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Cultura política e movimentos sociais

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CULTURA POLÍTICA
e movimentos sociais
Definição de cultura política com base nos pressupostos de Stuart Hall, Ernesto Laclau e
Chantal Mouffe. Outras referências: Marx, Engels, Gramci, Lefevbre e a definição de
Mutzenberg de ações coletivas.
 Surgimento como categoria:
 - autores: Gabriel Almond e Sidney Verba | Tradição funcionalista. 
- Questão posta: compreender melhor a origem dos sistemas democráticos, partindo da
percepção da insuficiência dos paradigmas iluministas que viam o homem como ator
político racional. (MOTTA, 2009)
- Hipótese elaborada: "democracias estáveis demandavam cidadãos com valores e atitudes
políticas internalizadas, ou seja, a presença de uma cultura política."
- Em linhas gerais, em seus anos iniciais (1950-1960), "o conceito implicava certa
hierarquização. A compreensão de que alguns povos possuem cultura política, são mais
avançados, enquanto outros não a têm, ou apenas em forma inferior ou incompleta."
(MOTTA, 2009)
 Primeiras reflexões: 
- As conexões entre "costumes ou moral"(cultura) e a práxis política têm um longo percurso
na filosofia, desde Platão, passando por Tocqueville, Maquiavel e Montesquieu. 
- Uma delimitação do conceito de cultura. Ao utilizarmos esta categoria estamos nos
referindo aos elementos culturais presentes no mundo da política.
- O conceito de cultura é associado à criação e compartilhamento de símbolos e crenças. Os
conjuntos de crenças representam tentativas de criar um "horizonte transcendental" que
representa o conjunto de significados possíveis que adquirem o status de legitimidade,
como se fossem "naturais" ou óbvios. Nesse processo de invenção cultural podemos falar na
instituição de tradições culturais e hegemonia. (HALL, 2003)
 TRADIÇÕES são narrativas usadas estrategicamente para instituir diferenças, hierarquias 
 e naturalizar relações de poder, garantindo a hegemonia. 
 
Fichamento: RODRIGUES, C. Cultura política e movimentos sociais:
tradição e mudança. Revista da Faculdade de Serviço Social da
Universidade do Rio de Janeiro, RJ, v.7,n.25, Julho de 2010.
A tradição interpela os sujeitos de diferentes formas estabelecendo
diferentes processos de identificação. Mas as escolhas identitárias
podem ser no sentido de afirmar ou negar a tradição dialeticamente.
- A negação da tradição pode ser na forma de luta política e implica o questionamento das
relações de poder estabelecidas hegemonicamente. Isto posto, estamos considerando que as
lutas políticas são perpassadas por questionamentos dos códigos culturais dominantes. 
- A escolhas identitárias, inclusive dos agentes dos movimentos, são perpassadas por
decisões, tendo em vista a adesão a determinados projetos políticos. Assim, podemos
circunscrever os movimentos sociais no interstício entre cultura e política, como sujeitos
que mobilizam repertórios culturais em suas lutas políticas. 
 Movimentos sociais e Cultura política: conceitos e divergências
- O termo "movimento social" surge na literatura das Ciências Sociais tratando da luta de
classes do proletariado , no século XIX. 
- Questão!! Quais são os limites e possibilidades dos movimentos sociais, pensando a partir
de projetos políticos e suas ambiguidades, do contraste entre ideais de emancipação e os
óbices impostos pelo poder hegemônico. 
- Emancipação política x social (MARX, 1995). A emancipação política é expressa pela
cidadania e não muda as desigualdades econômicas, sendo, por isso, parcial; a emancipação
social refere-se à possibilidade de liberdade humana plena com a igualdade social e, por
isso, exige um ato político (revolução). 
- movimentos sociais e mudança social movimentos como forma de resistência ao
capitalismo regulado para constituir uma nova hegemonia. (LEHER e SETÚBAL, 2005) O
conceito de hegemonia enriquece a análise ao propor a articulação ente práxis política e a
perspectiva cultural, como já preconizava Gramci. 
- "Estudos culturais" em que os autores estabelecem uma vinculação entre processos
culturais, relações sociais e as diversas formas de opressão (classe, gênero e outras)
 esses autores, em geral, propõem que a cultura não seja um "campo autônomo nem
extremamente determinado, mas um local de diferenças e lutas sociais." 
- A formulação marxiana de falsa consciência (ideologia) dá lugar a estruturas de
entendimento que propiciam interpretação, sentido, experiência e vivência das condições
materiais. 
- As diversas formas de opressão engendram uma pluralidade de sujeitos políticos em torno
de movimentos não classistas ou identitários. 
 Cultura política e Movimentos sociais no Brasil
- Tensão entre cultura autoritária e utopia da cultura política democrática (TELLES, 2006)
- Segundo Lamounier a democracia esbarra numa concepção instrumental dos
procedimentos formais de representação, 'compartilhados pela direita autoritária e por
setores da esquerda.'
- Castro (1998) elabora uma explicação para esse processo com base em dois paradoxos. 
1) A institucionalização da democracia enquanto forma (procedimentos) em contraponto à
continuidade de valores e atitudes não democráticas.
2) A aceitação da democracia minimalista dissocia sistema político e problemas sociais (as
desigualdades econômicas) e gera uma aceitação difusa dos "procedimentos democráticos". 
 
