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Julia Paris Malaco – UCT18 SP2 – problemas mentais e de comportamento Transtornos de ansiedade A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a intersecção entre o físico e o psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções, aumento da motilidade intestinal e cefaleia, inquietação, etc. Trata-se de um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma ameaça conhecida, definida; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga. A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações potencialmente danosas ou qualquer ameaça à unidade ou integridade pessoal, tanto física como moral. Dessa forma, ela prepara o organismo para tomar as medidas necessárias para impedir a concretização desses possíveis prejuízos. As síndromes ansiosas “puras” são ordenadas inicialmente em dois grandes grupos: quadros em que a ansiedade é constante e permanente (ansiedade generalizada, livre e flutuante) e quadros em que há crises de ansiedade abruptas e mais ou menos intensas. São as chamadas crises de pânico, que podem configurar, se ocorrerem de modo repetitivo, o transtorno de pânico. Fisiopatologia da ansiedade Existem 3 teorias sobre o porque a ansiedade ocorre: teoria psicanalitica, teoria comportamental e teoria existencial Teoria psicanalítica (freud): Ela era percebida como resultado de conflito psíquico entre desejos sexuais ou agressivos inconscientes, com as ameaças correspondentes do superego e da realidade externa. Em resposta a esse sinal, o ego mobilizava mecanismos de defesa para evitar que pensamentos e senti-mentos inconscientes inaceitáveis emergissem para a percepção cons- ciente. Em seu artigo clássico Inibições, sintomas e ansiedade, Freud afirma que “era a ansiedade que produzia a repressão, e não, como eu antes acreditava, a repressão que produzia a ansiedade”. Hoje, mui-tos neurobiologistas continuam a corroborar várias das ideias e teorias originais de Freud. Um exemplo é o papel da amígdala, que facilita a resposta de medo sem qualquer referência à memória consciente e fun- damenta o conceito de Freud de um sistema de memória inconsciente para respostas de ansiedade. Teoria comportamental: As teorias comportamentais ou de aprendizagem da ansiedade postulam que a ansiedade é uma res- posta condicionada a um estímulo específico do ambiente. Em um modelo de condicionamento clássico, uma menina criada por um pai abusivo, por exemplo, pode se tornar ansiosa assim que enxerga esse pai. Por meio de generalização, ela pode passar a desconfiar de todos os homens. No modelo de aprendizagem social, uma criança pode desenvolver uma resposta de ansiedade imitando a ansiedade no ambiente, por exemplo, em casos de pais ansiosos. Teoria existencial: As teorias existenciais da ansiedade for-necem modelos para ansiedade generalizada, na qual não há um estímulo específico identificável para a sensação crônica de ansie-dade. O conceito central da teoria existencial é o de que as pessoas experimentam sentimentos de viver em um universo sem objetivo. A ansiedade é sua resposta ao vazio de sentido e existência. Essas preocupações existenciais podem ter aumentado desde o desenvolvi-mento das armas nucleares e do terrorismo biológico. Contribuições biológicas Sistema nervoso autônomo: A estimulação do sistema ner-voso autônomo causa certos sintomas, como: cardiovasculares (p. ex., taquicardia), musculares (p. ex., cefaleia), gastrintestinais (p. ex., diarreia) e respiratórios (p. ex., taquipneia). Os sistemas nervosos autônomos de alguns pacientes com transtorno de ansiedade, sobre- tudo aqueles com transtorno de pânico, exibem tônus simpático aumentado, se adaptam lentamente a estímulos repetidos e respondem de maneira excessiva a estímulos moderados. Julia Paris Malaco – UCT18 Neurotransmissores: Os três principais neurotransmissores associados a ansiedade, com base em estudos com animais e em respostas a tratamento medicamentoso, são a norepinefrina (NE), a serotonina e o ácido aminobutírico (GABA). Norepinefrina: Os sintomas crônicos vivenciados por pacientes com transtorno de ansiedade, como ataques de pânico, insônia, sobressalto e hiperexcitação autonômica, são característicos de aumento da função noradrenérgica. A teoria geral sobre seu papel nos transtornos de ansiedade é a de que os pacientes afetados podem ter um sistema noradrenérgico com problemas de regulação, com surtos ocasionais de atividade. Os corpos celulares desse sistema estão localizados principalmente no locus ceruleus (onde o aumento da estimulação produz uma reposta ao medo) na ponte rostral e projetam seus axônios para o córtex cerebral, o sistema límbico, o tronco cerebral e a medula espinal. Eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal: Evidências consistentes indicam que muitas formas de estresse psicológico aumentam a síntese e a liberação de cortisol. O cortisol serve para mobilizar e reabastecer os estoques de energia e contribui para aumentar o alerta, a vigilância, a atenção focada e a formação de memória; inibe o crescimento e o sistema reprodutivo; e contém a res-posta imune. A secreção excessiva e contínua dessa substância pode ter efeitos adversos graves, entre eles hipertensão, osteoporose, imu- nossupressão, resistência a insulina, dislipidemia, distúrbios de coa-gulação e, por fim, aterosclerose e doença cardiovascular. Hormônio liberador de corticotrofina (crh): Um dos mais importantes mediadores da resposta de estresse, o CRH coordena as mudanças comportamentais e fisiológicas adaptativas que ocorrem durante esse estado. Os níveis hipotalâmicos de CRH são aumentados pelo estresse, resultando em ativação do eixo HHS e aumento da liberação de cortisol e desidroepiandrosterona (DHEA). Serotonina. A identificação de muitos tipos de receptores estimulou a pesquisa sobre o papel da serotonina na patogênese dos transtornos de ansiedade. Diferentes tipos de estresse agudo resultam do aumento no turnover de 5- hidroxitriptamina (5-HT) no córtex pré-frontal, no nucleus accumbens, na amígdala e no hipotálamo lateral. Os corpos celulares da maioria dos neurônios serotonérgicos estão localizados nos núcleos da rafe do tronco cerebral rostral e se projetam para o córtex cerebral, o sistema límbico (em especial para a amígdala e o hipocampo) e o hipotálamo. Sistema límbico: Além de receber inervação noradrenérgica e serotonérgica, o sistema límbico contém, ainda, alta concentração de receptores GABAA Duas áreas do sistema límbico re-ceberam atenção especial na literatura: aumento da atividade na via septo-hipocampal, que pode levar a ansiedade, e o giro do cíngulo, implicado particularmente na fisiopatologia do TOC. Córtex cerebral: O córtex cerebral frontal conecta-se com a região para-hipocampal, o giro do cíngulo e o hipotálamo e, dessa forma, pode estar envolvido na produção dos transtornos de ansieda-de. O córtex temporal também foi implicado no local fisiopatológico dos transtornos. Essa associação baseia-se, em parte, na semelhança da apresentação clínica e da eletrofisiologia entre alguns pacientes com epilepsia do lobo temporal e pacientes com TOC. Transtorno de ansiedade generalizada Segundo critérios do DSM-5, o transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preocupação ou ansiedade excessivas, com motivos injustificáveis ou desproporcionais ao nível de ansiedade observado. Nesses quadros, são frequentes sintomas como insônia, dificuldade em relaxar, angústia constante, irritabilidadeaumentada e dificuldade em concentrar-se. São também comuns sintomas físicos como cefaleias, dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria. Para o seu diagnóstico, é preciso que outros transtornos de ansiedade, como pânico e fobia social, tenham sido descartados. É necessário também que essa ansiedade excessiva dure elo menos ou mais de 6 meses continuamente e que seja diferenciada da ansiedade normal ou da causada por alguma doença física ou substância e que também ocorra em diferentes atividades e eventos da vida. A prevalência anual é de 3 a 8%, e é mais frequente em mulheres (2:1), com início na segunda década de vida. De acordo com a escola cognitivo- comportamental, indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada respondem de forma incorre-ta e imprecisa aos perigos percebidos. Isso é gerado pela atenção seletiva a detalhes negativos no ambiente, por distorções no proces- Julia Paris Malaco – UCT18 samento de informações e por uma visão global negativa sobre a própria capacidade de enfrentar os problemas. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como de-sempenho escolar ou profissional). B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). (Em crianças apenas um item é exigido) Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. Fatigabilidade. