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1 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE Regurgitação do lactente (refluxo gastroesofágico fisiológico) Quando pegar um paciente (bebê) que regurgita, é importante saber diferenciar um quadro fisiológico de um quadro patológico. É claro que uma criança grande terá doença do refluxo bem mais fácil de identificar. Foco da aula: bebê lactente golfando (nome técnico - regurgitação). Sabe-se que se o bebê tem imaturidade do TGI, o que favorece uma dismotilidade do esfíncter esofágico e pode contribuir para o refluxo. A criança pode já ter predisposição para doença do refluxo. Definição • RGE: retorno do conteúdo gástrico para o esôfago (faringe, boca e as vias aéreas superiores), com ou sem exteriorização: regurgitação e/ou vômito. • Processo fisiológico normal (várias vezes ao dia, episódios curtos - <3 minutos, pós prandial); Período pós-prandial: quando há o relaxamento do reflexo do esfíncter esofágico, distensão gástrica e contração vagal, o esfíncter esofágico inferior relaxa e tem a subida do conteúdo gástrico. Então, esse retorno do conteúdo gástrico, em pessoas normais com o quadro fisiológico nem será percebido. Porém, nos bebês, por conta principalmente da postura mais horizontal, alimentação mais líquida e tônus mais relaxado do esfíncter esofágico, esse episódios podem acontecer com frequência maior e podem se exteriorizar sobre a forma de regurgitação e/ou vômito, podendo chegar para faringe, boca, cavidade nasal, o que gera aflição nos pais. Por isso, é importante entender os mecanismos fisiopatológicos, como se diferencia clinicamente o refluxo fisiológico da doença do refluxo, para que assim seja possível tranquilizar os pais que chegam com criança regurgitando no seu consultório. • Dificuldades: RGE fisiológico X DRGE; • Variabilidade clínica: ou seja, terá tanto bebês que regurgitam bastante, que tem peso e ganho de peso ruins quanto aquele que golfa mas é golfador feliz (sem repercussão clínica). Ainda, tem criança que chega com história de pneumonia de repetição, sibilância recorrente com sintomas extra esofágicos, para você pensar se é um refluxo fisiológico associado, por exemplo, a um quadro de sibilância recorrente por outro motivo ou é uma doença do refluxo. • Exames diagnósticos específicos; não existe padrão-ouro que preencha todos os critérios, que seja fidedigno e realmente diferencie um refluxo fisiológico de um patológico. • Uso de medicamentos controverso: grande dificuldade. Principalmente no consultório de gastro, era comum receber em comboterapia, label e motilium (pró cinérgicos e inibidores de H2), onde o gastro acaba mais tirando remédio para refluxo do que colocando. Então, o uso de medicamento, cada vez mais mostrado nos guidelines, tem situações especificas para serem utilizados. Muitos dos bebês (lactentes) que apresentam refluxos são refluxos fracamente ácidos ou não ácidos que não se beneficiariam com a terapêutica medicamentosa dos inibidores de secreção ácida. Por conta da variabilidade e ausência de exames, às vezes não é muito fácil lidar com a família de uma criança com refluxo; é preciso ter um bom vínculo e explicar o máximo a benignidade do quadro fisiológico. Regurgitação do lactente ❖ Regurgitações ou ¨golfadas¨ variáveis (5% > 6 ou mais episódios regurgitação ou vômito/dia); ❖ Sem incômodo ou repercussão nos hábitos de sono – vomitadores felizes; Vomitador feliz: é aquela criança que já chega dando golfada, mas está gordinho e feliz e quanto mais mama mais quer mamar; vem com o ganho de peso ótimo. Esse é o protótipo do refluxo fisiológico. Na outra ponta, está a criança que tem episódios de refluxo/regurgitação com repercussão clínica importante; não ganha peso, não quer mamar, chora o dia inteiro, é irritado, não quer a fórmula e nem o peito e às vezes faz episódio de apneia e cianose. Esse, com certeza, já tem a doença do refluxo. A grande dificuldade é o meio desses dois. Ás vezes, tem que pensar muito para dá o diagnóstico adequado, sendo comum o erro. ❖ Sem repercussão em peso ou outras manifestações; ❖ Distúrbio funcional gastrointestinal transitório (ROMA IV); 2 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE ❖ Imaturidade funcional do aparelho digestivo no primeiro ano de vida; ❖ 60% dos lactentes (DRGE: 2-15%); ❖ Início: antes de oito semanas de vida (raro antes de 1 semana de vida); ❖ Regurgitações aumentam entre 2 e 4 meses: pico dos sintomas. A partir dos 6 meses começa a cair. Quando chega por volta de 1 ano, ele já melhora. Às vezes prolonga um pouco mais – 1 ano e meio – vai depender da alimentação e dos hábitos de vida da criança. Qualquer coisa que fuja dessa cronologia, deve-se pensar na possibilidade de DRGE ou em algum outro diagnóstico diferencial. Ex. Se começou muito precocemente, antes de 8 semanas de vida, no período neonatal, antes da 3º semana OU se iniciou após o 6 meses, que é quando deveria começar a diminuir OU persistiu após 1 ano, 1 ano e meio, que era pra desaparecer. Então, se saiu da cronologia de começar por volta da 3º semana de vida, ter o pico entre 2-4 meses, começar a reduzir com 6 meses e parar de ter com 1 ano → pensar em DRGE ou outro diagnóstico diferencial. ❖ 90% a 95% resolvem espontaneamente até o 1º ano de vida. Importante: o número de regurgitação não determina se é fisiológico ou patológico. Alguns só terão refluxo fisiológico, enquanto outros terão o refluxo patológico. Isso porque existem mecanismos multifatoriais que fazem o relaxamento do esfíncter esofágico inferior e os mecanismos de proteção da mucosa esofágica e esvaziamento gástrico. Isso é somado e contribui para que a criança possa desenvolver a doença e tenha repercussão clínica com ou sem complicação, como por exemplo, esofagite ou estenose. O QUE CHAMA ATENÇÃO PARA PENSAR EM REFLUXO FISIOLÓGICO • Paciente clinicamente bem; • Cronologia e faixa etária: geralmente o refluxo fisiológico tende a iniciar antes de 8 semanas de vida, geralmente na 3º semana, sendo que algumas crianças podem começar antes; Quando as crianças começam a ter sintomas na 1º semana, no período neonatal até 28 dias, tem que se pensar ne possibilidade de diagnóstico diferencial de causas obstrutivas anatômicas. Lembrar: O que está sendo falado é em relação ao bebê, pois crianças maiores tem outros sintomas característicos. Critérios de Roma IV Distúrbio funcional → critérios pelo Roma IV. A criança tem que ter, para se pensar em refluxo fisiológico, a idade compatível entre 3 semanas e 12 meses e tem que ter regurgitações ou vômitos. Se somente regurgitações, ele coloca a quantidade de, pelo menos, 2 por dia nas 3 semanas, mas às vezes não se consegue preencher essa cronologia toda. Então, não vai deixar de dar o diagnóstico de refluxo fisiológico em um bebê que golfa num dia e não golfa no outro, ou seja, ele não deixa de ser classificado como refluxo fisiológico. • Ocorrência obrigatória das duas características seguintes em um lactente saudável com idade entre três semanas e 12 meses; 1. Dois ou mais episódios diários de regurgitação por pelo menos três semanas E 2. Ausência de náuseas, hematêmese, aspiração, apneia, déficit de ganho ponderal, dificuldade para alimentação ou deglutição, postura anormal. ❖ RGE fisiológico; ❖ Sem ingestão insuficiente; ❖ Sem desaceleração do ganho ponderal; ❖ Podem ter algum grau de desconforto e eructação; ❖ Não