Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC regurgitação do lactente (refluxo gastroesofágico fisiológico) e drge DEFINIÇÃO ✦ O refluxo gastroesofágico (RGE) é caracterizado pelo retorno de conteúdo gástrico para o esôfago, atingindo, algumas vezes, a faringe, a boca e as vias aéreas superiores. O RGE é, em geral, um processo fisiológico normal que ocorre várias vezes por dia em todas as pessoas saudáveis, independentemente da idade. Assim, episódios de RGE ocorrem em indivíduos saudáveis, com duração menor que 3 minutos, principalmente no período pós-prandial. Normalmente não causa incômodo ou repercussão nos hábitos de sono. ✦ OBS: a diferença básica entre regurgitação e vômito é a seguinte... vômito envolve o aparecimento de náuseas (no bebê a mãe vai referir que a criança fica engunhando) e de esforço de musculatura para que o processo ocorra. Já a regurgitação não, não tem náuseas e nem esforço nenhum, acontece de forma espontânea, fisiológico. ✦ Na pediatria quando a criança é pequeninha, existe uma dificuldade em diferenciar a RGE que é fisiológica da DRGE, principalmente os pais. Lembrando também que há uma variabilidade clínica, pois a criança pode manifestar tanto sintomas típicos quanto atípicos da DRGE. ✦ Existem exames diagnósticos específicos, mas que só são utilizados se houver sinais de alarme com suspeita para DRGE. ✦ A utilização de medicamentos é controverso na pediatria para tratar essas crianças. . . . ✦ No lactente, é muito frequente, o RGE fisiológico acompanhar-se de regurgitações ou “golfadas” (nós classificamos como regurgitadores felizes ou golfadores felizes porque são crianças que não são irritadas, sem alteração de redução de peso, sem nenhum sinal de alarme que a gente se preocupe). Trata-se de um distúrbio funcional gastrintestinal transitório e dependente da imaturidade funcional do aparelho digestivo no primeiro ano de vida. ✦ O refluxo fisiológico está incluído entre os distúrbios gastrintestinais funcionais e são recomendados critérios diagnósticos clínicos específicos nos critérios de Roma (Roma IV). ✦ Afeta até 60% de todos os lactentes e inicia-se antes de 8 semanas de vida. Geralmente se inicia a partir da 3ª semana de vida, 5% dos lactentes têm seis ou mais episódios de regurgitação por dia e tem seu pico em quantidade de regurgitações e volume entre o 2º e 4º mês de vida e, posteriormente, diminuem progressivamente com o aumento de idade, sendo que 90% a 95% dos casos resolvem até o primeiro ano de vida. Dessa forma, devemos acender um alerta quando para algo patológico quando essas regurgitações acontecem logo na primeira semana de vida ou só aparece lá para depois do 6º mês de vida ou se perdurar depois de 1 ano de vida (por isso é importante saber a cronologia que envolve a regurgitação para ajudar no raciocínio diagnóstico de algo patológico ou fisiológico). CRITÉRIOS DE ROMA IV ✦ Desaceleração ou déficit de ganho ponderal, irritabilidade, choro excessivo, dificuldade de sono e recusa alimentar são os principais sinais de alarme que nos chamam atenção para uma causa patológica da regurgitação. Podem apresentar postura anormal com hiper-extensão da cabeça com rotação lateral para alívio dos sintomas, que devem ser diferenciadas do sinal neurológico de opistótono. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Vale ressaltar inclusive que os pacientes que não possuem sinal de alarme, não necessitam de investigação complementar, visto que o diagnóstico da regurgitação fisiológica é clínico. . . . . ✦ Devemos pesquisar anormalidades anatômicas do TGI superior (obstrução gástrica ou má-rotação) quando houver regurgitações e vômitos desde o início do período neonatal ou após o primeiro ano de vida, além de associação de vômitos biliosos. ✦ Essa questão da regurgitação gera muita ansiedade nos pais e cuidadores, porém devemos acalmar a família e informar que o desconforto da criança é passageiro. Então as vezes a criança chora muito, um choro incontrolável, mas isso pode ser só cólica que é normal porque não podemos nos basear unicamente no choro para determinar um refluxo patológico. As vezes a criança apresenta eructações também, mas que pode ser normal também. Agora, se apresenta choro junto com outros sinais de alarme para DRGE (como diminuição da aceitação alimentar e ganho ponderal inadequado), vamos pensar logo em algo patológico e aí investigar (esse choro, pensando que pode ser algo patológico, alguns estudos associam a esofagite). ✦ O diagnóstico diferencial entre regurgitação do lactente e DRGE muitas vezes não é fácil, principalmente no lactente com choro intenso como principal sintoma associado ou irritabilidade ou sono intranquilo. Nestas situações, quando ainda é mantida, boa aceitação alimentar e ganho ponderal adequado, o diagnóstico pende para o RGE fisiológico. APRESENTAÇÃO CLÍNICA DA DRGE ✦ Em lactente é mais difícil de estabelecer o diagnóstico porque tudo é muito subjetivo. Geralmente apresentam choro o dia todo, bota no peito e não quer mamar, tem alteração do sono, entre outros, mas a gente tem que ter cuidado ao avaliar essas manifestações inespecíficas porque é tudo subjetivo. No caso da criança maiorzinha, a gente consegue identificar mais fácil porque elas conseguem referir... os principais sintomas extra esofágicos envolvem pigarro, tosse, odinofagia (mas tem outros, claro). ✦ A prevalência da DRGE na faixa etária pediátrica não está bem determinada. Vale ressaltar que a frequência de regurgitação fisiológica do lactente é muito maior que a da DRGE (tem a questão que muitas vezes DRGE é falsamente diagnosticada diante da difícil separação). Foram descritos alguns grupos de risco para o desenvolvimento da DRGE e suas complicações: 1) doenças neurológicas (principalmente pela hipomotilidade, até mesmo por uso de medicamentos para tratamento da condição); 2) prematuridade (imaturidade do TGI); 3) obesidade (aumento da pressão intra-abdominal); 4) fibrose cística ou displasia broncopulmonar (associado ao aumento da GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC pressão intra-abdominal... estamos diante de um “tossidor” crônico); 5) antecedente familiar de DRGE e 6) malformações congênitas do trato gastrintestinal alto (hérnia hiatal, hérnia diafragmática, atresia esofágica, fístula traqueoesofágica). ETIOPATOGENIA DA DRGE ✦ A etiopatogenia da DRGE é multifatorial e envolve vários mecanismos intrínsecos ou não. Fatores que possam prejudicar a competência dos mecanismos anti–RGE (anatômicos ou não – como mecanismo de tamponamento, depuração e etc.), favorecem a ocorrência de relaxamentos transitórios do esfíncter esofagiano inferior (RTEEI). Esse é considerado o principal fator na etiopatogênese da DRGE. Vale lembrar que todo mundo tem um relaxamento do EEI e isso é normal, mas as pessoas que tem DRGE tem esse relaxamento aumentado. ✦ O RTEEI ocorre fisiologicamente após uma deglutição, sendo um reflexo normal após distensão do estômago, através de estímulos vagais. Alterações em vários mecanismos anti-RGE permitem que os episódios de RGE ocasionem a DRGE, entre os quais; depuração insuficiente e tamponamento do ácido pela salivação (existem neuropatas que não conseguem engolir a saliva e a saliva tem caráter básico o que favorece o tamponamento do ácido, então acaba perdendo esse fator protetor também... e ainda sobre neuropatas, existem alguns medicamentos que diminuem o próprio tônus do esfincter), esvaziamento gástrico retardado, anormalidades na cicatrização epitelial do esôfago, diminuição dos reflexos neurais de proteção do trato digestivo e sistema respiratório. A distensão gástrica ou acomodação inadequada do fundo gástrico também aumentam a ocorrência dos RTEEI. O sono, pela redução de salivação, do tônus do EEI e deglutição, bem como a postura deitada nas crianças pequenas podem ser fatores agravantes que aumentam igualmente o número dos RTEEI.