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MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca INTRODUÇÃO A complicação cirúrgica é o ápice de uma série de complicações que ocorrem antes, durante e após a cirurgia, ou seja, “qualquer evento adverso, não programado, que ocorra no período intra e/ou pós- operatório, deve ser visto como complicações cirúrgicas”. Toda complicação cirúrgica gera um desgaste intra e extra hospitalar, seja ele: Social: Estresse em pacientes, cirurgiões e equipe de saúde, possíveis restrições de trabalho devido a sequelas; Moral: Ruptura do equilíbrio familiar; Econômico: Custo para o hospital. Alguns aspectos gerais, devem ser observados e levados em consideração ao decidir operar o paciente: Figura 1: Avaliação pré, intra e pós-operatória. Cirurgia eletiva de grande porte, o ideal é que o paciente esteja nutrido a 2 semanas antes do procedimento. A principal medida para evitá-las é um pré-operatório bem feito, com identificação de fatores de risco e correção dos fatores modificáveis. Existem 4 fatores que devem ser levados em conta: 1. Cirurgião (e sua experiência, cuidado e seu preparo no pré- operatório); 2. Paciente (e sua idade, sexo, comorbidades, estado nutricional): Os principais fatores de risco são Tabagismo, obesidade, idade avançada, descontrole glicêmico, desnutrição e uso de corticoide. 3. Cirurgia (tipo/porte da cirurgia, se é de urgência ou eletiva): A extensão da cirurgia está diretamente ligada a complicações. 4. Hospital (presença de material, recurso humano e cuidados multidisciplinares). Complicações imediatas x mediatas x tardias: Imediatas: Até 24h do tempo cirúrgico (ex.: sangramento); Mediatas: De 24h até 7 dias (ex.: deiscência); Tardias: Após o 7º dia (ex: TEP: tromboembolismo periférico). COMPLICAÇÕES DA FERIDA CIRÚRGICA SEROMA Complicação mais comum em qualquer cirurgia. Coleção de gordura liquefeita, soro e liquido linfático que se forma no subcutâneo. Tem caráter benigno, é indolor (na maioria das vezes) e se apresenta como um líquido citrino e amarelado, que drena pela incisão operatória; Se origina da liquefação de gordura, transudação serosa e extravasamento linfático: o Por isso ocorre com maior frequência em obesos, cirurgias com grande deslocamento de pele e linfadenectomias. Prevenção: Colocação de drenos subcutâneos nas cirurgias e aspirar o excesso de gorduras liquefeitas; Tratamento conservador: Antibiótico para prevenir e/ou tratar infecção ou tratamento de forma ativa: Antibiótico + Drenagem com expressão da ferida ou punção. HEMATOMA É uma coleção anormal de sangue de uma incisão que pode estar no subcutâneo ou circunscrita em algum órgão ou tecido. Potencialmente mais perigosa que o seroma, pois o sangue pode ser meio de cultura para infecções secundárias; Fatores de risco: Problema na hemostasia, coagulopatia e uso de medicamentos (ex.: Clopidogrel); Prevenção: Correção de distúrbios de coagulação, suspensão de medicamentos, otimizar hemostasia no ato cirúrgico, uso de hemostáticos e cola de fibrina, drenagem de grandes espaços mortos; Tratamento: Individual, pois a depender de sua localização, tamanho e fatores de risco do paciente deve ser drenado ou tratado conservadoramente. Complicações cirúrgicas Clínica Cirúrgica MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Na cirurgia plástica é a principal complicação e fator de risco para perda de enxerto. DEISCÊNCIA DE FER IDA Abertura das suturas cirúrgicas no início do curso pós-operatórios, podendo ser de planos superficiais, profundos ou até órgãos. Fatores de risco: Infecção da ferida, seroma, hematoma, aumento da pressão abdominal, idade, desnutrição, obesidade, uso crônico de corticoide, radioterapia, doença sistêmica (ex.: DM). A má técnica cirúrgica pode contribuir muito para tal complicação, assim como cirurgia de emergência; A deiscência pode se apresentar de algumas formas (principalmente em cavidade abdominal): o Eventração: Quando as vísceras ficam contidas na pele; o Evisceração: Quando as vísceras são expostas ao ambiente. Tratamento: Depende do tipo de deiscência, pode ser feita a correção da causa base (ex.: tratar infecção e