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NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 1 FOOD SERVICEFOOD SERVICE ANÁLISE QUALITATIVA DO CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES ANÁLISE QUALITATIVA DO CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES ONCOLÓGICOS ACOMPANHADOS EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA ONCOLÓGICOS ACOMPANHADOS EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA EM BELÉM/PA EM BELÉM/PA FUNCIONAISFUNCIONAIS MINERAIS E IMUNIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTESMINERAIS E IMUNIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES PERFIL PROFISSIONAL DE EGRESSOS DO PERFIL PROFISSIONAL DE EGRESSOS DO CURSO DE NUTRIÇÃO DE UMA CURSO DE NUTRIÇÃO DE UMA UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DE UNIVERSIDADE COMUNITÁRIA DE SANTA CATARINASANTA CATARINA R$30,00 - outubro 2021 R$30,00 - outubro 2021 Ano 29Ano 29 Número 170Número 170 Edição ImpressaEdição Impressa São PauloSão Paulo ESPORTE ESPORTE | | GASTRONOMIAGASTRONOMIA | | SAÚDE PÚBLICASAÚDE PÚBLICA | | CLINICA CLINICA | | PEDIATRIAPEDIATRIA IISSN 1676-2274 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃOSSN 1676-2274 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO www.nutricaoempauta.com.brwww.nutricaoempauta.com.br ++ Nosso presente é a sua confiança Desde 2013 fazemos com que o trabalho do nutricionista seja mais incrível Estamos em 23 países Mais de 4,5 milhões de pacientes atendidos Mais de 8,5 milhões de planos alimentares 8 anos de Dietbox • Gestão do consultório • Planos alimentares precisos • Materiais de marketing • Ferramentas para fidelização • Aplicativo para o nutricionista e para o paciente • Dietbox Academy • Gestão financeira Venha construir um mundo mais saudável com o maior software de nutrição do Brasil! www.dietbox.me $$ NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 3 editorial editorial por Sibele B. Agostini Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina Em função do crescimento dos cursos de nutri- ção, houve um aumento expressivo de nutricionistas no país. Diante do aumento de cursos e de profissionais na área de nutrição, já era possível constatar mudanças no mercado de trabalho. Os estudos com egressos, com objetivo de ava- liar o perfil profissional, são proveitosos tanto para aca- dêmicos, profissionais e para instituições de ensino, pois é possível fazer levantamento da situação atual do mercado de trabalho, apontando tendências e desafios da área. Para estudantes e profissionais, esses dados permitem conhecer as mudanças sofridas no mundo de trabalho, criar prá- ticas profissionais diferenciadas e aperfeiçoamento técni- co-científico conforme as demandas do mercado. Para as instituições de ensino, esses dados permitem oferecer um ensino adequado às necessidades do mercado de trabalho. Com base no exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil profissional de egressos do curso de nutrição de uma universidade comunitária de Santa Catarina. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2022 Online, englobando o 23o Congresso Intl de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 23o Congresso Intl de Gastronomia e Nutrição, 10o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Esportiva, 18o Fórum Nacional de Nutrição, 16o Simpósio Intl da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 15o Simpósio Intl da Nutrition Society (United Kingdom), 15o Simpósio Intl do Le Cordon Bleu (França). Veja também o EAD Nutrição Profissional com vários cursos de ensino à distância em nutrição clínica, nutrição esportiva, nutrição e estética, nutrição e pedia- tria, e muito mais. Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da Nutrição em Pauta. Boa leitura! Nosso presente é a sua confiança Desde 2013 fazemos com que o trabalho do nutricionista seja mais incrível Estamos em 23 países Mais de 4,5 milhões de pacientes atendidos Mais de 8,5 milhões de planos alimentares 8 anos de Dietbox • Gestão do consultório • Planos alimentares precisos • Materiais de marketing • Ferramentas para fidelização • Aplicativo para o nutricionista e para o paciente • Dietbox Academy • Gestão financeira Venha construir um mundo mais saudável com o maior software de nutrição do Brasil! www.dietbox.me $$ NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 20214 Assine: (11) 5041.9321 assinaturas@nutricaoempauta.com.br FALE CONOSCO: (11) 5041.9321 contato@nutricaoempauta.com.br www.nutricaoempauta.com.br A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO ISSN 1676-2274 Ano 29 - número 170 - outubro 2021 - edição impressa Publicação Bimestral da Nutrição em Pauta Ltda ME - Atualização Científca em Nutrição - R. Cristovão Pereira 1626 cj101 - Campo Belo - 04620-012 - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 nucleo@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br Editora Científica Diretor Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Conselho Científico Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ),Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefna Bres- san (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Tais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP). Consultor de Gastronomia Colaboradores Chef Patrick Martin Chef Fabiana B. Agostini Fotógrafo Assinaturas Indexação Editoração Eletrônica Alexandre Agostini assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Produzida em outubro de 2021 nesta edição nesta edição ABRIL 2021 5. Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina 11. Qualidade de Vida de Pacientes em Hemodiálise: Há Relação com o Estado Nutricional? 18. A Percepção de Graduandos dos Cursos de Nutrição e Educação Física de uma Instituição Privada no Estado do Rio de Janeiro sobre Alimentação Saudável e o Comer Intuitivo 24. Interações entre Mães e Bebês nas Abordagens Tradicional e Baby-Led Weaning (BLW) de Alimentação Complementar: Estudo Piloto 29. Educação Nutricional para Idosos na Pandemia de Covid-19 32. Análise Qualitativa do Consumo Alimentar de Pacientes Oncológicos Acompanhados em um Hospital de Referência em Belém/PA 38. Minerais e Imunidade: Algumas Considerações Importantes 45. Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 5 matéria de capa matéria de capa Professional Profile of Graduates of The Nutrition Course of a Community University of Santa Catarina Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina RESUMO: Em função do crescimento dos cursos de nu- trição no Brasil, houve um aumento expressivo de nutri- cionistas no mercado de trabalho. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil profissional de egressos do curso de nutrição de uma universidade co- munitária de Santa Catarina. A amostra foi compostapor 184 egressos, sendo que 95% eram do sexo feminino, 59% atuavam na mesorregião do Vale do Itajaí, 35% na área de nutrição clínica, 44% tinham jornada de trabalho de 21 a 40 horas semanais, 77,5% faixa salarial entre um e seis salários mínimos, 68% conquistaram o primeiro emprego como nutricionista em menos de 6 meses após a formatu- ra e 47% referiram estar satisfeitos com a profissão. Iden- tificar o perfil dos egressos é de grande importância, pois permite entender as tendências e situação mercadológica, além de que é possível adequar as matrizes curriculares de acordo com as necessidades do mercado. ABSTRACT:Due to the growth of nutrition courses in Bra- zil, there was a significant increase in nutritionists in the job market. Thus, the present study aimed to analyze the profes- sional profile of graduates of the nutrition course at a com- munity university in Santa Catarina. The sample consisted of 184 graduates, 95% of whom were female, 59% worked in the mesoregion of Vale do Itajaí, 35% in the area of clin- ical nutrition, 44% had a working day of 21 to 40 hours per week, 77, 5% salary range between one and six minimum wages, 68% got their first job as a nutritionist in less than 6 months after graduation and 47% reported being satisfied with the profession. Identifying the profile of the graduates is of great importance, as it allows to understand the trends and market situation, besides that it is possible to adapt the curricular matrices according to the needs of the market. . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Entre as décadas de 1930 e 1940 o Brasil foi mar- cado por contextos históricos, abrangendo as transições político-econômico-sociais, a consolidação das bases para uma sociedade capitalista, e pelo regime chamado de Es- tado Novo, comandado pelo presidente Getúlio Vargas. Foi diante desse cenário histórico que, no ano de 1939, surgiu a profissão de nutricionista no país, com a criação do primeiro curso técnico em nutrição ministrado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (VASCONCELOS; CALADO, 2011). O curso de nutrição foi reconhecido como de ní- vel superior após vinte e três anos da criação do primeiro curso, por meio do parecer nº 265, emitido pelo Conselho Federal de Educação, órgão do Ministério da Educação (CFN, 2017). No dia 24 de abril de 1967, a Lei nº 5.276, que regulamenta a profissão de nutricionista, foi aprovada. Porém, com o NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 20216 Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina passar dos anos a lei não correspondia mais com a reali- dade dos profissionais, e em 17 de setembro de 1991, a Lei nº 8234 foi sancionada pelo presidente Fernando Collor de Melo, revogando a Lei nº 5.276 (BRASIL, 1997; CFN, 2017). Diante da trajetória da regulamentação e reco- nhecimento do nível superior do curso, destaca-se o de- sempenho da Associação Brasileira de Nutricionistas em representar e lutar pelos interesses da classe dos nutricio- nistas (VASCONCELOS et al., 2019). Em função do crescimento dos cursos de nutri- ção, houve um aumento expressivo de nutricionistas no país. Vasconcelos e Calado (2011) realizaram uma análi- se histórica dos 70 anos da profissão de nutricionista no Brasil, analisando a expansão do número de cursos e de nutricionistas no país e a identidade dos profissionais brasileiros no contexto atual. No decorrer da análise foi possível observar que diante do aumento de cursos e de profissionais na área de nutrição, já era possível constatar mudanças no mercado de trabalho. Exemplo foi a área de nutrição clínica, na qual os profissionais começaram a se especializar em subáreas e categorizar seus atendimentos por patologias, ciclo da vida, entre outros. Em 25 de fevereiro de 2018 foi ratificada a Re- solução nº 600, pelo Conselho Federal de Nutricionistas, dispondo uma reformulação no campo de atuação profis- sional (CFN, 2018). Conforme a Portaria MEC nº 646 de 14 de maio de 1997, a qual regulamenta a implantação da Lei Fede- ral nº 9.394/96 e do Decreto Federal nº 2.208/97, ambas as legislações estabelecem a importância de a educação está de acordo com as demandas do mercado de trabalho. Expressado no art. 9º, parágrafo único da Portaria MEC nº 646/97 “os mecanismos permanentes deverão incluir sistema de acompanhamento de egressos e de estudos de demanda de profissionais” (BRASIL, 1997). De acordo com Soar e Silva (2017), os estudos com egressos, com objetivo de avaliar o perfil profissional, são proveitosos tanto para acadêmicos, profissionais e para instituições de ensino, pois é possível fazer levantamento da situação atual do mercado de trabalho, apontando ten- dências e desafios da área. Para estudantes e profissionais, esses dados permitem conhecer as mudanças sofridas no mundo de trabalho, criar práticas profissionais diferencia- das e aperfeiçoamento técnico-científico conforme as de- mandas do mercado. Para as instituições de ensino, esses dados permitem oferecer um ensino adequado às necessi- dades do mercado de trabalho. Com base no exposto, o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil profissional de egressos do curso de nutrição de uma universidade comunitária de Santa Catarina. . . . . . . . . . . . . . . . . Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esta pesquisa foi caracterizada como observa- cional, descritiva, com uma abordagem quantitativa e temporalidade transversal. É derivada de uma pesquisa ampliada, intitulada “Perfil de egressos das instituições de ensino superior de Santa Catarina e de nutricionistas ins- critos no Conselho Regional de Nutricionistas da décima região”. Foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), sob parecer 2.098.612. A população envolvida no estudo abrangeu egressos do curso de nutrição que se formaram na UNI- VALI entre os anos de 2000 e 2017. A coleta de dados se deu a partir das informa- ções da pesquisa ampliada do Conselho Regional de Nu- tricionistas da décima região (CRN-10), disponíveis em planilha do programa Microsoft Office Excel®. A partir dessa pesquisa ampliada, foram selecionados somente os egressos de Nutrição da UNIVALI. Foram então utiliza- das informações sociodemográficas, situação profissional pregressa e atual, satisfação profissional, qualificação pro- fissional e perspectivas futuras. Para tabulação e análise dos resultados foi utili- zado o programa Microsoft Office Excel®. Os dados foram categorizados e expressos por meio de estatística descriti- va, utilizando frequências absolutas (n) e relativas (%). . . . . . . . . . Resultados e Discussão . . . . . . . . . . De acordo com a pesquisa ampliada do CRN-10, foi avaliada uma amostra de 184 egressos do curso de nu- trição da UNIVALI. Destes, 95% (n=175) eram do sexo feminino e 5% (n=9) do sexo masculino, com faixa etária predominante de 30 a 39 anos (64%, n=118), seguida por 20 a 29 anos (32%, n=59), 40 a 49 anos (3%, n=5) e 50 a 59 anos (1%, n=2). A grande maioria (95%, n=175) resi- dia em Santa Catarina, 4% (n=7) em outros estados e 1% (n=2) no exterior. Soar e Silva (2017) investigaram características profissionais de 40 egressos de Nutrição de uma instituição privada do estado de São Paulo, de 2008 até 2015, e tam- bém detectaram a predominância de mulheres (97,5%), porém com faixa etária entre 20 e 30 anos. Segundo Cam- NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 7 matéria de capa matéria de capa formados entre 2008 e 2013. As áreas de maior atuação encontradas foram nutrição clínica (21%) e alimentação coletiva (13,4%). Pela característica industrial da região do Vale do Itajaí, é possível observar a influência na área de atuação dos profissionais participantes da pesquisa. Segundo a pesquisa de Inserção Profissional dos Nutricionistas no Brasil, realizada pelo CFN(2018), as áreas de Nutrição Clínica, Alimentação Coletiva e Saúde Coletiva são responsáveis por quase 80% das atividades profissionais dos nutricionistas. Cerca de 88,8% dos nu- tricionistas trabalham por 3 anos ou mais no mesmo local, resultado semelhante encontrado na pesqui- sa atual em que 46% (n=84) possui entre 6 meses a 5 anos de tempo de serviço. Em relação à jornada de trabalho da principal área de atuação, 44% (n=81) informaram trabalhar de 21 a 40 horas semanais, tendo como principal local de tra- balho clínica/consultório/home care (25%, n=47), segui- do de 21% (n=39) em órgão público municipal. Ainda, 36% (n=66) possuem vínculo empregatício conforme a Consolidação das Leis do Trabalho. Souza et al., (2018) encontraram resultados semelhantes ao identificar o grau de satisfação profissional e da formação no curso de gra- duação em nutrição de uma instituição federal do nordes- te brasileiro. Da amostra de 129 egressos, a maior parte dos participantes relatou ter como vínculo empregatício o setor privado (29,1%), seguido do público (25,2%) e autô- nomo (22,8%). No presente estudo, a faixa salarial mensal para 77,5% (n=142) dos profissionais esteve entre um e seis sa- lários mínimos. Quanto aos nutricionistas avaliados pela pesquisa promovida pelo CFN (2018), os profissionais que atuam na área de docência e em outras áreas, como nutricionistas empresários, são os mais bem remunera- dos. Além disso, em outra variável da pesquisa foi possível notar que as maiores faixas salariais estiveram atreladas aqueles que possuem maior nível de escolarização (pós graduação). Dos egressos avaliados, 47% (n=87) não atuavam em outra área da nutrição a não ser o emprego principal, e 47% (n=86) encontravam-se satisfeitos com a profissão. Esse resultado corrobora com o encontrado por Costa et al., (2019), que avaliaram a satisfação no trabalho de 249 nutricionistas que atuam na área de alimentação coletiva no estado do Paraná. Observaram que 55,41% estavam sa- tisfeitos com o trabalho, sendo que as condições ergonô- micas, comunicação com subordinados, limite de tempo para tomada de decisão, condução de funções adminis- trativas e a renda foram fatores fortemente relacionados à Professional Profile of Graduates of The Nutrition Course of a Community University of Santa Catarina pos et al., (2016) a nutrição é reconhecida no conjunto de profissões ditas como “femininas” no Brasil, assim como a enfermagem a qual é fortemente ligada a presença do sexo feminino pela característica do cuidado