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Teoria do delito

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1 
 
Disciplina: Teoria do delito 
Autor: Esp. Raíssa Quintino de Paula Xavier 
Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima 
Ano: 2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança 
de direitos autorais. 
 
 
 
2 
 
Raíssa Quintino de Paula Xavier 
 
 
 
 
 
Teoria do delito 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
Curitiba, PR 
Faculdade UNINA 
 
 
3 
 
Faculdade UNINA 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / 
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / 
D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / 
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / 
D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Designer Instrucional 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Revisão Ortográfica 
Lucimara Ota Eshima 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
XAVIER, Raíssa Quintino de Paula. 
Teoria do delito / Raíssa Quintino de Paula Xavier. – Curitiba: Faculdade UNINA, 
2020. 
63 p. 
ISBN: 978-65-87972-17-6 
1. Conduta. 2. Delito. 3. Direito. 
Material didático da disciplina de Teoria do delito – Faculdade UNINA, 2020. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade UNINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ..................................................................................................... 07 
Aula 1 – Introdução à teoria do delito ........................................................ 09 
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 09 
 1.1 Análise dos estratos do crime ........................................................ 09 
 1.1.1 Conceito ..................................................................................... 09 
 1.2 Conduta / ação .............................................................................. 11 
 1.2.1 Crime como fato típico e antijurídico e a culpabilidade como 
pressuposto de aplicação de pena ............................................................ 
 
12 
 1.2.2 Crime como conduta típica, antijurídica e culpável ..................... 13 
 1.3 Tipicidade e antijuridicidade .......................................................... 14 
 1.4 Culpabilidade ................................................................................ 15 
 1.5 Tipicidade conglobante ................................................................. 16 
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 18 
Aula 2 – O Direito de punir .......................................................................... 19 
Apresentação da aula 2 ............................................................................ 19 
 2.1 Introdução histórica do direito de punir .......................................... 19 
 2.2 Funções do direito de punir .......................................................... 22 
 2.3 Limites do direito de punir ............................................................. 24 
 2.4 Teorias funcionalistas à luz de Roxin e Jakobs ............................ 27 
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 29 
Aula 3 – Teorias do Direito Penal ............................................................... 30 
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 30 
 3.1 Teoria dos elementos negativos do tipo penal ............................... 30 
 3.1.1 Críticas à teoria dos elementos negativos do tipo ...................... 31 
 3.2 Análise da teoria da imputação objetiva ........................................ 32 
 3.2.1 Conceito ..................................................................................... 32 
 3.2.2 Criação do risco permitido ......................................................... 34 
 3.2.3 Realização do risco não permitido ............................................. 35 
 3.2.4 O alcance do tipo e o princípio da autorresponsabilidade .......... 35 
 3.2.5 Princípio do risco e teoria da imputação objetiva ....................... 37 
 3.2.6 Aplicação da teoria .................................................................... 38 
 3.2.7 A teoria da imputação objetiva de Jakobs .................................. 39 
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 40 
Aula 4 – Análises finais .............................................................................. 42 
 
 
6 
 
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 42 
 4.1 Análise da questão da coculpabilidade ......................................... 42 
 4.1.1 Síntese histórica ........................................................................ 43 
 4.1.2 Conceito ..................................................................................... 44 
 4.1.3 Aplicação no Direito Penal Brasileiro ......................................... 45 
 4.2 Análise das causas excludentes de ilicitude .................................. 46 
 4.2.1 Legítima defesa ......................................................................... 47 
 4.2.2 Estado de necessidade .............................................................. 47 
 4.2.3 Estrito cumprimento de dever legal ............................................ 48 
 4.2.4 Exercício regular do direito ........................................................ 49 
 4.3 Análise do concurso de agentes e as respectivas teorias em 
relação ao tema ......................................................................................... 
 
50 
 4.3.1 Teorias ....................................................................................... 51 
 4.3.2 Caracterização ........................................................................... 51 
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 52Conclusão da disciplina ............................................................................. 54 
Índice Remissivo ........................................................................................ 58 
Referências ............................................................................................... 61 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Prefácio 
 
 A presente disciplina tem como objetivo apresentar a teoria do delito e 
todas as suas especificações. Afinal, o Direito Penal é um dos ramos mais 
importantes do Direito, visto que envolve não só questões legais como 
psicológicas, propedêuticas e, por diversas vezes, muitas polêmicas quanto a 
sua aplicação. 
 Por ser um assunto que está sempre em voga, muitas vezes traz diversas 
dúvidas e algumas confusões, razão pela qual é importante para aqueles que 
desejam operá-lo que o compreendam desde sua base fundante, até seu 
conceito e suas funções. 
 Para alcançar o objetivo pretendido serão analisados os estratos do crime, 
bem como a tipicidade conglobante, elementos necessários para a compreensão 
do conceito de delito. 
 Posteriormente será discutido acerca das funções e dos limites do Direito 
de Punir, um tema em alta quanto à discussão do poder punitivo estatal, tanto 
na esfera legislativa quanto na executiva e judiciária. 
 Também será debatido acerca das teorias funcionalistas à luz de Roxin e 
Jakobs, as quais apresentarão a função do Direito Penal, ou seja, quais os 
objetivos do Direito Penal em que se deva buscar atender, cumprindo seu papel 
dentro do ordenamento jurídico e da sociedade. 
 Acerca da teoria dos elementos negativos do tipo penal será discutido 
sobre o dolo e a culpa, as situações em que há ausência de algum destes 
elementos, bem como o fato destes elementos estarem implícitos no tipo, 
demandando análise pelos operadores do Direito. 
 Outra temática abordada será a da aplicação da teoria da imputação 
objetiva, apresentando a maneira pela qual esta teoria deve ser aplicada e qual 
o entendimento dos Tribunais quanto à aplicação dessa teoria, visto que 
desconsidera o dolo como elemento objetivo, mas sim subjetivo. 
 Ao final serão feitas análises sobre a coculpabilidade, as causas 
excludentes de ilicitude e do concurso de agentes e as respectivas teorias quanto 
ao tema. 
 O conteúdo tratado irá iniciar-se com o conceito de delito e abranger todos 
os elementos necessários para se atingir a culpabilidade. Por muitas vezes, ao 
 
 
8 
 
analisar, de maneira rápida, o reconhecimento de um delito pode parecer um 
trabalho simples em que somente a subsunção do fato à norma seria suficiente 
para sua elucidação. 
 Contudo, ao longo da matéria será demonstrado que a análise do delito 
vai muito além do mero enquadramento do fato à norma, sendo necessário um 
trabalhado direcionado para compreender todas as dimensões do delito. 
 As teorias aqui trazidas, embora pareçam antiquadas ou, até mesmo, 
meramente filosóficas são de extrema importância para aqueles que desejam 
compreender o Direito Penal e operá-lo de maneira justa, adequada e correta, 
norteando-se não somente pela letra da lei, mas também pelas teorias 
garantidoras de um Direito Penal coerente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
Aula 1 - Introdução à teoria do delito 
 
Apresentação da aula 1 
 
 Nesta aula introdutória será apresentado o conceito de crime, analisando 
cada um de seus estratos e as teorias que os circundam. Ademais, também será 
discorrido acerca da tipicidade conglobante, analisando seu conceito e sua 
aplicabilidade no Direito Penal. 
 
1.1 Análise dos estratos do crime 
 
 O Direito Penal divide os doutrinadores entre aqueles que defendem a 
teoria do delito entre a teoria unificada, que acredita que o delito é uma infração 
punível, ou seja, não analisa os pormenores que englobam a infração; e aqueles 
que defendem a teoria estratificada, a qual prega a necessidade de um conceito 
estratificado, ou seja, a determinação de diferente planos analíticos. 
 A teoria estratificada é a majoritariamente aceita e aplicada, sendo 
adotada por diversos modelos penais pelo mundo, razão pela qual é a teoria que 
será utilizada no presente material para fins de compreensão da teoria do delito. 
 
Importante frisar aqui que não é o delito que é estratificado, e sim 
o conceito obtido pela análise, isto é, o que será enunciado são 
suas características analiticamente obtidas, as quais formam 
diversos planos, níveis ou estratos conceituais. O delito em si é 
uma unidade e não uma soma de componentes. 
 
 Para entender a teoria do delito é necessário, antes de tudo, entender o 
conceito de delito e os elementos que o compõe, razão pela qual cada um será 
analisado cada um dos elementos separadamente. 
 
1.1.1 Conceito 
 
 O conceito de crime, resumidamente, é o de uma conduta humana típica, 
antijurídica e culpável. A rigor, parece um conceito simples, mas há a 
 
 
10 
 
necessidade de analisar a fundo todos esses elementos para se alcançar a 
essência do conceito, o que é de suma importância para qualquer operador do 
Direito. 
 O conceito de crime pode ser analisado sob três aspectos: formal, material 
e analítico, razão pela qual a temática demanda uma análise profunda. 
 Do ponto de vista material, o crime pode ser entendido como toda ação 
humana que expõe a perigo ou lesa bens jurídicos penalmente tutelados. Este 
critério irá considerar a relevância do mal produzido, logo, somente será 
legitimado o crime quando a conduta proibida apresentar relevância jurídico-
penal. 
 Já, o critério formal / legal é aquele fornecido diretamente pelo legislador. 
Embora o Código Penal não conceitue o crime propriamente, a Lei de Introdução 
ao Código Penal o faz. 
 