determinam índices de choro elevados; ❖ Não necessitam de investigação complementar. Às vezes a criança mamou e chorou um pouco, com um pouco de irritação, mas se for colocada no peito, ela continua mamando. É diferente de uma criança que está o dia todo chorando. Ou seja, é importante não ter sinais de alarme.Lembrar: náusea é um sinal de alarme e, geralmente, não vai pensar em refluxo fisiológico. Importante: Se observar a idade do pico do refluxo fisiológico (2-4 m) é também a etapa da cólica no bebê. Então, nem sempre a criança está irritada por conta do refluxo. Além disso, se ela tiver cólica à noite, vai influenciar no padrão do sono. A criança nessa idade pode ter vários distúrbios funcionais associados. Inclusive, a obstrução nasal pode piorar as cólicas, porque degluti um pouco mais de ar, porque embora o 3 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE bebê muito pequeno não tenha respiração bucal, isso incomoda. Dentro desse contexto, se a criança apresentar um choro associado a uma ingesta ruim, isso tem valor positivo preditivo alto para doença do refluxo. Se é um fator isolado, sem nenhum outro comprometimento, é preciso ser mais criterioso para atribuir tais sintomas a doença do refluxo, que geralmente é um sono com irritabilidade ou um sono com aquelas posturas anormais de pescoço (posição de Sandifer). Posição de Sandifer: onde a criança faz uma hiperextensão do pescoço para tentar melhorar o desconforto. É uma criança que tenta alongar um pouco o esôfago para tentar melhorar o clearance esofágico. É uma postura que pode estar associada a doença do refluxo durante a noite. Relembrando: Sono alterado com padrão de alimentação alterado → ficar atento, porque às vezes a cólica do bebê é nesse período durante a noite, alterando o padrão do sono da criança. Choro isolado → mais criterioso, pois não tem valor preditivo positivo tão elevado pra pensar em doença do refluxo no primeiro momento. O ganho de peso e a questão da alimentação são bem mais fidedignos de doença do refluxo do que só o choro. Além disso, tem a questão da ansiedade dos pais, porque pais ansiosos tem crianças que choram mais. Relembrar: Critérios de Roma IV, idade, refluxo fisiológico. Se sair da faixa etária esperada → pensar em diagnóstico diferencial, principalmente em crianças que vomitam desde o período neonatal ou que persistem após o primeiro ano de vida e crianças com vômitos biliosos (sugestivos de quadros obstrutivos). Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) Refluxo gastroesofágico com manifestações clínicas de gravidade variável com ou sem complicações (esofagite/estenose). LACTENTE • Regurgitações frequentes; • Vômitos intensos; • Dificuldade durante as mamadas; • Recusa da alimentação; • Déficit de ganho ponderal; • Choro/irritabilidade; • Alteração do sono; • Alteração na posição cervical (Sandifer); • Manifestações extra gastrointestinais; • Apneia obstrutiva? CRIANÇAS MAIORES • Azia; • Dor/queimação retroesternal ou epigástrica; • Náuseas/vômitos; • Plenitude pós-prandial; • Manifestações extra esofágicas. Importante: Ex. chega uma criança no consultório com regurgitação e vômitos, que parece não ter nenhum sinal de alarme. Se for uma criança que faz parte do grupo de risco para doença do refluxo, é necessário que o médico fique atento para ver se a sintomatologia é do refluxo fisiológico ou da doença. Se for criança mais velha, vai fortalecer ainda mais o possível diagnóstico de DRGE. Grupos de risco • Prevalência desconhecida (<RGE fisiológico); • Grupos de risco: 1. Doenças neurológicas: Geralmente são crianças que ficam mais deitadas ou que tem distúrbios de deglutição, que ingerem mais alimentos líquidos do que pastosos. São crianças que geralmente tem dismotilidade geral do trato gastrointestinal. Então, o esfíncter esofágico é mais lento e o seu tônus é prejudicado, o esvaziamento gástrico é mais lento. Às vezes, faz uso de algum medicamento que pode alterar a recuperação da mucosa esofagiana. 2. Prematuridade Se o bebê saudável, à termo, já tem imaturidade do TGI (maior relaxamento do esfíncter esofágico), o bebê prematuro tem mais imaturidade ainda. Por isso, apresenta maior chance de fazer refluxo esofágico patológico associado a manifestações clínicas da DRGE. 3. Obesidade: Principalmente em crianças maiores, por aumento da pressão abdominal e, consequentemente aumento da pressão intragástrica. 4 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE 4. Fibrose cística ou displasia broncopulmonar: São crianças que geralmente estão tossindo, o que aumenta a pressão intragástrica e favorece os episódios de refluxo. 5. Antecedente familiar de DRGE; A genética influencia na questão da motilidade gastrointestinal e recuperação da mucosa. 6. Malformações congênitas do trato gastrointestinal alto: hérnia hiatal, hérnia diafragmática, atrésia esofágica, fístula traqueoesofágica. Importante: Pode-se ter uma criança prematura com refluxo fisiológico, mas para prematuro é bem mais provável que durante os episódios de refluxo elas evoluam com lesão de mucosa e tenham condições clínicas mais importantes do que uma criança que nasceu a termo. Então, na hora de fazer uma anamnese sempre buscar esses fatores de riscos, porque na hora de fazer a suspeita diagnóstica o médico deve colocar DRGE como uma primeira hipótese diagnóstica pra aquela criança. Lembrar: sempre pensar nas manifestações extraesofágicas. Ex. criança que está fazendo dor de garganta de repetição, mas que não faz febre nem exsudato; crianças encaminhadas pelo dentista que tem erosão do esmalte dentário; laringite de repetição; sibilância. Precisa ser muito criterioso em relação a isso, porque é frequente um gastropediatra receber crianças que foram encaminhadas por conta de crises asmáticas e sibilância, mas que nunca fizeram nenhum tratamento de controle – corticoide inalatório, porque julgam a sibilância como DRGE. Então, se não houve otimização da terapêutica da criança, da parte pulmonar, não se deve atribuir o refluxo como a causa da criança não obter melhora, deve-se em primeiro lugar utilizar a terapêutica da parte respiratória. Então, não adianta encaminhar para um gastro um paciente que apresenta tosse crônica se não houve investigação além da tosse crônica e não tratou nada associado. Ex. Encaminhamento para otorrino de um paciente que apresentava rinite ou tosse crônica. Ao realizar a nasofibroscopia pode-se encontrar alguns achados indiretos de refluxo como edema de laringe e cordas vocais, mas não necessariamente a tosse do paciente vai ser por conta do refluxo. Na verdade, o refluxo pode ser uma consequência da tosse. Com isso, deve-se estar atento e ter cautela para encaminhar e avaliar, até porque, quando associado a conduta terapêutica, não há autorização para realizar tratamento empírico de tosse crônica com IBP. Deve- se utilizar esse tratamento apenas em pacientes que estão otimizados para tal e se tiver, realmente, comprovação de que aquele sintoma está associado a secreção ácida. Exemplo: após a realização de uma pHmetria, associa-se a tosse de um determinado horário citado pelo paciente com a presença de secreção ácida, avaliando antes e depois da tosse para verificar se a tosse realmente foi causada por uma queda de pH. Essa seria a comprovação ideal para iniciar tratamento e não realizar tratamento empírico em todos os pacientes. Se há acesso a