social. De acordo com a pesquisa Inserção Profissional dos Nutricionistas no Brasil, realizada pelo Conselho Federal de Nutricionis- tas (2018), 94,1% dos profissionais nutricionistas eram do sexo feminino. A Tabela 1 demonstra os resultados do perfil pro- fissional verificado. Em relação ao tempo de formatura, 35% (n=64) da amostra já estava formada entre 12 e 17 anos e 93% (n=171) já atuou como nutricionista, sendo que 84% (n=155) mantêm-se atualmente na profissão. Pode-se ob- servar que a maioria dos participantes da pesquisa (97%, n=178) estava inscrita no CRN-10. No presente estudo, 68% (n=125) da amos- tra conquistou o primeiro emprego como nutricionista em menos de 6 meses após a formatura. Tirloni (2017), com o objetivo de conhecer o perfil de 182 nutricionistas egressos do curso de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso, no período de 2001 a 2014, constataram que 72% iniciaram a atividade profissional até 6 meses após a conclusão do curso, resultado semelhante ao observado nessa pesquisa. A implementação de programas e políti- cas públicas, as quais incluem o nutricionista, consolidou o mercado e a atividade profissional. A expansão de ou- tras áreas da nutrição também favoreceu a ampliação do mercado de trabalho, um exemplo é o turismo no Brasil, o qual ampliou o campo da nutrição para as áreas de ho- telaria e gastronomia. Além disso, a busca pela aparência e o condicionamento físico fez com que surgissem novos campos, como a nutrição estética e nutrição esportiva, empregando assim mais profissionais (GABRIEL et al., 2019). Dos egressos participantes da pesquisa, 59% (n=109) atuam na mesorregião do Vale do Itajaí, região de destaque econômico com as indústrias têxtil, agropecuá- ria, turismo e atividade portuária (MOREIRA; SOUZA; TEZZA, 2018). Segundo Mantovani, Rodrigues e Rodri- gues (2019), a região do Vale do Itajaí é reconhecida como o segundo polo têxtil de todo o Brasil. As principais áreas de atuação profissional dos egressos eram nutrição clínica, com 35% (n=65) de men- ções, alimentação coletiva (26%, n=48) e saúde coletiva (17%, n=32). Esses resultados encontram-se em concor- dância com a pesquisa de Carneiro, Mendes e Gazzinelli (2018), na qual avaliaram o currículo do curso de gradu- ação em nutrição a partir da perspectiva de 104 egressos, NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 20218 satisfação em sua atuação profissional. No presente estudo, 60,5% (n=111) dos nutricio- nistas buscaram especialização e cerca de 81% (n=149) dos egressos realizaram atualização profissional no últi- Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina Tabela 1 – Perfil profissional de egressos do curso de nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí-SC, 2020. Variáveis N % Tempo de formatura < 2 anos 21 11 2 a 6 anos 46 25 7 a 11 anos 53 29 12 a 17 anos 64 35 Já atuou como nutricionista Sim 171 93 Não 13 7 Atualmente está atuando como nutricionista Sim 155 84 Não 29 16 Em qual CRN está inscrito CRN 10 178 97 Outros 06 3 Tempo entre formatura e primeiro emprego como nutricionista < 6 meses 125 68 6 meses a 2 anos 39 21 > 2 anos 05 3 Não se aplica 15 8 Mesorregião de Santa Catarina onde atua Vale do Itajaí 109 59 Norte Catarinense 23 12,5 Grande Florianópolis 12 6,5 Oeste Catarinense 11 6 Sul Catarinense 07 4 Outros estados 06 3 Não se aplica 16 9 Tabela 1 – Perfil profissional de egressos do curso de nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí-SC, 2020. Variáveis N % Principal área de atuação Nutrição Clínica 65 35 Alimentação Coletiva 48 26 Saúde Coletiva 32 17 Docência 18 10 Nutrição Esportiva 02 1 Outros 05 3 Não se aplica 14 8 Jornada trabalho na principal área de atuação Até 20 horas 43 23 21 a 40 horas 81 44 > 40 horas 44 24 Sem jornada fixa 02 1 Não se aplica 14 8 Local de trabalho na principal área de atuação Clínica/ Consultório/Home care 47 25 Órgão Público Municipal 39 21 Cozinha Industrial/Restaurantes 27 15 Instituição de Ensino Superior 19 10 Hospital 16 9 Escolas particulares/ Empresas privadas e de consultorias 12 6 Indústria de alimentos/Loja de produtos naturais 03 2 Academia de Ginástica/Clube esportivo 03 2 Órgão Público Estadual 03 2 Órgão Público Federal 02 1 Outros/ Não se aplica 13 7 NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 9 mo ano. Porém, 22,5% (n=41) não realizaram nenhuma pós-graduação. Da amostra analisada, 75% (n=138) res- pondeu que tem interesse em cursar pós-graduação, ten- do como principais áreas de interesse: Nutrição clínica, Nutrição funcional, Nutrição comportamental, Nutrição hospitalar e Fitoterapia, abrangendo 27% (n=50) das in- tenções. A atualização e as especializações buscadas pelos profissionais engrandecem o seu conhecimento teórico- -prático, tornando-os mais qualificados e destacando-os no meio profissional. A formação acadêmica deve fomen- tar profissionais aptos à entrada e permanência no mer- cado de trabalho competitivo, por meio de uma educação humanizada e da construção do senso crítico e com capa- cidade de transformação (LIMA et al., 2017). Professional Profile of Graduates of The Nutrition Course of a Community University of Santa Catarina matéria de capa matéria de capa Tabela 1 – Perfil profissional de egressos do curso de nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí-SC, 2020. Variáveis N % Categoriaprofissional atual Empregado registrado CLT – Consolidação das Leis do Trabalho 66 36 Profissional liberal 47 25,5 Funcionário público 44 24 Empresário 09 5 Bolsista ou residente 04 2 Prestador de serviços contratado 01 0,5 Não se aplica 13 7 Tempo de serviço na principal área de atuação < 6 meses 13 7 6 meses a 5 anos 84 46 6 a 11 anos 52 28 12 a 17 anos 24 13 Não se aplica 11 6 Além do emprego principal atua em outras áreas da nutrição Sim 74 40 Não 87 47 Não se aplica 23 13 Tabela 1 – Perfil profissional de egressos do curso de nutrição da Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí-SC, 2020. Variáveis N % Como se sente em relação a profissão Muito satisfeito 21 11 Satisfeito 86 47 Pouco satisfeito 46 25 Insatisfeito 27 15 Muito insatisfeito 01 0,5 Não se aplica 03 1,5 Cursou pós-graduação Especialização 111 60,5 Mestrado 22 12 Doutorado 08 4 Pós doutorado 02 1 Não realizou 41 22,5 Possui interesse em cursar pós-graduação Sim 138 75 Não 46 25 Atualização no último ano Sim 149 81 Não 35 19 Área de interesse pós-graduação Nutrição clínica/Funcional/Comportamental/ Hospitalar/Fitoterapia 50 27 Alimentação escolar/ Materno infantil 20 11 Alimentação coletiva/Gestão/Consultoria/ Gastronomia 17 9 Saúde coletiva/Vigilância sanitária/Segurança alimentar 10 5 Nutrição esportiva 09 5 Outras 12 7 Não tem interesse/Não informaram 66 36 NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202110 . . . . . . . . . . C onsiderações Finais . . . . . . . . . . . . Com o crescente aumento de cursos de gradu- ação em nutrição e, consequentemente, de profissionais da área nos últimos anos, torna-se essencial identificar os principais aspectos do perfil dos egressos, para que se en- tenda sobre as tendências e situação mercadológica, ser- vindo de orientação tanto para os nutricionistas, no senti- do de nortear a construção de suas carreiras, como para as Instituições de Ensino Superior, a fim de adequarem suas matrizes curriculares de acordo com as necessidades do mercado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores Adrieli Gonzaga Katzwinkel - Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Profa. Dra. Rosana Henn – Nutricionista. Mes- tre em Ciência dos Alimentos. Docente e Pesquisadora do Curso de Nutrição da UNIVALI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Mercado de trabalho. Nutricionis- tas. Área de atuação profissional. KEYWORDS: Job market. Nutritionists. Professional prac- tice location. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 18/9/21 – APROVADO: 8/10/21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Portaria MEC n.º 646 de 14 de maio de 1997. Regulamenta a implantação do disposto nos artigos 39 a 42 da lei federal n.º 9.394/96 e no decreto federal n.º 2.208/97 e dá outras providências. Diário Oficial da República Fe- derativa do Brasil, n.º 56, Brasília, 15 de mai. 1997. CAMPOS, F M et al. Gênero e formação profissional: considerações acerca do papel feminino na construção da carreira de nutricionista. Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, v. 11, n. 3, p. 773-788, 2016. CARNEIRO, A C L L; MENDES, L L; GAZZINELLI, M F. 