drenar seroma), uso de faixa abdominal e a depender do tamanho, reoperação. Paciente eviscerado deve ser reoperado de urgência e eventrado pode ser reoperado eletivamente. Bolsa de Bogotá: Artifício para peritoneostomia, ou seja, uma parte do corpo fica aberta. Figura 2: Bolsa de Bogotá. INFECCÇÃO Pode vim acontecer 5-6 dias após cirurgia, mas 80-90% dos casos acontece em até 30 dias após a cirurgia (ou um ano se houver uso de implante e próteses). Fisiopatologia: Pode gerar de fonte endógena (flora do paciente) ou de origem exógena (quebra na técnica cirúrgica), 50% são bactérias são gram positivo e os germes mais comuns são: Staphylococcus aureus, Candida albicans e Pseudomonas (prevalece em hospitais); Quadro clínico: Eritema e dor local. Quando o paciente apresenta febre baixa e leucocitose, deve-se atentar! Podem ser divididas em: o Superficiais: Envolve apenas a pele e tecido subcutâneo; o Profunda: Envolve os planos profundos (músculo e fáscia); o De órgãos e cavidades: Quando atinge órgãos internos manipulados na cirurgia. Figura 3: Infecção de ferida operatória e sua divisão. Fatores de risco: Figura 4: Fatores de risco para infecções. Prevenção: o Cessar o tabagismo 30 dias antes da cirurgia, nutrição e se necessária perda de peso e controle glicêmico; o Assepsia e antissepsia: Degermação, esterilização, escovação e paramentação correta; o Antibioticoprofilaxia: Feridas potencialmente contaminadas e descontaminadas; o Antibioticoterapia: Feridas infectadas. Tratamento: o Superficiais: Dependendo da ferida deve ser feito com abertura dos pontos para facilitar a drenagem, limpeza e curativos diários + Antibioticoterapia; o Infecção profunda: Drenagem + Antibioticoterapia + Dependendo da ferida pode ser realizado abordagem cirúrgica. COMPLICACÕES DE TERMORREGULAÇÃO HIPOTERMIA Temperatura abaixo de 35º C no pós-operatório ou queda de 3º em período curto, que leva a aumento da isquemia precoce, taquiarritmia ventricular e redução das atividades dos fatores de coagulação. Causas: Lesões extensas (ex.: grande queimado), paralisia, reanimação com líquidos endovenosos frios, transfusões ou irrigação cavitária com líquidos frios, idade avançada, temperatura da sala; MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Prevenção: Temperatura da sala adequada e colchão e líquidos aquecidos. HIPERTEMIA MALIGNA É uma crise hipermetabólica potencialmente fatal que se manifesta durante ou após exposição a um anestésico geral deflagrador em indivíduos suscetíveis: Susceptibilidade autossômica dominante; O agente químico do anestésico causa uma reação de hipersensibilidade no organismo, resultado de um recrutamento de células de defesa e o aumento da temperatura na tentativa de provocar degradação enzimática no corpo; Prevenção em pacientes com história familiar ou mialgia pós exercício, tendência a febre e intolerância a cafeína deve-se evitar usar esses tipos de anestésicos: Tratamento: Suspender anestésicos, e usa-se um que reduz a acao do cálcio, ex.: Dantrolene e/ou técnicas de refinamento na UTI. FEBRE PÓS-OPERATÓRIA Temperatura maior que 37,8ºC, regulada no hipotálamo anterior, geralmente após 48h. Figura 5: Causas de febre no pós-operatório. Principal cauda de febre no pós-operatório: Atelectasia. COMPLICAÇÕES METABÓLICAS INSUFICÊNCIA ADRENAL Falha das glândulas adrenais em produzir glicocorticoides adequados. CRISE HIPERTIREOID IANA Aumento sustentado dos hormônios tireoidianos levando a uma tireotoxicose aguda. HIPOTIREOID ISMO Diminuiçãodos níveis de hormônios tireoidianos (por resposta metabólica ou alteração central do hipotálamo). SÍNDROME DE SECREÇÃO INAPROPIADA DE HORMÔNIO ANTID IURÉTICO (S IHAD) Síndrome que causa a hiponatremia normovolêmica crônica, levando a hiponatremia (redução da concentração plasmática de sódio). COMPLICAÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Alterações pulmonares após procedimentos cirúrgicos são muito comuns, a capacidade pulmonar pode reduzir em até 50% nos primeiros dois dias de pós-operatório sem haver nenhuma patologia associada. ATELECTASIA É o colapso parcial de um seguimento pulmonar. A principal causa de complicação cirúrgica mediata