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CONTABILIDADE SOCIAL Luciane Rosa de Oliveira Indicadores de economia internacional Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Informar o que é cooperação entre países. � Mostrar os principais indicadores oriundos das relações internacionais brasileiras. � Verificar o impacto das relações internacionais para o País. Introdução Neste capítulo, você vai ler sobre as relações internacionais do Brasil e sua interferência na economia brasileira, bem como sobre a cooperação entre países e os resultados que ela traz para os brasileiros. Além disso, você vai analisar os diversos motivos pelos quais os países cooperam entre si, como troca de tecnologia, difusão de conhecimento e relações comerciais. Ainda vai compreender quais são os indicadores das relações internacionais brasileiras e entender qual o impacto dessas relações internacionais. Cooperação entre países Em 1986, foi assinado o Tratado de Viena, que estipula as relações interna- cionais, reconhecendo a importância, cada vez maior, dos tratados como fonte do Direito Internacional e como meio de desenvolver a cooperação pacífica entre as nações, quaisquer que sejam os seus regimes constitucionais e sociais. O Tratado de Viena define as organizações internacionais apenas por Es- tados, países e governos, sendo chamadas de organizações governamentais; as demais são chamadas de organizações não governamentais. Ainda, por esse tratado, as organizações buscam ajuda entre países por meio da cooperação para melhoria das condições políticas, econômicas e sociais de seus países membros (BRANCO, 2007). Assim, é importante saber por que surgiram as organizações internacio- nais. Com o passar do tempo, os países viram a necessidade de mecanismos de convivência e comercialização entre os países. Dessa forma, nasciam os princípios das relações internacionais e os tratados bilaterais. As organizações internacionais surgiram a partir de 1648, no Tratado de Vestfália de Paz, após o fim da Guerra dos 30 Anos (ALMEIDA, 2004). Com o passar do tempo, surgiu a necessidade da criação de organizações que atendessem a necessidades específicas, como: � 1815 — criação da Comissão Fluvial Internacional; � 1856 — criação da União Telegráfica Internacional, uma cooperação administrativa para comunicação; � 1874 — criação da União Postal Universal; � 1883 — criação da União para Proteção da Produção Intelectual; � 1876 — criação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha; � 1900 — criação da luta pelos direitos dos trabalhadores na Associação Internacional de Proteção do Direito dos Trabalhadores. Essas organizações visam fortalecer ações, princípios e políticas de interesse para seus membros, atuando de forma cooperativa, resolvendo conflitos, divi- dindo tecnologia e estabelecendo políticas de cooperação (ALMEIDA, 2004). No Brasil, dentro do Ministério das Relações Internacionais, foi criada a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que analisa e administra os acordos do Brasil, que podem ser bilaterais ou multilaterais. Para conhecer melhor a ABC, acesse o link a seguir: https://goo.gl/b8D6WA As organizações internacionais podem ser classificadas quanto à área geo- gráfica, ao objeto e à sua estrutura jurídica, conforme informações coletadas de Almeida (2004) e dispostas no Quadro 1. Indicadores de economia internacional2 Fonte: Adaptado de Almeida (2004). Área geográfica Cooperação universal: � Organização das Nações Unidas (ONU) � Fundo Monetário Internacional (FMI) Cooperação regional: � União Europeia � North American Free Trade Agreement (Nafta) � Mercado Comum do Sul (Mercosul) � Association of Southeast Asian Nations (Asean) � Asia-Pacific Economic Cooperation (Apec) � Economic Community of West African States (Ecowas) Objeto Exemplos: � Organization of Petroleum Exporting Countries (OPEC) � Mercosul � Nafta � World Trade Organization (WTO) Cooperação financeira: � FMI Cooperação para saúde: � Organização Mundial da Saúde (OMS) Cooperação humanitária: � Cruz Vermelha Cooperação social: � International Labour Organization (ILO) � United Nations International Children’s Emergency Fund (Unicef) Cooperação cultural: � United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization (Unesco) Estrutura jurídica Cooperação simples: � Apec � Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD) � ONU Cooperação complexa: � União Europeia � Nafta � Mercosul Quadro 1. Classificação das organizações internacionais 3Indicadores de economia internacional O surgimento das organizações internacionais foi intensificado após a Segunda Guerra, quando as consequências sociais, políticas, econômicas e ambientais levaram os países a