impedanciometria e confirma-se que é um refluxo não ácido com a tosse, não é indicado o tratamento com IBP. Etiopatogenia da DRGE É importante lembrar que 40 a 60% dos bebês podem apresentar refluxo fisiológico por conta da imaturidade gastrointestinal e, consequentemente mais relaxamento do esfíncter esofágico, apresentando um clearance mais prejudicado. Uma pequena parcela desenvolve a DRGE por causas multifatoriais, pois além de apresentar o RTEEI (relaxamento transitório do EEI, eu acho!), há outras alterações nos mecanismos anti-RGE (anatômicos ou não) que favorecemainda mais. Imagem: mostra alguns fatores que podem ser predisponentes para o desenvolvimento do refluxo fisiológico e a doença do 5 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE refluxo – DRGE. Geralmente é uma soma desses fatores - exemplo - criança neuropata que tem um clearance esofagiano prejudicado, relaxa mais o tônus do esfíncter esofágico; às vezes é uma criança que apresenta um esvaziamento gástrico lentificado e isso favorece a “subida” de conteúdo ácido para o esôfago; uso de algum medicamento que altera o tônus do esfíncter esofágico; criança mais gordinha que apresenta um aumento de pressão intragástrica, que gosta de comer alimentos gordurosos que já causa o retardo do esvaziamento gástrico, ou come muito chocolate, café ou outros alimentos que acabam levando ao relaxamento do EEI; alergias alimentares que favorecem a dismotilidade gastrointestinal e favorecem o refluxo gastroesofágico. No algoritmo de conduta terapêutica e diagnóstica, nos lactentes, é preciso afastar alergia a proteína do leite de vaca antes de dar início a intervenção terapêutica dessa criança. Então, uma série de fatores se somam e vão contribuir para que aquela criança que teria um refluxo fisiológico na verdade, tenha outros fatores que contribuem para que ela já tenha repercussão clínica. Diagnóstico A diferenciação entre um quadro fisiológico e uma doença do refluxo é clínica, lembrando que esse refluxo fisiológico se refere a bebês lactentes. Então, torna- se essencial a realização de uma anamnese e um exame físico muito bem feitos, pois isso irá trazer as informações necessárias para um quadro fisiológico ou patológico e a possível necessidade da utilização de medicamento e solicitação de exames complementares para investigação diagnóstica. Os grupos de risco devem ter atenção redobrada na anamnese e exame físico, como doenças crônicas respiratórias, neurológicas, malformações anatômicas. Se a anamnese e o exame físico trouxerem que é algo fisiológico, não é necessário realizar exames complementares e se for algo patológico deve-se conduzir com a DRGE. Se há algo que nos direcione para algum outro diagnóstico diferencial deve haver a avaliação se é necessário solicitar exames ou não. • Exame ideal para diagnóstico; • Documentar a ocorrência de RGE; • Detectar complicações; • Estabelecer causa-efeito entre RGE e sintomas; • Nenhum teste isolado contempla esses requisitos. O diagnóstico é clínico, porque não existe exame que seja ideal para diferenciar refluxo fisiológico de DRGE. Não há exame padrão ouro, pois ele deveria contemplar as seguintes características: identificar o refluxo (ácido, fracamente ácido ou não ácido); associar a sintomatologia aos episódios de refluxo; identificar complicações. Nenhum exame, até o momento, consegue fechar esses três pilares. Na EDA, por exemplo, não se consegue identificar o refluxo, analisando apenas complicações (ex. esofagite ou outro diagnóstico diferencial). Na Phmetria identifica-se o refluxo e a associação dos sintomas, mas não identifica as possíveis complicações. Então, não existe exame completo pra fechar esses 3 critérios. Exames complementares Os exames complementares podem ser úteis principalmente quando se pensa em possibilidade de diagnóstico diferencial, quando já há identificação na anamnese e exame físico de que pode ter alguma outra coisa associada. EREED • Exame radiológico contrastado de esôfago, estômago e duodeno); • É uma radiografia. A criança ingere contraste baritado – geralmente com iogurte – e faz as radiografias do trato gastrointestinal superior ao longo do movimento desse contraste (geralmente até a primeira porção do duodeno). Serve para: ❖ Afastar anormalidades estruturais anatômicas – hérnia, estenose e volvo; ❖ Avaliação do esvaziamento gástrico; ❖ Detectar a presença de refluxo. ❖ Não consegue diferenciar se é um refluxo fisiológico ou patológico, visto que será logo após o período pós-prandial. ❖ Utilizado principalmente nas faixas etárias neonatal e após 1 anos. ULTRASSONOGRAFIA ABDOMINAL Foi bastante utilizada no passado para diagnosticar a doença do refluxo. Inicialmente, são feitas imagens 6 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE iniciais para conseguir medidas de esôfago, estômago ... Logo após, a criança recebe alimentos e se faz novamente imagens ultrassonográficas para observar a possibilidade de refluxo. Obviamente a criança tem refluxo (ela acabou de comer e o médico aperta a barriga). ❖ Baixa sensibilidade e especificidade; ❖ Avalia apenas refluxo pós-prandial. ❖ Não diferencia o RGE fisiológico da DRGE; ❖ Útil no diagnóstico de estenose hipertrófica de piloro (quadro obstrutivo que pode aparecer nessa faixa etária) e má-rotação intestinal. Em crianças maiores, observar a presença de um quadro hepatobiliar. CINTILOGRAFIA GASTROESOFÁGICA • A técnica é parecida com o EREED (uso de contraste) com posterior extração de imagens. ❖ Pode avaliar o esvaziamento gástrico, porém a grande finalidade é detectar aspiração pulmonar. São aqueles pacientes que têm distúrbios de deglutição e neuropatias. ❖ Até pode mostrar se existe um refluxo, mas não diferencia do fisiológico para o patológico (com exceção das microaspirações, pois já preenche um critério patológico). PHMETRIA ESOFÁGICA DE 24 HORAS • Antigamente era considerado padrão ouro para diagnóstico de refluxo; hoje já não é mais. ❖ É utilizado uma sonda que, por 24 horas, monitoriza o possível local de retorno gástrico para o esôfago. ❖ Na PHmetria tradicional, são identificados os refluxos ácidos, com pH abaixo de 4. Observa-se quantos episódios aconteceram, qual a duração desses episódios e quanto tempo o paciente fica com pH abaixo de 4, considerando o tempo de estudo (índice de refluxo – é o parâmetro que é mais utilizado para diferenciar o refluxo fisiológico do patológico). ❖ Um índice de refluxo em que a quantidade de tempo de pH abaixo de 4 sobre o tempo total for maior que 10% (em menores de 1 ano) ou maiores de 5% (maiores de 1 ano) é considerado patológico. Não se faz esse exame como rotina porque se sabe que muitos lactentes têm episódios de refluxo não ácido e fracamente ácido, o que pode levar a uma subdiagnostificação dessas crianças; outro motivo para a não realização do exame são as dificuldades técnicas. • Atualmente, esse exame está reservado para aquelas crianças com sintomas atípicos, quando o investigador quer correlacionar o sintoma com a queda do pH (a mãe vai anotando ao longo os sinais e sintomas – tosse, pigarro etc.). É indicado também quando se quer avaliar resposta terapêutica, por exemplo, avaliar se aquela criança está com pH baixo, alto ou normal durante a queixa do sintoma, além de já diferenciar daqueles distúrbios funcionais (dispepsia funcional). Tem também utilidade na avaliação pré- e pós-cirúrgica. IMPEDANCIOMETRIA INTRALUMINAL ESOFÁGICA • Para os episódios de refluxo que são fracamente ácidos ou não ácidos, pode-se fazer esse exame. • Consegue detectar esses outros tipos de refluxo e o movimento de outros conteúdos, como sólidos, líquidos ou gasosos (não só o líquido, como na PHmetria). • Problema da impedanciometria na pediatria- inexistência de valores de referência padronizados; pouquíssimos serviços oferecem. • Avalia extensão e tempo de duração do refluxo. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA • Avaliar mucosa esofágica – esofagite; • Sempre biopsiar esôfago distal: esofagite eosinofílica e esôfago de Barret. Sem resposta terapêutica, dependência do uso de medicação, fuga da faixa etária de refluxo fisiológico → fazer diagnóstico diferencial com EDA. Ex. esofagite eosinofílica - sempre importante biopsiaresôfago, mesmo estando com a macroscopia da EDA normal. Adulto não tem o costume de biopsiar todo mundo, mas em pediatria, por conta das doenças eosinofilias, é necessário um diagnóstico com microscopio). Deve ser individualizado para cada criança decidir fazer ou não exames complementares. Uma EDA normal não afasta doença do refluxo. A EDA serve para ver as complicações (Ex. esofagite) e para 7 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE diagnóstico diferencial. Caso exista uma esofagite, fala a favor da doença do refluxo. Diagnóstico diferencial A anamnese e o exame físico servirão para pensar em outras possibilidades diagnósticas na criança que chega vomitando no consultório e na emergência. • Obstrução: estenose de Piloro, hérnia encarcerada, mal formações intestinais. • Outras doenças do TGI: Doença celíaca, pancreatite, apendicite, doença hepatobiliar, alergias alimentares por conta da dismotilidade que provoca pela inflamação, doenças ulcerosas pépticas, infecções intestinais, gastroenterocolites. • Causas neurológicas: vômito não significa que a doença seja restrita ao TGI. Doenças neurológicas manifestam por vômito, como por exemplo, tumores, abscessos, mal formações cranianas, hemorragia intracraniana, hidrocefalia (na maioria das vezes, esses pacientes apresentarão outros sintomas, por isso que a história e o exame físico são essenciais). • Doenças infecciosas: podem repercutir com vômito, em criança. Vômito e diarreia não significam necessariamente enterocolite. Elas podem estar presentes várias outras infecções sistêmicas, na sepse, na infecção urinária, na otite, na pneumonia, meningite, hepatite. Apresentando febre, outras manifestações. • Doenças metabólicas: erro inato de metabolismo, principalmente criança muito pequena, que chega na emergência com quadro de desidratação grave, acidose metabólica. • Doenças renais: doenças obstrutivas, uropatias, infecção urinária, síndrome urêmica por insuficiência renal, • Intoxicações: são muito comuns na emergência, porque as crianças tem a mania de colocar as coisas nos orifícios (ouvido, nariz, boca e ânus). Ex. digoxina do vovô, vitamina D que o pediatra prescreveu, sulfato ferroso podem contribuir. • Doenças cardíacas: podem cursar com vômito. • Outros (causas extraorgânicas): vômito autoinduzido, principalmente pacientes adolescentes com distúrbios alimentares; ou porque tem algum abuso, algum quadro de negligência infantil em que a criança acaba vomitando como manifestação; síndrome dos vômitos cíclicos - distúrbio funcional que a criança faz episódios repetidos de vômitos, tem períodos intercrise que fica bem, depois vomita e dificulta a identificação da causa nessa criança; • Síndrome de Munchausen por procuração (a mãe simula os sintomas com algum medicamento, alimento ou mecanismo ou artimanha, ou ela mente afirmando que a criança tem e, na verdade, não tem. Espera-se ter algum benefício, social, cultural, econômico, é um distúrbio psiquiátrico (acionar o Conselho Tutelar e Psiquiatria), é difícil identificar. Criança eutrófica, mas a mãe diz que ele vomita todo dia. Mesmo que você esteja desconfiada que aquele sintoma não seja real, você acaba internando para vigiar essa criança. Lactentes A suspeita diferenciando refluxo fisiológico do patológico irá guiar a conduta diagnóstica e terapêutica. Em consultório é visto uma criança gordinha, com um ganho de peso bom, se alimentando, regurgitando, com idade compatível com fisiológico → tratar como refluxo fisiológico. Refluxo fisiológico • Uma criança que chega abaixo de 6 meses, regurgitando, sem sinais de alarme para diagnóstico diferencial, sem sinais para pensar em doença do refluxo. Será refluxo fisiológico até que se prove ao contrário. 8 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE • Regurgitação decrescente a partir dos seis meses de idade; • Orientação e apoio aos familiares: princípios fundamentais do tratamento: Primeiro passo será conversar com os pais e explicar a transitoriedade, benignidade, explicar que é um distúrbio funcional e explicar o motivo da suspensão do medicamento (normalmente a criança chega já medicada). É necessário explicar tudo para os pais (o motivo para não receitar exames ou medicação), para que eles não duvidem da conduta médica tomada; • Não é necessária intervenção medicamentosa; • Evitar tabagismo passivo (nicotina diminui a pressão no EEI → maior nº de episódios de RGE): orientar também que se existir algum fumante em casa não entrar em contato com essa criança, já que o tabagismo favorece o aparecimento de episódios de refluxo. Orientação postural • Manter em posição vertical por 20-30 min após a mamada: após leite ou mamadeira, evitar fazer a amamentação deitada na cama. Tal posição favorece não somente o aparecimento de otite média como episódios de refluxo. Orientar após a mamada deixar a criança na “posição para arrotar”. Não é necessário obrigatoriamente esperar a criança arrotar após a mamada, apesar da posição vertical favorecer o esvaziamento gástrico. Evitar trocar frauda após mamada, evitar “apertar a barriga” após a mamada; • Sono: decúbito supino (dorsal) com elevação da cabeceira entre 30-40 graus: A posição para dormir adotada deve ser de “barriga para cima”, Se for uma criança maior, sem problema dormir em decúbito lateral, mas bebê pequeno não deve dormir de “barriga para baixo”. Não é necessário obrigatoriamente a elevação da cabeceira, se puder elevar, em média 30 a 40° principalmente criança maior. Para bebê não é muito comum, mas pode deixar o travesseirinho um pouco mais elevado e a cabeceira elevada. ❖ OBS.: posições em decúbito lateral e/ou posição prona tem um maior risco de ocorrência de morte súbita. Geralmente até 1 ano, mas principalmente abaixo de 6 meses. Orientação alimentar • Aleitamento materno: mamadas por livre demanda: Para aleitamento materno, não devemos fracionar a dieta; • Corrigir erros técnicos de amamentação (tempo prolongado de sucção não nutritiva): orientar a mãe a não deixar a criança ficar “chupetando” o peito, já que engole ar e isso causa distensão do estômago e favorece ainda mais os episódios de refluxo; • Orientações sobre postura pós-mamada: vertical por 20-30 min; • Fórmulas: espessamento de fórmula e fracionamento de dieta: Se o bebê estiver sob uso de fórmula, continua com as medidas posturais, mas é possível fracionar mais; volumes menores, mais vezes ao dia, ou até mesmo pode ser feito o espessamento da fórmula (não é orientar fazer mingau, pois é inadequado para lactentes, muito teor de carboidrato). Fórmulas anti-regurgitação (AR) • Proporciona viscosidade adequada para reduzir o número de regurgitações: vão se tornar “gelatinas” que no estômago reduz o volume e diminui o número de regurgitação. • Espessadas com carboidratos digeríveis à base de arroz, milho, batata ou com carboidratos não digeríveis (alfarraba/jataí): As fórmulas em sua maioria dependem do fabricante e alteram a partir do substrato (carboidrato utilizado). • Espessamento da dieta: reduz números de episódios de refluxo e volume, porém não exercem efeito importante nos índices de refluxos ácidos. É como uma maquiagem. Se for feito a pHmetria dessa criança não há alterações, mas diminui a quantidade de produto que se exterioriza na forma de regurgitação. • Até 60% das crianças melhoram com a fórmula anti-regurgitação, tanto em casos fisiológicos como em quadro de refluxo um tanto leves e moderados, é possível uma resposta. • Digeríveis: redução de 24% no teor de lactose, acrescentando o mesmo teor de amido. • Não digerível: goma de jataí. 