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Profa. Msc. Marcela Michiles Temas propostos: Outros Espaços Globais Comuns, Migrantes, Asilados e Refugiados, Solução Pacífica das controvérsias, Introdução ao Direito Internacional Privado 1. Direito das zonas polares Há duas zonas polares: o Ártico e a Antártida. O Ártico fica no Polo Norte. É um grande oceano coberto de gelo permanente em sua maior parte. Não há regulamentação específica para essa região. Como o Ártico é somente um oceano congelado e, ainda não há muito interesse na região, não existe um tratado internacional regulamentando a área. A Antártida fica no Polo Sul. Também pode ser chamada de Antártica. Ao contrário do Ártico, é um continente – é terra – coberto de gelo. Há interesse econômico e científico na Antártida, por isso há o Tratado da Antártida de 1959 e o Protocolo ao Tratado da Antártida sobre Proteção ao Meio Ambiente (também conhecido como Protocolo de Madri). Há alguns princípios sobre o regime jurídico da Antártida que devem ser conhecidos porque, por vezes, caem em prova de concurso. O primeiro princípio prevê a utilização exclusivamente para fins pacíficos, nunca para fins militares. O segundo princípio diz que a utilização da Antártida deve ser voltada para o progresso da humanidade, e não de um Estado particular ou lucro. Esses dois princípios estão na base do Tratado da Antártida de 1959. Em 1991 foi aprovado o Protocolo ao Tratado da Antártida sobre Proteção ao Meio Ambiente. 2. Direito do Espaço Aéreo 2.1. Leitura obrigatória Os arts. 2º, 3º, 17, 18, 26 da Convenção sobre Aviação Civil (Convenção de Chicago). 2.2. Fontes A Convenção para Unificação de Certas Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacional (Convenção de Varsóvia), de 1929, cuida do tema da responsabilidade no espaço aéreo. A Convenção de Chicago, de 1944, é um tratado mais geral e cuida da aviação civil. Quanto ao tema da segurança aérea, há a Convenção de Tóquio, de 1963; a Convenção de Haia, de 1930; e a Convenção de Montreal, de 1971 e 1999. Esses são os principais Tratados no âmbito do Direito do Espaço Aéreo. 2.3. Convenção de Varsóvia X Código de defesa do consumidor Em relação à Convenção de Varsóvia, sempre houve um debate na jurisprudência brasileira sobre a aplicação das suas regras em detrimento do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Em maio de 2017, o Supremo Tribunal Federal (STF) adotou a seguinte tese: “Por força do art. 178 da Constituição, em caso de conflito, as normas das convenções que regem o transporte aéreo internacional prevalecem sobre o Código de Defesa do Consumidor (RE nº 636.331/RJ e ARE nº 766.618/SP)”. Dessa forma, em caso de conflito, as normas e tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao CDC. CF/1988, art. 178. A lei disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade. A tese adotada pelo STF é de que as normas de responsabilidade internacional das transportadoras, a Convenção de Varsóvia e a Convenção de Montreal prevalecem sobre o CDC. Sendo assim, o que está subjacente a essa tese é a ideia de que em matéria de transporte internacional, os tratados internacionais têm status supralegal. A relação entre a Convenção de Varsóvia e o CDC e a decisão do STF caiu, recentemente, na 2ª fase da prova do Tribunal Regional Federal (TRF) 5. Está em andamento no STF que os tratados em matéria tributária também teriam status supralegal – o voto do relator, o Ministro Gilmar Mendes, foi nesse sentido. 2.4. Princípios Do conjunto de tratados internacionais mencionados, se extraem alguns princípios: 1) Soberania exclusiva e absoluta – No espaço aéreo o Estado tem soberania exclusiva e absoluta. Não há relativização, é o Estado que manda no seu espaço aéreo. 2) Não há direito de passagem inocente no espaço aéreo – Essa é uma consequência da soberania exclusiva e absoluta do espaço aéreo. Enquanto os Estados são obrigados a tolerar a passagem inocente no seu mar territorial, por força das normas internacionais, nenhum Estado é obrigado a tolerar o sobrevoo de aeronaves estrangeiras no seu espaço aéreo. 3) Livre navegação no espaço que não tem soberania – No espaço aéreo sobrejacente ao alto-mar, por exemplo, a navegação aérea é livre. Não há como se apropriar do espaço aéreo, vigorando o Princípio da Liberdade de Navegação e Sobrevoo. 4) Nacionalidade das aeronaves – Toda aeronave deve ter uma, e apenas uma, nacionalidade, que deve ser a do local do registro da aeronave. 2.5. Cinco liberdades do ar As cinco liberdades do ar estão previstas na Convenção de Chicago. Como a soberania do Estado sobre o seu espaço aéreo é absoluta e exclusiva, o sobrevoo de aeronaves estrangeiras deve ser objeto de Convenções, de Tratados bilaterais ou multilaterais. Essas convenções preveem certos graus de liberdade de voo. As cinco liberdades que podem ser previstas nessas convenções são: 1ª liberdade do ar – Sobrevoo, sem escalas, no território de um ente estatal. O Estado pode permitir que aeronaves estrangeiras façam sobrevoo sem escalas no seu território. Exemplo: uma aeronave vai do país A ao país C e precisa sobrevoar o espaço aéreo do país B. É necessário ter um tratado prevendo o sobrevoo sem escalas. 2ª liberdade do ar – Escala técnica, sem fins comerciais ou em situações de emergência. Nesse segundo nível de liberdade, além de sobrevoar, é permitida uma escala técnica que seja sem fins comerciais ou apenas para situações de emergência. 3ª liberdade do ar – Desembarcar passageiros e mercadorias procedentes do Estado de origem da aeronave. O 3º grau é que a aeronave possa desembarcar no país pessoas e mercadorias do Estado de origem. 4ª liberdade do ar – Embarcar passageiros e mercadorias com destino ao Estado de origem da aeronave. 5ª liberdade do ar – Embarcar passageiros e mercadorias procedentes de, ou com destino a, terceiros países. Essa é a liberdade mais ampla. Há uma aplicação prática muito relevante nessas cinco liberdades do ar. Elas estão, por exemplo, na base dos fatos relacionados à tragédia do time da Chapecoense, que ocorreu em 2016, quando houve a queda do avião da LaMia que transportava jogadores, dirigentes e pessoas da imprensa para a final da Copa Sul-Americana na Colômbia. A aeronave da LaMia era de nacionalidade boliviana. Contudo, a Bolívia não tinha um tratado, uma convenção relacionada à 5ª liberdade com o Brasil. Logo, sendo a aeronave da Bolívia, não podia embarcar passageiros no Brasil com destino à Colômbia. Portanto, devido a isso, a aeronave pegou os passageiros no Brasil e voltou para a Bolívia, pois estava autorizado pelas convenções internacionais, e da Bolívia para a Colômbia – também estava previsto nas autorizações internacionais. Isso está associado à “pane seca” que teve a aeronave, causando a tragédia. Acabou o combustível e a aeronave não tinha autonomia de voo suficiente. 3. Direito do espaço extra-atmosférico Houve a necessidade de se regular a exploração do espaço extra-atmosférico, especialmente a partir dos anos 1960, período em que o homem – Yuri Gagarin – foi ao espaço pela primeira vez, à lua, iniciando, assim, o lançamento de objetos no espaço. O professor comenta que o seriado Cosmos, da NatGeo, tem uma versão original – feita por Carl Sagan – e uma versão moderna, feita por um discípulo dele chamado Neil de Grasse Tyson. No Cosmos original há uma coisa muito bonita. A primeira foto tirada do planeta terra – por Yuri Gagarin – despertou uma grande reflexão porque pela primeira vez se via o planeta Terra, mas não se via nenhuma fronteira. Ao olhá-lo do espaço, vê-se os oceanos e os continentes sem fronteiras.Isso gerou um sentimento de unidade no gênero humano. Inspirado nessa foto, Carl Sagan teve uma ideia. Quando foi enviada a sonda Voyager 1 para dar a volta no sistema solar, Carl Sagan pediu para que, quando ela estivesse próxima a Júpiter, fosse tirado uma foto do planeta Terra. Essa imagem mostra a Terra bem pequena, como se fosse “uma partícula de areia suspensa em um raio de sol” – palavras de Carl Sagan. Essa fotografia pretendeu demonstrar como somos pequenos e insignificantes diante deste universo tão grande. É por causa dessa “partícula de poeira suspensa em um raio de sol” que os homens se matam, brigam, fazem guerras, lutam pelo poder, lutam por uma coisa tão pequena. Essa “partícula de poeira” é a única coisa que temos, e o que devemos fazer é lutar para preservá- la e protegê-la. Todas essas reflexões, que começaram na década de 1960, levaram à regulação do espaço extra- atmosférico, que é aquele que começa quando termina a nossa atmosfera. Não se sabe com exatidão onde começa o espaço extra-atmosférico. Há diversos critérios e diversas teorias, que, na prática, não têm muita relevância, pois o espaço extra-atmosférico somente começa a ter importância quando está muito distante da atmosfera. Portanto, esse limite exato não tem relevância prática. Foram aprovados alguns tratados, porém, o mais importante, o que mais é falado nos livros e o que mais cai em concurso é o Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, inclusive a Lua e demais Corpos Celestes, de 1967, cujas principais diretrizes do espaço aéreo são cinco, que devem ser lembradas. 