por outro
lado, é quem tem atuação menos
relevante para o desdobramento causal
(ainda que pratique a conduta nuclear
do tipo).
Teoria do domínio do fato: autor é
quem decide a forma de execução, seu
início, cessação e demais condições do
fato. Partícipe será aquele que, embora
colabore dolosamente para o alcance
do resultado, não exerça domínio
sobre a ação.
O Código Penal, em seu Art.29,
estabelece um raciocínio que o liga a
teoria objetivo-formal, contudo, a
doutrina tem adotado cada vez mais a
teoria do domínio do fato (seguida
pelos tribunais superiores).
↳ Autoria mediata: Define-se o autor mediato como sendo o sujeito que, sem
realizar a conduta descrita no Código Penal, comete fato típico por outra pessoa,
utilizada como seu instrumento. Esse conceito é semelhante ao de partícipe, mas
com ele não se confunde. A conduta do autor mediato não é acessória, mas principal.
O autor mediato se vale, como seu instrumento, de pessoa não culpável (não
imputável, sem potencial consciência da ilicitude ou de quem não se exige conduta
diversa) ou que atua sem dolo ou culpa.
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Há 5 hipóteses em que o instituto da autoria mediata é aplicável: (i) inimputabilidade
penal (art. 62, inc. III); (ii) coação moral irresistível (art. 22); (iii) obediência
hierárquica (art. 22); (iv) erro de tipo escusável provocado por terceiro (art. 20, §2º);
(v) erro de proibição escusável provocado por terceiro (art. 21, caput).
↳ Autoria colateral: tem-se a autoria colateral quando dois ou mais agentes, um
ignorando a contribuição do outro, concentram suas condutas para o cometimento
da mesma infração penal. Ex: João e Antônio se colocam de tocaia, no mesmo local,
João e Antônio disparam, causando a morte de José. Se houvesse vínculo psicológico
entre os atiradores, seriam coautores do crime de homicídio (art. 121 do CP). No
caso, ausente o vínculo, cada um responde individualmente, sendo que àquele que
matou será imputado o homicídio consumado e ao outro será atribuída a tentativa.
↳ Coautoria: Verifica-se a coautoria nas hipóteses em que dois ou mais indivíduos,
ligados subjetivamente, praticam a conduta (comissiva ou omissiva) que caracteriza
o delito. A coautoria, em última instância, é a própria autoria delineada por vários
indivíduos. É imprescindível que a atuação de cada indivíduo se dê com a consciência
de que contribui para a mesma infração penal, em conjunto com os demais, ainda
que não haja acordo prévio, como já estudamos quando tratamos dos requisitos do
concurso de pessoas. Se não há vínculo subjetivo, descaracteriza-se o concurso de
pessoas, e emerge a autoria colateral.
A coautoria pode ser parcial ou direta: (a) Será parcial quando os (co)autores se
dedicam a atos de execução diversos que, reunidos, possibilitam o alcance do
resultado pretendido. É o caso, por exemplo, do crime de roubo em que um agente
ameaça as vítimas enquanto outro as subtrai. (b) Será direta quando todos os (co)
autores do crime executam a mesma conduta, como no caso dos indivíduos que, ao
mesmo tempo, ameaçam e despojam as vítimas de seus bens.
↳ Participação: A participação,
adotada a teoria formal-objetiva
quanto à autoria, consiste na
realização de atos que de alguma
forma concorram para o crime, sem
que o agente ingresse na ação nuclear
típica. No dizer de Mirabete: "O
partícipe não comete a conduta
descrita pelo preceito primário da
norma, mas pratica uma atividade que
contribui para a realização do delito".
A doutrina aponta que a participação
pode ocorrer por via moral ou
material.
A punição da conduta acessória,
dependente da principal, é objeto de
divergência resumida em quatro
teorias: (a) Acessoriedade mínima:
é suficiente a prática, pelo autor, de
fato típico para que a participação seja
punível. Esta teoria deve ser afastada,
pois não se concebe a punição do
partícipe se o autor agiu, por exemplo,
amparado por legítima defesa, e, em
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última análise, não praticou infração
penal; (b) Acessoriedade limitada
(ou média): a punição do partícipe
pressupõe apenas a prática de fato
típico e ilícito, afastando-se a
necessidade de que o agente seja
culpável. Esta é a teoria mais aceita
pela doutrina brasileira, embora haja
apontamentos no sentido de que a sua
aplicação é incompatível com a autoria
mediata; (c) Acessoriedade
máxima: para a punição do partícipe,
deve o fato ser típico, ilícito e cometido
por agente culpável; (d)
Hiperacessoriedade: a punição do
partícipe pressupõe a prática de fato
tÍpico, ilícito, por agente culpável, que
seja efetivamente punido. Esta teoria
também deve ser afastada, pois
contém exigência desarrazoada,
permitindo a impunidade do partÍcipe
mesmo nos casos em que o autor
praticou o crime e se verificou o
vínculo subjetivo entre ambos os
sujeitos.
Participação em cadeia e
sucessiva: É possível, no âmbito da
conduta acessória, a participação em
cadeia e a participação sucessiva. A
participação em cadeia ocorre quando
alguém induz ou instiga outrem a
induzir, instigar ou auxiliar terceira
pessoa a praticar um crime. Ex: João
induz Antônio a induzir José para que
este preste auxílio a Augusto na prática
de um roubo.