DECRETO LEI Nº 3.914, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1941 
 
Lei de introdução do Código Penal (decreto-lei n. 2.848, de 7-12-940) e da Lei das 
Contravenções Penais (decreto-lei n. 3.688, de 3 outubro de 1941) 
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, 
 DECRETA: 
 Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de 
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; 
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou 
de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3914.htm 
 
 Conforme se verifica na legislação acima, será considerado crime a 
infração penal que a lei atribuiu pena de reclusão ou detenção, havendo ou não 
fixação de pena de multa. Logo, este foi o critério formal/legal estipulado pelo 
legislador quando da elaboração da lei. 
 Desta forma, pode-se entender como crime todo comportamento humano 
que viola frontalmente a lei penal. 
 Por fim, o critério analítico, o qual possui diversas teorias de classificação. 
Existem doutrinadores, como Nelson Hungria, por exemplo, que adotam a teoria 
 
 
11 
 
tripartida na qual o crime estaria composto por fato típico, ilicitude e 
culpabilidade. 
 Outros doutrinadores, como Damásio de Jesus, entendem o crime como 
um fato típico e ilícito, visto que a culpabilidade deveria ser excluída do conceito 
de crime, por se tratar de um pressuposto da aplicação da pena. Neste caso, 
aplica-se então a teoria bipartida. 
 E ainda existem autores que sustentam que o crime possui quatro 
elementos: fato típico, ilicitude, culpabilidade e punibilidade. Contudo, essa 
teoria, em matéria legal, é minoritária. 
 Em assim sendo, as teorias bipartida e tripartida são as duas vertentes 
mais fortemente adotadas, e ambas têm incidência das teorias da ação, afinal, o 
crime é uma ação ou omissão. 
 
1.2 Conduta / ação 
 
 As duas teorias da ação mais relevantes são a teoria causalista e a teoria 
finalista.Segundo a teoria causalista a conduta consiste em um comportamento 
humano voluntário que produz uma modificação no mundo exterior. Para essa 
teoria a vontade é a causa da conduta e a conduta é a causa do resultado. 
 A maior crítica que se faz a esta teoria é o fato de que ela apenas se 
restringe a analisar fatos ocorridos no mundo exterior, ignorando assim o 
conteúdo da vontade do autor. Desta forma, esta teoria não faz a conexão da 
conduta realizada no mundo exterior com o aspecto psíquico interior do autor do 
delito. 
 Em não fazendo esta conexão, acaba então por não diferenciar a conduta 
culposa da conduta dolosa, pois não analisa o elemento "vontade" do agente. A 
análise do dolo ou culpa seria então realizada em outro momento, quando da 
análise da culpabilidade. 
 Outra lacuna deixada pela teoria causalista diz respeito aos crimes de 
mera conduta. Isso porque, considerando que esta teoria entende a ação como 
um movimento corpóreo voluntário que causa modificação no mundo exterior, os 
crimes de mera conduta não se encaixariam, visto que não se possui um 
resultado naturalístico quando de sua ocorrência. 
 
 
12 
 
 Esta mesma crítica também se aplica com relação aos crimes omissivos 
nos quais o agente responde porque não evitou o resultado ao não cumprir a 
norma que lhe impunha o dever de agir, bem como para os delitos em que o 
resultado não é produzido por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
 Em razão da lacuna deixada pela teoria causalista é que Hanz Welzel 
desenvolveu a teoria finalista da conduta, na qual a conduta consiste em um 
comportamento humano, consciente e voluntário, dirigido a uma finalidade. 
Logo, a conduta é um acontecimento final e não um procedimento puramente 
causal. 
 Para a teoria finalista a análise do dolo e da culpa deve, então, dar-se 
quando da análise da tipicidade e não da culpabilidade, como pressupunha a 
teoria causalista. 
 O Direito Penal brasileiro adotou, para fins de análise penal, a teoria 
finalista. Desta forma, o agente somente responderá criminalmente quando 
houver dolo ou culpa em sua conduta. Nas situações em que esses elementos 
não se fizerem presentes, o fato será, então, considerado atípico e, portanto, não 
será punido. 
 
1.2.1 Crime como fato típico e antijurídico e a culpabilidade como 
pressuposto de aplicação de pena 
 
 A teoria finalista é compatível com a teoria bipartida do conceito analítico 
de crime, excluindo-se assim a culpabilidade, visto que a culpabilidade somente 
será analisada como pressuposto de aplicação de pena. 
 Em assim sendo, a ação é entendida como direção a um acontecimento 
real, uma atividade humana final. Para esta teoria a ação se dirige de maneira 
consciente a um determinado fim, logo, o indivíduo pratica a ação visando 
executar um plano, o qual possui um fim determinado e próprio. 
 Pode-se dizer então que para a teoria finalista o núcleo gira em torno da 
consciência do fim, da vontade de reger o que vai acontecer, sendo o fato 
possível e que o agente possa prever o resultado de sua ação. 
 E na perspectiva da teoria finalista há, então, a inserção de um elemento 
subjetivo de conexão mental com relação ao resultado, sendo o dolo 
 
 
13 
 
compreendido como uma finalidade dirigida a realizar os elementos subjetivos 
do fato típico. 
 Logo, para a teoria finalista há importância o valor da ação, ou seja, o 
motivo pelo qual o indivíduo cometeu o ato. A teoria causalista, por sua vez, 
contenta-se apenas com a relação de causa e efeito da conduta. 
 Nesse cenário a culpabilidade assume papel diverso do atribuído pela 
teoria causalista. Afinal, passa a considerar fatos como a exigibilidade da 
imputabilidade do agente, a possibilidade de o agente conhecer a ilicitude do ato 
que praticou, sendo culpável o agente de um fato típico e antijurídico quando 
verificada a imputabilidade e a consciência da antijuridicidade. A culpabilidade 
seria, então, o juízo de reprovação que incide sobre o agente da ação, tendo ou 
podendo ter a consciência da ilicitude da conduta praticada, e ainda assim age 
de modo contrário ao direito quando lhe era exigível. 
 Para os defensores da teoria bipartida o dolo e a culpa estão inseridos na 
conduta, fazendo parte do fato típico, não havendo razão para que a 
culpabilidade seja analisada dentro do conceito de crime, utilizando-a apenas 
para dosar a pena. 
 
1.2.2 Crime como conduta típica, antijurídica e culpável 
 
 A teoria tripartida, por sua vez, entende o crime como sendo uma conduta 
humana típica, antijurídica e culpável. Esta corrente teórica é compatível tanto 
com a teoria causalista quanto com a teoria finalista, sendo que o próprio Hanz 
Welzel o defensor da teoria tripartida. 
 Para a teoria causal o modelo de crime seria configurado da seguinte 
forma: o tipo é formal (uma descrição objetiva de uma modificação no mundo 
exterior); a antijuridicidade também é formal (prática da ação típica contrária ao 
direito); e a culpabilidade é psicológica, sendo, então, uma mera relação psíquica 
entre o agente e o fato, limitando-se assim a comprovar a existência de vínculo 
entre eles. 
 Já para o finalismo o tipo continua sendo visto como formal, passando a 
conter o dolo e a culpa, de acordo com o conceito finalista da ação. A ilicitude 
passa a consubstanciar fundamentalmente no desvalor da ação, e a 
culpabilidade se torna o juízo de reprovação que toma por base o livre arbítrio, 
 
 
14 
 
sendo composta pela imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa e 
potencial ciência da ilicitude, não mais fazendo a análise do dolo e da culpa. 
 
Independentemente da teoria adotada, se finalista ou causalista, 
é necessário lembrar que a conduta deve ser humana, ou seja, 
realizada pelo homem. 
 
1.3 Tipicidade e antijuridicidade 
 
 Superado o entendimento acerca da conduta/ação, a próxima análise a 
ser feita é acerca da tipicidade da conduta. E é neste ponto que a dúvida maior 
a ser respondida é: o que é tipo? 
 São chamados de tipos os elementos que a lei penal se utiliza para 
individualizar condutas que se proíbe com relevância penal. Quando uma 
conduta se ajusta a algum dos tipos penais previamente estipulados, esta 
conduta é chamada de conduta típica, logo apresenta a característica da 
tipicidade. 
 Desta forma, pode-se concluir que a conduta típica é uma espécie do 
gênero conduta, visto que a primeira é mais específica e a última genérica. 
 Ao analisar atentamente o Código Penal, extrai-se que nem toda conduta 
típica é um delito, visto que o Diploma Legal prevê situações em que não há 
delito porque não há conduta (por exemplo: coação irresistível); outra situação é 
quando não há delito por não haver tipicidade (por exemplo: erros ou 
cumprimento de dever jurídico); e também há casos em que não há delito mesmo 
havendo conduta típica. 
 Nestes casos podemos citar as situações presentes no artigo 23 do 
Código Penal, em que o legislador elencou situações em que se é permitido 
realizar ações típicas, são elas: estado de necessidade, legítima defesa e estrito 
cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito. Esses casos são 
situações em que há uma justificação que irá excluir o caráter delitivo da conduta 
típica. 
 Portanto, conclui-se que existem algumas situações em que há permissão 
para que sejam realizadas condutas típicas. Quando a conduta típica não está 
 
 
15 
 
permitida, além de típica também será contrária à ordem jurídica considerada 
como unidade harmônica, visto que não há nenhum preceito que autorize sua 
realização. 
 A esta característica de contrariedade à ordem jurídica funcionando como 
conjunto harmônico, a qual se comprova mediante ausência de permissões, dá-
se o nome de antijuridicidade. A conduta humana será então típica e também 
antijurídica. 
 Logo, para que haja delito, não é suficiente que a conduta apresente 
características de tipicidade, mas tambémque apresente um segundo caráter 
específico, a antijuridicidade. 
 