9 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria –Regurgitação do lactente e DRGE • Bebê com refluxo fisiológico: medida postural, deixar o aleitamento materno, pode tentar a fórmula de anti-regurgitação. Doença do refluxo gastroesofágico • Suspeita de doença do refluxo, sem sinal de alarme para outras doenças → primeiras medidas: alteração postural, fórmula anti-regurgitação para verificar se ele já melhora com a fórmula, sem precisar de interação medicamentosa. Primeira medida • Exclusão da proteína do leite de vaca da dieta. Se a criança não melhora da doença do refluxo com as medidas posturais e AR, antes de introduzir o IBP, deve-se eliminar a suspeita de alergia a proteína do leite da vaca. Excluir proteína do leite de vaca da dieta, não é lactose (açúcar do leite), mas sim a proteína ou glicoproteína que é o que gera alergia. • DRGE X APLV: diagnóstico diferencial difícil (40% são APLV). foi visto em estudos que 30-40% dos pacientes diagnosticados com DRGE, na realidade tinham alergia ao leite de vaca. • Considerar: dermatite atópica, história de alergia alimentar na família e presença de sangue oculto nas fezes. 1. Aleitamento natural exclusivo: retirar leite de vaca e derivados da dieta da mãe por 2-4 semanas. 2. Fórmulas à base de leite de vaca incluído as AR: exclusão das proteínas do leite da vaca e introdução de fórmulas extensamente hidrolisadas da proteína ou à base de aminoácidos (não usar soja). OBS.: Normalmente a alergia é a proteína inteira, mas quando parte a proteína existe uma diminuição do seu fator alérgeno. Então, existe fórmulas extensivamente hidrolisadas que são quebradas em partículas menores de peptídeos, ou um pouquinho maior. E existem as fórmulas de aminoácido puro, essa não tem como dar alergia, mas são caras, custam em média 250-400 reais. OBS.: Manifestações de alergia gastrointestinais não devem ser utilizadas fórmulas de soja, porque muitas crianças normalmente têm alergia às duas coisas, ao leite e a soja. • A duração é de 2 a 4 semanas. Se for uma provável alergia alimentar, a criança vai melhorar nos sintomas e a conduta é de acordo com a alergia alimentar. Se a criança não melhorar, seguir no diagnóstico de doença do refluxo e para os medicamentos; Primeiro ver se não há nenhuma possibilidade de diagnóstico diferencial, não tendo, segue par a inibição de secreção ácida. Segunda medida • Inibidor de secreção ácida: antiH2/IBP ou procinéticos. Uso discutível, reservar para situações mais graves. • Sintomas mais graves e com dificuldade alimentar, desaceleração do ganho ponderal e/ou esofagite na EDA e biópsia. Só se deveria usar nesses casos, mas os guidelines mostra que estamos autorizados a utilizar mesmo em pacientes que não seja tão grave. Cada vez mais está sendo utilizado menos medicamentos, e por tempo cada vez mais curto, pois já se sabe que esses IBPs não são benéficos quando usados a longo prazo. • Esofagite erosiva: rara. Exceto em comorbidades com predisposição, como: atresia de esôfago, doenças neuromusculares, fibrose cística ou doença respiratória crônica. Esses pacientes não responderam às medidas iniciais ou já tem quadros graves, com grande chance de esofagite. Ex. paciente neuropata chega no consultório, vomitando, golfando, perdendo peso, não come direito, esse algoritmo de primeiro suspender o leite de vaca é um algoritmo válido, mas provavelmente essa criança tem a doença do refluxo, então não iria provavelmente primeiro fazer a fórmula, já iria para um IBP. Cada paciente é individualizado. • Refluxos fracamente ácidos sem tratamento eficaz. • Muitos respondem às medidas não farmacológicas e /ou substituição das fórmulas em 2-4 semanas (78%). Os 22% irão se beneficiar do uso de IBP e no menor tempo possível, 4 a 8 semanas no máximo. Às vezes é necessário um tempo maior, uns 3 10 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE meses, a depender de condições como o que é visto no EDA, nas outras comorbidades associadas... • Excluir leite de vaca da dieta materna ou fórmula extensamente hidrolisada → 2-4 semanas → reavaliar → não respondedores: tratamento antiácido (4-8 semanas). Se discute muito o uso de IBP porque o refluxo muitas vezes não é um ácido, então eles não vão se beneficiar tanto com IBP. Vai reduzir o volume de secreção gástrica e vai maquiar a questão das regurgitações, mas não vai reduzir o refluxo porque não é o Ph ácido em alguns refluxos. Então, muitas vezes se retira mais remédio do que coloca, em alguns pacientes com refluxo fisiológico ou com doença do refluxo. Tudo que foi dito até agora e esse algoritmo é para lactente, 2 anos no máximo. Suspeita de DRGE: após fazer anamnese e exame físico, sem sinal de alarme para outra doença de diagnóstico diferencial, não tem febre para pensar em infecção, não tem sintoma neurológico para pensar em neuropatia, continua pensando na possibilidade de doença do refluxo. Primeira coisa é orientar sobre as questões posturais, alimentação, usar fórmulas de regurgitação. Se melhorar, continua com essas medidas não farmacológicas. Caso o paciente não melhore, fazer 2 a 4 semanas de hidrolisado proteico ou de aminoácido ou suspender o da mãe. Se melhorou com 2 a 4 semanas manejá-lo como uma alergia ao leite de vaca. Se ele não melhora e eu for pediatra eu mando para o gastro. Se não tiver como mandar para o gastro faz a inibição de supressão ácida por 4 a 8 semanas. Se ele melhora faz o desmame. Se ele melhora, mas recorre quando suspende ou se não melhora com a terapêutica manda para o gastro para afastar diagnósticos diferenciais e fazer exames complementares (geralmente pede endoscopia). Tratamento medicamentoso para DRGE Procinéticos • Era muito utilizado antigamente por aumentar o tônus do EEI, melhorar clearance esofágico e acelerar esvaziamento gástrico. • Porém, possui muitos efeitos colaterais, o que, às vezes, supera o benefício. Logo, não é utilizado praticamente em crianças. • Um grupo de pacientes com RGE apresenta melhora da ocorrência de regurgitações e vômito. Então ele faz uma maquiagem, pois não melhora a acidez. • pHmetria esofágica: não se comprova ação consistente na redução do número e duração dos refluxos ácidos. Metoclopramida • Acelera esvaziamento gástrico, aumenta pressão do EEI / diminui a ocorrência de regurgitações e vômitos. • Elevada frequência de efeitos colaterais (> 30%): irritabilidade, sonolência excessiva e sinais extrapiramidais. • Dose terapêutica muito próxima da dose tóxica. • Retirada do mercado brasileiro. Não se usa de jeito nenhum. • Bromoprida: similar à metoclopramida em efeitos colaterais. Não usado. Domperidona • Anti-dopaminérgica com efeito procinético moderado. É o famoso motilio. • Ação moderada na redução de alguns sintomas. • Sem ação quanto ao número e duração dos refluxos ácidos. Ele também reduz o número de regurgitação, mas não tem influência nos refluxos ácidos. Quando se faz uma terapêutica para refluxo o que a gente quer é diminuir o risco de complicar, fazer esofagite, por isso que esses não têm esse benefício. 