Já a participação sucessiva ocorre
quando o mesmo agente é instigado,
induzido ou auxiliado por duas ou
mais pessoas, sem que estas tomem
conhecimento umas das outras, a
praticar uma infração penal. Ex: João
induz Antônio a praticar um
estelionato e este, em contato com
José, é por ele auxiliado.
Quanto a participação dolosa-
mente distinta:
Na cooperação dolosamente distinta
percebe-se o desvio subjetivo de
condutas entre os agentes, em que um
dos concorrentes do crime pretendia
integrar ação criminosa menos grave
do que aquela efetivamente praticada.
Neste caso, ser-lhe-á aplicada a pena
do crime que pretendia cometer,
aumentada até metade na hipótese de
ter sido previsível o resultado mais
grave (art. 29, §2°). Tendo o Código
Penal utilizado o termo
"concorrentes", aplica-se a disposição
tanto aos coautores quanto aos
partícipes. Ex: João determina a
Antônio que mantenha Maria em
cárcere privado, mas Antônio,
excedendo o mandato, decide exigir o
pagamento de resgate por parte da
família de MARIA.
Quanto a participação impunível:
De acordo com o disposto no art. 31 do
Código Penal, não se pune, salvo
disposição em contrário, o ajuste
(acordo promovido entre duas ou mais
pessoas) , a determinação (ordem
emanada de pessoa determinada) , a
instigação (reforço da ideia já existente
na mente do autor) e o auxílio
(assistência material) , se o crime não
chega, pelo menos, a ser tentado. Ou
seja, o ajuste, a determinação, a
instigação e o auxílio só serão punidos
se o crime vier a ser executado, pois,
caso contrário, a conduta acessória não
teve nenhuma relevância para o
desdobramento causal, que sequer se
verificou.
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Ex: João, vigilante de determinado
estabelecimento comercial, ajusta com
Antônio e José um furto no local,
comprometendo-se a não acionar o
alarme de segurança. Se Antônio e
José limitarem-se a planejar a ação,
sem ao menos tentá-la, o ajuste
promovido por João não será punido.
↳ Quanto ao concurso de pessoas nos crimes culposos:
A doutrina nacional admite a coautoria nos crimes culposos, desde que dois ou mais
indivíduos, agindo vinculados subjetivamente, atuem deforma negligente,
imprudente ou imperita. No caso, o liame subjetivo não envolve, obviamente, o
resultado, não desejado, mas a própria conduta. A inobservância do dever de cuidado
é o substrato da coautoria, rechaçando-se a participação, isto é, qualquer ato de que
possa derivar o resultado involuntário é considerado ato de autor.
↳ Quanto à comunicabilidade das
circunstâncias, condições e
elementares, dispõe o art. 30 do CP:
"Não se comunicam as circunstâncias e
as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime".
↳ Circunstâncias: são elementos que
se encontram no entorno do fato, isto é,
não integram a figura típica primária, mas
agregam dados que podem significar o
aumento ou a diminuição da pena. São
objetivas quando dizem respeito ao fato,
como o rompimento de obstáculo no furto,
e subjetivas quando se referem ao agente
ou aos motivos do crime, como o motivo
torpe no homicídio ou a qualidade de
funcionário que sirva apenas para
aumentar a pena (art. 297, § 1 °).
↳ Condições: são elementos inerentes
ao indivíduo, considerados em sua relação
com os demais, e existentes
independentemente da prática do crime,
como a idade menor de vinte e um anos, a
reincidência e as relações de parentesco.
↳ Elementares: representam a própria
figura criminosa em suas características
constituintes, fundamentais. Assim como
as circunstâncias, podem ter caráter
objetivo (como a posse ou a detenção na
apropriação indébita) ou subjetivo (como
o exercício da função pública no crime de
corrupção passiva) .
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Nota da Autora
Olá! Fico feliz que tenha chegado até aqui e espero ter te
ajudado em seus estudos. Este resumo tem a finalidade de te
auxiliar na revisão de conteúdos e apoiar os seus estudos para
a faculdade, uma prova ou um concurso. É importante lembrar
que, para aprender, você não deve se contentar com a leitura
deste material. A resolução de questões, consultas às
doutrinas, jurisprudências e conteúdo sumulado pelos tribunais
superiores também é muito importante.
O presente resumo foi escrito a partir da obra de Rogério
Sanches Cunha, (Manual de Direito Penal Volume Único, Parte
Geral (Arts. 1º ao 120), Editora JusPODIVM, 2020) e de
anotações feitas por mim, em sala de aula.
Caso tenha alguma sugestão de melhoria deste material, ou,
durante a leitura, tenha encontrado algum erro, peço que envie
um e-mail reportando a questão para duplatraquel15@gmail.com.
Antes de salvar este material e enviar para um amigo,
convide-o a me seguir no Instagram @rddireito e a participar
do nosso canal no Telegram (Resumos @rddireito). E, caso você
ainda não esteja acompanhando nenhuma das redes sociais,
também está convidado a fazê-lo.
Bons estudos!
Atenciosamente,
Raquel Duplat.
mailto:duplatraquel15@gmail.com

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