Cabe ressaltar a necessidade de não confundir tipo com 
tipicidade, visto que o tipo é a fórmula que pertence à lei, ao 
passo que a tipicidade pertence à conduta. Sendo assim a 
tipicidade é a característica que tem uma conduta em razão de 
estar adequada a um tipo penal, isto é, individualizada como 
sendo proibida por um tipo penal. 
 
1.4 Culpabilidade 
 
 O conceito de culpabilidade pode ser extraído da análise dos artigos 13 a 
28 do Código Penal é que existem situações em que nem toda conduta típica e 
antijurídica será um delito, visto que se referem a condutas que são claramente 
típicas e que não existe permissão para realização, mas ainda assim não 
constituem um delito. 
 Por exemplo, um indivíduo acometido por algum tipo de doença mental a 
qual o impossibilita de reconhecer a antijuridicidade (proibição) de seu ato. 
Quando da análise da culpabilidade não estiverem presentes algum desses 
elementos, o agente estará isento de pena, mesmo que tenha praticado o crime 
não é considerado culpável, não podendo assim lhe ser aplicada sanção. 
 Isso porque para que um injusto penal (conduta típica e antijurídica) seja 
considerado um delito, é necessário também que seja reprovável, isto é, que o 
autor tenha a possibilidade exigível de atuar de maneira diversa, requisito que 
não se aplica no exemplo acima. 
 
 
16 
 
 A esta característica de reprovabilidade do injusto ao autor é chamada de 
culpabilidade, sendo esta a terceira característica específica do delito. 
 
1.5 Tipicidade conglobante 
 
 Para compreender a tipicidade conglobante é necessário entender que 
hoje já se encontra superada a ideia de que a tipicidade (descrição de uma 
conduta na norma penal) é meramente formal, ou seja, essencialmente 
descritiva. 
 Nesse sentido, a mera análise da subsunção do fato à norma, hoje, não 
incide na síntese de que há tipicidade penal. Logo, a tipicidade penal pode ser 
entendida como a soma da tipicidade legal mais a tipicidade conglobante e deve 
ser analisada pela perspectiva de duas vertentes: a antinormatividade e a 
tipicidade material. 
 A antinormatividade faz referência à existência de condutas descritas 
(tipificadas) na lei como proibidas ou não desejadas, passíveis assim de uma 
pena em contraposição às mesmas condutas em tese proibidas que são 
fomentadas por outros ramos do Direito e que são previstas em lei de igual 
hierarquia. 
 Tome-se por base aqui o exemplo fornecido pelo Prof. Eugênio Raul 
Zaffaroni sobre a temática: um oficial de justiça, no uso de suas funções, recebe 
um mandado de penhora e sequestro de um quadro, o qual é de propriedade de 
um devedor que está sendo executado em um processo regular. Para o 
cumprimento da referida ordem o oficial de justiça solicita o auxílio da força 
pública e, cumpridas todas as formalidades legais, efetivamente sequestra o 
quadro em questão, colocando-o à disposição do Juízo determinante. 
 Ao analisar grosseiramente o exemplo acima, conclui-se que não existe 
delito. A grande questão é: por quê? 
 A princípio a resposta poderia ser encontrada no inciso III do artigo 23 do 
Código Penal, o qual prevê não haver crime quando o indivíduo pratica a conduta 
em estrito cumprimento do dever legal. Contudo, qual caráter do delito 
desaparece quando um sujeito age em cumprimento de um dever? 
 Afinal, embora boa parte da doutrina aceite o argumento de que o oficial 
teria agido com uma causa de justificação, esta resposta seria insuficiente, visto 
 
 
17 
 
que não é possível permitir que na ordem normativa uma norma ordene o que a 
outra expressamente proíbe. 
 As normas jurídicas não existem e operam isoladamente, mas num 
entrelaçamento no qual umas limitam as outras e não podem ignorar-se 
mutuamente. Desta forma, não são apenas um amontoado de normas proibitivas 
arbitrárias, mas uma ordem de proibições, uma ordem de normas e um conjunto 
de normas que guardam entre si uma certa ordem, a qual converge ao objetivo 
final, que é o de evitar uma guerra civil de todos contra todos. 
 E é nesse cenário que a tipicidade conglobante atua como um corretivo 
da tipicidade legal, visto que consiste na averiguação da proibição por meio da 
indagação do alcance proibitivo da norma, a qual não deve ser considerada 
isoladamente, mas sim conglobada com as demais na ordem normativa. 
 Em assim sendo, a tipicidade conglobante pode excluir do âmbito do típico 
aquelas condutas que apenas aparentam estar proibidas, como no exemplo 
fornecido, o qual poderia ser enquadrado como o tipificado no artigo 155 do 
Código Penal - furto. 
 Desta forma é possível sintetizar que: 
 
 a) Tipicidade legal: é a individualização que a lei faz da conduta mediante 
o conjunto dos elementos descritivos e valorativos de que se vale o tipo legal; 
 b) Tipicidade conglobante: é a comprovação de que a conduta 
legalmente típica também está proibida pela norma, o que se obtém 
desentranhando o alcance da norma proibitiva conglobada com o restante das 
normas da ordem normativa; 
 c) Tipicidade penal: é o resultado da tipicidade legal mais a tipicidade 
conglobante, consistindo na adequação penal e antinormatividade. 
 
 Portanto, a função desta segunda análise da tipicidade penal será reduzir 
a verdadeira dimensão daquilo que a norma proíbe, excluindo da tipicidade penal 
aquelas condutas que somente serão alcançadas pela tipicidade legal, mas que 
a ordem normativa não intenta proibir, precisamente porque as ordena ou 
fomenta. 
 
 
18 
 
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SUGESTÃO DE LEITURA 
 
 
 
 
Leia a obra Manual de Direito Penal 
Brasileiro v.01 - Parte Geral, de autoria do 
Prof. Eugênio Raul Zaffaroni e José 
Henrique Pierangeli. Este manual contém, 
de forma aprofundada, o conceito de 
tipicidade conglobante, visto que foi o Prof. 
Zaffaroni quem desenvolveu esta teoria. 
 
 
Conclusão da aula 1 
 
 A partir de todo o apresentado em aula é possível concluir que não basta 
apenas realizar a subsunção do fato à norma para compreender se determinada 
conduta é um delito. É necessário, então, ir a fundo no conceito analítico de crime 
para realizar a análise e alcançar alguma conclusão. 
 Afinal, o conceito analítico de crime é que irá fornecer as informações e 
características necessárias para o entendimento de uma conduta como crime, 
sendo então uma análise de extrema importância para o Direito Penal. 
 Na presente aula foram apresentados os conceitos introdutórios da teoria 
do delito. Em primeiro tópico discorreu-se acerca do conceito analítico de crime, 
oportunidade na qual se discutiu a necessidade de conhecer e compreender o 
conceito de ação, tendo sido apresentadas as duas maiores teorias acerca do 
tema: finalista e causalista. 
 Após a apresentação das teorias da ação, discorreu-se sobre o conceito 
bipartido e tripartido de crime, explicando que o conceito bipartido é compatível 
somente com a teoria finalista, ao passo que a corrente tripartida é compatível 
tanto com a teoria finalista quanto com a causalista. 
 Posteriormente discorreu-se sobre a tipicidade e a antijuridicidade, tendo 
sido a tipicidade conceituada como toda conduta descrita no tipo penal, e a 
antijuridicidade como sendo a contrariedade àquilo que a lei preceitua. 
 Superada a discussão sobre tipicidade e antijuridicidade, passou-se à 
explicação da culpabilidade, em que foi demonstrado que esta se vincula à 
 
 
19 
 
reprovabilidade da conduta, ou seja, a possibilidade de reprovar essa conduta 
penalmente. 
 Frisou-se aqui a importância de não confundir tipo e tipicidade, visto que 
a tipicidade pertence à conduta, é uma característica da conduta ao estar 
enquadrada em um tipo penal. 
 Por fim, explicou-se acerca da tipicidade conglobante, a qual pode ser 
entendida como um corretivo da tipicidade legal, visto que consiste na 
averiguação da proibição através da indagaçãodo alcance proibitivo da norma, 
a qual não deve ser considerada isoladamente, mas sim conglobada na ordem 
normativa. 
Atividade de Aprendizagem 
De acordo com o apresentado em aula, discorra brevemente 
sobre o conceito tripartido de crime e como ele se relaciona 
com a teoria finalista. 
 
 
 
Aula 2 - O Direito de punir 
 
Apresentação da aula 2 
 
 Na presente aula serão apresentados os temas funções e limites do 
Direito de Punir, bem como as teorias funcionalistas da pena. Para melhor 
compreensão do tema será abordada também a origem e os fundamentos do 
Direito de Punir. 
 
2.1 Introdução histórica do direito de punir 
 
 Antes de entender as funções e limites do Direito de Punir, é necessário 
compreender sobre sua origem, razão pela qual será feita uma breve introdução 
histórica acerca da temática. 
 