11 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE • Utilizada somente em situações muito específicas e por período de tempo limitado. Exemplo: pacientes que vomitam e não respondem a outros tratamentos, pacientes com bradigastria, neuropatas que vomitam muito e que não melhoram com uso de IBP. • Efeitos colaterais: Cólicas e irritabilidade excessiva; prolongamento do intervalo QT no ECG (4,2%); Antagonista do Receptor de Histamina • Se utilizava muito antigamente inibidor de receptor H2 e IBP. • Cimetidina, famotidina e ranitidina: não têm muito estudo em pediatria, não é uma medicação usada. • Doses: 5mg/kg a cada 12 horas (efeito antiácidorazoável nas primeiras semanas, depois taquifilaxia). Ranitidina não tem mais no mercado pois foi associado a substância tóxica/cancerígena, sua vantagem era por ser líquido e mais barato, mas já tinha como desvantagem o fato de fazer taquifilaxia, precisava-se aumentar muito a dose dela para garantir efeito. • Esofagites erosivas: taxas de cicatrização das lesões inferiores a IBP (ação mais consistente e duradoura). • Pode ser utilizado em esofagite leve por curto período, ou em lactentes que apresentem DRGE, não responsiva ao tratamento conservador. • Atentar para efeitos colaterais ou a perda de eficácia após algumas semanas. Quando aumenta dose, aumenta efeito colateral. • Efeitos colaterais: sonolência ou irritabilidade, cefaleia, tonturas e movimentos de balançar a cabeça. OBS.: Antiácido não usa em pediatria em bebê, às vezes uso em criança maior na emergência, quadro agudo com pirose por um curto período. Mas para cicatrização de mucosa não se usa. Em bebê não usa de jeito nenhum, até porque ele não consegue dizer que está com azia. Inibidor da bomba de próton • Disponível para poder usar como medicação. • É uma medicação mais eficaz no que se diz respeito a cicatrização de mucosa do que o antagonista H2, em termo de redução de volume de secreção também, pois bloqueia a via final que é a proteína do próton, diferentemente da Ranitina que inibe apenas o receptor H2. • Os IBPS disponíveis para o uso em crianças são: omeprazol, pantoprazol, ezomeprazol. Os 3 mais usados. • Todo tem eficácia muito parecida e são metabolizados pela mesma via, tendo, a maior parte dele, variações individuais a termo de metabolização, sendo que alguns pacientes respondem melhor a um e outros pacientes a outro. Então, vai trocando para testar. • O ezomeprazol é uma via diferente, mas não tem a prática de uso constante na pediatria, embora possa fazer em crianças maiores como alternativa. • Ligação irreversível aos receptores da célula parietal – bloqueia a secreção da bomba de próton H-ATPase. • Metabolização hepática similar no citocromo hepático. ❖ Crianças: doses maiores, pois metabolização hepática é mais rápida. Então, adultos com 20,40mg de omeprazol já está bem, mas prescreve- se 60-80mg de IBP para criança ter uma resposta boa, por ter uma metabolização hepática mais rápida. INDICAÇÕES • As indicações formais seriam naquelas crianças que não respondem incialmente ao manejo não farmacológico; • Complicações: Esofagite erosiva, estenose péptica do esôfago de Barrett. • Pacientes neurológicos ou com doença respiratória crônica associada à DRGE. ❖ Mantém o pH intragástrico >4. Reduz a acidez, aumenta o PH gástrico e reduz o conteúdo. ❖ Diminuição do volume do conteúdo gástrico e do material refluído. Pacientes que você sabe que tem predisposição a DRGE são pacientes que tem indicação para IBP. ❖ Reações idiossincrásicas (14%): cefaleia, constipação, diarreia, cólicas abdominais e náuseas. ❖ Hipergastrinemia: pólipos gástricos que exigem monitorização ao longo do tempo. 12 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE ❖ Hipocloridria: pneumonia, gastroenterite, candidíase, enterite necrosante no prematuro. A hipocloridria é importante pois o HCL faz parte do sistema imune, dos mecanismos de defesa. Então, quando fazer hipocloridria pode predispor a estas infecções. ❖ Uso crônico de IBP: monitorar níveis de vitamina B12, ferro, osteoporose. Pois gera má absorção destes. ❖ Maiores riscos de clostridium difficile, sobrecrescimento bacteriano do intestino delgado, diarreia crônica. Então, tem que estar atentos aos pacientes que fazem uso crônico de IBP e monitorizar as vitaminas, observar clínica de infecção pulmonar. Então, o ideal é usar esse IBP o menor tempo possível. • FDA: omeprazol e esomeprazol: > 1 mês e < 1 ano de idade com quadro comprovado de esofagite. Na prática utiliza em criança menor sem comprovação, até porque fazer endoscopia em todas as crianças é complicado. Os IBPS (omeprazol, pantoprazol, ezomeprazol) podem ser usados em pacientes a partir de 1 ano idade. • IBP: ácido lábil (grânulos ou comprimidos – invólucro ácido-resistente) – princípio ativo liberado no duodeno – enterócito – circulação portal. A grande dificuldade dos IBPS é que não tem solução (xarope). Então, não se conseguiu ainda nenhum outro meio que garanta que o medicamento chegue intacto ao duodeno. • Abertura das cápsulas e dissolução dos grânulos em meio líquido ou cremoso: absorção errática. Muita gente acha que o IBP age diretamente quando chega no estômago, mas ele precisa chegar intacto no pH alcalino do duodeno, para entrar no enterócito, passar pela circulação porta para atuar na célula parietal. É fornecido em cápsula e comprimido. Cápsula (ela protege os grânulos para que eles cheguem intactos ao duodeno), mas o bebê não consegue engolir (lembrando que não podemos abrir a cápsula, pois o grânulo não chega no duodeno, vai se perdendo ao longo do trajeto). • Soluções líquidas manipuladas: sem estabilidade. • Melhor forma: comprimido dispersível (MUPS – multiple unit pellet system) ácido-resistente dispersível em meio líquido. Tem-se as formas de comprimido que não são dispersáveis em água e aqueles que são dispersáveis em água - fórmulas MUPS). Nestas, é como se o comprimido fosse vários grânulos, porém cada pedaço é envolto em cápsula também. A forma mais comum é o LOSEC MUPS que consegue se dissolver em água. Tem que ter paciência, pois ele não é efervescente. Dessa fórmula MUPS consegue fazer via oral com água. O grande problema é que uma caixa custa aproximadamente 100 reais. Nos pacientes mais críticos e com nível socioeconômico pior prescrevia-se a ranitidina. Então, não é o mais adequado, mas às vezes se orienta abrir a cápsula e colocar em um meio mais pastoso (banana amassada, maçã, iogurte) para ver se chega, assim, ao duodeno. • Administração: pela manhã, em jejum, 30 minutos antes das refeições; em bebês, antes da primeira mamada do dia. • Dose do omeprazol: 0,7 – 3,5 mg/kg/dia (reforço de secreção ácida noturna: fracionar dose). Geralmente o bloqueio a 24h se consegue uma dose única diária para dar o efeito. Tem criança que metaboliza mais rápido e que às vezes faz uma hipersecreção (e outros sintomas) noturna, então nesse caso se faz uma dose noturna também – de 12/12h – mas geralmente uma dose já é suficiente para a criança responder bem. A dose é em torno de 0,66 e 3,5 mg/kg/dia – fica até uma dose maior... Uma criança de 20kg pode tomar 60mg, enquanto em adultos isso é uma dose excessiva porque com 20 ou 40mg já responde. • Redução dos IBP: gradual (efeito rebote – níveis elevados de gastrina – aumento de secreção ácida pelas células parietais). Nunca suspender IBP de vez! Se está bloqueando a bomba H+-ATPase, no feedback, a gastrina vai aumentar para compensar esse bloqueio. É mais empírico (exemplo, cortar pela metade por uma ou duas semanas) – só não pode parar de vez. Se você reduz e a criança volta a ter sintomas, você volta à dose anterior e revê o seu diagnóstico. 