✦ OBS: Tabagismo passivo também favorece. DIAGNÓSTICO ✦ A diferenciação de RGE fisiológica e DRGE é clínica, através da história e do exame clínico minucioso. Então se é uma criança que come bem, é tranquila, ganha peso bem, a mãe chega no consultório com a cara boa, é uma criança que não apresenta náuseas, sem apneia, vou pensar que essa regurgitação é fisiológica. Mas se está com regurgitação e fatores de risco/alarme, eu tenho que ficar ligado em algo patológico e investigar, principalmente se eu perceber sinais de complicações (intervenção terapêutica, investigação laboratorial, radiológica e/ou endoscópica). → Pacientes com atresia esofágica corrigida ou neuropatas podem apresentar dismotilidade esofágica e consequentemente menor depuração esofágica e disfunção do EEI. → Nas doenças respiratórias crônicas, com destaque à fibrose cística, a tosse crônica, a asma e a disfunção respiratória ocasionam aumento da pressão intra- abdominal e disfunção do EEI que ocasionam DRGE. ... ✦ Para o diagnóstico de DRGE, além da avaliação clínica, o arsenal propedêutico é grande. O exame ideal deverá documentar a ocorrência de RGE, detectar suas complicações, estabelecer uma relação causa-efeito entre RGE e sintomas. Atualmente nenhum teste isolado preenche todas essas características ao mesmo tempo. Cada exame avalia diferentes aspectos do RGE. Portanto, é compreensível que a correlação entre os diferentes exames complementares seja pobre. Basicamente, a endoscopia identifica claramente esofagites, a pHmetria mede o RGE ácido e a impedanciometria intraluminal (II) detecta todos os tipos de RGE, independentemente do pH. Então enquanto a pHmetria dá o diagnóstico da DRGE quando pH < 4 e não ver complicação, a EDA não dá diagnóstico, mas visualiza complicação. EREED ✦ O exame radiológico contrastado de esôfago, estômago e duodeno (EREED) é importante para diagnosticar anormalidades estruturais anatômicas que podem causar sintomas similares aos da DRGE, como hérnia, megaesôfago, estenose e volvo. Pode ser útil na avaliação do esvaziamento gástrico. USG ABDOMINAL ✦ A USG abdominal tem baixa sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da DRGE. Avalia apenas o refluxo pós- prandial, sob pressão da parede abdominal, não GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC diferenciando o refluxo fisiológico da DRGE. É útil, principalmente, para o diagnóstico de estenose hipertrófica de piloro e má-rotação intestinal se a gente pensar no contexto de emergência. Mas em resumo, USG não serve para investigar nada em DRGE... o cara vai lá fazer o exame e aperta o transdutor na barriga da criança que acabou de ser amamentada, a criança vai apresentar regurgitação pós-prandial e a USG vai documentar isso e pronto, fim. Então não pedimos USG. CINTILOGRAFIA GASTROESOFÁGICA ✦ Avalia o esvaziamento gástrico (indicado para pacientes com sintomas de retenção gástrica). Detecta aspiração pulmonar em pacientes com sintomas respiratórios crônicos e refratários (microaspirações). Tem baixa sensibilidade e especificidade, não sendo recomendado como método de rotina para diagnóstico e seguimento de lactentes e crianças com DRGE. PHMETRIA ESOFÁGICA DE 24 HORAS ✦ A pHmetria esofágica de 24 horas consiste no registro contínuo do pH intra-esofágico, quantifica a frequência e a duração dos episódios de RGE e o tempo total de exposição ácida do esôfago naquele