em qualquer paciente é a atelectasia. Devido a anestesia, medicamentos narcóticos e hipoventilação, os alvéolos podem se colapsar durante e após o procedimento cirúrgico; Se não houver cuidados pós-operatórios como: controle álgico, higiene pulmonar e fisioterapia respiratória, a atelectasia pode aumentar, infectar e levar a pneumonia. PNEUMONITE Infecção nosocomial mais comum: Processo inflamatório pulmonar por irritação química de substâncias, sem infecção no início. Diagnóstico: Quadro clinico de febre + Achado de ausculta pulmonar + Rx de Tórax: o Em pacientes com tosse e secreção purulenta + achado clinico de leucocitose: Realizar culturas para diferenciar de atelectasia. Tratamento: Antibiótico e fisioterapia respiratória. EMBOLIA PULMONAR E TROMBOEMBOLISMO VENOSO São oclusões dos vasos pulmonares por trombos (tromboembolia) ou por outras substâncias (embolia), ex.: gordura, gás, líquido amniótico. Trombose venosa profunda (TVP) e Trombose pulmonar (TEP) são espectros de uma mesma doença, sendo o TEP uma complicação da TVP. Ambas as condições são de grande prevalência em pacientes cirúrgicos, chegando a 50% a depender das condições de base do paciente. Especialmente o TEP, quando não diagnosticada, alcança alta mortalidade, até 30%. Fatores de risco: Figura 6: Fatores de risco par TV. O melhor tratamento para essas condições é a profilaxia, seja mecânica ou química (medicamentosa). MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca EDEMA PULMONAR Acúmulo de líquidos nos alvéolos. TRAUMA PULMONAR Associada ao aumento da pressão pulmonar levando a insuficiência pulmonar. SÍNDROME DE ANGÚSTIA RESPIRATORIA AGUDA (SARA) É uma hiperoxigenação causada por uma resposta inflamatória patológica generalizada. COMPLICAÇÕES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR HIPERTENSÃO PÓS-OPERATÓRIA Pressão arterial maior que 140mmHg e/ou pressão diastólica maior que 90mmHg. Apresenta risco a órgãos alvos geralmente após pressão arterial maior que 170mmHg e/ou pressão diastólica maior que 110mmHg. ISQUEMIA E INFARTO Oclusão ou hipofluxo das coronárias. Acontece por sangramentos volumosos e/ou descompensação cardíaca e/ou doenças prévias. CHOQUE CARDIOGÊNICO Hipotensão grave causada por falha da bomba cardíaca. ARRITMIA CARDÍACA Alterações do ritmo cardíaco com repercussão hemodinâmica. O paciente, geralmente, tem alguma doença prévia. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Qualquer distúrbio estrutural ou funcional do coração que compromete a capacidade de enchimento ou ejeção de sangue do ventrículo. COMPLICAÇÕES DO SISTEMA GASTROINTESTINAL ÍLEO PARALÍTICO E OBSTRUÇÃO INTESTINAL PRECOCE É uma situação frequente em pós-operatórios diversos, mas principalmente em cirurgias abdominais. O paciente desenvolve um caso de obstrução funcional, uma peristalse devido a manipulação cirúrgica das alças intestinais, alterações inflamatórias e/ou metabólicas: o Alguns medicamentos, ex.: opioides, podem agravar o caso. É divido em íleo funcional primário após cirurgias e sem fatores precipitantes que dura 2-4 dias e íleo funcional secundário, adinâmico ou paralitico e com fator precipitante e atraso no retorno. Ainda possui o íleo mecânico devido a uma barreira luminal, mural ou extraintestinal; Quadro clínico: Dor e distinção abdominal + parada/redução de eliminação de fezes e flatos + náuseas e vômitos + queda do estado geral: o Se a obstrução alta: Vômitos biliosos precoces e se a obstrução baixa: Dor abdominal, distensão, vômitos inicialmente biliosos e depois fecaloide. Diagnostico: Laboratório, Rx de abdome e TC de abdome. Diferencia-se de uma obstrução verdadeira por apresentar ruídos hidroaéreos abolidos (ao invés de aumentados) e ter curso benigno de evolução. Prevenção: Delicadeza na técnica, controle hidroeletrolítico, evitar uso de opioides, sonda nasogástrica se necessário e deambulação precoce; Tratamento: Reanimação, investigação e intervenção se necessário. SÍNDROME COMPARTIMENTAL ABDOMINAL (SCA) Síndrome compartimental abdominal é o aumento da pressão intra- abdominal a ponto de provocar mau funcionamento ou falência de vários órgãos. Definida pela redução do volume