1º princípio – Uso para fins pacíficos. O espaço extra-atmosférico e os corpos celestes somente podem ser utilizados para fins pacíficos. 2º princípio – Livre acesso. Nenhum país tem exclusividade no acesso ao espaço cósmico e aos corpos celestes. Embora haja uma bandeira norte-americana na lua, ela não é território norte- americano, não é sua propriedade, os Estados Unidos não têm exclusividade sobre ela. Tanto é assim que há algum tempo foi dado o início para a exploração turística do espaço cósmico. Elon Musk enviou ao espaço um carro da Tesla, com um boneco dentro, tocando uma música de David Bowie. 3º princípio – Insuscetibilidade de apropriação. O terceiro princípio tem a ver com o segundo. Ninguém pode apropriar-se do espaço cósmico e dos corpos celestes. Não há como vender terreno na lua porque ninguém pode ser proprietário de nenhuma parte dela. 4º princípio – A investigação e a exploração devem reverter para o proveito geral de todos os povos. Como ocorre com a Antártida, a exploração deve buscar o progresso da humanidade. 5º princípio – Livre acesso às informações colhidas. Ninguém pode ocultar ou privilegiar-se com as informações colhidas em investigações realizadas, como corolário de que as investigações e a exploração do espaço cósmico e dos corpos celestes devem ser para o progresso da humanidade, e não particular. MIGRANTES Entrada e saída no território nacional 1. Estatuto da igualdade Está previsto no art. 12, § 1º, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988). § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. A Constituição prevê a possibilidade de se atribuir aos portugueses direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição. É o chamado Estatuto da Igualdade ou quase nacional ou brasileiro equiparado. Isso decorre das afinidades históricas que Brasil e Portugal têm. Atualmente, o Estatuto da Igualdade é regido pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, de 2000 (promulgado pelo Decreto nº 3.927/2001), celebrado em Porto Seguro/BA, por ocasião dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Leia o Tratado. É importante mencionar quatro observações. 1) A equiparação de português a brasileiro e vice-versa não é automática. Não basta ter residência permanente aqui para que o português possa exercer os direitos inerentes ao brasileiro. É necessário um requerimento expresso, pois tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) (Ext nº 674), como o Tratado afirmam isso. 2) A equiparação não implica perda de nacionalidade. O brasileiro que, em Portugal, foi equiparado a português, ou o português que foi equiparado a brasileiro aqui no Brasil, não perdem a sua nacionalidade originária. Portanto, aquele continuará sendo brasileiro e este, português. 3) A equiparação não implica direitos de nacionais natos. O português ou brasileiro equiparado não se confundem nem com o brasileiro nato, nem com o brasileiro naturalizado. Trata-se de uma terceira condição. Não há o mesmo regime jurídico do brasileiro nato, nem do brasileiro naturalizado. As principais diferenças são: a) o português equiparado a brasileiro não está obrigado ao serviço militar brasileiro; b) continua recebendo proteção diplomática do seu país; e c) não pode ser extraditado para outro país que não seja Portugal. 4) É proibido o duplo gozo de direitos políticos. Não é possível gozar os direitos políticos no Brasil e em Portugal ao mesmo tempo, deve ser somente em um dos dois países. Há duas espécies de procedimento de equiparação: uma mais geral, de direitos civis, e outra que abrange também os direitos políticos. No momento em que o português adquirir os direitos políticos no Brasil, eles serão suspensos em Portugal e vice-versa. 2. Condição jurídica do migrante e do visitante Leitura obrigatória: Lei nº 13.445/2017. 2.1. Lei nº 13.445/2017 – Objeto Desde o advento da CF/1988, nosso sistema necessitava de atualização quanto ao tratamento jurídico do estrangeiro. A Lei nº 6.815/1980 – o antigo Estatuto do Estrangeiro – que foi aprovada durante o regime militar, tinha um espírito totalmente diverso do espírito da Constituição. O antigo Estatuto enxergava o estrangeiro sob a perspectiva de uma ameaça à segurança nacional. O estrangeiro era visto como alguém indigno de confiança, que poderia trazer ideias anarquistas e comunistas para desestabilizar o regime. Esse era o paradigma do Estatuto do Estrangeiro. Em 2017 foi aprovada a Lei nº 13.445, cujo objetivo principal é ajustar o tratamento jurídico do estrangeiro à CF/1988. O paradigma da Lei de Migração é o dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana, em suma, o mesmo da CF/1988. É possível visualizar esse espírito de compatibilidade constitucional, de privilegiar a dignidade da pessoa humana, de privilegiar os direitos humanos, independentemente do local em que a pessoa nasceu, da sua nacionalidade, em diversos dispositivos da Lei de Migração. Identificamos o objeto da Lei de Migração logo em seu art. 1º. Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante. A Lei de Migração trata não apenas dos direitos, mas também dos deveres, pois o fato de reconhecer a dignidade dos não nacionais não impede o reconhecimento dos seus deveres. A lei não chama mais o não nacional de estrangeiro, mas de migrante ou visitante. Por isso o título do tema não é mais Condição Jurídica do Estrangeiro, e sim Condição Jurídica do Migrante e do Visitante. Analisaremos como se dá a entrada do migrante e do visitante no Brasil, como se dá a sua estada e quais são os seus direitos e deveres no país. Também examinaremos os princípios da condição jurídica do migrante e do visitante, bem como as diretrizes para as políticas públicas para o emigrante – isso significa que a lei também fala do brasileiro que está fora do Brasil; dos direitos e assistência que o Estado brasileirodeve dar a esses brasileiros. A Lei de Migração é subsidiária, pois o seu Princípio de Subsidiariedade está previsto nos arts. 2º, 4º, 111, 121 e 122. O motivo para isso é que existem normas específicas sobre certas situações que a lei não pretendeu revogar. Como exemplo temos a lei do refugiado, que não foi revogada pela Lei de Migração. Assim, o tratamento da questão do refúgio e dos refugiados continua sendo dado pela Lei nº 9.474/1997. Portanto, a Lei de Migração é subsidiária em relação a certos regimes de migrantes. Art. 2º Esta Lei não prejudica a aplicação de normas internas e internacionais específicas sobre refugiados, asilados, agentes e pessoal diplomático ou consular, funcionários de organização internacional e seus familiares. Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são assegurados: I – direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; II – direito à liberdade de circulação em território nacional; III – direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; IV – medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos; V – direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável; VI – direito de reunião para fins pacíficos; VII – direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos; VIII – acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; IX – amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; X – direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XI – garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XII – isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento; XIII – direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011; XIV – direito a abertura de conta bancária; XV – direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e XVI – direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória. § 1º Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, observado o disposto no § 4º deste artigo, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o Brasil seja parte. Art. 111. Esta Lei não prejudica direitos e obrigações estabelecidos por tratados vigentes no Brasil e que sejam mais benéficos ao migrante e ao visitante, em particular os tratados firmados no âmbito do Mercosul. Art. 121. Na aplicação desta Lei, devem ser observadas as disposições da Lei no 9.474, de 22 de julho de 1997, nas situações que envolvam refugiados e solicitantes de refúgio. Art. 122. A aplicação desta Lei não impede o tratamento mais favorável assegurado por tratado em que a República Federativa do Brasil seja parte. 