 
20 
 
 Não se sabe ao certo a data do surgimento do Direito de Punir, mas é 
sedimentado que as primeiras punições que ocorriam no meio social se originam 
juntamente com a formação das primeiras sociedades rudimentares. 
 Para esses pequenos grupos, a punição por um mal sofrido era aplicada 
pela vítima ou seus familiares, por meio do brocardo "olho por olho, dente por 
dente", ou também conhecida pela Lei de Talião. Neste aspecto, então, o autor 
de um delito deveria sofrer o mesmo mal por ele causado. 
 Essa modalidade de punição perdurou por anos ao longo da evolução 
humana, havendo modificações e evoluções acerca de sua aplicação. Um 
desses exemplos de modificação foi a possibilidade de Composição, situação 
em que o autor do delito poderia comprar sua liberdade como forma de 
indenização à vítima ou aos seus familiares, ou por meio de pagamento de multa. 
 Ao longo da história a religião passou a ocupar cada vez mais espaço e 
influência na vida dos povos, dando surgimento, assim, ao Direito Penal 
Religioso. 
 Nesta modalidade a punição era aplicada por sacerdotes, por serem eles 
a representação de Deus na Terra. Foi um período de enorme confusão entre 
comportamento social e doutrina religiosa, visto que Deus confundia-se com o 
Direito. 
 Pode-se dizer que a função do Direito Penal Religioso era, além de 
satisfazer os deuses em razão da ofensa suportada, purificar a alma do autor da 
ofensa para que por meio do castigo ele pudesse alcançar a benesse divina. 
 Conforme o Estado foi se constituindo de maneira segura e consolidada, 
o principal objetivo por ele almejado era sua manutenção, razão pela qual as 
penas continuavam a ser cruéis e severas. Surge aqui, então, a figura da 
Vingança Pública, a qual existia concomitantemente com a Vingança Divina, não 
sendo o direito penal propriamente dito um assunto a ser abordado. 
 Nesse sentido, existiam os crimes contra a segurança da cidade, que 
eram punidos pelo Estado, e os crimes a serem punidos pelo ofendido. Com 
base nesta informação é possível perceber que foi atribuída à punição a função 
vingativa. 
 O Direito Romano merece demasiado destaque quanto à origem do 
Direito de Punir, visto que é o Direito considerado a maior fonte originária de 
diversos institutos jurídicos e contribuiu de maneira grandiosa para o Direito 
 
 
21 
 
Penal atual. Isso porque havia grande preocupação do Direito Penal Romano de 
atingir um caráter social, o que trouxe grandes mudanças na maneira de 
entender e aplicar as punições. 
 Contudo, foi na época do Direito Canônico que o Direito Penal da Igreja 
Católica Apostólica Romana tomou forma, objetivando disciplinar os membros 
da Igreja. Essa nova visão de punição contribuiu de maneira considerável para 
o surgimento da prisão moderna, visto que foi nessa época que surgiram os 
primeiros pensamentos acerca da reforma dos delinquentes. 
Curiosidade 
O termo penitenciária possui estreita ligação com o Direito 
Canônico, visto que seria o local onde o indivíduo iria cumprir 
sua penitência e refletir sobre seu comportamento, pois o 
crime era não só um pecado contra as leis humanas, mas 
também um pecado contra as leis divinas. 
 
 Após mais um salto evolutivo na história, surge então o Período 
Humanitário, o qual trouxe a prévia de que somente as leis poderiam cominar 
penas e somente o legislador poderia elaborar as leis. 
 Essa modificação ocorreu conjuntamente com a propagação do 
pensamento iluminista, possibilitando assim a conscientização quanto à tortura 
e à agressividade das penas. Desta forma, ficaram obsoletos os métodos de 
aplicação de pena anteriores, passando-se assim a ter piedade e respeito pela 
pessoa humana. 
 Pode-se citar aqui o Marquês de Beccaria como um dos defensores deste 
pensamento, visto que o referido autor do livro Dos Delitos e das Penas pregava 
que embora o homem possa vir a ser privado de sua liberdade, devem lhe ser 
garantidos no mínimo os direitos fundamentais. 
Foi no século XIX que o corpo deixou de ser alvo de punição direta, 
passando para o entendimento de que esta forma de punir tinha como objetivo 
ser um espetáculo de crueldade, ultrapassando a obscuridade dos próprios 
crimes cometidos e incentivando que a sociedade continuasse a agir de forma 
violenta. Em assim sendo, o corpo passou a ser alvo da restrição ou privação de 
liberdade. 
 
 
22 
 
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SUGESTÃO DE LEITURA 
 
 
 
Leia a obra Dos Delitos e das Penas, 
(Cesare Beccaria). O pensamento do 
autor sobre a função e as modalidades de 
pena é crítico com relação às penalidades 
da época e possui um grande valor 
histórico. 
 
 
 
 Com o estabelecimento das ideias iluministas, surge então o Período 
Científico, no qual o Direito Penal passa a ser entendido como uma ciência, 
surgindo assim vários desdobramentos acerca da temática. 
 Verifica-se, então, que ao longo dos anos houve um afrouxamento da 
severidade penal, tendo sido atribuído ao Direito Penal outras funções além da 
vingativa, as quais serão vistas a seguir. 
 
2.2 Funções do direito de punir 
 
 A finalidade essencial do Direito Penal é proteger os valores mais 
importantes dos indivíduos e da sociedade em geral, valores esses que são 
chamados de bens jurídicos, dentre os quais se destacam: a vida, a propriedade 
privada, a liberdade, a dignidade sexual, o patrimônio público etc. 
 Essa proteção dos bens jurídicos se dá por meio da incriminação de 
condutas. Por exemplo: quando o artigo 121 preceitua "matar alguém", está 
implícito na norma que "é proibido matar". Pode-se dizer, então, que este é o 
preceito primário da norma penal. 
 Todavia, somente exigir ou proibir condutas, por muitas vezes, não é 
suficiente para que as pessoas se comportem de acordo com a norma penal. 
Desta forma, faz-se necessário que haja uma sanção como consequência, ou 
seja, um mal à pessoa que descumpriu a norma. 
 O ordenamento jurídico brasileiro prevê diversos tipos de sanção, desde 
penas de multa até a pena de morte para crimes militares em tempo de guerra. 
Estas formas de punição são chamadas de preceitos secundários. 
 
 
23 
 
 Desta forma, o preceito primário confere ao Estado o direito de punir o 
agente do fato quando ele descumpre o preceito primário, e a punição se dará 
nos moldes do preceito secundário. 
 A partir do momento em que há o cometimento de um delito, o poder de 
punir que até então era genérico, passa a se concretizar de maneira 
individualizada, ou seja, direcionada para o infrator. 
 
Embora a expressão Direito de punir persista na doutrina e na 
jurisprudência, não é uma expressão exata, visto que o Estado 
tem um poder-dever de exercitar a punição. Afinal, a própria 
Constituição Federal elenca a segurança pública como dever do 
Estado e direito e responsabilidade de todos. 
 
 O direito de punir é monopólio do Estado, constituindo a manifestação de 
sua soberania. Afinal, não é permitido às vítimas e seus familiares que punam 
diretamente o infrator, cabendo somente ao Estado o direito de punir indivíduos 
de acordo com o que preceitua a lei penal.Isso porque quando há intervenção penal, o fato já ocorreu e o interesse 
maior não é o da retribuição do mal causado, mas de demonstrar aos potenciais 
infratores, através do condenado, que não se deve cometer crimes. Ademais, o 
Estado como agente punitivo não irá agir de acordo com abalo emocional, mas 
sim dentro dos limites de justiça e proporcionalidade entre a pena e a punição, 
não tomando por base um motivo vingativo. 
 Muito se questiona acerca da legítima defesa ser considerada uma 
maneira de retribuição da vítima, mas já é pacífico o entendimento de que na 
legítima defesa não há punição, mas sim o exercício do direito de se defender 
de uma ofensa, na medida do necessário, inclusive. 
 Desta forma, somente o Estado poderá punir o infrator da norma penal, 
mas para que isso ocorra deve haver a instauração de um processo e a decisão 
de um órgão investido de jurisdição. 
 Um bom exemplo são as queixas-crime, nas quais a vítima intenta a ação 
penal. Veja-se aqui que há apenas o exercício do direito de prestar queixa, o 
qual irá iniciar o processo, mas quem irá decidir e aplicar eventual punição será 
o Estado. 
 
 
24 
 
 A jurisdição, por sua vez, é uma das mais expressivas manifestações do 
poder estatal, pois é a capacidade que o Estado tem de impor suas decisões, 
substituindo a vontade das partes. Em assim sendo, o Estado toma para si a 
prerrogativa de pronunciar o direito. 
 
2.3 Limites do direito de punir 
 
 Anteriormente foi debatido o Direito de Punir, o qual é monopólio do 
Estado. Contudo, como todo o direito, o Direito de Punir também encontra 
limitações, não podendo ser aplicado de maneira ampla e ilimitada. 
 Afinal, do mesmo modo que o Direito Penal serve ao Estado frente à 
sociedade civil, também serve à sociedade civil frente ao Estado, ou seja, limita 
a intervenção estatal ao vincular e condicionar a legitimidade desta intervenção 
a parâmetros restritivos de legalidade. 
 Em uma primeira análise a limitação do direito de punir encontra-se 
intimamente ligada ao conceito de crime e aos princípios do Direito Penal. São 
eles: tipicidade, princípio da legalidade, antijuridicidade, excludentes de ilicitude, 
culpabilidade, inexigibilidade de conduta diversa, finalidade, proporcionalidade 
da pena e princípio da intervenção mínima. 
 O conceito de crime é um dos primeiros limitadores do direito de punir, 
tendo em vista que condutas que não se amoldem ao conceito de crime não 
poderão ser punidas pelo Estado. 
 O princípio da legalidade, por sua vez, limita o direito de punir ao passo 
que enseja a necessidade de que a conduta esteja prevista em lei. Este princípio 
se vincula ao princípio da anterioridade, visto que as condutas devem ser 
individualizadas previamente para que possam ser consideradas tipos penais, 
não permitindo assim a criação de tipos penais de maneira arbitrária. 
 Ademais, as penas aplicadas devem ser unicamente aquelas descritas 
pelo tipo, ou seja, o aplicador apenas pode optar pelas opções fornecidas pela 
lei, estando então restrito a ela. 
 As excludentes de ilicitude limitam o direito de punir do Estado na medida 
em que a lei define que existem situações que embora haja o cometimento de 
uma conduta típica, ela não é antijurídica e, portanto, não pode ser punida em 
razão da causa de justificação. 
 
