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10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/15 POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA AULA 5 Prof.ª Kauana Puglia 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/15 CONVERSA INICIAL O surgimento de um sistema multilateral é um marco nas relações internacionais e estabeleceu novos parâmetros para a interação entre países. Esses parâmetros visam estabelecer tratados formais cujo objetivo é formar organizações governamentais internacionais e fóruns permanentes para laços diplomáticos e compromissos legais nos campos social, político, econômico e de segurança. Além disso, o estabelecimento de um sistema internacional que rege a ação coletiva e a propriedade comum compartilhada pela humanidade faz parte dessa agenda. O fundamento dessas iniciativas é a definição e a delimitação do escopo da cooperação internacional, que vem se desenvolvendo desde então, com foco no desenvolvimento de várias parcerias com povos de todos os países. Nesta aula, vamos entender o que é a cooperação internacional e como ela funciona, explorando as suas principais modalidades. Também vamos compreender como a cooperação internacional é feita em âmbito brasileiro, analisando os instrumentos do país para definir suas ações e observando quais países vem sendo o foco do Brasil para a realização de projetos. TEMA 1 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: O QUE É E COMO FUNCIONA A disseminação da industrialização e modernidade para os países em uma sociedade global significa que, desde a Segunda Guerra Mundial, um dos aspectos mais marcantes das relações internacionais foi expandir a cooperação como uma abordagem institucionalizada pelos Estados. Dessa forma, os governos tornam-se parte de uma complexa rede de instituições que se concentram no que é comumente chamado de cooperação internacional (Sato, 2010). No processo, esse termo foi estendido a todas as áreas, desde comércio e finanças até questões de segurança, meio ambiente, educação e saúde. 1.1 O QUE É COOPERAÇÃO INTERNACIONAL? 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/15 O art. 1 do primeiro capítulo da Carta das Nações Unidas cita o propósito das Nações Unidas e define o conceito de cooperação internacional, seus objetivos e formas: 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; 4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns. (Brasil, 1945) Assim, o conceito de cooperação possui diferentes componentes: sociedade, cultura, economia e humanitarismo. Isso permite que seja geralmente entendida como qualquer ação coletiva ou parceria entre países. Portanto, é necessário determinar seus objetivos dentro da Organização das Nações Unidas. Segundo Puente (2010), a ideia de cooperação foi chamada assistência técnica em 1948. O objetivo foi entender a cooperação como assistência prestada por certos países, enquanto outros recebiam tal assistência. Isso visaria promover melhorias para aqueles que têm maiores dificuldades. O país que fornecer assistência será o provedor, e o destinatário será o destinatário ou destinatário. No entanto, ainda é necessário determinar que tipo de assistência os países recebem e fornecem. Desde então, surgiram definições mais específicas de cooperação, nas quais podemos enfatizar a Cooperação para o Desenvolvimento e/ou Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID), a Cooperação Científica e Tecnológica (CC&T), e a Cooperação Humanitária (CH). No entanto, por exemplo, o CID pode ser dividido em: Cooperação Técnica Internacional (CTI), Cooperação Financeira (CF), Assistência Humanitária (HA) e Assistência Alimentar (AA) (Puente, 2010). Especialmente para a CID, os Estados definem agências especializadas para lidar com a cooperação. No Brasil, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), estabelecida em 1987, está vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), sendo um órgão público responsável pela coordenação de ações de cooperação entre instituições públicas e privadas, como organizações não governamentais. TEMA 2 – MODALIDADES DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL Iniciando pela CC&T, embora esse tipo de cooperação seja entendido como incentivo ao desenvolvimento, ela ainda é considerada um campo específico de cooperação internacional. 