pulmonar, redução do retorno venoso e redução da taxa de filtração glomerular; Dividida em: o Primária: Hipertensão intra-abdominal patológica: Trauma múltiplo, ascite, hemorragia retroperitoneal, pancreatite e penumoperitôneo; o Secundaria: Causa iatrogênica ou pacientes em choque após ressuscitação volêmica agressiva. Tratamento: Intervenção se HIA (hipertensão intra-abdominal) e disfunção orgânica. DEISCÊNCIA ANASTOMÓTICA As anastomoses gastrointestinais podem evoluir desfavoravelmente com deiscência (abertura) e consequente extravasamento de conteúdo gastrointestinal para dentro da cavidade abdominal. Fatores de risco: Cirurgias esofágicas, pancreaticoentéricas e colorretais; MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Quadro clinico: Febre + dor abdominal + sinais de peritonite + leucocitose + saída de secreção purulenta pela ferida; Prevenção: Suporte nutricional se necessário 7-14 dias antes, evitar (PROIBIDO EM PACIENTE INSTÁVEL) anastomose na emergência se peritonite, dilatação intestinal e edema e cuidado na confecção; Tratamento: Reanimação, dieta zero, sonda nasogástrica, TC com abcesso único para avaliar drenagem ou reoperação e em casos de TC com abscessos múltiplos já faz reoperação. FÍSTULAS GASTROINTESTINAIS Por definição fístula é uma comunicação anormal entre duas superfícies epitelizadas, sendo uma delas um órgão oco. Fístulas altas (gástricas e entéricas) podem levar desidratação importante, pelo alto debito, e hipocalemia; Fístulas pancreáticas ou duodenais podem levar a acidose metabólica pela perda de bicarbonato; Fatores de risco: Tipo de cirurgia, doença de Cohn, radiação, obstrução intestinal e cirurgia de urgência. As fistulas podem ser classificadas de acordo com seu debito: o Baixo débito: menor que 200ml em 24h; o Moderado débito: entre 200 e 500ml em 24h; o Alto débito: maior que 500ml em 24h. Quadro clinico: Sepse em 25-75% dos casos, exteriorização para pele, bexiga e vagina, desequilíbrio hidroeletrolítico, desnutrição e dermatite (devido a secreção ideal); Tratamento: Pode ser conservador: Reposição hidroeletrolítica, antibiótico e controle da sepse, dieta zero e suporte nutricional. Quando o tratamento conservador não funciona: Reabordagem. SANGRAMENTO GASTROINTESTINAL Definido como a perda de sangue a partir de qualquer porção do trato gastrointestinal. COMPLICAÇÕES DAS OSTOMIAS O que são Ostomias? Procedimento cirúrgico que cria o estoma, um orifício na parede abdominal, de maneira definitiva ou provisória. As principais complicações relacionadas aos estomas incluem a adaptação inadequada da placa de ostomia, má localização do estoma na parede abdominal, dermatite periostomal, necrose isquêmica, retração, prolapso, estenose, fístula ou hérnia ou abscesso periostomal e câncer. COLITE PSEUDOMEMBRANOSA A colite por C. difficile (CDC) é uma doença inflamatória causada por toxinas produzidaspela proliferação sem oposição da bactéria. COMPLICAÇÕES DO SISTEMA RENAL E URINÁRIO RETENÇÃO UR INÁRIA Incapacidade de esvaziar a bexiga repleta de urina. Principalmente em pacientes que foi realizada a anestesia raqui ou peridural. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA Redução súbita do debito renal que resulta no acúmulo sistêmico de resíduo nitrogenados. Principalmente devido de sepse e hipovolemia no transoperatório. LESÕES DO DUCTO BILIAR Lesões pós laparoscopia (0,7%) ou cirurgia aberta (0,2%). Quadro clinico: Dor em hipocôndrio direito, febre, mal-estar, icterícia, bile no dreno intra-abdominal, ascite biliosa, colangite; Diagnóstico: TC de abdome, CPRM e CPRE: o Classificação de Strasberg: Determina a que altura ocorreu a lesão. Figura 7: Classificação de Strasberg. Mais comum E3 e E4. Tratamento: o Se perceber que a lesão foi feita no intra operatório: Converter a técnica operatória, ex.: de laparoscopia passar para cirurgia aberta e vice-versa, também pode ser feira a correção seja com treno em T, Y de Roux e drenagem; o Bilioma: Drenagem percutânea e esfincterotomia por CPRE; o E quando há obstrução importante do ducto, lesão grande ou suspeita de lesão intestinal: Reoperação.
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