13 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE Crianças maiores e adolescentes Doença do refluxo gastroesofágico Em crianças maiores e adolescentes o manejo é similar aos adultos. MEDIDAS GERAIS ❖ Redução do peso em obesos. Atividade física. ❖ Decúbito elevado durante o sono noturno. Pode dormir de lado também tranquilamente, mas que seja um decúbito mais elevado. ❖ Evitar refeições antes de deitar, pelo menos 2 horas. ❖ Adolescentes: evitar fumar e bebidas alcoólicas (diminuem pressão no EEI e aumentam número de refluxos). ❖ Alimentação: diminuir ingestão de chocolates, alimentos apimentados,refrigerantes, bebidas cafeínadas, frituras ou alimentos muito gordurosos (relaxam o EEI e/ou reduzem tempo de esvaziamento gástrico), pioram os sintomas. ❖ Sucos ácidos: avaliar individualmente; se não tiver sintomas com alimentos ácidos não precisa suspender. ❖ * Nem todo alimento cítrico é ácido! Medicamentos • Procinéticos: ❖ Sem ação no tratamento da DRGE. ❖ Metoclopramida e bromoprida: não prescrever - muitos efeitos colaterais. ❖ Domperidona: uso por pouco tempo – casos selecionados de êmese de difícil controle e gastroparesia pós processos virais. • Inibidor de receptor H2: ❖ Não tem! Não usa! Nem perdeu tempo falando! ❖ Sintomas leves ou moderados de DRGE por 4-6 semanas. ❖ Efeitos colaterais: cefaleia, sonolência e tonturas. ❖ Era usado mais antigamente se sintomas mais leves, pelo preço, acessibilidade, mas o melhor mesmo é o IBP • Inibidor da bomba de próton: ❖ MELHOR! Índice de cicatrização de mucosa é bem melhor. O tempo de uso vai depender dos sintomas – geralmente de 4 a 8 semanas, mas pode se estender até mais, de 3 a 6 meses. ❖ Em uma criança que só tem queimação, pirose... 4 semanas é suficiente. Já naquelas que possuem uma esofagite mais leve, 8 semanas. Em casos de esofagite mais grave pode estender até 3 meses/12 semanas. ❖ Em pacientes com manifestações atípicas não se deve colocar IPB empiricamente. Se a criança chega com asma ou outros sintomas atípicos e você não tem como comprovação de que aquela sintomatologia está relacionada aos episódios de refluxo mais ácido, você não está autorizado a fazer tratamento empírico com IBP. Só fará se tiver comprovação, seja por impedancio-pHmetria ou por endoscopia mostrando esofagite. Se comprovado, 3 meses pelo menos de tratamento ou até ele melhorar. Exemplo: Um paciente com rouquidão, estridor, mas não há nada que evidencie que esses sintomas ocorrem nos episódios de refluxo – não trata empiricamente para ver se ele melhora! Existe caso em que a mãe vai colocando o IBP e tirando como ela quer e não quer levar no otorrino para ver se tem má formação ou fazer a pHmetria – então já é um caso mais complicado! Laringite estribulosa pode estar associada a atopia e DRGE, mas primeiro é preciso comprovar para a criança não ficar usando IBP sem necessidade por um tempo prolongado. ❖ Esofagite comprovada ou sintomas característicos como epigastralgia e queimação retroesternal: IBP superior aos antiácidos anti-H2. ❖ Asma e outras manifestações atípicas: IBP não deve ser empírico – relação sintomas e ação ácida: endoscopia, pHmetria esofágica ou impedâncio- pHmetria – TTO 3 meses. ❖ Dose máxima: omeprazol – 80mg/dia. ❖ Queimação retroesternal: 4 semanas. ❖ Esofagite comprovada: oito semanas. Tratamento cirúrgico • Causa básica determinante. • Refratariedade ao tratamento medicamentoso e que realmente tenha a doença. A não resposta por si só não dá garantia, pois pode ser outro o motivo dos sintomas. 14 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE • Tratamento longo necessário para controle clínico dos pacientes. • Considerar em: ❖ Encefalopatia crônica/neurpatas. ❖ Esofagite de refluxo não responsiva ao tratamento. ❖ Vômitos exacerbados. ❖ Doença pulmonar grave com riscos de aspiração. • Gravidade; • Comorbidades associadas; • Neuropatas gastrostomizados: fundoplicatura preventiva só em DRGE concomitantemente. Antes fazia em todos que iam fazer a gastrectomia, que iam colocar uma via alternativa de alimentação, mas hoje só faz com comprovação de DRGE. • Técnica: fundoplicatura de Nissen laparoscópica (sucesso em 60-90% dos casos). Diminuir o tamanho do EEI. • Falha do tratamento cirúrgico são variáveis: 3- 19% nova intervenção. • Não tem idade para fazer a fundoplicatura; qualquer idade já pode fazer. Crianças maiores: se sintoma atípico → fazer pHmetria, endoscopia... se sintoma típico e com sinais de alarme, investigar diagnóstico diferencial. Se sintomas típicos e sem sinais de alarme, rever alimentação, estilo de vida, orientar dieta por 1 mês ou menos para ver se melhora. Se melhorar com medidas não farmacológicas, mantém o manejo. Se não melhorar, vai para inibição de supressão ácida por 4- 8 semanas. Depois dessas semanas, reavaliar o paciente. Se melhorou os sintomas, começar o desmame. Se depois do desmame os sintomas não voltarem, manter só a dieta. Mas se reduzindo a dose ele volta a ter piora dos sintomas ou se desde o início ele não respondeu ao tratamento (desde 4 semanas de tratamento já dá para saber), vai fazer endoscopia na criança. Existem duas situações: a EDA pode vir normal ou alterada. Fazer para ver se tem algum diagnóstico diferencial que faça ele continuar com os sintomas ou se tem uma complicação que faz com que a criança precise usar por um tempo mais prolongado o IBP. Por isso que quando tira, voltam os sintomas, porque ele precisa de um tempo a mais com o IBP. Então pode achar na endoscopia uma esofagite erosiva ou pode achar uma esofagite eosinofílica, uma candidíase; diagnósticos diferenciais pra aquela manutenção da sintomatologia do paciente. Se a endoscopia vem normal, mas a criança precisa usar o IBP para ficar sem sintoma, há na verdade uma doença do refluxo não erosiva só que responde a IBP. Nesse caso, deixa-se o IBP por um tempinho maior para depois tentar tirar novamente. 