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/15 Segundo Puente (2010), essa particularidade está relacionada a procedimentos focados na transferência de ciência e tecnologia. O setor realiza atividades com a chamada P&D (pesquisa e desenvolvimento). Os agentes envolvidos na CC&T são estatais e não estatais: universidades, setores de produção industrial e agrícola, instituições de pesquisa etc. O financiamento de projetos pode ser público ou privado e pode orientar o setor de ciência e tecnologia por meio de políticas gerais de desenvolvimento ou setores estratégicos através de políticas específicas. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) é responsável pela CC&T e pelos planos internacionais e nacionais do setor. Para o Brasil, existem três formas principais de cooperação nesse setor: planos científicos e projetos de cooperação internacional; programas bilaterais de cooperação científica e tecnológica e projetos regionais; e parcerias ou ações estabelecidas diretamente entre cientistas (Baumann, 2013). Para definir esses projetos e suas áreas prioritárias, cada país possui um processo de tomada de decisões que limitarão suas áreas de investimento. Para o Brasil, o setor contemplado é a agenda de desenvolvimento social e educação. A definição da pauta prioritária de CC&T passa pelo MCTI, pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), pelo Ministério da Educação (MEC) e por agências, como Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Além disso, a CC&T envolve muitos participantes nacionais e internacionais e apoia firmemente o CID, a forma mais abrangente e complexa de cooperação internacional. Segundo Puente (2010, p. 41), o CDI pode ser classificado com base em quatro critérios: 1. Origem: pública ou privada; 2. Canais de execução: bilateral, trilateral, multilateral ou descentralizada (ONGs em geral); 3. Instrumentos: Cooperação técnica internacional (CTI), cooperação financeira (CF), assistência humanitária (AH) e ajuda alimentar (AA); 4. Nível de desenvolvimento dos países envolvidos: países desenvolvidos (Norte), países em desenvolvimento (Sul) e países de menor desenvolvimento relativo (Sul). No que se refere às modalidades, a classificação pode ser assim estabelecida (Brasil, 2014a): 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/15 Cooperação Técnica Internacional (CTI): assistência ao desenvolvimento baseada no aprimoramento da capacidade do país receptor, visando melhorar a autonomia por meio de projetos multidimensionais interdependentes e a exploração de capacidades endógenas com o apoio de fornecedores parceiros; Cooperação Financeira (CF): assistência na forma de empréstimos e investimentos não reembolsáveis, contribuições e materiais financeiros para desenvolvimento e crédito concessionário; Assistência Humanitária (AH): assistência prestada em tragédias humanitárias naturais ou provocadas pelo homem, destinadas a amenizar condições extremas e dificuldades de sobrevivência; Ajuda Alimentar (AA): assistência relacionada à demanda humanitária de suprimento de alimentos para garantir segurança alimentar ou crédito preferencial no momento da compra. Entre essas modalidades de CID, o CTI é o mais complexo. Esse conceito e seu modelotêm sido constantemente desenvolvidos, envolvendo CTI tradicional (cooperação Norte-Sul, ou cooperação vertical) e CTPD (cooperação Sul-Sul, ou cooperação horizontal). 