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Revista de Nutrição, v. 32, 2019. Perfil Profissional de Egressos do Curso de Nutrição de uma Universidade Comunitária de Santa Catarina NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 11 RESUMO: Introdução: A qualidade de vida de pacientes com DRC em hemodiálise pode se comprometer devido as mudanças que ocorrem após o diagnóstico. O objetivo do estudo foi analisar a relação entre a qualidade de vida e o estado nutricional de pacientes em hemodiálise. Méto- dos: Foram coletados dados clínicos, de ingestão alimen- tar e de qualidade de vida de pacientes em hemodiálise de Blumenau. Resultados: A amostra foi composta por 60 in- divíduos, sendo 47% (n=28) eutróficos e 53% (n=32) com excesso de peso. Conclusão: Conclui-se que a maioria dos pacientes em hemodiálise possuem excesso de peso, baixa ingestão de vitamina D entre os pacientes com excesso de peso e maiores incômodos relacionados a presença de cãi- bras também nesse grupo. ABSTRACT: Introduction: The quality of life of patients with CKD undergoing hemodialysis can be compromised due to the changes that occur after diagnosis. The aim of the study was to analyze the relationship between quali- ty of life and nutritional status of hemodialysis patients. Methods: Clinical data, food intake and quality of life data from hemodialysis patients in Blumenau were collected. Re- sults: The sample consisted of 60 individuals, 47% (n=28) of whom were eutrophic and 53% (n=32) were overweight. Conclusion: It is concluded that most hemodialysis patients are overweight, have low vitamin D intake among over- weight patients and morediscomfort related to the presence of cramps in this group as well. . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os rins são órgãos que constituem o sistema uri- nário. Sua função principal é a manutenção da homeosta- se corporal a fim de manter os níveis de água e sais mine- rais em concentrações ideais. Através dos rins, as toxinas e substâncias que estejam em excesso no organismo, são eli- minadas por meio da urina (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Quando a doença renal crônica (DRC) se instala, a perda das funções renais se torna irreversível (RIBEIRO et al., 2008). Segundo as diretrizes clínicas dos cuidados da DRC, é indicado nas fases iniciais da doença, o tratamento conservador, caracterizado pela abordagem clínica, medi- camentosa e dietética (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014). O início do programa dialítico se dá quando o tratamen- to conservador não é suficientemente capaz de manter a estabilidade do paciente. Sendo assim, a literatura aponta que a qualidade de vida desses indivíduos pode ser afetada (RIBEIRO et al., 2008). Embora a hemodiálise seja o tipo de procedimen- Qualidade de Vida de Pacientes em Hemodiálise: Há Relação com o Estado Nutricional? clínica clínica Quality of Life of Patients in Hemodialysis: Is There a Relationship with the Nutritional State? NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202112 to dialítico mais indicado e utilizado, esta pode acarretar limitações. Pacientes em hemodiálise, comparados aos pacientes em diálise peritoneal ou que se submeteram ao transplante renal, apresentam menores índices positivos relacionados à qualidade de vida (MACHADO; PINHA- TI, 2014). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WORLD HEAL- TH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE 1995). A qua- lidade de vida não envolve apenas o bem-estar físico, mas também o bem-estar espiritual, mental e emocional. Além disso, os relacionamentos sociais com a família e amigos assim como a saúde, educação, habitação e saneamento básico também fazem parte do contexto da qualidade de vida (WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE, 1995). A nutrição exerce papel importante no trata- mento da DRC com o intuito de auxiliar no tratamen- to medicamentoso, seja na fase não dialítica ou dialítica (BOUSQUET-SANTOS; COSTA; ANDRADE, 2019). A dieta para pacientes com DRC possui limitações, uma vez que a função renal está prejudicada. Logo, faz-se necessá- rio o acompanhamento nutricional individualizado para adequações na rotina alimentar, do qual estas adaptações possibilitem melhora na qualidade de vida desses indiví- duos (SANTOS et al., 2013). Um estudo desenvolvido por Santos et al. (2013), que avaliou dados antropométricos, bioquímicos, alimentares e de qualidade de vida, apontou que os pacientes desta amostra, apresentaram limitações na qualidade de vida relacionada a ingestão alimentar. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar a relação entre a qualidade de vida e o estado nutricional de pacien- tes com DRC em hemodiálise. . . . . . . . . . . . . . . . Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Trata-se de uma pesquisa transversal, descritiva e quantitativa, aplicada na área das Ciências da Saúde, com utilização de levantamento de dados primários e secundá- rios de qualidade de vida e estado nutricional de pacientes renais crônicos de ambos os sexos e que realizam hemodi- álise na Associação Renal Vida em Blumenau (SC). Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comi- tê de Ética em Pesquisa para Seres Humanos (CEPH) da FURB, de acordo com os aspectos éticos definidos na Re- solução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012). A coleta de dados foi realizada entre os meses de março a abril de 2021 na cidade de Blumenau (SC). O estudo apresentou como limitações, a veracidade das informações coletadas no questionário e a não adesão dos entrevistados à pesquisa. Como critérios de inclusão, foram considerados o paciente estar em hemodiálise por pelo menos seis me- ses, ter idade superior a 18 anos e realizar no mínimo 3 sessões de hemodiálise por semana. Como critérios de ex- clusão, foram considerados a incapacidade do paciente de responder aos questionários e a recusa em participar da pesquisa. Os pacientes foram convidados a participar da pesquisa através da assinatura do Termo de Consenti- mento Livre e Esclarecido (TCLE) e após a assinatura do TCLE, os dados foram coletados. Foram coletados dados antropométricos, clíni- cos além de dados de ingestão alimentar (R24 horas) e qualidade de vida (Doença Renal e Qualidade de Vida (KDQOL-SF™ 1.3). Por fim, os dados bioquímicos foram extraídos dos prontuários dos pacientes. Para a análi- se estatística, foi utilizado o software Jamovi®. Os dados foram distribuídos em médias, medianas, desvio padrão, mínimo, máximo e percentis. Por fim, os resultados fo- ram considerados estatisticamente significativos quando p <0,05. . . . . . . . . . . . . . . . Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O presente estudo teve como objetivo, avaliar a qualidade de vida e o estado nutricional de pacientes em hemodiálise da Associação Renal Vida de Blumenau (SC). A amostra foi composta por 60 indivíduos, 58% adultos (n=35) e 42% idosos (n=25). A maioria dos parti- cipantes do estudo são do sexo masculino, 52% (n=31) e 48% (n=29) do sexo feminino. Em relação ao estado nutricional com base no ín- dice de massa corporal (IMC), 47% (n=28) dos pacientes são eutróficos e 53% (n=32) estão com excesso de peso A média de tempo em anos em hemodiálise foi de 4,4±3,2 anos para os pacientes eutróficos e de 3,8±4,1 anos para os pacientes com excesso de peso. Os pacientes em hemodiálise, quando compa- rados entre eutróficos e com excesso de peso em relação as variáveis clínicas, apresentaram diferença significativa Qualidade de Vida de Pacientes em Hemodiálise: Há Relação com o Estado Nutricional? NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 13 Quality of Life of Patients in Hemodialysis: Is There a Relationship with the Nutritional State? clínica clínica Tabela 1. Comparação entre pacientes eutróficos e com excesso de peso em relação às variáveis clínicas e de ingestão alimentar dos pacientes em hemodiálise da Associação Renal Vida de Blumenau (SC). Eutrofia Excesso de Pêso Variável Média±DP Mín-Máx Média±DP Mín-Máx p Peso corporal Peso (kg) 57,3±8,9 41,0-73,5 81,3±10,7 64-108 <,001 Bioquímica Kt/V1 (mg/dl) 1,4±0,2 0,9-1,8 1,42±0,3 1,0-2,7 0,534 Fósforo (mg/dl) 4,5±1,9 1,1-9,0 5,1±2,1 1,9-10,8 0,377 Potássio (mEq) 5,8±0,7 4,4-7,2 5,8±0,8 4,2-7,6 1,000 Sódio (mEq) 132±2,9 127-137 133±2,3 129-139 0,170 Ureia (µg/dl) 134±21,4 81-170 140±21,1 97-176 0,293 Albumina (g/dl) 3,9±0,2 3,4-4,3 3,9±0,2 3,0-4,4 0,786 Hematócrito (%) 32,8±5,5 19,2-42,0 33,1±5,0 23,8-40,2 0,777 Hemoglobina (g/dl) 10,7±1,84 6,7-13,4 10,7±1,5 7,7-12,7 1,000 Cálcio (mg/dL) 8,4±0,8 7,4-11,7 8,3±0,9 