período analisado. ✦ Os principais parâmetros utilizados para avaliar a pHmetria esofágica são: o índice de refluxo (tempo com pH baixo de 4,0 sobre o tempo total estudado); o número total de episódios; o número de episódios com duração maior que 5 minutos e a duração do episódio mais longo. ✦ Suas principais indicações: 1) avaliação dos sintomas atípicos ou extra-esofagianos; 2) avaliação da resposta ao tratamento dos pacientes não-responsivos na prática e 3) análise pré- e pós-cirúrgica (como esse de fundoplicatura). ✦ OBS: Fundoplicatura laparoscópica → implica na correção de hérnias hiatais e na criação de uma válvula unidirecional, utilizando a superfície posterior do fundo gástrico ao redor do esôfago distal. ✦ PHMETRIA foi considerada como padrão-ouro para o diagnóstico da DRGE, porém nos últimos anos muitos estudos demonstraram a sua limitação por detectar apenas refluxos ácidos (pH <4), deixando de observar os refluxos fracamente ácidos ou alcalinos (existem muitos bebês com refluxo que o conteúdo é alcalino ou fracamente ácido e aí a pHmetria não consegue apontar). IMPEDANCIOMETRIA INTRALUMINAL ESOFÁGICA ✦ O método mais recente e promissor, uma vez que, detecta o movimento do conteúdo intraluminal, tanto de sólidos, líquidos ou gasosos, identificando refluxos ácidos, fracamente ácidos e não ácidos. Além da extensão e tempo de duração do refluxo. Ainda não é usada rotineiramente, pois não há definição dos padrões de normalidade para as diferentes faixas etárias pediátricas (então a gente faz o exame e não sabe o que está vendo, se é patológico ou não, já que não tem parâmetros). ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA ✦ Avalia diretamente a mucosa esofágica e está indicada principalmente para identificar os casos de esofagite. Em pediatria, deve sempre estar associada à biópsia do esôfago distal para diferenciar a DRGE de outras causas, como a esofagite eosinofilia (só vista pela microscopia) e o esôfago de Barrett. ✦ A EDA eu quero ver complicação... as vezes é um paciente que não responde a terapêutica e aí você usa a EDA em busca de resposta. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC DIAGNOSTICO DIFERENCIAL ✦ Nem sempre que o paciente vomita é por uma causa gastrointestinal, pode ser uma causa extra também. ✦ ATENÇÃO: regurgitação/vômitos iniciados após 6 meses de vida e que perdura após 12 – 18 meses. TRATAMENTO PARA REFLUXO FISIOLÓGICO LACTENTE ✦ As regurgitações do lactente tendem a decrescer, no que tange ao número e ao volume, a partir dos seis meses de idade com resolução espontânea ao final do primeiro ano. ✦ Orientação e apoio aos familiares são os princípios fundamentais do tratamento (é a medida primordial e primária). A compreensão pelos pais de que se trata de uma manifestação transitória inócua pode aumentar a segurança e reduzir a tensão e estresse. Deve-se enfatizar aos familiares, que não se faz necessário intervenção medicamentosa para o controle dos sinais e sintomas. MEDIDAS COMO: 1) exposição passiva ao fumo na presença do lactente deve ser coibida, uma vez que a nicotina diminui a pressão no EEI dos mesmos e facilita a ocorrência de maior número de episódios de refluxo gastroesofágico; 2) orientação postural, o lactente deve ser mantido em posição vertical pelo período de 20 a 30 minutos após a mamada, o que facilita a eructação e o esvaziamento gástrico, diminuindo os eventos de regurgitação. Nos períodos de sono, o lactente deve permanecer em decúbito supino (dorsal), com a elevação da cabeceira entre 30 e 40 graus, pois as posições em decúbito lateral e/ou prona associam-se com maior risco de ocorrência de morte súbita. 