 
 Esses paradoxos podem ser explicados a partir da teoria da hegemonia de
Gramsci 
- Numa determinada formação histórica, "a liderança econômica, social, moral e intelectual
da classe (ou fração de classe) hegemônica cria um consenso, institucionalizando valores
culturais dominantes como se fossem verdades absolutas, garantindo a adesão ao status
quo." Esses processos incluem a institucionalização de critérios de verdade para impor
formas de dominação e naturalizá-los no senso comum. Mesmo que a dominação
econômica seja a mais importante, é a dominação cultural que garante a adesão e a
hegemonia. 
- Ainda assim, a dominação mais importante para a classe dirigente é a econômica, por isso
pode haver negociações no campo político, ampliando a cidadania sem romper com a
estrutura econômica.
- Considerando o nosso processo histórico, marcado pela escravidão, o latifúndio e
patrimonialismo criam-se as condições materiais para um autoritarismo social que permeia
as relações sociais e se manifesta na economia, na política e no cotidiano. Além disso,
conforme análise do historiador José Murilo de Carvalho, a hierarquização impõe limites à
noção de cidadania, já que as camadas populares não são consideradas como sujeitos de
direito. (CARVALHO, 2002)
- Nesse contexto histórico, as reivindicações populares não alcançam os patamares
mínimos de legitimidade, sendo consideradas como "ultraje a ordem"
 A autora pretende estabelecer relações entre as reivindicações e essa cultura política
considerada hegemonicamente autoritária. 
"ao questionarem a forma como o poder deve ser exercido desafiam a cultura política
dominante".
- Utiliza o arcabouço teórico de Alvarez, Dagnino e Escobar (2000), argumentando que:
"lutas sociais são também guerras de interpretação, entretanto a análise não pode ser linear
e deve considerar que a disputa de sentidos e códigos culturais envolve mudanças, mas
também descontinuidades e contradições no processo de democratização. "
 - Nesse sentido, os autores estabelecem que todo movimento social pratica a política
cultural nas suas lutas em torno de significados e representações. 
- A autora, no enquanto, propõe a conceituação de ações coletivas de Mutzengberg (2002),
no lugar de política cultural para compreender as ações dos movimentos sociais. 
Argumentando que esta perspectiva conceitual e teórica "nos permite pensar diferentes
possibilidades de ação, sem colocar os movimentos sociais como portadores de uma
essência (ou virtuosidade intrínseca). Segundo a autora: "consideramos, em nossaanálise,
os diferentes momentos, diferentes formas de ação, questionando a visão de que os
movimentos constroem uma nova cultura política ou política cultural." 
- A autora não nega a existência de uma disputa de hegemonia enquanto disputa de
projetos políticos, mas argumenta que a luta política inclui o que Laclau (1990) chama de
jogo de semi-identidades, em que as relações entre os agentes políticos vão fazer com que
as ambiguidades de ambos entrem em interação provocando influências mútuas. 
 