3. Conceitos Imigrante é a pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil. Assim, qualquer não nacional que se estabelece no Brasil definitiva ou provisoriamente é considerado imigrante. Emigrante é o brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior. Residente fronteiriço é a pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho. Para a maior parte do Brasil, pode parecer não fazer sentido que a lei trate dessa categoria de migrante, mas quem mora, por exemplo, em Foz do Iguaçu, compreende do que se trata. Nesse município, há um grande trânsito de pessoas de municípios limítrofes, havendo, portanto, a necessidade de regulamentar essa situação. A lei fala da possibilidade de residentes fronteiriços exercerem direitos civis no Brasil. Visitante é a pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no território nacional. Apátrida é a pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro. O apátrida não tem nacionalidade alguma. Nenhum país reconhece essa pessoa como nacional. Exemplo: o Estado “A” adota o critério do jus soli e o Estado “B”, do jus sanguinis apenas. A pessoa é filha de ascendente do Estado “A” e nasceu no Estado “B”. Quando há esse conflito de critérios pode resultar em uma situação de apatridia. 4. Princípios O art. 3º da Lei nº 13.445/2017, para fins de estudo, está categorizado em quatro princípios. Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes: (...) 4.1. Prevalência dos direitos humanos A Lei de Migração reconhece que todas as pessoas são sujeitas de direitos, independentemente de sua nacionalidade. I – universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos; II – repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação; III – não criminalização da migração; IV – não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional; (...) VI – acolhida humanitária; (...) VIII – garantia do direito à reunião familiar; IX – igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares; X – inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas; XI – acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social; XII – promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante; XIII – diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante; (...) XVII – proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante; (...) XX – migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis de todas as pessoas; (...) XXII – repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas. 4.2. Desburocratização A Lei de Migração tem o espírito de simplificar os procedimentos, de dar mais ênfase ao resultado, e não ao processo. Verifica-se que, em diversos dispositivos, a lei tenta simplificar, excluir fases desnecessárias, não essenciais, a fim de que o processo fique mais desburocratizado e simples. V – promoção de entrada regular e de regularização documental; (...) XXI – promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; Assim, o que a lei quer com o inciso V é que os estrangeiros que estão com a situação indocumentada sejam regularizados. A lei, então, facilita a regularização. É de conhecimento geral que há uma certa dificuldade para os estrangeiros que aqui chegam – inclusive os que são professores, os que têm reconhecimento acadêmico, científico, osque têm título, têm diplomas de mestrado, doutorado etc. – por causa do excesso de burocracia para o reconhecimento desses títulos. O inciso XXI diz que uma das políticas migratórias do Brasil é promover o reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei. 4.3. Cooperação internacional A Lei de Migração parte da premissa de que a solução de muitos problemas que existem hoje, no Brasil, depende da contribuição de Estados estrangeiros ou de pessoas estrangeiras, uma vez que ultrapassam fronteiras. Nos dias atuais, há uma grande circulação de pessoas, bens e dinheiro. XIV – fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pessoas; XV – cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante; XVI – integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço; O inciso XIV é para os países da América Latina, se estiverem unidos, fortalecerem-se perante os outros países do mundo. Um exemplo do art. XV é o grande fluxo de migrantes da Venezuela que estão chegando em Roraima. O fluxo de muitas pessoas de uma só vez gera dificuldades para o Estado na recepção, na absorção da mão de obra e sua inserção na sociedade. Se houvesse cooperação entre Brasil e Venezuela, haveria menos dificuldades para equacionar as questões. Na União Europeia, os países fizeram ajustes. Salvo engano, a Alemanha fez ajustes com a Turquia para que os refugiados fossem transferidos para a Turquia, que receberia algo em troca. Embora existam questionamentos sobre essa política, o fato é que a cooperação é indispensável para resolver problemas relacionados aos movimentos migratórios. Cooperação internacional é a tônica da Lei de Migração. 4.4. Soberania Nacional O fato de se reconhecer no não nacional um titular de direitos, não significa que não se deve ter atenção ao princípio da soberania nacional. VII – desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil; XVIII – observância ao disposto em tratado; XIX – proteção ao brasileiro no exterior; O inciso XVIII significa que o Brasil deve respeitar os compromissos que ele assume internacionalmente no exercício de sua soberania. 5. Direitos dos migrantes O art. 4º da Lei de Migração traz um rol de direitos dos migrantes. Por sua vez, o art. 5º da CF/1988 traz o rol dos direitos e garantias individuais e fala, no caput, que são titulares dos direitos fundamentais os brasileiros e os estrangeiros residentes no país. A doutrina e o STF afirmam que essa é uma redação infeliz, pois diz menos do que deveria. É como se declarasse que os estrangeiros que estão aqui, mas não são residentes, não são titulares dos direitos fundamentais. Portanto, embora o caput, do art. 5º, da CF/1988, diga “estrangeiros residentes no País”, na verdade deve ser lido como os estrangeiros que estiverem aqui, ainda que não sejam residentes, terão respeitados os seus direitos fundamentais. O próprio STF, em diversas ocasiões, já falou a esse respeito. No HC nº 102.041, o STF fala expressamente que os estrangeiros não residentes também gozam dos direitos fundamentais. Em maio de 2017, o STF proferiu uma decisão muito importante no tratamento dos migrantes no RE nº 587.970 – reconhecendo que os estrangeiros também são titulares de direitos fundamentais e de direitos humanos, os estrangeiros residentes podem receber o benefício assistencial de prestação continuada. O art. 4º da Lei de Migração traz um rol extenso de direitos dos migrantes. Recomenda-se a leitura da lista de incisos com atenção, mas serão destacados três direitos que podem gerar maior polêmica, podendo ser cobrados em prova (são os incisos VI, VII e VIII). Art. 4º Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, bem como são assegurados: I – direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; II – direito à liberdade de circulação em território nacional; III – direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes; IV – medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos; V – direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável; VI – direito de reunião para fins pacíficos; VII – direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos; VIII – acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; IX – amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; X – direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XI – garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória; XII – isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento; XIII – direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011; XIV – direito a abertura de conta bancária; XV – direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e XVI – direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória. § 