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente, esquecimentos. Irritabilidade. Tensão muscular. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto) D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo--compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos trau-máticos no transtorno de estresse pós-traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de cren-ças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante). Diagnostico diferencial: Assim como os outros transtornos de ansiedade, o transtorno de an- siedade generalizada deve ser diferenciado de transtornos clínicos e de transtornos psiquiátricos. Transtornos neurológicos, endocrinoló-gicos, metabólicos e relacionados a medicamentos, semelhantes àque-les considerados no diagnóstico diferencial de transtorno de pânico, devem ser considerados no diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada. Transtornos de ansiedade de coocorrência comum tam-bém devem ser considerados, incluindo transtorno de pânico, fobias, TOC e TEPT. Tratamento: O tratamento é realizado com antidepressivos e/ou benzodiazepínicos de ação prolongada (diazepam), acompanhado de psicoterapia. As três principais opções de medicamentos a serem consideradas para o tratamento desse transtorno são os benzodiazepínicos, os ISRSs, a buspirona e a venlafaxina. Lembrando que os benzodiazepínicos so são usados de forma aguda, não podem ser usados por longos períodos Outros agentes que podem ser úteis são os tricíclicos (p. ex., a imipramina), os anti- histamínicos e os antagonistas β-adrenérgicos (p. ex., o propranolol). Embora o tratamento medicamentoso do transtorno de ansiedade generalizada seja, às vezes, considerado uma intervenção de 6 a 12 meses, alguma evidência indica que ele deve ser a longo prazo, talvez por toda a vida. Transtorno de pânico Julia Paris Malaco – UCT18 Um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente é conhecido como transtorno de pânico O transtorno de pânico caracteriza-se por crises súbitas e imprevisíveis de elevada ansiedade e medo, com taquicardia, sudorese, tontura, dor no peito, falta de ar e sensação de morte ou de perda de controle (ataques de pânico). Denomina-se o quadro de transtorno de pânico caso as crises sejam recorrentes, com desenvolvimento de medo de ter novas crises, preocupações com possíveis implicações da crise (perder o controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer) e sofrimento subjetivo significativo. Dos pacientes com transtorno de pânico, 91% têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico Para definir o transtorno, devem ocorrer vários ataques de pânico em um período de, pelo menos, 1 mês, sem que haja circunstâncias com perigo objetivo. As crises de ansiedade no pânico duram aproximadamente 10 minutos e costumam ser inesperadas, ou seja, não seguem situações especiais (como na fobia simples ou na fobia social), podendo surpreender o paciente em ocasiões variadas. O transtorno de pânico pode ou não ser acompanhado de agorafobia, ou seja, muito desconforto e fobia de lugares amplos e aglomerações O transtorno de pânico, em geral, inicia-se depois dos 20 anos, sendo igualmente prevalente entre homens e mulheres. Portanto, em sua maioria, as pessoas acometidas de pânico são jovens ou adultos jovens e estão na plenitude da vida profissional. Temas psicodinâmicos no transtorno de pânico: Dificuldade de tolerar raiva. Separação física ou emocional de pessoa significativa tanto na infância como na vida adulta. Pode ser desencadeado por situações de aumento de res-ponsabilidade no trabalho. Percepção dos pais como controladores, assustadores, críti-cos e exigentes. Representações internas de relacionamentos envolvendo abuso sexual ou físico. Sensação crônica de se sentir em uma armadilha. Círculo vicioso de raiva relacionada a comportamento de rejeição dos pais seguida pela ansiedade de que a fantasia destruirá o elo com os pais. Falha da função da ansiedade-sinal no ego relacionada a fragmentação do self e a confusão dos limites self-outro. Mecanismos de defesa típicos: formação de reação, anula-ção, somatização, exteriorização. Ataques de pânico: Um ataque de pânico é um período súbito de intenso medo ou apreensão que pode durar de minutos a horas. Ele pode ocorrer também em outros transtornos mentais, particularmente na fobia específica, na fobia social e no TEPT. Ataques inesperados ocorrem a qualquer momento e não estão associados a um estímulo situacional identificável, mas não precisam se apresentar dessa forma. Eles podem ou não ocorrer quando um paciente é exposto a um gatilho específico, ou podem ocorrer tanto imediatamente após exposição quanto após uma considerável demora. O ataque com frequência começa com um período de 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte e tragédia iminentes. Os pacientes em geral não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentirconfusos e ter problemas para se concentrar. Os sintomas físicos costumam incluir taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese. O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora. O exame formal do estado mental durante o ataque de pânico pode revelar ruminação, dificuldade de fala (p. ex., gagueira) e comprometimento da memória. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: (O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso) Palpitações, coração acelerado, taquicardia. Sudorese. Tremores ou abalos. Sensações de falta de ar ou sufocamento. Sensações de asfixia. Dor ou desconforto torácico. Náusea ou desconforto abdominal. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. Calafrios ou ondas de calor. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). Julia Paris Malaco – UCT18 Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. Medo de morrer. (Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (p. ex., tinido, dor na nuca, cefaleia, gritos ou choro incon-trolável). Esses sintomas não devem contar como um dos quatro sintomas exigidos) Sintomas depressivos com frequência estão presentes no transtorno de pânico, e em alguns pacientes, um transtorno depressivo coexiste com o transtorno de pânico. Alguns estudos verificaram que o risco de suicí-dio durante a vida nesse grupo é mais alto do que em pessoas sem trans-torno mental. Os médicos devem estar atentos para o risco de suicídio. Além da agorafobia, outras fobias e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) podem coexistir com o transtorno de pânico. As consequências psicossociais do transtorno de pânico, além da discórdia conjugal, po-dem incluir tempo perdido no trabalho, dificuldades financeiras relacio-nadas à perda do trabalho e abuso de álcool e outras substâncias. Diagnostico diferencial: Os ataques de pânico estão associados com uma variedade de distúrbios endocrinológicos, incluindo estados hipo e hipertireoidianos, hiperparatireoidismo e feocromocitomas. Hipoglicemia episódica associada com insulinomas também pode produzir estados semelhantes a pânico, assim como os processos neuropatológicos primários. Estes incluem transtornos convulsivos, disfunção vestibular, neoplasmas ou os efeitos sobre o SNC de substâncias prescritas ou ilícitas. Por fim, distúrbios dos sistemas cardíaco e pulmonar, incluindo arritmias, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, podem produzir sintomas autonômicos e aumento da ansiedade que podem ser difí-ceis de diferenciar de transtorno de pânico. Além disso, intoxicação por drogas ou abstinência das mesmas causam sintomas semelhantes ao pânico. O transtorno de pânico também deve ser diferenciado de uma sé-rie de transtornos psiquiátricos, em particular outros transtornos de ansiedade. Ataques de pânico ocorrem em muitos transtornos de ansiedade, entre eles fobia social e específica. Pânico também pode ocorrer no TEPT e no TOC. O segredo para diagnosticar de maneira correta o transtorno de pânico e diferenciar a condição de outros transtornos de ansiedade envolve a documentação de ataques de pânico espontâneos recorrentes em algum momento na doença. A diferenciação de transtorno de ansiedade generalizada também pode ser difícil. Classicamente, os ataques de pânico são caracterizados por seu início rápido (em minutos) e duração curta (em geral menos de 10 a 15 minutos), em comparação com a ansiedade associada com o transtorno de ansiedade generalizada, que surge e se dissipa mais lentamente. Fobia especifica e fobia social também são importantes diagnósticos diferencias. Tratamento: O tratamento deve ser realizado com antidepressivos, preferencialmente inibidores seletivos da recaptação da serotonina, em dose mais baixa do que a utilizada em casos de depressão. No início do tratamento, pode ser associado um benzodiazepínico de ação rápida ou intermediária, como lorazepam ou alprazolam, para melhora mais rápida das crises. Paralelamente à medicação, deve-se indicar psicoterapia, em especial da linha cognitivocomportamental, que focaliza a redução dos sintomas e a parada das crises. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina: Todos os ISRSs são eficientes para o transtorno de pânico. A paroxetina e a paroxetina CR têm efeitos sedativos e tendem a acalmar os pacien-tes de imediato, o que leva a maior adesão e a menos interrupções, mas isso deve ser contrabalançado com seu potencial de ganho de peso. O citalopram, o escitalopram, a fluvoxamina e a sertralina são as seguintes mais bem toleradas. Relatos empíricos sugerem que indivíduos com transtorno de pânico são particularmente sensíveis aos efeitos ativadores dos ISRSs, em especial da fluoxetina, portanto eles devem ser administrados em pequenas doses iniciais, elevadas pouco a pouco. Na dose terapêutica – por exemplo, 20 mg por dia de paroxetina –, alguns pacientes podem experimentar aumento da sedação. Benzodiazepínicos: Esses agentes têm o início de ação mais rápido contra o pânico, por vezes na primeira semana, e podem ser utilizados por períodos longos sem o desenvolvimento de tolerância aos efeitos antipânico. O alprazolam tem sido o mais utilizado para o transtorno de pânico, mas estudos controlados demonstraram efi-cácia igual para o lorazepam, e relatos de caso também indicaram que o clonazepam pode ser eficaz. Após 4 a 12 semanas, o uso dos benzodiazepínicos pode ser reduzido pouco a Julia Paris Malaco – UCT18 pouco (ao longo de 4 a 10 semanas), en- quanto o medicamento serotonérgico é continuado. Medicamentos tricíclicos e tetracíclicos: Atualmente, os ISRSs são considerados os agentes de primeira linha para o trata-mento de transtorno do pânico. Entretanto, dados mostram que entre os medicamentos tricíclicos, a clomipramina e a imipramina são os mais eficazes no tratamento desse transtorno. A experiência clínica indica que as doses devem ser aumentadas aos poucos, para evitar a estimulação excessiva, e que o benefício clínico completo necessita de dosagens totais, que podem não ser atingidas por 8 a 12 semanas. Os medicamentos tricíclicos não são tão utilizados quanto os ISRSs, porque, em geral, têm efeitos adversos mais graves nas doses mais altas necessárias para o tratamento efi-caz do transtorno. Inibidores da monoaminoxidase: Dados consistentes apoiam a eficácia da fenelzina, e alguns também apoiam o uso da tranilcipromina. Os IMAOs parecem ter menos probabilidade de causar estimulação excessiva do que os ISRSs e os tricíclicos, mas podem requerer doses totais por pelo menos 8 a 12 semanas para serem eficazes. São pouco usados atualmente. Uma vez eficaz, o tratamento farmacológico, em geral, deve continuar por 8 a 12 meses. Dados in- dicam que o transtorno de pânico é uma condição crônica, talvez para toda a vida, que tem recorrência quando o tratamento é interrompido. Terapia cognitiva: Terapia cognitiva. Os dois focos principais da terapia cogniti-va para transtorno de pânico são a instrução sobre as falsas crenças do paciente e a informação sobre os ataques de pânico. O primeiro ponto se concentra na tendência do paciente a interpretar de forma equivocada sensações corporais leves como indicativos iminentes de ataques de pânico, tragédia ou morte. O segundo inclui explicações de que, quando os ataques de pânico ocorrem, são de tempo limitadoe não ameaçam a vida. Agorafobia Na agorafobia, o medo e a angústia relacionam- se a um conglomerado de pessoas em espaços amplos ou em locais de onde possa ser difícil escapar ou onde o auxílio ou a presença de pessoas próximas não seja rapidamente acessível. Há tendência de evitar tais situações, o que geralmente leva a estreitamento das possibilidades vivenciais do indivíduo, restringindo- o, às vezes, a sua casa e a ambientes muito familiares e seguros. O medo ou a ansiedade devem ser persistentes e durar pelo menos seis meses. Indivíduos com agorafobia evitam de forma rígida situações nas quais seria difícil obter ajuda. Podem insistir em ser acompanhados toda vez que saem de casa. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Medo ou ansiedade marcantes acerca de duas (ou mais) das cinco situações seguintes: Uso de transporte público (p. ex., automóveis, ônibus, trens, navios, aviões). Permanecer em espaços abertos (p. ex., áreas de estacio-namentos, mercados, pontes) Permanecer em locais fechados (p. ex., lojas, teatros, cine-mas). Permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão. Sair de casa sozinho. B. O indivíduo tem medo ou evita essas situações devido a pensa-mentos de que pode ser difícil escapar ou de que o auxílio pode não estar disponível no caso de desenvolver sintomas do tipo pânico ou outros sintomas incapacitantes ou constrangedores (p. ex., medo de cair nos idosos; medo de incontinência). C. As situações agorafóbicas quase sempre provocam medo ou ansiedade. D. As situações agorafóbicas são ativamente evitadas, requerem a presença de uma companhia ou são suportadas com intenso medo ou ansiedade E. O medo ou ansiedade é desproporcional ao perigo real apre-sentado pelas situações agorafóbicas e ao contexto sociocultu-ral. F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente duran-do mais de seis meses. G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H. Se outra condição médica (p. ex. doença inflamatória intestinal, doença de Parkinson) está presente, o medo, ansiedade ou es-quiva é claramente excessivo. I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental – por exemplo, os sinto-mas não estão restritos a fobia específica, tipo situacional; não envolvem apenas situações sociais (como no transtorno de an-siedade Julia Paris Malaco – UCT18 social); e não estão relacionados exclusivamente a ob-sessões (como no transtorno obsessivo-compulsivo), percepção de defeitos ou falhas na aparência física (como no transtorno dismórfico corporal) ou medo de separação (como no transtor-no de ansiedade de separação). Diagnostico diferencial: O diagnóstico diferencial para agorafobia inclui todos os transtornos clínicos que possam causar ansiedade ou depressão. O diagnóstico diferencial psiquiátrico inclui transtorno depressivo maior, esquizo-frenia, transtorno da personalidade paranoide, transtorno da perso-nalidade esquiva e transtorno da personalidade dependente. Tratamento: Benzodiazepínicos: Estes são os agentes com início de ação mais rápido contra pânico. Alguns pacientes os utilizam conforme necessário quando se defrontam com um estímulo fóbico. Alprazolam e lorazepam são os mais frequentemente prescritos. O clonazepam também demonstrou ser eficaz. Os efeitos colaterais mais comuns são tontura e sedação leves, que costumam ser atenuados pelo tempo ou pela mudança da dose. Não devem ser usados com álcool ou outras substancias. Inibidores seletivos da recaptaçao de serotonina: As doses efetivas são essencialmente as mesmas que para o tratamento de depressão, embora seja costumeiro iniciar com doses mais baixas do que na depressão para minimizar um efeito ansiolítico inicial, que é qua-se sempre de curta duração, e elevá-las de modo gradual até uma dose terapêutica. As principais vantagens dos antidepressivos ISRSs incluem seu melhor perfil de segurança na superdosagem e carga de efeitos colaterais mais tolerável. Os efeitos colaterais comuns da maioria dos ISRSs são distúrbio do sono, sedação, vertigem, náusea e diarreia; muitos desses efeitos adversos melhoram com o uso continuado. Outro efeito colateral bastante relatado dos ISRSs é disfunção sexual. Medicamentos tricíclicos e tetracíclicos: Embora os ISRSs sejam considerados os agentes de primeira linha para o trata-mento de transtornos de pânico com ou sem agorafobia, os medica-mentos tricíclicos clomipramina e imipramina são os mais eficazes no tratamento desses transtornos. As dosagens devem ser elevadas gradual e lentamente para evitar estimulação excessiva (p. ex., sín-drome de “nervosismo”), e o benefício clínico total requer dosagens plenas e pode não ser alcançado por 8 a 12 semanas. Psicoterapia de apoio: A psicoterapia de apoio envolve o uso de conceitos psicodinâmicos e uma aliança terapêutica para promover o enfrentamento adaptativo. As defesas adaptativas são en-corajadas e fortalecidas, e as mal-adaptativas são desencorajadas. Psicoterapia orientada ao insight: Nessa psicoterapia, o objetivo é aumentar o desenvolvimento de insight do paciente a res- peito dos conflitos psicológicos, que, se não resolvidos, podem se manifestar como sintomas comportamentais. Terapia comportamental: Nessa terapia, o pressuposto bási-co é o de que a mudança pode ocorrer sem o desenvolvimento de insight psicológico das causas subjacentes. As técnicas incluem re-forço positivo e negativo, dessensibilização sistemática, inundação, implosão, exposição gradual, prevenção de resposta, interrupção de pensamento, técnicas de relaxamento, terapia de controle