2.1 COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL (CTI) E A COOPERAÇÃO TÉCNICA ENTRE PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO (CTPD) Até 1970, a CTI tradicional dominava as relações internacionais. Porém, devido à ascensão e consolidação dos países do sul e à influência de conceitos de desenvolvimento multidisciplinar (social, ambiental, político e econômico), o CTI e o CTPD tornaram-se cada vez mais próximos. O CTI é definido como uma ferramenta auxiliar para o desenvolvimento dos países receptores, com o objetivo de promover mudanças estruturais em sua dinâmica por meio do intercâmbio e compartilhamento de experiências entre os países participantes. Esses processos são projetados para ter um impacto positivo nos países destinatários e permitir a criação de seus próprios padrões de crescimento (Brasil, 2014a). Assim, A cooperação técnica é um dos pilares da cooperação internacional. Seu foco é o desenvolvimento de capacidades entendido como a identificação, mobilização e expansão de conhecimentos e competências disponíveis no país parceiro, com vistas à conquista da autonomia local para o desenho e implementação de soluções endógenas para os desafios do desenvolvimento. (Brasil, 2013, p. 12) 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/15 Ainda é necessário determinar quais projetos alcançarão os objetivos propostos de maneira mais satisfatória. Esse tipo de definição de projetos, na prática, é chamado de carteira de projetos: o termo refere-se a uma série de projetos que constituem uma agenda nacional de cooperação, tanto como destinatários do CTI quanto como prestadores. Para atingir esses propósitos, é essencial que haja uma interação substancial entre os países doadores e os beneficiários. Com relação ao primeiro item, a maneira pela qual os destinatários recebem ajuda e implementação pode ser vista como uma maneira de avaliar o sucesso ou o fracasso das iniciativas. Os países beneficiários precisam incorporar e implementar mudanças em grande medida, para que possam continuar recebendo propostas semelhantes de cooperação quando necessário. Por outro lado, o sucesso da cooperação pode fazer com que um país, até então destinatário, possa se tornar um fornecedor no futuro. Dessa forma, ele desempenhará um papel duplo: doadores e beneficiários da ajuda. No entanto, nem sempre houve a CTPD: este é um modelo relativamente novo de CTI. Com o empoderamento do Sul, esse modelo foi fortalecido desde 1970. Mais do que CTI, a CTPD refere-se à consolidação da cooperação entre países do sul: cooperação técnica entre países em desenvolvimento. Essa cooperação é um marco no desenvolvimento de mecanismos de interação horizontal entre esses países. Para os países em desenvolvimento, o CTI tradicional é importante para o desenvolvimento do Sul, mas também apresenta problemas estruturais: primeiro, é apoiado por relações de poder assimétricas, que muitas vezes levam à implementação de políticas e posições dominantes. Em segundo lugar, os provedores de cooperação impõem muitas condições políticas e econômicas, o que torna quase impossível obter uma oferta de cooperação. Terceiro, de acordo com a visão do destinatário, a cooperação geralmente se concentra nas necessidades dos fornecedores e carece de compreensão da realidade local. Por outro lado, a CTPD visa superar esses obstáculos e apresenta algumas vantagens sobre o CTI tradicional: a assimetria entre as partes envolvidas na cooperação é pequena; a troca de experiências comuns, que ajuda no desenvolvimento da agenda de cooperação e a maior integração entre as necessidades dos países doadores e receptores. TEMA 3 – BRASIL E A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/15 Durante o século XX, o país foi um dos que mais contribuiu para a defesa do desenvolvimento sustentável e da CID no sistema das Nações Unidas, com uma atuação na Assembleia Geral, em organismos como o G-77 e o PNUD. Embora ainda seja um país receptor e beneficiário do CTI, o Brasil ainda é um dos doadores mais ativos do CTPD atualmente, sendo parte integrante da política externa e discussões diplomáticas para valorizar as formas de cooperação. Em termos de recebimento de assistência, os principais atores do país são organizações multilaterais, como a ONU, e agências como o PNUD. Bilateralmente, temos o Japão, a Alemanha e a Espanha. Em relação à prestação de assistência, o Brasil possui uma ampla gama de operações, com foco na África, nas Américas e na Ásia. 3.1 DOCUMENTOS E INSTRUMENTOS PARA DEFINIR AS AÇÕES EM ÂMBITO NACIONAL Para o Brasil, a cooperação internacional é coordenada pela ABC, estabelecida em 1987 e vinculada ao MRE. Os primeiros esforços do Brasil nesse campo remontam à