 
25 
 
 
 A questão da proporcionalidade da pena se vincula à limitação do direito 
de punir, pois é ela que irá determinar qual o limite de pena que o julgador poderá 
impor, para que assim não haja abusos ou arbitrariedades prejudiciais aos 
condenados. No tocante à proporcionalidade, o Estado somente pode punir 
dentro dos limites preestabelecidos no tipo penal, o qual leva em consideração 
a natureza e a gravidade do delito quando da individualização da conduta. 
 O princípio da intervenção penal mínima é um importante princípio para 
fins de limitação do direito de punir, visto que preceitua que o Direito Penal 
somente irá intervir em situações extremas, sendo considerado, então, a ultima 
ratio, quando nenhum outro ramo do Direito puder de forma eficaz tutelar os bens 
jurídicos. 
 Desta forma, havendo outro tipo de sanção (civil, administrativa etc.) que 
seja suficiente para tutelar o bem jurídico, a criminalização da conduta seria 
inadequada, ou seja, a utilização do Direito Penal deve ser subsidiária, não 
sendo recomendável a criminalização de condutas quando os demais ramos do 
Direito já estão resguardando suficientemente os bens jurídicos. 
 Ademais, cabe ao Direito Penal proteger tão somente os valores mais 
imprescindíveis para a sociedade, não podendo ser utilizado para a tutela de 
todos os bens jurídicos existentes. Logo, o Direito Penal limita-se a punir as 
ações mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes. 
 Outra forma de limitação do direito de punir é a prescrição, pois é através 
dela que se verifica que o direito de punir não é um direito eterno, ou seja, se o 
Estado não agir dentro do período estipulado em lei, perde o direito de punir 
aquele indivíduo, mesmo que este tenha cometido um delito. A prescrição 
impede, então, o Estado de agir após transcorrido determinado lapso temporal, 
exigindo que sua atuação seja dentro dos moldes legais. 
 Por fim, com o advento da Constituição Federal de 1988, o princípio da 
Dignidade da Pessoa Humana passou a ser um limitador do direito de punir. E 
foi a partir da nova Constituição que a doutrina se dividiu em duas: os garantistas, 
que defendem a Constituição como sendo norteadora de todas as leis; e os que 
acreditam que o Estado deve ser mais severo quando da punição para preservar 
a ordem. 
 
 
 
26 
 
 
Saiba Mais 
Acerca da evolução histórica para o Direito Penal trazida pela 
Constituição Federal de 1988, indica-se aqui a dissertação 
de mestrado elaborada por Elisabeba Rebouças Tomé 
Praciano. Em sua dissertação a autora aborda toda a origem 
histórica do direito de punir, bem como o surgimento do 
Estado Democrático de Direito e o avanço dos direitos 
fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro face à 
promulgação da Constituição de 1988. 
 
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/t 
este/arqs/cp123224.pdf 
 
 O Estado brasileiro tem como fundamento o homem e nele se projeta toda 
sua finalidade. Desta forma, a Constituição Federal optou por colocar o princípio 
da dignidade da pessoa humana como princípio fundante. 
 Além disso, a própria Constituição também estabelece que a ordem 
econômica tem por finalidade assegurar a todos uma existência digna. Constata, 
então, que todos, inclusive os presos, devem ter sua dignidade preservada e 
assegurada. Logo, a punição não deve buscar o sofrimento do condenado para 
que ele padeça pelos seus atos, não sendo o direito de punir uma atividade 
desenfreada na busca pela utilidade da pena. 
 Nesse cenário, o princípio da Dignidade da Pessoa Humana torna-se o 
princípio reitor para o processo de humanização das penas. Cabe, então, ao 
Estado proporcionar para que aqueles privados de liberdade possam cumprir 
sua pena com dignidade, sendo-lhes proporcionadas garantias mínimas para 
que eles não sejam excluídos da sociedade e não percam suas identidades 
como cidadãos. 
 Verifica-se, então, que o Direito de Punir, como um poder-dever do 
Estado, não é ilimitado e muito menos pode ocorrer de maneira discricionária, 
razão pela qual a Constituição, os princípios e as leis formam um conjunto de 
limitações para o exercício deste direito. 
 
 
 
 
27 
 
2.4 Teorias funcionalistas à luz de Roxin e Jakobs 
 
 O funcionalismo no Direito Penal tem por premissa básica que o direito 
geral e o direito penal em particular são os instrumentos que se designam a 
garantir a funcionalidade e a eficácia do sistema social e seus subsistemas. 
 Em assim sendo, é pacífico entre os funcionalistas que a construção do 
sistema jurídico-penal não deve se vincular a dadosontológicos (ação, 
causalidade, estrutura lógico-reais, entre outros), mas se orientar 
exclusivamente aos fins do Direito Penal. 
 Primeiramente é necessário esclarecer que não existe um só 
funcionalismo, vez que essa teoria, em sua essência, divide-se em duas 
vertentes: a moderna ou moderada, defendida por Claus Roxin; e a radical, 
representada pelo funcionalismo sociológico de Ghunter Jakobs. 
 O funcionalismo moderado tem base na teoria personalista da ação e 
preceitua o conceito de ação como sendo uma manifetação da personalidade, 
ou seja, tudo que pode ser atribuído a uma pessoa como centro de atos anímico-
espirituais. 
 Desta forma, o pensamento defendido por Roxin se apresenta como uma 
síntese entre o pensamento dedutivo - valorações político-criminais - e indutivo 
- composição de grupos de casos. Esse pensamento é profundamente inovador 
e tende a obter grandes resultados, porque se empenha em atender de uma só 
vez as exigências de segurança e de justiça, ambas contempladas na ideia de 
direito. 
 Insta salientar que as bases de Roxin não se amoldam ao normativismo 
puro, pois permanecem sempre atentas à resistência da situação, contudo, sem 
render-se às estruturas lógico-reais, garantindo assim a abertura e o dinamismo 
do sistema. 
 Para a vertente moderada não basta a realização formal do tipo para a 
configuração da tipicidade, exige-se também que a conduta crie um risco 
proibido e que o resultado seja decorrente desse risco. 
 De acordo com Roxin o crime possui três requisitos: tipicidade, 
antijuridicidade e responsabilidade. A tipicidade se subdividiria então em outras 
três partes: formal, material ou normativa e subjetiva; e a culpabilidade seria o 
limitador da sanção, tendo a pena finalidade preventiva. 
 
 
28 
 
 A vertente radical, por sua vez, vem a se basear nos termos 
metodológicos do instrumental fornecido pela teoria dos sistemas sociais. Nos 
escritos de Jakobs a ação aparece como parte da teoria da imputação, a qual, 
por sua vez, deriva diretamente da função da pena. Desta forma, o agente será 
punido porque agiu de maneira contrária à norma e culpavelmente. 
 O entendimento sedimentado por Jakobs é de que todos os elementos do 
crime devem ser interpretados de acordo com o fim da pena, o qual se traduz na 
visão de prevenção geral positiva, ou seja, de que a pena existe para reafirmar 
o valor da norma. Logo, toda conduta que viola a norma requer punição. 
 Portanto, para o funcionalismo radical, o delito é toda violação da norma 
que vai contra as expectativas sociais de convivência. O delito é, então, a 
frustração das expectativas normativas e a pena surge como confirmação da 
vigência da norma violada. 
 Em assim sendo, o bem jurídico ficaria em segundo plano, pois para 
Jakobs o mais importante é a vigência da norma, tendo menor relevância a 
ocorrência ou não de lesão ao bem jurídico. Afinal, Jakobs entende que o Direito 
Penal não tem a função de somente proteger bens jurídicos, mas de 
especialmente garantir o cumprimento da norma e manter a confiança da 
sociedade no sistema. 
 Tome-se, por exemplo, a situação em quem um indivíduo dirige sob 
influência de álcool, mas dentro da velocidade permitida, sem avançar o sinal 
vermelho ou causar nenhum acidente. 
 Para Jakobs haveria então crime, visto que houve de fato violação da 
norma e isto é suficiente para caracterização do crime. Para Roxin, contudo, a 
mesma situação não é entendida como crime, pois o indivíduo, embora 
embriagado, não avançou o sinal nem trafegou de maneira perigosa, não 
criando, assim, nenhum risco proibido e não lesando nenhum bem jurídico. 
 Logo, é possível vislumbrar que o funcionalismo de Roxin tem sua 
preocupação voltada para o caso concreto, ao passo que Jakobs estabelece 
como meta a proteção da norma jurídica, do sistema, independentemente do 
resultado na vida prática, sendo o mais importante a manutenção da confiança 
no sistema penal. 
 Nesse sentido, verifica-se que o pensamento de Jakobs volta-se para a 
expansão do Direito Penal, o que enseja no aumento da tipificação de crimes de 
 
 
29 
 
perigo e traz legitimidade para o discurso de proteção da norma na sociedade 
de risco. Além disso, favorece a tendência ao Direito Penal máximo, visto que 
não há limites quando se visa à proteção da norma. 
 
