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GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC espondilite anquilosante ✦ “Espôndilo” significa vértebra e “anquilose“ significa fusão. Assim, o termo espondilite anquilosante (EPA) traduz inflamação + fusão vertebral. Entretanto, apesar de característica, a fusão da coluna vertebral surge apenas em estados avançados da doença. ✦ É uma doença inflamatória que envolve essencialmente o esqueleto axial, oligoartrite (envolvimento de menos de 4 articulações, geralmente pegando grandes articulações... menor frequência na espondilite anquilosante), dactilite (dedo em salsicha) e entesite (inflamação no local de inserção de tendões e ligamentos). ✦ É caracterizada por um processo inflamatório acompanhado de neoformação óssea -> sindesmófito. ✦ Acomete inicialmente a articulação sacroilíaca e em geral tem padrão ascendente (começa na sacroiliaca em região lombar, depois ascende pegando dorsal torácica, cervical...). Mas o mais importante, o marco da espondilite anquilosante é o acometimento da sacroiliaca. ✦ DICIONÁRIO 1: O sindesmófito refere-se a uma ossificação paravertebral que assemelha a um osteófito, exceto pela orientação vertical, enquanto o osteófito tem sua orientação no eixo horizontal. ... O sindesmófito tem a sua origem na borda ou margem de um corpo vertebral e estende-se até a margem do corpo vertebral adjacente. ✦ DICIONÁRIO 2: O grupo das espondiloartropatias soronegativas (como a espondilite anquilosante) possui uma característica em comum muito importante: a entesite. Trata-se de uma lesão que acomete as ênteses – como vimos: inserções ósseas de ligamentos, tendões, aponeuroses e cápsulas articulares. EPIDEMIOLOGIA ✦ Prevalência nos caucasianos é de 0,5 a 2%. ✦ Predominam em homens (3:1), com pico de incidência no início da vida adulta (média = 23 anos). O início após os 40 anos é incomum (5% dos casos). ✦ É uma doença silenciosa, por isso se faz o diagnóstico tardio. FISIOPATOLOGIA ✦ As articulações mais acometidas são aquela de natureza “ligamentar”, como as do quadril e da coluna vertebral. A articulação mais precocemente (e caracteristicamente) envolvida é a sacroilíaca. ✦ A doença tem relação com hereditariedade, > 90% com herança oligogênica (poucos genes envolvidos). ✦ HLAB27 presente em 90% dos casos (em pacientes com HLAB27 positivos o risco de desenvolver EPA é de 2 – 5%, ou seja, não adianta pedir HLAB27 para quem não tem clínica, pois o exame pode ser positivo e não significar nada). ✦ Na EPA teremos comprometimento ascendente com formação de pontes de sindesmófitos (como nas setas da imagem abaixo... o sindesmófito é essa ponte óssea criada entre as vertebras que com o tempo vai inibir a mobilidade da coluna). ✦ Teremos ossificação do ligamento longitudinal anterior e fusão adas interapofisária -> formação da coluna em “bambu”. Nesse momento, a postura adotada pelo paciente é inconfundível, com cifose exagerada e perda da lordose lombar fisiológica (posição de esquiador) ... porém ressalto que para chegar a esse nível da coluna em “bambu” que seria essa fusão completa da coluna, demora muito tempo. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Ponte óssea entre as vertebras, veja nas setas. Ossificação anterior e posterior ligando as vertebras, fica difícil a mobilidade da coluna. FATORES GENÉTICOS E AMBIENTAIS ✦ Envolvimento da resposta Th17, IL23 e IL17. ✦ Essa cascata demonstra desde fatores precipitantes (stress biomecânico, HLAB27 e microbioma intestinal) até as alterações imunobiológicas que levam ao mesmo tempo um processo inflamatório, proliferação e perda óssea, levando ao risco de fratura óssea com o passar do tempo. QUADRO CLÍNICO ✦ O primeiro sintoma costuma ser a dor lombar (pela sacroileíte), tipicamente unilateral (pelo menos no início), insidiosa e profunda (pode referir como dor nas nádegas), acompanhada de rigidez matinal ou após longos períodos de inatividade. Essa rigidez melhora com as atividades físicas, mas retorna tão logo o doente volte a permanecer em repouso... Passados alguns meses, muitos pacientes evoluem com piora da dor, que se torna bilateral e persistente, podendo apresentar exacerbações durante o repouso noturno de modo a obrigar o paciente a se levantar para aliviá-la. Observa-se também uma redução na amplitude de movimento da coluna lombar, especialmente nos planos anteroposterior e laterolateral. ✦ OBS: a rigidez matinal e a dor em repouso podem ser explicadas pelo acúmulo de células inflamatórias nas regiões acometidas pela doença, então o que acontece é que GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC durante o sono você vai acumulando células inflamatórias nas articulações e quando você acorda de manhã, como está cheio de células