década de 1950, quando foi criado o Comitê Nacional de Assistência Técnica. Segundo Puente (2010), nas décadas de 1960 e 1970, a Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (Subin) passou a desempenhar as tarefas. Foi com a ABC, porém, que a ação brasileira de CTPD ganhou adensamento. Para definir perfil, projetos e parceiros, o Manual de Gestão da Cooperação Técnica Sul-Sul (CSS) da ABC afirma que A cooperação técnica Sul-Sul é entendida como o intercâmbio horizontal de conhecimentos e experiências originados nos países em desenvolvimento cooperantes. A ideia é compartilhar lições aprendidas e práticas exitosas disponíveis no Brasil, geradas e testadas para o enfrentamento de desafios similares ao desenvolvimento socioeconômico. (Brasil, 2013, p. 13) Oficialmente, de acordo com a legislação brasileira, para executar esses procedimentos, três marcos são explicitados: o jurídico, o político e o operacional. O CSS só pode ser alcançado se esses marcos forem alcançados. Na estrutura jurídica do CSS, são inseridos os requisitos formais para a implementação do projeto, que é o Acordo Básico de Cooperação Técnica (ou Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento ou Acordo Quadro), que formaliza internamente a CSS entre o Brasil e determinados parceiros. O governo brasileiro propõe um acordo e o Congresso o avalia. Se considerar positivo, o aprovará, permitindo implementar e distribuir seus meios. 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/15 Por sua vez, a estrutura política envolve o nível de negociação, que inclui os acordos de intenções. Estes são documentos políticos, mas só podem ganhar visibilidade, conteúdo e aplicabilidade se acompanhados da descrição da estrutura jurídica e operacional. A estrutura operacional viabiliza o projeto, e o projeto é baseado nos pilares políticos e jurídicos mencionados, bem como nos recursos e ferramentas de gerenciamento necessários para executar o projeto. O primeiro requisito do marco operacional é definir arranjos de execução administrativa e financeira, que se referem ao pessoal que executa o projeto. Após identificar os agentes da cooperação, é necessário entrar na fase de implementação técnica. De acordo com o Manual de Gestão, ele envolve quatro instrumentos: programa, projeto, ação preparatória e ação simplificada. Este procedimento é o estágio inicial de planejamento e corresponde à concepção e à coordenação dos componentes de ação do CSS que compõem o projeto. Para a execução do projeto, a preparação e as ações simplificadas continuarão sendo realizadas por meio do uso de recursos, definição de atores, início e desenvolvimento de atividades. Para concluir as duas últimas etapas, é necessário considerar os fins e meios de um projeto. Os fins referem-se ao objetivo do projeto e aos resultados que ele produz. Os meios, por sua vez, são como tudo se realiza; produtos são as formas pelas quais se realizam as atividades; e insumos são os recursos necessários para gerar os produtos e as atividades. A fonte desses recursosdepende de quem são os colaboradores: instituições brasileiras e países beneficiários, fundos e doações internacionais de países doadores ou recursos de instituições nacionais e internacionais (como organizações multilaterais). Os insumos também envolvem meios estruturais, como equipamentos, e o local de gerenciamento e execução de projetos e atividades relacionadas. Os beneficiários podem ser diretos (participantes ativos do projeto em todas essas etapas) ou indiretos (correspondendo ao efeito multiplicador). A seguir, é apresentado um quadro relacionado a projetos estruturais, mostrando o foco da ação no campo social nas relações do Brasil com os países parceiros na África, nas Américas e na Ásia. Quadro 1 – Projetos estruturantes: África País Título Área 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/15 País Título Área Guiné-Bissau Centro de formação profissional Brasil-Guiné-Bissau/Fase II – Revisão B Educação Cotton-4 (Benin, Burkina Faso, Chade e Mali) Apoio ao desenvolvimento do setor algodoeiro dos países do cotton-4 Agricultura Gana Centro de hemoterapia e doença falciforme Brasil-Gana