buscar estratégias e formas para organização baseadas no Direito Internacional. A mais importante organização internacional é a ONU, com fins gerais e fundada em 1945, depois da Segunda Guerra, com o propósito de facilitar a cooperação entre países, promovendo o Direito Internacional, o desenvolvimento econômico, o progresso social, os direitos humanos e a paz mundial. Com sede em Nova Iorque, conta com 193 países membros, além do Estado do Vaticano e da Palestina (ALMEIDA, 2004). O Brasil possui papel relevante na cooperação internacional, sendo que o Instituto Rio Branco recebe todos os anos, desde 1976, diplomatas estrangeiros bolsistas que participam do curso de formação junto com os novos diplomatas. A demanda por atividades de cooperação com o instituto nos últimos anos manteve-se superior à capacidade de oferta. Até o presente, 245 diplomatas estrangeiros, oriundos de 54 países e um organismo internacional, participaram do curso de formação de diplomatas do Instituto Rio Branco (INSTITUTO RIO BRANCO, 2019). O Brasil participa dos processos de tomada de decisão e do trabalho da ONU, princi- palmente por meio de quatro representações permanentes — nas cidades de Nova Iorque (Estados Unidos), Genebra (Suíça), Roma (Itália) e Paris (França). A função das representações é acompanhar de perto a agenda da ONU, ter informações mais específicas sobre os trabalhos e ampliar a participação do País no sistema. As despesas dessas representações são inteiramente custeadas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, sendo que, desde 1948, o Brasil participou de mais de 30 operações de manutenção de paz da ONU, tendo cedido um total de mais de 24 mil homens. Integrou operações na África (entre outros, Congo, Angola, Moçambi- que, Libéria, Uganda e Sudão), na América Latina e no Caribe (El Salvador, Nicarágua, Guatemala e Haiti), na Ásia (Camboja e Timor-Leste) e na Europa (Chipre e Croácia). Indicadores de economia internacional4 Além de ter enviado militares e policiais a diversas missões ao longo da história da ONU, o Brasil empregou unidades militares formadas em cinco operações: � Suez (First United Nation Emergency Force [UNEF I]); � Angola (United Nations Angola Verification Mission III [UNAVEM III]); � Moçambique (United Nations Operations in Mozambique [ONUMOZ]); � Timor-Leste (United Nations Transitional Administration in East Timor/United Nations Mission of Support in East Timor [UNTAET/UNMISET]); � Haiti (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti [MINUSTAH]). Em 2018, o Brasil foi o maior contribuinte de tropas para a MINUSTAH. De 2004 a fevereiro de 2010, o País manteve um contingente de 1.200 militares, com rotação semestral. Após o terremoto, que atingiu o Haiti em janeiro de 2010, passou a manter contingente maior, formado por cerca de 2.200 soldados e oficiais. Desde o início da participação brasileira até hoje, mais de 13 mil militares brasileiros serviram no Haiti. Desde 2004, o comando militar de todas as tropas que compõem a MINUSTAH, provenientes de 19 países, é exercido por generais brasileiros. Em agosto de 2016, havia 1.303 brasileiros na MINUSTAH. Uma fragata brasileira atua no Líbano,em missão da ONU, para ajudar a impedir a entrada de armamentos no país pelo mar. Além disso, desde 2011, a Marinha do Brasil comanda a Força-Tarefa Marítima da United Nations Interim Force in Lebanon (FTM-UNIFIL). O Brasil lidera as operações que contam com a participação de aproximadamente mil oficiais, entre eles, nacionais e não nacionais oriundos de Bangladesh, Alemanha, Grécia, Indonésia e Turquia. Cerca de 250 militares brasileiros da Marinha integram a FTM, a primeira do tipo a participar de uma operação de paz da ONU. Implantada desde 2006, a FTM presta apoio à Marinha libanesa no monitoramento de suas águas territoriais, garantindo a segurança da costa e impedindo a entrada não autorizada de armamento ou material semelhante por mar. Fonte: Nações Unidas no Brasil (c2018). Indicadores oriundos das relações internacionais brasileiras O governo brasileiro analisa os indicadores das relações internacionais por meio do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI), que coleta e sintetiza informações e documentos sobre as relações internacionais e a política externa brasileira. Fundado em setembro de 1987, o IPRI é um órgão da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, que tem por finalidade: desenvolver e divulgar estudos e pesquisas sobre temas 5Indicadores de economia internacional atinentes às relações internacionais; promover a coleta e a sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação; fomentar o intercâmbio cien- tífico com instituições congêneres nacionais e estrangeiras; realizar cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais. Por meio dessas atividades, o IPRI trabalha para a ampliação e o aprofun- damento dos canais de diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores e a comunidade acadêmica sobre temas de interesse para a política externa brasileira (IPRI, 2017a, documento on-line). Segundo Almeida (2017, p. 471): O IPRI tem por missão produzir estudos e pesquisas sobre todos os temas pertinentes às atividades do Itamaraty, com ênfase no período contemporâneo, assim como aprofundar as relações com a comunidade acadêmica, reforçando os canais de diálogo com as instituições de pesquisa em temas correlatos. A OECD (c2019) prepara mensalmente o Main economic indicators (MEI), uma publicação com importantes indicadores sobre desenvolvimento. As principais bases de dados utilizadas no livro Estatísticas para o estudo das relações internacionais, publicado anualmente pelo IPRI (2016) com as esta- tísticas gerais do País (IPRI, 2017b, documento on-line), são: � Banco mundial — Acesso à base de dados completa do World Deve- lopment Indicators em Excel. � FMI — Dados macroeconômicos e financeiros de diversos países. � Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) Military Expenditure Database — Dados de gastos militares de diversos países desde 1949, em Excel ou PDF. � Food and Agriculture Organization (FAO) — Produção, preços, comércio, investimento e outros indicadores relativos à alimentação e à agricultura. � Trade Map/International Trade Centre (ITC) — Dados sobre im- portação e exportação de serviços e de produtos. O Quadro 2 apresenta outras estatísticas gerais publicadas anualmente pelo IPRI. Indicadores de economia internacional6 Com relação à economia � As 15 maiores economias do mundo � Distribuição e evolução da riqueza no mundo, com informações de cerca de 200 países � Indicadores econômicos do livro Le capital au XXI e siècle, de Thomas Piketty � Informações sobre a evolução histórica de alguns indicadores do comércio exterior brasileiro Com relação aos dados geográficos � Brasil — fronteiras terrestres Com relação à política internacional � Componentes de Capacidade Nacional e Índica Composto (CINC), do site Correlates of War � Índice Composto de Capacidade Nacional, do site Correlates of War Quadro 2. Estatísticas gerais publicadas anualmente pelo IPRI Os dados apresentados indicam os recursos clássicos de poder (território, população, produto interno bruto, reservas de petróleo, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, gastos militares e vários indicadores socioeco- nômicos) e também as vulnerabilidades (como doenças, mortalidade, dívida externa, inflação) dos principais países do mundo, visando produzir conhe- cimento útil para profissionais de relações internacionais e dos pesquisadores estrangeiros, para estudantes brasileiros e para estrangeiros em diversas partes do mundo (ALMEIDA, 2017). Impacto das relações internacionais para o País Para o Brasil, as relações internacionais impactam o desenvolvimento eco- nômico e social, a troca de tecnologias, entre outros. A área de educação é uma das que mais crescem em acordos em diversos países, como Alemanha, Espanha, Israel, entre outros. Em momentos em que se encontra em crescimento econômico e desenvol- vimento social, diminuindo as desigualdades sociais, é comum o País compar- tilhar experiências bem-sucedidas de desenvolvimento e seus conhecimentos. Dessa forma, os projetos de cooperação técnica recebida do exterior resultaram na formação de entidades modelares no País. Essas entidades passaram a atuar, 7Indicadores de economia internacional em dado momento, como base para a oferta de cooperação técnica brasileira a países em desenvolvimento (PATRIOTA, 2013). O Brasil possui vantagens frente a outros atores da cooperação interna- cional, em termos de localização geográfica e em função de herança cultural e desafios comuns no campo social e econômico. Além disso, igualmente, essas vantagens têm favorecido a ampliação da Cooperação Sul-Sul do Brasil, que contribui para o adensamento das relações do Brasil com esses países, buscando: � ampliação de intercâmbio; � geração, disseminação e utilização de conhecimentos técnicos; � capacitação dos recursos humanos; � fortalecimento das instituições. Conforme essas diretrizes, a ABC definiu eixos de parcerias, entre os quais, destacam-se: � Haiti; � Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOPs); � Timor-Leste; � América Latina; � Caribe. Dessa forma, o Brasil dá início à cooperação trilateral por meio da qual realiza ações de Cooperação Sul-Sul, junto com países desenvolvidos, entre os quais, pode-se destacar o Programa de Parceria Brasil-Japão (JBPP), que inclui o Programa de Treinamento para Terceiros Países (em inglês, Third Country Training Programme [TCTP]) (PATRIOTA, 2013). Dessa forma, a troca de experiências e de conhecimentos, objetivo último da cooperação técnica e que materializa o sentimento de solidariedade recíproca entre os povos, certamente beneficia não apenas os países recipiendários da cooperação brasileira, mas também o Brasil. Os projetos de cooperação técnica revelam-se eficientes promotores de desenvolvimento. Representam, também, o esforço de muitos profissionais e demonstram que, havendo dis- posição e vontade política, sempre é possível, mesmo em épocas de desafios de vários matizes, realizar atividades de elevado conteúdo socioeconômico (PATRIOTA, 2013). Indicadores de economia internacional8 O Brasil, por possuir essas vantagens, investe em acordos com países desenvolvidos e em desenvolvimento para absorver e disseminar conheci- mento aplicado ao desenvolvimento social e econômico. A política externa do Brasil beneficia-se hoje do empenho que o País teve, nas últimas décadas, no campo da cooperação técnica internacional. O Brasil colocou em prática o conceito segundo o qual não basta apenas receber conhecimentos de nações desenvolvidas, mas é preciso partilhar as próprias experiências e conhecimento com outros países, que vislumbram nas parcerias o melhor caminho para o desenvolvimento (PATRIOTA, 2013). Um exemplo bastante significativo é a Cooperação Sul-Sul, entre Brasil e África, que compartilha informações, troca tecnologias e realiza suas reuniões de forma on-line, diminuindo,assim, custos para os dois países, utilizando a tecnologia como aliada na cooperação entre os dois países. A seguir, veremos como o mundo on-line está mudando a Cooperação Sul-Sul, me- lhorando e compartilhando conhecimento entre Brasil e África. Os custos de viagem, uma agenda ocupada e um orçamento apertado já não são obstáculos para não comparecer a uma reunião importante. Graças a plataformas inovadoras on-line, gestores, pesquisadores e formuladores de políticas públicas do Sul global podem compartilhar experiências sobre programas de proteção social, contribuindo para a meta abrangente de erradicação da pobreza. As atividades on-line de compartilhamento de conhecimento, como comunidades on-line e reuniões virtuais, têm sido fundamentais para o trabalho do International Policy Centre for Inclusive Growth (IPC-IG), em áreas de cooperação Sul-Sul e proteção social, para mobilizar gestores e especialistas africanos e brasileiros e para produzir conhecimento dentro do escopo do projeto Brasil e África: combate à pobreza e empoderamento de mulheres por meio da Cooperação Sul-Sul, financiado por The Department for International Development (DFID). O IPC-IG é responsável pela implementação dos resultados (outcomes) 1 e 2 desse projeto. Desde o início dos anos 2000, os programas de transferência condicionada e não condicionada de renda tornaram-se elementos-chave nas políticas e nos programas de segurança social em toda a África. Muitos países africanos têm sido encorajados pelos resultados positivos alcançados pelo Brasil com as políticas de proteção social e de segurança alimentar e nutricional, e os programas voltados para a redução da pobreza e da desigualdade têm um impacto positivo. Vários programas africanos de transferência de renda foram inspirados pela experiência brasileira, em particular, o Livelihood Empowerment against Poverty (LEAP) de Gana, a política nacional de proteção social do Quênia e o programa de transferência de renda de Cabo Verde, 9Indicadores de economia internacional que recebeu o apoio de instituições brasileiras durante a sua fase de concepção. As lições aprendidas e iniciativas de compartilhamento de experiências sobre o desenho e a implementação de políticas públicas de proteção social e questões de gênero são o foco das interações on-line. Fonte: IPC-IG (2017). Podemos concluir que o Brasil possui diversas ações de cooperação interna- cional com diversos países, por meio de blocos econômicos como o Mercosul, bem como acordos de cooperação com países em específico. Portanto, essas relações são importantes para o desenvolvimento educacional, social e eco- nômico. Por meio da troca de informações, tecnologias e acordos comerciais, trazem o desenvolvimento para esses países. ALMEIDA, P. R. O Brasil e a construção da ordem econômica internacional contempo- rânea. Contexto Internacional, v. 26, n. 1, p. 7-63, jan./jun. 2004. Disponível em: <https:// search.proquest.com/openview/4fcc7fefa3640fb15c543b081dd5209b/1?pq-origsite= gscholar&cbl=1936339>. Acesso em: 18 jan. 2019. ALMEIDA, P. R. 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