inflamatórias ali naquela articulação, aí dói e causa rigidez... com a movimentação, você acaba “drenando” essas células e a dor a rigidez vai melhorando. ✦ Presença de hipersensibilidade óssea (refletindo a existência de entesite/osteíte subjacente). Nos locais acometidos pelo processo inflamatório, a digitopressão costuma desencadear dor! ✦ Achados menos comuns: dor torácica > 40 % (comprometimento de coluna torácica); entesite (avaliar principalmente o tendão de aquiles) e dactilite; uveíte anterior aguda; oligoartrite de grandes articulações. TESTE DE SCHOBER ✦ Com o paciente de pé marca-se a apófise espinhosa da 5 ª vértebra lombar e traça-se outra marca horizontal 10 cm acima dela. Solicita-se então que o paciente faça uma flexão da coluna. Em condições normais, as duas marcas devem ficar a mais de 15 cm de distância (aumento de 5 cm ou mais da distância na posição ereta). Aumentos inferiores a 4 cm indicam comprometimento funcional da coluna lombar. TESTE DE FABERE ✦ Com o paciente em decúbito dorsal (posição supina), o joelho do lado testado é flexionado noventa graus e o pé é apoiado sobre o joelho da perna oposta. Segurando a pelve firmemente contra a mesa de exame, o joelho testado é empurrado em direção à mesa, realizando, portanto, rotação externa e abdução da coxa na articulação do quadril. Nesse caso da imagem, se o paciente tiver nessa posição e referir dor no lado direito, é sacroileíte e o exame é positivo para EPA, mas se referir no lado esquerdo, é algum outro problema de quadril. Em resumo, e a dor for referida na região inguinal, pode haver patologia na articulação do quadril; caso a dor seja referida na região posterior, pode haver patologia na articulação sacro-ilíaca. COMO DIFERENCIAR DOR LOMBAR INFLAMATÓRIA X MECÂNICA ✦ Essa é a postura que o paciente com EPA avançada apresenta, chamada de sinal da seta ou do esquiador (desvia o eixo do corpo). Nessa fase aí, o paciente começa a se mexer em bloco. OBS: EPA não mata, mas deixa incapaz. EXAMES SOLICITADOS ✦ Fator reumatoide (vai ser negativo porque é uma doença soronegativa). ✦ PCR e VHS (provas inflamatórias). ✦ Investigação infecciosa que pode cursar com quadro parecido: HIV, gonococo e sorologias virais. ✦ HLAB27. ✦ RX de sacroiliacas (técnica Ferguson - há uma angulação cefálica do feixe de raio-X permitindo uma melhor visualização das articulações sacro-ilíacas) e coluna. ✦ RNM de sacroiliacas. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ A primeira imagem a esquerda é de uma bacia normal, veja o desenho da sacro-ilíaca com a demarcação em azul. A segunda imagem à direita a gente não vê nada, houve fusão óssea, é o grau IV da sacroileite, o grau máximo da EPA. ✦ Essa imagem é só para diferenciar osteófito (comum em artrose de coluna, artrite psoriasíca e várias outras patologias) e sindesmófito (é mais comum e característico da EPA). O osteófito o crescimento ósseo é horizontal, ao passo que no sindesmófito é vertical, unindo as vertebras. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ✦ Ileite condensante. ✦ Hiperparatireoidismo. ✦ Gota tofácea. ✦ Osteoartrose. ✦ Infecciosa (S. aureus, TB, sífilis e brucelose). ✦ Lombociatalgia. ✦ Pseudogota.✦ DISH (doença de ossificação da coluna caracterizado por osteofitos seriados, que acabam fundindo as vertebras por conta disso). ✦ Fibromialgia. PARA AJUDAR NO DIAGNÓSTICO... GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO DE ESPONDILOARTRITE AXIAL SEGUNDO A ASAS (2009) ✦ É uma classificação para critério diagnóstico. TRATAMENTO ✦ NÃO FARMACOLÓGICO: Os pacientes devem ser encorajados a manter uma postura ereta, a dormir em decúbito dorsal em colchão firme e a praticar exercícios físicos regulares de baixo impacto, como a natação. É importante uma abordagem multiprofissional, principalmente com tratamento fisioterápico. Exercícios respiratórios visam a conservação ou aumento da expansibilidade torácica. Para se evitar complicações pulmonares, os pacientes não devem fumar, pois já possuem, em geral, uma expansibilidade torácica reduzida. ✦ FAMARCOLÓGICO - AINEs (por incrível que pareça os AINEs eles evitam a progressão dos sindemosfitos, porém a gente não pode fazer uso crônico dos anti-inflamatórios em razão dos seus efeitos colaterais com uso crônico). - DMARD (drogas antirreumáticas modificadores de doença) sintético (a depender de acometimento). ✦ Biológicos: anti TNF e anti-IL17 -> secukinumabe. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC SEGUIMENTO ✦ BASFI, BASMI e BASDAI são scores, calculadoras que a gente encontra na internet. O BASFI para avaliar função e BASMI avaliar mobilidade (essas 7 medidas de expansão torácica, schober modificado... faz parte do BASMI).
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