1º Os direitos e as garantias previstos nesta Lei serão exercidos em observância ao disposto na Constituição Federal, independentemente da situação migratória, observado o disposto no § 4º deste artigo, e não excluem outros decorrentes de tratado de que o Brasil seja parte. Os dois direitos trazidos nos incisos VI e VII eram expressamente vedados no Estatuto do Estrangeiro. Não se permitia ao estrangeiro direito de reunião, nem de associação. O Estatuto do Estrangeiro via o estrangeiro com desconfiança. Permitir que estrangeiro exercesse o direito de reunião e de associação era permitir o risco de ele promover movimentos anarquistas e comunistas no Brasil, que era tudo o que o regime militar não queria. Atualmente, esse não é mais o espírito, não é mais essa a visão dos poderes públicos. Por isso a Lei de Migração prevê expressamente a possibilidade do exercício desses direitos. Tem crescido no Brasil um movimento mais conservador, inspirado no movimento da direita norte-americana, que vê o migrante de uma forma não positiva. No Rio de Janeiro, por exemplo, houve passeatas contra os refugiados e os imigrantes muçulmanos. Para esse movimento, o estrangeiro é visto como alguém que tira os direitos dos brasileiros. Exemplo: se não há educação e saúde para todos, o estrangeiro compromete o acesso a esses serviços, que já são ruins. O estrangeiro pode acabar por modificar a nossa cultura, trazendo a sua religião e práticas. Sem embargo, o estrangeiro deve ser visto como alguém que tem direitos, até porque ninguém sai do seu país porque gosta, mas porque está sendo perseguido por sua religião ou por outros motivos, correndo risco de morte. Na maioria das vezes, eles abandonam o seu país porque estão sendo obrigados a ir para outro lugar, estão em umasituação terrível e precisam reiniciar sua vida. Sendo assim, essas pessoas merecem a nossa simpatia, misericórdia e compreensão, até porque o Brasil é um país formado, basicamente, por migrantes. Tivemos algumas ondas de migração, a primeira com os portugueses, depois com os italianos e japoneses, e diversas pequenas ondas migratórias de outras nacionalidades. Todos foram recebidos no Brasil. Portanto, não podemos permitir que a nossa mentalidade mude para nos tornarmos xenófobos, recebendo mal aqueles que estão sofrendo perseguição ou sofrendo penúrias, passando fome ou vindo de países em situação de guerra. 6. Situação documental A situação documental do migrante está relacionada à sua entrada e permanência no Brasil. Em regra, a entrada de não nacionais é discricionária. Ainda que o não nacional preencha a documentação e tenha todos os documentos, ele tem apenas a expectativa do direito de ingressar no Brasil. Para que ele tenha essa expectativa, é necessário o título de ingresso, formado pelo documento de viagem e pelo visto. A Lei de Migração cuida dos dois elementos que compõem o título de ingresso. Sobre o documento de viagem, o art. 5º da lei traz uma lista. Art. 5º São documentos de viagem: I – passaporte; II – laissez-passer; III – autorização de retorno; IV – salvo-conduto; V – carteira de identidade de marítimo; VI – carteira de matrícula consular; VII – documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admitidos em tratado; VIII – certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e IX – outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento. Vamos falar sobre o passaporte, o laissez-passer e o documento admitido em tratado, incisos I, II e VII, respectivamente. O passaporte tem natureza jurídica de documento policial. Há examinadores que gostam de fazer perguntas acerca da natureza jurídica de certos institutos. Algumas perguntas fazem parte do anedotário dos concursos públicos, tais como: (i) Qual é a natureza jurídica do sêmen do boi? Natureza jurídica de bem móvel, pois as energias com valor econômico são comparadas a bem móvel, de acordo com o Código Civil (CC); (ii) Qual é a natureza jurídica do spam (e-mails não solicitados)? Natureza jurídica de abuso de direito, de acordo com o art. 187 do CC. Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I – as energias que tenham valor econômico Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. O laissez-passer é um documento emitido em hipóteses excepcionais quando não é possível emitir outros documentos, especialmente o passaporte. Quanto ao inciso VIII, em algumas situações não há a necessidade de apresentação do passaporte em viagens internacionais, quando há a previsão em tratado. É o que ocorre no Mercosul, onde não há necessidade de apresentação de passaporte para a circulação, uma vez que há a previsão em tratado internacional de que o documento de identidade civil é suficiente. O título de ingresso é formado pelo documento de viagem e pelo visto. A Lei de Migração fala sobre o visto e suas hipóteses. O art. 12 traz cinco espécies de visto. Cada uma delas tem suas condições, seus requisitos, suas regras. Recomenda-se a leitura de cada uma dessas regras na lei. Art. 12. Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer em território nacional poderá ser concedido visto: I – de visita; II – temporário; III – diplomático; IV – oficial; V – de cortesia. Acerca do visto, devemos fazer três observações. A primeira é que, em certas situações, o visto é dispensável, podendo o estrangeiro ingressar no país apenas com o documento de viagem. Com base no Princípio da Reciprocidade, alguns Estados dispensam outros do visto. A União Europeia, por exemplo, dispensa os brasileiros de visto, bem como França e Portugal. O Brasil, então, também dispensa o visto para os nacionais desses países. Diferente os EUA, que exigem visto para a entrada de brasileiros. Anteriormente à edição do decreto de dispensa unilateral de visto, Decreto nº 9.731/2019, o Brasil exigia visto para a entrada de norte-americano. Ocorre que recentemente foi promulgado o Decreto nº 9.731/2019 que dispensa o visto para nacionais da Austrália, Canadá, EUA e Japão. Abaixo, trecho do site do Itamaraty: O Brasil adota uma política de concessão de vistos com base no princípio da reciprocidade. Isso significa que nacionais de países que exigem vistos de cidadãos brasileiros para entrada em seus territórios também precisarão de visto para viajar ao Brasil. Pela atual legislação migratória brasileira (Lei 13.445/2017), a isenção de vistos somente poderá ser concedida pelas autoridades brasileiras, em bases recíprocas, por meio de entendimento bilateral sobre o assunto, ressalvadas as hipóteses do Decreto 9.731/2019. O Brasil possui entendimentos bilaterais sobre isenção de vistos com cerca de 90 países. O visto nada mais é do que um documento que confere ao estrangeiro a expectativa de direito de ingresso no país. A concessão do visto é discricionária, uma vez que a entrada no território é, em regra, discricionária. Por ser um ato de soberania, ninguém pode exigir um Estado a lhe conceder visto e nenhum Estado é obrigado a conceder visto ao estrangeiro, fazendo-o de acordo com a sua conveniência e oportunidade. Assim, a terceira observação é que a Lei de Migração em seu art. 10 traz três hipóteses em que o visto é peremptoriamente vedado, ou seja, não é concedido em hipótese alguma. Art. 10. Não se concederá visto: I – a quem não preencher os requisitos para o tipo de visto pleiteado; II – a quem comprovadamente ocultar condição impeditiva de concessão de visto ou de ingresso no País; ou III – a menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou sem autorização de viagem por escrito dos responsáveis legais ou de autoridade competente. Os requisitos de que fala o inciso I são os requisitos legais de cada espécie de visto – as espécies estão elencadas no art. 12, já mencionado. Não preenchendo os requisitos legais, o visto é vedado pela lei brasileira. Um exemplo do inciso II é o visto temporário. Uma de suas possibilidades é o visto por motivo de estudo. A pessoa terá que comprovar que é um estudante e que está em determinado grau dos seus estudos. Se a pessoa ocultar, alterar ou falsificar essa condição e o Poder Executivo descobrir, o visto não lhe será concedido. A quarta observação diz respeito a uma regra que foi reproduzida do regime anterior (o Estatuto do Estrangeiro), era cobrada em concurso e deverá continuar sendo cobrada. Trata-se do art. 35 da lei. Art. 35. A posse ou a propriedade de bem no Brasil não confere o direito de obter visto ou autorização de residência em território nacional, sem prejuízo do disposto sobre visto para realização de investimento. Como já dito, a concessão do visto é um ato discricionário, por isso, o simples fato de ter posse ou propriedade de bem no Brasil não confere ao não nacional o direito subjetivo de obter visto ou autorização de residência. Devem ser ressalvadas as hipóteses de obter visto para a realização de investimento. 