Conclusão da aula 2 
 
 Após o apresentado em aula é possível concluir que o Direito de Punir 
está diretamente vinculado às funções da pena em si, e como se trata de um 
poder-dever do Estado, deve ser limitado para garantir aos cidadãos direitos 
fundamentais. 
 Com relação ao funcionalismo à luz de Roxin e Jakobs, conclui-se que o 
pensamento de Roxin se aproxima mais do ideal do Estado Democrático de 
Direito, visto que preza por um Direito Penal alinhado às garantias 
constitucionais, pois exige que haja ofensa ao bem jurídico e a realização de um 
risco proibido para que seja caracterizada a ocorrência de crime. 
 Nesta aula foram desenvolvidos os temas: funções e limites do Direito de 
Punir, bem como as teorias funcionalistas à luz de Roxin e Jakobs. 
 Em primeiro tópico foi elaborada breve construção histórica do Direito de 
Punir, desde as sociedades mais rudimentares até o Direito conhecido na 
atualidade. Discorreu-se sobre a Lei de Talião e a grande influência da Igreja 
Católica na construção e concepção acerca das punições. 
 Também foi debatido acerca das penas corpóreas, as quais perduraram 
por bastante tempo ao longo da evolução história, em que se verificou que o que 
era punido era o corpo e não o fato. 
 Em mesmo tópico destacou-se também a importância dos pensamentos 
iluministas para a concepção do Direito de Punir, bem como discorreu-se sobre 
a aparente controvérsia do instituto da legítima defesa e o monopólio do Direito 
de Punir. 
 Em segundo tópico foram apresentadas as funções de punir, as quais se 
baseiam resumidamente no fato de que somente individualizar condutas como 
crime não é suficiente para coibir a prática dessas condutas, sendo necessário 
que o Estado intervenha, punindo tanto para reafirmar a validade da norma como 
também como meio de demonstrar o que ocorre com aqueles que afrontam a 
norma penal. 
 
 
30 
 
 Após, apresentou-se os limites do Direito de Punir, oportunidade em que 
foi discorrido o fato do Direito de Punir não ser ilimitado, devendo o Estado 
cumprir o devido processo legal para que possa exercer seu poder-dever 
punitivo. 
 Em mesmo tópico foram elencadas as excludentes de ilicitude, o princípio 
da proporcionalidade, a prescrição e o princípio da dignidade da pessoa humana 
como maiores limitadores do Direito de Punir. 
 Ao final, apresentaram-se as teorias funcionalistas à luz de Roxin e 
Jakobs, oportunidade em que foi mostrada a diferença entre o pensamento dos 
dois doutrinadores e desenvolvida a concepção de proteção à norma defendida 
por Jakobs em contraste com a valorização da análise fática defendida por 
Roxin. 
Atividade de Aprendizagem 
De acordo com o apresentado em aula, diferencie o 
funcionalismo de Roxin do funcionalismo apresentado por 
Jakobs. 
 
 
 
Aula 3 - Teorias do Direito Penal 
 
Apresentação da aula 3 
 
 Na presente aula serão apresentadas duas teorias acerca do Direito 
Penal: a teoria dos elementos negativos do tipo e a teoria da imputação objetiva. 
Ambas as teorias trazem leituras deveras modernas acerca da interpretação e 
construção da lei penal. 
 
3.1 Teoria dos elementos negativos do tipo penal 
 
 De acordo com a teoria dos elementos negativos do tipo penal as causas 
excludentes de ilicitude estão inseridas dentro do tipo penal. Para melhor 
compreensão do tema, este será abordado de maneira aprofundada. 
 
 
31 
 
 Foi a partir da teoria dos elementos negativos do tipo penal que se criou 
a figura do tipo total de injusto, a qual estipula que os tipos descrevem os fatos 
proibidos, os quais são denominados tiposprovisórios do injusto, também fazem 
parte as causas excludentes de ilicitude como dados negativos do tipo. 
 Segundo esta teoria, o dolo do agente deve abranger não só os dados 
materiais do tipo, mas também a inexistência de causas justificantes. Por 
exemplo: no cometimento de um homicídio doloso, o agente não só necessita 
matar a vítima, mas também ter a consciência de que estão ausentes todos os 
elementos que configuram justificativas. Por essa razão é que a teoria recebeu 
a denominação de elementos negativos do tipo. 
 Portanto, com base na teoria dos elementos negativos do tipo, não há dolo 
quando apresente uma justificativa, bem como não há dolo quando existe um 
erro sobre essa justificativa. 
 Nesse sentido, a teoria dos elementos negativos passa a negar a 
autonomia das excludentes de ilicitude dentro do sistema da dogmática jurídico-
penal, afinal, estas estariam agregadas ao tipo de delito. Tomando por base o 
exemplo acima, poderia dizer-se então que a redação do artigo 121 do Código 
Penal seria: matar alguém, salvo em legítima defesa, estado de necessidade, 
exercício regular de um direito ou estrito cumprimento do dever legal. 
 No Brasil quem adotou esta teoria foi o doutrinador Miguel Reale Júnior, 
o qual afirma que toda ação típica é necessariamente antijurídica, concluindo 
que as causas excludentes não excluiriam a ilicitude, mas sim a adequação 
típica. 
 
3.1.1 Críticas à teoria dos elementos negativos do tipo 
 
 Ao passo que a teoria dos elementos negativos do tipo funda em uma só 
fase a análise de valoração da tipicidade e da antijuridicidade, a doutrina e 
jurisprudência nacional majoritária defendem que tanto a tipicidade quanto a 
antijuridicidade são fases distintas de valoração do fato punível. 
 Isso porque a teoria dos elementos negativos nega a autonomia dos tipos 
justificadores frente aos tipos provisórios do injusto, contrariando assim a 
legislação brasileira, visto que esta prevê os tipos justificadores em tipos penais 
autônomos presentes nos artigos 23 a 25 do Código Penal. 
 
 
32 
 
 Desta forma, a teoria em comento impede a distinção de diferença de 
valor entre uma conduta desde o início atípica - porque não proibida - e outra 
inicialmente típica - porque normalmente proibida, mas especialmente permitida 
nas situações excepcionais das excludentes de ilicitude. Logo, seria possível 
concluir que para a teoria dos elementos negativos do tipo não haveria diferença 
entre matar um inseto ou um ser humano em situação de legítima defesa. 
 Outro ponto controverso e passível de questionamento circunda acerca 
da ideia defendida por esta teoria de que para haver punição de uma conduta 
deve ser exigido do agente que o seu dolo se estenda à ausência de todas as 
causas de justificação. A controvérsia, neste caso, repousa na pretensão de que 
a conduta somente será dolosa se o autor, além de conhecer todos os elementos 
positivos do tipo, mas também a inexistência de qualquer discriminante putativa, 
equivaleria a criar-se assim um dolo monstruoso. 
 
3.2 Análise da teoria da imputação objetiva 
 
 A teoria da imputação objetiva ainda não encontra entendimento 
sedimentado na doutrina, havendo diversos pontos de controvérsia, razão pela 
qual este tópico será analisado fragmentadamente. 
 
3.2.1 Conceito 
 
 A teoria da imputação objetiva foi impulsionada pelo doutrinador Roxin, o 
qual professa que o Direito Penal existe para cumprir determinados fins e existe 
em função desses fins. 
 Roxin sustenta a ideia de que há necessidade de reconstruir a teoria do 
delito com base em critérios político-criminais. Segundo o autor o positivismo 
legalista abstrato já se encontra superado, havendo necessidade de reforma. 
Saiba Mais 
Para melhor compreender e aprofundar-se no tema, indica-
se aqui o artigo O direito penal brasileiro e as contribuições 
das escolas clássica e positiva, escrito por Dandara Trentin 
Demiranda e Bruno Bandeira Fonseca. No artigo a autora 
 
 
33 
 
aborda a intervenção do positivismo jurídico no Direito Penal, 
desenvolvendo em específico a influência trazida ao sistema 
jurídico-penal brasileiro. O artigo encontra-se disponível em: 
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-direito 
-penal-brasileiro-e-as-contribuicoes-das-escolas-classica-e-
positiva/. 
 
 De acordo com Roxin a dogmática antiga partia do preceito de que com a 
causalidade da conduta do autor, a respeito do resultado, cumpria-se o tipo 
objetivo. Em havendo situações em que a punição parecia inadequada, 
justificava-se a exclusão da pena com a negação do dolo. 
 Foi em razão da concepção do funcionalismo penal que a teoria da 
imputação objetiva acabou por ganhar destaque e importância e vem sendo 
desenvolvida por dois funcionalistas cujo trabalho possui importância mundial: 
Roxin e Jakobs. 
 O funcionalismo penal toma por base que tanto o direito penal em geral e 
o direito penal em particular são instrumentos que têm por finalidade garantir a 
funcionalidade e eficácia do sistema social e dos subsistemas. 
 
Importante frisar que não há como se falar na existência de 
apenas um funcionalismo, vez que na essência o funcionalismo 
divide-se em duas vertentes: o funcionalismo moderado, 
defendido por Roxin; e o funcionalismo radical representado pelo 
funcionalismo sociológico - teoria dos sistemas - de Jakobs. 
 