- Mutzenberg (2002) define as ações coletivas como:
1)manifestações coletivas que expressam uma aderência a uma configuração hegemônica,
naturalizando padrões de comportamento; 
2)manifestações de conflito no interior de uma lógica hegemônica (questionando processos
decisórios ou operacionais)
3)manifestações de posições antagônicas a uma configuração hegemônica (nesse caso novos
sentidos são expostos)
- As ações coletivas se constituem a partir de repertórios existentes, afirmando-os e
negando-os, dialeticamente. Na ação política, "diferentes marcos de referências e
repertórios são mobilizados e que repetem processos políticos sedimentados no campo das
relações sociais e numa cultura política." (apud. RODRIGUES, 2010)
 "estamos pressupondo que não podemos considerar a cultura política enquanto
uma totalidade fechada que se impõe aos indivíduos determinando seus
comportamentos."
- Por outro lado, Rodrigues propõe: "podemos supor a existência de um repertório de
"opções simbólicas" que foi sendo construído ao longo da história, em outros termos, um
estoque de símbolos que vai sendo constituído, não apenas na vida dos indivíduos
(SHULTZ,1967), mas como parte do mundo da vida (HUSSERL,2001).
- Assim, podemos definir cultura política como um "horizonte de inteligibilidade que os
agentes 'recorrem' para nomear as coisas do mundo da política" (RANCIÉRE, 1996).
- Por outro lado, na definição proposta deve-se considerar ainda que os atos de nomeação
sejam decorrentes de disputas políticas.
 Isso significa que as elites no poder buscam institucionalizar "valores culturais"
que garantam sua dominação (GRAMSCI, 1981), construindo discursos sobre a história e
sobre o que deve ser considerado legítimo e racional. (p.22)
- Em cada formação histórico-social, os sujeitos que estão no poder vão impondo um
imaginário sobre sua história, em que determinados ícones e significantes são reforçados e
outros apagados, alguns valorizados e outros desvalorizados. 
-Podemos complementar a definição de cultura política como:
"um repertório simbólico que em cada formação social, justifica, mesmo que
artificialmente, as hierarquias". Ou ainda, "podemos definir a cultura política como o
imaginário político tornado hegemônico ao longo dos anos e a partir das lutas políticas,
sedimentando um repertório simbólico" (LACLAU, 1990)
- Na visão de Stuart Hall, Gramsci mostrou o capitalismo como um "forma de vida social",
criando um tipo de ser social, e um tipo de civilização que se expressa nas instituições da
sociedade civil (família, direito, educação) e nas instituições culturais (igreja e partidos
políticos). Deste modo, a hegemonia é uma "autoridade política, cultural e social" em função
do capital (BARRÈT, 1996) (p.23).
 - Em linhas gerais, não há como definir uma cultura política única e homogênea. Podemos
examinar os códigos culturais que foram sendo naturalizados e os processos de adesão e
contestação historicamente constituídos, que possibilitam explicar as relações sociais num
dado contexto, numa dada configuração hegemônica. 
 
 podemos falar de um repertório de códigos culturais que possibilita a constituição de
discursos e identidades políticas. 
- Assim, a cultura política é esse repertório constituído historicamente. Entretanto, há pelo
menos dois aspectos em jogo, a aceitação (como ato de deferência) e a contestação (como
ato de conflito ou antagonismo) em relação ao discurso hegemônico, e são esses dois
aspectos, em tensão constante, que possibilitam a mudança e a contingência. 
- Aceitar os códigos culturais dominantes é um momento de decisão do sujeito, não é
apenas reprodução, como aceitação tácita. Hall (2003) ressalta que esses processos não são
homogêneos, visto que os processos de adesão envolvem diferentes interpretações.
- Por outro lado, as possibilidades de contestação estão no campo das lutas sociais. Ao longo
da história surgiram diferentes sujeitos, com diferentes discursos. Nesse sentido, a autora
se refere a uma tradição das lutas que pode ser equiparada a uma cultura politica,
considerando o processo de criação de um repertório simbólico, que Rodrigues chama de
tradição dos revolucionários. 
- Nessa denominação considera-se a memória coletiva das lutas sociais e a existência de
intelectuais orgânicos e ideologias que se contrapõem às ideologias hegemônicas, no
sentido colocado por Gramsci (1995).
- Podemos qualificar melhor essa tradição como um "horizonte" que inclui a narrativa de
emancipação total e da justiça social como um "dever moral" e impulso para a práxis
política. 
- Da mesma forma que consideramos um repertório simbólico que constitui a cultura
política hegemônica, a tradição dos revolucionários se constitui pela memória coletiva das
lutas sociais.
 Memória e cultura política
- Memória inclui lembranças e esquecimentos, traumas sofridos e relações de poder.
(POLLACK, 1989) 
- A memória das lutas sociais faz com que os agentes guardem, em silêncio, lembranças de
repressões e alimentem esperanças para o futuro. Em determinados momentos, as
memórias emergem como importante impulso para a sua práxis política, possibilitando que
os agentes reinventem a sua tradição. (BURITY)
- A memória não é lembrança total, é seleção. A luta contra o esquecimento é a luta pela
existência, feita nas diversas interpretações. 
- Para Icleia Thiesen e Marco Aurélio Santana (2006), esse processo de invenção da memória
pode ser impulso para as lutas políticas de resistência à memória dominante. 
- "os agentes revolucionários leem a realidade, articulam suas demandas sob a "tradição dos
revolucionários" de forma relacional com a cultura política"
 Nesse interstício os agentes definem o universo das lutas possíveis. Nesse caso, o
"possível" se refere às reivindicações definidas a cada configuração hegemônica, de acordo
com as leituras que os agentes fazem da correlação de forças e das brechas em que podem
"agir" (LEFEBVRE, 1999). Essa leitura também vai ser feita articulando utopia e real polik, 
 conforme leitura de Gramsci (1984).

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