5,9-10,0 0,690 Paratormônio (pg/ml) 585±784 4,6-3598 544±595 7,9-2790 0,972 Quelantes de P2 Carbonato de cálcio 1,8±0,3 1-2 1,7±0,4 1-2 0,748 Sevelamer 1,5±0,5 1-2 1,5±0,5 1-2 0,798 IA3 Calorias (kcal) 1259±553 710-3318 1155±417 695-2465 0,852 Carboidrato (g) 159±86,6 36,0-503 151±54,3 70,5-332 0,916 Proteína (g) 55,3±25,1 15,5-144 54,3±21,9 16,0-125 0,987 Lipídios (g) 42,7±21,5 17,0-108 41,8±18,7 11,0-84,8 0,883 Fibra (g) 12,7±5,9 4,3-28,0 11,8±6,0 2,7-31,0 0,394 Fósforo (mg) 641±308 262-1710 648±206 258-1127 0,349 Potássio (mg) 1315±628 268-3007 1676±2262 558-13013 0,916 Ferro (mg) 7,9±3,9 2,9-18,6 7,7±3,5 1,9-19,3 0,889 Cálcio (mg) 375±259 99,4-1183 401±181 82,7-809 0,316 Vitamina C (mg) 37,0±56,7 0,1-217 28,2±36,7 0,0-176 0,864 Vitamina D (mcg)4,5±15,2 0,0-80 3,5±5,2 0,0-28,9 0,037 Legenda: 1Kt/V: índice de eficiência dialítica; 2P: fósforo; 3IA: ingestão alimentar. NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202114 Qualidade de Vida de Pacientes em Hemodiálise: Há Relação com o Estado Nutricional? Tabela 2. Comparação entre pacientes em hemodiálise da Associação Renal Vida de Blumenau (SC) em relação ao seu nível de eutrofia e de excesso de peso quanto à qualidade de vida. Eutrofia Excesso de Pêso Variável Mediana±DP 25th-75th Mediana±DP 25th-75th p Saúde em geral 3,0±0,9 3,0-4,0 3,0±0,8 3,0-4,0 0,221 Atividades que exigem esforço 2,0±0,8 1,0-3,0 2,0±0,7 1,0-2,0 0,327 Levantar compras mercado 3,0±0,7 2,0-3,0 2,0±0,7 2,0-3,0 0,694 Subir escadas 2,0±0,8 1,0-3,0 2,0±0,8 1,0-3,0 0,286 Inclinar-se 2,0±0,8 1,0-3,0 2,0±0,8 1,0-3,0 0,986 Caminhar mais de 1 km 2,0±0,9 1,0-3,0 2,0±0,7 1,0-3,0 0,844 Tomar banho e vestir-se 3,0±0,5 3,0-3,0 3,0±0,6 2,7-3,0 0,398 Faz menos coisas 1,0±0,5 1,0-2,0 1,5±0,5 1,0-2,0 0,501 Faz mais esforço 2,0±0,4 2,0-2,0 2,0±0,4 2,0-2,0 0,953 Possui menos atenção 2,0±0,4 2,0-2,0 2,0±0,4 2,0-2,0 0,953 Interferência nas atividades sociais 1,0±1,2 1,0-2,0 2,0±1,0 1,0-2,0 0,405 Dores no corpo 3,0±1,7 1,0-5,0 3,5±1,7 1,0-4,0 0,911 Desanimado e deprimido 5,0±1,4 4,0-6,0 4,0±1,6 3,0-6,0 0,359 Esgotado 5,0±1,6 3,0-6,0 6,0±1,7 3,0-6,0 0,757 Pessoa feliz 1,0±1,4 1,0-2,0 2,0±1,4 1,0-3,0 0,170 Cansado 5,0±1,5 3,0-6,0 5,5±1,7 3,0-6,0 0,745 Doente com mais facilidade 5,0±1,8 2,0-5,0 5,0±1,4 4,0-5,0 0,266 Saudável quanto a outra pessoa 2,0±1,7 1,0-5,0 2,0±1,7 1,0-4,2 0,459 Saúde vai piorar 5,0±1,5 2,5-5,0 5,0±1,7 2,7-5,0 0,891 DRC interfere vida 1,0±1,8 1,0-5,0 2,0±1,8 1,0-5,0 0,341 Tempo gasto com a DRC 4,0±1,8 1,0-5,0 2,0±1,8 1,0-5,0 0,568 Decepcionado com a DRC 5,0±1,5 4,0-5,0 5,0±1,6 3,5-5,0 0,844 Peso para família 5,0±1,7 2,0-5,0 5,0±1,7 1,7-5,0 0,691 Isolou-se das pessoas 2,0±2,0 1,0-4,5 3,0±1,9 1,0-5,2 0,218 Demorou para reagir 1,0±2,3 1,0-6,0 2,0±2,2 1,0-6,0 0,906 Irritou pessoas próximas 2,0±2,1 1,0-5,0 2,0±2,0 1,0-5,0 1,000 Dificuldades em concentrar-se e pensar 2,0±2,2 1,0-6,0 1,5±2,1 1,0-5,2 0,581 Relacionou-se com outras pessoas 4,0±2,3 1,0-6,0 5,0±2,1 1,0-6,0 0,544 Sentiu-se confuso 3,0±2,3 1,0-6,0 1,5±2,1 1,0-5,2 0,359 Dores musculares 3,0±1,5 1,0-4,0 2,0±1,4 1,0-4,0 0,742 NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 15 Tabela 2. Comparação entre pacientes em hemodiálise da Associação Renal Vida de Blumenau (SC) em relação ao seu nível de eutrofia e de excesso de peso quanto à qualidade de vida. Eutrofia Excesso de Pêso Variável Mediana±DP 25th-75th Mediana±DP 25th-75th p Dores peito 1,0±0,6 1,0-1,0 1,0±1,5 1,0-1,5 0,351 Cãibras 1,0±1,2 1,0-1,5 2,50±1,4 1,0-3,2 0,008 Coceira na pele 1,0±1,4 1,0-2,5 1,0±1,3 1,0-3,0 0,938 Falta ar 1,0±1,0 1,0-2,0 1,0±1,4 1,0-3,0 0,483 Fraqueza ou tontura 2,0±1,0 1,0-3,0 2,0±1,1 1,0-3,0 0,873 Falta de apetite 2,0±1,1 1,0-2,5 1,0±1,2 1,0-2,0 0,187 Dormência nas mãos ou pés 1,0±1,0 1,0-2,0 2,0±1,2 1,0-3,0 0,117 Episódios frequentes de vômito 1,0±1,1 1,0-2,0 1,0±1,4 1,0-3,0 0,176 Problemas na fístula 1,0±1,0 1,0-1,0 1,0±0,8 1,0-1,0 0,392 Limitação de líquido 5,0±1,7 1,5-5,0 4,0±1,8 1,0-5,0 0,462 Limitação alimentar 1,0±1,5 1,0-3,0 1,5±1,5 1,0-3,0 0,433 Dificuldades em viajar 1,0±1,2 1,0-3,0 1,0±1,3 1,0-2,2 0,576 Depender de profissionais da saúde 1,0±0,8 1,0-1,0 1,0±1,2 1,0-1,0 0,157 Estresse e preocupação com a DRC 1,0±1,2 1,0-2,0 1,0±1,5 1,0-3,0 0,387 Vida sexual 1,0±0,7 1,0-1,0 1,0±0,9 1,0-1,0 0,972 Aparência pessoal 1,0±0,8 1,0-2,0 1,0±1,0 1,0-1,2 0,591 Dificuldade para dormir 2,0±2,2 1,0-6,0 3,0±1,9 1,0-5,0 0,781 Tempo com a família e amigos 4,0±1,1 3,0-4,0 4,0±1,2 2,0-4,0 0,302 Apoio familiar e de amigos 4,0±1,1 3,0-4,0 4,0±1,1 2,7-4,0 0,774 Saúde impossibilita o trabalho 1,0±0,4 1,0-1,0 1,0±0,6 1,0-2,0 0,168 Satisfação com a diálise 6,0±1,3 4,0-7,0 5,0±1,1 4,7-6,0 0,413 Encorajam a ser independentes 1,0±1,6 1,0-3,5 1,0±1,4 1,0-2,0 0,474 entre o nível de peso corporal. Quanto a ingestão alimen- tar, Quando questionados quanto a sua qualidade de vida, pode-se perceber que os pacientes que estão com excesso de peso possuem maior incômodo quanto a presença de cãibras quando comparados ao grupo eutróficos (Tabela 2). . . . . . . . . . . . . . . . . Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Este estudo mostrou que a maioria dos pacientes em hemodiálise possuem excesso de peso. Além disso, os pacientes que possuem excesso de peso, possuem menor ingestão de vitamina D e nesse mesmo grupo, o incômodo com a presença de cãibras foi maior. O excesso de peso é uma situação considerada comum entre os pacientes em hemodiálise nos tempos atuais (PAULETTO et al., 2011). Nos últimos anos, um fenômeno denominado “paradoxo da obesidade” foi des- crito em alguns estudos com pacientes renais crônicos em hemodiálise. Os dados desse paradoxo mostram que pacientes com IMC diminuído, estão associados a maior taxa de mortalidade. Por outro lado, pacientes em hemo- Quality of Life of Patients in Hemodialysis: Is There a Relationship with the Nutritional State? clínica clínica NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202116 diálise com excesso de peso, estão associados a sobrevida maior (KITTISKULNAM; JOHANSEN, 2020). A deficiência de vitamina D também é uma situa- ção clínica considerada comum em pacientes com DRC. A baixa ingestão alimentar, falta de exposição solar e o con- texto da própria doença, são fatores que contribuem para a deficiência dessa vitamina (JEAN et al., 2017). A vitami- na D é um micronutriente essencial devido as funções que exerce no organismo, como por exemplo, a regulação da pressão arterial, redução de biomarcadores inflamatórios, melhora da sensibilidade à insulina e melhora da função imunológica. Segundo Lee et al. (2015), níveis séricos de vitamina D em maiores proporções, estão associados a menores riscos de mortalidade em pacientes com DRC. Para corroborar, um estudo de Gonzalez e colaboradores (2014), relatou que 97% dos pacientes em hemodiálise apresentaram níveis inadequados de vitamina D. Outro estudo demonstrou que as restrições alimentares impos- tas aos pacientes em hemodiálise para reduzir a ingestão de fósforo, podem contribuir para o desenvolvimento de hipovitaminose D nos pacientes com doença renal em estágio terminal (LEE et al., 2015). Além disso, um estu- do desenvolvido com 171 pacientes em hemodiálise para avaliar os níveis séricos de vitamina D relacionados com distúrbios do sono, verificou que a ingestão dos alimentos e a obesidade são fatores importantes para a deficiência de vitamina D (HAN et al., 2017). Cãibras musculares são um dos principais sin- tomas físicos relatados pelos pacientes em hemodiálise (VARGHESE et al., 2020). Cãibras são contrações mus- culares involuntárias dolorosas, que podem durar segun- dos ou minutos e são motivos de desistência precoce das sessões de hemodiálise pelos pacientes. Isso afeta negati- vamente a qualidade de vida, visto que muitas vezes eles desenvolvem quadros de depressão e insônia, pois as cãi- bras podem surgir em momentos dos quais, os pacientes não estão realizando hemodiálise. A fisiopatologia da cãi- bra não é bem esclarecida e não há estratégias de preven- ção ou cura que sejam comprovadas. Nos pacientes em hemodiálise, vários fatores podem desencadear cãibras, incluindo a rápida remoção de fluídos durante a hemo- diálise, hipotensão intradialítica e hipomagnesemia. Para corroborar, um estudo realizado com 50 pacientes em he- modiálise nos Estados Unidos, apontou que quase todos os participantes relataram sofrer com cãibras (COX et al., 2017). A qualidade de vida do paciente em hemodiálise é afetada devido às mudanças psicossociais e biológicas relacionadas ao tratamento. Os sintomas comuns relacio- nados a hemodiálise são relevantes para os pacientes, pois causam angústia e preocupação e interferem na atividade física e social dos indivíduos (COX et al., 2017). Segundo um estudorecente, estima-se que essa população, apre- senta taxas de depressão de duas a três vezes maiores do que em indivíduos que possuem outras doenças crônicas. A depressão pode favorecer a progressão da doença renal, piores desfechos clínicos e risco aumentado de mortalida- de (PRETTO et al., 2020). . . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Este trabalho mostrou que a maioria dos pacien- tes em hemodiálise avaliados, possuem excesso de peso, baixa ingestão de vitamina D entre os pacientes que estão acima do peso e maiores incômodos relacionados a pre- sença de cãibras também nesse grupo. A baixa ingestão de vitamina D pode causar malefícios para os pacientes renais com excesso de peso e a presença de cãibras pode prejudicar a qualidade de vida dos pacientes. A realização do diagnóstico nutricional e a avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde, pode beneficiar às equipes mul- tidisciplinares tanto nas avaliações dos prognósticos como também no planejamento das intervenções com objetivo minimizar as comorbidades e alterações psicossociais dos pacientes com DRC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores Dra. Susane Fanton - Nutricionista na Associação Renal Vida. Doutoranda em Ciências Cardiovasculares na Universidade Federal Fluminense (UFF), Blumenau (SC) – Brasil. Ana Paula Nahring; Mariele da Silva - Discentes do Curso de Nutrição da Universidade Regional de Blu- menau - FURB, Blumenau (SC) - Brasil. Dra. Beatriz Germer Baptista – Nutricionista. Mestranda em Ciências Médicas na Universidade Federal Fluminense (UFF), Blumenau (SC) – Brasil. Ivo Rene Westphal - Acadêmico de Serviço Social na Universidade Norte do Paraná (UNOPAR,) Blumenau (SC) – Brasil. Dra. Caroline Pozzi Vanelli; Dra. Gabriela Cado- re; Dra. Jamile Sousa de Araújo; Dra. Liliane Sartori - Nu- tricionistas na Associação Renal Vida Renal Vida, Blume- nau (SC) – Brasil. Qualidade de Vida de Pacientes em Hemodiálise: Há Relação com o Estado Nutricional? NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 17 Ana Paula Joaquim Krieger; Camila Dalberto; Daniela da Trindade Cruz; Fernando Roters; Michele Si- mon; Weltyane Cleicy da Silva Costa - Enfermeiros na As- sociação Renal Vida Renal Vida, Blumenau (SC) – Brasil. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida. Estado nutricio- nal. Diálise renal. KEYWORDS: Quality of life. Nutritional status. Renal dialysis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 8/9/21 – APROVADO: 9/10/21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS BOUSQUET-SANTOS, K.; COSTA, L.G.; ANDRADE, J.M.D.L. Estado nutricional de portadores de doença renal crônica em hemodiálise no Sistema Único de Saúde. Ciênc. saúde colet. 24. Mar 2019. BREITSAMETER, G.; FIGUEIREDO, A.E.; KO- CHHANN, D.S. Cálculo de Kt/V em hemodiálise: comparação en- tre fórmulas. Braz. J. Nephrol. 34. Mar 2012. CABRAL, P.C.; DINIZ, A.D.S.; ARRUDA, I.K.G.D. Ava- liação nutricional de pacientes em hemodiálise. Revista de Nutrição, 18, 29-40. 2005. COX, K.J.; et al. Symptoms among patients receiving in- -center hemodialysis: A qualitative study. Hemodial Int;21(4):524- 533. 2017 GOIS, P.H.F.; et al. Vitamin D Deficiency in Chronic Kid- ney Disease: Recent Evidence and Controversies. 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Quality of Life of Patients in Hemodialysis: Is There a Relationship with the Nutritional State? clínica clínica NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202118 A Percepção de Graduandos dos Cursos de Nutrição e Educação Física de uma Instituição Privada no Estado do Rio de Janeiro sobre Alimentação Saudável e o Comer Intuitivo RESUMO: Atualmente, assuntos sobre alimentação sau- dável e comer intuitivo são relevantes. O objetivo deste trabalho foi verificar a percepção de estudantes de Nutri- ção e Educação Física com relação as escolhas alimenta- res. Foram entrevistados 68 discentes, sendo 54 do curso de Nutrição e 14 do curso de Educação Física, entre se- tembro e outubro de 2020. A coleta dos dados foi realiza- da virtualmente e as informações tabuladas no Microsoft Excel 16.0. Quando questionados se confiavam no próprio corpo quanto ao que comer, 44,44% alunos de Nutrição responderam que sim, enquanto 28,57% alunos de Edu- cação Física afirmaram confiança. Com relação se suas es- colhas alimentares eram realizadas conforme o que consi- deravam mais saudável, em detrimento das suas vontades, 44,44% acadêmicos de Nutrição e 71,43% dos acadêmicos de Educação Física afirmaram que sim. Portanto, os alu- nos dos cursos de Nutrição e Educação Física demonstra- ram diferentes tendências em relação ao comer intuitivo e confiança sobre seus corpos. ABSTRACT: Currently, issues that address the theme of healthy eating and intuitive eating are becoming more rel-evant. This study aimed to verify the perception of under- graduate students in Nutrition and Physical Education, regarding their food choices and analyze if there was recog- nition of their physiological needs. Sixty-eight students were interviewed, 54 students from the Nutrition course and 14 from the Physical Education course, between September and October 2020. Data collection was performed using a virtual form and the information tabulated with help from Microsoft Excel 16.0. As for the results, when asked if they trusted their own body, regard to how much to eat without the need for external rules, 44.44% of the students in the Nutrition course answered yes, while only 28.57% of the stu- dents in the Physical Education course affirmed such confi- dence. Regarding the question that addressed whether their food choices were made according to what they considered healthier, to the detriment of their eating desires, 44.44% of Nutrition students and 71.43% of Physical Education stu- dents said yes. These findings showed that students from the Nutrition and Physical Education courses showed different trends in relation to intuitive eating and confidence in their own bodies. . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . A construção de bons hábitos alimentares im- pacta positivamente na melhoria da qualidade de vida e na prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, doenças cardiovascu- The Perception of Undergraduate Students of Nutrition and Physical Education Courses at a Private Institution in the State of Rio de Janeiro Regarding Healthy Eating and Mindful Eating NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 19 esporte esporte lares, e alguns tipos de câncer (WHO, 2003). Segundo a Organização Mundial da Saúde, a dieta diária de um in- divíduo adulto deve ser composta de leguminosas; cereais integrais; o mínimo de 400g de frutas, verduras e legumes; baixos índices de gorduras saturadas e de sódio; de forma diversificada, saudável e equilibrada, respeitando a indivi- dualidade humana, cultura, acesso e renda. Entretanto, observa-se que as regras de beleza impostas pela atual sociedade se referem a um estereóti- po magro, com curvas bem delineadas e que obedeçam aos “padrões do corpo perfeito” e, por esse motivo, po- dem ter um impacto negativo sobre a saúde física e mental das pessoas que tentam seguir esses padrões de beleza. A busca em conquistar a tríade juventude-saúde-beleza tem desencadeado mudanças no comportamento alimentar da população (PRIORE, 2000). A mídia é um dos maiores meios de dissemina- ção da ideia do saudável e de um modelo de qualidade de vida que, em sua maioria, é representado por um corpo magro e socialmente aceito. Essa ideia de saúde propa- gada se reflete em inúmeras dietas restritivas e alterações autoimpostas em relação à determinados grupos alimen- tares, como o carboidrato, gorduras, ou os que são consi- derados mais calóricos (VIEIRA; BOSI, 2013). Em meio a essa realidade, o que chama mais a atenção é que mesmo com o aumento no número de die- tas, estratégias para se obter esse corpo “saudável” e uma maior facilidade ao acesso às informações nutricionais e de saúde, o número de pessoas acometidas por transtor- nos alimentares e obesidade vêm se expandindo cada vez mais no Brasil e ao redor do mundo (GORDON, 2000); (PIMENTA et al., 2015). Esse fato ocorre porque as mu- danças no comportamento são pautadas em privações, e de forma fisiológica são interpretados como uma hostili- dade ao corpo, e podem acarretar diversas respostas como um maior ganho de peso, um ato de comer