7. Entrada e saída do território nacional Quanto à entrada e saída de estrangeiro do território nacional, há um importante aspecto em relação ao impedimento de ingresso. 7.1. Impedimento de ingresso O impedimento de ingresso trata das hipóteses em que a pessoa sequer passa pelo controle migratório. Há algumas regras na Lei de Migração que estabelecem que se uma pessoa se enquadrar nas hipóteses do art. 45 ela será impedida de entrar no Brasil. Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I – anteriormenteexpulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II – condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III – condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV – que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V – que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI – que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; VII – cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII – que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX – que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. Em respeito aos direitos humanos, a fundamentação – de que fala o caput – deve fazer referência às hipóteses legais e deve ser precedida de entrevista individual. No inciso I, se uma pessoa foi expulsa do Brasil e o decreto de expulsão estiver vigorando, ela será impedida de entrar no país. No inciso II, a pessoa que tiver sido condenada por um crime de competência do Tribunal Penal Internacional (TPI) não poderá ingressar no Brasil. De acordo com a Lei de Migração, o Brasil deve abrir as suas portas aos migrantes, pois são vistos como titulares de direito. No entanto, segundo o inciso III, se uma pessoa houver sido condenada ou estiver respondendo a processo por crime doloso passível de extradição, não poderá ingressar no Brasil. Existem listas internacionais, como a difusão vermelha (de pessoas procuradas pela INTERPOL); as listas do Conselho de Segurança (que traz as pessoas que financiam o terrorismo, por exemplo). É destas que o inciso IV está falando. O controle migratório está a par dessas listas. Desse modo, ainda que a pessoa esteja de posse do título de ingresso, ela não poderá entrar no país se o seu nome constar em uma dessas listas, pois o título confere a ela apenas a expectativa de ingresso, e não direito subjetivo à entrada no território nacional. Um exemplo do inciso VII é a pessoa vir estudar, mas não estar matriculada em escola alguma. Caso não consiga comprovar, será impedida de ingressar. Já o exemplo do inciso VIII é a pessoa que solicitou o visto no consulado brasileiro de certo país. Depois de concedido, descobrirem que ela apresentou documentação falsa. Quando tentar entrar no Brasil, não será admitida. No inciso IX, pode ser uma persona non grata que praticou algum ato contrário aos princípios da República Federativa do Brasil. Se houver praticado crime, não caberá a fundamentação por esse inciso, mas pelos que lemos no início. O parágrafo único é direito humano básico, que está na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Pacto Universal de Direitos Civis e Políticos. Ninguém pode ser discriminado em razão da sua raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. 8. Condição jurídica dos migrantes Passaremos à análise de cada uma das categorias de migrantes que estão previstas na Lei de Migração. Esta estabelece diversas regras para cada uma dessas categorias de pessoas. Não falaremos de todas elas, mas sim das mais importantes. 8.1. Condição jurídica do residente fronteiriço Residente fronteiriço é a pessoa que reside em cidade limítrofe do Brasil. Art. 23. A fim de facilitar a sua livre circulação, poderá ser concedida ao residente fronteiriço, mediante requerimento, autorização para a realização de atos da vida civil. Parágrafo único. Condições específicas poderão ser estabelecidas em regulamento ou tratado. Tomemos, como exemplo a cidade fronteiriça de Foz do Iguaçu, no Paraná. Uma pessoa é de Ciudad de Leste, no Paraguai, e está constantemente em Foz do Iguaçu. Ela poderá formular um requerimento de autorização para a realização de atos da vida civil. Desse modo, essa pessoa não será considerada um migrante qualquer, nem um brasileiro naturalizado, mas terá uma situação jurídica específica. O procedimento, o requerimento e quais os atos da vida civil serão possíveis de exercer estará estabelecido em regulamento ou tratado. 8.2. Condição jurídica do apátrida O apátrida é aquele que, de acordo com a lei do local que nasceu, não é reconhecido como nacional de nenhum país. Isso pode acontecer devido a conflitos de critérios de nacionalidade originária. A Lei de Migração diz que o apátrida terá direito a um processo simplificado de naturalização, que será estabelecido por meio de um regulamento. Esse regulamento deverá seguir alguns princípios que estão elencados no art. 26 da lei. Art. 26. Regulamento disporá sobre instituto protetivo especial do apátrida, consolidado em processo simplificado de naturalização. § 5º O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar se o solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado e poderá considerar informações, documentos e declarações prestadas pelo próprio solicitante e por órgãos e organismos nacionais e internacionais. § 6º Reconhecida a condição de apátrida, nos termos do inciso VI do § 1º do art. 1º, o solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira. § 8º O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de residência outorgada em caráter definitivo. § 10 Subsistindo a denegação do reconhecimento da condição de apátrida, é vedada a devolução do indivíduo para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam em risco. Em primeiro lugar, verifica-se se o sujeito é realmente um apátrida (§ 5º) ou se é considerado nacional segundo a legislação de algum Estado. Reconhecida a condição de apátrida, ele deverá ser consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade brasileira (§ 6º). O Brasil age com essa iniciativa por ser signatário de tratados internacionais que visam eliminar situações de apatridia. O Estado brasileiro tem a obrigação internacional de eliminar, quando possível, situações de apatridia. O apátrida não é obrigado a se naturalizar. Caso ele tenha o interesse, será dado o início ao procedimento de aquisição da nacionalidade brasileira. Caso não, ele poderá receber uma autorização de residência definitiva (§ 8º). O princípio de non-refoulement (não rechaço) está previsto no § 10. Nenhuma pessoa que esteja na situação de apatridia e esteja na fronteira do Brasil pode ser devolvida para o local em que sua vida, integridade pessoal ou liberdade esteja em risco, ainda que não tenha passaporte, nem visto. Pode ser que esteja sofrendo perseguição política, ou sendo perseguida para ser assassinada ou torturada, ou ainda pode ser alguém que pertença a uma minoria que está sendo vítima de uma “limpeza étnica” em determinado país. Em suma, o apátrida tem direito a um processo simplificado de naturalização, que se inicia com uma verificação, a fim de saber se ele é, de fato, apátrida. Confirmada essa situação, será consultado sobre o seu interesse em naturalizar-se brasileiro. Caso positivo, haverá um procedimento simplificado de naturalização. Caso não, poderá receber uma autorização de residência definitiva no Brasil. De toda sorte, ele não poderá ser devolvido a um local em que a sua vida, integridade pessoal ou liberdadeesteja em risco. A isso se dá o nome de princípio de non-refoulement (ou princípio do não rechaço ou princípio da não devolução). Asilados e refugiados 1. Condição jurídica do asilado Lei de Migração, art. 27. O asilo político, que constitui ato discricionário do Estado, poderá ser diplomático ou territorial e será outorgado como instrumento de proteção à pessoa. Parágrafo único. Regulamento disporá sobre as condições para a concessão e a manutenção de asilo. Art. 28. Não se concederá asilo a quem tenha cometido crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002. Art. 29. A saída do asilado do País sem prévia comunicação implica renúncia ao asilo. O asilo político é um dos princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações internacionais, de acordo com o art. 4º da Constituição Federal de 1988 (CF/1988). Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: (...) X – concessão de asilo político. O asilo político é a proteção dada por um Estado a quem sofre perseguição política em outro Estado. O pressuposto do asilo político é a perseguição política. A concessão do asilo político é um ato discricionário. Nenhum Estado é obrigado a concedê-lo. Há duas espécies de asilo político: diplomático e territorial. O asilo político diplomático é aquele conferido em uma missão diplomática e a sua proteção é dada em uma embaixada. No asilo territorial, a proteção é dada no próprio território do Estado asilante. O asilo diplomático nasceu como um costume internacional na América Latina, cuja história é de golpes de Estado e revoluções. Sempre houve, na América Latina, a figura do perseguido político, por isso foi criado esse instituto. Atualmente, há previsão em tratado internacional. O asilo diplomático é sempre uma situação provisória até que seja concedido o asilo territorial. Uma pessoa que esteja sofrendo perseguição política pode se dirigir, em seu próprio país, à embaixada de outro país e solicitar o asilo político. Se ela receber o asilo político diplomático, o Estado onde está localizada a embaixada deve conceder salvo conduto ao asilado, para que ele vá até o aeroporto internacional mais próximo e viaje ao território do Estado asilante. É por isso que se diz que o asilo diplomático é sempre provisório, uma vez que ele deve durar somente até o asilo territorial. Foi cobrado em prova o caso de Julian Assange, do Wikileaks. Ele divulgou informações diplomáticas secretas e começou a sofrer perseguição. Foi acusado de crime comum (crimes sexuais), mas argumentou ser uma perseguição política causada pelo vazamento de informações por ele promovido. Deste modo, Julian Assange obteve asilo político diplomático na embaixada do Equador, em Londres. Ocorre que o Reino Unido não reconhece o instituto do asilo diplomático, mas apenas aquele em que é feito no território do Estado asilante. O Reino Unido, então, mobilizou-se para invadir a embaixada do Equador, em Londres, para prender Julian Assange. Houve uma mobilização internacional. Chegou-se à conclusão de que, mesmo não reconhecendo o instituto do asilo diplomático, o Reino Unido precisava respeitá-lo, principalmente por força da inviolabilidade da missão diplomática. Assim, as autoridades britânicas não poderiam invadir a embaixada do Equador. O Brasil é signatário dos seguintes tratados de asilo político: Havana (1928), Montevidéu (1933) e Caracas (1954). A Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) é bastante didática ao falar do asilo. O art. 27 traz várias questões importantes sobre o asilo que podem ser cobradas em prova – sua natureza discricionária e sua classificação em diplomático e territorial. Não havia a regra do art. 28 no antigo regime, sendo uma novidade trazida pela Lei de Migração. Dando prosseguimento à condição jurídica do migrante e do visitante, falaremos sobre os refugiados, autorização de residência e reunião familiar. 2. Condição jurídica do refugiado É um tema muito em voga na mídia neste momento. O Brasil está sofrendo uma onda migratória de pessoas que têm sido chamadas de refugiadas. É um tema importante. 2.1. Refúgio – definição (convenção de 1951) A definição de refúgio encontra-se na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, em seu art. 1º, alínea “a”, 2. Tal Convenção é chamada de Carta Magna dos refugiados. Para tal dispositivo, refugiado seria a pessoa que, em consequência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele. A primeira vez em que se falou sobre a questão dos refugiados foi após a Revolução Russa, em 1917. Desde então, sempre que se discutia acerca do tema, a visão era a de que se tratava de algo temporário. Com isso, as soluções eram sempre paliativas, com vista a fluxos de refugiados específicos. A definição da Convenção de 1951 revela essa concepção. Para eles, o problema com os refugiados era apenas para acontecimentos ocorridos antes de 1951. Esse conceito tem três tipos de limitação: a) Limitação temporal – para acontecimentos anteriores à 1951. b) Limitação geográfica – em outro artigo da Convenção diz que são refugiados apenas as pessoas deslocadas na Europa. c) Limitação dos motivos – os motivos elencados no art. 1º (raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas) são essencialmente ligados a direitos civis e políticos. 2.2. Refúgio Após um tempo, começou-se a perceber que os problemas com os refugiados não era algo pontual, pois estava sempre se repetindo. Em 1967 foi, então, aprovado um protocolo. O Protocolo de 1967 ampliou a aplicação da Convenção de 1951, que era restrita às pessoas que se tornaram refugiadas em decorrência dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951 e provenientes do continente europeu (art. 1º). Pelo Protocolo, foram excluídas as limitações temporária e geográfica. Atualmente, o conceito de refúgio envolve três elementos. Vejamos: a) perseguição entendida como qualquer ameaça à vida ou à liberdade – No direito internacional o refugiado é sempre alguém que sofre uma perseguição, que é entendida como uma ameaça à sua vida ou liberdade; b) fundado temor que é o receio subjetiva e objetivamente aferido – A pessoa não precisa estar sofrendo uma perseguição, bastando que ela tenha um fundado temor de vir a sofrê-la; c) extraterritorialidade (alienage) – que é a situação daquele que se encontra fora de seu país de origem ou de residência. O fundado temor de perseguição somado a uma extraterritorialidade, que é o deslocamento (por vezes é utilizada a palavra francesa alienage), forma o refugiado. Assim temos que o refugiado é a pessoa que se encontra em situação de deslocamento do seu país de origem ou residência em razão de fundado temor de perseguição. 2.3. Diferenças entre refúgio e asilo Ambos os institutos envolvem deslocamento de pessoas e perseguição. Há autores que fazem uma lista com 20 diferenças. Aqui serão destacadas as cinco principais. 1) O refúgio é regido por tratados universais – Convenção de 1951, Protocolo de 1967, Convenção do sistema africano. O asilo é objeto de costume internacional e por tratados regionais na América Latina, desde 1889 – o asilo é uma coisa maisda América Latina. 2) O refúgio destina-se a vários tipos de perseguição – qualquer ameaça à vida ou à liberdade da pessoa. O asilo busca acolher o perseguido por motivo político – o pressuposto do asilo é somente a perseguição política. 3) O refúgio pode ser concedido no caso de fundado temor de perseguição – o asilo exige a atualidade da perseguição – a perseguição deve estar efetivamente ocorrendo. 4) No refúgio, o solicitante de refúgio possui direito público subjetivo de ingresso no território nacional (é o único estrangeiro que possui tal direito), o que não ocorre com o solicitante de asilo – Na Lei nº 9.474/1997, que trata do refúgio, o solicitante de refúgio tem o direito de ingressar no território até que seu pedido, a sua condição de refugiado, sejam examinados. O asilado somente poderá ingressar no território após deferido o asilo. 5) A decisão de concessão do refúgio tem natureza declaratória e é vinculada à presença dos requisitos convencionais e legais – a decisão concessória do asilo é constitutiva e discricionária. Essa é a diferença que mais é cobrada em prova, inclusive caiu no Tribunal Regional Federal (TRF) 2 recentemente. O ato que concede o refúgio é um ato vinculado, pois se os requisitos estiverem presentes, as autoridades públicas não poderão denegá-lo. Nesse caso, o Estado é obrigado a conceder o refúgio, não podendo dizer que não é conveniente ou oportuno. O ato é vinculado, pois apenas declara a condição de refugiado, apenas reconhece a presença dos requisitos. Diferentemente do asilo, cuja decisão é constitutiva porque o ato que concede o asilo cria uma situação jurídica. Antes ele não era asilado, mas com a decisão passa a ter essa condição jurídica. Além de constitutiva, a decisão que concede o asilo é discricionária. Nenhum Estado é obrigado a deferir o asilo político. A concessão de asilo é um ato político e de soberania. O Estado deve examinar a conveniência e a oportunidade de conceder o asilo político, até porque não será raro que a condição de asilo ocasione incidentes nas relações internacionais. 