15 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE Se feita a endoscopia e veio normal, mas o paciente nunca respondeu ao IBP, tem que realmente saber se ele não respondeu ao IBP porque a dose estava ruim, se talvez tenha que mudar de IBP, ou porque na verdade não é a doença do refluxo, mas sim algum outro diagnóstico diferencial associado a secreção ácida. Então será feita uma phmetria ou impedânciometria. Na phmetria, se tem sintomas de refluxo e durante o episódio de sintoma ele realmente faz refluxos com índice patológico, episódios de refluxos ácidos, então foi correlacionado sintoma com episódios de secreção ácida. Então aqui tem que a criança tem realmente a doença do refluxo, mas é a doença do refluxo não erosiva; vai continuar usando IBP, aumento a dose ou troco para ver se responde melhor. Se na phmetria, quando a mãe notou o sintoma na criança (a dor, a pirose), na verdade não teve nenhuma exposição ácida naquele momento, o ph estava alto na phmetria, não tem nada de sintomas associados a exposição ácida. Esse paciente na verdade tem uma dispepsia funcional, o sintoma dele não tem nada a ver com uma exposição ácida anormal da mucosa. Já pode existir aquela criança que tem sintoma e quando ele tem sintoma, tem até uma queda do Ph, só que não é uma queda do pH impactante para se caracterizar como uma algo patológico, é como se ele tivesse uma hipersensibilidade do esôfago, então cai um pouquinho, a composição ácida ainda é normal, só que nos episódios que ele está um pouco mais ácido, ele tem a sintomatologia. Então são 3 situações: ❖ Sintomas associados a exposição ácida normal, que é realmente uma doença do refluxo não erosiva, vão continuar seu IBP; ❖ Sintoma que não tem nada a ver com as exposições ácidas, quando está com sintoma o ph normal, está alcalino, isso é uma dispepsia funcional; ❖ Sintomas que acontecem quando você tem uma variação de ph mas ainda não é aquela queda de ph importante, aí você tem uma hipersensibilidade de esôfago. Geralmente nessas situações ainda usa IBP por um tempinho maior, mas é importante você detectar qual é a classe que o paciente se encaixa, que distúrbios funcionais se sabe que já tem outra conduta terapêutica também. Casos Cenário 1 Paciente 3 meses de vida, trazido ao ambulatório de gastropediatria por seus pais que referem que há 1 mês o lactentevem aprensentado inúmeras regurgitações pós mamada (6-8 episódios ao longo do dia) e alguns episódios de irritabildiade de curta duração após a mamada. Refe que nos últimos dias os episódios de regurgitações aumentaram e algumas vezes o conteúdo das mesmas sai pelo nariz. Criança está em aleitamento materno exclusivo, vem em ganho de peso adequado (30g/dia) e não recusa as mamadas, sendo definida pela mãe como ¨bebê guloso¨. Apresentou cólicas desde o primeiro mês de vida, mas as mesmas cessaram há cerca de 2 semanas. Refere sono tranquilo só acordando pra mamar 1 vez durante a madrugada. Dejeções presentes diárias sem alterações. Nega engasgos ou infecções de vias áreas. Conversando sobre o caso: é um regurgitador feliz. Só pela clínica, dá pra fazer a classificação. Não há necessidade de exames e medicamentos. Sobre o caso acima, assinale a alternativa correta: a) Trata-se da doença do refluxo gastroesofágico, que pode acometer cerca de 60 % dos lactentes. b) Deve-se pesquisar mal formação anatômica pra esse paciente devido a faixa etária não compatível com o refluxo fisiológico. c) Aa presença de irritabilidade pós mamada sugere fortemente a doença do refluxo gastroesofágico. d) No refluxo gastroesofágico fisiológico, as regurgitações podem se manter por tempo prolongado até os dois anos de vida. e) O paciente preenche critério de Roma IV PARA refluxo fisiológico e possui idade compatível para o refluxo fisiológico. COMENTÁRIOS A) FALSO. Primeiro que não é a doença do refluxo até que se prove o contrário, e segundo que a doença do refluxo não acomete cerca de 60%, o que pode dar cerca de 40 a 60% é o refluxo fisiológico ou dispepsia funcional (acho que foi isso). B) FALSO. Primeiro, a faixa etária é compatível com o refluxo fisiológico, lembrando que é a partir da 16 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Regurgitação do lactente e DRGE 3ª semana de vida até um ano idade, a partir de 6 meses tende a diminuir e o pico ocorre geralmente por volta de 2 a 4 meses. Quando eu pesquiso má formação anatômica? Quando tem vômito bilioso, ou vômito iniciado antes, no período neonatal ou que inicia após 3 meses ou que prolonga além de um ano, um ano e meio. C) FALSO. Pode ter irritabilidade pós mamada por vários motivos. Primciro, tem o próprio refluxo fisiológico que não deixa de ter um pouquinho de refluxo, mas não é algo patológico; segundo, reflexo gastrocólico após se alimentar; e terceiro, pode estar ainda com fome querendo mamar mais. Então irritabilidade pós mamada não é um dado que sugere fortemente a doença de refluxo. D) FALSO. Geralmente se mantém até um ano de vida, tende a diminuir a partir do 6º mês, um ano/ um ano e meio já é para ter encerrado. Se está além de 1 ano / 1 ano e meio, pensar em diagnósticos diferenciais. E) VERDADE. Critérios de Roma IV: regurgitações a partir de 3 semanas a um ano. Ele está na faixa etária compatível e tem mais de 2 episódios e não tem nenhum sinal para pensar em doença do refluxo e nem sinais de alarme para se pensar em diagnósticos diferenciais. Conduta diagnóstica: A gente já sabe que o refluxo fisiológico não é pra fazer exame nenhum. Assinale a alternativa referente a condutas diagnósticas indicadas no caso acima: A) A phmetria de 24 horas está indicada como padrão ouro para o diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico. B) Deve ser solicitada USG de abdômen para confirmar a presença de DRGE. C) A EDA está indicada pois a irritabilidade tem associação com esofagite em grande parcela dos pacientes com DRGE. D) Não há necessidade de realização de exames complementares para elucidação do RGE. E) Deve-se solicitar estudo radiológico contrastado do esôfago, estômago e duodeno para avaliar anatomia do TGI alto. COMENTÁRIOS A) FALSO. A phmetria de 24 horas não está indicada e não é padrão ouro B) FALSO. O USG não confirma doença do refluxo e só serve para diagnósticos diferenciais de causa anatômica. C) FALSO. Não é todo paciente que tem esofagite na endoscopia e tem refluxo. D) Verdadeira. E) FALSO, pois não tenho nada ainda pra pensar em más formações anatômicas; a idade não é compatível, a clínica não é compatível, então não precisa de nenhum exame. É refluxo fisiológico? É. Faz exame? Não. Faz conduta terapêutica? Não. Ainda sobre o caso acima, assinale a alternativa correta em relação as condutas terapêuticas: A) Deve ser estimulado o uso de fórmulas antirefluxo a qual deve ser oferecida de maneira fracionada. B) O uso de antagonistas do receptor de H2 é a conduta adequada nesse caso de DRGE leve. C) Os pais devem ser orientados sobre a necessidade de medidas posturais, correção das técnicas de amamentação e a benignidade do quadro. D) Devem ser suspensos o leite e derivados da dieta materna por 2-4 semanas para avaliar a possibilidade de Alergia a proteína do leite de vaca. E) Deve ser prescrito IBP por 4-8 semanas e caso haja falha terapêutica deve ser solicitada EDA. COMENTÁRIOS A) FALSO. Ele está em aleitamento materno exclusivo, não é pra suspender o aleitamento e passar fórmula de regurgitação não. B) FALSO. Não é um quadro de doença do refluxo leve, se fosse, até poderia usar o antagonitya de receptor H2 se estivesse disponível. C) Verdadeira. D) FALSO. Isso aqui só seria correto se estivesse pensando na possibilidade da doença do refluxo gastroesofágico. E) FALSO. Só vou prescrever IBP se estiver pensando em doença do refluxo; não respondeu com dieta isenta de proteína de leite, aí então se prescreve IBP. Se não melhorar, pode se pensar em pedir uma endoscopia ou outro exame para diagnóstico diferencial.
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