descontrola- do, o desenvolvimento de transtornos alimentares e uma má relação com o alimento em si (DULLOO; JACQUET; MONTANI, 2012); (MANN et al., 2007); (NEUMARK-S- ZTAINER et al., 2006). Para contrapor as restrições alimentares, o con- ceito do comer intuitivo está ganhando notoriedade, tan- to entre os profissionais da área de Nutrição quanto aos adeptos de uma alimentação adequada, pois tem como premissa as pessoas confiarem na sabedoria de seu corpo por meio de princípios que têm como objetivo desenvol- ver a capacidade de reconhecer saciedade e fome, que são perdidas ao longo da vida por conta de regras externas im- postas que ditam o quanto, como e quando comer (TRI- BOLE; RESCH, 2012). O comer intuitivo também rejeita a mentalidade de dietas e faz com que o comer deixe de ser algo automático e influenciado pelo ambiente em que nos encontramos (COHEN; FARLEY, 2008). Essa abordagem reconhece o indivíduo como co- nhecedor do seu corpo e protagonista ao se tratar de uma mudança comportamental e um estilo de vida saudável, é a descoberta de um momento de contentamento, onde o mesmo pode decidir o que realmente sente vontade de co- mer, focar em suas necessidades físicas e não emocionais, isto é, dar atenção aos seus sentimentos e emoções para de fato reconhecer sua saciedade, capacitando o indivíduo a não se confundir por sentimentos de tédio e ansiedade, por exemplo, que podem camuflar essa percepção, levan- do-o a buscar o conforto na comida e, por fim, manter o corpo saciado com energia e nutrientes suficientes, hon- rar a própria saúde e entender que para a alimentação ser saudável não precisa ser perfeita e que os conhecimentos nutricionais que obtemos cada dia mais podem ser usados de maneira acomodatícia, garantindo bem estar e saúde (TRIBOLE; RESCH, 2012). Por compreender a importância da temática da alimentação saudável e do comer intuitivo para os pro- fessionais da área da saúde, realizar um estudo com gra- duandos das áreas de Nutrição e Educação Física faz-se relevante e por isso este trabalho se justifica. O objetivo foi verificar a percepção de estudantes dos cursos de Nutrição e Educação Física da Universidade Estácio de Sá – Duque de Caxias, RJ – com relação as suas escolhas alimentares e analisar uma possível correlação das suas preferências alimentares com o reconhecimento ou não de suas necessidades fisiológicas. . . . . . . . . . . . . . . . Métodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para a realização desta pesquisa, foi proposto um estudo transversal com 68 graduandos, sendo 54 do curso de Nutrição e 14 do curso de Educação Física entre setem- bro e outubro de 2020. Os discentes participantes deste projeto estavam devidamente matriculados no semestre de 2020 na Universidade Estácio de Sá, na unidade de Du- que de Caxias - Rio de Janeiro. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética, em julho de 2020, e todos os participan- tes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclare- cido (TCLE). Foi considerado como critério de exclusão os alunos que não assinaram o TCLE ou que, no meio da pesquisa, manifestaram interesse em parar de contribuir. A Percepção de Graduandos dos Cursos de Nutrição e Educação Física de uma Instituição Privada no Estado do Rio de Janeiro sobre Alimentação Saudável e o Comer Intuitivo NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202120 Tabela 1 – Faixa etária dos alunos de Nutrição da Universidade Estácio de Sá Duque de Caxias – RJ (n=54, sendo 46 do sexo feminino e 8 do sexo masculino) Faixa etária (anos) Frequência observada Frequência percentual 18 a 22 23 42,6% 23 a 28 14 25,9% 23 a 33 5 9,3% 34 a 38 7 12,9% Acima de 39 5 9,3% Fonte: Do instrumento do estudo. The Perception of Undergraduate Students of Nutrition and Physical Education Courses at a Private Institution in the State of Rio de Janeiro Regarding Healthy Eating and Mindful Eating Tabela 2 – Faixa etária dos alunos de Educação Física da Universidade Estácio de Sá Duque de Caxias – RJ (n=14, sendo 11 do sexo feminino e 3 do sexo masculino) Faixa etária (anos) Frequência observada Frequência percentual 18 a 22 4 28,6% 23 a 28 4 28,6% 23 a 33 1 7,1% 34 a 38 3 21,4% Acima de 39 2 14,3% Fonte: Do instrumento do estudo. Tabela 3 – Respostas dos alunos de Educação Física e Nutriçãoda Universidade Estácio de Sá Duque de Caxias – RJ (n=68) Variáveis Sim (n) Sim (%) Não (n) Não (%) Alunos de Educação Física Pergunta 1* 10 71,43 4 28,57 Pergunta 2** 4 28,57 10 71,43 Alunos de Nutrição Pergunta 1* 24 44,44 30 55,56 Pergunta 2** 24 44,44 30 55,56 Fonte: Do instrumento do estudo. *Pergunta 1: “Você realiza suas escolhas alimentares conforme o que considera “mais saudável”, não conside- rando o que realmente tem vontade?” **Pergunta 2: “Você confia no seu corpo para te dizer o quanto comer e não precisa seguir regras externas?” NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 21 Os alunos responderam a um questionário con- tendo sete informações pessoais: nome, matrícula, curso, idade, sexo, telefone, e-mail; e quatro perguntas que se relacionam com a Nutrição Comportamental, das quais para este estudo utilizamos: “Você realiza suas escolhas alimentares conforme o que considera “mais saudável”, não considerando o que realmente tem vontade?” e “Você confia no seu corpo para te dizer o quanto comer e não precisa seguir regras externas?”. Os dados foram obtidos por meio de um formu- lário virtual, criando na plataforma Google Forms, en- viado aos alunos pelos meios de comunicação tais como e-mail pessoal, grupos de WhatsApp e mídias sociais da instituição, ou seja, o Instagram e Facebook. As informa- ções obtidas foram tabuladas com auxílio do Microsoft Excel 16.0. . . . . . . . Resultados e Discussão . . . . . . . . . . . . No ato de comer intuitivo, a perda de peso não é o foco, mas pode sim se tratar de uma consequência causada pelas mudanças dos hábitos alimentares, con- cluindo assim que regras externas não são importantes quando aborda-se uma terapia cognitiva-nutricional e o trabalho do nutricionista nesta área é ajudar o paciente no processo de autoconhecimento, com aconselhamentos, entrevista motivacionais e diversas outras estratégias que podem e devem ser utilizadas, assim, promovendo saú- de, bem estar emocional, aspectos físicos e psicológicos (SCHAEFER; MAGNUSON, 2014); (OBARA; VIVOLO; ALVARENGA, 2018). Considerando a forte relevância do trabalho dos profissionais de Nutrição e Educação Física na promoção da saúde, este trabalho utilizou como público-alvo alunos de ambas as graduações. Os alunos foram divididos em faixas etárias, como pode-se observar nas Tabelas 1 e 2. Tal divisão permite a observação de um maior percentual do sexo feminino em ambos os cursos e uma variável mais incidente entre 18 a 28 anos. O estudo utilizou, como fonte de análise, as res- postas de duas perguntas, contidas no formulário, rela- cionadas à Nutrição Comportamental: “Você realiza suas escolhas alimentares conforme o que considera “mais sau- dável”, não considerando o que realmente tem vontade?” e “Você confia no seu corpo para te dizer o quanto comer e não precisa seguir regras externas?” (Tabela 3). Quando questionados se confiam no próprio cor- po no que diz respeito ao quanto comer sem a necessidade de regras externas, 44,44% dos alunos do curso de Nutri- ção responderam que sim, enquanto apenas 28,57% dos alunos do curso de Educação Física afirmaram tal con- fiança. Com base nos resultados obtidos, é possível obser- var que os estudantes do curso de Educação Física apre- sentam maior dificuldade em reconhecer e confiar nos sinais fisiológicos do próprio corpo, optando por seguir regras externas, ignorando os pilares do comer intuitivo, que por sua vez, tem total ligação com a autonomia para o reconhecimento da fome, da saciedade, de vontades, en- tre outras sensações. A dificuldade em desenvolver sua autonomia alimentar, baseada nos conceitos da Nutrição Comportamental, os alunos demonstram-se influencia- dos pela ideia de que devam ser exemplos de corpo pa- drão, para que, assim, sintam-se seguros e considerados referências em suas respectivas profissões (CLAUMANN et al., 2014; BOSI et al., 2006). Apenas 44,44% dos alunos de Nutrição afirmam realizar suas escolhas alimentares conforme o que con- sidera mais saudável, não considerando o que realmente tem vontade; enquanto 71,43% dos alunos de Educação Física confirmam que realizam suas escolhas consideran- do o que julgam mais saudável em detrimento das suas vontades alimentares. Este resultado está