Saúde Moçambique Capacitação em produção de medicamentos antirretrovirais Saúde Moçambique Implantação do centro de formação profissional Brasil-Moçambique Educação Moçambique Apoio ao desenvolvimento urbano de Moçambique – Fase II Desenvolvimento urbano Moçambique UAB – Moçambique Educação Moçambique Modernização da previdência social de Moçambique Seguridade social São Tomé e Príncipe Centro de formação profissional Brasil-São Tomé e Príncipe Educação São Tomé e Príncipe Apoio ao programa de luta contra a tuberculose em São Tomé e Príncipe Saúde São Tomé e Príncipe Apoio ao desenvolvimento da produção de artesanato em São Tomé e Príncipe – Fases I e II Desenvolvimento social Senegal Apoio ao desenvolvimento da rizicultura no Senegal Agricultura Fonte. Brasil, 2014b. Quadro 2 – Projetos estruturantes: América Latina e Ásia País Título Área Jamaica Centro de formação e capacitação profissional Brasil-Jamaica Educação Paraguai Centro de formação profissional Brasil-Paraguai em Hernandárias – Fase IV Educação Bolívia Centro de formação profissional Brasil-Bolívia Formação profissional Caricom Implantação da plataforma Brasil-Caricom de capacitação em agropecuária Agricultura e segurança alimentar Colômbia Centro de formação profissional Brasil-Colômbia Formação profissional Guatemala Centro de formação profissional Brasil-Guatemala Formação profissional 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/15 País Título Área Haiti Modernização e revitalização do centro de formação profissional Brasil- Haiti Formação profissional Haiti Escola técnica de saúde pública Saúde Haiti Nippes Agrícola Agricultura Timor- Leste Centro de Formação Profissional Brasil – Timor-Leste Formação profissional Fonte: Brasil, 2014b. TEMA 4 – COOPERAÇÃO INTERNACIONAL EM SEGURANÇA CIBERNÉTICA Em 2013, foi revelado por Edward Snowden, ex-membro da Agência Central de Inteligência (CIA) e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), que os sistemas eletrônicos e telefônicos do Brasil eram alvos de espionagem por parte dos Estados Unidos. Com essa ameaça, foi possível perceber que as ações hostis no ciberespaço poderiam apresentar para o exercício de poder dos Estados. O sistema da segurança da informação possui brechas que podem levar ameaças como a prática da espionagem a penetrarem facilmente em seu campo, podendo não somente danificar o sistema de informação em si mas também a vida cotidiana material de muitos cidadãos e do próprio governo. Após o incidente, a relação bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos recuou por algum tempo. No entanto, em 2016, a estratégia usada pelo país brasileiro para superar essa situação foi a cooperação, o intercâmbio de informações e experiências entre os dois países, para permitir que o país ofereça uma resposta mais efetiva aos ataques do ciberespaço. Vale ressaltar que a posição do Brasil a esse respeito é interessante, porque o país entrou em contato com os Estados Unidos para adquirir tecnologia e conhecimento técnico para melhorar suas ferramentas de defesa e segurança, sem o prejuízo de afastamentos (Fagundes et al., 2019). O Memorando de Entendimento (MdE) entre o Brasil e os Estados Unidos é um documento que especifica essas ações cooperativas entre os países (Brasil, 2012). O memorando de entendimento consiste em oito artigos e foi assinado em 8 de abril de 2016 na Flórida, Estados Unidos. As duas partes representadas são a Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos e o Ministério da 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/15 Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. Esse documento representa a formalização e o progresso jurídico sobre questões de segurança cibernética entre os dois países (Fagundes et al., 2019). O Ministério das Relações Exteriores acredita que as iniciativas de cooperação técnica são ferramentas que promovem o desenvolvimento, o treinamento de pessoal e instituições, e levam a mudanças estruturais nas realidades socioeconômicas de seus países de destino (Brasil, 2012). De acordo com o memorando, o seu objetivo é promover a cooperação no campo da cibersegurança, integrando as