do pânico, automonitoração e hipnose. Terapia cognitiva: Essa é terapia baseada na premissa de que o comportamento mal- adaptativo é secundário a distorções em como as pessoas se percebem e em como os outros as percebem. O tratamento é de curto prazo e interativo, com atribuição de lição de casa e tarefas a serem realizadas entre as sessões enfocando a correção de suposições e cognições distorcidas. A ênfase é em confrontar e examinar situa-ções que evocam ansiedade interpessoal e depressão leve associada. Terapia virtual: Foram desenvolvidos programas de compu-tador que permitem que os pacientes se vejam como avatares que são, então, colocados em espaços abertos ou superlotados (p. ex., um supermercado). À medida que se identificam com os avatares em sessões virtuais repetidas, eles são capazes de dominar sua ansieda-de por meio de descondicionamento. Fobia especifica Caracteriza-se por medo intenso, persistente, desproporcional e irracional a objetos, circustancias, situações, animais específicos. A exposição ao objeto ou animal fobígenos geralmente deflagra um estado de angústia, que pode chegar a uma crise de pânico. Os indivíduos Julia Paris Malaco – UCT18 acometidos reconhecem o caráter irracional e desproporcional de seus medos. O diagnóstico de fobia específica requer o desenvolvimento de ansiedade intensa, mesmo a ponto de pânico, quando da exposição ao objeto temido Estima-se que 5 a 15% da população apresente sintomas fóbicos sociais, resultando em diferentes graus de incapacitação e sofrimento. Costuma ser mais frequente em mulheres. A idade de início geralmente se situa no início da adolescência, podendo ocorrer entre 5 e 35 anos. A fobia específica é mais comum que a fobia social. Temas psicodinâmicos nas fobias: Os principais mecanismos de defesa incluem deslocamento, projeção e esquiva. Estressores ambientais, incluindo humilhação e crítica de um irmão maisvelho, brigas dos pais, ou perda ou separação dos pais, interagem com uma diátese genético-constitucional. Um padrão característico de relações objetais internas é exterio-rizado em situações sociais, no caso da fobia social. A antecipação de humilhação, crítica e ridículo é projetada nos indivíduos no ambiente. Vergonha e embaraço são os principais estados afetivos. Os membros da família podem encorajar o comportamento fó-bico e servir como obstáculos a qualquer plano de tratamento. A autoexposição à situação temida é o princípio básico do tra-tamento. O desenvolvimento de uma fobia específica pode resultar da associa-ção de um objeto ou da situação específicos com as emoções de medo e pânico. Foram postulados vários mecanismos para essa relação. Em ge-ral, uma tendência não específica de experimentar medo ou ansiedade forma a cortina de fundo; quando um evento específico (p. ex., dirigir) é associado a uma experiência emocional (um acidente), o indivíduo fica suscetível a uma relação emocional permanente entre dirigir ou veículos e medo ou ansiedade. O DSM-5 inclui tipos distintos de fobia específica: Tipo animal Tipo ambiente natural (p. ex., tempestades) Tipo sangue-injeção--ferimentos (p. ex., agulhas) Tipo situacional (p. ex., carros, ele-vadores, aviões) Outro tipo (para fobias específicas que não se enquadram nos quatro tipos anteriores). O aspecto fundamental de cada tipo de fobia é que os sintomas de medo ocorrem apenas na presença de um objeto específico. As fobias são caracterizadas pelo desencadeamento de ansiedade grave quando as pessoas são expostas a situações ou objetos especí-ficos ou mesmo quando antecipam a exposição às situações ou aos objetos. A exposição ao estímulo fóbico ou sua antecipação quase invariavelmente resultam em um ataque de pânico em indivíduos suscetíveis. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue). (Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento de agarrar- se) B. O objeto ou situação fóbica quase invariavelmente provoca uma resposta imediata de medo ou ansiedade. C. O objeto ou situação fóbica é ativamente evitado ou suportado com intensa ansiedade ou sofrimento. D. O medo ou ansiedade é desproporcional em relação ao perigo real imposto pelo objeto ou situação específica e ao contexto sociocultural. E. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente com duração mínima de seis meses. F. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo G. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de ou-tro transtorno mental, incluindo medo, ansiedade e esquiva de situações associadas a sintomas do tipo pânico ou outros sinto-mas incapacitantes (como na agorafobia); objetos ou situações relacionados a obsessões (como no transtorno obsessivo-com-pulsivo); evocação de eventos traumáticos (como no transtorno de estresse pós-traumático); separação de casa ou de figuras de apego (como no transtorno de ansiedade de separação); ou situações sociais (como no transtorno de ansiedade social). Julia Paris Malaco – UCT18 O principal achado no exame do estado mental é a presença de um medo irracional e egodistônico de uma situação, uma ativida-de ou um objeto específicos; os pacientes são capazes de descrever como evitam o contato com a fobia. Com frequência, é encontrada depressão no exame do estado mental, a qual pode estar presente em até um terço de todos os casos. Diagnostico diferencial: As condições médicas não psiquiátricas que podem resultar no desen- volvimento de uma fobia incluem uso de substâncias (em particular alucinógenos e simpatomiméticos), tumores do SNC e doenças cere-brovasculares. A esquizofrenia também está no diagnóstico diferencial de fo-bia específica, porque os pacientes que a apresentam podem ter sinto-mas fóbicos como parte de suas psicoses. Entretanto, diferentemente dos pacientes com esquizofrenia, aqueles com fobia têm consciência da irracionalidade de seus medos e não apresentam a qualidade bizar-ra e os outros sintomas psicóticos que acompanham a esquizofrenia. No diagnóstico diferencial de fobia específica, os médicos devem considerar transtorno de pânico, agorafobia e transtorno da personalidade esquiva. Outros diagnósticos a considerar no diagnóstico diferencial de fobia específica são hipocondria, TOC e transtorno da personalidade paranoide. Tratamento: Terapia comportamental, psicoterapia orientada ao insight, terapia virtual. Beta bloqueadores são os mais utilizados nesse tipo de fobia. Um tratamento comum para fobia específica é a terapia de exposi-ção. Nesse método, os terapeutas dessensibilizam o paciente me-diante uma série de exposições graduais, passo a passo, ao estímulo fóbico e ensinam-lhe várias técnicas para lidar com a ansiedade, incluindo relaxamento, controle da respiração e abordagens cog-nitivas. As abordagens cognitivas incluem o reforço da percepção de que o estímulo fóbico é, na verdade, seguro. As características fundamentais da terapia comportamental bem-sucedida são o com- promisso do paciente com o tratamento, problemas e objetivos cla-ramente identificados e estratégias alternativas para lidar com os sentimentos evocados. Antagonistas dos receptores β-adrenérgicos podem ser úteis no tratamento de fobia específica, em especial quando asso-ciada com ataques de pânico. A farmacoterapia (p. ex., benzodiaze-pínicos), a psicoterapia ou a terapia combinada dirigida aos ataques também podem ser benéficas. Fobia social Caracteriza-se por medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam expor-se ao contato interpessoal, demonstrar capacidade de desempenho ou participar de situações competitivas e de cobrança. “Ansiedade social” e “fobia social” são termos usados muitas vezes como sinônimos, mas tende- se a ver a fobia social como um quadro mais grave que a ansiedade social. Segundo critérios do DSM-5, a fobia social é a intensa ansiedade gerada quando o desempenho do paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Tal ansiedade, ainda que generalizada, concentra-se sobre tarefas ou circunstâncias bem definidas. O indivíduo sente intensa angústia ao ter de falar em público, apresentar um seminário, fazer uma palestra, chegando a apresentar dificuldade até em utilizar banheiros públicos, alimentar-se em refeitórios públicos ou assinar cheques na frente de pessoas desconhecidas. O indivíduo tenta evitar tais situações e reconhece o caráter absurdo de seus temores. Passa-se a considerar tal vergonha ou timidez como patológicas quando a pessoa começa a sofrer algum prejuízo pessoal por causa dela. Observam-se, dentre os fóbicos, tremores, sudorese, sensação de “bolo na garganta”, dificuldade para falar, mal-estar abdominal, diarreia, tonturas, falta de ar e vontade de sair o quanto antes do local onde está. A preocupação por antecipação desperta a ansiedade antecipatória, fazendo que o paciente, vários dias antes de uma apresentação, sofra ao imaginar-se na situação. Julia Paris Malaco – UCT18 A idade média de início do transtorno de ansiedade social, segundo o DSM-5, é 13 anos, e 75% dos indivíduos têm idade de início entre 8 e 15 anos. As situações que geram maior desconforto aos pacientes, geralmente, são: Escrever ou assinar em público; Falar em público; Dirigir ou estacionar um carro enquanto éobservado; Cantar ou tocar um instrumento musical; Comer ou beber em público; Ser fotografado ou filmado; Usar sanitários públicos (mais para homens). As pessoas mais afetadas pela fobia social são os homens, ao contrário da maioria dos transtornos de ansiedade, que predomina entre as mulheres. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Medo ou ansiedade acentuados acerca de uma ou mais situações sociais em que o indivíduo é exposto a possível avaliação por outras pessoas. Exemplos incluem interações sociais (p. ex., manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares), ser observado (p. ex., comendo ou bebendo) e situações de desempenho diante de outros (p. ex., proferir palestras). (Em crianças, a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, e não apenas em interações com adultos). B. O indivíduo teme agir de forma a demonstrar sintomas de ansiedade que serão avaliados negativamente (i.e., será humilhante ou constrangedor; provocará a rejeição ou ofenderá a outros). C. As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. Nota: Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso chorando, com ataques de raiva, imobilidade, comportamento de agarrar-se, encolhendo- se ou fracassando em falar em situações sociais. D. As situações sociais são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade. E. O medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural. F. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses. G. O medo, ansiedade ou esquiva causa sofrimento clinica-mente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indi-víduo. H. O medo, ansiedade ou esquiva não é consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abu-so, medicamento) ou de outra condição médica. I. O medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado pelos sintomas de outro transtorno mental, como transtorno de pânico, transtorno dismórfico corporal ou transtorno do espectro autista. J. Se outra condição médica (p. ex., doença de Parkinson, obesidade, desfiguração por queimaduras ou ferimentos) está presente, o medo, ansiedade ou esquiva é claramente não relacionado ou é excessivo. Diagnostico diferencial: O transtorno de ansiedade social precisa ser diferenciado do medo adequado e da timidez normal. As considerações diagnósticas diferenciais para esse transtorno são agorafobia, transtorno de pânico, transtorno da personalidade esquiva, transtorno depressivo maior e transtorno da personalidade esquizoide. Enquanto falta de ar, tontura, sensação de sufocação e medo de morrer são comuns no transtorno de pânico e na agorafobia, os sintomas associados com transtorno de ansiedade social geralmente envolvem rubor, tensão muscular e ansiedade em relação a escrutínio. A diferenciação entre transtorno de ansiedade social e transtorno da personalidade esquiva pode ser difícil e exigir entrevistas e histórias psiquiátricas extensivas. A esquiva de situações sociais, muitas vezes, pode ser um sintoma na depressão, mas uma entrevista psiquiátrica com o paciente provavelmente revelará uma ampla constelação de sintomas depressivos. Em pacientes com transtorno da personalidade esquizoide, a falta de interesse em socializar, não o medo de socializar, leva ao comportamento social esquivo. Tratamento: Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis no tratamento do transtorno de ansiedade social. Os medicamentos eficazes no tratamento do transtorno de ansiedade social incluem ISRSs, os benzodiazepínicos, venlafaxina e buspirona. Em casos graves, tem sido relatado o tratamento bem-sucedido com IMAOs irreversíveis, como a fenelzina, e também com os reversíveis, como a moclobemida e a brofaromina O tratamento do transtorno de ansiedade social associado com situações de desempenho muitas vezes envolve a utilização de antagonistas β- adrenérgicos um pouco antes da exposição a um es-tímulo fóbico. Os dois compostos mais Julia Paris Malaco – UCT18 amplamente utilizados são atenolol, 50 a 100 mg administrados cerca de 1 hora antes do de- sempenho, ou propranolol, 20 a 40 mg. Outra opção para ajudar na ansiedade de desempenho é um benzodiazepínico de ação relativa-mente curta ou intermediária, tal como lorazepam ou alprazolam. Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou compul-sões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Elas consomem tempo e interferem significativamente em sua rotina normal, em seu funcionamento ocupacional, em atividades sociais ou nos relaciona-mentos. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma com-pulsão ou ambos. Segundo o DSM-5, obsessões são pensamentos, ideias, sentimentos recorrentes insistentes, intrusivos, caracterizados por serem desagradáveis, repulsivos, contrários à índole do paciente e incontroláveis. A obsessão é um evento apenas mental. Como este perde o controle sobre os pensamentos, muitas vezes passa a praticar atos que, por serem repetitivos, tornam-se rituais. Esses atos objetivam prevenir ou aliviar a tensão causada pelos pensamentos. Assim, as compulsões podem ser secundárias às obsessões. De forma específica, uma compulsão é um comportamento consciente, padronizado e recorrente, como contar, verificar ou evitar. As compulsões são gestos, rituais ou ações sempre repetitivas e incontroláveis. Um paciente que tenta evitá-las acaba submetido a uma tensão muito grande, por isso sempre cede. Não ocorre perda do juízo, e o indivíduo sempre percebe o absurdo ou o exagero do que se está passando; no entanto, como não sabe o que acontece, teme estar enlouquecendo e, pelo menos no começo, tenta esconder seus pensamentos e rituais. Tal transtorno apresenta dois picos de incidência. O primeiro, na infância, e o segundo, em torno dos 30 anos. A incidência é aproximadamente a mesma entre homens e mulheres. Sintomas obsessivos mais comuns: Sentir medo de contaminar-se por germes; Imaginar que tenha ferido ou ofendido outras pessoas Imaginar-se perdendo o controle, realizando violentas agressões Ter pensamentos sexuais urgentes e intrusivos Ter dúvidas morais e religiosas Ter pensamentos proibidos. Sintomas compulsivos mais comuns: Lavar-se para descontaminar-se Repetir determinados gestos Verificar se as coisas estão como deveriam: porta trancada, gás desligado Conferir objetos Contar objetos Ordenar ou arrumar objetos Rezar Como parte dos critérios diagnósticos do TOC, o DSM-5 permite aos médicos que indiquem se o TOC do paciente é caracteriza-do por Insight bom ou razoável: reconhecem que suas ideias do TOC definitiva ou provavelmente não são verdadeiras, ou podem ou não ser verdadeiras. Insight pobre: acreditam que suas ideias do TOC são provavelmente verdadeiras Insight ausente: estão convencidos de que suas ideias são verdadeiras. Uma sensação de terrível ansiedade acompanha a manifestação central, e a característica-chave de uma compulsão é que ela reduz a ansiedade associada com a obsessão. A obsessão ou a compulsão são estranhas ao ego; ou seja, são sentidas como algo fora da experiência pessoal do indivíduo como ser psicológico. Não importa o quão vívi-da ou persuasiva seja a obsessão ou a compulsão, a pessoa normal-mente a reconhece como algo absurdo e irracional. A pessoa que sofre das obsessões e compulsões, em geral, sente um forte desejo de re-sistir a elas Padrões desintomas: Contaminação: O padrão mais comum é uma obsessão de contaminação, seguida de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. Esses pacientes podem chegar a machucar a pele tentando se “descontaminar”. Dúvida patológica: O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo. Julia Paris Malaco – UCT18 Pensamentos intrusivos: No terceiro padrão mais comum, há pensamentos obsessivos intrusivos sem uma compulsão. Tais obsessões costumam ser pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. Simetria: O quarto padrão mais comum é a necessidade de si-metria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. Os pacientes podem literalmente levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba Outros padrões de sintomas: Obsessões religiosas e acúmu-lo compulsivo são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas: Obsessões são definidas por Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados, em algum momento durante a perturbação, como intrusivos e indesejados e que na maioria dos indivíduos causam acentuada ansiedade ou sofrimento. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. As compulsões são definidas por Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condi-ção médica. D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansieda-de generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]; estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupa-ções delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista). Diagnostico diferencial: transtornos semelhantes ao TOC que se associam a doenças do gânglio da base, tais como coreia de Sydenham e doença de Huntington. O TOC apresenta forte relação com o transtorno de Tourette. Em sua forma clássica, o transtorno de Tourette está associado com um padrão de tiques vocais e motores recorrentes que apresentam apenas uma leve semelhança com o TOC. Entretanto, os ímpetos premonitórios que precedem os tiques costumam se assemelhar enormemente às obsessões, e muitos dos tiques motores mais complicados são muito parecidos com as compulsões. Tratamento: O tratamento é realizado com antidepressivos. No início, podem-se utilizar benzodiazepínicos para o alívio rápido dos sintomas. Destaca-se a importância da psicoterapia, em especial da linha cognitivo-comportamental. Os fármacos, alguns dos quais usados para tratar transtornos depressivos ou outros transtornos mentais, podem ser administrados em sua dosagem habitual. Os efeitos iniciais costumam ser Julia Paris Malaco – UCT18 vistos após 4 a 6 semanas de tratamento, apesar de 8 a 16 semanas normalmente serem necessárias para se obter o máximo benefício terapêutico. A abordagem-padrão é iniciar o tratamento com um ISRS ou clomipramina e depois passar a outras estratégias farmacoló-gicas se as drogas específicas serotonérgicas não forem efetivas. As drogas serotonérgicas aumentaram a porcentagem de pacientes com TOC que tendem a responder melhor ao tratamento em um índice de 50 a 70%. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina: fluoxetina, fluvoxamina (Lu-vox), paroxetina, sertralina, citalopram. Embora os ISRSs possam causar perturbação do sono, náusea e diarreia, dores de cabeça, ansiedade e inquietação, esses efeitos adversos costumam ser transitórios, causando menos trabalho do que os efeitos adversos associados com as drogas tricíclicas, tais como clomipramina. Os melhores desfechos clínicos ocorrem quando os ISRSs são usados em combinação com terapia comportamental. Clomipramina: De todas as drogas tricíclicas e tetracíclicas, a clomipramina é a mais seletiva para recaptação de serotonina versus recaptação de norepinefrina, sendo excedida nisso apenas pelos ISRSs. A potência de recaptação de serotonina da clomipramina é excedida apenas pela sertralina e pela paroxetina. Sua dosagem deve ser titulada para cima por 2 ou 3 semanas para evitar efeitos gastrintestinais adversos e hipotensão ortostática, e, como ocorre com as outras drogas tricíclicas, causa sedação e efeitos anticolinérgicos significativos, incluindo boca seca e constipação. Como acontece com os ISRSs, os melhores desfechos são resultado de uma combinação de farmacoterapia e terapia comportamental. Outras drogas: valproato, lítio ou carbamazepina. Outras drogas que podem ser experimentadas no tratamento para TOC são venlafaxina, pindolol e os inibidores de monoaminoxi-dase (IMAO), especialmente fenelzina. Outros agentes farmaco-lógicos para o tratamento de pacientes não responsivos incluem buspirona, 5- hidroxitriptamina (5-HT), L-triptofano e clonazepam. A adição de um antipsicótico atípico, como a risperidona, ajudou em alguns casos. Terapia comportamental, psicoterapia Transtorno dismorfico corporal O transtorno dismórfico corporal é caracterizado pela preocupação com um defeito imaginado na aparência que causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo em importantes áreas do funcionamento. Se uma pequena anomalia física estiver de fato presente, a preocupação da pessoa com ela é excessiva e incômoda. Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno dismórfico corporal estipulam preocupação com um defeito percebido na aparência ou ênfase excessiva em um pequeno defeito. Ele também estabelece que, em algum momentodo curso do transtorno, o indivíduo realizará comportamentos compulsivos (i.e., olhar-se no espelho, arrumar-se em excesso) ou atos mentais (p. ex., comparar sua aparência à dos outros). A preocupação causa sofrimento emocional significativo aos pacientes ou grande prejuízo em seu funcionamento em áreas importantes. Tratamento: Apesar de relatos de que drogas tricíclicas, inibidores de monoaminoxidase (IMAOs) e pimozida são úteis em alguns casos individuais, outros dados indicam que drogas específicas serotonérgicas – por exemplo, clomipramina e fluoxetina, reduzem (Prozac). Qualquer paciente com um transtorno mental coexistente, tal como o depressivo ou o de ansiedade, deve ser tratado com a farmacoterapia e a psicoterapia adequadas. Não se sabe por quanto tempo o tratamento deve ser continuado após os sintomas do transtorno dismórfico corporal terem entrado em remissão. O aumento de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) com clomipramina, buspirona, lítio, metilfenidato ou antipsicóticos pode melhorar a frequência de resposta. Existe um grande risco em relação a cirurgia plástica, porque a maioria desses pacientes começa a fazer essas cirurgias buscando retirar aquele defeito que muitas vezes nem existe. Transtorno de acumulação Acumulação compulsiva é um fenômeno comum e frequentemente debilitante associado com prejuízo em funções como alimentar-se, dormir e se arrumar. O transtorno é caracterizado pela aquisição sem descarte de coisas que são consideradas de pouco valor, resultando no amon-toamento excessivo dos espaços de moradia. Julia Paris Malaco – UCT18 A acumulação, origi-nalmente, era considerada um subtipo de transtorno obsessivo-com-pulsivo (TOC), mas agora é considerada uma entidade diagnóstica separada. Ela costuma ser motivada por um medo obsessivo de perder itens importantes que a pessoa acredita poderem vir a ser úteis em algum momento futuro, por crenças distorcidas sobre a importância de posses e por um apego emocional extremo a elas. O transtorno de acumulação é caracterizado por aquisição e não descarte de uma grande quantidade de posses consideradas inúteis ou de pouco valor áreas habitadas amontoadas de coisas, impe- dindo atividades normais sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento devido à acumulação. O DSM-5 inclui especifica-dores diagnósticos relacionados ao insight, que pode ser considera- do pobre, razoável ou bom. Alguns pacientes estão completamente inconscientes de toda a extensão do problema e resistem ao trata-mento. A acumulação é motivada pelo medo de perder itens que o paciente acredita serem necessários mais tarde e pela crença distorcida de um apego emocional às posses. A maioria dos acumuladores não per-cebe seu comportamento como um problema. Na verdade, muitos o percebem como uma parte razoável de sua identidade. Tricotilomania O transtorno de arrancar o cabelo é crônico e caracterizado por puxar o cabelo repetitivamente, levando a perdas de cabelo variadas que podem ser visíveis aos outros. Também é conhecido como tricotilomania. Atualmente, é considerado mais comum. Ele é semelhante ao transtorno obsessivo-compulsivo e ao transtorno do controle de impulsos, porque há aumento da tensão antes de puxar o cabelo e alívio da tensão ou gratificação após tê-lo puxado. Antes de se envolver com o comportamento, os indivíduos afetados podem experimentar sensações crescentes de tensão seguidas de uma liberação de gratificação ao puxar o cabelo. Todas as áreas do corpo podem ser afetadas, mas a mais comum é o escalpo. Outras áreas envolvidas são as sobrancelhas, os cílios e a barba; tronco, axilas e áreas púbicas costumam ser menos envolvi-das. Foram descritos dois tipos do transtorno: Tricotilomania focada é o uso de um ato intencional para controlar experiências pessoais desagradáveis Tricotilomania automática ocorre além da percepção da pessoa e frequentemente durante atividades sedentárias. Puxar o cabelo não é relatado como algo doloroso, apesar de prurido ou formigamento poderem ocorrer na área envolvida. A tricofagia, colocar o cabelo na boca, pode vir após arrancá- lo. Complicações da tricofagia podem incluir tricobezoares, subnutrição e obstrução intestinal. Transtorno de escoriação O transtorno de escoriação, ou skin-picking, é caracterizado pelo comportamento compulsivo e repetitivo de beliscar a pele. Ele pode causar danos graves à pele e resultar na necessidade de vários trata-mentos dermatológicos. Ao longo da história, o transtorno de esco-riação teve muitos nomes: síndrome de arranhão da pele, escoriação emocional, artefato nervoso de arranhação, epidermotilomania e escoriação para-artificial. Os critérios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno de escoria-ção requerem arranhões recorrentes, que resultam em lesões de pele e tentativas repetidas de reduzir ou parar com os arranhões. Estes