2.4. Princípio do Non-Refoulement Princípio do Non-refoulement – Princípio do não rechaço ou Princípio da não-devolução, com base no art. 33 da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951. Art. 33 Proibição de expulsão ou de rechaço 1. Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de maneira alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões políticas. Uma pessoa que solicita refúgio não pode jamais ser devolvida para o local em que sua vida, sua liberdade, sua integridade física corra perigo. O Princípio do Non-refoulement tem previsão em diversas normas internacionais: art. 22, § 8º, da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) – também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica; art. 3º da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; art. 7º, § 1º, da Lei nº 9.474/1997 – nossa Lei de Refúgio. As exceções ao Princípio de Non-Refoulement podem ser encontradas na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951. Exceção ao Princípio do Non-Refoulement – Excepciona o Princípio de Non-refoulement quando houver razões sérias para considerar o refugiado perigo para a segurança do país onde se encontra, ou que, tendo sido objeto de uma condenação definitiva por um crime ou delito particularmente grave, constitua ameaça para a comunidade do dito país (art. 33, § 2º, Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados). Portanto, o Princípio de Non-refoulement pode ser relativizado em situações de risco para o país ou quando a pessoa cometeu um crime particularmente grave. 2.5. Direito brasileiro – Lei nº 9.474/1997 A Lei nº 9.474/1997 é a lei brasileira de refugiados. Essa lei traz o conceito do direito brasileiro de refugiado. O direito brasileiro, ao definir refugiado, é mais amplo do que a Convenção de 1951. Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I – devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II – não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III – devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. Os incisos I e II reproduzem de forma semelhante o art. 1º da Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados. Até aqui não há nenhuma novidade na lei brasileira. A novidade está no inciso III. O conceito da lei brasileira é mais amplo que o conceito convencional, uma vez que reconhece como refugiado aquele que sofre grave e generalizada violação de direitos humanos. A Lei nº 9.474/1997 prevê um procedimento para a concessão de refúgio. Logo que a pessoa ingressa no controle migratório, ela já manifesta a sua intenção de solicitar refúgio. Com isso, ali mesmo já recebe um formulário para preencher e a pessoa passará por entrevista. O Poder Executivo, representado pelo Comitê Nacional de Refugiados (CONARE), decide se reconhece ou não a condição de refugiado. Controle Judicial – A decisão administrativa que concede ou nega o refúgio pode ser discutida na justiça, ou seja, pode ser objeto de controle judicial. A jurisprudência tem entendimento pacífico a respeito. Abaixo está um trecho da ementa de Extradição nº 1.085, caso Cesare Battisti, em que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu o seguinte: EXTRADIÇÃO. Passiva. Refúgio ao extraditando. Concessão no curso do processo, pelo Ministro da Justiça. Ato administrativo vinculado. Não correspondência entre os motivos declarados e o suporte fático da hipótese legal invocada como causa autorizadora da concessão de refúgio. Contraste, ademais, com norma legal proibitiva do reconhecimento dessa condição. Nulidade absoluta pronunciada. Ineficácia jurídica consequente (STF, Ext nº 1.085, rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, Julgado em 16.12.2009, publicado em 16.04.2010). A Lei nº 9.474/1997, em seu art. 33, diz que a pessoa que solicitar refúgio terá o processo extradicional contra ela suspenso, e que a pessoa que tiver deferido o reconhecimento da condição de refugiado terá a extradição extinta. Assim, o refúgio aparece como óbice à extradição. Art. 33. O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio. Art. 34. A solicitação de refúgio suspenderá, até decisão definitiva, qualquer processo de extradição pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio. O caso Cesare Battisti foi uma extradição rumorosa. Italiano, acusado de praticar terrorismo, veio para o Brasil e disse estar sofrendo perseguição na Itália. A Itália solicitou a sua extradição para que fosse julgado. É interessante o estudo desse caso, por haver várias coisas de direito internacional envolvidas, tal como o papel do STF na extradição. Quando a mesma estava em andamento, Cesare Battisti solicitou o reconhecimento da condição de refugiado e a obteve. De acordo com a Lei nº 9.474/1997, a extradição deveria ser extinta, contudo, o STF falou que poderia examinar se o refúgio fora corretamente deferido. Como o refúgio é um ato administrativo vinculado, o Poder Judiciário pode verificar se todos os requisitos legais foram preenchidos, se o caso se amoldaperfeitamente à estrutura normativa, se o administrador respeitou todos os elementos do ato administrativo. Assim, o STF examinou o ato administrativo de concessão do refúgio e declarou a nulidade do ato. É pacífico na jurisprudência a possibilidade de o judiciário fazer o controle do ato administrativo que concede o refúgio. O STF confirmou isso no caso Battisti e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou entendimento no Recurso Especial (REsp) nº 1.174.235/PR, em 04.11.2010. 3. Condição jurídica da autorização de residência O art. 30 da Lei nº 13.445/2017 tem uma lista extensa, que deverá ser estudada. Como exemplo, as pessoas que tenham cônjuge ou filhos no Brasil podem ter autorização de residência: “Art. 30. A residência poderá ser autorizada, mediante registro, ao imigrante, ao residente fronteiriço ou ao visitante que se enquadre em uma das seguintes hipóteses: (...)”. A Lei de Migração criou o instituto da autorização de residência para as pessoas que se enquadrem nas hipóteses previstas no art. 30. 4. Condição jurídica da reunião familiar O instituto da reunião familiar é mais uma novidade trazida pela Lei nº 13.445/2017. Seguindo a linha da CF/1988, que prestigia a família, ao dizer em seu art. 226 que a família é a base da sociedade, a Lei nº 13.445/2017 também prestigia a família, a reunião de pessoas, com o intuito de evitar que cônjuges, pais e filhos fiquem em países separados porque um recebeu o visto e o outro não: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. A Lei nº 13.445/2017 prevê a possibilidade de concessão de visto ou autorização de residência para o migrante e o visitante que estejam nas situações do art. 37 da Lei. Art. 37. O visto ou a autorização de residência para fins de reunião familiar será concedido ao imigrante: I – cônjuge ou companheiro, sem discriminação alguma; II – filho de imigrante beneficiário de autorização de residência, ou que tenha filho brasileiro ou imigrante beneficiário de autorização de residência; III – ascendente, descendente até o segundo grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante beneficiário de autorização de residência; ou IV – que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda. Medidas de retirada compulsória 1. Medidas de retirada compulsória As medidas de retirada compulsória ocorrem quando o migrante é convidado a se retirar compulsoriamente do Brasil. Na lei anterior (Estatuto do Estrangeiro – Lei nº 6.815/1980) os institutos eram a deportação, a expulsão e a extradição. Com a nova Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) saiu a extradição e entrou um novo instituto, a repatriação. A extradição foi deslocada para a cooperação jurídica internacional, pois é, de fato, uma medida de cooperação jurídica internacional de matéria penal. Assim, temos que as medidas de retirada compulsória são: repatriação, deportação e expulsão. 2. Repatriação A repatriação já existia antes, mas não era tratada com este nome e como um instituto específico. O conceito de repatriação encontra-se no art. 49 da Lei de Migração. Art. 49. A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. O pressuposto da repatriação é a situação de impedimento – art. 45 da Lei de Migração. As pessoas que estiverem em situação de impedimento de ingresso serão repatriadas ao país de procedência ou de nacionalidade. Seção II Do Impedimento de Ingresso Art. 44. (VETADO). Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I – anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II – condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; III – condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV – que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V – que apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI – que não apresente documento de viagem ou documento de identidade, quando admitido; VII – cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII – que tenha, comprovadamente, fraudado documentação ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX – que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política. Os três institutos de retirada compulsório também devem ser vistos sob a ótica dos direitos humanos, dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana. As medidas de retirada compulsória são sempre praticadas com base no contraditório, ampla defesa, recurso e devido processo legal. Por isso sempre há a participação da Defensoria Pública da União (DPU). Art. 49. (...) § 2º A Defensoria Pública da União será notificada, preferencialmente por via eletrônica, no caso do § 4º deste artigo ou quando a repatriação imediata não seja possível. (...) § 4º Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa. Os casos do referido § 4º são aqueles em que a lei veda a repatriação. Nesses casos e naqueles em que a repatriação imediata não é possível, porque a pessoa ainda ficará um tempo, a DPU terá que ser notificada. 2.1. Vedações O § 4º do art. 49 trata das vedações à repatriação. § 4º Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 (dezoito) anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa. (Grifos nossos.) Não se aplica a repatriação nos seguintes casos: a) À pessoa em situação de refúgio (princípio do non-refoulement) ou de apatridia, de fato ou de direito. A pessoa que veio solicitar refúgio tem o direito de ingressar no território nacional. A Lei aplica esse mesmo direito ao apátrida. b) Ao menor de 18 anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua família de origem. c) A quem necessite de acolhimento humanitário. O país de onde veio está passando por uma situação de guerra, de penúria, calamidade, terremoto ou fome. d) Quando medida de devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da pessoa (art. 49, § 4º). Princípio do non refoulement. e) Coletiva, entendida como aquela que não individualiza a situaçãomigratória irregular de cada pessoa (art. 61). Não se pode colocar várias pessoas em uma sala e mandá-las embora sem antes individualizar a situação particular de cada uma delas. f) Quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal (art. 62). Sempre sob a ótica dos direitos humanos. Art. 61. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas. Parágrafo único. Entende-se por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a situação migratória irregular de cada pessoa. Art. 62. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal. (Grifos nossos.) 3. Deportação O conceito de deportação está no art. 50 da Lei de Migração. Art. 50. A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. Quando falar em deportação, deve-se lembrar de situação migratória irregular, tal como um problema na documentação, no visto, no passaporte. Exemplo: o visto tinha um prazo e esse prazo foi extrapolado ou está fazendo algo que não é compatível com o visto. Art. 51. Os procedimentos conducentes à deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a garantia de recurso com efeito suspensivo. (Grifos nossos.) Participação da DPU (art. 51, § 1º), a fim de viabilizar o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal. Art. 51. (...) § 1º A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para prestação de assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação. 3.1. Vedações Há quatro casos em que não se pode proceder à deportação: a) Nos casos em que a extradição não é admitida pela legislação brasileira (extradição dissimulada ou extradição de fato, art. 53). Art. 53. Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação brasileira. Essa vedação já existia na lei anterior. Nela, não havia todas essas garantias para o deportando. Antigamente era possível um país pedir a extradição de alguém que estivesse aqui no Brasil, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) entendia não ser possível porque o crime já estava prescrito e, mesmo assim, alguém mal-intencionado poderia encontrar um meio de deportá-la, como, por exemplo, indeferir o visto. Isso denomina-se extradição dissimulada ou de fato. Portanto, mesmo quando não era cabível a extradição, as autoridades encontravam um modo de enviar a pessoa de volta, usando como subterfúgio a deportação ou a expulsão. b) Do indivíduo que solicita refúgio no Brasil, à luz do princípio do non-refoulement. Solicitado o refúgio, a pessoa tem direito subjetivo de ingressar no território. O refugiado, em regra, tem uma situação indocumentada (não é irregular, mas indocumentada, uma vez que ele está solicitando o refúgio). Solicitado o refúgio, a pessoa tem direito subjetivo de ingressar no território. c) Coletiva, entendida como aquela que não individualiza a situação migratória irregular de cada pessoa (art. 61). Assim como na repatriação, não cabe deportação coletiva. Art. 61. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas. Parágrafo único. Entende-se por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a situação migratória irregular de cada pessoa. d) Quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal (art. 62). Art. 62. Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade pessoal. 4. Expulsão Foi nesse instituto que houve uma modificação maior, pois a expulsão no Estatuto do Estrangeiro era definida apenas como a retirada compulsória do estrangeiro que praticou um ato nocivo aos interesses nacionais ou ainda um ato atentatório à soberania nacional. Era esse o conceito de expulsão no Estatuto do Estrangeiro. Essas expressões amplas, como ato nocivo e ato atentatório, permitiam a aplicação da expulsão em diversas situações, algumas delas nem tão graves, mas que, em razão da amplitude das expressões, permitiam sua aplicação. Há um famoso caso em que um correspondente do New York Times no Brasil fez uma reportagem sobre os hábitos etílicos do Presidente Lula, tendo ele (o ex-Presidente) iniciado o processo de expulsão do jornalista. O Presidente considerou que falar acerca do seu gosto pelo álcool era um ato nocivo à soberania nacional, um ato atentatório aos interesses nacionais. Sendo assim, foi iniciado o procedimento de expulsão desse jornalista. A comunidade internacional se mobilizou e com a nova lei as hipóteses de cabimento da expulsão mudaram. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. Portanto, a expulsão consiste na retirada com a proibição de reingresso por prazo determinado, valendo lembrar que na lei anterior não havia prazo. 4.1. Hipóteses As hipóteses de expulsão estão elencadas no § 1º do art. 54 da Lei: Art. 54. (...) § 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I – crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II – crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. (Grifos nossos.) As duas hipóteses que dão ensejo à expulsão são a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: a) crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998; ou b) crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. Em primeiro lugar, há uma enorme restrição. Não é qualquer ato imoral, inconveniente ou inoportuno, pois é preciso haver uma condenação com sentença judicial transitada em julgado. A lei traz duas categorias de crimes, que são aqueles de competência do Tribunal Penal Internacional – TPI (genocídio, contra a humanidade, de guerra ou de agressão) ou os dolosos com pena privativa de ressocialização em território nacional. de liberdade. Ainda assim, nessa segunda hipóte No Estatuto do Estrangeiro, a expulsão era uma medida gravíssima, posto que aquele que era expulso não poderia voltar nunca mais, a não ser que o decreto do presidente fosse revogado, e podia ocorrer por qualquer motivo. Com a nova lei, há somente dois motivos. A regra seguinte incorpora a jurisprudência do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Houve um tempo em que a jurisprudência do STJ e do STF vacilava nesse ponto, mas ela se pacificou e o entendimento foi incorporado na lei. Art. 54. (...) § 3º O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. Antes, havia uma discussão se uma pessoa que tinha contra si um
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