leis e os regulamentos de cada país (art. 1.1) (Brasil, 2012). O memorando de entendimento não se destina a impor obrigações legais juridicamente vinculativas de acordo com o direito internacional e o direito nacional, e estará subordinado à disponibilidade de fundos e pessoal apropriados das partes (art. 1.2) (Brasil, 2012). Em linhas gerais, o art. 2 (Brasil, 2012) trata da promoção, cooperação e compartilhamento de projetos e parcerias entre instituições e empresas dos dois países para desenvolver melhores estratégias no campo do ciberespaço, políticas públicas e segurança cibernética. O art. 3 (Brasil, 2012) abrange atividades que promovem a cooperação, tais como o lançamento de chamadas conjuntas, o intercâmbio de visitas entre funcionários públicos, técnicos e especialistas; a realização de seminários e workshops, o intercâmbio de pesquisadores para fins educacionais, treinamento e cooperação mútua e outras atividades acordadas. Por sua vez, o art. 4 (Brasil, 2012) estipula que ambas as partes devem trabalhar juntas na preparação, envio e avaliação de chamadas, e a criação e a distribuição da propriedade intelectual fornecida por atividades conjuntas devem estar sujeitas às leis aplicáveis. As despesas arcadas do MdE devem ser suportadas por cada país (art. 5) (Brasil, 2012). Além disso, sem consentimento prévio, nenhuma das partes tem o direito de divulgar informações sobre o memorando de entendimento a terceiros, a menos que as informações sejam incluídas na legislação nacional de uma parte (art. 6) (Brasil, 2012). Quaisquer diferenças possíveis devem ser resolvidas adequadamente entre as duas partes. Por fim, o art. 8 estipula que a cooperação começará após as duas partes assinarem o memorando de entendimento, com um período de cinco anos, a partir de 8 de abril de 2016. No geral, o MdE é consistente com as tentativas do Brasil de promover a cooperação técnica internacional, que é o principal tipo de cooperação realizada no exterior pelo Brasil (IPEA, 2017). 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/15 TEMA 5 – COOPERAÇÃO SUL-SUL: O CASO HAITI A cooperação entre o Brasil e o Haiti é apoiada pelo Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Haiti, promulgado em novembro de 2004. Desde então, cerca de 15 projetos cooperativos foram implementados, além de muitas outras operações humanitárias e de emergência, para promover o desenvolvimento do povo haitiano em diferentes áreas, como agricultura, saúde, infraestrutura, esportes, nutrição, educação e desenvolvimento social(Brasil, 2016). Tendo por princípio a solidariedade na atuação internacional, após o terremoto que afetou o país, a cooperação com o Haiti foi fortalecida em janeiro de 2010. O governo brasileiro está disposto a apoiar o aumento do número de projetos de cooperação no Haiti em um dos momentos mais difíceis de sua história. A diversificação de campos e o aumento do número de agências de cooperação no lado brasileiro comprovam isso, o que tem um impacto positivo na cooperação e fortalece a cooperação com parceiros tradicionais (Brasil, 2016). Em novembro de 2016, o Brasil e o Haiti assinaram um acordo de cooperação técnica para estabelecer um centro de treinamento profissional nos no país, nos moldes das escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). De acordo com o acordo assinado pelo SENAI, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Governo do Haiti, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o país teria a expertise do Brasil para qualificar profissionais que seriam importantes para a reconstrução do país, atingido naquele ano por um furacão (Senai, 2016). A cooperação promove a introdução do emprego e o empreendedorismo no Haiti, que é a base necessária para garantir a reconstrução sustentável do país. Em 2010, as Nações Unidas investiram um total de US$ 17 milhões no Fundo de Reconstrução do Haiti, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Banco Mundial, quando o país foi destruído por um terremoto, matando 200.000 pessoas e causando perdas de mais de US$ 10 bilhões (Senai, 2016). A agenda internacional do Senai possui três pontos principais nessa