 A teoria da imputação objetiva procura conjugar elementos das teorias 
anteriormente existentes. Logo, não se trata essencialmente de uma nova teoria, 
mas sim de uma compilação dos ensinamentos das demais. Suas principais 
inovações são: 
 
a) A adequação social passa a ser elemento normativo do tipo; 
 
b) Desenvolveu-se a distinção entre risco permitido e risco proibido, não 
sendo mais considerado o resultado naturalístico, visto que ele sempre será 
caracterizado pelo risco ao objeto jurídico; 
 
 
 
34 
 
 
c) A conduta somente será imputável ao agente quando houver 
plausibilidade mínima entre a conduta e o resultado. 
 
 Desta feita, a teoria da imputação objetiva visa complementar o resultado 
naturalístico, trazendo os elementos acima elencados para que seja afirmada a 
ocorrência do tipo objetivo, como critérios de imputação - normativos - , e de não 
causação - naturalístico. 
 Por exemplo: uma esposa deseja matar seu marido e lhe presenteia com 
passagens para um local cujo índice de violência é alto, com histórico de diversos 
casos de homicídios e uma rotina social violenta. O objetivo do presente era de 
que o marido fosse uma das vítimas no destino. O marido, contente, aceita o 
presente e viaja até a localidade, onde acaba sendo assassinado. Deve a esposa 
ser considerada culpada da morte do marido? 
 Para os adeptos da teoria finalista a resposta seria sim, pois consideram 
que a esposa deu causa para a morte do marido. Já para a teoria da imputação 
objetiva a resposta seria não. 
 Desta forma, pode-se dizer que o tipo penal se apresentaria da seguinte 
forma: conduta + resultado e nexo causal naturalístico + critério de imputação 
objetiva. 
 Afinal, para a teoria da imputação objetiva a esposa não realiza o tipo 
objetivo diante da ausência de criação de um risco não permitido, sendo então o 
fato atípico por ausência de nexo de causalidade. 
 Verifica-se, então, a necessidade de analisar-se cada um dos elementos 
que compõe a teoria da imputação objetiva. 
 
3.2.2 Criação do risco permitido 
 
 Tomando por base o exemplo acima citado, pode-se entender que a 
criação do risco permitido explicita que a conduta de instigar alguém a viajar, 
ainda que objetivamente isto constitua em sua morte e subjetivamente haja a 
finalidade de findar com a vida da vítima, não há como tal conduta constituir uma 
ação de homicídio. 
 
 
35 
 
 Isso porque a conduta em si não gerou risco de morte juridicamente 
relevante, bem como não elevou de modo mensurável o risco geral de morte. 
 
3.2.3Realização do risco não permitido 
 
 Para compreender a realização de um risco não permitido, será utilizado 
outro exemplo a título de melhor visualização: João quer matar José, e para isso 
desfere um tiro contra José, o qual não vem a matar José, mas apenas o ferir. 
Socorrido por uma ambulância, José é encaminhado ao hospital, mas acaba por 
sofrer um acidente de trânsito ao longo do percurso, vindo a falecer. 
 Qual a imputação que pode ser atribuída a João? 
 Analisando o caso pela perspectiva da teoria da imputação objetiva, João 
somente pode ser acusado pela tentativa de homicídio, mesmo que José tenha 
de fato vindo a falecer. Afinal, embora José tenha criado um perigo de vida, a 
vítima não morreu em razão do tiro desferido, mas sim de um acidente de 
trânsito. 
 
3.2.4 O alcance do tipo e o princípio da autorresponsabilidade 
 
 O alcance do tipo e o princípio da autorresponsabilidade podem ser 
entendidos quando do seguinte exemplo: Maria vende drogas para Joaquim, 
ambos sabendo que uma grande quantidade da droga gera perigo de vida, 
mesmo assim assumem o risco. Maria visa apenas ao lucro fácil advindo da 
venda do entorpecente, e Joaquim, em grande estado de depressão, já não 
consegue ver nada de bom em sua vida, somente encontrando torpor quando do 
uso do entorpecente. 
 Ocorre que Joaquim acaba ingerindo grande quantidade da droga, vindo 
a falecer em decorrência da overdose. Nesse caso, deveria Maria ser punida por 
homicídio em razão de dolo eventual? 
 Veja-se, ao entregar a droga, Maria cria um risco não permitido, pois a 
venda de entorpecentes, por si só, já é um ato ilícito. Ademais, o risco não 
permitido acabou por se concretizar, visto que Joaquim recebeu a droga e 
morreu em decorrência do uso desta. 
 
 
36 
 
 De acordo com Roxin, a autocolocação em risco por parte da vítima 
quando há uma completa visão do risco exime a participação no resultado de 
quem deu causa. Afinal, o alcance do tipo não abrange essas hipóteses, visto 
que o efeito protetivo da norma encontra limite na autorresponsabilidade da 
vítima. 
 Embora esse entendimento tenha maior aplicação nos casos dos crimes 
culposos, Roxin ainda elenca três situações em que há a exclusão da imputação 
em razão da falta de alcance do tipo nos delitos dolosos: 
 
 a) A autocolocação em perigo, que ocorre quando alguém efetua 
condutas criadoras de um perigo para si ou se expõe a um perigo já existente; 
 b) A heterocolocação em perigo consentida, que ocorre não quando a 
vítima se coloca em uma situação de perigo, mas consente que uma terceira 
pessoa crie o risco para ela; 
 c) Atribuição do resultado ao âmbito de responsabilidade alheio, a qual 
ocorre quando determinada pessoa assume a responsabilidade de evitar o 
resultado, retirando assim a responsabilidade do resultado daquela que 
inicialmente a tinha. Por exemplo: motorista de caminhão sem iluminação 
traseira que é parado pela polícia, a qual sinaliza o local e indica que o motorista 
se dirija à parada. Mas no momento entre retirada da sinalização e o efetivo 
deslocamento, um motorista de veículo acaba colidindo com o caminhão e 
falecendo. 
 
 Com relação à heterocolocação em risco consentida ainda existe um 
imenso debate, o qual não se encontra concluído. Para fins de compreensão 
cita-se aqui o exemplo do passageiro que, com pressa para um compromisso, 
ordena que o motorista ultrapasse a velocidade máxima permitida e, em 
decorrência desta velocidade, o passageiro vem a falecer em um acidente. 
Saiba Mais 
Para melhor compreender a discussão acerca da aplicação 
da heterocolocação em risco consentida recomenda-se aqui 
a leitura do artigo A tipicidade penal nos casos de 
heterocolocação em perigo, desenvolvido pelo Advogado 
 
 
37 
 
Lucas Gabriel Santos Costa. No artigo o autor desenvolve 
acerca da aplicação prática da teoria da imputação objetiva, 
apresentando os critérios e diferenciando a autocolocação da 
heterocolocação em perigo. O artigo está disponível em: 
http://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46121/a-
tipicidade-penal-nos-casos-de-heterocolocacao-em-perigo-
consentida. 
 
3.2.5 Princípio do risco e teoria da imputação objetiva 
 
 Tomando por fundamento o Princípio do Risco, Claus Roxin desenvolve 
uma teoria geral da imputação objetiva para os crimes de resultado, a qual é 
composta por quatro vertentes que irão impedir a imputação objetiva, são elas: 
 
 a) A diminuição do risco: nesses casos, a conduta que reduz a 
probabilidade de uma lesão não se pode conceber como orientada de acordo 
com a finalidade de lesão da integridade física. Por exemplo: um indivíduo, ao 
ver uma residência pegando fogo, entra na residência e, ao retirar uma criança 
de lá, acaba por soltá-la pela janela e lhe causar lesões; 
 
 b) A criação de um risco juridicamente relevante: ocorre nos casos em 
que a conduta do agente não é capaz de criar um risco juridicamente relevante, 
e o resultado por ele pretendido não depende exclusivamente da sua vontade, 
mas do acaso. Cita-se aqui o exemplo comentado anteriormente da esposa que 
deseja matar o marido; 
 
 c) Aumento do risco permitido: se a conduta do agente não vier a 
aumentar, de forma alguma, o risco da ocorrência do resultado, este não lhe será 
imputado. Pode-se citar aqui um caso emblemático ocorrido na Alemanha em 
que o empregador forneceu a seus subordinados material não desinfetado 
corretamente, causando o falecimento de alguns trabalhadores. Quando da 
investigação, conclui-se que os meios existentes de desinfecção eram 
insuficientes para conter o vírus. Nesse caso, não há o que se falar em 
imputação objetiva visto que o resultado ocorreria mesmo que houvessem sido 
seguidas as normas de desinfecção; 
 
 
 
38 
 
 d) A esfera de proteção da norma como critério de imputação: 
preconiza que somente haverá responsabilidade quando a conduta afrontar a 
finalidade protetiva da norma. Por exemplo: Ernesto mata a sogra. Sua esposa, 
ao receber a notícia da morte da mãe, acometida por forte emoção, acaba tendo 
um infarto e falecendo. Ernesto não pode ser responsabilizado pela morte da 
esposa visto que sua conduta não visou matar a esposa. 
 
 Dentro da esfera de proteção da norma há também a aplicação do 
princípio da autorresponsabilidade como limitador, não havendo punição para a 
participação em colocação em perigo quando a vítima tiver uma visão completa 
do risco. 
 