3) lactentes em aleitamento materno, mantém-se as mamadas por livre demanda, corrigindo apenas erros técnicos de amamentação, que incluem tempo muito prolongado de sucção não nutritiva (se o lactente ficar “comendo” ar ele vai aumentar o volume gástrico e facilitar o refluxo). Orientações a respeito de postura pós-mamada, espessamento de fórmula e fracionamento de dieta podem trazer benefícios em pelo menos 60% dos casos leves e moderados de regurgitação do lactente, com a vantagem de não expor os pacientes aos efeitos colaterais do tratamento medicamentoso. 4) lactentes que não estão em mamadas por livre demanda e utilizam fórmulas, podem usar fórmulas AR (anti- regurgitação) espessadas com carboidratos digeríveis à base de arroz, milho, batata ou com carboidratos não digeríveis (alfarroba/jataí). O princípio básico das fórmulas à base decarboidratos digeríveis consiste na redução de aproximadamente 24% no teor de lactose, acrescentando- se em contrapartida, o mesmo teor de amido. OBS: se o GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC lactente tiver tomando fórmula, a gente vai tentar mudar a fórmula AR, mas se ele tiver só no peito, a gente não muda nada, deixo o menino mamar nos peitos da cabritinha. TRATAMENTO DRGE ✦ Ao considerar a ocorrência em lactentes de DRGE, tem-se como sintomas frequentemente presentes, recusa alimentar, extrema irritabilidade e desaceleração no ganho ponderal. Como primeira medida de intervenção, preconiza-se a exclusão da proteína do leite de vaca na dieta alimentar, pois o diagnóstico diferencial destas duas condições pode ser difícil em lactentes jovens. ✦ A exclusão das proteínas do leite de vaca justifica-se pelo fato de que os sintomas decorrentes de alergia se sobrepõem aos da DRGE comumente, sendo difícil distinguir clinicamente, as duas situações. Alguns autores, afirmam que em 40% desses casos, a causa básica é a alergia. Dados como dermatite atópica, história de alergia alimentar na família e presença de sangue oculto nas fezes podem reforçar esta hipótese. ✦ RESUMINDO: se a criança não está respondendo bem ao tratamento imposto pensando em refluxo fisiológico, a gente vai começar a pensar em DRGE e APLV (alergia a proteína da vaca) já que são duas condições difíceis de se distinguir, então o próximo passo ver se retirando o leite de vaca da dieta da criança ela melhora, caso sim, vamos pensar em APLV, caso não, vamos pensar só em DRGE. Faremos então: 1) Nos casos em aleitamento natural exclusivo, deve ser retirado o leite de vaca e derivados da dieta da nutriz pelo prazo de 2 a 4 semanas; 2) Fórmulas à base de leite de vaca incluído as AR: exclusão das proteínas do leite de vaca e introdução de fórmulas extensamente hidrolisadas da proteína ou à base de aminoácidos (não usar soja). Lembrando que utilizamos essa medida da restrição do leite antes de iniciar tratamento medicamentoso para DRGE. FARMACOLÓGICO ✦ Estudos mostram que refluxos fracamente ácidos não possuem tratamento eficaz. ✦ Muitos lactentes respondem às medidas não farmacológicas e/ou substituição das fórmulas em 2 - 4 semanas (78%). Quando não respondem, aí são os casos mais graves e entramos com o tratamento medicamentoso. ✦ O tratamento farmacológico deve ser reservado aos pacientes com DRGE nos quais os sintomas são mais graves e com dados de dificuldade alimentar, desaceleração do ganho ponderal e/ou com comprovação de esofagite no exame endoscópico, incluindo dados de biópsia. É mais raro, no contexto de lactentes nos primeiros meses de vida, o encontro de esofagite erosiva, a não ser nos casos acompanhados de comorbidades, tais como: atresia de esôfago, doenças neuromusculares, fibrose cística ou doença respiratória crônica. PROCINÉTICOS ✦ O emprego dessas medicações está baseado na capacidade destas drogas de aumentar o tônus do EEI, melhorar o clearance esofágico e promover