parceria: a transferência de tecnologia internacional para apoiar a agenda da indústria por meio de inovação e novas tecnologias educacionais; a promoção da cooperação Sul-Sul; e a prestação de serviços internacionais. O projeto foi implementado pelo departamento regional do Senai no Rio Grande do Sul, e as áreas de 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/15 treinamento incluem ocupações com alta empregabilidade e necessidades econômicas locais, como construção civil, costura, energia de construção, marcenaria, mecânica automotiva e de motocicletas e metalurgia (Senai, 2016). NA PRÁTICA Para saber mais sobre as origens da Cooperação Sul-Sul, pesquise mais sobre a Conferência de Bandung, ocorrida em 1955. O início desse movimento ocorreu durante a Guerra Fria, quando os países que estavam insatisfeitos com as disputas dos países do Norte começaram a se aproximar. Eles não coincidem necessariamente com a disputa entre o capitalismo e o socialismo, mas tentam advogar a independência do processo de descolonização e do processo de desenvolvimento correspondente à própria realidade. Após a Conferência de Bandung, em 1955, vários países começaram a se reunir para formar essa nova forma de cooperação. Nesta reunião, realizada apenas entre 29 países da África e Ásia e cerca de 30 movimentos coloniais de libertação nacional, os dez princípios de Bandung foram assinados. Entre eles, estão explicitados os princípios de não interferência, não alinhamento e a necessidade de uma expressão clara para reduzir a desigualdade no sistema internacional. FINALIZANDO Nesta aula, analisamos os principais conceitos e práticas relacionados à cooperação internacional, com foco na cooperação em ciência e tecnologia e cooperação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, e na cooperação Sul-Sul entre países em desenvolvimento. Além disso, observamos as informações sobre suas modalidades, parcerias, e introduzimos a relevância do papel do Brasil nesse setor. Também verificamos os métodos e regiões de cooperação em que o país desempenha um papel de destaque. Por fim, estudamos dois casos de cooperação internacional que o Brasil realiza. O primeiro deles é consolidado em parceria com os Estados Unidos, que promove a cooperação no campo da cibersegurança. Já a cooperação com o governo do Haiti promove, por meio da educação, a qualificação de profissionais que são importantes para a reconstrução do país. 10/12/2021 12:42 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/15 REFERÊNCIAS ANPG – Associação Nacional de Pós-Graduandos. Avança cooperação entre Brasil e Estados Unidos em segurança cibernética. ANPG, 15 abr. 2016. Disponível em: <http://www.anpg.org.br/15/04/2016/avanca-cooperacao-entre-brasil-e-estados-unidos-em- seguranca-cibernetica/>. Acesso em: 4 set. 2020. BAUMANN, R. Cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional. Brasília: Ipea, 2013. BRASIL. Decreto n. 19.841, de 22 de outubro de 1945. Coleção de Leis do Brasil, 1945. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Agência Brasileira de Cooperação. Manual de gestão da cooperação técnica Sul-Sul. Brasília: ABC, 2013. Disponível em: <http://www.abc.gov.br/ Content/ABC/docs/Manual_SulSul_v4.pdf>. Acesso em: 4 set. 2020. _____. Cooperação trilateral com organismo internacional. Agência Brasileira de Cooperação, 2014a. Disponível em: <http://www.abc.gov.br/Gestao/TrilateralOrganismo> _____. Projetos estruturantes. Agência Brasileira de Cooperação, 2014b. Disponível em: <http://www.abc.gov.br/Gestao/ProjetosEstruturantes>. Acesso em: 4 set. 2020. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Atos assinados por ocasião da visita da Presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos da América – Washington, 9 de abril de 2012. MRE, 9 abr. 2012. Disponível em: <encurtador.com.br/hrGPZ>. Acesso em: 4 set. 2020. FAGUNDES, G. H. G. et al. A cooperação internacional entre Brasil e Estados Unidos em matéria de segurança e defesa cibernética. In: XVI CONGRESSO ACADÊMICO SOBRE DEFESA NACIONAL, 2019, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2019. 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