diretamente alinhado aos achados de Castro et al. (2004) e Frank et al. (2016), pois concluíram que os estudantes do curso de Educação Física demonstram uma maior inclinação para a insatisfação corporal por conta do constante trabalho com o físico e a imagem, tendendo, assim, seguir tendên- cias externas e ignorar suas próprias vontades em busca de um corpo mais aceito, aquele mais bem definido, com maior percentual de massa muscular, considerando que, segundo a sociedade, seu corpo é fruto do seu trabalho, fazendo parte da sua atribuição, onde sua forma física lhe confere legitimidade como profissional. Os resultados encontrados podem trazer o ques- tionamento sobre o afastamento dos meios utilizados para alcançar o corpo perfeito da real proposta do comer in- tuitivo, como por exemplo, os praticantes de atividades físicas intensas. Estes esportistas costumam seguir ten- dências baseadas em uma alimentação regrada, geralmen- te priorizando o consumo de proteínas e com o ideal em atingir uma determinada quantidade de macronutrientes, e para isso são utilizados métodos distantes da proposta do comer intuitivo. O hábito de pesar os alimentos antes de seres consumidos e possuir uma alimentação monó- A Percepção de Graduandos dos Cursos de Nutrição e Educação Física de uma Instituição Privada no Estado do Rio de Janeiro sobre Alimentação Saudável e o Comer Intuitivo esporte esporte NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 202122 tona, baseada em alimentos como frango, ovo e batata doce, difundidos na sociedade como as melhores opções para aqueles que buscam emagrecimento e hipertrofia, são exemplos de métodos que constroem a ideia de que o importante é manter uma dieta eleita como a ideal, não considerando suas reais necessidades fisiológicas e vonta- des pessoais. Essas tendências também não indicam uma dieta com boa qualidade nutricional, sabendo que dietas com privação de nutrientes e restrições impactantes, po- dem acarretar baixa do rendimento do treino e ainda in- duzir constipação intestinal, dores de cabeça, problemas psicológicos, entre outros prejuízos na saúde do esportista (BOTH, 2011). O total de 55,56% dos estudantes de nutrição afir- mou escolher alimentos que satisfazem a própria vontade, não levando em consideração apenas a ideia do que real- mente seja saudável. Dessa forma, podemos observar uma crescente inclinação para a ideia da nutrição comporta- mental, que, apesar de ser uma abordagem recente, está em constante expansão e a cada dia mais conquistando novas adeptos, que buscam por uma nutrição mais gentil e humanizada, considerando suas vontades. Essa inclina- ção pode ser o resultado de um maior conhecimento em relação à alimentação, atrelando-se ao saber que a restri- ção gera a compulsão, e que se abster de comer algo que o indivíduo sente vontade ou substituir por uma versão considerada mais saudável, não fará a vontade passar e continuará a persistir, abrindo precedentes para busca do alimento desejado posteriormente, podendo levar a im- pulsos de exageros. A principal proposta é identificar o motivo que está causando tal vontade e se questionar se é simplesmente uma fome genuína ou se é impulsionada por alguma resposta emocional. Ao serem questionadas se confiam próprio cor- po para sinalizar o quanto comer sem precisar seguir re- gras externas, 52,17% das alunas do curso de Nutrição e 81,81% das alunas do curso de Educação Física respon- deram que não. Estes resultados, unidos às exposições de Bohm (2004) e Vianna (2005), demostram que as mulhe- res são mais propícias aos distúrbios ligados a imagem devido a pressão estética que sofrem para se encaixar nos padrões do corpo perfeito, impostospela sociedade, o que acarreta maiores problemas em relação ao comportamen- to alimentar. De acordo com Castro et al. (2004), fica claro que os estudantes da Educação Física e do campo alimentar- -nutricional são mais culpabilizados, uma vez que são co- nhecedores das práticas determinadas como corretas e se sentem na obrigação de viver conforme as normas, além de estarem sempre sendo vistos como exemplos pelas ou- tras pessoas, caso contrário, perdem o status de profissio- nal da área. No entanto, se tratando de futuros profissio- nais de nutrição, a preocupação em atender às normas se torna mais significativa visto que, futuramente poderão tratar de pessoas com comportamentos alimentares de risco (BOSI et al., 2006). Os resultados da presente pesquisa, atrelados aos padrões de saúde e beleza impostos pela sociedade, é possível vislumbrar o impacto negativo na saúde dos alunos dos cursos de Nutrição e Educação Física. Padrões rígidos de beleza e saúde podem contribuir para a construção de in- divíduos insatisfeitos e inseguros com o próprio corpo, le- vando-os a buscarem estratégias para transformarem suas estruturas corporais sem considerar suas especificidades, sensações, necessidades fisiológicas, suas vontades e até mesmo o que sentem em uma tentativa de serem aceitas na sociedade (ANDRADE; BOSI, 2003). . . . . . . . . . . . . . . . . . C onclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Analisando as respostas aos questionários e a dis- cussão atrelado aos achados da literatura, conclui-se que os graduandos dos cursos de Nutrição e Educação Física demonstraram diferentes tendências em relação ao comer intuitivo e confiança sobre seus próprios corpos. Ainda que, o profissional de nutrição também esteja fortemente exposto a pressões para se enquadrar nos padrões, foram os estudantes de educação física que revelaram maiores preocupações e tendências em seguir a ideia do saudá- vel, pregada pela mídia, e maior dificuldade ao se tratar do comer intuitivo. Importante é o papel do estímulo à autonomia alimentar através de comportamentos mais adaptativos e a necessidade de determinados conceitos padronizados sobre beleza, corpo e a real proposta do sau- dável serem trabalhados ao longo da graduação, tendo em mente que a atuação desses profissionais está inserida na formação e reforço desses padrões. Por fim, pode-se perceber a necessidade de mais estudos relacionados à Nutrição Comportamental e a in- serção deste tema ao longo da graduação do curso de Edu- cação Física e, mais profundamente, no curso de Nutrição, para que sejam formados profissionais atentos ao compor- tamento alimentar de seus pacientes/clientes. The Perception of Undergraduate Students of Nutrition and Physical Education Courses at a Private Institution in the State of Rio de Janeiro Regarding Healthy Eating and Mindful Eating NUTRIÇÃO EM PAUTAOUTUBRO 2021 23 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores Profa. Dra. Anete Souza Mecenas – Nutricionis- ta. Mestra e Doutora. Docente, pesquisadora e coordena- dora do curso de graduação em nutrição e pós-graduação, além de atendimento em consultório. Ariane Alves Santos – Acadêmica do curso de nutrição. Participou como monitora da disciplina Farma- cologia Aplicada à Saúde. Evelyn Xavier Dias Pereira – Acadêmica do curso de nutrição. Renata dos Santos Guarnieri – Graduanda em nutrição. Atuou como monitora de diversas disciplinas. Integrante de projetos científicos e de extensão na UNESA e no Laboratório de Morfometria, Metabolismo e Doen- ças Cardiovasculares (LMMC/UERJ). Samara Barreto Dutra – Acadêmica de nutrição. Colaboradora em projeto de iniciação cientifica. Profa. Dra. Zoraia Moura da Silva – Nutricionista e Mestra formada pela Universidade de São Paulo (FSP/ USP). Consultora na área de alimentos, atuando em even- tos e estabelecimentos comerciais. Docente em institui- ções privadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Padrões Alimentares. Dieta Cons- ciente. Preferências Alimentares. KEYWORDS: Feeding Behavior. Diet, Healthy. Food Pre- ferences. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RECEBIDO: 10/8/21 – APROVADO: 20/9/21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS ANDRADE, A.; BOSI, M.L.M. Mídia e subjetividade: im- pacto no comportamento alimentar feminino. Rev. Nutr. 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Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases: report of a Joint WHO Technical Report Series, No. 916. Geneva: World Health Organization. 2003. Agradecimentos As autoras agradecem a participação de todos os discentes que res- ponderam ao questionário bem como os gestores da Universidade Estácio de Sá (UNESA)de Duque de Caxias por terem permitido a realização deste projeto e a Reitoria, a Vice-Reitoria de Pós-gra-
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