3.2.6 Aplicação da teoria 
 
 A teoria da imputação objetiva é deveras recente em termos de 
surgimento, razão pela qual sua aplicação jurisprudencial ainda é tímida. Pode-
se citar dentro do Direito Brasileiro algumas situações em que a aplicação da 
teoria da imputação objetiva enseja interesse. São os casos dos crimes 
impossíveis, por exemplo. 
 Os crimes impossíveis, previstos no artigo 17 do Código Penal, são 
aqueles em que não se pune a tentativa quando, seja por ineficácia absoluta dos 
meios ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o 
crime. Ao aplicar a teoria da imputação objetiva, verifica-se que não houve 
criação de risco relevante ao bem jurídico, havendo assim atipicidade da conduta 
por não existir tipicidade material. 
 O artigo 13 do Código Penal, de acordo com sua redação, possibilita que 
sejam inseridos novos pressupostos de imputação ou de realização do tipo 
objetivo. Logo, uma vez constatada a existência de um fato com comprovação 
dos itens descritos, passa-se então para a verificação, por meio da imputação 
objetiva, da possibilidade de reprovação deste fato como decorrente da ação de 
determinada pessoa. 
 Verifica-se que a adoção da teoria da imputação objetiva em âmbito 
nacional é necessária e, até mesmo, inevitável, visto que caracteriza o que mais 
 
 
39 
 
moderno existe no que tange ao estudo da tipicidade, mesmo que ainda careça 
de refinamento e aperfeiçoamento. 
 
3.2.7 A teoria da imputação objetiva de JakobsConsiderando que Jakobs entende o homem como um ser social e que, 
portanto, divide seu espaço mantendo relações sociais, cada indivíduo exerce 
um papel dentro da sociedade. Logo, a visão mais moderna da imputação 
objetiva deve levar em consideração esses padrões de comportamento que 
orientam os membros da comunidade. 
 Nesse sentido, Jakobs desenvolve quatro instituições jurídico-penais que 
irão orientar a imputação: 
 
 a) risco permitido: se cada indivíduo se comportar dentro do papel que lhe 
foi atribuído, mesmo que da conduta praticada haja uma lesão ou perigo de 
lesão, se este comportamento estiver dentro dos padrões aceitos pela 
sociedade, advindo resultado lesivo, este será atribuído ao acaso; 
 
 b) princípio da confiança: não serão imputados objetivamente os 
resultados produzidos por quem obrou confiando em que os outros iriam se 
manter dentro dos limites de perigo permitido. Isso porque quando o 
comportamento humano se entrelaça não cabe ao cidadão controlar o 
comportamento de todos os demais; 
 
 c) proibição de regresso: caso determinada pessoa, atuando dentro de 
seu papel na sociedade, venha a realizar conduta que enseje para a contribuição 
do sucesso de infração penal levada a efeito, não poderá ser incriminada. Cita-
se aqui o exemplo de uma doceira que vende um bolo e este bolo posteriormente 
é envenenado por um homicida que o utiliza para matar um terceiro. A doceira 
não poderá ser incriminada, pois sua conduta consiste na realização comum de 
seu papel dentro da sociedade; 
 
 d) competência ou capacidade da vítima: se a vítima, por livre e 
espontânea vontade, colocar-se em risco, afasta-se assim a responsabilidade do 
 
 
40 
 
agente produtor do resultado. Por exemplo: um atleta praticante de esportes 
radicais que sofre uma lesão durante a prática não pode imputá-la ao treinador 
quando este agiu observando o seu dever de cuidado. Com relação ao 
consentimento da vítima, se houver os requisitos que o considerem válido, 
afasta-se também a imputação do agente, como é o caso das tatuagens, por 
exemplo. 
 
Conclusão da aula 3 
 
 Após analisar o conteúdo apresentado em aula é possível concluir que 
ambos são temas demasiadamente recentes em matéria penal, razão pela qual 
sua aplicação vem se dando de maneira tímida. Contudo, faz-se necessário 
compreender que o Direito Penal, como todos os demais ramos, deve evoluir 
conjuntamente com a sociedade, a cultura, os valores, e o objetivo do surgimento 
dessas teorias se pauta nessa necessidade de modernização. 
 Importante entender que a evolução do Direito não se dá apenas por via 
legislativa, sendo então necessário que os Tribunais passem a aplicar novos 
conceitos - desde que coerentes e compatíveis com a lei e os princípios - para 
que, a passos lentos, desenvolvam-se novos entendimentos nas aplicações 
práticas, trazendo o Direito Penal o mais próximo possível da realidade. 
 Nesta aula foram apresentados os tópicos da teoria dos elementos 
negativos do tipo penal e a teoria da imputação objetiva, a qual foi desenvolvida 
pelo ponto de vista de Roxin e Jakobs. 
 Em primeiro tópico discorreu-se sobre a teoria dos elementos negativos 
do tipo penal, oportunidade em que conceituou essa teoria como sendo aquela 
que entende que as causas excludentes de ilicitude estão inseridas no tipo penal. 
 De acordo com a teoria explanada, existe um injusto penal total formado 
por elementos positivos e negativos. Em assim sendo, o dolo do agente deve 
abranger não só os dados materiais do tipo, mas também a inexistência de 
causas justificantes. 
 Explanou-se também acerca das críticas atribuídas a essa teoria, as quais 
repousam no fato de que a teoria dos elementos negativos nega a autonomia 
dos tipos justificadores frente aos tipos provisórios do injusto, contrariando assim 
a legislação brasileira, visto que esta prevê os tipos justificadores em tipos penais 
 
 
41 
 
autônomos. Desta forma, haveria impedimento de realizar a distinção de valor 
entre uma conduta desde o início atípica - porque não proibida - e outra 
inicialmente típica - porque normalmente proibida, mas especialmente permitida 
nas situações excepcionais das excludentes de ilicitude. 
 Destacou-se também que esta teoria recebe críticas acerca de expressar 
ser necessário que o agente tenha condições de saber que está agindo fora de 
qualquer justificante, pretendendo assim que a conduta somente será dolosa se 
o autor, além de conhecer todos os elementos positivos do tipo, conhecer 
também a inexistência de qualquer discriminante putativa. 
 Em segundo tópico discutiu-se acerca da teoria da imputação objetiva, em 
que se apresentou o conceito da teoria como sendo uma teoria cujo objetivo é 
conjugar elementos das teorias anteriormente existentes, não se tratando 
essencialmente de uma nova teoria, mas sim de uma compilação dos 
ensinamentos das demais. 
 Explicou-se que a teoria da imputação objetiva se baseia nas teorias do 
funcionalismo penal e traz consigo as seguintes inovações: a adequação social 
passa a ser elemento normativo do tipo; desenvolveu-se a distinção entre risco 
permitido e risco proibido, não sendo mais considerado o resultado naturalístico, 
visto que ele sempre será caracterizado pelo risco ao objeto jurídico; e, a conduta 
somente será imputável ao agente quando houver plausibilidade mínima entre a 
conduta e o resultado final. 
 Posteriormente foram explicados todos os elementos que compõe a teoria 
da imputação objetiva, sendo eles: criação de risco permitido, realização de risco 
não permitido, o alcance do tipo e o princípio da autorresponsabilidade. 
 Também foi abordado sobre a relação entre o princípio do risco e a teoria 
da imputação objetiva, em que se demonstrou que esta relação repousa em 
quatro elementos: a diminuição do risco; a criação de um risco juridicamente 
relevante; aumento do risco permitido; e a esfera de proteção da norma como 
critério de imputação. 
 Outro ponto abordado foi a aplicação da teoria da imputação objetiva por 
parte dos Tribunais, em que se demonstrou que a aplicação ainda ocorre de 
maneira tímida, não havendo um acolhimento majoritário desta teoria. Contudo, 
quando a análise diz respeito aos crimes impossíveis, há de se considerar a 
 
 
42 
 
aplicação da teoria da imputação objetiva visto que é adequada e 
correspondente à demanda. 
 Por fim, discutiu-se a diferença entre a teoria da imputação objetiva 
apresentada por Jakobs, a qual se pauta na necessidade de garantir a norma 
penal. 
 Discorreu-se que a teoria se pauta em quatro instituições jurídico-penais 
que irão orientar a imputação: risco permitido; princípio da confiança; proibição 
de regresso; e competência ou capacidade da vítima. 
Atividade de Aprendizagem 
De acordo com o apresentado em aula, discorra sobre a teoria 
da imputação objetiva desenvolvida por Jakobs. 
 
 
 
Aula 4 - Análises finais 
 
Apresentação da aula 4 
 
 Nesta aula será feita a conclusão do conteúdo abordado, desenvolvendo 
aqui análise acerca de três institutos penais importantes e que podem causar 
controvérsias na aplicação prática: princípio da coculpabilidade, excludentes de 
ilicitude e concurso de agentes. 
 
4.1 Análise da questão da coculpabilidade 
 
 Em linhas gerais a coculpabilidade consiste em um princípio que defende 
a culpa compartilhada entre o autor e o Estado no momento do cometimento de 
um delito, visando assim reduzir a pena do acusado. 
 Desta forma, pode-se dizer que o princípio trabalha com a ideia de divisão 
da responsabilidade entre o acusado excluído socialmente e o Estado pelo 
cometimento de um delito, considerando aqui que o Estado foi omisso por não 
prover as mesmas oportunidades para todos os cidadãos. 
 
 
43 
 
 A coculpabilidade surge, então, como importante instrumento de justiça 
social, pois reconhece que fatores socioeconômicos influenciam na prática de 
delitos

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