devem causar níveis significativos de sofrimento ou prejuízo fun-cional. O comportamento de beliscar a pele não pode ser atribuído a outra condição médica ou mental e não pode ser o resultado de um transtorno por uso de substâncias (p. ex., uso de cocaína ou de metanfetaminas). Os pacientes podem sentir tensão antes de arranhar, e alívio e gratificação depois. Muitos reconhecem o ato de arranhar como um meio de aliviar o estresse, a tensão e outros sentimentos negativos. Apesar do alívio sentido ao arranhar, eles frequentemente se sentem culpados ou constrangidos por seu comportamento. Transtorno de estresse por traumático O TEPT é um transtorno com forte componente de ansiedade que se desenvolve após a exposição do indivíduo a um ou mais eventos extremamente ameaçadores, traumáticos e horríveis. Consiste em um tipo de recordação de revivescência, em que, além de recordar as imagens, o paciente sente como se vivesse Julia Paris Malaco – UCT18 novamente a tragédia com todo o sofrimento que ela causou, esse evento pode ser revivido como pesadelos, flashbacks e em plena consciência. Estes, com frequência, se acompanham por emoções fortes e profundas, com ansiedade, medo e/ou horror e sensações físicas marcantes. Ocorrem, assim, de forma recorrente, a intensa sensação física e/ou sentimentos de que se está imerso nas mesmas emoções de quando se experimentou o evento traumático. No TEPT, o indivíduo experimenta um estado de contínua sensação de ameaça; tende a estar hipervígil ou pronto para reagir a estímulos, como ruídos inesperados. Os sintomas duram muitas semanas ou meses e causam grande sofrimento. Temas psicodinâmicos do estresse pos traumático: O significado subjetivo de um estressor pode determinar sua traumatogenicidade. Eventos traumáticos podem encontrar ressonância em traumas infantis. A incapacidade de regular o afeto pode resultar de um trauma. Somatização e alexitimia podem estar entre os efeitos posteriores do trauma. As defesas comuns utilizadas incluem negação, minimização, cisão, identificação projetiva, dissociação e culpa (como defesa contra o desamparo subjacente). O modo de relação objetal envolve projeção e introjeção dos seguintes papéis: salvador onipotente, abusador e vítima. Os sintomas de intrusão, evitação, alternâncias de humor e cognição e hiperexcitação devem durar mais de um mês. O diagnóstico do DSM-5 de TEPT permite ao médico especificar se os sintomas ocorrem em crianças em idade pré-escolar ou se ocorrem com sintomas dissociativos (despersonalização/desrealização). Para pacientes cujos sintomas estiveram presentes por menos de um mês, o diagnóstico apropriado pode ser transtorno de estresse agudo. Indivíduos com TEPT apresentam sintomas em trêsdomínios: sintomas intrusivos após o trauma evitação de estímulos associados ao trauma experiência de sintomas de aumento da excitação autonô-mica, como maior reação de sobressalto. Flashbacks, nos quais o indivíduo age e sente como se o trauma estivesse ocorrendo novamen- te, representam um sintoma clássico de intrusão. Outros sintomas intrusivos incluem lembranças ou sonhos com sofrimento e reações de estresse fisiológicas ou psicológicas à exposição a estímulos que tenham ligação com o trauma. Um indivíduo deve exibir pelo menos um sintoma intrusivo para satisfazer os critérios para TEPT. Os sintomas de esquiva associados ao TEPT incluem esforços para evitar pensamentos ou atividades relacionadas ao trauma, anedonia, capacidade reduzida de lembrar-se de acontecimentos relaciona-dos ao trauma, afeto embotado, sentimentos de distanciamento e desrealização e uma sensação de futuro abreviado. Os sintomas de excitação aumentada incluem insônia, irritabilidade, hipervigilância e sobressalto exagerado. Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Exposição a episódio concreto ou ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual em uma (ou mais) das seguintes formas: Vivenciar diretamente o evento traumático. Testemunhar pessoalmente o evento traumático ocorrido com outras pessoas. Saber que o evento traumático ocorreu com familiar ou amigo próximo. Nos casos de episódio concreto ou ameaça de morte envol-vendo um familiar ou amigo, é preciso que o evento tenha sido violento ou acidental. Ser exposto de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do evento traumático (p. ex., socorristas que recolhem restos de corpos humanos; policiais repetidamente expostos a detalhes de abuso infantil). Nota: O Critério A4 não se aplica à exposição por meio de mídia eletrônica, televisão, filmes ou fotografias, a menos que tal exposição esteja relacionada ao trabalho. B. Presença de um (ou mais) dos seguintes sintomas intrusivos associados ao evento traumático, começando depois de sua ocorrência: Lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias do evento traumático. Nota: Em crianças acima de 6 anos de idade, pode ocorrer brincadeira repetitiva na qual temas ou aspectos do evento traumático são expressos. Sonhos angustiantes recorrentes nos quais o conteúdo e/ou o sentimento do sonho estão relacionados ao evento traumático. Nota: Em crianças, pode haver pesadelos sem conteúdo identificável. Julia Paris Malaco – UCT18 Reações dissociativas (p. ex., flashbacks) nas quais o indivíduo sente ou age como se o evento traumático estivesse ocorrendo nova-mente. (Essas reações podem ocorrer em um continuum, com a expressão mais extrema na forma de uma perda completa de percep-ção do ambiente ao redor.) Nota: Em crianças, a reencenação específica do trauma pode ocorrer na brincadeira. Sofrimento psicológico intenso ou prolongado ante a exposição a sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a al-gum aspecto do evento traumático. Reações fisiológicas intensas a sinais internos ou externos que simbolizem ou se assemelhem a algum aspecto do evento traumático. C. Evitação persistente de estímulos associados ao evento traumático, começando após a ocorrência do evento, conforme evidenciado por um ou ambos dos seguintes aspectos: Evitação ou esforços para evitar recordações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de ou associados de perto ao evento traumático. Evitação ou esforços para evitar lembranças externas (pessoas, lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que despertem recor-dações, pensamentos ou sentimentos angustiantes acerca de ou associados de perto ao evento traumático. D. Alterações negativas em cognições e no humor associadas ao evento traumático começando ou piorando depois da ocorrência de tal evento, conforme evidenciado por dois (ou mais) dos seguintes aspectos: Incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento traumático (geralmente devido a amnésia dissociativa, e não a outros fatores, como traumatismo craniano, álcool ou drogas). Crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo, dos outros e do mundo (p. ex., “Sou mau”, “Não se deve confiar em ninguém”, “O mundo é perigoso”, “Todo o meu sistema nervoso está arruinado para sempre”). Cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das consequências do evento traumático que levam o indivíduo a culpar a si mesmo ou os outros. Estado emocional negativo persistente (p. ex., medo, pavor, raiva, culpa ou vergonha). Interesse ou participação bastante diminuída em atividades significativas. Sentimentos de distanciamento e alienação em relação aos outros. Incapacidade persistente de sentir emoções positivas E. Alterações marcantes na excitação e na reatividade associadas ao evento traumático, começando ou piorando após o evento, conforme evi-denciado por dois (ou mais) dos seguintes aspectos: Comportamento irritadiço e surtos de raiva (com pouca ou nenhuma provocação) geralmente expressos sob a forma de agressão verbal ou física em relação a pessoas e objetos. Comportamento imprudente ou autodestrutivo. Hipervigilância. Resposta de sobressalto exagerada. Problemas de concentração. Perturbação do sono F. A perturbação (Critérios B, C, D e E) dura mais de um mês. G. A perturbação causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. H. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância Diagnostico diferencial: Os sintomas de TEPT podem ser difíceis de distinguir daqueles dos transtornos de pânico e de ansiedade generalizada porque todas as três síndromes estão associadas a ansiedade proeminente e exci- tação autonômica. O segredo para diagnosticar corretamente TEPT envolve um exame cuidadoso do tempo decorrido entre o evento trau-mático e o surgimento dos sintomas. O TEPT também está associado a revivência e evitação de um trauma, características que em geral não estão presentes nos transtornos de pânico ou de ansiedade gene- ralizada. Depressão maior também é um concomitante frequente de TEPT. Esse transtorno deve ser diferenciado de uma série de trans-tornos relacionados que podem exibir semelhanças fenomenológicas, incluindo o da personalidade borderline, os dissociativos e factícios. O transtorno da personalidade borderline pode ser difícil de distinguir do TEPT. Os dois podem coexistir ou até mesmo ser causalmente re-lacionados. Indivíduos com transtornos dissociativos não costumam ter o grau de comportamento de evitação, hiperexcitação autonômica ou a história de trauma que os Julia Paris Malaco – UCT18 pacientes com TEPT reportam. Tratamento: Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como ser-tralina e paroxetina, são considerados tratamentos de primeira linha para TEPT devido a seus índices de eficácia, tolerabilidade e seguran-ça. Os ISRSs reduzem os grupos de sintomas de TEPT e são eficazes na melhora de sintomas peculiares ao transtorno, não somente daque-les semelhantes aos de depressão ou outros transtornos de ansiedade. A buspirona é serotonérgica e também pode ser útil. A eficácia da imipramina e da amitriptilina, duas substâncias tricíclicas, no tratamento de TEPT é apoiada por inúmeros ensaios clínicos bem controlados. Outras substâncias que podem ser úteis no tratamento de TEPT incluem os inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) (p. ex., fenel-zina), trazodona e os anticonvulsivantes (p. ex., carbamazepina, val-proato). Alguns estudos também revelaram melhoras no TEPT empacientes tratados com inibidores reversíveis da monoaminoxidase (IRMAOs). O uso de clonidina e propranolol, que são agentes antia-drenérgicos, é sugerido pelas teorias sobre a hiperatividade noradre-nérgica no transtorno. Quase não existem dados positivos referentes ao uso de substâncias antipsicóticas no transtorno, portanto o uso de fármacos como haloperidol deve ser reservado para o controle de curto prazo de agressão grave e agitação Transtornos dissociativos Segundo a CID-10, os transtornos dissociativos, ou de conversão, caracterizam-se por perda parcial ou completa das funções normais de integração da memória, da consciência, da identidade e das sensações imediatas, e do controle dos movimentos corpóreos. A dissociação é definida como um mecanismo de defesa inconsciente envolvendo a segregação de qualquer grupo de processos mentais ou comportamentais do resto da atividade psí-quica da pessoa. Os transtornos dissociativos envolvem esse meca- nismo de modo que haja uma interrupção em uma ou mais funções mentais, tais como memória, identidade, percepção, consciência ou comportamento motor. O transtorno pode ser repentino ou gradual, transitório ou crônico, e os sinais e sintomas costumam ser causados por trauma psicológico. Conversão: Na conversão, ocorrem tipicamente alterações das funções sensoriais ou das funções motoras, que lembram sintomas neurológicos, mas que são, na realidade, claramente distintos das condições neurológicas. Há, assim, a conversão de um conflito psíquico inconsciente (desejos, temores inconscientes e inaceitáveis para o indivíduo) para o corpo; conversão aqui significa, portanto, “salto” do plano psíquico para o plano de sintomas corporais. Em relação às funções sensoriais, pode haver anestesias de partes do corpo, perda da visão, do olfato ou da audição. Em relação às funções motoras, pode haver fraqueza ou paralisias, contraturas, movimentos anormais, perturbações do andar e no ficar de pé (astasia-abasia) e rouquidão psicogênicas ou perda total da voz (afonia conversiva). Por serem psicogênicas (de causa predominantemente psicológica), as alterações sensoriais, como perda da visão ou audição, perda da voz, anestesia das mãos ou de um braço, ou as motoras, como paralisias de membros, correspondem à representação mental e simbólica do corpo, e não à neuroanatomia objetiva ou à função neurológica. Dissociação: Na dissociação, ocorre a perturbação, a separação e o isolamento de aspectos da mente e da personalidade. Aqui, dissociação significa “separação”, “rechaço”, de uma parte da mente inaceitável para o indivíduo. A dissociação pode ocorrer por meio de crises em que se perde parcialmente a consciência (a pessoa se “desliga” do ambiente e de si mesma, com desmaio parcial e abalos musculares), ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada, como a memória retrógrada de eventos traumáticos do passado. Pensamentos, desejos e experiências vividas, conflitantes com os valores do paciente, são isolados e suprimidos do campo da consciência e da memória. Os transtornos conversivos, no DSM-5, são quadros em que um ou mais sintomas de alteração de função motora ou sensorial psicogênica estão presentes. Os sintomas devem causar sofrimento e/ou disfunção e não são explicados por causas neurológicas ou médicas somáticas. Assim, no DSM-5, os transtornos conversivos são de: fraqueza ou paralisia (das pernas, de um braço, de uma mão); movimentos anormais, como tremores, distonias, mioclonias, distúrbios da marcha; dificuldades ou impossibilidade de deglutição; Julia Paris Malaco – UCT18 alterações da fala, como afonia ou disfonia, rouquidão ou fala arrastada; ataques semelhantes a uma convulsão epiléptica (“crise histérica”); anestesia ou perda sensorial (cegueira ou visão em túnel, perda auditiva ou olfativa); sintomas mistos. Os transtornos dissociativos se caracterizam por perda na continuidade da experiência subjetiva e perturbação da integração normal (por isso, dissociação), da consciência, da memória, da identidade, das emoções, das percepções, da representação corporal, do controle motor e/ou do comportamento. Em decorrência de traumas emocionais graves ou conflitos psíquicos, o paciente “necessita” cindir parte de suas funções mentais, rechaçando os elementos consciente ou inconscientemente temidos ou indesejados. Amnesia dissociativa Define-se amnésia psicogênica ou dissociativa uma súbita incapacidade para lembrar informações pessoais importantes e anteriormente armazenadas na memória. Na amnésia dissociativa (DSM-5 e CID-11), em geral o indivíduo esquece elementos seletivos e significativos do ponto de vista psicológico (amnésia psicologicamente seletiva). Do ponto de vista temporal, trata-se, geralmente, de uma amnésia retrógrada, com o indivíduo esquecendo ou apagando todos ou alguns aspectos seletivos do passado ou de um evento passado particular (em geral traumático ou inaceitável psicologicamente). A principal característica dessa amnésia é uma incapacidade de lembrar de informações pessoais importan-tes, normalmente de natureza traumática ou estressante, que é ex-tensa demais para ser explicada por esquecimento habitual. E, como já mencionado, o transtorno não é resultado dos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica neurológica ou geral. O transtorno clássico é uma perturba-ção aberta, florida e dramática que frequentemente resulta no pacien-te sendo logo encaminhado à atenção médica, sobretudo por sinto-mas relacionados ao transtorno dissociativo. Os pacientes podem apresentar sintomas so- matoformes ou de conversão intercorrentes, alterações de consciên-cia, depersonalização, desrealização, estados de transe, regressão espontânea de idade e até amnésia dissociativa anterógrada contínua. Depressão e ideação suicida são relatadas em muitos casos. Apresentação não clássica: Esses indivíduos frequentemen-te procuram tratamento para diversos sintomas, tais como depressão ou mudanças de humor, abuso de substâncias, perturbação do sono, sintomas somatoformes, ansiedade e pânico, impulsos e atos suici-das e automutilatórios, estouros violentos, problemas de alimenta-ção e problemas interpessoais. O comportamento automutilatório e violento nesses pacientes também pode vir acompanhado de amné-sia. A amnésia também pode ocorrer para flashbacks ou episódios de reexperiência comportamental relacionados a trauma. Tipos de amnesia dissociativa: Amnésia localizada: Incapacidade de lembrar de eventos relacio-nados a um período circunscrito de tempo Amnésia seletiva: Habilidade de lembrar de alguns, mas não todos, os eventos ocorridos durante um período circunscrito de tempo Amnésia generalizada: Incapacidade de lembrar da vida inteira Amnésia contínua: Incapacidade de lembrar de eventos sucessi-vos enquanto ocorrem Amnésia sistematizada: Incapacidade de lembrar de uma catego-ria de informação, tal como todas as memórias relacionadas à própria família ou a uma pessoa específica Critérios diagnósticos (DSM-5): A. Incapacidade de recordar informações autobiográficas im-portantes, geralmente de natureza traumática ou estressan-te, incompatível com o esquecimento normal. Nota: A amnésia dissociativa consiste mais frequentemente em amnésia localizada ou seletiva de um evento ou even-tos específicos ou amnésia generalizada da identidade e da história de vida. B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes do funcionamento C. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p.
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