aceleração do esvaziamento gástrico. ✦ Há um grupo de pacientes com RGE que apresenta melhora, no que tange a ocorrência de regurgitações e vômitos, porém, quando se toma os dados relativos à pHmetria esofágica, não se comprova ação consistente na redução do número e duração dos refluxos ácidos. Procinéticos não devem ser prescritos de rotina. ✦ OBS: os dois próximos medicamentos (metoclopramida e domperidona são procinéticos). METOCLOPRAMIDA ✦ Acelera esvaziamento gástrico → Aumenta pressão do EEI → diminui a ocorrência de regurgitações e vômitos. ✦ Elevada frequência de efeitos colaterais (>30%): irritabilidade, sonolência excessiva e sinais extrapiramidais. ✦ Dose tóxica é próxima da dose terapêutica. ✦ Retirada do mercado brasileiro. ✦ Bromoprida: similar à metoclopramida em efeitos colaterais. DOMPERIDONA ✦ Anti-dopaminérgica com efeito procinético moderado. ✦ Ação moderada na redução de alguns sintomas. ✦ Sem ação quanto ao número e duração dos refluxos ácidos. ✦ Efeitos colaterais: 1) Cólicas e irritabilidade excessiva; 2) Prolongamento do intervalo QT no ECG (4,2%). ✦ Uso individualizado em casos selecionados: bradigastria, por curto tempo (nesse caso, com bradigastria, a gente pode usar esse medicamento em associação com IBP). ANTIÁCIDO - IBP ✦ Ligação irreversível aos receptores da célula parietal → bloqueia secreção da bomba de próton H-K ATPase. ✦ O bloqueio da secreção ácida dos IBP mantém o pH intragástrico acima de 4. Há um efeito adicional de diminuição do volume do conteúdo gástrico e do material refluído. Excluir leite de vaca da dieta materna ou formula extensamente hidrolisada→ 2 a 4 semanas → reavaliar → não respondedores: tratamento antiácido (4-8 semanas) GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Metabolização hepática similar no citocromo hepático: crianças devemos fazer doses maiores, pois metabolização hepática é mais rápida (em adulto a gente usa geralmente 20 mg, em criança podemos chegar até a 80 mg). ✦ São indicados quando houver esofagite erosiva, estenose péptica do esôfago ou esôfago de Barrett, condições incomuns em lactentes. São igualmente selecionados para o uso em pacientes neurológicos ou com de doença respiratória crônica associada à DRGE. Geralmente usamos o esomeprazol e o omeprazol. ✦ Reações idiossincrásicas são relativamente comuns e ocorrem em aproximadamente 14% dos pacientes e incluem: cefaleia, constipação, diarreia, cólicas abdominais e náuseas. ✦ A hipergastrinemia pode gerar o aparecimento de pólipos gástricos que exigem monitorização ao longo do tempo. ✦ A hipocloridria decorrente do tratamento predispõe à ocorrência de pneumonia, gastroenterite, candidíase e enterite necrosante no prematuro. ✦ No uso crônico de IBP, recomenda-se monitorar os níveis de vitamina B12, ferro e verificar ocorrência de osteoporose. Maiores riscos de Clostridium difficile, sobre crescimento bacteriano do intestino delgado, diarreia crônica. Então a utilização do IBP depende muito de caso a caso, mas geralmente é prescrito por 4 a 8 semanas e logo depois a gente começa o desmame. SOBRE USO ✦ A FDA preconiza o uso de omeprazol e esomeprazol para maiores de 1 mês de idade com quadro comprovado de esofagite (apesar dessa preconização, a gente usa também em menorzinhos). ✦ IBP: ácido lábil (grânulos ou comprimidos → invólucro ácido-resistente) – princípio ativo liberado no duodeno → enterócito → circulação portal. O que isso quer dizer? Que não pode abrir as cápsulas porque senão você não terá efeito do medicamento, a cápsula foi criada propriamente para ultrapassar a acidez gástrica. ✦ Soluções líquidas manipuladas: sem estabilidade! ✦ Melhor forma: comprimido dispersível (MUPS – multiple unit pellet system) ácido-resistentes dispersivel em meio liquido. ✦ Administração: pela manhã, em jejum, 30 minutos antes das refeições. ✦ Dose do omeprazol: 0,7 - 3,5 mg/ kg/dia (reforço de secreção ácida noturna: fracionar dose). ✦ Redução dos IBP: gradual (efeito rebote → níveis elevados de gastrina → aumento de secreção ácida pelas células parietais) ... então a retirada deve ser gradual para evitar efeito rebote. MEDIDAS GERAIS ✦ Redução do peso em obesos. ✦ Decúbito elevado durante o sono noturno. ✦ Evitar refeições antes de deitar. ✦ Adolescentes: evitar fumar e bebidas alcóolicas (diminuem pressão no EEI e aumentam número de refluxos) ✦ Alimentação: diminuir ingestão de chocolates, alimentos apimentados, refrigerantes, bebidas cafeinadas, frituras ou alimentos muito gordurosos (diminuem a pressão do EEI e/ou reduzem tempo de esvaziamento gástrico), pioram os sintomas da DRGE. ✦ Sucos ácidos: avaliar individualmente. TRATAMENTO DRGE: CRIANÇAS MAIORES E ADOLESCENTES PROCINÉTICOS ✦ Sem ação no tratamento da DRGE. ✦ Metoclopramida e bromoprida não prescrever: muitos efeitos colaterais. ✦ Domperidona: uso por pouco tempo - casosselecionados de êmese de difícil controle e gastroparesia pós processos virais. INIBIDOR DE RECEPTOR H2 ✦ Sintomas leves ou moderados de DRGE por 4- 6 semanas. Efeitos colaterais: cefaleia, sonolência e tonturas. IBP ✦ Nas situações de esofagite comprovada ou sintomas característicos como epigastralgia e queimação retroesternal, o emprego dos IBP mostra resultados mais consistentes e duradouros quando comparado ao uso de antiácidos anti-H2. ✦ Nos quadros de asma e outras manifestações relacionadas à DRGE, o emprego de IBP não deve ser empírico, mas condicionado aos casos em que se comprova a ação ácida como determinante ou colaboradora dos sintomas em questão pelos exames: endoscopia, pHmetria esofágica ou impedâncio-pHmetria. Então assim, só porque a criança tem tosse crônica e tosse pode ser um sintoma atípico de DRGE, não quer dizer que você deve entrar de cara com o medicamento... você deve afastar outras causas para essa tosse antes de iniciar o medicamento. ✦ A dose máxima recomendada de omeprazol é de 80 mg/dia e de lansoprazol de 30 mg/ dia. Para situações de queimação retroesternal, recomenda-se o tratamento por GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC quatro semanas e para esofagite comprovada estende-se o tratamento para oito semanas. TRATAMENTO CIRÚRGICO ✦ A indicação cirúrgica para casos de RGE está relacionada à causa básica determinante da doença e à refratariedade ao tratamento medicamentoso. Outro aspecto, diz respeito, ao tratamento longo necessário para controle clínico dos pacientes e dependência de manter tratamento contínuo por diversos anos. ✦ Pacientes com encefalopatia crônica/neuropatas e DRGE são, com maior frequência, selecionados para intervenção cirúrgica. São incluídos igualmente, os casos de esofagite de refluxo não responsiva ao tratamento, vômitos exacerbados e doença pulmonar grave, com riscos de aspiração de conteúdo refluído. ✦ As reais taxas de sucesso da cirurgia antirrefluxo são de difícil análise, pois estão na dependência da idade da indicação, gravidade e comorbidades associadas. Pacientes neurológicos que se alimentam através de gastrostomia, via de regra, não necessitam de fundoplicatura preventiva, a não ser que seja constatada DRGE concomitante. ✦ A fundoplicatura de Nissen laparoscópica tem sido a técnica mais utilizada nos diferentes serviços de cirurgia pediátrica nos últimos anos. As taxas de sucesso com a intervenção cirúrgica variam entre 60-90% dos casos. ✦ As falhas do tratamento cirúrgico são variáveis, estima-se que entre 3 a 19% dos pacientes necessitam de nova intervenção. ALGORITMO 1 GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ALGORITMO 2
Compartilhar